20 1 INTRODUÇÃO O presente estudo trata do diagnóstico do abandono do tratamento da tuberculose (TB) na área de abrangência do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF), vinculado a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP) na Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) no Município do Rio de Janeiro (MRJ). A tuberculose é uma doença infecto-contagiosa de evolução crônica, causada pelo Mycobacterium tuberculosis, que ataca pulmões e outros órgãos e é transmitida por via aérea. Esta doença continua sendo um grave problema de saúde pública nos países em desenvolvimento, inclusive no Brasil. A ausência do tratamento ou a ineficácia deste pode manter a cadeia de transmissão da doença. No Brasil o abandono do tratamento apresenta altos índices, podendo levar ao surgimento de formas multirresistentes do bacilo (BRASIL, 2006). Espera-se, com o sucesso do Programa Saúde da Família (PSF), ampliação do acesso ao sistema de saúde e consequentemente maior detecção e tratamento eficiente dos casos de tuberculose no Brasil. O autor dessa dissertação trabalha na FIOCRUZ desde 1997 como enfermeiro da assistência hospitalar, porém há 12 anos na gerência da assistência de enfermagem do Instituto de Pesquisa Clinica Evandro Chagas, desenvolve atividades de pesquisa, ensino e assistência. Porém durante o ano de 2005, atuou como enfermeiro na assistência básica do CSEGSF, quando pôde perceber que a situação do tratamento da tuberculose, em especial o abandono do tratamento, necessitava de apreciação. 21 A área de abrangência do CSEGSF apresenta perfil sócio-econômico dos mais precários do Município do Rio de Janeiro (MRJ), com características predisponentes à tuberculose, desta forma acredita-se que a doença não esteja controlada, com possibilidade de alto índice de abandono do tratamento. O autor tem como foco o diagnóstico do abandono do tratamento da tuberculose nesta área adscrita, no período de 2001 a 2007, através do Livro de Registro e Controle de Tratamento dos Casos de Tuberculose, estimando a taxa de abandono, analisando variáveis retiradas do Livro Preto relacionadas ao tratamento e comparando resultados obtidos, com dados governamentais. A tuberculose, ao longo dos anos, vem demonstrando que é uma marca social das precárias condições de sobrevivência, manifestando-se com maior freqüência nas áreas de maior carência de recursos básicos. Somando-se a isto, o crescimento populacional nas periferias das grandes cidades contribui para o aumento do número de casos no país. A endemia se mantém como um problema de saúde pública. O abandono do tratamento da tuberculose é um desfecho da alta do paciente, que precisa ser evitado, sendo uma preocupação não só do CSEGSF, mas do Programa Nacional de Controle da Tuberculose, tornando-se importante, dessa forma, um estudo sobre o abandono do tratamento da tuberculose e as variáveis retiradas do Livro Preto relacionadas ao abandono, no CSEGSF. 22 2 EMBASAMENTO TEÓRICO 2.1 PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA Saúde da família é a estratégia escolhida pelo Ministério da Saúde (MS) com objetivo de reorientar o modelo de assistência do Sistema Único de Saúde (SUS) a partir da atenção básica. Em 1991 foi iniciada esta estratégia, com implantação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) (COSTA, 2004). Em janeiro de 1994 foi lançado pelo MS o Programa Saúde da Família como política nacional de atenção básica, com caráter organizativo e substuitivo do modelo tradicional de assistência primária. Hoje reconhecido não como um programa e sim como uma estratégia para uma atenção primária a saúde qualificada e resolutiva (BRASIL, 2001). Em 28 de março de 2006, o governo federal emitiu a portaria número 648, estabelecendo que o PSF fosse considerado uma estratégia prioritária do MS para organizar a atenção básica, tendo como um de seus fundamentos possibilitar o acesso universal e contínuo a serviços de saúde de qualidade, vindo ao encontro dos princípios básicos do SUS, tais como universalização, equidade, descentralização, integralidade e participação da comunidade (BRASIL, 2006). As atividades estão centradas na atenção primária como planejamento familiar, controle da hipertensão, pré-natal, diabetes, doenças sexualmente transmissíveis, controle da tuberculose, hanseníase, entre outras, buscando o envolvimento da comunidade de forma integral e contínua, sendo primordial a criação de co-responsabilidade, entre profissionais e população (BRASIL, 2002). 23 O PSF tem condições de dar solução efetiva a mais de 85% dos casos de saúde da população atendida, sendo os cuidados garantidos pelas Equipes de Saúde da Família (ESF). Apenas 15% do total de casos atendidos são encaminhados para unidades onde se encontram profissionais especializados e equipamentos mais sofisticados (BRASIL, 2001). A ESF deve ser composta, no mínimo, por um médico generalista (com conhecimento de clínica geral), 1 enfermeiro, 1 auxiliar de enfermagem e de 4 a 6 agentes comunitários de saúde (ACS), podendo aumentar este número uma vez ser recomendado 1 ACS para 550 pessoas. É recomendado que cada ESF acompanhe entre 600 e 1000 famílias, não ultrapassando o limite máximo de 4000 pessoas. A carga horária de 40 horas semanais é condição essencial para o êxito do PSF (BRASIL, 2001). As Equipes de Saúde da Família (ESF) devem estar preparadas para conhecer a realidade da comunidade de sua responsabilidade através do cadastramento destas e do diagnóstico de suas características sociais, demográficas e epidemiológicas, identificando problemas de saúde prevalentes e situações de risco aos quais a população esteja exposta. As ESF atuam nas Unidades de Saúde da Família (USF), onde contam com equipamentos e instalações indispensáveis que permitam a solução dos problemas de saúde mais comuns na comunidade (BRASIL, 2001). As USF, sempre que possível utilizam o mesmo endereço onde antes funcionavam os Centros de Saúde (CS) ou Postos de Saúde (PS). Estes, tradicionalmente, limitam-se a encaminhar os doentes para centros especializados ou para hospitais mais próximos, num modelo passivo de atenção, já as ESF em 24 atividade nas USF, identificam os problemas e necessidades das famílias e comunidade, planejando, priorizando e organizando o atendimento. As ESF devem resolver a maioria dos problemas de saúde ali mesmo, na USF e, quando necessário, realizam atendimento no próprio domicílio. Dentre as responsabilidades a serem executadas pelo PSF nas áreas prioritárias de Atenção Básica de Saúde (ABS), está o controle da tuberculose (BRASIL, 2001). TABELA 1: RESPONSABILIDADES E ATIVIDADES DO PSF NO CONTROLE DA TUBERCULOSE Responsabilidades Atividades Busca ativa de casos Identificação de sintomáticos respiratórios (SR) Notificação de casos -------- Diagnóstico clínico de casos Exame clínico de SR e comunicantes Acesso a exames para diagnóstico e controle: laboratorial e radiológico Realização ou referência para baciloscopia Realização ou referência para exame radiológico em SR com baciloscopia negativas (BK-) Cadastramento dos portadores Alimentação e análise dos sistemas de informação Tratamento dos casos de BK+ (supervisionado) e BK (auto-administrado) Tratamento supervisionado dos casos de BK+ Tratamento auto-administrado dos casos de BKFornecimento de medicamentos Atendimento às intercorrências Busca de faltosos Vacinação com BCG Pesquisa de comunicantes Medidas preventivas Quimioprofilaxia Ações educativas Fonte: Guia Prático do PSF, disponível em: http://dtr2004.saude.gov.br/dab/publicacoes.php. Acesso em: 01/10/2008. O controle da tuberculose faz parte das responsabilidades da atenção básica de qualidade a serem executadas pelas ESF, de acordo com a Norma Operacional Básica da Assistência à Saúde, Ministério da Saúde (NOAS/SUS/2001), portaria editada em 2001 com a finalidade de ampliar, entre outras providências, as responsabilidades dos municípios na atenção básica, define o processo de regionalização da assistência e cria mecanismos para o fortalecimento da gestão do SUS (BRASIL, 2001). 25 2.2 TUBERCULOSE A tuberculose é uma doença infecto-contagiosa de evolução crônica e de transmissão por via aérea. Seu agente etiológico é o Mycobacterium tuberculosis, também chamado de Bacilo de Koch. A tuberculose foi considerada um dos piores flagelos da humanidade (TEIXEIRA, 2004). Desde a década passada há uma mobilização para o combate da tuberculose, doença que incide principalmente em países e regiões com condições sócio-econômicas precárias. O Brasil está entre os 22 países que concentram 80% dos casos estimados no mundo. Em 2002 foram notificados 97.875 casos sendo que 81.034 correspondem a casos novos. O Estado do Rio de Janeiro (ERJ) aparece com a maior taxa de incidência e de mortalidade, embora em todas as unidades federativas existam municípios, especialmente em áreas metropolitanas e periferias das grandes cidades, onde a TB tem taxas elevadas. O sexo masculino é o mais atingido, na proporção de dois casos masculinos para um feminino (BRASIL, 2005). 2.2.1 História da Tuberculose Há muito tempo à tuberculose acompanha o homem, existindo relatos de evidência da doença em ossos humanos pré-históricos encontrados na Alemanha e datados de 8000 antes de Cristo. Os males eram considerados resultados de castigo divino em várias civilizações antigas. Coube, na Grécia antiga, a Hipócrates o entendimento de que a tuberculose era uma doença natural que por causar 26 esgotamento físico, passou a denominá-la tísica, do grego phthisikos, ou seja, que traz consumpção (KRITSKI, 2000). Era endêmica na antiguidade, conhecida pelos egípcios, gregos árabes e entre outros povos do oriente. Permaneceu como uma doença sem importância durante o feudalismo, até sua explosão como a “grande peste branca” da urbanização capitalista do século passado. Disseminou-se pelo mundo todo com o colonialismo e a expansão comercial (BARREIRA, 1997). No Brasil, temos notícias de que não existia tuberculose entre os índios, sabese que a doença foi introduzida nos primórdios da colonização pelos portugueses e em especial pelos missionários jesuítas. As catequeses indígenas, iniciadas em 1549, foram os instrumentos iniciais de propagação da doença. Tanto os africanos, como os índios, eram igualmente virgens ao bacilo da tuberculose e, portanto, sem imunidade, e, além disso, aqui chegando extenuados pela longa travessia, desnutridos e depois com carga de trabalho excessiva e habitação insalubre, ao entrarem em contato com os europeus e com o bacilo da tuberculose, eram também por eles dizimados sob a forma de epidemias (BARREIRA, 1997). Esta relação factual entre catequese e doença foi logo notada, tanto pelos índios como pelos próprios jesuítas. No entanto, a explicação dada ao fenômeno, era consentânea a cultura a que pertencia cada qual. Para os pajés, os jesuítas, não enquanto doentes, mas enquanto representantes de uma outra ordem de crenças, com seus rituais de caráter maligno, eram os causadores das doenças. Para os jesuítas, as doenças que acometiam os índios e os negros eram interpretadas como castigo divino, enquanto as doenças que acometiam a eles mesmos eram consideradas como enviadas por Deus como meio de purificação. Tais visões religiosas de castigo ou prova de amor divino, embora tenham perdido grande parte 27 de sua força, a partir do final do século XVIII, e apesar do surgimento de novas mentalidades, persistiam ao longo dos tempos e encontraram-se presentes ainda durante todo o século XX. Esta concepção religiosa da tuberculose exprime uma representação dualista da doença tuberculose do colonizador e a tuberculose do colonizado que reaparecem, sob outras modalidades, com a evolução da mentalidade (BARREIRA, 1997). A chegada dos negros para o trabalho escravo, desnutridos e extenuados em razão da longa viagem, e em condições insalubres e promiscuas das senzalas, facilitou ainda mais a expansão da tuberculose no país. Da colonização ao império, relatos informam o quanto eram elevados os índices de mortalidade da doença na área urbana. A mortalidade específica por tuberculose, na segunda metade do século passado, ficava em torno de 700 por 100.000 habitantes (BARREIRA, 1997). Sendo a tuberculose uma doença infecciosa, a disseminação foi muito rápida nas grandes cidades européias durante a urbanização e Revolução Industrial no século XIX. Assim como na Europa, no Brasil não foi diferente: a epidemia