Notas sobre o celular:
Comunicação, cultura e contemporaneidade
Ana Graciela Mendes Fernandes da Fonseca 1
Juliana Abonizio 2
Resumo
Através da análise da presença do telefone celular na mídia é possível perceber os
usos e significados representados acerca do aparelho e suas funcionalidades, o que
auxilia na compreensão das diversas nuances da comunicação contemporânea,
especificamente, sua conectividade e nomadismo. Como material empírico para a
reflexão, observamos alguns discursos sobre celular nas publicações impressas e
digitais e, dada a presença extensiva de aparelhos celulares, foram selecionados
três anúncios veiculados em revistas, um material gráfico institucional e alguns
discursos presentes nas publicações e na internet. O que se vê é uma sociedade
permeada por celulares, nos “mundos” que são representados e apresentados
dentro dos meios de comunicação e da publicidade, pautados em sua grande
maioria por temas como: conectividade, mobilidade, multifuncionalidade,
acoplagem, hibridismo, entre outros.
Palavras-Chave: Celular, Nomadismo, Conectividade.
Abstract
Through the analysis of the cell phone presence in the media, it is possible to
perceive the uses and meanings represented over the machine set and its
functionalities, that helps toward the comprehension of the various nuances of
contemporary communications, specifically its connectivity and nomadism. As
empirical material for reflection, we observed some speeches about the cellular and
digital print publications and, given the extensive presence of mobile devices, we
selected three ads running in magazines, graphic material and institutional
discourses present in some publications and the Internet. What you see is a society
permeated by cell phones, in worlds that are represented and presented in the
media and advertising, lined mostly by themes such as connectivity, mobility, multifunctionality, coupling, hybridity, and others.
Keywords: Cell phone, Nomadism, Connectivity.
1
Comunicóloga, Mestranda em Estudos de Cultura Contemporânea – ECCO da Universidade
Federal de Mato Grosso – UFMT. Bolsista Capes. E-mail: [email protected].
2
Socióloga, Doutora em Sociologia pela UNESP, Professora do Programa de Pós-Graduação em
Estudos de Cultura Contemporânea – ECCO da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT. Email: [email protected].
2
1 Deambulando
O objeto social – telefone celular – está em toda parte e, por tal extensão de
presença, torna-se difícil estranhá-lo e transformá-lo em objeto de reflexão social.
Dessa forma, analisá-lo, portanto, trata-se de um exercício a ser feito nos moldes
antropológicos, transformando o familiar no exótico, devido à inserção do celular no
cotidiano nos parecer algo tão comum, porém há muitos aspectos para se pensar e
discutir.
O celular está no supermercado, no cinema, no carro, na igreja, na bolsa, no
bolso, nas rotas noturnas, na sala de aula, em reuniões e até ao lado do travesseiro
na hora de dormir. Por estar em vários lugares e presente em diversos momentos, é
considerado ubíquo, também por isso, contribui na confusão e na dificuldade em se
separar o público do privado.
Seu uso é disseminado, sendo flagrante mesmo onde e quando se tem
restrições, o que faz as pessoas criarem “regras de etiqueta” para o uso. Embora o
telefone celular seja um aparelho individual, o compartilhamento existe, estimulando
a comunicação e intensificando a troca de informações. Boa parte das pessoas
possui um ou até mais.
Em um exercício simples, de deambular pela cidade, vaguear por locais
públicos e privados, ao estilo de autores como Michel Maffesoli e José Machado
Pais3, é suficiente para se ter noção da difusão dos celulares, tanto de modelo de
aparelho, bem como do uso. Basta lançar o olhar sobre o cotidiano, para perceber a
presença do celular, sempre a mão, com uma gama de opções, do telefone ao
smartphone4, do ato de ligar a tirar foto, que variam de acordo com as
funcionalidades e criatividade. A própria proposta de deambular colocada como
título deste tópico, remete a andar, ao ambulante, ao nômade, usada
3
Ambos os autores trabalham com a perspectiva da chamada Sociologia do Cotidiano, uma corrente
teórico-metodológica onde o cotidiano configura-se como revelador do funcionamento e das
transformações da sociedade, por isso um local privilegiado para análise sociológica, “lugar onde as
coisas acontecem”, que precisa ser levado em consideração e não descartado. Uma tarefa de captar
as “coisas mesmas”, tal como elas aparentam ser, embora possam ser vistas de formas diferentes,
dependendo da “luz” (Pais, 2002). Celular presente nas relações do cotidiano.
