Aprendizagens, sotaques e novas tecnologias
IST-RIO: Metamorfose docente apoiada por um AVA*
Profa Ms Claudia M. Nunes1
Prof. Ms Ricardo Marciano2
Resumo
Os paradigmas educacionais estão sendo repensados diante do alcance das novas tecnologias
de informação e comunicação (TIC). Os ambientes e recursos didáticos são revisitados. A
prática docente tem novas possibilidades de desenvolvimento com o objetivo de manter o
aluno aprendendo. O IST-RJ experimenta aproximar o docente dos objetos e ambientes
virtuais de aprendizagem (Moodle), dentro da modalidade a distância, em cursos de
graduação e pós-graduação.
Palavras-chave:
Prática docente; Ambiente virtual de aprendizagem; Educação a distância.
Resume
The educational paradigms are being ahead rethink of the reach of the new technologies of
information and communication (TIC). The didactic environments and resources are revisited.
The practical professor has new possibilities of development with the objective to keep the
pupil learning. The IST-RJ tries to approach the professor of objects and virtual environments
of learning (Moodle), inside of the modality in the distance, in courses of graduation and
after-graduation.
Keys words:
Practical professor; Virtual environment of learning; Education in the distance.
Sumário
Introdução
I – IST-RJ: Experiência importante com Moodle
1.1- Moodle e suas potencialidades no geral
1.2- IST-RJ: Envolvimento docente no Moodle
II – IST-RJ e Moodle: Provocação à metamorfose docente
Considerações Finais
Referências
1
Profa Claudia M. Nunes – Mestre em Educação/UNIRIO; pós-graduada em Docência do Ensino Superior e em
Tecnologia Educacional/IAVM; graduada em Letras/UVA. Professora de Língua Portuguesa, Literatura e
Produção Textual no Ensino Médio a mais de 15 anos. Tutora de cursos a distancia. Blog: http://epesquisadora.blogspot.com
2 Prof Ricardo Marciano.Mestre em Informática / UFRJ; pós-graduado em Tecnologia Educacional –Master of
Business Administration Fundação Getúlio Vargas – Coordenador EAD do Instituto Superior de Tecnologia do
Rio de Janeiro
Introdução
Diferentes eventos históricos no mundo fizeram as sociedades acelerarem seu
desenvolvimento. Segundo Cunha (2005), depois que Copérnico e Galileu convenceram as
pessoas de que as leis que governam o movimento do céu são as mesmas que governam o
movimento na terra; depois que Darwin desencantou a consciência humana, estabelecendo
uma continuidade entre o animal e o homem; e depois que Freud diagnosticou uma
continuidade entre razão e loucura, entre pulsões do corpo e representações da alma; os
paradigmas da educação mudaram.
Nesta linha, a impressão de Gutemberg, o processo de industrialização e o
desenvolvimento das tecnologias da informática, e dos meios de comunicação mudaram o
panorama social, político e econômico. E as sociedades, cada vez mais complexas, segundo
Santaella (2004, p. 18), “foram crescentemente desenvolvendo uma habilidade surpreendente
para armazenar e recuperar informações, tornando-as instantaneamente disponíveis em
diferentes formas [e suportes] para quaisquer lugares”.
Segundo Castells (2003), mesmo simbolizando uma interconexão de todos com todos
através dos computadores, a rede aponta para uma descentralização dos meios de informação
e comunicação e, dentro da complexidade de um hipertexto3, apesar de manter um design
harmonioso, são percebidos novos significados, novos habitantes, novas atitudes, novas
convergências.
“O século XX foi embora e chega o XXI. Inúmeras mudanças e
turbulências marcaram esse período, particularmente por conta do
forte desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação
(TIC), da ciência da computação, com destaque para as pesquisas no
campo da Inteligência Artificial e do vertiginoso incremento da rede
internet, trazendo radicais modificações na forma como se vêm
produzindo os conhecimentos, conceitos, valores, saberes e de como as
relações entre as pessoas e as máquinas se (re)significam,
impulsionadas pela (oni)presença dessas tecnologias da informação e
comunicação” (PRETTO e ASSIS, 2008, p. 75).
