Moreira MAC, Nápole RG, Silva VN
PERFIL DA RESPOSTA À PROVA TUBERCULÍNICA
ESTUDANTES DE ENFERMAGEM
EM
TUBERCULIN SKIN TEST APPLIED TO NURSING STUDENTS
PERFIL DE LA RESPUESTA A LA PRUEBA TUBERCULÍNICA EN
ESTUDIANTES DE ENFERMERÍA
Maria Auxiliadora Carmo MoreiraI
Rogério Guimarães NápoleII
Verena Nunes e SilvaIII
RESUMO: O objetivo deste estudo foi quantificar a prevalência da prova tuberculínica (PT) positiva entre estudantes de
enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Em setembro de 2006, na cidade de Goiânia – GO, os participantes
responderam a um questionário específico e a prova foi feita pela técnica de Mantoux em dois tempos, utilizando-se o
derivado protéico purificado-Rt 23. Entre os 65 alunos que completaram o estudo, 10(15,4%) tiveram PT positiva, sendo
4(10,5%) do primeiro ano da graduação e 6(22,2%) do quinto ano (p= 0,29). Os alunos do 5º ano tiveram maior número
de contatos com tuberculose em relação aos alunos do 1º ano (p< 0,05). Sobre atividades profissionais ou estágios fora do
hospital-escola, 60% responderam que os exerciam. Portanto, o progressivo aumento do contato com pacientes no decorrer
do curso pode explicar o maior percentual de PT positiva no quinto ano. O estudo reforça a importância de os estudantes
de enfermagem utilizarem as normas de biossegurança em tuberculose.
Palavras-chave: Tuberculose; prova tuberculínica; biossegurança; estudante de enfermagem.
ABSTRACT : The objective of this piece of research was to quantify the prevalence of positive tuberculin skin test (TST)
among nursing students from the Federal University of Goiás – UFG, in Goiania, GO, Brazil, in September, 2006. The
participants answered a specific questionnaire and a two-turn TST was performed through the Mantoux technique, using PPDRt 23. Out of those 65 students who had gone through testing, 10(15,4%) had positive TST; 4(10.5%) of them were in the first
year and 6(22.2%) were in the fifth, (p= 0,29). The students in the 5th year had had longer contact with people contaminated
with tuberculosis (TB) than the students in the 1st year (p< 0,05). 60% of the participants answered that they work or take
traineeship out of the school hospital. Therefore, the increasing contact with TB patients along the undergraduate years can
account for the higher percentage of positive TST in the fifth year. The study reinforces the importance of compliance with
rules of biosecurity against TB for nursing students.
Keywords: Tuberculosis; tuberculin skin test; biosecurity, nursing student.
RESUMEN: El objetivo del estudio fue cuantificar la prevalencia de la prueba tuberculinica (PT) positiva entre estudiantes
de enfermería de la Universidad Federal de Goiás. En septiembre de 2006, en la ciudad de Goiânia – GO – Brasil, los
participantes contestaron a un cuestionario específico y la prueba fue realizada con la técnica de Mantoux en dos veces,
usándose el derivado proteínico purificado-Rt 23. De los 65 que concluyeron el estudio, 10(15.4%) estudiantes tuvieron la
PT positiva, siendo 4(10.5%) del primer año y 6(22.2%) del quinto, (p= 0.29). Los estudiantes del 5° año tuvieron más
contacto con la tuberculosis que aquellos del 1° año (p< 0.05). Sobre actividades profesionales o estágios fuera del hospitalescuela, 60% de los participantes informaron que lo hacían. Por consiguiente, el aumento progresivo del contacto con los
pacientes durante el curso puede explicar el porcentaje más grande de PT positiva en el quinto año. El estudio refuerza
como es importante la conformidad con reglas de bioseguridad en tuberculosis para los estudiantes de enfermería.
Palabras Clave: Tuberculosis; prueba tuberculínica; bioseguridad; estudiante de enfermería.