4
Significa Telefone Inteligente, uma espécie de computador portátil.
3
propositalmente,
vem
para
destacar
essa
relação
intensificada
na
contemporaneidade com uso de aparelhos móveis.
Os usos e significados ultrapassam o de um simples telefone (ouvir e falar),
na medida em que novas funções e serviços são agregados. Desde que a primeira
ligação foi feita, em 1973, até hoje, o aparelho transformou-se em mais que um
telefone, é também: despertador, agenda, calculadora, jogo, gravador, rádio,
câmera fotográfica e de vídeo, televisão, computador portátil através do acesso a
internet e uso de softwares, entre outros aplicativos e funcionalidades.
Além do ganho de novas funções e a implantação de novos serviços, o
celular passou por transformações no seu design. O primeiro aparelho era pesado,
nenhum um pouco portátil5, o que caracterizou esse modelo e os seus sucessores
como “tijolão”, e que em nada lembram os atuais, pequenos e leves.
Através desses fatores e dos números, que apontam que de cada dez
brasileiros, oito tem celular6, é possível perceber a acessibilidade e o interesse dos
indivíduos pela comunicação móvel e de acordo com o aparelho que tem em mãos,
outras possibilidades de interação e formas de representar a si próprio e o cotidiano.
Através de um contato via celular, situações diversas são trazidas para o
contexto de quem recebe o chamado e vice-e-versa, conectando o espaço físico e o
virtual. Pelo fato de não possuir fios, o celular adquire mobilidade e portabilidade, o
que reconfigura processos de interação e comunicação, tornando-se elemento
presente e extensamente visível nas paisagens urbanas.
Neste artigo, apresentamos alguns pontos sobre a trajetória desse meio de
comunicação, do telefone celular ao celular, destacando, a partir disso, aspectos
comunicacionais e culturais bons para pensar (usando a expressão de Lévi-Strauss)
a contemporaneidade, através da análise da presença do telefone celular em
revistas, anúncios e peças publicitárias específicas, coletados entre julho de 2009 a
fevereiro de 2010. Foram utilizados para fins de apreciação neste trabalho: quatro
5
O primeiro telefone celular tinha 25 cm de comprimento, 7 cm de largura e pesava cerca de 1 quilo,
o seu inventor, o americano Martin Cooper tinha que segurá-lo com as duas mãos, o que implicava
um grande esforço nas primeiras ligações. “A Nova Era dos Nômades Digitais”, Revista Época, junho
de 2008.
6
Brasil
tem
8
celulares
para
cada
10
habitantes.
Disponível
em:
<http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI3721412-EI4796,00
Brasil+tem+celulares+para+cada+habitantes.html>. Acesso em: 14 abr.2010
4
revistas, sendo três marcas, três anúncios, um material institucional e alguns
discursos presentes nas publicações e na internet, instrumentos que possibilitaram
a discussão acerca da temática.
2 Do telefone celular ao celular
Três fatores despertam a atenção para o objeto em questão. Primeiro, o
aumento considerável de usuários de telefonia móvel, em 2007 tínhamos 121
milhões, de acordo com matéria publicada em um portal de notícias, em janeiro de
2010 chegamos a 175,6 milhões7, para um país com pouco mais de 190 milhões de
habitantes. Em segundo, o que contribuiu diretamente para aumento desses
números foi o fator preço, houve uma popularização, deixando aparelhos e planos
mais baratos, o que ampliou o acesso. Por último, a gama de funcionalidades e
serviços (foto, vídeo, jogos, acesso à internet, interação com outros meios)
apresentados atualmente pelos aparelhos e operadoras, tornou o celular um objeto
multifuncional, substituindo outros aparelhos.