No cenário mundial, isto é o que se almeja, quando novas tecnologias midiáticas como
o computador e a internet surgem como facilitadoras da vivência do dia-a-dia dos sujeitos.
No cenário educacional, isto é o que se objetiva quando estas mesmas tecnologias são
elencadas dentro do conjunto de recursos possíveis à promoção da qualidade do ensino e da
aprendizagem.
Escola é uma concentração de energia humana. Educação é um círculo que se
3
Segundo Levy, “tecnicamente, hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões e estes podem ser
palavras, páginas, imagens, gráficos ou partes dos gráficos, sequencias sonoras. [...] Funcionalmente, é um tipo
de programa para a organização de conhecimentos ou dados, a aquisição de informações e a comunicação.”
(2001, p. 33).
autogerencia num movimento centrípeto constante e impulsionado pelas novidades de
determinados tempos históricos e a criatividade humana. Este movimento atrai todas as
possibilidades de engrandecer o trabalho docente em diferentes modalidades de ensino. E
neste sentido, os ambientes e os recursos didáticos e/ou pedagógicos escolhidos implementam
integrações, às vezes, não muito harmônicas, em seus critérios, regras e características, cuja
função é revigorar o processo de ensino e de aprendizagem; e estimular a construção do
conhecimento. E a Educação de qualidade será o amálgama final destas atividades e
procedimentos com alcance tridimensional.
Mas para que se alcance esta qualidade, é preciso estabelecer, vez por outra,
saneamentos internos na leitura que se faz sobre o processo de ensino e de aprendizagem, pois
alguns itens não podem ser descartados do trabalho docente, a saber: a sensibilidade, a
dedicação, a compreensão, os desafios, os incentivos à criatividade, a disponibilidade, a
humildade, a autonomia dentre outros. Afinal, os docentes são os responsáveis por gerar
transformação cognitiva-afetiva ao empreender determinadas dinâmicas de aprendizagem ao
corpo discente porque mediam todo o processo ‘face a face’ ou a distância.
Hoje em dia, esta responsabilidade relaciona-se também com o entendimento sobre
como estabelecer (e manter) o diálogo com os alunos integrantes da chamada ‘geração Y’
(Young generation) cuja característica é a velocidade no encontro com as informações através
das novas tecnologias de informação e comunicação (NTICs), digitais e virtuais. Este diálogo,
então, pressupõe uma revisitação constante às práticas aprendidas no período da formação de
professores e no investimento nos usos das NTICs como outros recursos pedagógicos.
O que se espera é a atualização contínua das ações educativas de maneira a manter o
educando conectado com os diferentes saberes e, num segundo momento, incentivando uma
aprendizagem mais autônoma. Neste sentido muitos projetos voltados à informática educativa
e tecnologia educacional foram construídos e desenvolvidos pelo governo de maneira a
incentivar a aproximação docente dos objetos e ambientes tecnológicos, mesmo dentro da
modalidade educação a distância (EAD).
I – IST-RJ: Experiência importante com Moodle
No século XX, o avanço e o alcance dos meios de comunicação de massa
transformaram a sociedade de maneira veloz, por conseguinte as interações dialógicas (que
dependem de um fluxo informacional de ida e volta) foram incrementadas, inclusive a
distância, por meio dos sistemas de correio, telégrafo e telefonia. Já no século XXI, aos meios
de comunicação de massa juntaram-se os meios de comunicação digitais muito ligados à
Informática. Surgem os diários virtuais (blogs), correios eletrônicos (e-mails), programas de
conversação (Skype e Messenger, por exemplo), além dos sites de relacionamento (Orkut,
Twitter, Facebook dentre outros) e os jogos on-line. Computador e Internet (e suas
ferramentas) empreenderam uma comunicação (e informação) mais rápida, o que os tornou
objetos de desejo e de marcação de status entre as pessoas.
Muitas possibilidades de acesso e de informação foram abertas, e o sentido da palavra
‘colaboração’ (co-laborar = trabalhar junto.; labutar junto, em conluio) é crescente. Grande
quantidade de pessoas, dispersa geograficamente, e mesmo sem nunca ter interagido por
nenhum meio, pôde se ‘aproximar’ conhecer e trabalhar em projetos comuns de grandes
dimensões e de relevante impacto social; e/ou, pôde acessar (e obter) informações aleatórias
de acordo com interesses muito particulares.
