Comunicação AS CONFUSÕES DE UM COMUNICADOR INICIANTE
Maurício Góis
Um comunicador fez várias perguntas a um outro comunicador experiente:
- Devo dizer casal de galos ou de galinhas?
Ora, se eu falar casal de galinhas o galo não vai ficar furioso?
- O carro deu uma trombada? Mas ele não era elefante e não tinha trombas
como pode dar trombada?
- O correto é faz dez anos que eu não vejo fulano ou fazem dez anos?
- Falar consigo ou falar contigo? Mas se eu quero falar sozinho, o certo não é falar consigo?
- Eu abri o portãozinho. Mas como portãozinho, se ele era muito grande?
- Por que devo dizer: a meia laranja que comi estava meio azeda?
- Eu digo meia gripada ou meio gripada? Mas se ela estiver gripada apenas pela metade – o certo
não é dizer meia gripada?
- Pra eu falar corretamente preciso pensar um pouco, ou o correto é:
pra mim falar corretamente preciso pensar um pouco?
Respondeu o orador experiente: Fale em público sem se preocupar com seus erros.
Preocupe-se antes ou depois. Durante é certo que vai dar nó na sua cabeça.
Fale em público, sem se preocupar com seus erros. Sua preocupação deve vir antres ou
depois da fale. Durante jamais, pois é certo que vai criar confusão em sua cabeça que bloqueará
sua fluência verbal. Todos nós em tudo que fazemos queremos agradar, ser bem sucedidos e
alcançarmos a eficácia plena.
A idéia de que não somos simpáticos à platéia, ao ambiente e ao tema nos apavora.
Vamos sintetizar, então, o que um orador não deve dizer quando "ENFRENTA(?)" um
público qualquer, seja para falar na empresa ou conferências públicas, ou para uma pequena
audiência.
1. "... Eu não estou preparado para falar hoje e..."
Em primeiro lugar, por mais que seja verdade, nunca diga que não está preparado para
falar. Quem afirma isto, predispõe o auditório contra si. Os ouvintes pensarão : " se ele não está
preparado, então não fale, ora bolas”.
Não diga : "Eu estava escalado para falar, mas estou doente hoje e..."
Lembre-se sempre de uma coisa : o auditório não está interessado em sua doença, em sua
dor de barriga e muito menos em sua timidez.
Também não diga que foi apanhado de surpresa, que está substituindo um orador que não
veio e, por isso, falará de improviso.
Em outras palavras : NÃO PEÇA DESCULPAS.
Carlos Lacerda disse uma vez que há três tipos de oradores : os que pedem desculpas, os
indesculpáveis e os que a platéia deveria pedir desculpas. E você já pensou em ser tão bom
orador a ponto de o auditório sentir vontade de pedir desculpas por escutá-lo? É desastroso
pretender chegar a tanto, mas também é desastroso pedir desculpas à platéia, querer "livrar a sua
barra", desrespeitando quem tem todo o direito de ouvir o melhor: a audiência.
2. Cuidado com as idéias de quantidade ou dimensão
Sempre que for quantificar algo para a platéia, procure dar exemplos concretos e fáceis
de serem visualizados. Se você disser que na Lua existem crateras tão grandes e profundas de
CINQUENTA MIL MILHAS QUADRADAS, ninguém poderá ter idéia do tamanho. No
entanto, se você disser que na Lua existem crateras, do tamanho do Estado de Minas Gerais todos entenderão (mas cuidado para os mineiros não se sentirem ofendidos pela associação)
Vejamos por outro exemplo :
Você chega para uma platéia com baixa escolaridade e esnoba :
"Meus amigos, o Sol tem um diâmetro médio de 1.390.600 quilômetros, sendo 109,1
vezes maior que a terra, a distância que o separa de nossa esfera é de 149,450,000 KM, e seu
volume é de 1.300.000 maior que a da Terra. A massa do Sol é de 1,982 x 10 toneladas, isto é,
331,950 vezes o da Terra e sua densidade é de 1,4, isto é, 0,25 o da Terra. .."
