Notas sobre o celular: Comunicação, cultura e contemporaneidade Ana Graciela Mendes Fernandes da Fonseca 1 Juliana Abonizio 2 Resumo Através da análise da presença do telefone celular na mídia é possível perceber os usos e significados representados acerca do aparelho e suas funcionalidades, o que auxilia na compreensão das diversas nuances da comunicação contemporânea, especificamente, sua conectividade e nomadismo. Como material empírico para a reflexão, observamos alguns discursos sobre celular nas publicações impressas e digitais e, dada a presença extensiva de aparelhos celulares, foram selecionados três anúncios veiculados em revistas, um material gráfico institucional e alguns discursos presentes nas publicações e na internet. O que se vê é uma sociedade permeada por celulares, nos “mundos” que são representados e apresentados dentro dos meios de comunicação e da publicidade, pautados em sua grande maioria por temas como: conectividade, mobilidade, multifuncionalidade, acoplagem, hibridismo, entre outros. Palavras-Chave: Celular, Nomadismo, Conectividade. Abstract Through the analysis of the cell phone presence in the media, it is possible to perceive the uses and meanings represented over the machine set and its functionalities, that helps toward the comprehension of the various nuances of contemporary communications, specifically its connectivity and nomadism. As empirical material for reflection, we observed some speeches about the cellular and digital print publications and, given the extensive presence of mobile devices, we selected three ads running in magazines, graphic material and institutional discourses present in some publications and the Internet. What you see is a society permeated by cell phones, in worlds that are represented and presented in the media and advertising, lined mostly by themes such as connectivity, mobility, multifunctionality, coupling, hybridity, and others. Keywords: Cell phone, Nomadism, Connectivity. 1 Comunicóloga, Mestranda em Estudos de Cultura Contemporânea – ECCO da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT. Bolsista Capes. E-mail: [email protected]. 2 Socióloga, Doutora em Sociologia pela UNESP, Professora do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea – ECCO da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT. Email: [email protected]. 2 1 Deambulando O objeto social – telefone celular – está em toda parte e, por tal extensão de presença, torna-se difícil estranhá-lo e transformá-lo em objeto de reflexão social. Dessa forma, analisá-lo, portanto, trata-se de um exercício a ser feito nos moldes antropológicos, transformando o familiar no exótico, devido à inserção do celular no cotidiano nos parecer algo tão comum, porém há muitos aspectos para se pensar e discutir. O celular está no supermercado, no cinema, no carro, na igreja, na bolsa, no bolso, nas rotas noturnas, na sala de aula, em reuniões e até ao lado do travesseiro na hora de dormir. Por estar em vários lugares e presente em diversos momentos, é considerado ubíquo, também por isso, contribui na confusão e na dificuldade em se separar o público do privado. Seu uso é disseminado, sendo flagrante mesmo onde e quando se tem restrições, o que faz as pessoas criarem “regras de etiqueta” para o uso. Embora o telefone celular seja um aparelho individual, o compartilhamento existe, estimulando a comunicação e intensificando a troca de informações. Boa parte das pessoas possui um ou até mais. Em um exercício simples, de deambular pela cidade, vaguear por locais públicos e privados, ao estilo de autores como Michel Maffesoli e José Machado Pais3, é suficiente para se ter noção da difusão dos celulares, tanto de modelo de aparelho, bem como do uso. Basta lançar o olhar sobre o cotidiano, para perceber a presença do celular, sempre a mão, com uma gama de opções, do telefone ao smartphone4, do ato de ligar a tirar foto, que variam de acordo com as funcionalidades e criatividade. A própria proposta de deambular colocada como título deste tópico, remete a andar, ao ambulante, ao nômade, usada 3 Ambos os autores trabalham com a perspectiva da chamada Sociologia do Cotidiano, uma corrente teórico-metodológica onde o cotidiano configura-se como revelador do funcionamento e das transformações da sociedade, por isso um local privilegiado para análise sociológica, “lugar onde as coisas acontecem”, que precisa ser levado em consideração e não descartado. Uma tarefa de captar as “coisas mesmas”, tal como elas aparentam ser, embora possam ser vistas de formas diferentes, dependendo da “luz” (Pais, 2002). Celular presente nas relações do cotidiano. 