Segundo Nunes (2009), estas possibilidades abriram espaços para outras ações, como:
colaborar com a coletividade sem fazer questão de assinar suas contribuições; realizar
reuniões de cunho profissional ou encontros com amigos distantes; assistir aulas, congressos e
seminários; enviar e receber mensagens com diferentes assuntos; comprar diferentes artefatos,
dentre outras.
Segundo Primo (2008, p. 65),
“a tecnologia digital não apenas potencializou as formas de
comunicação interpessoal mediadas por computador (como blogs e
redes de relacionamento), mas vem também atualizando o que hoje
podemos chamar de mídia tradicional”.
Mas tanto essa potencialização, quanto a atualização, pegou os professores ‘no
contrapé’. Como imigrantes digitais4 têm uma memória histórica e formativa de outro tempo,
logo sua integralização nos tempos tecnológicos atuais deve ser cuidadosa e paulatina, porque
há diferenças nas formas de apropriação: diferenças de sotaque quanto a experiência de
construção do conhecimento e de desenvolvimento de aprendizagem.
O desafio então é “catalisar mudanças educacionais importantes e transformar a
maneira como pensamos e concebemos a escola, a educação e a própria vida” (MORAES,
2003, p. 167) reconhecendo que os professores têm suas práticas de ensino vinculadas a outro
tempo cultural, logo seu processo de adaptação será mais lento, porque mais reflexivo.
1.1-
Moodle e suas potencialidades no geral
Atualmente podemos destacar o software livre (e gratuito) chamado Moodle, um
software para gestão de aprendizagem e de trabalho colaborativo, e que permite a criação de
vários recursos, como: fóruns, gestão de conteúdos (recursos), questionários e pesquisas com
diversos formatos, blogs, wikis, geração e gestão de databases, chats, glossários dentro
outros.
Esta plataforma de apoio à aprendizagem e às atividades colaborativas em ambiente
virtual pode ser instalado em diversos ambientes (Unix, Linux, Windows, Mac OS) desde que
os mesmos consigam executar a linguagem PHP. É desenvolvido colaborativamente por uma
comunidade virtual, que reúne programadores e desenvolvedores de software livre,
administradores de sistemas, professores, designers e usuários de todo o mundo. Encontra-se
disponível em diversos idiomas, inclusive em português.
A característica mais marcante do moodle é a de promover uma pedagogia de
colaboração, com atividades e reflexões críticas sobre os temas, podendo ser adaptada para
cursos tanto presenciais quanto à distância. Compatível com navegadores simples, o programa
é leve e eficiente.
A figura 01 mostra o ambiente Moodle do Instituto Superior de Tecnologia do Rio de
4
Nativos e imigrantes digitais são conceitos criados e trabalhos por Mark Prensky desde 2001. Neste trabalho,
há menção aos imigrantes digitais. São indivíduos que não tendo nascido no mundo digital, em determinada
altura se sentiram atraídos e mostraram interesse pelas ferramentas digitais. Mas terão sempre de se adaptar ao
ambiente e acrescentar novas aprendizagens às anteriormente conseguidas, situação contrária à dos nativos
digitais cuja evolução tecnológica está integrada ao seu desenvolvimento psicossocial.
Janeiro (IST/RJ) customizado para atender os cursos de graduação e extensão.
Figura 03 . Ambiente MOODLE customizado. Fonte: moodle.ist-rio.net
Além dos artefatos amplamente divulgados pela mídia como os sites de
relacionamento, redes sociais virtuais, comunidades virtuais dentre outros, para o
desenvolvimento, produção e divulgação de diferentes materiais didáticos, atividades
pedagógicas ou textos colaborativos, por exemplo, existem softwares didáticos (ou
plataformas) pagos ou não e que estão à disposição, principalmente dos imigrantes digitais,
responsáveis pela construção de conhecimento na contemporaneidade.
