XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002 RADIAÇÃO TÉRMICA DA ATMOSFERA: RELAÇÃO NOTURNO-DIURNO PARA CÉU CLARO Flávio Rodrigues Soares1, João Francisco Escobedo2, Hildeu Ferreira de Assunção3 1 Centro de Engenharia e Ciências Exatas, UNIOESTE/Campus de Toledo-PR E-mail: [email protected] 2 Departamento de Recursos Naturais-FCA/UNESP/Campus de Botucatu-SP 3 Campus Avançado de Jataí-UFG ABSTRACT There are simple relations between minimum (min), mean (med), and maximum (max) values of nightime med max min med max ( Lmin N , L N , L N ) and daytime ( L D , L D , L D ) downwelling longwave radiation with high correlations coefficients (Rmin=0,9789; Rmed=0,9485; Rmax=0,8117). The validation showed the possibility of estimating nightime downwelling longwave radiation, if the corresponding radiation of the previous day is known, through one of the next cloudless sky models : min Lmin N = 0 ,9962L D ; med Lmed N = 43,21 + 0 ,84L D ; max Lmax N = 85,03 + 0 ,74L D INTRODUÇÃO A capacidade de previsão da radiação térmica da atmosfera (RTA) é importante não só para a agricultura , como também para o conforto térmico de edificações. A influência da RTA nos resultados das componentes térmicas dos projetos Engenharia Civil tem sido defendido e estudado por vários autores (e. g. Cole, 1979) A intensidade da radiação térmica da atmosfera influencia notavelmente tanto na ocorrência de temperatura mínima quanto na formação de orvalho e até mesmo no ressecamento de plantas quando submetida às condições de perda radiativa. O conhecimento antecipado da emitância radiante noturna favorece a previsão de formação de geada, bem como daquelas temperaturas favoráveis à eclosão de doenças foliares (Diak et al., 2000) Há uma vasta literatura definindo a geada e sua importância para os seres vivos (e. g. Tubellis & Nascimento, 1984). Para céu sem nuvens, o balanço de radiação de onda longa para temperaturas de abrigo de cerca de 0º C, é da ordem de 100 W.m-2 (Monteith & Unsworth, 1990, pg. 52). Neste aspecto, uma vez que a irradiância de onda longa atmosférica está diretamente ligada a emitância radiante da superfície livre que se resfria, a RTA pode ser vista como um elemento do microclima de interesse, tão importante quanto a temperatura. Durante o dia a superfície da terra recebe radiação solar e atmosférica. Parte desta energia será emitida radiativamente a noite e absorvida pela atmosfera, exceto aquela que se encontra na faixa espectral da janela ótica (8 a 13 micrômetro). Parcela importante desta energia é emitida de volta para o solo. Esta é a irradiação medida pelo pirgeômetro no período noturno. Durante o dia a atmosfera é aquecida não só pela radiação terrestre mas também por parte da radiação solar. A maioria dos trabalhos observacionais envolvendo a RTA , analisam o período noturno. Mais recentemente, a partir de 1970, vem se utilizando radiômetro, com cúpula e filtro, que permitem sua utilização diurna. O objetivo deste trabalho foi estudar relações entre as irradiações atmosféricas noturna e diurna, com base em registros que permitiram o cálculo de valores mínimos (min), médios (med) e máximos (max). MATERIAL E MÉTODOS A base de dados para este trabalho foi obtida na Estação Radiométrica situada no Campus do Lageado, Universidade Estadual Paulista/UNESP, em Botucatu, estado de São Paulo (22º51’S ; 48º27’W e 786 metros). Os dados para o ajuste foram tomados no período de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2000 e para a validação de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2001. As medidas da irradiação atmosférica foram tomadas com o uso de um pirgeômetro modelo CG1 da Kipp&Zonen. A sensibilidade espectral do aparelho encontra-se na faixa de comprimento de onda de 5 a 50 µm, cuja constante de sinal é de 10,35 µV.W-1m2. 