4 Significa Telefone Inteligente, uma espécie de computador portátil. 3 propositalmente, vem para destacar essa relação intensificada na contemporaneidade com uso de aparelhos móveis. Os usos e significados ultrapassam o de um simples telefone (ouvir e falar), na medida em que novas funções e serviços são agregados. Desde que a primeira ligação foi feita, em 1973, até hoje, o aparelho transformou-se em mais que um telefone, é também: despertador, agenda, calculadora, jogo, gravador, rádio, câmera fotográfica e de vídeo, televisão, computador portátil através do acesso a internet e uso de softwares, entre outros aplicativos e funcionalidades. Além do ganho de novas funções e a implantação de novos serviços, o celular passou por transformações no seu design. O primeiro aparelho era pesado, nenhum um pouco portátil5, o que caracterizou esse modelo e os seus sucessores como “tijolão”, e que em nada lembram os atuais, pequenos e leves. Através desses fatores e dos números, que apontam que de cada dez brasileiros, oito tem celular6, é possível perceber a acessibilidade e o interesse dos indivíduos pela comunicação móvel e de acordo com o aparelho que tem em mãos, outras possibilidades de interação e formas de representar a si próprio e o cotidiano. Através de um contato via celular, situações diversas são trazidas para o contexto de quem recebe o chamado e vice-e-versa, conectando o espaço físico e o virtual. Pelo fato de não possuir fios, o celular adquire mobilidade e portabilidade, o que reconfigura processos de interação e comunicação, tornando-se elemento presente e extensamente visível nas paisagens urbanas. Neste artigo, apresentamos alguns pontos sobre a trajetória desse meio de comunicação, do telefone celular ao celular, destacando, a partir disso, aspectos comunicacionais e culturais bons para pensar (usando a expressão de Lévi-Strauss) a contemporaneidade, através da análise da presença do telefone celular em revistas, anúncios e peças publicitárias específicas, coletados entre julho de 2009 a fevereiro de 2010. Foram utilizados para fins de apreciação neste trabalho: quatro 5 O primeiro telefone celular tinha 25 cm de comprimento, 7 cm de largura e pesava cerca de 1 quilo, o seu inventor, o americano Martin Cooper tinha que segurá-lo com as duas mãos, o que implicava um grande esforço nas primeiras ligações. “A Nova Era dos Nômades Digitais”, Revista Época, junho de 2008. 6 Brasil tem 8 celulares para cada 10 habitantes. Disponível em: <http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI3721412-EI4796,00 Brasil+tem+celulares+para+cada+habitantes.html>. Acesso em: 14 abr.2010 4 revistas, sendo três marcas, três anúncios, um material institucional e alguns discursos presentes nas publicações e na internet, instrumentos que possibilitaram a discussão acerca da temática. 2 Do telefone celular ao celular Três fatores despertam a atenção para o objeto em questão. Primeiro, o aumento considerável de usuários de telefonia móvel, em 2007 tínhamos 121 milhões, de acordo com matéria publicada em um portal de notícias, em janeiro de 2010 chegamos a 175,6 milhões7, para um país com pouco mais de 190 milhões de habitantes. Em segundo, o que contribuiu diretamente para aumento desses números foi o fator preço, houve uma popularização, deixando aparelhos e planos mais baratos, o que ampliou o acesso. Por último, a gama de funcionalidades e serviços (foto, vídeo, jogos, acesso à internet, interação com outros meios) apresentados atualmente pelos aparelhos e operadoras, tornou o celular um objeto multifuncional, substituindo outros aparelhos. A primeira ligação de um telefone celular foi realizada em abril de 1973, na cidade de Nova York. Foram necessários 10 anos após a primeira ligação, para o lançamento do primeiro modelo, o Motorola DynaTAC 8000X, “um grande avanço comparado aos únicos meios de comunicação móveis de então, os rádios de carro, que existiam desde 1940” (de Souza e Silva, 2004, p.201). No Brasil o celular começou a aparecer partir da década de 90, conforme descreve Kröner: O sistema de telefonia móvel chega em 1990 ao Rio de Janeiro e a seguir a outras cidades brasileiras. Somente em agosto de 1993 ele chega a São Paulo, época do boom de celulares nos Estados Unidos. E somente em 1997 são anunciados os vencedores da ‘Banda B’, que populariza o telefone celular no Brasil. Imediatamente, o aparelho torna-se um sonho de consumo e um 7 Base de celulares do Brasil avança a 175,6 milhões em janeiro. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,MUL1500168-6174,00BASE+DE+CELULARES+DO+BRASIL+AVANCA+A+MILHOES+EM+JANEIRO.html> Acesso em: 22 fev.2010. 5 relevante fator de transformação de comportamentos, tanto públicos quanto privados (2008, p.63-4). Os celulares atuais são bastante diferentes dos seus precussores, principalmente no design, pois são concebidos para serem cada vez mais leves e portáteis. De acordo com previsão de Jan Chipchase, da Nokia Design, em entrevista a Revista Época, em junho de 2008, a tendência é justamente a miniaturização do celular em contraponto com a ampliação da capacidade de transmissão de dados. De acordo com informações da Apostila da Oficina de Vídeo de Bolso 2008, do Ponto de Cultura Vila Buarque, a classificação dos telefones é por geração, sendo: 1G, 2G, 2.5G, 3G e 4G. A primeira geração é analógica e as demais são digitais, sendo 2.5G e 3G as mais utilizadas no país. A partir da segunda geração, através da introdução digital, houve uma melhora no sistema de telefonia e a possibilidade de inserção de serviços multimídia. Nas duas últimas décadas o mundo contemporâneo assistiu a disseminação e popularização do telefone celular no cotidiano da sociedade. O uso do telefone móvel passou de algo elitizado, como era no princípio, a um acessório comum em todas as camadas sociais (Monteiro, 2007). A inserção do aparelho modifica hábitos e propicia outras formas de interação e comunicação, principalmente a partir de novas tecnologias e funcionalidades agregadas ao mesmo. Bauman considera o telefone celular como um dos artefatos símbolo da contemporaneidade, para ele “(...) telefones celulares inventados para o uso dos nômades que têm que estar “constantemente em contato” (...) pertences portáteis são os principais objetos culturais da era da instantaneidade” (apud Silva, 2008, p.149). Outras funções e comunicações, para além da utilização como telefone, estão sendo proporcionadas a partir do uso do celular (ver figura 1): ouvir música, a interação via torpedos e promoções, votação em programas de rádio e TV, conferir e receber e-mails, atualização de redes sociais, como o Twitter, chats de bate-papo, Messenger, processos colaborativos, através da gravação de vídeos e imagens de acontecimentos cotidianos, realização de serviços, como compras e pagamentos, câmera fotográfica, entre outras possibilidades. 6 Figura 1 – Vivo Fonte: Revista Isto É, N°2088, Ano 32, 2009 De acordo com Monteiro (2007) por tratar-se de um aparelho convergente, móvel e ao alcance das mãos, que agrega tecnologias de computação e comunicação, o celular possibilita ações em locais e tempos distintos, possibilitando ao indivíduo tornar-se um produtor de conteúdo. Atualmente, o celular é considerado um aparelho convergente e multifuncional, em relação a isso: Em fusão com a Internet, o celular adquire características multifuncionais como a de um computador, armazenando jogos, agenda eletrônica, arquivos digitais de texto, sons e imagens, capturando e encaminhando fotografias e vídeos e recebendo conteúdos televisivos. Aos poucos, este aparelho está sendo acoplado não somente ao corpo de seu usuário (figura 2), mas a seu dia-a-dia e ao seu modo de vida, carregando dentro de si impressões, informações, interesses e características de seu proprietário (Kröner, 2008, p.21-2). Figura 2 - Claro/Modu Fonte: Revista Isto É, N°2088, Ano 32, 2009 7 Nesse sentido, vale comentar a Teoria dos 8 Cs do celular formulada por Tomi Ahonen8, que em uma ordem cronológica destaca a evolução do aparelho, sob 8 aspectos . De acordo com Ahonen, em 11 anos, o celular passou por 8 processos que tornou-o multifuncional, transcendendo o seu uso primordial, a fala. Os 8 Cs na sequência: 1 - Comunicação, 2 - Consumo, 3 - Conta Bancária, 4 - Comerciais, 5 Criação, 6 - Comunidade, 7 – Cool e 8 - Controle. 