Enfim, cada artefato identifica um grupo e os diferencia de outros, ou um dos outros, e
a identidade não se deixa cair no esquecimento quando, constantemente, pode ser grafada,
narrada ou tornar-se fonte-histórica no contexto social. Logo há uma constante aptidão por
entender que a cultura e a memória são faces de uma mesma moeda e que a atitude cultural
por excelência e que rodeia os sujeitos-respondentes, desde os testemunhos construídos ou
das expressões da natureza aos testemunhos vivos, são imprescindíveis para a construção da
identidade.
1.2-
IST-RJ: Envolvimento docente no Moodle
Um exemplo importante de incentivo, desenvolvimento e implementação de novas (e
outras) posturas educativas pode ser observado nos cursos desenvolvidos a distância pelo
Instituto Superior de Tecnologia/RJ (IST-RJ), na plataforma MOODLE, desde 2009. Este
projeto visa dar outras (e novas) ferramentas educacionais aos docentes de forma a aprofundar
suas formação e estabelecer outra trajetória à criatividade.
O primeiro segmento a utilizar o ambiente foi o programa de pós-graduação do IST. O
ambiente virtual de aprendizagem (AVA) MOODLE (modular object-oriented dynamic
learning environment), software livre e de apoio à aprendizagem, necessitou de customização
de acordo com as necessidades da pós-graduação em questão, de forma a servir de apoio à
aprendizagem de professores e alunos do curso. A idéia-base é dar suporte às aulas
presenciais, permitindo a interação, exposição, colaboração, descoberta pedagógica e
reflexão, tanto do nicho docente quanto discente.
A plataforma torna-se um espaço ‘multiuso e multifacetado’ (figura 02??) onde o
desenvolvimento das aulas exige a incorporação de diferentes tecnologias /mídias, e não mais
se centralizam na figura de UM professor. O processo de ensino e de aprendizagem torna-se
mais autônomo, livre, colaborativo e solidário, mesmo, em alguns momentos, dentro de
limites de tempo. Diante do sucesso da implementação da pós-graduação também na
plataforma Moodle, seguiu-se a sugestão de incorporar a graduação com todas as suas
disciplinas.
Neste momento houve a necessidade de realizar capacitações com os professores
como maneira de atualizar a formação, compreender a usabilidade das ferramentas e repensar
as dinâmicas educativas também aproveitando os recursos tecnológicos ou mesmo a própria
plataforma virtual. Após a realização da mesma, os professores puderam disponibilizar
conteúdos em diferentes formatos, adotar estratégias múltiplas, incentivar a pesquisa em
outros contextos etc. Por conseguinte, os professores observaram muitos benefícios:
• Agilidade na comunicação com os alunos;
• Possibilidade de disponibilizar muitos conteúdos complementares;
• Possibilidade de disponibilizar conteúdos específicos para grupos de alunos;
• Flexibilidade na negociação de datas e/ou prorrogação de datas para entrega de
trabalhos;
• Redução substancial no consumo de papel e tinta pelos alunos, que entregaram seus
trabalhos em formato digital;
• Redução do stress com pilhas de trabalhos a corrigir;
• Fim da clássica argumentação do aluno de que já entregou o trabalho e que eu o
perdi (o sistema registra data, hora, minuto e segundos da entrega);
• Possibilidade de corrigir trabalhos em qualquer lugar onde tenha acesso à Internet.
A figura 02 (acima) exibe o ambiente virtual da graduação do IST, acessível no
endereço eletrônico: www.moodle.ist-rio.net. Neste ambiente, várias categorias de acesso
(hiperlinks) foram criadas no intuito de organizar ações de trabalho e/ou de realização das
atividades, por exemplo, a categoria trabalhos de conclusão de cursos prevê a paulatina
organização dos trabalhos finais da graduação permitindo também um verdadeiro repositório
de conteúdos onde é possível gerenciar os trabalhos dos docentes, um a um.
Outra categoria que merece destaque é a organização das semanas tecnológicas, um
espaço criado para permitir o gerenciamento das palestras, imagens e artefatos que fizeram
parte de todas as feiras realizadas pelo IST/RJ. Ou seja, no IST/RJ, o ambiente Moodle é
usado também como um gerenciador de outras atividades.
figura 3
Outras categorias importantes são as seguintes:
Categoria Graduação 2010 / Primeiro semestre / noturno / diurno: permite localizar
para toda a comunidade as disciplinas que foram ofertadas para o primeiro
semestre de 2010, diurno ou noturno;
Categoria Pesquisa e Extensão: cursos ofertados pelo programa de pesquisa e
extensão do IST-RJ;
Categoria Semanas Tecnológicas: gerencia as semanas tecnológicas realizadas
pelo instituto superior de tecnologia do rio de janeiro;
Categoria projetos: gerencia projetos apresentados pela comunidade acadêmica.