se tornou muito comum nas maiores cidades brasileiras. Estimativas apontam que a mortalidade por tuberculose no Brasil, em 1855, era de 1/150 habitantes (LEITE, 1997). Durante o século XIX, os serviços de saúde ainda eram muito precários e os problemas de higiene e urbanização nas grandes cidades ficavam sob responsabilidade de autoridades locais. A saúde pública dava prioridade aos interesses econômicos e políticos das classes dominantes (HIJJAR, 2007). A população carente ficava aos cuidados de entidades filantrópicas ligadas à Igreja Católica. As práticas sanitárias visavam o controle de doenças que poderiam afetar somente a força de trabalho e a expansão econômica capitalista, limitando-se 28 ao Rio de Janeiro até 1920. No campo institucional, foram as Santas Casas de Misericórdia que assistiram aos tuberculosos desde a Colonização do Brasil até a fundação de sanatórios e dispensários (HIJJAR, 2007). As Ligas Brasileiras Contra a Tuberculose, sendo as primeiras a Liga Brasileira Contra a Tuberculose sediada no Rio de Janeiro e a Liga Paulista Contra a Tuberculose, ambas fundadas em 1889, foram criadas por princípios de solidariedade e pioneirismo devido à ausência da participação do setor público. Expandiram-se pelo Brasil com a proposta de métodos científicos de tratamento e profilaxia (HIJJAR, 2007). Em 1907 Oswaldo Cruz, diretor do Departamento Geral de Saúde Pública (DGSP) propôs a implantação de medidas profiláticas no Regulamento Sanitário e a instituição de sanatórios hospitais, proposta esta não concretizada. Com esta primeira tentativa, surge o poder público na luta contra a tuberculose, tal como através da criação do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP) na Reforma Carlos Chagas, primeiro organismo governamental de combate à tuberculose. Em 1927 inicia-se a vacinação anti-TB no Brasil com a vacina BCG (Bacilo de CalmetteGuérin) desenvolvida na Liga Brasileira Contra a Tuberculose (HIJJAR, 2007). O controle efetivamente se dá de forma organizada a partir da criação do Serviço Nacional de Tuberculose em 1941 e posteriormente com a Campanha Nacional Contra a Tuberculose em 1946. A partir da década de 40 as diretrizes foram de criação de leitos hospitalares, o que determinou a construção de uma grande rede sanatorial no país e dispensários para atendimento ambulatorial (BRASIL, 2002) Após 1940, surgem os antibióticos e os quimioterápicos. A estreptomicina é descoberta em 1944 e a isoniazida, que foi descrita em 1912, teve a eficácia contra 29 a tuberculose demonstrada em laboratório em 1945. Em 1960 foi instituído o esquema definitivo usando três antibióticos ao mesmo tempo, que consegue curar 95% dos pacientes com tuberculose, sendo estes antibióticos administrados aos pacientes internados, diariamente, num período que variava de 18 a 24 meses, proporcionando aos pacientes um afastamento da sociedade por cerca de dois anos em prol da cura (CONDE, 2002). A partir da década de 70, com a descentralização das ações, e posteriormente, na década de 80 com a introdução do esquema terapêutico de curta duração com a rifampicina, houve um grande aumento de cobertura com significativa redução da mortalidade e da incidência (BRASIL, 2002). A diretriz central da última parte do século foi a unificação das ações no âmbito do Estado (juntando ações da Previdência Social com a do Estado), a padronização nacional e o acesso universal de todos os brasileiros aos cuidados contra a tuberculose (BRASIL, 2002). Hoje, no Brasil o Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) é a estrutura que organiza as ações relacionadas à tuberculose e sua atual estratégia é o Plano Nacional de Controle da Tuberculose (BRASIL, 2002). Em 1999 o PNCT, oficializou o DOTS, que em inglês significa Directly Observed Short-Course Treatment e é traduzido para a língua portuguesa como Tratamento Diretamente Observado e Supervisionado, como uma estratégia recomendada pelo Ministério da Saúde, após a declaração da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1993, de que a tuberculose encontra-se em emergência no mundo. O PNCT com esta estratégia, pretende conseguir a cura de 85% dos doentes de TB, diminuindo a taxa de abandono, evitando o surgimento de bacilos conseqüentemente controlar a TB no Brasil (HIJJAR, 2007). multirresistentes e 30 2.2.2 Epidemiologia A Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou, em 1990, que um terço da humanidade estava infectada pelo Mycobacterium tuberculosis, com oito milhões de casos no mundo, sendo 95% em países subdesenvolvidos e 5% nos industrializados, tendo como motivo de preocupação o fato de morrerem por esta doença cerca de três milhões de pessoas, por ano, no mundo, podendo este índice aumentar, devido à inter-relação da AIDS (Acquired Immunodeficiency Syndrome – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) com a tuberculose (GONÇALVES, 1998). De acordo com os números apresentados no quadro 1, com dados de 2005, fica claro a gravidade da situação nos continentes asiático e africano, com destaque para a Índia, pais que aparece com o maior número de casos novos anuais. PAÍSES CASOS NOVOS ANUAIS Índia 1.856.000 China 1.365.000 Indonésia 595.000 Moçambique 79.000 Camboja 75.000 Zimbábue 74.000 Afeganistão 70.000 Filipinas 249.000 Paquistão 247.000 África do Sul 228.000 Rússia 193.000 Congo 163.000 Quênia 149.000 Vietnã 148.000 Tanzânia 126.000 BRASIL 116.000 Tailândia 88.000 Uganda 82.000 Miamar 80.000 Nigéria 347.000 Bangladesh 332.000 Etiópia 249.000 QUADRO 1: SITUAÇÃO DA TUBERCULOSE NO MUNDO – NÚMERO DE CASOS NOVOS ANUAIS – 2005 Fonte: HIJJAR, 2005. 31 Em nível global a região das Américas contabiliza 4% das notificações de tuberculose por todas as formas, taxa de 26/100.000 habitantes, em 2003. (BRASIL, 2005). No ano de 2004 as Américas obtiveram, em relação às demais regiões da OMS, dados favoráveis, com taxas, por 100.000/habitantes, de incidência (41), prevalência (53) e mortalidade (6), as quais, comparadas com as do ano de 1990, apresentam uma redução de 38, 45, e 40%, respectivamente (BRASIL, 2006). O objetivo da Vigilância Epidemiológica, no caso da tuberculose, é a redução da transmissão do bacilo na população, por meio do diagnóstico precoce e tratamento, buscando bacilíferos dentro da população de sintomáticos respiratórios e contato de casos. A notificação compulsória e investigação são obrigatórias (BRASIL, 2005). A Vigilância Epidemiológica utiliza métodos técnico-científicos, através de processos políticos, sociais e econômicos, para a realização do controle, eliminação e erradicação de doenças transmissíveis. A informação para que ações possam ser desencadeadas, tornam simples e claros os conceitos de Vigilância Epidemiológica. O Sistema de Informação e Agravos de Notificação (SINAN) é o sistema nacional adotado para o registro e processamento de dados, notificação e acompanhamento da tuberculose. Dentre as ações do SINAN está o registro e análise periódica dos casos de TB por meio do Livro de Registro e Controle de Tratamento dos Casos de Tuberculose nos serviços de saúde (BRASIL, 2002). No Brasil, em 1990, segundo a Coordenação de Pneumologia Sanitária do Ministério da Saúde, entre 35-45 milhões de habitantes estavam infectados pelo bacilo, sendo esperados 100.000 novos casos, cerca de 4000 a 5000 pessoas mortas pela doença, mostrando que a tuberculose continua sendo importante 32 problema de saúde no mundo e no país. Em 1998, o coeficiente de mortalidade foi de 3,5 por 100.000 habitantes. Esses números, entretanto, não representam a realidade do país, pois parte dos doentes não são diagnosticados nem registrados oficialmente (BRASIL, 2002). Em relação ao sexo 65% dos pacientes diagnosticados com tuberculose são do sexo masculino, a faixa etária predominante está entre os 20 e 39 anos de idade. A forma clínica pulmonar da doença apresenta-se em mais de 85% dos casos e cerca de 8% têm infecção pelo HIV (Human Immunodeficiency Vírus – Vírus da Imunodeficiência Humana) (BRASIL, 2006). Quanto ao tratamento, observa-se uma média nacional de 71% de cura da tuberculose no Brasil, mostrando que está abaixo dos percentuais preconizados pela Organização Mundial de Saúde, que é de 85%. Em relação ao abandono do tratamento, os índices foram em torno de 10% no Brasil (WORLD, 2006). O Brasil, conforme o Boletim Epidemiológico do Programa Nacional de Controle da Tuberculose, com dados referentes ao período de 1998 a 2002, ocupa o décimo quinto lugar no ranking dos 22 países com o maior número de casos novos de tuberculose no mundo, com 96.000 casos/ano e taxa de incidência de 55,5 casos/100.000 habitantes (BRASIL, 2005). 33 1. Índia 2. China 3. Indonésia Número de casos de Tuberculose - 2005 4. Nigéria 5. Bangladesh 6. Paquistão 7. África do Sul 8. Etiópia 9. Filipinas 10. Quênia 11. Rep. Dem. do Congo 12. Federação Russa 13. Vietnam 14. Tanzânia 15. Brasil 16. Uganda 17. Tailândia 18. Moçambique 19. Miamar 20. Zimbabue 21. Camboja 22. Afeganistão MAPA 1: CLASSIFICAÇÃO DOS 22 PAÍSES COM MAIOR NÚMERO DE CASOS DE TUBERCULOSE, 2005 Fonte: WORLD, 2006. 34 O mapa 2 apresenta o Estado do Rio de Janeiro (ERJ) como detentor da maior incidência de casos novos de tuberculose no Brasil. 73,19 Brasil: 40,8/100.000hab. 76.241 casos MAPA 2: INCIDÊNCIA DE CASOS NOVOS DE TB POR UNIDADE FEDERATIVA (UF), 2006 Fonte: BRASIL, 2006. O Estado do Rio de Janeiro, com população de 15.383.422 habitantes e densidade demográfica de 352 hab/Km², está localizado na região sudeste do país, na região litorânea, fazendo divisa com os demais estados que compõem a região, contando com vias que permitem o acesso durante todo o ano. O estado está dividido em oito regiões, dentre as quais estão as Regiões Metropolitanas I e II. Na Região Metropolitana I encontra-se o Município do Rio de Janeiro e a Baixada Fluminense (BRASIL, 2005). 35 O gráfico 1 mostra as altas taxas de incidência da tuberculose no Estado do Rio de Janeiro, nos anos de 1995 a 2003. GRÁFICO 1: TAXA DE INCIDÊNCIA DE TUBERCULOSE POR 100.000 HABITANTES, ESTADO DO RIO DE JANEIRO, DE 1995 À 2003 Fonte: Secretaria Estadual de Saúde (SES) do Rio de Janeiro (RJ). Disponível em: <http://www.saude.rj.gov.br/Docs/Tuberculose/Dados/dados%20tuberculose%201995%20%202003.pdf>. Acesso em: 30/07/2008. A taxa de mortalidade por tuberculose, nacionalmente é de 3,0 a 3,6 óbitos por 100.000 habitantes, sendo estes números maiores no Estado do Rio de Janeiro (6,5/100.000) (BRASIL, 2005). GRÁFICO 2: TAXA DE MORTALIDADE ESPECÍFICA POR TUBERCULOSE, ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 1996-2003 Fonte: Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) – Secretaria Estadual de Saúde – RJ. Disponível em: <http://www.saude.rj.gov.br/Docs/Tuberculose/Dados/dados%20tuberculose%201995%20%202003.pdf>. Acesso: em 30/07/2008. 36 A tabela 2 com base nos dados de 2003 mostra entre outros motivos de encerramento do tratamento da tuberculose no Estado do Rio de Janeiro, a taxa de cura inferior aos 85% preconizados pela OMS e taxa de abandono de tratamento acima dos 5% preconizados pelo Ministério da Saúde. TABELA 2: NÚMEROS DE CASOS ENCERRADOS DE TUBERCULOSE E PERCENTUAL POR MOTIVO DE ENCERRAMENTO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 2003 Fonte: Secretaria Estadual de Saúde (SES) do Rio de Janeiro - RJ. Disponível em: <http://www.saude.rj.gov.br/Docs/Tuberculose/Dados/dados%20tuberculose%201995%20%202003.pdf>. Acesso em: 30/07/2008. O Município do Rio de Janeiro (MRJ), conforme estimado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2005, possui uma população de 6.094.182 habitantes e densidade demográfica de 5.155 hab/Km2. A população é predominantemente urbana, composta majoritariamente por mulheres e por jovens – 31,8% dos habitantes possuem até 19 anos. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Município do Rio de Janeiro esteve entre 0,7 e 0,8 nos anos de 1981 a 1999. Este índice mede e compara padrões de vida das populações, sendo composto por três dimensões: longetividade, educação e renda, variando de 0 a 0,5 – baixo desenvolvimento humano, 0,5 a 0,8 – médio e 0,8 a 1 – alto (BRASIL, 2005). 