3 Celular visto, publicizado, representado e utilizado Sendo evidente a presença extensiva do celular nos espaços urbanos da vida cotidiana, cabe agora atentarmos a sua presença nos espaços de mídia impressa e digital, publicitários ou não, direta ou indiretamente, representados aqui por algumas revistas, anúncios, peças publicitárias e matérias veiculadas. Diante dos números, que reforçam a difusão do celular na sociedade, da possibilidade de usos variados, de acordo com os aparelhos disponíveis e da mobilidade, que permite o uso e facilita o acesso em qualquer lugar, é possível tecer análises e questões que possibilitam uma reflexão da comunicação e interação mediadas na contemporaneidade. Sendo assim, a visão proposta por McLuhan (1971) “dos meios como extensões do homem”, cabe para explicar o celular, na medida em que se encontra difundido no dia-a-dia da sociedade, uma espécie de prótese. Nesse sentido, o aspecto design contribui para essa colocação de prótese, por meio da mobilidade (sem fios), fácil de ser levado a qualquer lugar devido à portabilidade, à leveza e mais recentemente â questão da miniaturização e da hibridação com outras mídias (Kröner, 2008). Esses fatores apontam para uma discussão que relaciona a tecnologia e a corporalidade (ver figura 3). Aspectos como a miniaturização e a portabilidade permitem que o celular possa estar sempre próximo ao corpo, acoplado, seja no 8 Fonte: HSM Management (edição set – out 09). 8 bolso da calça, na bolsa, na mão. Além disso, grande parte dos aparelhos atualmente são touch screen, tela sensível ao toque, ou os que funcionam através do comando de voz, entre outras ferramentas que requerem usos e sensibilidades do corpo e o desenvolvimento de técnicas corporais. A proposta é uma proximidade com o indivíduo, estimulada pelos sentidos e movimentos do corpo, uma tecnologia sensível. Figura 3 - LG Cookie Fonte: Material Publicitário Impresso (Folder) A utilização do celular redesenha o convívio social, confunde a distinção entre espaço público e privado, devido as suas características ubíquas. Para Maffesoli (apud Kröner, 2008, p. 39), a cidade pós-moderna não obedece mais a um ritmo noturno-diurno de funções bem delimitadas, o celular fácil de ser transportado se encaixa a qualquer espaço-tempo, não mais delimitado e marcado. Esse deslocamento na visão espaço-tempo ocorre, pela mobilidade do celular, e devido aos avanços da tecnologia, que possibilitaram agregar novas funções e serviços aos aparelhos, destacando a conectividade, o estabelecimento de uma comunicação e obtenção de informações em qualquer lugar (ver figura 4), 9 sempre disponível e acessível, desde que de posse de um celular, devidamente conectado, carregado e com créditos. Figura 4 - Anúncio Banco do Brasil Fonte: Revista Gloss, Fevereiro 2010 - n°29 Ainda sobre a questão espaço-tempo, reforçada pela figura 4: Em termos práticos, o poder se tornou verdadeiramente extraterritorial, não mais limitado, nem mesmo desacelerado, pela resistência do espaço (o advento do telefone celular serve bem como “golpe de misericórdia” simbólico na dependência em relação ao espaço: o próprio acesso a um ponto telefônico não é mais necessário para que uma ordem seja dada e cumprida. Não importa mais onde está quem dá a ordem – a diferença entre “próximo” e “distante”, ou entre o espaço selvagem e o civilizado e ordenado, está a ponto de desaparecer (Bauman, 2001, p.18). Em relação ao espaço urbano, os dispositivos móveis, neste caso os celulares, o reconfiguram, fazendo das cidades um organismo-rede, cibercidades, usando o termo de André Lemos (2007a), conecta o físico e o virtual, por meio de infra-estruturas de comunicação e informação, aliada a mobilidade que o celular proporciona e pela sua portabilidade, por não estar ligado a fios. Permite aos 10 indivíduos realizar uma gestão móvel do cotidiano, “desplugados”. Sobre esse aspecto Valetim coloca que: Nossas cidades se tornam, cada vez mais, ambientes onde os cidadãos se livram dos dispositivos eletrônicos com fios e cabos. Através de celulares e dispositivos sem-fios, agora eles se comunicam uns com os outros e se conectam à Internet e outras redes ad-hoc de qualquer lugar onde haja cobertura. Emerge uma era da portabilidade, da mobilidade e da conexão generalizada dentro e fora dos ambientes domésticos, de trabalho, consumo e lazer (2005, p.115). De acordo com matérias publicadas recentemente, percebe-se a interferência do celular em diversas situações