Arquivo Siqueira Castro - Advogados Fonte: Dr. Carlos Roberto Siqueira Castro Seção: Internacional Versão: Online Juiz de NY declara Argentina em desacato por não pagar a ‘fundos abutres’ Thomas Griesa não decidiu que punição aplicará ao país, que considera medida violação de soberania POR O GLOBO 29/09/2014 17:49 / ATUALIZADO 29/09/2014 20:00 NOVA YORK, BUENOS AIRES E RIO - O juiz responsável pelo processo movido contra a Argentina pelos chamados “fundos abutres”, Thomas Griesa, da Corte Distrital de Nova York, declarou nesta segunda-feira a Argentina em desacato por tentar pagar a dívida por uma instituição argentina. No despacho, o juiz não determinou ainda qualquer tipo de punição ou multa, segundo as agências internacionais. Mais cedo, o governo argentino divulgara uma nota, afirmando que uma decisão semelhante violaria a soberania do país. “O Tribunal declara que a República da Argentina está em desacato civil”, assinalou o juiz ao fim de uma audiência, em que analisava o pedido dos fundos de uma punição ao país. Arquivo Siqueira Castro - Advogados O juiz Thomas Griesa, em seu escritório, em Nova York - Pablo Corradi / ‘La Nación’/GDA Griesa considerou a tentativa da Argentina como uma atitude de omissão à sentença, que determinava o pagamento de US$ 1,3 bilhão a um grupo de “fundos abutres” — credores que não aceitaram a redução da dívida negociada em duas reestruturações — liderados por NML Capital e Aurelius, entre outros. A Argentina considerou a decisão "uma violação ao direito internacional". "A decisão do juiz Thomas Griesa de declarar em desacato a República Argentina viola o direito internacional, a Carta das Nações Unidas e a Carta da Organização dos Estados Americanos", disse um comunicado da chancelaria em Buenos Aires. O juiz postergou a decisão de aplicar sanções contra o país. Em sua ação, o fundo NML havia solicitado ao tribunal de Nova York que aplicasse uma muita de US$ 50 mil diários pelo não cumprimento do pagamento determinado na sentença. Arquivo Siqueira Castro - Advogados O advogado Carlos Roberto Siqueira Castro, sócio sênior do escritório Siqueira Castro Advogados e especialista em direito internacional, explicou que nos Estados Unidos, assim como no Brasil, descumprir uma decisão judicial é considerado crime, passível de punição com multa ou até prisão. Mas ele discorda a aplicação desta figura do direito à Argentina. — Não concordo que haja desacato. A Argentina é um estado soberano, que tem o direito de escolher quem quer pagar primeiro. Seus bens são impenhoráveis, pertencem ao povo argentino, da mesma forma que não se pode prender o estado argentino. Considero que há um abuso, que esse juiz está indo longe demais. A Argentina tem que recorrer, defender seus interesses, deve fazer manifestações políticas internacionais, oficiar à Casa Branca, às Nações Unidas. A Argentina já recebeu apoio de muitos países da comunidade europeia —afirmou Siqueira Castro. ARGENTINA VAI DEPOSITAR PAGAMENTO A Argentina vai depositar o pagamento dos juros a vencer dos credores que aceitaram reestruturar a dívida em um banco doméstico nesta terça-feira, informou uma fonte do Banco Central argentino. A medida desafia a sentença de Griesa, que determinou que o país só poderia pagar estes credores, se quitasse também o débito com os “fundos abutres”. Os fundos NML Capital e Aurelius, chamados de "abutres" pela Argentina, fizeram um pedido por escrito na última quarta-feira à justiça, argumentando que o país "violou repetida e descaradamente as ordens do tribunal, deixando bem claro que não respeita essas ordens, o tribunal e o sistema judicial dos Estados Unidos". Na tentativa de fazer com que sua decisão seja cumprida, o magistrado mantém bloqueado no Bank of New York (BoNY) um depósito de US$ Arquivo Siqueira Castro - Advogados 539 milhões de feito pela Argentina para os credores de títulos reestruturados sob legislação americana. Esta situação levou a Argentina a uma moratória parcial sobre a sua dívida. O Congresso argentino votou recentemente uma lei para modificar a sede de pagamento dos títulos para Buenos Aires ou outro lugar. Advertência argentina a Kerry Antes da audiência de segunda-feira com Griesa, a embaixada da Argentina em Washington advertiu ao secretário de Estado, John Kerry, de que os Estados Unidos seriam legalmente responsáveis por uma eventual declaração judicial de desacato. "A decisão constituiria uma ilegítima ingerência nos assuntos internos do Estado argentino, o que envolve a responsabilidade dos Estados Unidos", escreveu a embaixadora Cecilia Nahón a Kerry. "O caso gera consequências para as Relações Exteriores", ressaltou Nahón, acrescentando que seria considerado "uma escalada sem precedentes e ainda muito superior, inclusive, à decisão de reter ou impedir a cobrança por parte dos credores reestruturados". Por isso, acrescenta, "a Argentina considera que a mera consideração da adoção de uma ordem judicial semelhante constitui uma afronta à dignidade e à soberania do nosso país". Em sua defesa por escrito a Griesa, os advogados da Argentina disseram que "nenhuma corte dos Estados Unidos jamais considerou que um Estado soberano estrangeiro possa ser considerado desacato". Na audiência, Carmine Boccuzzi, um dos autores do texto, afirmou que, ao aceitar o pedido dos fundos, Griesa só "pioraria as coisas". PUBLICIDADE Arquivo Siqueira Castro - Advogados "A situação atual é de que as ordens realmente estão funcionando", afirmou em relação à decisão de Griesa de bloquear o pagamento dos credores que aceitaram as reestruturações de 2005 e 2010, aceitas por 93% dos credores dos títulos em default aceitando reembolsos de até 70% do valor nominal. O advogado da NML Capital, Robert Cohen, insistiu com Griesa que os fundos "foram mais do que pacientes com a Argentina". "É hora de o tribunal exercer a sua autoridade", acrescentou, lembrando que já houve uns 15 casos em que a justiça federal americano declarou Estados em desacato. http://oglobo.globo.com/economia/juiz-de-ny-declara-argentina-em-desacato-por-naopagar-fundos-abutres-14084513#ixzz3EnZynDz7