Aprendizagens, sotaques e novas tecnologias IST-RIO: Metamorfose docente apoiada por um AVA* Profa Ms Claudia M. Nunes1 Prof. Ms Ricardo Marciano2 Resumo Os paradigmas educacionais estão sendo repensados diante do alcance das novas tecnologias de informação e comunicação (TIC). Os ambientes e recursos didáticos são revisitados. A prática docente tem novas possibilidades de desenvolvimento com o objetivo de manter o aluno aprendendo. O IST-RJ experimenta aproximar o docente dos objetos e ambientes virtuais de aprendizagem (Moodle), dentro da modalidade a distância, em cursos de graduação e pós-graduação. Palavras-chave: Prática docente; Ambiente virtual de aprendizagem; Educação a distância. Resume The educational paradigms are being ahead rethink of the reach of the new technologies of information and communication (TIC). The didactic environments and resources are revisited. The practical professor has new possibilities of development with the objective to keep the pupil learning. The IST-RJ tries to approach the professor of objects and virtual environments of learning (Moodle), inside of the modality in the distance, in courses of graduation and after-graduation. Keys words: Practical professor; Virtual environment of learning; Education in the distance. Sumário Introdução I – IST-RJ: Experiência importante com Moodle 1.1- Moodle e suas potencialidades no geral 1.2- IST-RJ: Envolvimento docente no Moodle II – IST-RJ e Moodle: Provocação à metamorfose docente Considerações Finais Referências 1 Profa Claudia M. Nunes – Mestre em Educação/UNIRIO; pós-graduada em Docência do Ensino Superior e em Tecnologia Educacional/IAVM; graduada em Letras/UVA. Professora de Língua Portuguesa, Literatura e Produção Textual no Ensino Médio a mais de 15 anos. Tutora de cursos a distancia. Blog: http://epesquisadora.blogspot.com 2 Prof Ricardo Marciano.Mestre em Informática / UFRJ; pós-graduado em Tecnologia Educacional –Master of Business Administration Fundação Getúlio Vargas – Coordenador EAD do Instituto Superior de Tecnologia do Rio de Janeiro Introdução Diferentes eventos históricos no mundo fizeram as sociedades acelerarem seu desenvolvimento. Segundo Cunha (2005), depois que Copérnico e Galileu convenceram as pessoas de que as leis que governam o movimento do céu são as mesmas que governam o movimento na terra; depois que Darwin desencantou a consciência humana, estabelecendo uma continuidade entre o animal e o homem; e depois que Freud diagnosticou uma continuidade entre razão e loucura, entre pulsões do corpo e representações da alma; os paradigmas da educação mudaram. Nesta linha, a impressão de Gutemberg, o processo de industrialização e o desenvolvimento das tecnologias da informática, e dos meios de comunicação mudaram o panorama social, político e econômico. E as sociedades, cada vez mais complexas, segundo Santaella (2004, p. 18), “foram crescentemente desenvolvendo uma habilidade surpreendente para armazenar e recuperar informações, tornando-as instantaneamente disponíveis em diferentes formas [e suportes] para quaisquer lugares”. Segundo Castells (2003), mesmo simbolizando uma interconexão de todos com todos através dos computadores, a rede aponta para uma descentralização dos meios de informação e comunicação e, dentro da complexidade de um hipertexto3, apesar de manter um design harmonioso, são percebidos novos significados, novos habitantes, novas atitudes, novas convergências. “O século XX foi embora e chega o XXI. Inúmeras mudanças e turbulências marcaram esse período, particularmente por conta do forte desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), da ciência da computação, com destaque para as pesquisas no campo da Inteligência Artificial e do vertiginoso incremento da rede internet, trazendo radicais modificações na forma como se vêm produzindo os conhecimentos, conceitos, valores, saberes e de como as relações entre as pessoas e as máquinas se (re)significam, impulsionadas pela (oni)presença dessas tecnologias da informação e comunicação” (PRETTO e ASSIS, 2008, p. 75). No cenário mundial, isto é o que se almeja, quando