Expressão de Cinco Diferentes Proteínas de Interesse Farmacológico em Sementes Transgênicas de Soja [Glycine max L. (Merril)]. Dissertação de mestrado apresentada à banca examinadora do Programa de Pós-Graduação “Stricto Sensu” em Ciências Genômicas e Biotecnologia da Universidade Católica de Brasília. Nicolau Brito da Cunha Orientador: Elíbio Leopoldo Rech Filho, PhD. Brasília 2008 -i- Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. Nicolau Brito da Cunha Expressão de Cinco Diferentes Proteínas de Interesse Farmacológico em Sementes Transgênicas de Soja [Glycine max L. (Merril)]. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação “Stricto Sensu” em Ciências Genômicas e Biotecnologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito para obtenção do Título de Mestre em Ciências Genômicas e Biotecnologia. Orientador: Elíbio Leopoldo Rech Filho, PhD. Brasília 2008 - ii - C972e Cunha, Nicolau Brito da. Expressão de cinco diferentes proteínas de interesse farmacológico em sementes transgênicas de soja [Glycine max L. (Merril)] / Nicolau Brito da Cunha. – 2008. 123 f. : il. ; 30 cm. Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2008. Orientação: Elíbio Leopoldo Rech Filho. 1. Soja. 2. Soja – Melhoramento genético. 3. Insulina. 4. Hormônios. I. Rech Filho, Elíbio Leopoldo, orient. II. Título. CDU 633.34 Ficha elaborada pela Coordenação de Processamento do Acervo do SIBI – UCB. - iii - ATA DE DEFESA Dissertação de autoria de Nicolau Brito da Cunha, intitulada: “Expressão de Cinco Diferentes Proteínas de Interesse Farmacológico em Sementes Transgênicas de Soja [Glycine max L. (Merril)].”, requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciências Genômicas e Biotecnologia, defendida e aprovada em , pela banca examinadora constituída por: Elíbio Leopoldo Rech Filho, PhD, orientador (Embrapa, Cenargen) Natália Cristina Verza Ferreira, PhD, membro externo (Embrapa, Cenargen) Octávio Luiz Franco, PhD, membro interno (Universidade Católica de Brasília) Brasília 2008 - iv - Dedico este trabalho a Antônio Brito da Cunha, meu avô. -v- AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais, Elza e Eduardo, por serem pessoas extraordinárias e generosas, os grandes responsáveis pela minha educação e minha trajetória, que me incutiram o hábito da leitura e me proporcionaram o contato diário com uma das mais completas bibliotecas que eu já tive notícia e a oportunidade de conhecer uma boa parte do mundo. Tudo isso tem um valor inestimável para mim, muito obrigado. Agradeço aos meus avós: Erna e Ettore Battaggia (in memoriam) e Lygia e Antônio Brito da Cunha, queridos incentivadores dos meus estudos, principalmente meu avô Antônio, o maior cientista que eu já conheci, meu grande amigo e principal influência, que sempre me enviou livros de São Paulo, hábito que se iniciou desde minha infância e se estende até hoje, e nunca cobrou a devolução de exemplares que me “emprestava” quando eu o visitava. Nunca me esquecerei de vocês. Agradeço à Bárbara, minha companheira e conselheira, que agüentou minha ausência e horários erráticos no laboratório e sempre me contagiou com seu carinho e bom-humor. Você é fundamental para mim. Agradeço aos meus irmãos, Eduardo e Lorena; muito obrigado pela amizade. Agradeço ao meu orientador Dr. Elíbio Leopoldo Rech Filho, um dos maiores cientistas com quem eu já tive contato, que aceitou ensinar um garoto novato e inexperiente há alguns anos atrás e concedeu minha primeira oportunidade profissional. Somente por esse fato eu jamais o esquecerei. Obrigado pelos ensinamentos, dicas e conversas desde estrutura de genes e construção de plasmídeos até questões envolvendo biossegurança, planejamento de experimentos e sobre os meandros da pesquisa científica. Seu conhecimento, experiência e principalmente amizade foram cruciais para minha formação e aperfeiçoamento. Agradeço aos Doutores Francisco José Lima Aragão, Giovanni Rodrigues Vianna e Cristiano Lacorte, cientistas brilhantes e meus co-orientadores, além de grandes amigos. Os três são pesquisadores excepcionais, cujo contato foi muito valioso para minha formação não apenas profissional, mas também intelectual. Muito obrigado à Elsa, Luís e Warley, sem a experiência e amizade de vocês muitos dos meus experimentos não sairiam do papel. Tenho um enorme respeito e admiração pelos três. Muito obrigado aos meus grandes amigos do Laboratório de Transferência de Genes, colegas a quem eu admiro e tive o prazer de trabalhar diariamente nos - vi - últimos sete anos: Alexandre, Gustavo, Emanuel, Sharon, Júlio, Maria