Atualmente, há um total de 284 usuários estão cadastrados no ambiente da graduação e
78 usuários estão inscritos no ambiente da pós-graduação.
Na graduação as seguintes disciplinas usaram o ambiente como apoio:
• Tópicos Avançados;
• Projeto de Software;
• Redes I;
• Programação Orientada a Objeto I;
• Programação Orientada a Objeto II;
• Linguagem de Programação para WEB;
• Língua Portuguesa;
• HM - Interface Homem Máquina;
• Algoritmos e Linguagem de Programação I;
• Administração Aplicada 2010 N.
A figura 04 mostra o espaço no ambiente destinado a gerência do Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC) onde todas as informações, modelos de documentos estão
disponíveis pela coordenação, além de estratégias para permitir a interação professor aluno.
figura 04
A figura 05 mostra a estratégia adotada para o gerenciamento dos trabalhos e a
disponibilidade de todos os documentos necessários a criação do trabalho.
A figura 06 mostra o espaço onde acontece a interação aluno-professor.
Em julho de 2010, 23 trabalhos estão sendo gerenciados pelo ambiente. Em cada um,
como apresentado na figura 06, são apresentadas as etapas do TCC, o orientador responsável,
os orientados e o status. Ao final espera-se ter um grande repositório e histórico de interações.
O espaço virtual torna-se campo de diferentes ações e isto convoca alunos e
professores a repensar suas performances como ‘aprendentes’ ou como ‘interagentes’ junto às
informações e as solicitações educativas. Desta maneira, estimula-se a inserção digitalpedagógica dos docentes no intuito de se recondicionar as ferramentas virtuais à ação didática
e não, apenas, ao entretenimento.
II – IST e Moodle: provocação à metamorfose docente
A experiência do IST com a plataforma Moodle investe em rompimentos quanto às
perspectivas dos docentes sobre as possibilidades de dinâmicas na sala de aula. É o exercício
da mudança e da aprendizagem docente. São desafios que precisam ser compreendidos como
investimento na própria ação pedagógica.
Segundo Spyer (2007) toda participação no processo dependerá dos estímulos que
podem levar os sujeitos (educadores) a acreditar e participar do projeto. E são itens
importantes a esse estímulo, a:
[...] reciprocidade (uma pessoa fornece informações relevante
para um grupo na expectativa de que será recompensada recebendo
ajuda e informações úteis ao futuro), [...] o prestígio (para ser respeitado
e reconhecido dentro de um determinado grupo, um indivíduo pode
oferecer informações de qualidade, fartura de detalhes técnicos nas
respostas, apresentar disposição para ajudar os outros e redação
elegante), [...] o incentivo social (o vínculo a um determinado grupo
leva pessoas a oferecerem voluntariamente ajuda e informações), [...] o
incentivo moral (o prazer associado à prática de boas ações estimula
pessoas a doarem seu tempo e esforço). (SPYER, 2007, p. 36).
Uma afirmativa importante é necessária neste momento, segundo Nunes (2009):
a interação das formas de ensinar mediada por computador (e a
Internet) não pode ser estabelecida por si só, ou seja, apenas com a
implantação de programas diversos ou a ‘pura’ entrega de notebooks
aos professores. Inaugura-se por necessidades pessoais e profissionais
de um setor ou comunidade em torno de um assunto ou projeto e por
constantes momentos de capacitação, discussão e experiências.
A provocação de metamorfoses da linguagem educacional entre professores trazida
pela experiência do IST-RJ, gradativamente, vai diminuindo as estranhezas, as desconfianças,
os questionamentos e, mesmo a sensação de obsolescência docente. As capacitações na
plataforma Moodle potencializa a diversificação dos processo de interação e mediação; e
procura incentivar o desenvolvimento de novos olhares quanto a ação pedagógica. Ou seja,
objetiva-se uma nova organização de aprendizado cujas exigências estabelecem “novas
habilidades cognitivas, ênfase num processo de aprendizagem centrado na construção ativa do
conhecimento, fundamentos à experimentação e uso de múltiplos e modernos recursos da
informática em ambientes variados” (CAMPOS, 2003, p. 10).