novas tecnologias midiáticas como o computador e a internet surgem como facilitadoras da vivência do dia-a-dia dos sujeitos. No cenário educacional, isto é o que se objetiva quando estas mesmas tecnologias são elencadas dentro do conjunto de recursos possíveis à promoção da qualidade do ensino e da aprendizagem. Escola é uma concentração de energia humana. Educação é um círculo que se 3 Segundo Levy, “tecnicamente, hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões e estes podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos ou partes dos gráficos, sequencias sonoras. [...] Funcionalmente, é um tipo de programa para a organização de conhecimentos ou dados, a aquisição de informações e a comunicação.” (2001, p. 33). autogerencia num movimento centrípeto constante e impulsionado pelas novidades de determinados tempos históricos e a criatividade humana. Este movimento atrai todas as possibilidades de engrandecer o trabalho docente em diferentes modalidades de ensino. E neste sentido, os ambientes e os recursos didáticos e/ou pedagógicos escolhidos implementam integrações, às vezes, não muito harmônicas, em seus critérios, regras e características, cuja função é revigorar o processo de ensino e de aprendizagem; e estimular a construção do conhecimento. E a Educação de qualidade será o amálgama final destas atividades e procedimentos com alcance tridimensional. Mas para que se alcance esta qualidade, é preciso estabelecer, vez por outra, saneamentos internos na leitura que se faz sobre o processo de ensino e de aprendizagem, pois alguns itens não podem ser descartados do trabalho docente, a saber: a sensibilidade, a dedicação, a compreensão, os desafios, os incentivos à criatividade, a disponibilidade, a humildade, a autonomia dentre outros. Afinal, os docentes são os responsáveis por gerar transformação cognitiva-afetiva ao empreender determinadas dinâmicas de aprendizagem ao corpo discente porque mediam todo o processo ‘face a face’ ou a distância. Hoje em dia, esta responsabilidade relaciona-se também com o entendimento sobre como estabelecer (e manter) o diálogo com os alunos integrantes da chamada ‘geração Y’ (Young generation) cuja característica é a velocidade no encontro com as informações através das novas tecnologias de informação e comunicação (NTICs), digitais e virtuais. Este diálogo, então, pressupõe uma revisitação constante às práticas aprendidas no período da formação de professores e no investimento nos usos das NTICs como outros recursos pedagógicos. O que se espera é a atualização contínua das ações educativas de maneira a manter o educando conectado com os diferentes saberes e, num segundo momento, incentivando uma aprendizagem mais autônoma. Neste sentido muitos projetos voltados à informática educativa e tecnologia educacional foram construídos e desenvolvidos pelo governo de maneira a incentivar a aproximação docente dos objetos e ambientes tecnológicos, mesmo dentro da modalidade educação a distância (EAD). I – IST-RJ: Experiência importante com Moodle No século XX, o avanço e o alcance dos meios de comunicação de massa transformaram a sociedade de maneira veloz, por conseguinte as interações dialógicas (que dependem de um fluxo informacional de ida e volta) foram incrementadas, inclusive a distância, por meio dos sistemas de correio, telégrafo e telefonia. Já no século XXI, aos meios de comunicação de massa juntaram-se os meios de comunicação digitais muito ligados à Informática. Surgem os diários virtuais (blogs), correios eletrônicos (e-mails), programas de conversação (Skype e Messenger, por exemplo), além dos sites de relacionamento (Orkut, Twitter, Facebook dentre outros) e os jogos on-line. Computador e Internet (e suas ferramentas) empreenderam uma comunicação (e informação) mais rápida, o que os tornou objetos de desejo e de marcação de status entre as pessoas. Muitas possibilidades de acesso e de informação foram abertas, e o sentido da palavra ‘colaboração’ (co-laborar = trabalhar junto.; labutar junto, em conluio) é crescente. Grande quantidade de pessoas, dispersa geograficamente, e