INTRODUÇÃO
A tuberculose (TB), segundo o Ministério da
Saúde (MS), é a principal causa mundial de morte
por doenças infecciosas em adultos1. Em 2005,
registraram-se no mundo 8,9 milhões de casos novos
dessa doença e cerca de 1,6 milhões de mortes2.
O Brasil ocupa o 15° lugar entre os 22 países
que concentram 80% dos casos de tuberculose no
mundo e estima-se que o país tenha 50 milhões de
pessoas infectadas pelo bacilo da tuberculose. São
notificados cerca de 100.000 casos por ano e ocorrem
de 5000 a 6000 mortes/ano devido à doença3.
Os profissionais da área de saúde, em especial
os enfermeiros, estão diretamente envolvidos no
atendimento a portadores de TB. Por outro lado, falta
Professora Adjunta. Serviço de Pneumologia. Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG) Rua 20, No 132, apto 602. Edifício VillaLobos- Setor Central. CEP: 74.020-170. Goiânia – Goiás. E-mail: [email protected]
II
Acadêmico de Medicina. Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG)
III
Acadêmica de Medicina. Faculdade de Medicina. Universidade Federal de Goiás (UFG)
I
R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2007 jul/set; 15(3):387-92.
• p.387
Prova tuberculínica em estudantes de enfermagem
conhecimento por muitos desses profissionais sobre
o controle e a prevenção da doença4.
Um estudo multicêntrico5 realizado em quatro
hospitais gerais brasileiros avaliou a conversão da prova
tuberculínica (PT) em seus trabalhadores e revelou
alto risco ocupacional de infecção dos profissionais de
saúde, principalmente entre enfermeiros.
Especificamente em um grupo de trabalhadores
de enfermagem, estudo6 detectou, em uma observação
de dois anos, risco médio de 2,7 vezes maior de adquirir
a doença. O estudante de enfermagem, nos estágios
em hospitais-escola e Unidades Básicas de Saúde,
também se torna passível de contaminação pelo
Mycobacterium tuberculosis (MT).
O presente estudo integra as atividades do
projeto de biossegurança do Hospital das Clínicas da
Universidade Federal de Goiás (HC/UFG), localizado
em Goiânia - GO. Tem como objetivo quantificar a
resposta cutânea ao PPD (derivado protéico
purificado) entre os estudantes de Enfermagem do
1o e 5o anos da Faculdade de Enfermagem da UFG
(FEN/UFG) e estimar a prevalência da prova
tuberculínica positiva entre esses estudantes.
REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO
Foi realizado um estudo transversal do perfil da
prova tuberculínica em um grupo de estudantes de
enfermagem da FEN/UFG matriculados no primeiro
ano (n=43) e no quinto ano (n=37), que se
encontravam freqüentando regularmente o curso, em
setembro de 2006.
Os participantes do estudo forneceram
consentimento por escrito e responderam questionário
sobre aspectos sociodemográficos, história de
vacinação pelo Bacilo de Calmette e Guérin (BCG),
exposição conhecida a pacientes com TB, domiciliar
ou ocupacional, e antecedente pessoal de tuberculose.
As informações sobre carga horária das aulas
práticas foram obtidas na secretaria da FEN/UFG para
estimativa da carga horária das aulas práticas, com
assistência a pacientes, nos estágios curriculares.
A tuberculina PPD-Rt 23 foi aplicada
utilizando-se técnica e material preconizados pela
Organização Mundial de Saúde (OMS), por via
intradérmica, no terço médio da face anterior do
antebraço esquerdo, na dose de 0,1ml equivalente a
2 unidades tuberculínicas (2UT).
A leitura da prova tuberculínica, através da
medida pelo método palpatório da região de
enduração no local de aplicação do PPD, foi realizada
p.388 •
R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2007 jul/set; 15(3):387-92.
72 horas após a aplicação7. Tanto a aplicação quanto a leitura foram realizadas por uma enfermeira previamente capacitada através de treinamentopadrão realizado pelo MS.