Laine, Kenny, Lívia, Andréa, Aisy, Érica, Thaís, Margareth, Lílian, Cristiane, Sérgio, Fábio, Luisa, Betúlia, Paula, Welcimar, Hugo, Angélica, Danielas, Larissa, Ana, Gabriela, Aline, Nayche, Cristina, Renata, Natália, Raquel e André. Muito obrigado às doutoras Ana Cláudia e Ana Cristina e aos colegas do laboratório de microscopia do Cenargen. Sua participação nos experimentos de imunocitoquímica foi fundamental para a obtenção dos resultados. Obrigado aos Doutores Marcelo Brígido e Andréa Maranhão, do Laboratótio de Imunologia Molecular da UnB, por terem cedido bibliotecas de cDNA do FIX humano e do scFv anti-CD18, além do anticorpo policlonal contra proteína A. Agradeço à doutora Natália Verza e aos doutores Tatsuya Nagata e Octávio Luiz Franco por terem sido meus professores e aceito participar da banca examinadora e da qualificação. Suas críticas e sugestões foram de grande valia para a condução do trabalho e obtenção de resultados. Muito obrigado aos professores da UCB, principalmente aos doutores Eliane Noronha, Betânia Quirino, Georgios Pappas Jr e Ruy Caldas, os quais eu pude assessorar nas aulas de Bioquímica na graduação da UCB, durante os últimos dois anos. Aprendi muito com vocês. Agradeço à Embrapa por custear meus estudos durante o mestrado no Cenargen. Agradeço aos pesquisadores e colegas de outros laboratórios do Cenargen e da minha turma na pós- graduação na UCB. Agradeço a três grandes professores que eu tive na Universidade de Brasília: Dr. Fernando Fortes (Biofísica) e os Doutores Jean Kleber e Wenceslau Goedert, meu grande amigo, mestre de ciência de solos. Agradeço aos meus grandes amigos de longa data, pessoas muito importantes e cuja companhia vem de tempos ainda mais remotos ao meu ingresso no Laboratório de Transferência de Genes: Waldir (parceiro de discos do U2), Thiago, Felipe, Mário, Gabriel, Paulinho, João Bernardo (quem me apresentou o rock progressivo), Leonardo, Mariana, Débora, Ester e Kátia Lopes. - vii - “Imagine a world in which any protein, either naturally occurring or designed by man, could be produced safely, inexpensively and in almost unlimited quantities using only simple nutrients, water and sunlight. This could one day become reality as we learn to harness the power of plants for the production of recombinant proteins on an agricultural scale. Molecular farming in plants has already proven to be a successful way of producing a range of technical proteins. The first plant-derived recombinant pharmaceutical proteins are now approaching commercial approval, and many more are expected to follow.” Julian, K-C.Ma The production of recombinant pharmaceutical proteins in plants. Nature Rev Genetics, october. 2003. - viii - RESUMO Palavras chave: Soja transgênica. Proteínas heterólogas. Biorreatores vegetais. Insulina humana. Hormônio de crescimento humano. Fator de coagulação sangüínea. Anticorpos recombinantes. As plantas superiores representam um sistema conveniente e versátil para a produção em larga escala de proteínas heterólogas. A confirmação desse potencial tem sido demonstrada pelo sucesso comercial de sistemas de produção desses polipeptídeos, baseados na transformação genética das mais variadas espécies vegetais, resultando atualmente na produção eficiente de mais de 100 diferentes proteínas heterólogas. Uma porcentagem significativa desse conjunto de polipeptídeos recombinantes engloba aquelas cujo interesse farmacológico e terapêutico se mostra evidenciado em função das propriedades bioquímicas apresentadas por essas moléculas, tais como hormônios, fatores de crescimento, anticorpos e fatores de coagulação sangüinea. Biorreatores vegetais apresentam inúmeras vantagens em relação a outros sistemas de produção de biofármacos recombinantes, principalmente no que diz respeito à praticidade, economia e segurança, apesar de algumas limitações envolvendo homogeneidade do produto, baixa estabilidade protéica e baixos níveis de expressão ainda se mostrarem recorrentes. Dessa maneira a escolha de plantas de soja [Glycine max L.