mesmo sem nunca ter interagido por nenhum meio, pôde se ‘aproximar’ conhecer e trabalhar em projetos comuns de grandes dimensões e de relevante impacto social; e/ou, pôde acessar (e obter) informações aleatórias de acordo com interesses muito particulares. Segundo Nunes (2009), estas possibilidades abriram espaços para outras ações, como: colaborar com a coletividade sem fazer questão de assinar suas contribuições; realizar reuniões de cunho profissional ou encontros com amigos distantes; assistir aulas, congressos e seminários; enviar e receber mensagens com diferentes assuntos; comprar diferentes artefatos, dentre outras. Segundo Primo (2008, p. 65), “a tecnologia digital não apenas potencializou as formas de comunicação interpessoal mediadas por computador (como blogs e redes de relacionamento), mas vem também atualizando o que hoje podemos chamar de mídia tradicional”. Mas tanto essa potencialização, quanto a atualização, pegou os professores ‘no contrapé’. Como imigrantes digitais4 têm uma memória histórica e formativa de outro tempo, logo sua integralização nos tempos tecnológicos atuais deve ser cuidadosa e paulatina, porque há diferenças nas formas de apropriação: diferenças de sotaque quanto a experiência de construção do conhecimento e de desenvolvimento de aprendizagem. O desafio então é “catalisar mudanças educacionais importantes e transformar a maneira como pensamos e concebemos a escola, a educação e a própria vida” (MORAES, 2003, p. 167) reconhecendo que os professores têm suas práticas de ensino vinculadas a outro tempo cultural, logo seu processo de adaptação será mais lento, porque mais reflexivo. 1.1- Moodle e suas potencialidades no geral Atualmente podemos destacar o software livre (e gratuito) chamado Moodle, um software para gestão de aprendizagem e de trabalho colaborativo, e que permite a criação de vários recursos, como: fóruns, gestão de conteúdos (recursos), questionários e pesquisas com diversos formatos, blogs, wikis, geração e gestão de databases, chats, glossários dentro outros. Esta plataforma de apoio à aprendizagem e às atividades colaborativas em ambiente virtual pode ser instalado em diversos ambientes (Unix, Linux, Windows, Mac OS) desde que os mesmos consigam executar a linguagem PHP. É desenvolvido colaborativamente por uma comunidade virtual, que reúne programadores e desenvolvedores de software livre, administradores de sistemas, professores, designers e usuários de todo o mundo. Encontra-se disponível em diversos idiomas, inclusive em português. A característica mais marcante do moodle é a de promover uma pedagogia de colaboração, com atividades e reflexões críticas sobre os temas, podendo ser adaptada para cursos tanto presenciais quanto à distância. Compatível com navegadores simples, o programa é leve e eficiente. A figura 01 mostra o ambiente Moodle do Instituto Superior de Tecnologia do Rio de 4 Nativos e imigrantes digitais são conceitos criados e trabalhos por Mark Prensky desde 2001. Neste trabalho, há menção aos imigrantes digitais. São indivíduos que não tendo nascido no mundo digital, em determinada altura se sentiram atraídos e mostraram interesse pelas ferramentas digitais. Mas terão sempre de se adaptar ao ambiente e acrescentar novas aprendizagens às anteriormente conseguidas, situação contrária à dos nativos digitais cuja evolução tecnológica está integrada ao seu desenvolvimento psicossocial. Janeiro (IST/RJ) customizado para atender os cursos de graduação e extensão. Figura 03 . Ambiente MOODLE customizado. Fonte: moodle.ist-rio.net Além dos artefatos amplamente divulgados pela mídia como os sites de relacionamento, redes sociais virtuais, comunidades virtuais dentre outros, para o desenvolvimento, produção e divulgação de diferentes materiais didáticos, atividades pedagógicas ou textos colaborativos, por exemplo, existem softwares didáticos (ou plataformas) pagos ou não e que estão à disposição, principalmente dos imigrantes digitais, responsáveis pela construção de conhecimento na contemporaneidade. Enfim, cada artefato identifica um grupo e os diferencia de outros, ou um dos outros, e a identidade não se deixa cair no esquecimento quando, constantemente, pode ser grafada, narrada ou tornar-se fonte-histórica no contexto social. Logo há uma constante aptidão por entender que a cultura e a memória são faces de uma mesma moeda e que a atitude cultural por excelência e que rodeia os sujeitos-respondentes, desde os testemunhos construídos ou das expressões da natureza aos testemunhos vivos, são imprescindíveis para a construção da identidade. 