37 O gráfico 3 que trata da faixa etária no MRJ, mostra a predominância de jovens adultos e mulheres em sua população. GRÁFICO 3: PIRÂMIDE ETÁRIA, MRJ, 2003 Fonte: IBGE, 2003. O Município do Estado do Rio de Janeiro está dividido em dez Áreas de Planejamento Sanitário ou Áreas Programáticas (AP), na tentativa de viabilizar a regionalização das ações e serviços de saúde (BRASIL, 2005). O mapa 3 mostra a distribuição das Áreas Programáticas no Município do Rio de Janeiro. MAPA 3: ÁREAS DE PLANEJAMENTO DE SAÚDE DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO Fonte: Secretaria Municipal de Saúde, 1999. 38 O Município do Rio de Janeiro tem o maior número de casos de tuberculose do Estado. Chegou a ocupar a sexta posição no ranking das taxas de incidência dentro do Estado, atualmente ocupa a décima segunda posição em incidência, atrás dos municípios de Duque de Caxias, Tanguá, São João de Meriti, dentre outros (RIO, 2004). Absoluto Coeficiente 120 35 100 30 25 80 20 60 15 40 10 20 5 0 0 1999 - 2004 Centro Z. Portuária Copacabana Catete Gávea Tijuca V. Isabel Penha Ramos I. Gov. E. Novo E. de Dentro E. de Dentro Guadalupe Barra da T. Irajá JPG Bang u Cpo. Sta Cruz Grande Madureir a GRÁFICO 4: CASOS NOVOS DE TUBERCULOSE E TAXAS DE INCIDÊNCIA POR ÁREA DE RESIDÊNCIA NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, 1999-2004 Fonte: SMS - RJ, 2004. 39 A tabela 3 mostra além de outros dados, que houve queda do número de casos de TB e da incidência da doença, no MRJ, entre os anos de 2001 e 2006. TABELA 3: NUMERO DE CASOS NOVOS (CN), CN PULMONARES, CN PULMONARES BACILÍFEROS E TAXAS DE INCIDÊNCIA DE TB, TB PULMONAR E TB PULMONAR BACILIFERA POR 100.000 HABITANTES, MRJ, 2001 – 2006 Fonte: SINAN – TB. Disponível <http://www.saude.rio.rj.gov.br/media/BoletimEpidemiologicoTBMRJ2001_2006.pdf>. 30/08/2008 Acesso em: em: O gráfico 5 mostra o número total de casos notificados no MRJ e Casos “residentes”do MRJ. Nº de casos de TB Nº de casos notificados 10.000 9.000 8.000 7.000 6.000 5.000 4.000 3.000 2.000 1.000 0 8.452 8.213 Nº de casos entre Residentes 8.026 8.118 7.894 7.073 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Ano GRÁFICO 5: NUMERO TOTAL DE CASOS NOTIFICADOS NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, 2001 – 2006 Fonte: SINAN – SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE -RJ- TB. Disponível em: <http://www.saude.rio.rj.gov.br/media/BoletimEpidemiologicoTBMRJ2001_2006.pdf>. Acesso em: 30/08/2008. 40 A tabela 4 demonstra que a incidência de tuberculose nos indivíduos do sexo masculino é quase o dobro em relação ao sexo feminino. TABELA 4: NÚMERO DE CASOS NOVOS E TAXAS DE INCIDÊNCIA DE TUBERCULOSE POR SEXO (100.000 HABITANTES), MRJ, 2001-2006 Fonte: SINAN – TB. Disponível <http://www.saude.rio.rj.gov.br/media/BoletimEpidemiologicoTBMRJ2001_2006.pdf>. 30/08/2008. Acesso em: em: No gráfico 6 fica evidente a maior incidência da tuberculose na faixa etária de 20 a 59 anos de idade. GRÁFICO 6: INCIDÊNCIA ANUAL DE TUBERCULOSE POR FAIXA ETÁRIA, MRJ, 2001-2006 Fonte: SINAN – TB. Disponível em: <http://www.saude.rio.rj.gov.br/media/BoletimEpidemiologicoTBMRJ2001_2006.pdf>. Acesso em: 30/08/2008 41 Conforme a tabela 5, a forma clínica pulmonar da tuberculose supera em número todas as formas de apresentação da doença. TABELA 5: NÚMERO DE CASOS DE TB RESIDENTES NO MRJ, POR FORMA CLÍNICA, MRJ, 2001-2006 Fonte: SINAN – TB, disponível http://www.saude.rio.rj.gov.br/media/BoletimEpidemiologicoTBMRJ2001_2006.pdf. 30/08/2008. Acesso em: em: O motivo encerramento de casos novos de tuberculose, apresentados na tabela 6, demonstra que o MRJ, nos anos de 2004 e 2005, não alcançou os 85% de cura da doença assim como ultrapassou as taxas mínimas desejadas no que se refere ao abandono e mortalidade da doença. TABELA 6: SITUAÇÃO DE ENCERRAMENTO, CASOS NOVOS DE TB, MRJ, 2004 E 2005 Fonte: SINAN – TB, disponível http://www.saude.rio.rj.gov.br/media/BoletimEpidemiologicoTBMRJ2001_2006.pdf. 30/08/2008. Acesso em: em: 42 A tabela 7 mostra queda da mortalidade no MRJ, ao longo dos anos de 2001 a 2006, sendo um indicador importante a ser monitorado. TABELA 7: NÚMERO DE ÓBITOS POR TB ENTRE RESIDENTES NO MRJ, 2001-2006 Fonte: SINAN – TB, disponível http://www.saude.rio.rj.gov.br/media/BoletimEpidemiologicoTBMRJ2001_2006.pdf. 30/08/2008. Acesso em: em: A Vigilância Epidemiológica do Centro de Saúde Germano Sinval Faria (CSEGSF), centro este localizado na Área Programática 3.1, no Município do Rio de Janeiro, através do seu Programa de Controle da Tuberculose, apurou de janeiro a dezembro de 2006, um total de 62 casos de tuberculose na área de sua abrangência sendo que deste total 95% correspondia a TB pulmonar e 5% correspondendo a TB extra pulmonar. Em relação ao sexo, a maioria, 65,7% pertence ao sexo masculino, enquanto 32,3% ao sexo feminino. No que se refere à idade, 71% com idade superior a 20 anos, 22,5% variavam idade entre 10 e 20 anos, os 6,5% restantes na idade inferior a 10 anos. Em tratamento apareceram 61,2%, o percentual de cura foi de 19,4%, sendo o mesmo percentual de 19,4% para o abandono do tratamento. Acredita-se que as unidades básicas sejam capazes de resolver 85% dos problemas de saúde em suas comunidades, prestando atendimento de qualidade, evitando internações desnecessárias e melhorando a qualidade de vida da população. Atualmente, no CSEGSF, o PSF funciona com 8 equipes, sendo que cada equipe é composta por: 1 médico; 1 enfermeiro; 1 auxiliar de enfermagem; 1 auxiliar de 43 consultório dentário; 1 agente de dependência química e 6 agentes comunitários, além de 1 dentista, 1 cirurgião dentista e 2 agentes de redução de violência para atender à população de 31.731 habitantes na área adscrita (BOGA, 2007). O quadro 2 apresenta as equipes de acordo com as comunidades que atende e os números de famílias e cidadãos, demonstrando certo equilíbrio em relação ao quantitativo numérico, tanto de famílias quanto de indivíduos, entre as comunidades atendidas. EQUIPE FAMÍLIAS CIDADÃOS Samora Machel (SM) 1295 4597 Vila Turismo (VT) 1293 4213 Parque João Goulart (PJG) 1177 4179 Mandela de Pedra (MP) 1160 3982 Comunidade Agrícola de Higienópolis; Vila São Pedro; 1145 3525 Monsenhor Brito (CHA/CAH; VSP; MB) Parque Carlos Chagas (PCC) 1127 3844 Conjunto Habitacional Provisório 2 (CHP2) 1091 4050 Parque Oswaldo Cruz (POC) 1012 3341 TOTAL 9300 31731 QUADRO 2: RELAÇÃO EQUIPES/FAMÍLIAS/CIDADÃOS NO CSEGSF (JULHO/2007) Fonte: BOGA, 2007. No quadro 3 pode-se notar que em todas as comunidades o maior número de indivíduos está na faixa etária dos jovens adultos, em especial entre os 19 e 39 anos de idade. QUADRO 3: RELAÇÃO EQUIPES/FAIXA ETÁRIA DA POPULAÇÃO ADSCRITA Fonte: BOGA, 2007. 44 Os dados sobre tuberculose no GSEGSF são gerados através do sistema de Gerenciamento de Informações Locais (GIL) e pelo Gerenciamento de Saúde Básica (GSB). O Gerenciamento de Informações Locais está instalado no Serviço de Documentação e Informação de Saúde (SEDIS) e foi desenvolvido pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), promovendo a integração e interação entre os sistemas utilizados nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). O Gerenciamento de Saúde Básica está instalado no Programa de Saúde da Família e foi desenvolvido por empresa contratada pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) sendo utilizado pelos profissionais do PSF. Há entrada de dados de produção das equipes, levantamentos realizados nas áreas, gerando relatórios mensais para encaminhamentos a SMS. Dentre as dificuldades identificadas junto aos dados de informações, podem ser destacados, a falta de informação de como os dados foram coletados na área, a desinformação sobre as atualizações dos dados e levantamentos, assim como ausência de um setor de referência, de fato, para se trabalhar e tratar as questões relacionadas aos sistemas de informações utilizados no CSEGSF. Quanto ao dia-dia, dentre outras, algumas dificuldades podem ser destacadas, tais como a persistência de registros incompletos no prontuário, falta de clareza para o atendimento do paciente fora de área, demora em obter resultados da pesquisa do Bacilo Álcool-Ácido Resistente (BAAR), pobreza de dados clínicos e epidemiológicos nos prontuários, exercício tímido das atividades de educação e saúde, falta de monitoramento clínico e epidemiológico, pouca troca com o setor de Vigilância Epidemiológica, uso de diferentes faixas etárias por cada sistema de 45 informação, ausência de capacitação específica, o não saber lidar com o abandono do tratamento (BOGA, 2007). 2.2.3 Diagnóstico O diagnóstico da tuberculose segue o caminho da estrutura da anamnese e do exame físico e, quando conduzido com precisão, resulta no seu esclarecimento. Devem-se buscar dados e informações, formularem suas hipóteses e testá-las, através dos exames complementares. No campo da vida de relação e do histórico pessoal do paciente, buscar informações sociais, doenças anteriores, história familiar e história de contato com pacientes portadores de tuberculose. O quadro clínico o conduzirá para a formação das hipóteses (BRASIL, 2005). A denominação “Caso de Tuberculose” é dada a todo indivíduo com diagnóstico confirmado por baciloscopia ou cultura e aquele em que o médico, com base nos dados clínico-epidemiológicos e no resultado de exames complementares, firma o diagnóstico de tuberculose. “Caso Novo” é a denominação dada ao paciente com tuberculose, mas que nunca usou ou usou por menos de um mês drogas antituberculosas (BRASIL, 2000). A pesquisa bacteriológica através da baciloscopia direta do escarro é o método diagnóstico laboratorial prioritário, permitindo a descoberta de fontes mais importantes da infecção: os casos bacilíferos. Este exame é solicitado nos casos em que o paciente procura o serviço de saúde por sintomas respiratórios, ou que informem ter tosse e expectoração há quatro semanas ou mais, ou que apresentem imagem radiológica pulmonar suspeita (BRASIL, 2002). 46 Os pacientes, de acordo com o resultado da baciloscopia, podem ser classificados por dois tipos de diagnóstico. A primeira possibilidade diagnóstica é de Tuberculose Pulmonar Confirmada que depende de duas baciloscopias diretas positivas, ou uma baciloscopia direta positiva e cultura negativa, ou uma baciloscopia direta positiva e imagem radiológica sugestiva de tuberculose, ou duas ou mais baciloscopias negativas e cultura positiva. A segunda possibilidade é de Tuberculose Pulmonar Suspeita ou Provável que depende de duas baciloscopias negativas, imagem radiológica suspeita e achados clínicos ou outros exames complementares que permitam ao profissional efetuar o diagnóstico de tuberculose (BRASIL, 2002). O exame laboratorial de cultura do escarro é indicado para suspeito de tuberculose pulmonar persistentemente negativo ao exame direto e para diagnóstico de outras formas extra-pulmonares. O teste de intradermo-reação para tuberculose – Teste de Mantoux, também conhecido como prova tuberculínica é outro método de abordagem indicado no primeiro atendimento para diagnóstico da tuberculose e consiste na introdução de 0,1 ml do Derivado Purificado da Proteína (PPD) do bacilo da tuberculose, via intra-dérmica, no paciente, de forma que uma vez injetado pode provocar uma reação local. A leitura da prova tuberculínica é realizada 72 a 96 horas após a aplicação, medindo-se com régua milimetrada o maior diâmetro transverso da área de induração palpável, sendo o resultado registrado em milímetros, originando uma classificação de não reator, reator fraco e reator forte. Todos os indivíduos infectados pelo HIV devem ser submetidos a prova tuberculínica, considerando-se reator aquele que apresenta induração maior ou igual a 5 mm e não reator, aquele com induração de 0 a 4 mm (BRASIL, 2002). 47 0 a 4 mm NÃO REATOR Indivíduo não infectado pelo Mycobacterium tuberculosis Indivíduo infectado pelo bacilo da tuberculose ou por outras micobactérias atípicas além da vacinação pelo BCG Indivíduo infectado pelo bacilo da tuberculose, que pode 10 mm ou mais REATOR FORTE estar doente ou não QUADRO 4: CLASSIFICAÇÃO PARA LEITURA DA PROVA TUBERCULÍNICA Fonte: BRASIL, 2002. 5 a 9 mm REATOR FRACO A radiografia (RX) de tórax é um exame auxiliar, de relevância importância, no diagnóstico da tuberculose, com 85% apresentando alterações nas imagens, devendo ser solicitado nos casos de sintomáticos respiratórios negativos à baciloscopia direta, nos comunicantes de todas as idades sem sintomatologia respiratória, nos suspeitos de tuberculose extra-pulmonar, e portadores de HIV ou pacientes com AIDS. Existem outros métodos para diagnosticar a tuberculose pulmonar, que vão depender da complexidade de apresentação da doença no paciente, tais como; escarro induzido, broncoscopia com lavado bronco-alveolar, tomografia computadorizada de tórax, métodos automatizados e técnicas de biologia celular (BRASIL, 2002). 