2859 XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002 Um “datalogger” modelo 23X da Campbel Scientific compondo o sistema de aquisição de dados estava programado para obter uma amostragem a cada 5 segundos e calcular a média de 60 amostragens. Dos dados de irradiação de onda longa medidos foi subtraído a radiação de onda longa emitida pela janela do pirgeômetro como resultado do aquecimento provocado pela radiação solar de ondas curtas. Segundo o fabricante, para cada 1000 W.m-2 de radiação solar perpendicularmente incidente na janela plana do pirgeômetro, é gerada 25 W.m-2 de onda longa. Portanto, a correção foi realizada usando a equação: L =L obs − 0 ,025R g , (1) onde L obs é a média de 5 minutos da irradiação de onda longa observada (W.m-2) e R g (W.m-2) é a média de 5 minutos da irradiação global, medida na horizontal e simultaneamente. Os dias foram separados segundo um índice de claridade Kt , diário, maior ou igual a 0,65. O comprimento do dia foi sempre de 12 horas, iniciando às 6 e terminando às 18 horas (hora local). Esta definição é conveniente aos objetivos deste trabalho que consistiu em conhecer as relações entre médias de 5 minutos típicas de irradiações atmosféricas. Outro aspecto que pode influenciar os resultados, é o método de determinação de uma noite sem nuvem. Estas noites são escolhidas pelo Kt do dia imediatamente anterior. Para o clima de Botucatu, este método é bom para o inverno e frágil para o verão, onde pode ocorrer, com maior frequência, nuvens durante a noite, pois segundo Cunha et al. (1999), o clima de Botucatu é Cwa, temperado quente (mesotérmico) com chuvas no verão e seca no inverno. A presença de nuvens aumenta a irradiação atmosférica ao nível de solo porque a emissão de vapor d’água e do dióxido de carbono, naquela parte da atmosfera que fica entre a base da nuvem e o solo, é suplementada pela emissão das nuvens que se encontram na faixa de comprimento de onda de 8 a 13 micrômetros (Monteith & Unsworth, 1990, pg. 53). E esta irradiação adicional pode não estar correlacionada com a RTA diurna. Adotou-se o modelo linear simples, ) ) (J: min, med, max) (2) LJN = β 0J ± e 0J + β1J ± e1J LJD onde LJN é a RTA noturna e LJD é RTA diurna, e 0J e e1J são os erros na identificação do intercepto e do coeficiente angular da reta de regressão. ) Para verificar se os interceptos dos modelos eram nulos ou não realizou-se o teste estatístico H0: β 0J =0 ) contra H1 : β 0J ≠ 0 . A estatística do teste é dada por (Werkema & Aguiar, 1996): β 0J J t0 = (3) 2 LJD 1 J QMR N + J S xx com N representando a quantidade de medidas tomadas para o ajuste e QMR J é o quadrado médio dos resíduos dado por: 2 1 i = N )J J J (4) QMR = − L N ,i , ∑ L N - 2 i = 1 N ,i 2 i=N J J J S xx = ∑ L D ,i − L D (5) i =1 ) e LJN ,i a i-ésima estimativa e medida, da componente noturna, respectivamente, LJD ,i é a i-ésima sendo LJ N, i medida da componente diurna e o seu valor médio é LJD . O nível de significância adotado para o teste foi de α=5%. Para caracterizar melhor os modelos determinou-se os intervalos de 95% de confiança para os parâmetros segundo as equações (Werkema & Aguiar, 1996) : ( ) 2860 XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002 J 2 L ) D J 1 β 0J : β 0J ± t α QMR N + J ; − N 2 S xx 2 (6.1) ) QMR J β1J : β1J ± t α (6.2) ;N −2 S Jxx 2 Para comparar a capacidade preditiva dos modelos, com o desempenho de outros modelos em estimar RTA encontrados na literatura, calculou-se as estatísticas MBE e RMSE definidas por Iqbal (1983). RESULTADOS E DISCUSSÕES O