1.2- IST-RJ: Envolvimento docente no Moodle Um exemplo importante de incentivo, desenvolvimento e implementação de novas (e outras) posturas educativas pode ser observado nos cursos desenvolvidos a distância pelo Instituto Superior de Tecnologia/RJ (IST-RJ), na plataforma MOODLE, desde 2009. Este projeto visa dar outras (e novas) ferramentas educacionais aos docentes de forma a aprofundar suas formação e estabelecer outra trajetória à criatividade. O primeiro segmento a utilizar o ambiente foi o programa de pós-graduação do IST. O ambiente virtual de aprendizagem (AVA) MOODLE (modular object-oriented dynamic learning environment), software livre e de apoio à aprendizagem, necessitou de customização de acordo com as necessidades da pós-graduação em questão, de forma a servir de apoio à aprendizagem de professores e alunos do curso. A idéia-base é dar suporte às aulas presenciais, permitindo a interação, exposição, colaboração, descoberta pedagógica e reflexão, tanto do nicho docente quanto discente. A plataforma torna-se um espaço ‘multiuso e multifacetado’ (figura 02??) onde o desenvolvimento das aulas exige a incorporação de diferentes tecnologias /mídias, e não mais se centralizam na figura de UM professor. O processo de ensino e de aprendizagem torna-se mais autônomo, livre, colaborativo e solidário, mesmo, em alguns momentos, dentro de limites de tempo. Diante do sucesso da implementação da pós-graduação também na plataforma Moodle, seguiu-se a sugestão de incorporar a graduação com todas as suas disciplinas. Neste momento houve a necessidade de realizar capacitações com os professores como maneira de atualizar a formação, compreender a usabilidade das ferramentas e repensar as dinâmicas educativas também aproveitando os recursos tecnológicos ou mesmo a própria plataforma virtual. Após a realização da mesma, os professores puderam disponibilizar conteúdos em diferentes formatos, adotar estratégias múltiplas, incentivar a pesquisa em outros contextos etc. Por conseguinte, os professores observaram muitos benefícios: • Agilidade na comunicação com os alunos; • Possibilidade de disponibilizar muitos conteúdos complementares; • Possibilidade de disponibilizar conteúdos específicos para grupos de alunos; • Flexibilidade na negociação de datas e/ou prorrogação de datas para entrega de trabalhos; • Redução substancial no consumo de papel e tinta pelos alunos, que entregaram seus trabalhos em formato digital; • Redução do stress com pilhas de trabalhos a corrigir; • Fim da clássica argumentação do aluno de que já entregou o trabalho e que eu o perdi (o sistema registra data, hora, minuto e segundos da entrega); • Possibilidade de corrigir trabalhos em qualquer lugar onde tenha acesso à Internet. A figura 02 (acima) exibe o ambiente virtual da graduação do IST, acessível no endereço eletrônico: www.moodle.ist-rio.net. Neste ambiente, várias categorias de acesso (hiperlinks) foram criadas no intuito de organizar ações de trabalho e/ou de realização das atividades, por exemplo, a categoria trabalhos de conclusão de cursos prevê a paulatina organização dos trabalhos finais da graduação permitindo também um verdadeiro repositório de conteúdos onde é possível gerenciar os trabalhos dos docentes, um a um. Outra categoria que merece destaque é a organização das semanas tecnológicas, um espaço criado para permitir o gerenciamento das palestras, imagens e artefatos que fizeram parte de todas as feiras realizadas pelo IST/RJ. Ou seja, no IST/RJ, o ambiente Moodle é usado também como um gerenciador de outras atividades. figura 3 Outras categorias importantes são as seguintes: Categoria