(Merril)] como veículos de expressão de biofármacos de interesse comercial visa não apenas contornar algumas dessas dificuldades como também aproveitar características extremamente favoráveis para sua utilização como biorreatores de fármacos protéicos, tais como sua baixa freqüência de alogamia, ausência de parentes silvestres no Brasil e seu potencial natural de acúmulo protéico nas sementes, através de uma estratégia de expressão tecido-específico e de endereçamento molecular desses polipeptídeos para prolongamentos dos retículos endoplasmáticos de células cotiledonares das sementes, denominados corpos protéicos. Para tanto, foram construídos diferentes cassetes de expressão em nosso laboratório contendo cinco seqüências codificadoras de biofármacos com atividade efetora em humanos e de considerável impacto social: a pró-insulina, o hormônio de crescimento e o fator IX de coagulação sangüínea humanos; e fragmentos de anticorpos anti-câncer de mama e anti-reperfusão pósisquêmica, sob controle do promotor tecido-específico de sementes da β-faseolina do feijoeiro-comum (Phaseolus vulgaris L.) ― a mais abundante nas sementes de feijão; além do peptídeo-sinal da α-coixina de Coix (Coix lacrima-jobi L.), responsável pelo endereçamento dos polipeptídeos para os corpos protéicos cotiledonares. Após a clonagem dos cassetes de expressão foram obtidas diferentes linhagens transgênicas de soja através do processo de biobalística e análises moleculares e bioquímicas foram realizadas para avaliar o número de cópias dos diferentes transgenes integradas ao genoma de cada linhagem, a segregação dos transgenes em sucessivas gerações de multiplicação de sementes em casa de vegetação, os níveis de expressão dos transgenes, a cinética química de expressão ao longo do ciclo de produção de sementes e a localização subcelular do acúmulo de proteínas heterólogas nas sementes. - ix - ABSTRACT Key words: Transgenic soybean. Heterologous proteins. Plant-based bioreactors. Human insulin. Human growth hormone. Coagulation factor. Recombinant antibodies. Superior plants represent a convenient system for large-scale production of heterologous proteins. Its potential has been confirmed by the commercial success of such production systems, based on genetic transformation of a broad range of vegetable species, resulting in efficient production of more than 100 different heterologous proteins. A representative percentage of recombinant polypeptides synthesized in transgenic plants is based in molecules with pharmacological applications, such as hormones, growth factors, antibodies and coagulation factors. Plant-based bioreactors presents a series of advantages when compared with other production systems, specially in what concerns of economy, easy-hand manipulation and biosafety, besides some homogeneity, yeld-production and stability limitations. The choice for Soybean plants [Glycine max L.(Merril)] for function like expression vehicles of biopharmaceutical proteins means not only to solve such problems but to explore natural and favorable abilities presented by these organisms such as low allogamy frequency, natural absence of related plants in Brazil and its excellence in seed protein accumulation. Tissue-specific expression and protein targeting of heterologous proteins to protein bodies can maximize their accumulatin in transgenic seeds. Different expression cassettes were constructed in our laboratory, with the purpose to express five different coding sequences of social impact proteins such as the human pro-insulin, growth hormone and coagulation factor IX, and two recombinant antibodies: sc FvDIR83D4 and antiCD18, under control of the tissue-specific β-Phaseolin promoter (the most abundant In bean seeds) and α-coixin signal-peptide (subcellular cotiledonar target sequence). After gene cloning, different soybean transgenic lines were obtained by biobalistics, and molecular and biochemical analysis were carried out to determine the copy number of transgenic sequences integrated in plant genome, transgene segregation in alternate generations, protein accumulation levels, gene expression kinetics during plant cycle and subcellular targeting. -x- LISTA DE FIGURAS Figura 1: Seqüência nucleotídica e peptídica (em negrito) do peptídeo-sinal da α-coixina. Figura 2: Seqüência codificadora da pró-insulina humana. Acesso AY899304, GenBank.; e sua respectiva seqüência de aminoácidos (em negrito). Figura 3: A) Representação esquemática da pró-insulina humana com os sítios de clivagem das convertases PC1 e PC2, o peptídeo C, as cadeias A e B e as três pontes dissulfeto estabilizadoras da estrutura. B) Estrutura terciária da pró-insulina humana; PDB ID: 1sju. Figura 4: Insulina humana madura após sofrer as clivagens proteolíticas. Figura 5: Estrutura terciária do hormônio de crescimento humano (hGH). PDB ID: 1hgu. Figura 6: Seqüência codante do hGH. Acesso NM000515, GenBank.; e sua respectiva seqüência de aminoácidos (em negrito). Figura 7: Estrutura terciária do fator IX de coagulação sangüínea humana. PDB ID: irfn. EC 3.4.21.22. Figura 8: Seqüência codante do FIX humano contendo 1.326 pb, Acesso NM000133, GenBank.; e sua respectiva seqüência de aminoácidos (em negrito). Figura 9: Seqüência codante do scFv DIR83D4. Nucleotídeos em preto correspondem à