A primeira ligação de um telefone celular foi realizada em abril de 1973, na
cidade de Nova York. Foram necessários 10 anos após a primeira ligação, para o
lançamento do primeiro modelo, o Motorola DynaTAC 8000X, “um grande avanço
comparado aos únicos meios de comunicação móveis de então, os rádios de carro,
que existiam desde 1940” (de Souza e Silva, 2004, p.201).
No Brasil o celular começou a aparecer partir da década de 90, conforme
descreve Kröner:
O sistema de telefonia móvel chega em 1990 ao Rio de Janeiro e a
seguir a outras cidades brasileiras. Somente em agosto de 1993 ele
chega a São Paulo, época do boom de celulares nos Estados
Unidos. E somente em 1997 são anunciados os vencedores da
‘Banda B’, que populariza o telefone celular no Brasil.
Imediatamente, o aparelho torna-se um sonho de consumo e um
7
Base de celulares do Brasil avança a 175,6 milhões em janeiro. Disponível em:
<http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,MUL1500168-6174,00BASE+DE+CELULARES+DO+BRASIL+AVANCA+A+MILHOES+EM+JANEIRO.html> Acesso em: 22
fev.2010.
5
relevante fator de transformação de comportamentos, tanto públicos
quanto privados (2008, p.63-4).
Os celulares atuais são bastante diferentes dos seus precussores,
principalmente no design, pois são concebidos para serem cada vez mais leves e
portáteis. De acordo com previsão de Jan Chipchase, da Nokia Design, em
entrevista a Revista Época, em junho de 2008, a tendência é justamente a
miniaturização do celular em contraponto com a ampliação da capacidade de
transmissão de dados.
De acordo com informações da Apostila da Oficina de Vídeo de Bolso 2008,
do Ponto de Cultura Vila Buarque, a classificação dos telefones é por geração,
sendo: 1G, 2G, 2.5G, 3G e 4G. A primeira geração é analógica e as demais são
digitais, sendo 2.5G e 3G as mais utilizadas no país. A partir da segunda geração,
através da introdução digital, houve uma melhora no sistema de telefonia e a
possibilidade de inserção de serviços multimídia.
Nas duas últimas décadas o mundo contemporâneo assistiu a disseminação
e popularização do telefone celular no cotidiano da sociedade. O uso do telefone
móvel passou de algo elitizado, como era no princípio, a um acessório comum em
todas as camadas sociais (Monteiro, 2007).
A inserção do aparelho modifica
hábitos e propicia outras formas de interação e comunicação, principalmente a partir
de novas tecnologias e funcionalidades agregadas ao mesmo.
Bauman considera o telefone celular como um dos artefatos símbolo da
contemporaneidade, para ele “(...) telefones celulares inventados para o uso dos
nômades que têm que estar “constantemente em contato” (...) pertences portáteis
são os principais objetos culturais da era da instantaneidade” (apud Silva, 2008,
p.149).
Outras funções e comunicações, para além da utilização como telefone,
estão sendo proporcionadas a partir do uso do celular (ver figura 1): ouvir música, a
interação via torpedos e promoções, votação em programas de rádio e TV, conferir
e receber e-mails, atualização de redes sociais, como o Twitter, chats de bate-papo,
Messenger, processos colaborativos, através da gravação de vídeos e imagens de
acontecimentos cotidianos, realização de serviços, como compras e pagamentos,
câmera fotográfica, entre outras possibilidades.