Graduação 2010 / Primeiro semestre / noturno / diurno: permite localizar para toda a comunidade as disciplinas que foram ofertadas para o primeiro semestre de 2010, diurno ou noturno; Categoria Pesquisa e Extensão: cursos ofertados pelo programa de pesquisa e extensão do IST-RJ; Categoria Semanas Tecnológicas: gerencia as semanas tecnológicas realizadas pelo instituto superior de tecnologia do rio de janeiro; Categoria projetos: gerencia projetos apresentados pela comunidade acadêmica. Atualmente, há um total de 284 usuários estão cadastrados no ambiente da graduação e 78 usuários estão inscritos no ambiente da pós-graduação. Na graduação as seguintes disciplinas usaram o ambiente como apoio: • Tópicos Avançados; • Projeto de Software; • Redes I; • Programação Orientada a Objeto I; • Programação Orientada a Objeto II; • Linguagem de Programação para WEB; • Língua Portuguesa; • HM - Interface Homem Máquina; • Algoritmos e Linguagem de Programação I; • Administração Aplicada 2010 N. A figura 04 mostra o espaço no ambiente destinado a gerência do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) onde todas as informações, modelos de documentos estão disponíveis pela coordenação, além de estratégias para permitir a interação professor aluno. figura 04 A figura 05 mostra a estratégia adotada para o gerenciamento dos trabalhos e a disponibilidade de todos os documentos necessários a criação do trabalho. A figura 06 mostra o espaço onde acontece a interação aluno-professor. Em julho de 2010, 23 trabalhos estão sendo gerenciados pelo ambiente. Em cada um, como apresentado na figura 06, são apresentadas as etapas do TCC, o orientador responsável, os orientados e o status. Ao final espera-se ter um grande repositório e histórico de interações. O espaço virtual torna-se campo de diferentes ações e isto convoca alunos e professores a repensar suas performances como ‘aprendentes’ ou como ‘interagentes’ junto às informações e as solicitações educativas. Desta maneira, estimula-se a inserção digitalpedagógica dos docentes no intuito de se recondicionar as ferramentas virtuais à ação didática e não, apenas, ao entretenimento. II – IST e Moodle: provocação à metamorfose docente A experiência do IST com a plataforma Moodle investe em rompimentos quanto às perspectivas dos docentes sobre as possibilidades de dinâmicas na sala de aula. É o exercício da mudança e da aprendizagem docente. São desafios que precisam ser compreendidos como investimento na própria ação pedagógica. Segundo Spyer (2007) toda participação no processo dependerá dos estímulos que podem levar os sujeitos (educadores) a acreditar e participar do projeto. E são itens importantes a esse estímulo, a: [...] reciprocidade (uma pessoa fornece informações relevante para um grupo na expectativa de que será recompensada recebendo ajuda e informações úteis ao futuro), [...] o prestígio (para ser respeitado e reconhecido dentro de um determinado grupo, um indivíduo pode oferecer informações de qualidade, fartura de detalhes técnicos nas respostas, apresentar disposição para ajudar os outros e redação elegante), [...] o incentivo social (o vínculo a um determinado grupo leva pessoas a oferecerem voluntariamente ajuda e informações), [...] o incentivo moral (o prazer associado à prática de boas ações estimula pessoas a doarem seu tempo e esforço). (SPYER, 2007, p. 36). Uma afirmativa importante é necessária neste momento, segundo Nunes (2009): a interação das formas de ensinar mediada por computador (e a Internet) não pode ser estabelecida por si só, ou seja, apenas com a implantação de programas diversos ou a ‘pura’ entrega de notebooks aos professores. Inaugura-se por necessidades pessoais e profissionais de um setor ou comunidade em torno de um assunto ou projeto e por constantes momentos de capacitação, discussão e experiências. A provocação de metamorfoses da linguagem educacional entre professores trazida pela experiência do IST-RJ, gradativamente, vai diminuindo as estranhezas, as desconfianças, os questionamentos e, mesmo a sensação de obsolescência docente. As capacitações na plataforma