região variável da cadeia pesada; em vermelho ao peptídio conector de glicina e serina e em azul à porção variável da cadeia leve. Em negrito é apresentada a seqüência de aminoácidos correspondente. Figura 10: Seqüência codante do scFv anti-CD18. Nucleotídeos em preto correspondem às regiões variáveis das cadeias leve e pesada; em vermelho ao sítio da enzima NcoI e em azul à seqüência nucleotídica parcial da proteína A. Os aminoácidos correspondentes estão em negrito. Figura 11: Demonstração da construção do plasmídeo de expressão pFASPSproINS (4528 pb). Figura 12: Demonstração da construção do plasmídeo de expressão pFASGH (4.786 pb). Figura 13: Oligonucleotídeos utilizados para amplificar o fragmento contendo a seqüência codante do FIX humano. Em verde se encontram as seqüências dos sítios de restrição, a do peptídeo-sinal de αcoixina se encontra sublinhada e em negrito as de anelamento no cDNA do FIX. Figura 14: Demonstração da obtenção do fragmento NcoI-PS-FIX-BamHI (1.412 pb). Figura 15): Demonstração da construção do plasmídeo de expressão pFASPSFIX (5.458 pb). Figura 16): Demonstração da construção do plasmídeo de expressão pFASPSscFvDIR (4.826 pb). Figura 17: Oligonucleotídeos utilizados para amplificar o fragmento contendo a seqüência codante do scFv anti-CD18. Em verde se encontram as seqüências dos sítios de restrição, em sublinhado a do peptídeo-sinal de α-coixina e em negrito as de anelamento no cDNA do scFv anti-CD18. Figura 18: Demonstração da obtenção do fragmento EcoRV-PS-Anti-CD18-BamHI (1.046 pb). Figura 19): Demonstração da construção do plasmídeo de expressão pFASPSAnti-CD18 (5.092 pb). Figura 20: Fragmento contendo o gene ahas, utilizado como marcador de seleção nos experimentos de co-transformação de soja. - xi - Figura 21: Reação de PCR demonstrando a amplificação de um fragmento de aproximadamente 701 pb interno ao gene da pró-insulina humana. 1 e 2 correspondem às sementes transgênicas das linhagens 194 e 195; 3 à semente não-transgênica da mesma linhagem 195; 4 à semente sabidamente não-transformada (controle negativo) controle negativo; 5 à água; 6 ao plasmídeo pFASPSproINS e 7 ao marcador de peso molecular 1 kb DNA ladder® (Invitrogen). Figura 22: Reação de PCR demonstrando a amplificação de um fragmento de aproximadamente 328 pb interno ao gene do hGH. 1, 2, 5, 6, 7, 8, 9, 10 e 11 correspondem a sementes transgênicas das linhagens 23 /01, 23/03, 23/06, 23/09 e 23/19; 3, 4 e 12 a sementes não-transgênicas das linhagens 23 /01 e 23/19; 13 ao controle negativo; 14 à água; 15 ao plasmídeo pFasGH e 16 ao marcador de peso molecular 1 kb DNA ladder® (Invitrogen). Figura 23: Reação de PCR demonstrando a amplificação de um fragmento de aproximadamente 495 pb interno ao gene do FIX humano. 1, 3, 4, 5, 6 e 7 correspondem a sementes transgênicas das linhagens 01, 07, 51, 73, 101 e 107; 2 à semente não-transgênica da linhagem 01; 8 ao controle negativo; 9 à água; 10 ao plasmídeo pFASPSFIX e 11 ao marcador de peso molecular 1 kb DNA ladder® (Invitrogen). Figura 24: Reação de PCR demonstrando a amplificação de um fragmento de aproximadamente 450 pb interno ao gene do scFv DIR83D4. 1, 2, 3, 4 e 5 correspondem a sementes transgênicas da linhagem 13/27; 6 ao controle negativo; 7 à água; 8 ao plasmídeo pFASPSscFvDIR83D4 e 9 ao marcador de peso molecular 1 kb DNA ladder® (Invitrogen). Figura 25: Reação de PCR demonstrando a amplificação de um fragmento de aproximadamente 517 pb interno ao gene do scFv anti-CD18. 1, 3, 4, 6 e 11 correspondem a sementes transgênicas das linhagens 12, 26, 61 e 68; 2, 5, 7, 8, 9 e 10 a sementes não-transgênicas das mesmas linhagens; 12 ao controle negativo; 13 à água; 14 ao plasmídeo pFASPSAnti-CD18 e 15 ao marcador de peso molecular 1 kb DNA ladder® (Invitrogen). Figura 26: Southern blot de plantas R1 de três linhagens distintas transformadas com o plasmídeo pFasGH. 1, 2 e 3 correspondem a plantas da linhagem 23/01; 4, 5, 6, 7 e 8 a plantas da linhagem 23/03; 9, 10, 11, 12 e 13 a plantas da linhagem 23/09; 14 a uma planta sabidamente não-transgênica (controle negativo); 15 ao plasmídeo pFasGH de 4. 786 pb (100 pg); 16 ao marcador de peso molecular 1 kb DNA ladder® (Invitrogen). Figura 27: Southern blot de plantas R1 de duas linhagens distintas transformadas com o plasmídeo pFASPSFIX. 1 corresponde à planta da linhagem 51; 2 à planta da linhagem 171; 3 ao controle negativo; 4 ao plasmídeo pFASPSFIX de 5.458 pb (100 pg) e 5 ao marcador de peso molecular 1 kb DNA ladder® (Invitrogen). Figura 28: Southern blot de plantas R1 da linhagem 13/27 transformada com o plasmídeo pFASPSscFvDIR. 