6
Figura 1 – Vivo
Fonte: Revista Isto É, N°2088,
Ano 32, 2009
De acordo com Monteiro (2007) por tratar-se de um aparelho convergente,
móvel e ao alcance das mãos, que agrega tecnologias de computação e
comunicação, o celular possibilita ações em locais e tempos distintos, possibilitando
ao indivíduo tornar-se um produtor de conteúdo. Atualmente, o celular é
considerado um aparelho convergente e multifuncional, em relação a isso:
Em fusão com a Internet, o celular adquire características
multifuncionais como a de um computador, armazenando jogos,
agenda eletrônica, arquivos digitais de texto, sons e imagens,
capturando e encaminhando fotografias e vídeos e recebendo
conteúdos televisivos. Aos poucos, este aparelho está sendo
acoplado não somente ao corpo de seu usuário (figura 2), mas a seu
dia-a-dia e ao seu modo de vida, carregando dentro de si
impressões, informações, interesses e características de seu
proprietário (Kröner, 2008, p.21-2).
Figura 2 - Claro/Modu
Fonte: Revista Isto É, N°2088, Ano 32, 2009
7
Nesse sentido, vale comentar a Teoria dos 8 Cs do celular formulada por
Tomi Ahonen8, que em uma ordem cronológica destaca a evolução do aparelho, sob
8 aspectos . De acordo com Ahonen, em 11 anos, o celular passou por 8 processos
que tornou-o multifuncional, transcendendo o seu uso primordial, a fala. Os 8 Cs na
sequência: 1 - Comunicação, 2 - Consumo, 3 - Conta Bancária, 4 - Comerciais, 5 Criação, 6 - Comunidade, 7 – Cool e 8 - Controle.
3 Celular visto, publicizado, representado e utilizado
Sendo evidente a presença extensiva do celular nos espaços urbanos da vida
cotidiana, cabe agora atentarmos a sua presença nos espaços de mídia impressa e
digital, publicitários ou não, direta ou indiretamente, representados aqui por algumas
revistas, anúncios, peças publicitárias e matérias veiculadas.
Diante dos números, que reforçam a difusão do celular na sociedade, da
possibilidade de usos variados, de acordo com os aparelhos disponíveis e da
mobilidade, que permite o uso e facilita o acesso em qualquer lugar, é possível tecer
análises e questões que possibilitam uma reflexão da comunicação e interação
mediadas na contemporaneidade.
Sendo assim, a visão proposta por McLuhan (1971) “dos meios como
extensões do homem”, cabe para explicar o celular, na medida em que se encontra
difundido no dia-a-dia da sociedade, uma espécie de prótese. Nesse sentido, o
aspecto design contribui para essa colocação de prótese, por meio da mobilidade
(sem fios), fácil de ser levado a qualquer lugar devido à portabilidade, à leveza e
mais recentemente â questão da miniaturização e da hibridação com outras mídias
(Kröner, 2008).
Esses fatores apontam para uma discussão que relaciona a tecnologia e a
corporalidade (ver figura 3). Aspectos como a miniaturização e a portabilidade
permitem que o celular possa estar sempre próximo ao corpo, acoplado, seja no
8
Fonte: HSM Management (edição set – out 09).
8
bolso da calça, na bolsa, na mão. Além disso, grande parte dos aparelhos
atualmente são touch screen, tela sensível ao toque, ou os que funcionam através
do comando de voz, entre outras ferramentas que requerem usos e sensibilidades
do corpo e o desenvolvimento de técnicas corporais. A proposta é uma proximidade
com o indivíduo, estimulada pelos sentidos e movimentos do corpo, uma tecnologia
sensível.
Figura 3 - LG Cookie
Fonte: Material Publicitário Impresso (Folder)
A utilização do celular redesenha o convívio social, confunde a distinção
entre espaço público e privado, devido as suas características ubíquas. Para
Maffesoli (apud Kröner, 2008, p. 39), a cidade pós-moderna não obedece mais a um
ritmo noturno-diurno de funções bem delimitadas, o celular fácil de ser transportado
se encaixa a qualquer espaço-tempo, não mais delimitado e marcado.
Esse deslocamento na visão espaço-tempo ocorre, pela mobilidade do
celular, e devido aos avanços da tecnologia, que possibilitaram agregar novas
funções e serviços aos aparelhos, destacando a conectividade, o estabelecimento
de uma comunicação e obtenção de informações em qualquer lugar (ver figura 4),
9
sempre disponível e acessível, desde que de posse de um celular, devidamente
conectado, carregado e com créditos.