2.2.4 Tratamento O tratamento da tuberculose, fundamentalmente quimioterápico, e padronizado no Brasil, sendo as medicações distribuídas pelo sistema de saúde, através de seus postos municipais de atendimento. Uma vez obedecidos os princípios da quimioterapia, a tuberculose, embora sendo uma doença grave, é curável praticamente na totalidade dos casos novos. O tratamento é ambulatorial sendo as internações indicadas apenas para casos especiais. Dentre as medicações 48 dos esquemas de tratamento estão a rifampicina (R), isoniazida (H), pirazinamida (Z), etambutol (E), estreptomicina (S) e etionamida (Et) (BRASIL, 2000). Os pacientes que nunca se submeteram à quimioterapia anti-tuberculose ou fizeram por menos de 30 dias são considerados sem tratamento. Retratamento é definido como o tratamento prescrito para o doente que interrompeu o tratamento por 30 dias ou mais e a menos de cinco anos, que venha necessitar de novo tratamento por falência, recidiva ou retorno após abandono. Falência é quando o exame de escarro, ao final do tratamento, permanece positivo (BRASIL, 2002). 2.2.5 Esquemas de Tratamento Os esquemas de tratamento para a tuberculose são padronizados, no Brasil. A medicação, em todos os esquemas, é de uso diário devendo ser administrada de preferência em única tomada. O Esquema I (básico) é indicado para casos novos de tuberculose pulmonar ou extra-pulmonar, pacientes que nunca se submeteram a quimioterapia anti-tuberculose, ou fizeram apenas por 30 dias, exceto os portadores de forma meningoencefálica. O Esquema II é indicado para a forma meningoencefálica da doença. O Esquema IR (reforçado) é indicado nos casos de recidiva após cura ou retorno após abandono do Esquema I. O Esquema III é indicado para os casos de falência do Esquema I e do Esquema IR (BRASIL, 2002). 49 Os quadros 5, 6, 7 e 8, mostram os esquemas de tratamento I, IR, II e III, respectivamente, com indicações, dosagens e observações específicas. Fases do tratamento 1ª fase (2 meses – RHZ) 2ª fase (4 meses – RH) Drogas Até 20 kg R H Z R H mg/kg/dia 10 10 35 10 10 Peso do doente Mais de 20 kg até Mais de 35 kg até 45 35 kg kg mg/dia mg/dia 300 450 200 300 1000 1500 300 450 200 300 Mais de 45 kg mg/dia 600 400 2000 600 400 QUADRO 5: Esquema I – 2RHZ/4RH indicado nos casos novos de todas as formas de tuberculose pulmonar e extra pulmonar Fonte: BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Plano Nacional do Controle da Tuberculose: manual de normas, 2002. Observações: a) No tratamento de tuberculose oftálmica e cutânea, a isoniazida poderá ser mantida por mais seis meses, a critério médico (2RHZ/4RH/6H). b) No tratamento da associação tuberculose e portador de HIV ou paciente com AIDS, a segunda fase terá a duração de 7 meses (2RHZ/7RH). Fases do tratamento 1ª fase (2 meses-RHZE) 2ª fase (4 meses-RHE) Drogas Até 20 kg R H Z E R H E mg/kg/dia 10 10 35 25 10 10 25 Peso do doente Mais de 20 kg até Mais de 35 kg até 35 kg 45 kg mg/dia mg/dia 300 450 200 300 1000 1500 600 800 300 450 200 300 600 800 Mais de 45 kg mg/dia 600 400 2000 1200 600 400 1200 QUADRO 6: ESQUEMA IR – 2RHZE/4RHE INDICADO NOS CASOS DE RECIDIVA APÓS CURA OU RETORNO APÓS ABANDONO DO ESQUEMA I Fonte: BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Plano Nacional do Controle da Tuberculose: manual de normas, 2002. Observações: a) Os pacientes com doença recidivante de esquemas alternativos por toxidade ao Esquema I devem ser avaliados para prescrição de esquema individualizado. 50 b) Havendo alteração visual durante o tratamento, o paciente deverá ser encaminhado para um serviço de referência, com o objetivo de avaliar o uso do etambutol. Fases do tratamento Mais de 20 kg até 35 kg Mais de 35 kg até 45 kg Mais de 45 kg mg/dia mg/dia mg/dia R H Z 10 a 20 10 a 20 35 300 200 1000 450 300 1500 600 400 2000 Dose máxima mg/dia 600 400 2000 R H 10 a 20 10 a 20 300 200 450 300 600 400 600 400 Drogas 1ª fase (2meses) RHZ 2ª fase (7meses) RH Peso do doente Doses para todas as idades mg/kg/dia QUADRO 7: ESQUEMA II – 2 RHZ/7RH INDICADO PARA A FORMA MENINGOENCEFÁLICA DA TUBERCULOSE Fonte: BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Plano Nacional do Controle da Tuberculose: manual de normas, 2002. Observações: a) Nos casos de concomitância de meningite tuberculosa com qualquer outra localização de tuberculose, usar o Esquema II. b) Nos casos de meningite tuberculosa, em qualquer idade, recomenda- se o uso de corticosteróide por um prazo de 2 a 4 meses, no início do tratamento. c) Na criança a prednisona é administrada na dose de 1 a 2 mg/Kg de peso corporal, até a dose máxima de 30mg/dia. No caso de se utilizar outro corticosteróide aplicar a tabela de equivalência entre eles. d) A fisioterapia na meningite tuberculosa deverá ser iniciada, com orientação, o mais precocemente possível. 51 Fases do tratamento Drogas 1ª fase (3 meses-SZEEt) S Z E Et E Et Até 20 kg 2ª fase (9 meses-EEt) mg/kg/dia 20 35 25 12 25 12 Peso do doente Mais de 20 kg até Mais de 35 kg 35 kg até 45 kg mg/dia mg/dia 500 1000 1000 1500 600 800 250 500 600 800 250 500 Mais de 45 kg mg/dia 1000 2000 1200 750 1200 750 QUADRO 8: ESQUEMA III – 3SZEET/9EET INDICADO NOS CASOS DE FALÊNCIA DE TRATAMENTO COM ESQUEMA 1 (ESQUEMA I) E ESQUEMA I REFORÇADO (ESQUEMA IR) Fonte: BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Plano Nacional do Controle da Tuberculose: manual de normas, 2002. Observações: a) Em pessoas maiores de 60 anos, a estreptomicina deve ser administrada na dose de 500 mg/dia. b) Havendo alteração visual durante o tratamento, o paciente deverá ser encaminhado para um serviço de referência, com objetivo de avaliar o uso do etambutol. 2.2.6 Co-Infecção HIV/TB Não há dúvidas que o advento da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) significou um agravamento para a epidemia da tuberculose e vice-versa (BRASIL, 2000). Na co-infecção HIV/TB encurta-se o tempo de evolução de ambas as doenças, levando-se mais rapidamente a morte. Eleva-se em 20% a 35% a mortalidade dos tuberculosos co-infectados com HIV, havendo pequenas diferenças entre os doentes de países industrializados e os dos paises em desenvolvimento. A mortalidade média dos co-infectados é aproximadamente quatro vezes maior do que nos pacientes com TB mais HIV negativo (TARANTINO, 2002). 52 Com o surgimento da epidemia do HIV em 1981, no Brasil, observou-se crescente número de notificações de tuberculose, estimando-se que 8,1% dos casos notificados de tuberculose estão associados à infecção pelo HIV. Percentual este que pode estar subestimado porque depende da oferta e realização da sorologia anti-HIV (NOGUEIRA, 2006). A tabela 8 mostra que de 1995 a 2003 houve um aumento, significativo, da oferta de exame anti-HIV no ERJ, assim como um decréscimo no percentual de positividade para HIV correlacionado à tuberculose. TABELA 8: PERCENTUAL DE SOLICITAÇÕES DE TESTE ANTI-HIV PARA OS CASOS NOVOS DE TUBERCULOSE E POSITIVIDADE NO MOMENTO DA NOTIFICAÇÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO Fonte: Secretaria Estadual de Saúde – RJ, disponível <http://www.saude.rj.gov.br/Docs/Tuberculose/Dados/dados%20tuberculose%201995%20%202003.pdf>. Acessado em 30/07/2008. em: O gráfico 7 demonstra que o percentual de exames anti-HIV não realizados vêm decrescendo, desde 2001 a 2006, no MRJ, porém com percentuais acima de 30%. Dentre os exames realizados observa-se um pequeno aumento nos resultados negativos para HIV. GRÁFICO 7: TESTE ANTI-HIV ENTRE OS CASOS NOTIFICADOS DE TB, MRJ, 2001-2006 Fonte: SINAN – TB, disponível <http://www.saude.rio.rj.gov.br/media/BoletimEpidemiologicoTBMRJ2001_2006.pdf>. Acesso 30/08/2008. em: em: 53 No gráfico 8 observa-se aumento nos resultados negativos para HIV, entre os casos de tuberculose, notificados no MRJ de 2001 a 2006. % HIV Positivo % HIV Negativo 16 14 Percentual 12 10 8 6 4 2 0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 GRÁFICO 8: PROPORÇÃO DE HIV POSITIVO ENTRE OS CASOS DE TB, NO MOMENTO DA NOTIFICAÇÃO NO MRJ, 2001-2006 Fonte: SINAN-TB, 2006. 2.2.7 Multirresistencia São considerados como portadores de tuberculose multirresistentes (TBMR), conforme classificação no Congresso Brasileiro de Tuberculose, em 1997, os pacientes que não se curam após o tratamento com os esquemas padronizados, e em geral, portadores de bacilos resistentes a mais de duas drogas, incluindo rifampicina (R) e isoniazida (H). A este grupo são agregados os pacientes que 54 apresentam resistência primária a R, H e a outras drogas utilizadas, geralmente estreptomicina (S) e/ou etambutol (E) (BRASIL, 2000). A origem da resistência às drogas se divide clinicamente, em primária ou inicial, que é observada nos pacientes que nunca foram tratados anteriormente e foram infectados por bacilos resistentes, e a adquirida ou secundária, observada durante o tratamento podendo ser por tempo inadequado ou por irregularidade na tomada das drogas anti-TB (GUERRA, 2003). Falhas no sistema de saúde e em seus programas de controle da tuberculose estão associados ao desenvolvimento da epidemia de TBMR, devido à incapacidade de detectar, com maior agilidade, os casos novos de tuberculose. Afinal o prolongamento da doença sem tratamento, propicia o aparecimento de cepas resistentes. Outro motivo seria a ocorrência de tratamento com desfecho não favorável, como o abandono (VIEIRA, 2007). Portanto o fator principal para resistência bacilar é a quimioterapia irregular somado a isto os altos índices de abandono do tratamento, sendo estes, fatores circunstanciais, e não decorrentes diretamente do HIV, embora haja evidências de condições especiais nos infectados com HIV que favorecem o desenvolvimento de resistência aos bacilos (TARANTINO, 2002). De acordo com informações da tabela 9, casos de TBMR vêm diminuindo ao longo de 2001 a 2007, no MRJ. TABELA 9: NÚMERO E PERCENTUAL DE CASOS DE TBMR ENTRE OS CASOS DE TB RESIDENTES NO MRJ, 2001-2006 Fonte: Sistema de Vigilância Epidemiológica da TBMR, Ministério da Saúde, disponível em: http://www.saude.rio.rj.gov.br/media/BoletimEpidemiologicoTBMRJ2001_2006.pdf. Acesso em: 30/08/2008. 55 2.3 ABANDONO DO TRATAMENTO DA TUBERCULOSE A alta por abandono é dada ao paciente que deixa de comparecer a unidade de tratamento por mais de 30 dias consecutivos, após a data prevista para seu retorno. Nos casos de tratamento supervisionado, o prazo de 30 dias conta a partir da última tomada da droga (BRASIL, 2000). O DOTS é uma estratégia, proposta pela OMS, que tem com propósito reverter a situação em que se encontra a tuberculose. Consiste na administração direta do medicamento ao paciente por uma segunda pessoa, que entrega, observa e registra a ingestão de cada dose da medicação (MUNIZ, 2002). Embora preocupantes os números da tuberculose no Brasil e no mundo, esforços são aplicados com objetivo de melhorar a situação, sendo a estratégia DOTS uma alternativa viável e eficaz de forma a alcançar as metas preconizadas pela OMS. A cobertura da estratégia DOTS, no término do ano de 2003, era aplicada em 182 países cobrindo 77% da população mundial. Na região das Américas 78% da população está coberta, no Brasil em 2002 somente 35% da população tinha a estratégia DOTS disponível (VENDRAMINI, 2007). O desemprego, o uso de drogas ilícitas, o alcoolismo, a ausência às consultas médicas aprazadas, o uso irregular de medicamentos anti-tuberculose, a não aferição da pressão arterial na consulta médica, o não recebimento do cartão de consulta e o fato de não se sentir à vontade com os profissionais de saúde para conversar sobre seus problemas pessoais, foram considerados, fatores significativos para a ocorrência de abandono, conforme estudos em colaboração entre a Unidade de Pesquisa em Tuberculose do Serviço de Pneumologia do Hospital Universitário 56 Clementino Fraga Filho, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro e a Universidade de Berkeley da Califórnia, no período de 1995 a 1998 (KRITSKI, 2000). Os percentuais de abandono de tratamento no Brasil têm se mantido estáveis nos últimos 20 anos, porém em patamares muito elevados, sendo necessário que o PNCT estabeleça estratégias para a redução dessa taxas, que são de 15% em média, atingindo em alguns municípios 30 a 40 %. As ações que vêem sendo desenvolvidas pelo Programa não têm se mostrado eficazes para atingir a meta de, no máximo, 5% de taxas de abandono preconizadas pelo PNCT (HIJJAR, 2007). 