1, 2, 3, 4 e 5 correspondem a plantas da linhagem transgênica; 6 ao controle negativo e 7 ao plasmídeo pFASPSscFvDIR de 4.826 pb (100 pg). Figura 29: Análise de RT-PCR de sementes verdes R2, PCR positivas para o gene do hGH. 1, 2, 3 e 4 correspondem respectivamente às sementes transgênicas das linhagens 23/01, 23/03, 23/09 e 23/19; 5 à semente de uma planta sabidamente não-transformada (controle negativo); 6 à água; 7 ao plasmídeo pFasGH e 8 ao marcador de peso molecular 1 kb DNA ladder® (Invitrogen). Figura 30: Análise de RT-PCR de sementes verdes R2, PCR positivas para o gene do FIX. 1, 2 e 3 correspondem respectivamente às sementes transgênicas das linhagens 01, 07 e 171; 4 ao controle negativo; 5 à água; 6 ao plasmídeo pFASPSFIX e 7 ao marcador de peso molecular 1 kb DNA ladder® (Invitrogen). Figura 31: Análise de RT-PCR de sementes verdes R5, PCR positivas para o gene do scFv DIR83D4. 1 e 2 correspondem a sementes transgênicas da linhagem 13/27; 3 ao controle negativo; 4 à água; 5 ao plasmídeo pFASPSscFvDIR e 6 ao marcador de peso molecular 1 kb DNA ladder® (Invitrogen). Figura 32: Detecção do hGH em sementes transgênicas R1. 1, 2 e 3 correspondem respectivamente a 100 µg de extratos protéicos de sementes das linhagens 23/19, 23/09 e 23/03; 4 a 100 µg de - xii - semente sabidamente não-transformada (controle negativo); 5 a 100 ng de hGH purificado de E. coli e 6 ao marcador de massa molecular All Blue® (Bio-Rad). Figura 33: Detecção do FIX humano em sementes transgênicas R1. 1, 2 e 3, correspondem respectivamente a 100 µg de extratos protéicos de sementes das linhagens 01, 07 e 51; 4 e 5 a sementes da linhagem 171; 6 a 100 µg de controle negativo; 7 a 40 ng de FIX comercial (SIGMA) e 8 ao marcador de massa molecular All Blue®(Bio-Rad). Figura 34: Detecção do scFv DIR83D4 em sementes transgênicas R5. 1, 2, 3 e 4 correspondem respectivamente a 100 µg de extratos protéicos de sementes da linhagem 13/27; 5 a 100 µg de controle negativo; 6 a 300 ng de scFv DIR83D4 purificado de E. coli e 7 ao marcador de massa molecular All Blue® (Bio-Rad). Figura 35: Detecção do Anti-CD18 em sementes transgênicas R1. 1 e 2, correspondem a 90 µg de extratos protéicos de sementes da linhagem 12; 3 e 4 à mesma massa de sementes da linhagem 26; 5 ao controle negativo e 6 ao marcador de massa molecular All Blue® (Bio-Rad). Figura 36: Avaliação da cinética de expressão do hGH em sementes transgênicas em diferentes estágios de maturação fisiológica. 1, 2, 3 e 4 correspondem a 80 µg de extratos protéicos de sementes R1 PCR positivas (linhagem 23/19), que apresentam diferentes níveis de acúmulo do hormônio. Figura 37: Avaliação da cinética de expressão do FIX em sementes transgênicas em diferentes estágios de maturação fisiológica. 1, 2, 3 e 4 correspondem a 80 µg de extratos protéicos de sementes R1 PCR positivas (linhagem 07), que apresentam diferentes níveis de acúmulo do fator de coagulação. Figura 38: Avaliação da cinética de expressão do scFv DIR83D4 em sementes transgênicas em diferentes estágios de maturação fisiológica. 1, 2, 3 e 4 correspondem a 80 µg de extratos protéicos de sementes R5 PCR positivas (linhagem 13/27), que apresentam diferentes níveis de acúmulo do anticorpo. Figura 39: Imunocitoquímica de seções ultra-finas de cotilédones, mostrando o acúmulo subcelular da pró-insulina em sementes R1 de soja transgênica. CP = Corpos Protéicos; CO = Corpos de Óleo. 1 e 2 correspondem a sementes transgênicas da linhagem 194; 3 à semente transgênica da linhagem 195 e 4 à semente não-trasngênica (controle negativo). Figura 40: Imunocitoquímica de seções ultra-finas de cotilédones, mostrando o acúmulo subcelular do hGH em sementes R1 de soja transgênica. CP = Corpos Protéicos; CO = Corpos de Óleo; PC = Parede Celular. 1 e 2 correspondem a sementes transgênicas da linhagem 23/19; 3 à semente transgênica da linhagem 23/09 e 4 à semente não-trasngênica (controle negativo). Figura 41: Imunocitoquímica de seções ultra-finas de cotilédones, mostrando o acúmulo subcelular do FIX em sementes R1 de soja transgênica. CP = Corpos Protéicos; CO = Corpos de Óleo. 1 e 2 correspondem a sementes transgênicas da linhagem 07; 3 à semente transgênica da linhagem 171 e 4 à semente não-trasngênica (controle negativo). Figura 42: Imunocitoquímica de seções ultra-finas de cotilédones, mostrando o acúmulo subcelular do scFv DIR83D4 em sementes R5 de soja transgênica. CP = Corpos Protéicos; CO = Corpos de Óleo; PC = Parede Celular. 1, 2 e 3 correspondem a sementes transgênicas da linhagem 13/27 e 4 à semente não-trasngênica (controle negativo). Figura 43: Imunocitoquímica de seções ultra-finas de cotilédones, mostrando o acúmulo subcelular do anti-CD18 em sementes R1 de soja transgênica. CP = Corpos Protéicos; CO = Corpos de Óleo; MP = Membrana Plasmática; PC = Parede Celular. 