Figura 4 - Anúncio Banco do Brasil
Fonte: Revista Gloss, Fevereiro 2010 - n°29
Ainda sobre a questão espaço-tempo, reforçada pela figura 4:
Em termos práticos, o poder se tornou verdadeiramente
extraterritorial, não mais limitado, nem mesmo desacelerado, pela
resistência do espaço (o advento do telefone celular serve bem
como “golpe de misericórdia” simbólico na dependência em relação
ao espaço: o próprio acesso a um ponto telefônico não é mais
necessário para que uma ordem seja dada e cumprida. Não importa
mais onde está quem dá a ordem – a diferença entre “próximo” e
“distante”, ou entre o espaço selvagem e o civilizado e ordenado,
está a ponto de desaparecer (Bauman, 2001, p.18).
Em relação ao espaço urbano, os dispositivos móveis, neste caso os
celulares, o reconfiguram, fazendo das cidades um organismo-rede, cibercidades,
usando o termo de André Lemos (2007a), conecta o físico e o virtual, por meio de
infra-estruturas de comunicação e informação, aliada a mobilidade que o celular
proporciona e pela sua portabilidade, por não estar ligado a fios. Permite aos
10
indivíduos realizar uma gestão móvel do cotidiano, “desplugados”. Sobre esse
aspecto Valetim coloca que:
Nossas cidades se tornam, cada vez mais, ambientes onde os
cidadãos se livram dos dispositivos eletrônicos com fios e cabos.
Através de celulares e dispositivos sem-fios, agora eles se
comunicam uns com os outros e se conectam à Internet e outras
redes ad-hoc de qualquer lugar onde haja cobertura. Emerge uma
era da portabilidade, da mobilidade e da conexão generalizada
dentro e fora dos ambientes domésticos, de trabalho, consumo e
lazer (2005, p.115).
De acordo com matérias publicadas recentemente, percebe-se a interferência
do celular em diversas situações e como a inserção e utilização modifica a
condução do cotidiano pelos indivíduos, reconfigurando hábitos e relações: “Prática
da 'cola' entre os jovens mudou com as novas tecnologias, diz pesquisa” 9, “O
projeto Celulares Indígenas (...) começou a capacitar 60 indígenas que utilizam o
celular para promover a diversidade cultural, a justiça social e a cultura da paz (...)
os índios publicam e partilham opiniões, através de vídeos, fotos e textos em um
portal”
10
, “Adolescentes usam celular para conversar, estudar e até colar”
“Controle de dieta por mensagem SMS aumenta chance de sucesso, diz estudo”
“Pesquisa mostra que 60% das pessoas não desligam celulares”
11
,
12
,
13
, “Novos artistas
pintam na tela do iPhone”14, “Já é possível usar o celular como cartão de crédito15”,
“Crianças não querem mais brinquedo de presente. Brincar de casinha, de boneca,
9
Matéria Portal G1. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,MUL1200672-6174,00PRATICA+DA+COLA+ENTRE+OS+JOVENS+MUDOU+COM+AS+NOVAS+TECNOLOGIAS+DIZ+PESQ
UISA.html>. Acesso em 19 jun. 2009.
10
Matéria Cultura Viva. Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/cultura_viva/?p=606>
11
Matéria Fantástico. Disponível em: <http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL131142115605,00ADOLESCENTES+USAM+CELULAR+PARA+CONVERSAR+ESTUDAR+E+ATE+COLAR.html>.
Acesso em 20 set. 2009.
12
Matéria
Folha
Online.
Disponível
em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u467449.shtml>. Acesso em: 13 nov. 2008.
13
Matéria
Folha
Online.
Disponível
em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u619494.shtml>. Acesso em: 04 set. 2009.
14
Matéria
Folha
Online.
Disponível
em:
<http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/efe/2009/11/11/ult1817u11040.jhtm>. Acesso em: 11 set.
2009.