Moodle potencializa a diversificação dos processo de interação e mediação; e procura incentivar o desenvolvimento de novos olhares quanto a ação pedagógica. Ou seja, objetiva-se uma nova organização de aprendizado cujas exigências estabelecem “novas habilidades cognitivas, ênfase num processo de aprendizagem centrado na construção ativa do conhecimento, fundamentos à experimentação e uso de múltiplos e modernos recursos da informática em ambientes variados” (CAMPOS, 2003, p. 10). Com isso, pode-se construir um ambiente propício a um processo de formação cognitiva, de identidade e de memória sociocultural mais amigável, convergente e significativa cuja trajetória pode estar livre da maioria das regras sociais e maleável às diferentes apropriações das novas linguagens. Conforme Santos, (2008, p. 32), diante de toda a reflexão feita neste trabalho, entendemos que, com o surgimento das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), o fator ‘tecnológico’ tem preocupada a maioria dos professores, pois apesar de toda disseminação de artefatos tecnológicos, encontramos ainda alguns profissionais que ‘resistem’ em entrar de alguma maneira no mundo digital. Ou seja, mesmo de um enorme aparato tecnológico envolvendo o cotidiano da sociedade contemporânea, muitos docentes ainda se surpreendem (e desconfiam), por exemplo, do novo linguajar recheado de anglicismos como: "plugar", "navegar", "surfar", mouse, link, modem, chip, Internet, e-mail, Windows, "clicar" dentre outros. Há certa estupefação (e desconfiança) diante dos usos e alcance de uma linguagem linkada nas ‘novas’ formas de se comunicar e seus artefatos. É uma cultura em mutação mais veloz e que tem demandado muitas reflexões dos docentes, principalmente, de língua portuguesa, porque, segundo Santos (2009), os usos de recursos computacionais em sala de aula requerem dos docentes, além de habilidades específicas, alguns cuidados especiais: • Predisposição ao novo aprendizado; • Familiaridade com os softwares a serem trabalhados; • Planejamento didático com recursos digitais e virtuais adequados; • Reconhecimento do perfil da turma; • Metodologia centrada em desafios contextualizados; • Avaliação de desempenho colaborativo. Como exemplo das etapas acima e como sugestão ao aprendizado didáticotecnológico, apresentamos um artefato (figura 01) que vem possibilitando a criação de material didático para surdos. Tal artefato é fruto de um trabalho de dissertação de mestrado da UFRJ apresentado em 2008 pelo Prof. Ricardo Marciano. Figura 07. Sistema de Autoria de Objetos Multimídia A tela acima, do curso ‘Autoria de Objetos Multimídia’ (AOM), é formada por 03 colunas: a primeira coluna é intitulada ID e representa o número da apresentação criada pelo(s) autor(es). Ao lado direito da ID está posicionada a segunda coluna, a coluna ‘título’, que identifica o título da apresentação sugerida pelo(s) autor(es). Por fim, a terceira coluna exibe uma breve descrição da apresentação. São apresentados alguns outros elementos, como um link de paginação que permite a visualização de outras apresentações já desenvolvidas. Para tornar-se um autor, o primeiro passo é o registro por parte do mesmo. Além de visualizar as apresentações, é possível registrar-se clicando no link ‘registro’ mostrado na parte inferior da tela principal. Depois de efetuado o registro, o autor poderá criar uma apresentação e editá-las. O link ‘acessar’ transporta o(s) autor(es) para o ambiente que permite a criação das apresentações de diferentes tipos. O autor pode criar apresentações do tipo Vídeo sincronizado com slides ou vídeo sincronizado com texto. A figura 08 exibe um exemplo de uma apresentação desenvolvida, no caso específico, vídeo sincronizado com texto. Figura 08. Exemplo de apresentação gerada pelo sistema. Considerações Finais Quando se pensa no processo de aprendizagem, em tempos de forte influência das tecnologias digitais, e motivadas pelo desenvolvimento coletivo, deve se pensar no estímulo a mudanças atitudinais, em reflexões mais significativas, em aceleramento da inclusão digital, em diminuição das