1 e 2 correspondem a sementes transgênicas da linhagem 12; 3 à semente da linhagem 26 e 4 à semente não-trasngênica (controle negativo). - xiii - LISTA DE TABELAS Tabela 1: Proteínas de potencial interesse comercial produzidas em sistema vegetal. Tabela 2: Importantes proteínas farmacêuticas produzidas em plantas transgênicas. Tabela 3: Seqüência de oligonucleotídeos utilizados como primers para análise de PCR. Tabela 4: Pares de primers utilizados e o tamanho dos fragmentos amplificados. Tabela 5: Linhagens transgênicas de soja obtidas por biobalística. Tabela 6: Estimativas de concentração de três proteínas heterólogas em sementes transgênicas. - xiv - LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS µm: Micrometro µmoles; Micromoles µg: Micrograma µL: Microlitro µM: Micromolar A. thaliana: Arabidopsis thaliana A. tumefaciens: Agrobacterium tumefaciens Arg 32: Arginina 32 Arg 65: Arginina 65 BAP: 6-Benzilaminopurina BCIP: 5-bromo-4-cloro-3-indolil fosfato C. jobi: Coix Lacyima jobi CaMV: Cauliflower mosaic virus CBMEG: Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética cDNA: DNA complementar Cenargem: Centro Nacional de Recursos Genéticos e Biotecnologia Ci/mol: Curie por mol CNA: Confederação Nacional da Agricultura CNPSo: Centro Nacional de Pesquisa de Soja CO: Corpo de Óleo CONAB: Companhia Nacional de Abastecimento CP: Corpo Protéico CTAB: (brometo de cetil-trimetil-amônio) C-terminal: Carboxi terminal cv: Cultivar dm3: Decímetro cúbico DNA: Ácido desoxirribonucléico dNTP: Desoxinucleotídeos 5’-trifosfato E. coli: Escherichia coli Embrapa: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EPSPS: 5-enol-piruvil-shiquimato-3-fosfato sintase EPAMIG; Empresa de Pesquisa Agropecuáia de Minas Gerais ETEC: enterotoxigenic E. coli - xv - FDA: Food and Drug Administration FIX: Fator IX de coagulação sangüínea FVII: Fator VII de coagulação sangüínea FVIII: Fator VIII de coagulação sangüínea FX: Fator X de coagulação sangüínea FXI: Fator XI de coagulação sangüínea FXIII: Fator XIII de coagulação sangüínea GenBank: NIH genetic sequence database Gly4: Glycine 4 GUS: Glucuronidase ha: Hectare HBV: Hepatitis B virus HCl: Ácido clorídrico HCMV: Human cytomegalovirus hGH: human growth hormone HMGR2: hidroxi-3-metilglutaril-Coa-redutase de tomate Kb: Kilobases KCl: Cloreto de potássio kDa: Kilodalton Kg: Kilograma KH2PO4: Dihidrogenofosfato de potássio LT-B: subunidade B da toxina termolábil LTG: Laboratório de Transferência de Genes M: Molar Ma: miliampere mg/L: miligrama por litro Mg: Miligrama MgCl2: Cloreto de magnésio mM: Milimolar MP: Membrana Plasmática mRNA: RNA mensageiro MS: Murashige & Skoog Na2HPO4: Fosfato de sódio dibásico NaCl: Cloreto de sódio NBT: Nitro blue tetrazolium ND: Não Determinado ng/µL: Nanograma por microlitro - xvi - ng: Nanograma N-terminal: Amino terminal ºC: Graus Celsius Pb: Pares de bases PC: Parede Celular PCR: Reação em cadeia da polimerase PDB: Protein Data Bank pH: Potencial hidrogeniônico PIB: Produto Interno Bruto PST: Proteínas Solúveis Totais PSTF: Proteínas Solúveis Totais de Folhas RE: Retículo Endoplasmático RNA: Ácido ribonucléico scFv: single-chain fragment variable Ser1: Serine 1 sp.: specie TBSV: Tomato bushy stunt virus T-DNA: DNA de transferência U: Unidade enzimática UCB: Universidade Católica de Brasília UnB: Universidade de Brasília Unicamp: Universidade Estadual de Campinas US$: Dólar UV: Ultra Violeta V: Volts VH: domínio variável da cadeia pesada VL: domínio variável da cadeia leve - xvii - SUMÁRIO AGRADECIMENTOS .............................................................................................................vi RESUMO..................................................................................................................................ix ABSTRACT............................................................................................................................... x LISTA DE FIGURAS ..............................................................................................................xi LISTA DE TABELAS ............................................................................................................xiv LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ............................................................................. xv 1) INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 1 1.1) A cultura da soja.............................................................................................................. 1 1.1.1) A planta .................................................................................................................... 