A PT positiva ou reatora foi definida como uma
enduração medindo 10 mm ou mais na primeira PT
ou uma segunda PT (2ª PT), realizada 4 semanas
depois, com 10 mm ou mais e variação mínima de 6
mm em relação à primeira (efeito booster positivo),
ou ainda, uma segunda PT com 10 mm7,8. Estudantes
com reações menores que 10 mm foram submetidos
a nova prova (2ª PT), quatro semanas depois, para
avaliar aparecimento do efeito booster8-10.
Todos os alunos com PT positiva foram
examinados por um pneumologista, que solicitou
radiografia de tórax e, em caso de presença de
expectoração, baciloscopia de escarro. Todos os
alunos foram orientados a procurar assistência médica
caso se tornassem sintomáticos respiratórios.
O estudo teve como critérios de exclusão:
antecedente de tuberculose, história atual de
imunodeficiência ou de utilização de drogas
imunossupressoras e vacinação pelo BCG há menos
que 5 anos associada a PT positiva8,9.
O protocolo deste estudo foi submetido ao
Comitê de Ética em Pesquisa Humana e Animal do
Hospital das Clínicas da UFG, tendo sido aprovado
sem restrições.
Todos os dados foram inseridos em um banco
de dados e analisados utilizando-se o programa Epi
– Info (versão 2006). Foram utilizados valores
absolutos, percentuais e taxas. O Teste de Fisher, com
intervalo de confiança de 95% e um valor de p
significativo <0,05, foi aplicado para comparação
entre os grupos.
RESULTADOS
A
média de idade dos alunos variou de
18,74±1,59 no primeiro ano e 23,14±2,1 no quinto
ano. Entre os participantes havia 75(93,6%) do sexo
feminino e 5(6,4%) do sexo masculino.
Foram submetidos à primeira PT 80 alunos do
Curso de Enfermagem, sendo 43(86,0%) estudantes
dos 50 matriculados no primeiro ano e 37(75,5%)
dos 49 alunos matriculados no quinto ano. Um
estudante do 5º ano, vacinado com BCG há menos
de cinco anos, foi excluído do estudo, pois sua reação
positiva à primeira PT representou o último critério
de excusão. Assim, a população inicial foi reduzida
para 79 (100%) alunos.
Moreira MAC, Nápole RG, Silva VN
O valor estimado para carga horária de aulas
práticas, com contato com pacientes, para alunos de
primeiro ano foi de 80h/ano. Para alunos da quinta
série, a carga horária acumulada (1º ao 5º ano) foi
de 1260 h/ano.
Vale ressaltar que apenas 3(3,8%) alunos apresentaram PT positiva no primeiro teste, sendo 2(4,7%)
do primeiro ano e 1(2,8%) do quinto ano. A maioria,
76(96,2%) alunos, apresentou PT negativa no primeiro teste. Destes, 14(18,4%) não compareceram para
repetir a prova, sendo 5(12,2%) dos 41 alunos do primeiro ano e 9(25,7%) alunos entre os 35 do quinto
ano. Efeito booster foi detectado em 2(5,6%) alunos
do primeiro ano e em 1(3,7%) aluno do quinto ano.
Entre os 65 (100%) que completaram o estudo, 10
tiveram PT positiva, sendo quatro do primeiro ano e
seis do quinto. Não se detectou diferença significante,
no final do estudo, entre o número de alunos com PT
positiva no primeiro e no quinto ano (p=0,29), conforme mostra a Tabela 1.
Nenhum aluno com PT positiva apresentou
critérios clínicos e/ou radiológico de TB em atividade ou antecedente pessoal de TB.
Os questionários, aplicados no dia da realização
da 1ª PT, foram respondidos por 80 alunos. Sobre o contato conhecido com pacientes tuberculosos, 27(33,8%)
alunos o relataram, sendo 3(11,11%) do 1º ano e
24(88,89%) do 5º ano, com diferença estatisticamente significante (p<0,05), de acordo com o Teste de
Fisher. Nesses relatos, predominou o contato profissional, com 24(88,9%) alunos. Contato domiciliar foi relatado por apenas 3(11,1%) pessoas, 2(7,4%) do primeiro ano e 1(3,4%) do quinto ano, todas tiveram PT
negativa. Foram mencionados 7(29,2%) contatos no
hospital-escola (HC/UFG) e 17(70,8%) em outros
hospitais, vide Tabela 2. Os setores hospitalares de maior
freqüência de contatos foram: isolamento com
9(39,1%) relatos, enfermaria com 7(30,4%) relatos e o
pronto-socorro com 5(21,7%). O local de menor citação foi o ambulatório, com 2(8,7%) respostas.