15
Matéria Portal G1. Disponível em: <http://g1.globo.com/bomdiabrasil/0,,MUL139847216020,00.html>. Acesso em: 01 dez. 2009.
11
está fora de moda. Agora, os pequenos querem computador, celular”16,“Brasil tem
quase um celular para cada habitante”17, “Toda a sua vida cabe aqui”18, “A era
mobile”19. Esses títulos são exemplos do que vem acontecendo e sendo noticiado
sobre celular, uma amostra da representação dos usos e significações.
Uma matéria publicada pela Revista Gloss, da editora Abril, edição janeiro 20
2010 , trouxe na sessão comportamento um apanhado de acontecimentos dos
últimos 10 anos, para ilustrar a virada da década. Sob os ícones cultura pop,
comportamento, moda, beleza, tecnologia e política, a matéria apontou fatos,
objetos e pessoas símbolos dos anos 2000 a 2009. Na parte que coube a
tecnologia, as redes sociais, como: Twitter, Orkut e Facebook, a facilidade em se
produzir e publicar conteúdo, através da popularização de câmeras fotográficas, a
busca de informações por meio do Google, a proliferação dos blogs e a
multifuncionalidade
do
celular,
serviram
para
exemplificar
mudanças
de
comportamento e novas formas de interação mediadas por essas ferramentas. No
que tange ao celular, o destaque ficou para as suas funções que vão além do
telefone “O mundo em um telefone”.
Sobre o tópico que destaca a difusão de fotografias e vídeos, processo
impulsionado e facilitado pelas câmeras digitais e celulares com câmeras e
ferramentas como You Tube e Flickr que possibilita a qualquer pessoa publicar
conteúdo, a “moda de fotografar e filmar tudo o que se vê pela frente”, percebe-se a
predominância dos registros do cotidiano, do momento vivido, “vídeos e fotos feitos
por pessoas comuns em DHMCM21 servem como testemunho de eventos
cotidianos, desde pessoas falando sobre suas vidas até usos mais importantes em
momentos de catástrofes ecológicas, atentados ou guerrilhas urbanas” (Lemos,
2007b, p.31).
16
Matéria Portal G1. Disponível em:< http://g1.globo.com/bomdiabrasil/0,,MUL133536616020,00.html>. Acesso em: 09 out.2009.
17
Matéria Jornal da Globo. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornaldaglobo/0,,MUL145485816021,00-BRASIL+TEM+QUASE+UM+CELULAR+PARA+CADA+HABITANTE.html>. Acesso em: 19
jan. 2010.
18
Especial Tecnologia. Revista Época, n° 528, 30 junho de 2008.
19
Dossiê “A Era Mobile”. Revista HSM Management, setembro/outubro 2009.
20
Sessão comportamento – Parte Tecnologia, Revista Gloss, Janeiro 2010 - n°28.
21
Lemos utiliza o termo para designar algumas características dos telefones celulares, definidos
como DHMCM: “Dispositivos Híbridos Móveis de Conexão Multirrede”.
12
Principalmente os celulares com câmera favorecem essa prática, por estarem
sempre à mão. Outra questão é a facilidade em descartar o conteúdo, se não
gostou apaga e faz de novo, diferente das câmeras com filme, onde não se podia
“desperdiçar poses”. A produção de fotos e vídeos por esses meios configura-se em
outra maneira de se comunicar, de compartilhar experiências. Para Lemos:
Talvez estejamos vendo emergir, pela primeira vez, funções
verdadeiramente comunicacionais e dialógicas dos produtos
fotográficos e videográficos. Esses produtos passam a funcionar,
efetivamente, como mídia de comunicação, já que me colocam em
contato com o outro, já que permitem diretamente a troca entre
consciências, e não a função de fruição estética em uma galeria ou
na sala escura do cinema. Mais do que exposição, busca-se o que é
vivido junto, a cumplicidade. Não mais sociedade do espetáculo,
mas o espetáculo da vida banal do dia-a-dia compartilhado (2007b,
p.35).