2.4 TRATAMENTO DIRETAMENTE OBSERVADO E SUPERVISIONADO (DOTS) DOTS significa tratamento diretamente observado de curta duração (em inglês, Directly Observed Short Course Treatment - DOTS) e caracteriza-se pela observação e monitorização da administração dos medicamentos no tratamento da tuberculose. Sendo recomendado pela OMS, como estratégia para que os pacientes tenham tratamento correto e completo (BRASIL, 2007). O relatório da OMS define como medidas complementares do DOTS, os chamados cinco pilares da estratégia: 1- detecção dos casos por microscopia; 2tratamento diretamente observado e monitorado; 3- provisão regular das drogas; 4sistema eficiente de registro de dados; 5- compromisso político no controle da tuberculose (MUNIZ, 1999). O tratamento supervisionado consiste na administração direta do medicamento por uma segunda pessoa, que entrega, observa e registra a ingestão de cada dose da medicação, podendo ser realizada na unidade de saúde, domicílio 57 do paciente, hospital ou local de trabalho. Sua eficiência sem hospitalização torna o tratamento disponível e de baixo custo. O observador, não precisa ser profissional de saúde, desde que treinado e motivado, mas preferencialmente deve ser o agente de saúde (MUNIZ, 1999). O esquema de tratamento do DOTS, obedece a recomendação do Ministério da Saúde, tendo o esquema I para casos novos, esquema IR para casos de retratamento e abandono do esquema I, e esquema III quando há falência dos esquemas I e IR. Atualmente a administração da medicação é feita diariamente nos dois primeiros meses e intermitente, com doses reajustadas, duas vezes por semana nos quatro meses subseqüentes. No caso do esquema III a administração do medicamento é feita diariamente com supervisão das tomadas três vezes por semana na fase inicial e duas vezes por semana na segunda fase (BRASIL, 2000). O gráfico abaixo mostra a evolução, ao longo dos anos, da implantação estratégia DOTS em todas as secretarias estaduais de saúde. 90 80 PERCENTUAL 70 60 50 cobertura DOTS 40 30 20 10 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 GRAFICO 9: PROPORÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE QUE ADOTARAM A ESTRATÉGIA DOTS, BRASIL, 2000-2006 Fonte: MS, 2007. 58 3 OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL Avaliar à taxa de abandono do tratamento da tuberculose na área de abrangência do CSEGSF, no período de 2001 a 2007. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Estimar a taxa de abandono do tratamento da tuberculose no CSEGSF no período de 2001 a 2007, conforme os dados do Livro de Registro e Controle de Tratamento dos Casos de Tuberculose. Analisar variáveis, retiradas do Livro Preto, relacionadas ao abandono do tratamento da tuberculose no CSEGSF no período de 2001 a 2007. Comparar resultados associados ao abandono do tratamento da tuberculose no CSEGSF no período de 2001 a 2007, com os dados governamentais. 59 4 METODOLOGIA 4.1 TIPO DE ESTUDO Estudo longitudinal retrospectivo de uma série de casos. 4.2 COLETA DE DADOS A coleta de dados foi realizada através das anotações do Livro de Registro e Controle de Tratamento dos Casos de Tuberculose (Livro Preto) relativos aos anos de 2001 a 2007. Este livro encontra-se na Vigilância Epidemiológica do CSEGSF onde funciona o PCT desta Unidade sendo monitorado pelos funcionários deste setor e recebe as informações do tratamento dos pacientes acompanhados pelo CSEGSF, com ou sem cobertura do PSF. O livro tem pacientes inscritos, divididos por cada mês do ano. O preenchimento do livro deve obedecer a um protocolo oficial do Programa Nacional de Controle de Tuberculose, cujas instruções encontram-se no próprio livro, orientando os profissionais de saúde ao preenchimento correto para posterior análise. O Livro Preto é um instrumento oficial do PNCT, com informações confidenciais. Só devem ser registradas neste livro as informações de pacientes com diagnóstico firmado. Ao término de cada mês deve ser feita a consolidação dos dados e análise dos casos atendidos na unidade. 60 4.3 MONTAGEM DO BANCO DE DADOS PARA ANÁLISE A partir da coleta de dados foi construído um banco informatizado pelo programa Epi-Info, versão 3.4.1, que possibilitou a análise de dados referentes ao período mencionado. A tabulação dos dados coletados seguiu as mesmas determinações que constam no livro. Foram feitos 532 cadastros, com início no mês de janeiro de 2001 até o mês de dezembro de 2007, um referente a cada paciente inscrito. Em cada cadastro do paciente existem variáveis relativas ao acompanhamento da doença, podendo estas serem analisadas individualmente. Em algumas variáveis a informação ficou em branco, conforme se encontrava no livro, e foram considerados, no estudo, como registros excluídos não processados. Em algumas variáveis encontradas em branco, foi adotada a opção sem registro ao invés de deixar em branco. Desta forma as variáveis para as quais foi adotada a opção sem registro, os percentuais foram contabilizados de acordo com o total do estudo (532) e para as variáveis que foram mantidas em branco (com registros excluídos não processados), os percentuais foram calculados com base num total inferior a 532. Inicialmente foi colocado em cada cadastro, o ano, mês e UF. A identificação foi feita pelo nome completo do paciente, seguido de número de matrícula no CSEGSF, idade e sexo (masculino ou feminino). A variável área foi destinada para identificação de moradia do paciente e foram selecionadas as áreas que constam no Livro Preto com casos de TB registrados. Das dezoito áreas sob a responsabilidade do CSEGSF apenas uma não foi incluída no estudo (Embratel), por não apresentar dados de TB registrados. Ainda na variável área, vários cadastros de pacientes, no que se refere ao domicílio, estavam em branco, sendo adotada a nomenclatura de 61 sem registro para esta situação, somando-se dezoito opções para a variável área. Em relação aos exames, para os resultados de baciloscopia I e II e cultura, foram dadas as opções de positivo, negativo e não realizada. Os resultados do PPD tiveram as opções de não reator, reator fraco, reator forte e não realizada. As opções para o exame histológico foram, positivo, sugestivo, negativo e não realizado. Foram considerados como resultados para o exame radiológico dos pulmões, suspeito, normal e não realizado. O exame anti-HIV teve como opções de resultado, positivo, negativo e não realizado. Foram consideradas como forma clínica a pulmonar e extra-pulmonar (para todas as outras formas clínicas que não fossem a pulmonar). Quanto ao tipo de tratamento foram registrados como tratamento inicial (TI) para casos novos, retratamento de recidiva (RR), retratamento após abandono (RA) e retratamento nos casos de falência (RF). Foi colocada uma coluna para a data de início do tratamento. O esquema de tratamento foi registrado como esquema I, IR, II, III, esquemas estes já descritos anteriormente. Também foi registrado o esquema EE quando utilizados esquemas especiais em pacientes resistentes aos tuberculostáticos. Conforme o Ministério da Saúde, durante o tratamento devem ser realizadas, no mínimo, três baciloscopias de controle, sendo assim este item foi dividido em, baciloscopia de controle 2, 4 e 6, para resultados do segundo, quarto e sexto mês de tratamento, respectivamente. Os resultados das baciloscopias de controle foram registrados como, positivo, negativo ou não realizada. O RX de controle teve como opções, realizado e não realizado. Uma coluna foi reservada para a data da alta e o motivo da alta pôde ser registrado conforme desfecho de cura, abandono, falência, transferência, óbito e mudança de diagnóstico. Uma última coluna foi utilizada para anotar observações não especificadas, caso necessário. 62 A falta de anotações, deixando algumas informações em branco no Livro Preto, esteve presente em vários momentos, sendo adotada em alguns casos a variável sem registro para o cadastro. Esta situação remete previamente a uma conclusão de falha no sistema de informação e/ou anotação. A figura 1 é o modelo do cadastro acima descrito, no qual constam os dados, retirados do Livro Preto, do paciente tratado no CSEGSF. Através deste cadastro, no programa Epi-Info 4.3.1. foi possível a análise do estudo. REGISTRO E CONTROLE DE TRATAMENTO DOS CASOS DE TUBERCULOSE FIGURA 1: MODELO DO CADASTRO CONFECCIONADO PARA ANÁLISE DE DADOS DE CADA PACIENTE DE TB, REGISTRADO NO LIVRO PRETO Fonte: Programa Epi-Info 4.3.1 63 4.4 CENÁRIO DE ESTUDO O Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria, local escolhido para o estudo, está vinculado a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP) na Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). O nome deste Centro de Saúde foi dado em homenagem à Germano Sinval Faria, sanitarista que ocupou o cargo de diretorgeral do Departamento Nacional de Endemias Rurais, foi criado em 1967 com a finalidade de atender prioritariamente a população moradora no Complexo de Manguinhos no Município do Rio de Janeiro. Está localizado e inserido no SubSistema da Leopoldina Sul na Área Programática 3.1 (AP 3.1) e tem como missão a assistência, o ensino e a pesquisa, e como desafio que haja articulação destas três importantes áreas (BOGA, 2007). Dentro deste contexto, atende a 100% da população residente. Em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, mantém um convênio que cobre 80% das comunidades vizinhas com equipes de Saúde da Família, e os 20% restantes são atendidos com processos de trabalho diferentes, ou seja, por equipes do quadro próprio do CSEGSF (BOGA, 2007). Conforme o quadro 9 demonstra, o CSEGSF trabalha com a responsabilidade sanitária de um território geograficamente definido, subdividido em dezoito áreas, que podem ser identificadas como comunidades da área adscrita do CS, área urbana e fora de área. Das dezoito áreas, cinco não estão cobertas pelo PSF, sendo atendidas pelo CS através do quadro de profissionais vinculados à FIOCRUZ. As demais comunidades, no total de treze, além do atendimento no CS, têm cobertura das EPSF. Observa-se que a comunidade NM está dividida, no atendimento, por duas EPSF. 64 ATENDIMENTO EPSF EPSF EPSF EPSF EPSF SIGLA SM NM (metade da área) VT PJG MP -----------VSP MB CAH/CHA COMUNIDADES (ÁREAS) Samora Machel ou Mandela II Nelson Mandela ou Mandela I Vila Turismo Parque João Goulart Mandela de Pedra ou Mandela III Cobal ou Conab Vila São Pedro Monsenhor Brito ou Perereca Comunidade Agrícola de Higienópolis PCC Parque Carlos Chagas ou Varginha NM (metade da área) Nelson Mandela GV Gramville CHP2 Conjunto Habitacional Provisório 2 EPSF EPSF POC Parque Oswaldo Cruz ou Amorim AU Área Urbana ----------- Ex-Combatente CSEGSF sem EPSF VU Vila União ----------- Fora de Área ----------- Embratel ou Nova Mandela ou Samora II QUADRO 9: RELAÇÃO DAS COMUNIDADES DA ÁREA DE ATENDIMENTO DO CSEGSF E COBERTURA DO PSF, RELACIONADAS NO LIVRO PRETO Fonte: VIANNA, 2009. EPSF A figura 2 mostra onze das dezoito comunidades atendidas pelo CSEGSF, Campus FIOCRUZ. 1- Parque Oswaldo Cruz (POC) 2- Vila Turismo (VT) 3- Parque João Goulart (PJG) 4- Conjunto Habitacional Provisório 2 (CHP2 5- Vila União (VU) 6- Parque Carlos Chagas (PCC) 7- Nelson Mandela (NM) / Nova Mandela / Samora II 8- Samora Machel (SM) 9- Mandela de Pedra (MP) 10- Embratel 11- Cobal/Conab 65 FIGURA 2: IMAGEM SATÉLITE DE MANGUINHOS COM DELIMITAÇÃO DE 11 COMUNIDADES DE ABRANGÊNCIA DO CSEGSF Fonte: TRINDADE, 2007, disponível em: http://www.encontro2008.rj.anpuh.org/resources/content/anais/1214230187_ARQUIVO_Textocomplet oAnpuh2008ClaudiaPecanhadaTrindade2.pdf. Acesso em: 30/11/2008. Uma das prioridades do CSEGSF, no momento, é a reorientação do serviço para promoção da saúde, favorecendo as práticas que estão baseadas na melhoria da qualidade de vida dos moradores do Complexo de Manguinhos. Tem como um dos enfoques centrais a intersetorialidade, articulando-se com a comunidade e outras instituições para o enfrentamento dos problemas da área, a partir de uma visão global. As inserções sociais do CSEGSF têm contribuído para o redimensionamento do setor e das ações de profissionais de saúde, que passam a incorporar para si responsabilidades na interferência de protocolos e de políticas públicas mais saudáveis, além de realizar atividades de educação, prevenção e promoção da saúde. Nos últimos anos vêm incrementando na área da saúde pública o desenvolvimento de tecnologias, pesquisa, ensino, incluindo publicações, participação em eventos científicos, cursos presenciais e a distância (BOGA, 2007). 