Com isso, pode-se construir um ambiente propício a um processo de formação
cognitiva, de identidade e de memória sociocultural mais amigável, convergente e
significativa cuja trajetória pode estar livre da maioria das regras sociais e maleável às
diferentes apropriações das novas linguagens.
Conforme Santos, (2008, p. 32), diante de toda a reflexão feita neste trabalho,
entendemos que, com o surgimento das Tecnologias da Informação e da Comunicação
(TICs), o fator ‘tecnológico’ tem preocupada a maioria dos professores, pois apesar de
toda disseminação de artefatos tecnológicos, encontramos ainda alguns profissionais que
‘resistem’ em entrar de alguma maneira no mundo digital. Ou seja, mesmo de um enorme
aparato tecnológico envolvendo o cotidiano da sociedade contemporânea, muitos docentes
ainda se surpreendem (e desconfiam), por exemplo, do novo linguajar recheado de
anglicismos como: "plugar", "navegar", "surfar", mouse, link, modem, chip, Internet, e-mail,
Windows, "clicar" dentre outros.
Há certa estupefação (e desconfiança) diante dos usos e alcance de uma linguagem
linkada nas ‘novas’ formas de se comunicar e seus artefatos. É uma cultura em mutação mais
veloz e que tem demandado muitas reflexões dos docentes, principalmente, de língua
portuguesa, porque, segundo Santos (2009), os usos de recursos computacionais em sala de
aula requerem dos docentes, além de habilidades específicas, alguns cuidados especiais:
• Predisposição ao novo aprendizado;
• Familiaridade com os softwares a serem trabalhados;
• Planejamento didático com recursos digitais e virtuais adequados;
• Reconhecimento do perfil da turma;
• Metodologia centrada em desafios contextualizados;
• Avaliação de desempenho colaborativo.
Como exemplo das etapas acima e como sugestão ao aprendizado didáticotecnológico, apresentamos um artefato (figura 01) que vem possibilitando a criação de
material didático para surdos. Tal artefato é fruto de um trabalho de dissertação de mestrado
da UFRJ apresentado em 2008 pelo Prof. Ricardo Marciano.
Figura 07. Sistema de Autoria de Objetos Multimídia
A tela acima, do curso ‘Autoria de Objetos Multimídia’ (AOM), é formada por 03
colunas: a primeira coluna é intitulada ID e representa o número da apresentação criada
pelo(s) autor(es). Ao lado direito da ID está posicionada a segunda coluna, a coluna ‘título’,
que identifica o título da apresentação sugerida pelo(s) autor(es). Por fim, a terceira coluna
exibe uma breve descrição da apresentação. São apresentados alguns outros elementos, como
um link de paginação que permite a visualização de outras apresentações já desenvolvidas.
Para tornar-se um autor, o primeiro passo é o registro por parte do mesmo. Além de
visualizar as apresentações, é possível registrar-se clicando no link ‘registro’ mostrado na
parte inferior da tela principal. Depois de efetuado o registro, o autor poderá criar uma
apresentação e editá-las. O link ‘acessar’ transporta o(s) autor(es) para o ambiente que permite
a criação das apresentações de diferentes tipos. O autor pode criar apresentações do tipo
Vídeo sincronizado com slides ou vídeo sincronizado com texto. A figura 08 exibe um
exemplo de uma apresentação desenvolvida, no caso específico, vídeo sincronizado com
texto.
Figura 08. Exemplo de apresentação gerada pelo sistema.
Considerações Finais
Quando se pensa no processo de aprendizagem, em tempos de forte influência das
tecnologias digitais, e motivadas pelo desenvolvimento coletivo, deve se pensar no estímulo a
mudanças atitudinais, em reflexões mais significativas, em aceleramento da inclusão digital,
em diminuição das desconfianças e incertezas quanto ao uso dos suportes digitais e no alcance
das expectativas de ensino dos alunos.