desconfianças e incertezas quanto ao uso dos suportes digitais e no alcance das expectativas de ensino dos alunos. Dentro de um conjunto hipertextualizado das diversas formas de conhecer, aprender, ser e conviver com os quais podem se deparar ao longo do processo e da vivência profissional, os professores estão num momento de (re)pensamento desconfiado, mas necessário. E os cursos a distância projetados pelo IST-RJ e desenvolvidos na plataforma Moodle procuram realizar tais objetivos respeitando o tempo do professor, suas expectativas e suas dúvidas. As interações propostas nas dinâmicas proposta no AVA Moodle valorizam as habilidades de cada aluno e aprimoram as capacidades de mediação pedagógica dos educadores. Segundo Primo (2001) é isso que devemos ter em mente quando usamos a Internet e suas ferramentas digitais: a capacidade de mediação dialógica. E, “nesse sentido, é preciso rejeitar, como Piaget, formas simplistas de empirismo social que tendem a confundir intercâmbio com exposição, ou interação social com transmissão de conhecimentos” (Lourenço, 1994, apud PRIMO, 2001, p. 17). Ou seja, a proposta é de valorização do diálogo, da negociação, da cooperação, enfim de transformação mútua. Como docentes, é preciso pensar sobre como ensinar tanto um tipo quanto outro tipo de conhecimento por acréscimo e se esforçando por absorver a língua dos ‘nativos digitais’. Isto envolve uma grande tradução das novas expectativas de aprendizagem e mudança de metodologia da sala de aula; e envolve todos os novos conhecimento e pensamentos. Não é apenas ‘aprender novas coisas’, mas aprender novas maneiras de fazer coisas velhas’. Logico que, diante mão, devemos reconhecer que professores têm uma memória sociocultural que os identifica com um determinado tempo, senão pelas ferramentas de que se cerca para empreender aprendizagem, pelo menos, pelo conjunto teórico ao qual tem contato em sua formação profissional. Ambas tornam-se suas identidades / marcas intrínsecas. A sensação de pertença está ligada a uma comunidade cujas simbologias e sentimentos relacionam-se às experiências vividas. Ou seja, está ligada á uma memória paradigmática relacionada à construção linear do conhecimento. Sendo assim, e favorecido pelo oferecimento constante de cursos de aprimoramento, extensão, capacitação etc, pelo IST-RJ ou por outras instituições, os professores ‘imigrantes’ deve repensar o tempo da sala de aula, mas não necessariamente partir do zero. É tentar (re)inventar uma forma de promover a adaptação dos materiais/recursos digitais oportunizando a construção do conhecimento em diferentes ambientes e com diferentes linguagens. Quando se observa os professores como imigrantes digitais informa-se que estes estão em outro tempo, o que pode ‘naturalizar’ (mas nunca paralisar) os desajustes sentidos quanto ao uso das novas tecnologias. Neste caso, é preciso delicadeza quando abordamos essa relação na prática de ensino. O computador e a Internet não são objetos da lembrança cultural dos professores, ao contrário, são objetos aparecidos depois. Então dar continuidade aos processos de aprendizagem diversificados aproveitando o aumento do acesso às novas tecnologias por parte dos alunos, junto aos professores, não acontece de um dia para o outro. Hoje, pensando em metodologias, os professores precisam aprender a se comunicar na linguagem e estilo de seus alunos também. Isto não significa mudar o sentido do que é importante. Mas isso significa ir mais rápido, menos passo a passo, mais em paralelo, com mais acesso aleatório, dentre outras coisas. De um currículo tradicional, inclui-se, hoje, também a ética, a política, a sociologia, as línguas e outras coisas que vão com eles. Com temas, no mínimo interessantes, e com profusa divulgação, os professores ‘imigrantes’ precisam se esforçar para entender este panorama e convocar, com mais certeza, as ferramentas digitais à cena dos desafios de ensino. Referências CAMPOS, Fernanda C. A.; SANTORO, Flávia Maria; BORGES, Marcos. R. S. & SANTOS, Neide. Cooperação e aprendizagem on-line. 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