Dos seus ouvintes, quem terá idéia de todos esses números ? Quem poderá calcular, por
esses dados, o tamanho do Sol apenas "ouvindo" de um orador ?
Ninguém - e nem mesmo você quem fala.
Entretanto, se você disser que o Sol é tão grande, tão grande que não passaria no espaço
vazio existente entre a Lua e a Terra todos saberão que o Sol é mesmo grande e ficarão surpresos
com este tamanho, embora os seus dados signifiquem muito mais que isto.
Se você disser que a luz do Sol correndo a uma velocidade de quase 300.000 quilômetros
POR SEGUNDO leva (oito minutos) para chegar até nós - todos poderão ter uma idéia da
distância que nos separa do astro-rei.
Lembre-se: os números foram feitos para serem pensados, olhados e repensados e não
para serem ouvidos ou ditos de relance.
A oratória é uma arte para os ouvidos, mas você pode TRANSFORMAR OS OUVIDOS
DE SUA PLATÉIA EM OLHOS.
3. Eu sou eu? Ou sou você? Ou “sou” nós?
Há oradores que não sabem se usam o pronome pessoal "eu" ou usam o "nós". Eles
acham que o "nós" é o pronome afetivo, que é sinal de humildade - que o auditório sente alguma
arrogância etc.
Ora, se você vai contar uma história ocorrida com você, não diga : "Nós estávamos indo
por uma rua quando..." fale a verdade, diga: "Eu estava indo por uma rua quando. . ."
Não é o pronome "eu" que é pedante ou exibicionista, é o tom, a maneira de você falar
que o toma pedante ou "aparecido".
Também não use o "vós".
O '"vós" é o pronome da não-comunicação.
- Epa ! esta eu não concordo. Basta você ler a Bíblia que você verá o "vós" em todas as
suas páginas.. .
- Sim, você tem razão. O próprio Cristo usou o "vós", mas Ele também não usava paletó e
gravata e nem sapato de cromo alemão. Ele falava a linguagem de Seu tempo - embora o
Conteúdo de Sua Mensagem fosse para todos os tempos.
Num ambiente informal e, em alguns casos em conferências e falas na empresa, prefira
também "você" ao invés de "nós". Em muitos casos, é a situação quem ditará as regras. Em
Portugal, por exemplo, você trata por “tu” a um amigo ou uma pessoa que você tem muito
relacionamento e o “você” é usado em situações formais ou para pessoas em que não há
informalidade..
Retórica é uma luta entre a alma do orador e a alma coletiva de seu público. No Brasil, o
"você" desfaz barreiras, é íntimo e aproxima orador-público.
Entretanto, quando o auditório for hostil ou pensar antagonicamente o "eu" deve ser
evitado, por ser para muitos um pronome proibido.
Também não vamos exagerar como aquela empregada doméstica que conseguiu ganhar a
simpatia da patroa usando o pronome "nós" e o possessivo "nosso". Ela dizia: "Patroa, nossa
geladeira quebrou... nosso móvel foi limpo...nossa comida está prontinha...
A patroa só a despediu quando ela disse : "Nosso marido está chegando para o jantar..."
4. Não use os chavões de retórica
Ou você é inovador/criativo ou então, usa chavões.
Chavão é a repetição padronizada, rotineira e batida de certas expressões e/ou frases
como : "É para mim motivo de grande satisfação me encontrar aqui para juntos estudarmos este
tema e..." Ou : "É com a voz embargada pela emoção que eu..." etc. “Senhoras e senhores, é com
prazer que eu”.
O chavão deve ser evitado porque ele é usado por todos os oradores não-criativos e o
auditório já não agüenta mais ouvir frases surradas, enferrujadas, malhadas, gastas e suadas. À
medida do possível, crie seus própriosexemplos e se expresse com vocabulário próprio. Seja
criativo em sua fala, e não cansativo.
Mauricio Góis
É empresário, palestrante autor e consultor.
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