66 Manguinhos tem uma população em torno de 40 mil habitantes, marcada por elevada vulnerabilidade sócio-ambiental, violência e restrição de circulação, informação e organização de espaços coletivos. Tem um histórico de mais de 50 anos de intervenções dos poderes públicos, muitas delas sem resultado algum (PIVETA, 2008). No ano de 1999, o CSEGSF iniciou o processo de implantação do Programa de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável de Manguinhos (DLIS), com a colaboração de várias secretarias municipais integradas à várias empresas, como: Correio, Embratel, CEF, entre outras, sendo esse programa uma alternativa de gestão pública e intervenção social voltado para aglomerações urbanas, envolvendo comunidades em situação de risco e de vulnerabilidade social. Esses órgãos discutiam o desenvolvimento local, sendo realizado para isso o Fórum Comunitário de Manguinhos (VIANNA, 2009). Nesse processo, no ano de 2000, houve a decisão da implantação do Programa de Saúde da Família em Manguinhos, inicialmente com apenas duas Equipes de Saúde da Família. Nessa época, no Rio de Janeiro, havia em torno de oito ESF em ação, em caráter de experiência, e ainda não era uma política da Secretarias e nem do Governo Federal. As duas primeiras equipes foram formadas por 1 médico, 1 enfermeiro, 1 auxiliar de enfermagem, 6 agentes de saúde e 1 agente de dependência química. Estes profissionais eram contratados ou oriundos da SMS, tendo recebido capacitação em duas semanas. As equipes foram distribuídas da seguinte forma: uma na área mais carente da região, a comunidade Mandela de Pedra, e a outra na comunidade Parque João Goulart, considerada menos carente. Tal escolha tinha como objetivo um estudo comparativo entre duas 67 realidades diferentes. Em 2004 foi proposta a ampliação das equipes do PSF no CSEGSF, para 8 equipes. Em 2005 as novas equipes começaram a atuar com a composição anterior aumentada de 1 auxiliar de enfermagem, 1 odontologista para cada 2 equipes e 1 agente redutor da violência, tendo este último profissional uma grande importância , com significativos resultados na redução da violência (VIANNA, 2009). O treinamento para as 6 novas equipes foi melhor planejado com tempo e conteúdo ampliado, havendo o envolvimento de mais profissionais na qualificação com educação continuada, professores de história, filosofia, sociologia, português, entre outros. Alguns pontos dificultam o desenvolvimento do trabalho, tais como: estrangulamento da rede de referência e contra-referência que não se ajustou para dar conta da demanda do PSF; a rotatividade dos profissionais contratados e cedidos da SMS, havendo solução de continuidade nas equipes principalmente no quadro dos médicos e enfermeiros; não foi possível até hoje a implantação dos módulos nas comunidades devido a resistência da prefeitura que através da Secretaria de Habitação exige alvará, planta baixa do local e uma estrutura que inviabiliza a implantação desta base. Não há um estudo em relação aos resultados da implantação do PSF na área de abrangência do CSEGSF, porém é notório que melhorou o acesso à saúde, não podendo ser afirmado se houve melhora na resolutividade. Em relação ao controle da tuberculose, devemos salientar que antes da implantação do PSF, os agentes de saúde do CSEGSF já realizavam visitas domiciliares, sendo estas mantidas pelas equipes do Programa Saúde da Família (VIANNA, 2009). Embora as medicações tenham sua distribuição gratuita, não ocorre à aderência esperada ao tratamento. O bairro é o terceiro de menor IDH do Rio de 68 janeiro, comparando-se ao país do Haiti, é considerado pior em saneamento básico, com alta população carcerária, tem um perfil de dependentes químicos e alcoolismo, com grande número de moradores de rua, caracterizado pela pobreza extrema e baixa educação. Tais problemas acentuam as dificuldades no controle da tuberculose e diminuição do abandono (VIANNA, 2009). 69 5 RESULTADOS 5.1 RESULTADOS RELACIONADOS AO TOTAL DE CASOS DE TUBERCULOSE Antes de iniciar a demonstração dos resultados numéricos do estudo, cabe ressaltar algumas dificuldades encontradas na coleta de dados, por falta da padronização destes no preenchimento do Livro Preto, muitas vezes ferindo as instruções do PNCT, que são claras no instrumento. Em alguns momentos da coleta observou-se: registros em branco; letra pouco legível; rasuras; anotações fora dos espaços determinados; troca de informações por espaço; e uso de símbolos não contemplados nas instruções. Tais fatores dificultaram, porém não impediram a fidedignidade da coleta. Do mês de janeiro de 2001 a dezembro de 2007, foram inscritos no Livro de Registro e Controle de Tratamento dos Casos de tuberculose, 532 pacientes para tratamento e acompanhamento da doença. Quanto ao coeficiente de incidência da TB, podemos calcular com base numa população da área de abrangência do CSEGSF, em torno de 40 mil habitantes no ano de 2007. Desta forma, para o referido ano, aplicando-se a formula na qual o coeficiente de incidência da TB é o resultado da razão entre o número de casos novos da doença (82 casos de TB em 2007) e a população exposta ao risco (40.000 habitantes), multiplicado por 100.000, chegamos ao coeficiente de incidência de 205/100.000 habitantes. Para o mesmo ano, com 3 óbitos, foi calculado o coeficiente de mortalidade, igual a 7,5/ 100.000 habitantes. 70 O gráfico 10 mostra a evolução do total de casos novos de TB (532 casos) ao longo dos anos de 2001 a 2007, inicialmente com o maior número (116 casos), em 2001, ano este que coincide com a implantação do PSF no CSEGSF. A partir daí decresce a quantidade de casos até 2004 (50 casos). Após 2004, aumenta o número de casos de TB. Em 2005 (60 casos) ocorre a ampliação do PSF, passando de duas para oito equipes, porém o número de casos de TB continua ascendente até 2007 (82 casos). 140 nº de casos TB 120 100 80 Série1 60 40 20 0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 anos GRÁFICO 10: EVOLUÇÃO DO TOTAL DE CASOS NOVOS DE TB, POR ANO, NO CSEGSF, 2001 A 2007 Fonte: Livro Preto do CSEGSF, 2001 – 2007. Os quadros 10 e 11 tratam dos desfechos (motivo da alta) do tratamento da tuberculose, fornecendo a freqüência e porcentagem do total de casos de TB entre 2001 e 2007. Sendo que o quadro 10 apresenta resultados com base no total de 532 casos de TB, ou seja, considerando os registros em branco (sem registro), enquanto que o quadro 11 apresenta resultados de um total de 511 casos de TB, desconsiderando os registros em branco (registros excluídos não processados). Porém, ambos os quadros, independente da contabilização dos registros em branco ou não, demonstram resultados com altos percentuais de abandono e óbito e baixos percentuais de cura. Todavia é importante ratificar que o registro em branco mostra 71 uma falha no sistema de informação do Programa de Controle da Tuberculose do CSEGSF, podendo proporcionar variações nos resultados da análise. De modo geral ao serem excluídos, os registros em branco, os percentuais apresentam-se maiores. No que se refere ao desfecho abandono, interesse principal do estudo observa-se que pelos dados do quadro 10 esta taxa foi de 29,1% e conforme dados do quadro 11, foi de 30,0%. Por incluir todos os casos de TB, inclusive os sem registro, utilizaremos, para as análises, os desfechos motivo da alta conforme o quadro 10. MOTIVO DA ALTA FREQÜÊNCIA PORCENTAGEM Abandono 155 29,1% Cura 255 47,9% Falência 7 1,3% Mudança de Diagnóstico 23 4,3% Óbito 34 6,4% Sem Registro 21 3,9% Transferência 37 7,0% Total 511 100,0% QUADRO 10: FREQUÊNCIAS E PERCENTUAIS DOS MOTIVOS DA ALTA, INCLUINDO REGISTROS EM BRANCO (SEM REGISTRO), DOS CASOS DE TB NO CSEGSF, 2001 A 2007 Fonte: Livro Preto do CSEGSF, 2001 – 2007. MOTIVO DA ALTA FREQÜÊNCIA PORCENTAGEM Abandono 155 30,3% Cura 255 49,9% Falência 7 1,4% Mudança de Diagnóstico 23 4,5% Óbito 34 6,7% Transferência 37 7,2% Total 532 100,0% QUADRO 11: FREQUÊNCIAS E PERCENTUAIS DOS MOTIVOS DA ALTA, EXCLUINDO REGISTROS EM BRANCO, DOS CASOS DE TB NO CSEGSF, 2001 A 2007 Fonte: Livro Preto do CSEGSF, 2001 – 2007. O gráfico 11, condensa os dados dos quadros 10 e 11 comparando os percentuais para cada motivo da alta, ratificando que foram próximos os percentuais, 72 independente da consideração dos registros em branco (sem registro) mas altos, 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 sem registro incluido ób tra it o ns fe re nc se ia m re gi st ro cu ra m ud an ça ab a nd o fa le nc di ia ag no st ic o sem registro não incluido no porcentagem quando se refere ao abandono e óbito e baixos, para cura. motivo da alta GRAFICO 11: COMPARAÇÃO DOS PERCENTUAIS DOS MOTIVOS DA ALTA, QUANDO INCLUÍDOS OU EXCLUÍDOS OS REGISTROS EM BRANCO, DOS CASOS DE TB, NO CSEGSF, 2001 A 2007 Fonte: Livro Preto do CSEGSF, 2001 – 2007. O gráfico 12 apresenta o comportamento dos percentuais do abandono, cura e óbito por ano, no CSEGSF, com total de 532 casos de TB de 2001 a 2007. Podemos perceber que o abandono do tratamento apresentou pequenos declínios no decorrer anos de 2001 para 2002 e de 2004 para 2005, computando as menores taxas em 2002 (20,0%) e 2005 (16,7%), porém não satisfatórias. Nos demais anos as taxas de abandono se apresentaram bem elevadas, chegando a encostar e ultrapassar a linha dos 30%. O abandono mostra um desenho de ascendência entre os anos estudados. A cura, com percentuais que, apenas em 2005, ultrapassou a linha de 60% (com 61,7%), manteve-se tímida e descendente no desenho de 2001 a 2007, quando chegou ao seu menor percentual de cura (32,9%) em 2007. A taxa de óbito manteve-se acima de 4,5%, com exceção de 2007 (3,7%), porém chegando aos 10,0% em 2004. 73 Os resultados apresentados não são satisfatórios e quanto a eficácia do tratamento da TB, principalmente levando-se em consideração que há cobertura do PSF, quase integral, na área adscrita. 70 frequência (%) 60 50 abandono 40 cura 30 óbito 20 10 0 2001 2002 (116) (89) 2003 2004 (70) (50) 2005 2006 (60) (65) 2007 (82) anos (total de casos) GRAFICO 12: FREQUÊNCIA EM PERCENTUAL, DO ABANDONO, CURA E RELACIONADOS AO TOTAL DE CASOS DE TB POR ANO, NO CSEGSF, 2001 - 2007 Fonte: Livro Preto do CSEGSF, 2001 – 2007. ÓBITO, De acordo com relatório da análise de dados, do total de 532 casos de TB a comunidade com maior número de casos de tuberculose foi CHP2, coberta pelo PSF, somando um total de 119 casos, no período estudado, com percentual de 22,4% em relação ao total de casos dos demais grupos citados. Distante vem o segundo maior número de casos, o grupo fora de área, com 66 casos e percentual de 12,4%. Já citado anteriormente, a comunidade mais carente é MP e a menos carente é PJG, que foram escolhidas como ponto de partida na implantação do PSF nesta região. Na análise de dados obtiveram 50 (9,4%) e 53 (10%) casos de TB, respectivamente, não havendo diferenças significativas, lembrando que conforme quadro 3, o número de habitantes das duas áreas, são próximos. No que refere às taxas de abandono das áreas citadas: no CHP2 a taxa foi de 37%; no MP 34%; no PJG 32,1%; e no grupo fora de área 27,3%. 74 A faixa etária foi analisada com 531 casos (registros em branco excluídos) e dividida em grupos com idade: menor de 5 anos; 5-9; 10-19; 20-39; 40-59; e 60 ou mais anos. O maior percentual entre os casos de TB é de adulto jovem, entre 20-39 anos de idade com 52% (276 casos), ultrapassando a metade do total de casos de TB, seguida da faixa de 40-59 anos com 30,1% (160 casos). As duas faixas, de adultos, somadas têm a 82,1% dos casos. Quanto a variável sexo, o masculino predomina entre os 532 casos de TB, com percentual de 63% (337 casos), contra 36,7% (195 casos) do sexo feminino. Destes 337 casos de TB entre os homens, 110 abandonaram o tratamento, o mesmo ocorrendo com 45 das 195 mulheres com TB. Resultando em taxa de abandono igual a 32,6% para o sexo masculino e 23,1% para o sexo feminino. A forma clinica pulmonar, da doença, alcança os 95,3% (491 casos) sendo a maioria absoluta dos casos quando comparada aos 4,7% (24 casos) da forma clínica extra-pulmonar, num total de 515 casos (registros em branco excluídos). A taxa de abandono na forma clínica pulmonar alcança os 30%. O quadro 14 resume a situação do cumprimento de realização dos exames. Com exceção do RX, e baciloscopia I, embora não apresentando percentuais adequados de não realização do exame, os demais exames aparecem com percentuais de não realização, extremamente altos. Exames como baciloscopia I, II e RX são obrigatórios conforme PNCT. Neste estudo foi detectado que das baciloscopias I e II realizadas, apareceram resultados positivos com percentuais de 75,1% e 68,8%, respectivamente, e dos exames RX realizados, 99,5% tiveram imagem suspeita para TB. A não realização destes compromete a qualidade de cura, pois a mesma não sofre uma boa avaliação. Consequentemente é dada alta por cura clínica, por tempo de tratamento, após os seis meses de medicação. 