Dentro de um conjunto hipertextualizado das diversas formas de conhecer, aprender,
ser e conviver com os quais podem se deparar ao longo do processo e da vivência
profissional, os professores estão num momento de (re)pensamento desconfiado, mas
necessário. E os cursos a distância projetados pelo IST-RJ e desenvolvidos na plataforma
Moodle procuram realizar tais objetivos respeitando o tempo do professor, suas expectativas e
suas dúvidas.
As interações propostas nas dinâmicas proposta no AVA Moodle valorizam as
habilidades de cada aluno e aprimoram as capacidades de mediação pedagógica dos
educadores. Segundo Primo (2001) é isso que devemos ter em mente quando usamos a
Internet e suas ferramentas digitais: a capacidade de mediação dialógica. E, “nesse sentido, é
preciso rejeitar, como Piaget, formas simplistas de empirismo social que tendem a confundir
intercâmbio com exposição, ou interação social com transmissão de conhecimentos”
(Lourenço, 1994, apud PRIMO, 2001, p. 17). Ou seja, a proposta é de valorização do diálogo,
da negociação, da cooperação, enfim de transformação mútua.
Como docentes, é preciso pensar sobre como ensinar tanto um tipo quanto outro tipo
de conhecimento por acréscimo e se esforçando por absorver a língua dos ‘nativos digitais’.
Isto envolve uma grande tradução das novas expectativas de aprendizagem e mudança de
metodologia da sala de aula; e envolve todos os novos conhecimento e pensamentos. Não é
apenas ‘aprender novas coisas’, mas aprender novas maneiras de fazer coisas velhas’.
Logico que, diante mão, devemos reconhecer que professores têm uma memória
sociocultural que os identifica com um determinado tempo, senão pelas ferramentas de que se
cerca para empreender aprendizagem, pelo menos, pelo conjunto teórico ao qual tem contato
em sua formação profissional. Ambas tornam-se suas identidades / marcas intrínsecas. A
sensação de pertença está ligada a uma comunidade cujas simbologias e sentimentos
relacionam-se às experiências vividas. Ou seja, está ligada á uma memória paradigmática
relacionada à construção linear do conhecimento.
Sendo assim, e favorecido pelo oferecimento constante de cursos de aprimoramento,
extensão, capacitação etc, pelo IST-RJ ou por outras instituições, os professores ‘imigrantes’
deve repensar o tempo da sala de aula, mas não necessariamente partir do zero. É tentar
(re)inventar uma forma de promover a adaptação dos materiais/recursos digitais
oportunizando a construção do conhecimento em diferentes ambientes e com diferentes
linguagens.
Quando se observa os professores como imigrantes digitais informa-se que estes estão
em outro tempo, o que pode ‘naturalizar’ (mas nunca paralisar) os desajustes sentidos quanto
ao uso das novas tecnologias. Neste caso, é preciso delicadeza quando abordamos essa relação
na prática de ensino. O computador e a Internet não são objetos da lembrança cultural dos
professores, ao contrário, são objetos aparecidos depois. Então dar continuidade aos processos
de aprendizagem diversificados aproveitando o aumento do acesso às novas tecnologias por
parte dos alunos, junto aos professores, não acontece de um dia para o outro.
Hoje, pensando em metodologias, os professores precisam aprender a se comunicar na
linguagem e estilo de seus alunos também. Isto não significa mudar o sentido do que é
importante. Mas isso significa ir mais rápido, menos passo a passo, mais em paralelo, com
mais acesso aleatório, dentre outras coisas.
De um currículo tradicional, inclui-se, hoje, também a ética, a política, a sociologia,
as línguas e outras coisas que vão com eles. Com temas, no mínimo interessantes, e com
profusa divulgação, os professores ‘imigrantes’ precisam se esforçar para entender este
panorama e convocar, com mais certeza, as ferramentas digitais à cena dos desafios de ensino.
Referências
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Site: Portal do Professor – http://portaldoprofessor.mec.gov.br
Site: Centro de Tecnologia Educacional (CdTE) – http://www.cdte.educacao.rj.gov.br
Site: Portal ProInfo – http://www.proinfo.mec.gov.br
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