TABELA 1: Resultados da prova tuberculínica dos alunos do 1º e 5º ano de Enfermagem. Universidade Federal de Goiás, 2006.
*
Diferença quanto à resposta PT+ entre 1º e 5º ano, p = 0,2
Considerando-se os 24 alunos que relataram
contato profissional conhecido e que concluíram o
estudo, 4(16,7%) tiveram PT positiva. E entre os
41que negram contato com TB, houve 6(14,6%) PT
positivas. Não foi encontrada diferença significante
entre os grupos (p=0,472).
Em relação a trabalho ou estágio fora do HCUFG, 48(60%) participantes responderam que
exerciam essas atividades fora do hospital-escola.
Desse total, 14(32,6%) alunos eram do 1º ano e
34(91,9%) do quinto ano. O fato de trabalhar ou
estagiar fora do HC/UFG foi estatisticamente mai-
TABELA 2: Caracterização de contato conhecido com pacientes com tuberculose (TB) entre
alunos do 1º e 5º ano de Enfermagem. Universidade Federal de Goiás, 2006.
*
Diferença quanto a contato conhecido com TB entre estudantes do 1º e 5º ano, p < 0,05.
Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás.
**
R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2007 jul/set; 15(3):387-92.
• p.389
Prova tuberculínica em estudantes de enfermagem
or no 5º do que no 1º ano (p<0,05), demonstrado
na Tabela 3.
TABELA 3: Distribuição dos alunos do Curso de Enfermagem
quanto a trabalhar ou estagiar fora do HC-UFG. Universidade
Federal de Goiás, 2006.
Todos os participantes relataram ter sido vacinados com BCG e 78(95,7%) deles foram vacinados
há mais de dez anos. Somente 2(4,3%) alunos foram
vacinados há menos de cinco anos, sendo que um
deles apresentou PT negativa. Dos 21 participantes
que foram revacinados, 20(95,2%) a fizeram há mais
de cinco anos. A cicatriz vacinal estava presente em
72(90%) alunos.
Entre os alunos do primeiro ano, nenhum
relatou trabalhar atualmente com pacientes
tuberculosos. Do quinto ano, 7(18,9%) referiram
atender pacientes com TB atualmente. Destes,
5(71,4%) usavam máscara e 1(14,3%) não utilizava
nenhum tipo de proteção; 1(14,3%) aluno relatou
que apenas recomendava aos pacientes usar máscara cirúrgica durante o atendimento.
Em relação ao conhecimento sobre o modo de
transmissão da tuberculose, 4(5%) alunos, todos do
primeiro ano, referiram não saber como é transmitida a TB. A maioria (95%) sabia como a doença se
transmite.
DISCUSSÃO
A prova tuberculínica é um exame comple-
mentar utilizado na identificação dos indivíduos que
tiveram contato com o MT. Associado ao contexto
clínico, epidemiológico e imunológico do indivíduo,
pode-se inferir o risco de desenvolvimento de tuberculose.
Constitui uma limitação da PT o fato de não
distinguir infecção antiga da recente, que leva a um
risco maior de adoecimento7. A prova pode também
ser realizada periodicamente em estudos
epidemiológicos com pessoas com risco maior de infecção, como os trabalhadores e estudantes da área
de saúde11.
Profissionais de saúde apresentam, em relação
à população em geral, maior risco de contágio por
p.390 •
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doenças infecciosas como a TB5, em especial os profissionais e estudantes de enfermagem 12 , cuja
intensidade de contato com pacientes é potencialmente maior devido ao tempo despendido nos cuidados dessa clientela.
Estudo12 com estudantes de enfermagem do
Espírito Santo encontrou índice de conversão da PT
negativa para positiva de 10,5%, sendo que o estimado no Brasil para a população geral é de 0,5%.
