OLIMPÍADAS REGIONAIS DE FÍSICA 2005 14 DE MAIO DE 2005 DURAÇÃO DA PROVA: 1 h 15 min PROVA TEÓRICA ESCALÃO B Problema 1 O Conselho Executivo de uma Escola Secundária está seriamente preocupado com a conta da electricidade durante os meses de Inverno. Verificou pela factura da electricidade que num dia típico de Inverno (temperatura média de 8º C numa sala não aquecida) a energia eléctrica consumida numa sala de aula em que está instalado um aquecedor de 4000 W, em funcionamento contínuo, custou 9,60 €, um valor considerado incomportável pelo orçamento da Escola. a) Determine o custo do kWh da energia eléctrica consumida pela Escola. b) Preocupado com o orçamento da Escola, um aluno de Física propôs que o aquecimento eléctrico fosse substituído pelo aquecimento humano. O raciocínio do aluno foi o seguinte: os alunos numa sala de aula, estando a uma temperatura superior à da sala, vão radiar energia térmica que poderá substituir a energia radiada pelo aquecedor eléctrico. Supondo que há 20 alunos na sala, que a superfície do corpo de cada um deles é 1,20 m2 e que a emissividade do corpo humano é e = 1, calcule a potência da radiação emitida pelos 20 alunos e comente as possibilidades de sucesso da proposta do aluno de Física. Constante de Stefan-Boltzmann σ = 5,67 × 10-8 W m-2 K-4 1/2 Problema 2 A Nova Zelândia é o país que se encontra diametralmente oposto a Portugal, no globo terrestre. Pretende-se criar um serviço de transporte de correspondência entre a Nova Zelândia e Portugal, através de um satélite a uma altitude h = 100 km. A correspondência será transportada entre a Terra e o satélite através de um “vai-vem” espacial, que se supõe seguir uma trajectória rectilínea e vertical. Suponha que o satélite tem velocidade de módulo constante e que se pode desprezar, para este fim, o movimento de rotação da Terra. Considere a Terra como uma esfera de raio RT = 6400 km e massa MT = 6,0 × 1024 kg e utilize para constante da gravitação G = 6,7 × 10-11 N⋅m2/kg2. a) O lançamento do “vai-vem” na subida é iniciado através de um feixe laser enviado do satélite para o ponto de lançamento à superfície da Terra. Estime o módulo da velocidade média que deverá ter o “vai-vem” para que, recebendo o sinal laser quando o satélite se encontra na vertical do ponto do lançamento, se encontre com este na volta seguinte. b) Quanto tempo leva a correspondência para chegar da Nova Zelândia a Portugal, supondo que o tempo de descida do “vai-vem” é igual ao tempo de subida? c) Numa determinada passagem sobre Portugal o carteiro-cosmonauta que viaja no satélite deixou partir o “vai-vem” sem o saco do correio. Para remediar a situação, largou simplesmente este saco do lado de fora da janela do satélite, confiando que ele assim chegasse ao destino. Comente, em duas ou três linhas, as possibilidades de sucesso desta operação. 2/2 Proposta de Resolução Problema 1 a) O aquecedor de 4000 W consome por dia 4,000 kW × 24 h = 96 kWh. Como o custo foi de 9,6 €, o preço de cada kWh de energia eléctrica é 9,6/96 = 0,10 €. b) Vamos tomar como temperatura do corpo humano 37 ºC, ou seja T = 310 K. A temperatura da sala será T’ = 281 K. A energia que o corpo de cada aluno perde por unidade de tempo e por unidade de área é E = e σ (T4- T’ 4) = 1 × 5,67 × 10-8 × (3104 – 2814) = 1,70 × 102 W m-2. Multiplicando pela área da superfície de cada aluno e pelo número de alunos, obtemos para a potência total radiada pelos 20 alunos ET = 1,70 × 102 × 1,20 × 20 = 4083 W. Apesar de o resultado obtido para a potência radiada pelos alunos ser semelhante ao da potência radiada pelo aquecedor, este processo não terá sucesso porque: O resultado é irrealista porque: a temperatura exterior do corpo humano é sempre inferior a 37 ºC; a emissividade do corpo humano é inferior a 1 Além disso, grande parte dessa energia fica retida junto do corpo, devido à utilização das roupas. 1/2 Problema 2 a) O movimento do satélite é circular uniforme, sendo o módulo da velocidade dado por v = ar . A aceleração do satélite pode obter-se de mM FG = G 2 T = ma ou mg = ma . r Como r = RT + h , a aceleração do satélite terá o módulo igual a a=G MT (RT + h ) 2 = 6,7 × 19 −11 6,0 × 10 24 (6,4 × 10 6 + 0,1 × 10 ) 6 2 = 9,5 m/s2 . Consequentemente, v = ar = 9,5 × 6,5 × 10 6 = 7,9 × 10 3 m s-1. O intervalo de tempo entre duas passagens consecutivas pela vertical do ponto de 2π (RT + h ) 2 × 3,14 × 6,5 × 10 6 = lançamento é dado por t = = 5.2 × 103 s. Este será o 3 v 7,9 × 10 tempo de subida do “vai-vem”. Consequentemente, o módulo da sua velocidade 100 km = 69 km/h. média deverá ser v v − v = 5,2 × 10 3 s b) O percurso entre a Nova Zelândia e Portugal, a 100 km de altitude, tem comprimento l = π (RT + h ) = 3,14 × 6,5 × 10 6 m. O tempo que o satélite necessita para se deslocar da vertical da Nova Zelândia à vertical de Portugal (a 100 km de l 3,14 × 6,5 × 10 6 altitude) é, então, dado por t = = = 2,6 × 10 3 s. 3 v 7,9 × 10 Adicionando a este intervalo de tempo os intervalos de tempo de subida e descida do “vai-vem”, obtemos o tempo que a correspondência leva da Nova Zelândia a Portugal, que é 5 × 2.6 × 103 s = 1,3 × 104 s = 3,6 h. c) Se o carteiro-cosmonauta colocar simplesmente a mala do correio do lado de fora da janela do satélite, ela continuará sempre em órbita junto ao satélite e nunca chegará a Portugal. 2/2