75 EXAME NÃO REALIZADO REALIZADO TOTAL TB BACILOSCOPIA I 190 (35,7%) 342 (64,3%) 532 (100%) BACILOSCOPIA II 426 (80,1%) 106 (19,9%) 532 (100%) BACILOSCOPIA CONTROLE 2 MÊS 393 (73,9%) 139 (26,1%) 532 (100%) BACILOSCOPIA CONTROLE 4 MES 511 (96%) 21 (4%) 532 (100%) BACILOSCOPIA CONTROLE 6 MÊS 526 (98,9%) 6 (1,1%) 532 (100%) CULTURA 414 (77,8%) 118 (22,2%) 532 (100%) PPD 477 (89,7%) 55 (10,3%) 532 (100%) HISTOLÓGICO 522 (98,1%) 10 (1,9%) 532 (100%) RX 89 (16,7%) 443 (83,3%) 532 (100%) RX CONTROLE 442 (83,1%) 90 (16,9%) 532 (100%) ANTI-HIV 371 (69,7%) 161 (30,2%) 532 (100%) QUADRO 12: SITUAÇÃO DA REALIZAÇÃO DOS EXAMES, CONFORME LIVRO PRETO DO CSEGSF NO PERÍODO DE 2001 A 2007 Fonte: Livro Preto do CSEGSF, 2001 – 2007. O exame anti-HIV, nos casos de pacientes com TB, requer uma atenção especial devido à co-infecção TB-HIV. A oferta deste exame deve ocorrer no primeiro atendimento ao paciente. O quadro 13 apresenta os números absolutos e percentuais da solicitação do exame anti-HIV, mostrando que de 2001 a 2006 a não realização dos exames mantém-se acima dos 60%, com exceção de 2005 (58,3%), embora com alto percentual. HIV Não realizado Negativo Positivo 2001 77 (66,4%) 19 (16,4%) 20 (17,2) 2002 66 (74,2%) 11 (12,4%) 12 (13,5%) 2003 53 (75,7%) 10 (14,3%) 7 (10,0%) 2004 42 (84,0%) 2 (4,0%) 6 (12,0%) 2005 35 (58,3%) 11 (18,3%) 14 (23,3%) 2006 46 (70,8%) 13 (20,0%) 6 (9,2%) 2007 52 (63,4%) 24 (29,3%) 6 (7,3%) Total 116 89 70 50 60 65 82 tuberculose QUADRO 13: NÚMEROS ABSOLUTOS E PERCENTUAIS DE EXECUÇÃO DO TESTE ANTI-HIV PARA OS PACIENTES COM TB, NOS ANOS DE 2001 A 2007, CSEGSF Fonte: Livro Preto do CSEGSF, 2001 – 2007. O gráfico 13 desenha a evolução entre os anos estudados, em percentuais, dos exames não realizados e os resultados dos realizados. Conforme análise do quadro anterior, o gráfico mostra que entre subidas e descidas dos percentuais, não houve progresso, de 2001 a 2007, no que se refere à realização do teste anti-HIV para os casos de TB. Em relação aos resultados dos exames realizados, observa-se 76 um aumento no percentual de negatividade para HIV correlacionado à TB e consequentemente diminuição do percentual dos soropositivos. 90 80 porcentagem 70 60 não realizado 50 negativo 40 positivo 30 20 10 0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 anos GRAFICO 13: EVOLUÇÃO DOS PERCENTUAIS DOS TESTES ANTI-HIV PARA OS CASOS DE TB, NOS ANOS DE 2001 A 2007, CSEGSF Fonte: Livro Preto do CSEGSF, 2001 – 2007. O esquema de tratamento, adotado no período estudado, com maior percentual foi o esquema I (básico), indicado para os casos novos, somando 82,3% (418 pacientes) de um total de 508 pacientes (registros em branco não processado), seguido dos demais esquemas de tratamento. Foram computados 491 casos (registros em branco não processado), em relação ao tipo de tratamento, sendo o tratamento inicial (TI), indicado para casos novos, o que teve maior percentual com 79,2% (389 casos) em seguida vem o retratamento por abandono (RA), com percentual de 13,8% (68 casos), seguidos de dos outros tipos. Relacionando o motivo alta abandono com o tipo de tratamento, pôde-se observar que dos 389 pacientes tratados classificados como TI, 99 (25%) abandonaram o tratamento e dos 68 tratados classificados como RA, 34 (50%) abandonaram, ou seja, metade dos pacientes que fizeram retratamento por abandono não mantiveram o tratamento, sendo um importante indicador para possíveis casos de TB multirresistente. 77 O quadro 14 que correlaciona o motivo da alta com o tipo de tratamento RA, mostrando além do alto percentual de abandono, um inexpressivo percentual de cura da doença nos casos de retratamento por abandono além do grande percentual de óbito. MOTIVO DA ALTA FREQÜÊNCIA PORCENTAGEM Abandono 34 50,0% Cura 13 19,1% Falência 1 1,5% Mudança de Diagnóstico 1 1,5% Óbito 7 10,3% Sem Registro 5 7,4% Transferência 7 10,3% Total 68 100,0% QUADRO 14: FREQUÊNCIAS E PERCENTUAIS DOS MOTIVOS DA ALTA EM RELAÇÃO AO RETRATAMENTO POR ABANDONO (RA) NO CSEGSF, 2001 A 2007 Fonte: Livro Preto do CSEGSF, 2001 – 2007. 5.2 RESULTADOS RELACIONADOS AO TOTAL DE ABANDONO Os resultados a seguir estão focados no subgrupo abandono, diagnosticando o abandono do tratamento da tuberculose, quando correlacionado com variáveis do cadastro, dentro do período estudado. O quadro 15 mostra que na variável ano, houve um total de 155 casos de abandono no período estudado, com destaque para 2001, onde se encontram a maioria de abandonos, 36 (23%) casos, e no ano de 2005 com 10 (6,5%) casos, o menor número computado no período. FREQUENCIA DO PORCENTAGEM DO ABANDONO ABANDONO 2001 36 23,2% 2002 18 11,6% 2003 21 13,5% 2004 16 10,3% 2005 10 6,5% 2006 24 15,5% 2007 30 19,4% Total 155 100,0% QUADRO 15: FREQUÊNCIA E PORCENTAGEM DO ABANDONO POR ANO, NO TOTAL DE 155 CASOS DO CSEGSF, 2001 – 2007 Fonte: Livro Preto do CSEGSF, 2001 – 2007. ANO 78 O quadro 16 apresenta um total de 155 casos de abandono no período estudado para a variável área. Das 18 áreas (grupos divididos por local de domicílio) do estudo, quatro não tiveram casos de abandono, sendo estas: AU e MB (com 1caso de TB, cada); VSP (com 4 casos de TB) e Ex-Combatentes (com 5 casos de TB). Das quatorze áreas, com casos de abandono, destaca-se o CHP2, com 44 (28,4%) casos, seguido do grupo fora de área, com 18 (11,6%) casos. Dado interessante é a igualdade nos números do abandono para as áreas, consideradas, mais carente e menos carente, respectivamente, MP e PJG, com 17 (11,6%) casos de abandono. ÁREA FREQUENCIA DO ABANDONO PORCENTAGEM DO ABANDONO CAH 3 1,9% CHP 2 44 28,4% COBAL 1 0,6% FORA DE ÁREA 18 11,6% GV 1 0,6% MP 17 11,0% NM 21 13,5% PCC 8 5,2% PJG 17 11,0% POC 6 3,9% SEM REGISTRO 3 1,9% SM 6 3,9% VT 7 4,5% VU 3 1,9% Total 155 100,0% QUADRO 16: FREQUÊNCIA E PORCENTAGEM DO ABANDONO POR ÁREA, NO TOTAL DE 155 CASOS DO CSEGSF, 2001 – 2007 Fonte: Livro Preto do CSEGSF, 2001 – 2007. 79 O quadro 17 apresenta um total de 155 casos de abandono, distribuídos de acordo com a faixa etária. Os adultos jovens, faixa de 20-39 anos, disparam nos números de abandono, comparados às demais classificações etárias, chegando a 88 (56,8%) de casos abandonando o tratamento, seguido dos adultos de 40-59 anos, com 39 (25,2) casos. FAIXA ETÁRIA FREQUENCIA DO ABANDONO PORCENTAGEM DO ABANDONO <5 5 3,2% 5-9 2 1,3% 10-19 12 7,7% 20-39 88 56,8% 40-59 39 25,2% 60 ou + 9 5,8% Total 155 100,0% QUADRO 17: FREQUÊNCIA E PORCENTAGEM DO ABANDONO POR FAIXA ETÁRIA, NO TOTAL DE 155 CASOS DO CSEGSF, 2001 – 2007 Fonte: Livro Preto do CSEGSF, 2001 – 2007. O quadro 18 que conta com total de 152 casos de abandono na variável sexo, mostra maior freqüência deste desfecho no sexo masculino do que no feminino, com percentuais de 71% e 29%, respectivamente. SEXO FREQUENCIA DO ABANDONO PORCENTAGEM DO ABANDONO Feminino 45 29,0% Masculino 110 71,0% Total 155 100,0% QUADRO 18: FREQUÊNCIA E PORCENTAGEM DO ABANDONO POR SEXO, NO TOTAL DE 155 CASOS DO CSEGSF, 2001 – 2007. Fonte: Livro Preto do CSEGSF, 2001 – 2007. O quadro 19 evidencia, quanto à forma clínica nos casos de abandono, a quase totalidade dos abandonos para a forma pulmonar, com 148 (97,4%) casos, de um total de 152. FORMA CLÍNICA FREQUENCIA DO ABANDONO PORCENTAGEM DO ABANDONO Extra Pulmonar 4 2,6% Pulmonar 148 97,4% Total 152 100,0% QUADRO 19: FREQUÊNCIA E PORCENTAGEM DO ABANDONO POR FORMA CLINICA, NO TOTAL DE 155 CASOS DO CSEGSF, 2001 – 2007 Fonte: Livro Preto do CSEGSF, 2001 – 2007. 80 Na variável do exame anti-HIV, o desfecho abandono apresenta resultados, conforme o quadro 20, nos quais se verifica que, entre os 155 casos de abandono, os pacientes com co-infecção HIV-TB (11,0%) aderem mais ao tratamento que os não infectados pelo HIV (18,1 %). Todavia esta análise fica, neste caso, restrita aos exames realizados, uma vez que os demais casos de abandono de TB (71,0%), não realizaram o teste anti-HIV. TESTE ANTI-HIV FREQUÊNCIA DO ABANDONO PORCENTAGEM DO ABANDONO Não Realizado 110 71,0% Negativo 28 18,1% Positivo 27 11,0% Total 155 100,0% QUADRO 20: FREQUÊNCIA E PORCENTAGEM DO ABANDONO, POR RESULTADO DO TESTE ANTI-HIV, NO TOTAL DE 155 CASOS DO CSEGSF, 2001 – 2007 Fonte: Livro Preto do CSEGSF, 2001 – 2007. O quadro 21 indica que do total de 142 (registros em branco não processados) casos de abandono do estudo, em relação ao tipo de tratamento, o tratamento inicial teve o maior número de abandono com 99 casos (69,7% dos casos de abandono), e o retratamento por abandono apresentou 34 casos (23% dos casos de abandono). TIPO DE TRATAMENTO FREQUENCIA DO ABANDONO PORCENTAGEM DO ABANDONO RA 34 23,9% RF 4 2,8% RR 5 3,5% TI 99 69,7% Total 142 100,0% QUADRO 21: FREQUÊNCIA E PORCENTAGEM DO ABANDONO POR FORMA CLINICA, NO TOTAL DE 142 CASOS (RESULTADOS EM BRANCO NÃO PROCESSADO) DO CSEGSF, 2001 – 2007 Fonte: Livro Preto do CSEGSF, 2001 – 2007. 81 6 DISCUSSÃO Uma vez obtidos e demonstrados os resultados, podemos analisar os dados que se relacionam ao abandono do tratamento da tuberculose, do CSEGSF, e comparar com indicadores governamentais. As fontes consultadas em relação à população da área de abrangência do CSEGSF, não fornecem um quantitativo exato. Todavia temos uma estimativa de quarenta mil habitantes para o ano de 2007 (VIANNA, 2009), e com base neste dado, mais o resultado de 82 casos de TB em 2007, chegamos a um coeficiente de incidência igual a 205/100.000 habitantes. Coeficiente este que se apresenta elevado uma vez comparado a outras realidades como: região das Américas, com incidência de 41,0 casos/100.000 hab. (BRASIL, 2006); Brasil, com 40,8/100.000 hab. (BRASIL, 2006); ERJ, com 73,1/100.000 hab. em 2005 (BRASIL, 2006); e MRJ, com 93,7/100.000 hab. em 2006 (SINAN-TB). O coeficiente de mortalidade do CSEGSF foi calculado para o ano de 2007, com base numa população de quarenta mil habitantes, com três óbitos ocorridos neste ano, lembrando que foi o segundo menor percentual de óbitos durante o período do estudo, porém com índice de 7,5/100.000 hab., superior aos do país, que se apresentam entre 3,3 a 3,6/100.000 hab. (BRASIL, 2005), ERJ com 6,5/100.000 hab. e MRJ com 5,47/ 100.000 hab. em 2006. 