A amostra deste estudo, composta por alunos
do 1º e 5º anos do Curso de Enfermagem, representa
uma parcela de alunos da UFG, o que não permite
fazer inferências sobre outras populações.
Houve uma perda de amostragem devido ao não
comparecimento à 1ª PT de 19% dos alunos matriculados. Entre aqueles com prova negativa, 18,4%
não compareceram para a 2ª prova, apesar da prévia
sensibilização em relação à importância da realização da PT. Ressalta-se, portanto, a necessidade de
orientação dos estudantes de enfermagem quanto à
utilização de normas de biossegurança.
Constatou-se que 15,4% dos estudantes desta
pesquisa apresentaram PT positiva, enquanto no estudo 12 anteriormente citado foi comprovada
positividade em 20,3% dos estudantes de enfermagem. Essa diferença pode ser explicada pelo fato de
o outro estudo12 ter sido realizado em um hospital de
referência para atendimento de pacientes com TB,
no Espírito Santo, Estado que apresenta incidência
de TB maior que a de Goiás13, portanto, com maior
risco de infecção tuberculosa.
A prevalência de PT positiva esperada para os
países da América, exceto EUA e Canadá, é de 25%8.
Essa estimativa é válida para a população geral, independente da faixa etária e nível socioeconômico.
As taxas encontradas no grupo estudado ficaram
abaixo desta cifra. Contudo, trata-se de uma população de estudantes de curso superior, jovens e de
nível socioeconômico mais alto que a população em
geral, como citado em pesquisas semelhantes8,9.
Neste estudo não foram realizados, paralelamente, outros testes cutâneos para detecção de
anergia, não sendo possível correlacionar esta condição com a ocorrência de PT negativas. De acordo com as respostas ao questionário, nenhum aluno apresentava doença ou fazia tratamento relacionado à imunossu-pressão. Além disso, uma pesquisa9 com estudantes de medicina encontrou apenas 4(1,3%) entre 312 alunos com painel cutâneo
mostrando anergia. Considerou-se que a não realização desses testes não constituiu um viés neste estudo.
Moreira MAC, Nápole RG, Silva VN
Alunos de enfermagem, como os sujeitos deste
estudo, têm progressivamente durante o curso maior
contato com pacientes. A carga horária anual de aulas práticas aumenta cerca de 15 vezes até o final do
curso (5º ano). A quantidade de alunos que trabalha
ou estagia fora do HC/UFG é significantemente maior no último ano do curso. Os estágios curriculares
são realizados no Hospital de Doenças Tropicais
(HDT), centro de referência para o tratamento da TB
no Centro-Oeste, e no hospital-escola, HC/UFG.
O aumento do contato com pacientes no
decorrer do curso, os estágios ou mesmo o trabalho
em outros hospitais podem explicar o maior
percentual de PT positiva no quinto ano em relação
ao primeiro. O pequeno tamanho da amostra não
permitiu comprovar, estatisticamente, a significância
dessa diferença; contudo, demonstra a esperada tendência para maior percentual de positividade no final do curso. Por outro lado, por tratar-se de um estudo transversal, há uma limitação na interpretação
dos dados em relação a associações causais.
Deverá ser realizada investigação longitudinal
com PT anual deste grupo de estudantes do 1º ano
até alcançarem o quinto ano. Desse modo, poderá
ser avaliado adequadamente o comportamento da
mesma no decorrer do curso, através do taxa de
conversão e do risco de infecção.
Na Espanha, um estudo14 encontrou 7,2% de
prevalência de PT positiva (considerando área de
enduração de 5 mm) em alunos no início do curso
de enfermagem. Após 2 anos, a prevalência se elevou para 19,8%, com taxa de conversão de 9,2%.
Se fosse utilizado o mesmo critério desta pesquisa,
a taxa de prevalência de PT positiva em alunos do
1º ano seria 21% e do 5º ano 31%. Alguns autores7
mencionam a possibilidade do uso desse critério de
positividade em grupos populacionais com
prevalência elevada de infecção pelo MT.