e como a inserção e utilização modifica a condução do cotidiano pelos indivíduos, reconfigurando hábitos e relações: “Prática da 'cola' entre os jovens mudou com as novas tecnologias, diz pesquisa” 9, “O projeto Celulares Indígenas (...) começou a capacitar 60 indígenas que utilizam o celular para promover a diversidade cultural, a justiça social e a cultura da paz (...) os índios publicam e partilham opiniões, através de vídeos, fotos e textos em um portal” 10 , “Adolescentes usam celular para conversar, estudar e até colar” “Controle de dieta por mensagem SMS aumenta chance de sucesso, diz estudo” “Pesquisa mostra que 60% das pessoas não desligam celulares” 11 , 12 , 13 , “Novos artistas pintam na tela do iPhone”14, “Já é possível usar o celular como cartão de crédito15”, “Crianças não querem mais brinquedo de presente. Brincar de casinha, de boneca, 9 Matéria Portal G1. 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Acesso em: 01 dez. 2009. 11 está fora de moda. Agora, os pequenos querem computador, celular”16,“Brasil tem quase um celular para cada habitante”17, “Toda a sua vida cabe aqui”18, “A era mobile”19. Esses títulos são exemplos do que vem acontecendo e sendo noticiado sobre celular, uma amostra da representação dos usos e significações. Uma matéria publicada pela Revista Gloss, da editora Abril, edição janeiro 20 2010 , trouxe na sessão comportamento um apanhado de acontecimentos dos últimos 10 anos, para ilustrar a virada da década. Sob os ícones cultura pop, comportamento, moda, beleza, tecnologia e política, a matéria apontou fatos, objetos e pessoas símbolos dos anos 2000 a 2009. Na parte que coube a tecnologia, as redes sociais, como: Twitter, Orkut e Facebook, a facilidade em se produzir e publicar conteúdo, através da popularização de câmeras fotográficas, a busca de informações por meio do Google, a proliferação dos blogs e a multifuncionalidade do celular, serviram para exemplificar mudanças de comportamento e novas formas de interação mediadas por essas ferramentas. No que tange ao celular, o destaque ficou para as suas funções que vão além do telefone “O mundo em um telefone”. Sobre o tópico que destaca a difusão de fotografias e vídeos, processo impulsionado e facilitado pelas câmeras digitais e celulares com câmeras e ferramentas como You Tube e Flickr que possibilita a qualquer pessoa publicar conteúdo, a “moda de fotografar e filmar tudo o que se vê pela frente”, percebe-se a predominância dos registros do cotidiano, do momento vivido, “vídeos e fotos feitos por pessoas comuns em DHMCM21 servem como testemunho de eventos cotidianos, desde pessoas falando sobre suas vidas até usos mais importantes em momentos de catástrofes ecológicas, atentados ou guerrilhas urbanas” (Lemos, 2007b, p.31). 16 Matéria Portal G1. Disponível em:< http://g1.globo.com/bomdiabrasil/0,,MUL133536616020,00.html>. Acesso em: 09 out.2009. 17 Matéria Jornal da Globo. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornaldaglobo/0,,MUL145485816021,00-BRASIL+TEM+QUASE+UM+CELULAR+PARA+CADA+HABITANTE.html>. Acesso em: 19 jan. 2010. 18 Especial Tecnologia. Revista Época, n° 528, 30 junho de 2008. 19 Dossiê “A Era Mobile”. Revista HSM Management, setembro/outubro 2009. 20 Sessão comportamento – Parte Tecnologia, Revista Gloss, Janeiro 2010 - n°28. 21 Lemos utiliza o termo para designar algumas características dos telefones celulares, definidos como DHMCM: “Dispositivos Híbridos Móveis de Conexão Multirrede”. 12 Principalmente os celulares com câmera favorecem essa prática, por estarem sempre à mão. Outra questão é a facilidade em descartar o conteúdo, se não gostou apaga e faz de novo, diferente das câmeras com filme, onde não se podia “desperdiçar poses”. A produção de fotos e vídeos por esses meios configura-se em outra maneira de se comunicar, de compartilhar experiências. Para Lemos: Talvez estejamos vendo emergir, pela primeira vez, funções verdadeiramente comunicacionais e dialógicas dos produtos fotográficos e videográficos. Esses produtos passam a funcionar, efetivamente, como mídia de comunicação, já que me colocam em contato com o outro, já que permitem diretamente a troca entre consciências, e não a função de fruição estética em uma galeria ou na sala escura do cinema. Mais do que exposição, busca-se o que é vivido junto, a cumplicidade. Não mais sociedade do espetáculo, mas