1 1.1.2) Composição nutricional ........................................................................................... 2 1.1.3) Importância econômica ............................................................................................ 3 1.1.4) Melhoramento genético............................................................................................ 3 1.2) Sistemas de expressão de proteínas heterólogas ............................................................. 5 1.3) Propriedades gerais de biorreatores vegetais .................................................................. 9 1.4) Tipos de biorreatores vegetais....................................................................................... 13 1.4.1) Plantas agroinfiltradas ............................................................................................ 14 1.4.2) Plantas infectadas por vírus transgênicos............................................................... 14 1.4.3) Suspensão de células transgênicas ......................................................................... 15 1.4.4) Plantas transgênicas ............................................................................................... 16 1.5) Técnicas de transformação genética de plantas.............................................................17 1.6) Transformação genética de soja ....................................................................................20 1.7) Plantas transgênicas como biorreatores de fármacos: “Plant Molecular Pharming” .... 21 1.7.1) Biofármacos humanos ............................................................................................ 24 1.7.2) Anticorpos recombinantes...................................................................................... 25 1.7.3) Subunidades de vacinas recombinantes ................................................................. 27 1.8) Estratégias moleculares para aumento de produção de proteínas heterólogas em plantas .............................................................................................................................................. 28 1.8.1) Estratégias a nível transcricional............................................................................ 29 1.8.2) Minimização do silenciamento pós-trancricional ..................................................30 1.8.3) Otimização da tradução..........................................................................................31 1.8.4) Estabilidade protéica pós-traducional .................................................................... 32 1.9) Promotores tecido-específicos: expressão de proteínas heterólogas em sementes ....... 32 1.9.1) O promotor da β-faseolina de feijão....................................................................... 34 1.10) Endereçamento subcelular - Protein Targeting ...........................................................35 1.10.1) Endereçamento para o apoplasto..........................................................................36 1.10.2) Endereçamento para o retículo endoplasmático...................................................36 1.10.3) Endereçamento para os cloroplastos ....................................................................38 1.10.4) Endereçamento para os corpos protéicos ............................................................. 39 1.11) O peptídeo-sinal de α-coixina ..................................................................................... 40 1.12) A pró-insulina humana ................................................................................................ 41 1.13) O hormônio de crescimento humano ― hGH............................................................. 45 1.14) O fator IX de coagulação sangüínea humana ― FIX ................................................. 48 1.15) O anticorpo scFv DIR83D4 ........................................................................................52 1.16) O anticorpo scFv anti-CD18 ....................................................................................... 55 2) OBJETIVOS ....................................................................................................................... 59 2.1) Objetivo geral................................................................................................................ 59 2.2) Objetivos específicos.....................................................................................................59 3) JUSTIFICATIVAS.............................................................................................................. 