Outro estudo9, utilizando os mesmos critérios
de positividade de PT desta pesquisa, em grupo de
estudantes de medicina da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, encontrou prevalência de positividade
no período básico, intermediário e internato de,
respectivamente, 4,6%, 7,8% e 16,2%.
Estudo semelhante8 detectou PT positiva em
4,0%, 6,4% e 13,1%, respectivamente, no período
básico, intermediário e profissional. O grupo do
1º ano de enfermagem, do presente estudo,
apresentou prevalência maior de PT positiva
(10,3%) que o nível intermediário de medicina do
referido estudo (7,8%). Já no quinto ano de enfermagem da UFG, a prevalência foi de 22,2%, supe-
rior ao do internato do estudo9 no RJ e ao do período profissional do estudo8 já referido. Essa diferença possivelmente se deve ao maior tempo e intensidade do contato do estudante de enfermagem com
pacientes com TB.
As enfermarias e setor de emergência foram
freqüentemente citados, neste estudo, como locais
onde houve contato do estudante com paciente portador de TB. Um estudo15 relata que 41% dos pacientes com TB receberam diagnóstico na enfermaria e
no setor de pronto atendimento em um hospital geral. Esse fato reflete a ineficiência no diagnóstico precoce nas Unidades Básicas de Saúde e hospitais, bem
como nas medidas de biossegurança, como exame de
sintomáticos respiratórios nas unidades de emergência. Em decorrência disso, há um aumento no risco de
exposição dos profissionais de saúde ao MT16.
Não é incomum que alunos do Curso de Graduação em Enfermagem trabalhem como Técnicos
ou Auxiliares de Enfermagem, tendo um risco adicional quanto à infecção tuberculosa. Outro estudo12
citou uma associação positiva entre trabalho fora do
hospital-escola e conversão da PT em estudantes de
enfermagem.
Nos hospitais e serviços ambulatoriais em geral e, principalmente, naqueles de referência para TB,
normas de biossegurança são imprescindíveis para
diminuir o risco para os profissionais de saúde. A
demora para concluir o diagnóstico de TB nas unidades de saúde em geral e a alta permanência dos
pacientes com TB nos hospitais de referência aumentam esse risco17.
O atual estudo detectou que 14,3% dos alunos
participantes não utilizam máscaras adequadas quando cuidam de pacientes com TB. Nas instituições
pesquisadas em um estudo18, apenas 67% delas possuíam máscara (N-95) para seus profissionais. Em
outra pesquisa12, 82,2% dos estudantes que utilizavam máscaras adequadas não apresentaram conversão da PT no período do estudo.
Ressalta-se a necessidade de enfatizar normas
de biossegurança nas escolas de enfermagem, bem
como iniciar precocemente o ensino em relação a
conhecimentos básicos sobre a doença. Dos alunos
do 1° ano deste estudo, 5% não sabiam como a TB é
transmitida.
A PT auxilia na identificação de pessoas em
risco de desenvolver TB. Os trabalhos que utilizam
PPD possuem o viés das restrições e limitações do
método. A especificidade, prejudicada pela
positividade de infecções por outras espécies de
micobactérias, e a restrita capacidade de diferençar
R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2007 jul/set; 15(3):387-92.
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Prova tuberculínica em estudantes de enfermagem
infecção recente de antiga são algumas das limitações7. A especificidade do teste não é adequada, sendo
que cerca de 25,0% dos pacientes com TB ativa tem
PT positiva. Estudos vêm sendo desenvolvidos para
emprego de novos testes com especificidade e sensibilidade adequadas para diagnóstico da infecção latente e que possam substituir a PT19.
CONCLUSÃO
O presente estudo demonstrou que a prevalência
de PT positiva foi significativa no grupo estudado, o
que denota a importância da ênfase às normas de
biossegurança em tuberculose para estudantes de
enfermagem, incluindo o acompanhamento da taxa
de conversão da PT e estimativa do risco de infecção
no decorrer do curso.
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Perfil da resposta à prova tuberculínica em estudantes de