Se por um lado prolifera a liberdade de produção e publicação de conteúdo, o
registro de situações rotineiras, possibilita também o controle das mesmas e
sobretudo dos outros. A gravação e localização com objetivo de controlar, o controle
móvel, que registra tudo. O controle é exercido através das ligações, fotos,
localizador (GPS)
22
, o simples fato de ter um celular já se configura como uma
forma de controle, para sermos achados em qualquer lugar, enquanto estamos em
movimento. O poder atual passa a estar conectado aos processos de mobilidade,
constatação feita por Gilles Deleuze, estaríamos passando de sociedades
disciplinares para sociedades de controle (apud Valentim, 2005, p.117).
Mas não são somente os ambientes que exercem controle sobre os
indivíduos, “através dos aparelhos multifuncionais, os urbanitas também adquirem
condições de controlar o ambiente. O multifuncional é um dispositivo portátil que
une, entre várias funções, computação, telefonia e navegação pela Internet”
(Valentim, 2005, p.119).
Se por um lado podemos ser controlados, por outro podemos controlar
também. Nas relações de trabalho, pode tanto liberar o indivíduo a não necessidade
de ficar preso em um local, quanto possibilitar o monitoramento e controle do chefe
22
Sistema de Posicionamento Global, popularmente conhecido por GPS, em inglês Global
Positioning System.
13
(Valentim, 2005). O mesmo acontece com adolescentes, que se libertam da
vigilância dos pais, ao poderem realizar e receber ligações em qualquer lugar, com
mais liberdade, por ser um aparelho pessoal, diferente do telefone fixo, como
estarem sujeitos ao controle constante para saberem dos seus passos.
Dentre os pontos destacados nesse tópico, a proposta foi através dele pensar
o tempo presente, sob a ótica do uso do celular, apontado através de matérias
publicadas, anúncios e peças publicitárias, que reforçam características e mostram
tendências, tanto para aspectos culturais como comunicacionais. Conectividade,
corporalidade, ubiquidade, controle e mobilidade aparecem imbricadas aos usos e
aparições do celular na contemporaneidade.
4 Considerações adicionais
Neste artigo, foi possível, através de materiais veiculados na mídia impressa
e internet, expor aspectos que permitem refletir sobre algumas características do
tempo presente, a partir da difusão do celular. Essas características configuram-se
em pistas que podem vir a contribuir na compreensão da contemporaneidade.
Mobilidade, conectividade, controle, multifuncionalidade, acoplagem, miniaturização,
hibridação, cotidiano e compartilhamento são questões que aparecem atreladas a
propagação, ao uso e a comunicação dos celulares na sociedade na última década.
A partir das várias representações e discursos veiculados sobre o celular nos
meios de comunicação de massa, publicitários ou não, foi possível perceber que,
além da extensão de seu uso, há mudanças na forma e no jeito de nos
comunicarmos. O celular, além de um meio de comunicação, torna-se meio de
outros meios, sendo produto e auxiliar na utilização de outros tantos produtos que
passam por seu filtro, como as notícias do seu banco, as notas das novelas, as
enquetes de programas de televisão, os acompanhamentos de dietas além da
possibilidade de mediar relações pessoais em chats.
Para além de suas funções comunicacionais e tecnológicas, o celular ainda
pode ser analisado do ponto de vista simbólico, pois, mesmo desligado, ele é
14
passível de atribuição de significados partilhados socialmente, de demarcações de
status sociais aos seus proprietários, dessa forma, o celular constitui-se em um foro
privilegiado para o estudo e discussão do contemporâneo, na busca pela
compreensão e caracterização das relações no tempo presente.
Independente do celular ser um produto, ele auxilia na venda ou aquisição de
demais produtos e serviços, graças ás suas funcionalidades e, é de tal modo
extensa a sua posse, que, clientes de um banco tem, na propaganda, com certeza,
um aparelho, por exemplo. Aplicando o que propõe Everardo Rocha, não se pensa
em um cliente ou um leitor que não possua um celular, no mundo de dentro dos
Meios de Comunicação.
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Notas sobre o celular: Comunicação, cultura e contemporaneidade