o espetáculo da vida banal do dia-a-dia compartilhado (2007b, p.35). Se por um lado prolifera a liberdade de produção e publicação de conteúdo, o registro de situações rotineiras, possibilita também o controle das mesmas e sobretudo dos outros. A gravação e localização com objetivo de controlar, o controle móvel, que registra tudo. O controle é exercido através das ligações, fotos, localizador (GPS) 22 , o simples fato de ter um celular já se configura como uma forma de controle, para sermos achados em qualquer lugar, enquanto estamos em movimento. O poder atual passa a estar conectado aos processos de mobilidade, constatação feita por Gilles Deleuze, estaríamos passando de sociedades disciplinares para sociedades de controle (apud Valentim, 2005, p.117). Mas não são somente os ambientes que exercem controle sobre os indivíduos, “através dos aparelhos multifuncionais, os urbanitas também adquirem condições de controlar o ambiente. O multifuncional é um dispositivo portátil que une, entre várias funções, computação, telefonia e navegação pela Internet” (Valentim, 2005, p.119). Se por um lado podemos ser controlados, por outro podemos controlar também. Nas relações de trabalho, pode tanto liberar o indivíduo a não necessidade de ficar preso em um local, quanto possibilitar o monitoramento e controle do chefe 22 Sistema de Posicionamento Global, popularmente conhecido por GPS, em inglês Global Positioning System. 13 (Valentim, 2005). O mesmo acontece com adolescentes, que se libertam da vigilância dos pais, ao poderem realizar e receber ligações em qualquer lugar, com mais liberdade, por ser um aparelho pessoal, diferente do telefone fixo, como estarem sujeitos ao controle constante para saberem dos seus passos. Dentre os pontos destacados nesse tópico, a proposta foi através dele pensar o tempo presente, sob a ótica do uso do celular, apontado através de matérias publicadas, anúncios e peças publicitárias, que reforçam características e mostram tendências, tanto para aspectos culturais como comunicacionais. Conectividade, corporalidade, ubiquidade, controle e mobilidade aparecem imbricadas aos usos e aparições do celular na contemporaneidade. 4 Considerações adicionais Neste artigo, foi possível, através de materiais veiculados na mídia impressa e internet, expor aspectos que permitem refletir sobre algumas características do tempo presente, a partir da difusão do celular. Essas características configuram-se em pistas que podem vir a contribuir na compreensão da contemporaneidade. Mobilidade, conectividade, controle, multifuncionalidade, acoplagem, miniaturização, hibridação, cotidiano e compartilhamento são questões que aparecem atreladas a propagação, ao uso e a comunicação dos celulares na sociedade na última década. A partir das várias representações e discursos veiculados sobre o celular nos meios de comunicação de massa, publicitários ou não, foi possível perceber que, além da extensão de seu uso, há mudanças na forma e no jeito de nos comunicarmos. O celular, além de um meio de comunicação, torna-se meio de outros meios, sendo produto e auxiliar na utilização de outros tantos produtos que passam por seu filtro, como as notícias do seu banco, as notas das novelas, as enquetes de programas de televisão, os acompanhamentos de dietas além da possibilidade de mediar relações pessoais em chats. Para além de suas funções comunicacionais e tecnológicas, o celular ainda pode ser analisado do ponto de vista simbólico, pois, mesmo desligado, ele é 14 passível de atribuição de significados partilhados socialmente, de demarcações de status sociais aos seus proprietários, dessa forma, o celular constitui-se em um foro privilegiado para o estudo e discussão do contemporâneo, na busca pela compreensão e caracterização das relações no tempo presente. Independente do celular ser um produto, ele auxilia na venda ou aquisição de demais produtos e serviços, graças ás suas funcionalidades e, é de tal modo extensa a sua posse, que, clientes de um banco tem, na propaganda, com certeza, um aparelho, por exemplo. Aplicando o que propõe Everardo Rocha, não se pensa em um cliente ou um leitor que não possua um celular, no mundo de dentro dos Meios de Comunicação. Referências bibliográficas BAUMAN, Zigmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001. 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