82 O gráfico 14 mostra a queda da mortalidade da TB no MRJ. Consultado o DATASUS, não constam informações estatísticas para mortalidade em tuberculose. GRAFICO 14: TAXA DE MORTALIDADE DE TUBERCULOSE DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO Fonte: Secretaria Municipal de Saúde – PCT – RJ. Quanto aos casos de TB no decorrer dos anos de 2001 a 2007, no CSEGSF, estes tiveram seus maiores percentuais em 2001 (21,8%), declinando até 2004 (9,4%), porém em 2005 (11,3) volta a subir, até 2007 (15%). Lembrando que neste período de subida do número de casos de TB (2005 – 2007), o CS já contava com oito equipes do PFS. A taxa de cura no decorrer de 2001 a 2007, apresentou-se tímida, no CSEGSF, com maior percentual em (61,7%) em 2005 e pior desempenho em 2007, último ano do estudo, com 32,9% de cura. No Brasil a cura apresenta percentual de 71% (WORLD, 2006), no ERJ 61,5% (RIO, 2003) e no MRJ, 72,2% em 2005, conforme informações do SINAN. Embora estes percentuais estejam melhores quando comparados aos do CSEGSF, nenhum dos dados governamentais apresentados, contemplam os anseios da OMS de obter percentual acima de 85% de cura da tuberculose. A taxa de óbito em 2004 chegou aos 10,0% e nos sete anos estudados não ultrapassou o percentual de 3,7% (2007). Os percentuais de óbito estão em torno de 83 4,2% para o ERJ e 4,6% para o MRJ, percentuais estes inferiores aos apresentados, de mo geral, pelo CSEGSF. Quanto ao desfecho abandono no CSEGSF, em todos os anos avaliados, as taxas estiveram altas, com percentuais bem acima dos até 5%, preconizados pelo PNCT (HIJJAR, 2007), chegando a 36,9% em 2006. O ano de menor percentual foi 2005 com 16,0 % de abandono, taxa pela qual não há motivo para se comemorar o resultado. De modo geral o abandono ficou na acima dos 30%. Vários trabalhos associam o abandono do tratamento à fatores predisponentes, sendo as condições sócio-econômicas a maior influência no adoecimento e abandono (PAIXÃO, 2007), vindo ao encontro do perfil da área de abrangência do CSEGSF. Resultados governamentais podem ser comparados aos da área estudada, conforme tabela 8, que mostra uma discrepância entre estes, levando a crer que com estes altos índices se torna necessária uma maior atenção ao tratamento da tuberculose nesta área de abrangência. Dados pesquisados no site do DATASUS, tais como: taxa de abandono no MRJ igual a 1,54% (2004) e 1,28% (2005), não foram considerados por não estarem condizentes com a realidade dos fatos e citações bibliográficas que versam sobre o assunto. TABELA 10: TAXA DE ABANDONO NO BRASIL, REGIÃO SUDESTE DO BRASIL, ERJ, MRJ E CSEGSF, 2001 - 2007 Abandono 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Brasil 11,6% 10,1% 9,3% 7,4% Região 7,1 Sudeste ERJ 13,4% MRJ 14,8% 14.3% 11,9% 13,6 14,0% 14,5% CSEGSF 31,0% 20,2% 30,0% 32,0% 16,7% 36,9% 36,6% Fonte: MS, SES-RJ, SMS-RJ, SINAN-TB, Livro Preto do CSEGSF, 2001-20007. O gráfico 15 oferece um panorama da situação dos desfechos abandono, cura e óbito, com destaque para o fato de o percentual cura encontrar dificuldades 84 para ultrapassar a linha dos 60% e o abandono, exceto nos anos 2002 e 2005, não conseguir taxas inferiores a 30%. DESFECHOS (%) 70% 60% 50% ABANDONO 40% CURA 30% ÓBITO 20% 10% 0% 2001 2002 2003 2004 2005 (116) (89) (70) (50) (60) 2006 2007 (65) (82) ANO (Nº TB) GRAFICO 15: DESFECHOS DO ABANDONO, CURA E ÓBITO, POR PERCENTUAIS, NOS ANOS DE 2001 A 2007, NO CSEGSF Fonte: Livro Preto, CSEGSF. Em relação às dezoito áreas estudadas, o gráfico 16 oferece um panorama da situação dos desfechos abandono, cura e óbito de cada área do estudo. Algumas considerações podem ser feitas: a área CHP2 apresenta as mais altas freqüências nos desfechos; nesta área a cura se iguala ao abandono; o abandono, foco principal FREQUENCIA DE DESFECHOS do estudo, mostra freqüência extremamente preocupante na área CHP2. 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 abandono cura óbito A U ) ) ) 6) ) ) ) ) 7) (5 2) 2) 5 3) 39) 8) 1) 8) (1 (6 (8 (1 (5 0 (4 (1 19 L ( (2 ( (5 (5 ( (2 V U P B T E EA (1 O A C T G G V P S C M N M M R 2 B V C V R E M N S PJ PC PO IST HP C O AT E Á C B D EG M R A O R M -C FO SE EX ) (1 AH (7 ) AREA / Nº TB GRAFICO 16: DESFECHOS DO ABANDONO, CURA E ÓBITO, EM NUMERO DE CASOS, POR ÁREA DE RESPONSABILIDADE DO CSEGSF, 2001 – 2007 Fonte: Livro Preto do CSEGSF. A faixa etária onde predominam os casos de TB, do total de 531 (registro em branco não processado), é a de adultos jovens (20-39), com 276 (52%) casos, coincidindo com o que ocorre na população do MRJ, onde a maioria dos casos de 85 TB também está nessa faixa etária. Porém o que, aparentemente, retrata um descaso, independente de quem seja a responsabilidade, é o fato de pacientes da faixa etária > 5 anos e 5 -9 anos, estejam incluídos nos casos de abandono, na área de responsabilidade do CSEGSF. A tabela 9 ilustra os comentários anteriores, quanto aos resultados encontrados na variável faixa etária. TABELA 11: TOTAL DE CASOS DE TUBERCULOSE E ABANDONO CORRELACIONADO, CONFORME FAIXA ETÁRIA, CSEGSF, 2001 A 2007 Faixa Etária >5 5-9 10 - 19 20 - 39 40 - 59 60 ou + Total de Casos TB 9 (1,7%) 4 (0,8%) 46 (8,7%) 276 (52,0%) 160 (30,1%) 36 (6,8%) Casos Abandono 5 (55,6%) 2 (50%) 12 (26,1%) 88 (31,9%) 39 (24,4%) 9 (25,0%) Fonte: Livro Preto, CSEGSF. Cabe ressaltar que a violência é uma característica desta região, com vários jovens envolvidos com a criminalidade, levando-os a morte precocemente ou tendo que mudar de moradia, e muitas vezes essas informações não chegam a ser registradas como tal. Esta afirmativa pode ser observada no gráfico 17 através de dados estatísticos que apontam motivos pelos quais pacientes abandonam o tratamento, na região oeste de Belo Horizonte, Minas Gerais (PAIXÃO, 2007). Violência Necessitou Fugir; 5% Não gosta do local do tratamento; 5% Não acreditava no tratamento; 5% Desemprego outras prioridades; 5% A chava que havia se curado; 25% Medo de perder o emprego; 5% Não acreditava que estivesse com TBC; 5% Devido a droga e/ou bebida alcoolica; 30% Falta de alimento e desconf orto como tratamento; 15% GRAFICO 17: MOTIVOS APRESENTADOS POR PACIENTES QUE ABANDONARAM O TRATAMENTO DE TUBERCULOSE. REGIONAL OESTE DE BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS, 2001 – 2002 Fonte: PAIXÃO, 2007. 86 Os resultados do estudo indicam além da superioridade do número de casos para o sexo masculino, também maior percentual de abandonos para o sexo masculino, ou seja, 32% dos homens contra 23% das mulheres abandonaram o tratamento da doença. Estes dados coincidem com dados governamentais tanto em maioria de casos para sexo masculino, quanto para maior adesão ao tratamento por parte do sexo feminino (ALMEIDA, 2006). Conforme dados do MRJ, tabela 5, a forma pulmonar apresenta percentual superior a 80% em relação ao total de casos, o mesmo ocorre com os dados do estudo em que o percentual da forma pulmonar chega a 95% dos casos de TB. Destes, 30,1% abandonaram o tratamento. Dados estes que nos levam a refletir sobre o acompanhamento do tratamento prestado, cabendo uma melhor supervisão. Em relação ao tipo de tratamento, o que chama atenção é o percentual de abando dos casos retratados por abandono, ou seja, o fato de 50% dos pacientes que já haviam abandonado o tratamento, mais uma vez não aderirem ao tratamento. Fato este que aumenta o risco, não só da propagação da doença, já fora de controle, mas também aumenta a probabilidade de TB multirresistente. O que é uma preocupação dos órgãos governamentais ao indicarem o tratamento supervisionado (BRASIL, 2007). Em muitos países o crescimento dos casos de TB se deu em consequência da epidemia de HIV-AIDS, doença esta que predispõem o indivíduo a desenvolver TB. Embora a taxa de mortalidade por tuberculose venha apresentando redução, há associação entre TB e AIDS e a influência desta reflete na mortalidade de tuberculose. A realização dos testes anti-HIV devem ser cumpridas, conforme orienta o PNCT, melhor certificadas e supervisionadas quanto a sua realização. Esta medida cabe como orientação na condução do tratamento da tuberculose no 87 CSEGSF, onde do total de casos de TB, de 2001 a 2007, 69% (371 pacientes) não realizaram o teste anti-HIV e destes 29% (110 pacientes) abandonaram o tratamento. Ainda em relação ao HIV, entre os exames realizados, foi maior o percentual de HIV negativo (55,9%) do que positivo (44,0%). Conforme tabela 12, os pacientes em tratamento de tuberculose no CSEGSF, com HIV negativo, abandonaram mais o tratamento do que os com HIV positivo, porém em ambos os casos a taxa de abandono apresenta índices nada satisfatórios. A cura, em maior escala para o HIV negativo, mas com taxa bem inferior ao preconizado pelo PNCT, os óbitos em maior proporção para o HIV positivo, conforme esperado, todavia com altas taxas, não satisfatórias. TABELA 12: DESFECHOS DO ABANDONO, CURA E ÓBITO, EM RELAÇÃO A VARIÁVEL HIV, NO CSEGSF, 2001-2007 TB com HIV Negativo Positivo Taxa de Abandono 31,1% 23,9% Taxa de Cura 47,8% 33,8% Taxa de Obito 3,3% 14,1% Fonte: Livro Preto, CSEGSF. A tabela 13 tem a finalidade de destacar a maior freqüência e percentual, resultado da análise de dados do sub-grupo abandono, no qual o total de abandono do estudo foi correlacionado com as variáveis, ou seja, qual a sub-variável com maior freqüência e percentual dentro daquela variável. Podemos citar como exemplo, que dentre a variável ano 2001 (sub-variável) foi o que apresentou maiores índices em relação ao total de abandono. TABELA 13: MAIORES ÍNDICES DO TOTAL DE ABANDONO PARA CADA VARIÁVEL TOTAL DE SUBFREQUENCIA DE PORCENTAGEM VARIAVEL ABANDONO VARIAVEL ABANDONO DE ABANDONO 155 Ano 2001 36 23,2% 155 Área CHP2 44 28,4% 155 Faixa Etária 20-39 anos 88 56,8% 155 Sexo Masculino 110 71,0% 155 Forma Clínica Pulmonar 148 97,4% 155 Teste anti-HIV Não Realizado 110 71,0% 161 Teste anti-HIV Realizado Negativo 90 55,9% 142 Tipo de Tratamento TI 99 69,7% Fonte: Livro Preto, CSEGSF. 88 CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando os resultados obtidos em relação aos índices do tratamento da tuberculose e desfechos de alta, em especial o abandono, na área de responsabilidade do CSEGSF, no período de 2001 a 2007, vemos que os índices encontrados estão aquém dos anseios da OMS, MS e PNCT, em diversos momentos. Embora os índices governamentais também não estejam satisfatórios, porém com melhores resultados que os do CSEGSF. Apresentando, na soma dos sete anos do estudo, taxa de abandono de 29,1%, taxa de cura de 47,9% e taxa de óbito de 6,4%, cabem considerações, e sugestões para conclusão do estudo. Inicialmente, o Livro Preto merece mais atenta supervisão quanto à padronização dos registros, sendo indicado treinamento e atualização para os profissionais responsáveis por esta atividade. Seria interessante que cada equipe de do saúde da família possuísse uma cópia do Livro Preto, de forma que estes possam, uma vez recebendo treinamento, registrar e acompanhar os casos de TB, assim ao término de cada mês ao repassarem as informações para gerência do PCT, houvesse uma reunião de avaliação da situação da TB nas áreas. Portanto cabe melhor busca e acompanhamento mais eficiente. Sabemos dos esforços e progressos históricos da atenção em saúde, prestados pelo CSEGSF, assim como das dificuldades encontradas na área de sua responsabilidade. Área esta que se encaixa no perfil satisfatório para o aparecimento e proliferação da tuberculose. Problemas sócio-econômicos conforme citado na metodologia, ao descrever o cenário do estudo (VIANNA, 2009). Todavia é prerrogativa do PNCT, como resposta brasileira ao controle da tuberculose, a 89 implantação da estratégia DOTS em todas as secretarias estaduais de saúde, e a concretização vem evoluindo ao longo dos anos. Embora as taxas de abandono tenham subido em seus percentuais, mesmo com a chegada de mais ESF no CSEGSF, estas podem ter um papel preponderante em novas estratégias para o combate da TB. Sendo interessante a completa cobertura do PSF na área de responsabilidade do CSEGSF. O PSF pode, com objetivo de controlar a tuberculose, determinar os riscos de disseminação da doença, fazer prevenção, busca ativa dos sintomáticos respiratórios e seus contatos, solicitar exames, e através do DOTS acompanhar e supervisionar o tratamento da doença evitando a questão do abandono. Outro desafio é o oferecimento e realização do teste anti-HIV, que conforme detectado no estudo, apresenta altos índices de não realização. Não deveria ser aceitável passivamente, em nenhuma instituição de saúde, que crianças na faixa etária igual ou menor que nove anos entrem na estatística de abandono. Independente de quem seja a responsabilidade, deve-se uma resposta para o fato. E mais uma vez, pode ser citado o acompanhamento supervisionado como resposta para possível solução do problema. Há muito que se trabalhar na correção para melhora destes resultados, pois o desafio é grande, porém certamente não será maior que a competência e vontade dos profissionais do CSEGSF/ENSP/FIOCRUZ. Atitude para o controle da tuberculose, é um indicativo, não só da atenção à saúde, mas também da justiça social de um país. 90 REFERÊNCIAS ALMEIDA, S. A. D. de, et. al. Abandono do tratamento da tuberculose em duas unidades de referência de Campo Grande, MS - 2002 e 2003. Bol. Pneumol. Sanit., v. 14, n. 3, p. 167-171, 2006. BARREIRA, I. A.. A enfermeira Anna Nery no país do futuro. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997. 363 p. BOGA, C.. Grupo de trabalho epidemiologia e território. Rio de Janeiro: [s.n], 2007. BRASIL, M. S.. Boletim de Pneumologia Sanitária. Disponível <http://scielo.iec.pa.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103460X2006000300001&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 01 agosto 2008. em: BRASIL, M. S. COMITÊ TÉCNICO - CIENTÍFICO DE ASSESSORAMENTO À TUBERCULOSE. Plano Nacional de Controle da Tuberculose: manual de normas. Brasília: 2000. 107p. BRASIL, M. S.. Controle da tuberculose: uma proposta de integração ensinoserviço. 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