objetivo principal do trabalho foi o de identificar relações entre as irradiações de onda longa noturna e diurna. Os modelos que resultaram dos ajustes escrevem-se como: min Lmin N = (0 ,9962 ± 0 ,0027)L D ; (R=0,97891, SD=5,9694, N=57) (7) med Lmed N = (43,2140 ± 24,3789) + (0,8459 ± 0,0381)L D ; (R=0,94853, SD=8,9821 N=57) (8) max max L N = (85,0323 ± 24 ,3789 ) + (0 ,7405 ± 0 ,0718)L D ; (R=0,8117, SD=20,1435, N=57) (9) min = 0 , uma vez que os testes estatísticos realizados deram os seguintes resultados: onde foi considerado β 0 0,8967(P>0,05), 3,6517(P<0,05) e 3,4879(P<0,05), para os modelos (7), (8) e (9), respectivamente. As Figuras 1, 2 e 3 mostram as relações entre as irradiações térmicas da atmosfera noturna estimadas e medidas, validando, mínimo portanto, os respectivos modelos. As retas ajustada são: Lmínimo N,medido = (1,0076 ± 0 ,0019 )L N ,estimado , com médio R=0,9690, SD=5,8382 e N=106; Lmédio N,medido = (1,0070 ± 0 ,0027 )L N,estimado , com R=0,9310, SD=8,79633 e máximo N=106; Lmáximo N,medido = (1,0024 ± 0 ,0049 )L N ,estimado , com R=0,8365, SD=17,1917 e N=106 Os intervalos de confiança calculados deram os seguintes resultados para os parâmetros dos modelos: min β1 = (Li = 0 ,9411; Ls = 1,0513) ; β 0med = (Li = 19 ,5467; Ls = 66 ,8813) ; β1med = (Li = 0,7697; Ls = 0,9221) ; β 0max = (Li = 36 ,2745; Li = 133,7901) ; β1max = (Li = 0 ,5968; Ls = 0 ,8842 ) , onde Li e Ls são os limites inferiores e superiores dos respectivos intervalos. As estatísticas MBE e RMSE para os modelos de mínima, média e máxima são, respectivamente: (-2,1832 W.m-2;6,2312 W.m-2; N=106); (-2,9980 W.m-2;9,7472 W.m-2, N=106); (-1,2936 W.m-2;17,9729 W.m-2, N=106). Este valores são típicos para estimativas da RTA (Veja p. ex. o trabalho de Niemelä (2001) que encontrou para o verão MBE=-5 W.m-2 e RMSE=9,8 W.m-2, trabalhando com o modelo paramétrico de Prata (1996) .) Nota-se também que as estatísticas e1J , SD e RMSE são menores para o modelo de mínima e maiores para o modelo de máxima e o inverso ocorre com o coeficiente de correlação R. Isto se dá porque em momentos de baixa umidade, onde prevalece o modelo de mínima, a atmosfera é mais estável. 2861 XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002 500 LN,medida mínima 45 º -2 (W.m ) 450 400 350 300 250 200 200 250 300 350 mínima LN,estimada 400 450 500 -2 (W.m ) . Figura 1: Validação do modelo de mínima. Cada ponto representa o dia que contribuiu com o respectivo valor mínimo. No total da validação foram 106 dias 500 LN,medido medio 45 º -2 (W.m ) 450 400 350 300 250 200 200 250 300 350 medio LN,estimado 400 450 500 -2 (W.m ) Figura 2: Validação do modelo de média. Cada ponto representa o dia que contribuiu com o respectivo valor médio. No total da validação foram 106 dias. 2862 XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002 45 º 500 LN,medida máxima -2 (W.m ) 450 400 350 300 250 200 200 250 300 350 máxima LN, estimada 400 450 500 -2 (W.m ) Figura 3: Validação do modelo de máxima. Cada ponto representa o dia que contribuiu com o respectivo valor máximo. No total da validação foram 106 dias. CONCLUSÕES Encontrou-se relações lineares simples entre as irradiações atmosféricas mínimas, médias e máximas noturna e diurna. Com a validação dos modelos conclui-se que é possível estimar as irradiações de uma dada noite se a RTA do dia anterior for conhecida, para condições de céu claro, com altos coeficientes de correlações: (Rmin=0,9789; Rmed=0,9485; Rmax=0,8117), através de um dos seguintes modelos: min min med med max max L N = 0 ,9962L D ; L N = 43,21 + 0 ,84L D ; L N = 85,03 + 0 ,74L D BIBLIOGRAFIA COLE, R. J. 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