60 - xviii - 4) MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................................... 61 4.1) Construção dos vetores plasmidiais de expressão......................................................... 61 4.1.1) Construção do vetor pFasPSProins ........................................................................ 61 4.1.2) Construção do vetor pFasGH ................................................................................. 62 4.1.3) Construção do vetor pFasFIX ................................................................................ 63 4.1.4) Construção do vetor pFASPSscFvDIR ..................................................................66 4.1.5) Construção do vetor pFASPSAnti-CD18............................................................... 67 4.2) Obtenção do fragmento contendo o gene ahas.............................................................. 70 4.3) Transformação de soja .................................................................................................. 70 4.3.1) Esterilização de sementes e preparo do material vegetal .......................................70 4.3.2) Bombardeamento ................................................................................................... 71 4.3.3) Indução de multibrotação ....................................................................................... 71 4.3.4) Seleção dos explantes............................................................................................. 71 4.4) Reação em cadeia da polimerase (PCR) ....................................................................... 72 4.5) Avaliação da progênie................................................................................................... 73 4.5.1) Análise por Southern blot....................................................................................... 74 4.5.2) Análise por RT- PCR ............................................................................................. 74 4.5.3) Análises por western blot ....................................................................................... 75 4.5.4) Análises de imunocitoquímica ............................................................................... 76 5) RESULTADOS .................................................................................................................. 78 5.1) Linhagens transgênicas obtidas..................................................................................... 78 5.2) Análise das progênies por PCR..................................................................................... 79 5.3) Análise das progênies por Southern blot....................................................................... 81 5.4) Análise das progênies por RT- PCR ............................................................................. 82 5.5) Análise de western blot de sementes transgênicas ........................................................ 84 5.6) Estimativa de acúmulo do hGH, FIX e scFv DIR83D4 em sementes transgênicas......86 5.7) Cinética de acúmulo das proteínas heterólogas............................................................. 86 5.8) Ensaios de imunocitoquímica de sementes maduras .................................................... 88 6) DISCUSSÃO ...................................................................................................................... 94 7) CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS ............................................................................ 103 8) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................. 104 - xix - 1) INTRODUÇÃO 1.1) A cultura da soja 1.1.1) A planta A soja é uma planta herbácea pertencente à classe Dicotyledoneae, subclasse Archichlamydeae, ordem Rosales, subordem Leguminosinae, família Leguminosae, subfamília Papilionaceae, tribo Phaseoleae, gênero Glycine L., subgênero Glycine (Moench) e espécie Glycine max (L.) (Gazzoni, 1994). Seu centro de origem primário é a região centro-sul da China, sendo a Manchúria ― região do nordeste chinês onde se deu o processo de domesticação da cultura ― seu centro de origem secundário (Xu et al., 1989). É uma espécie diplóide (2n = 40) (Vernetti, 1983), essencialmente autógama (Kar & Sen, 1991), com flores perfeitas, cujos órgãos masculinos e femininos são protegidos pela corola, o que minimiza a possibilidade de ocorrência de polinização cruzada entre flores de plantas distintas. Apesar de o fluxo gênico entre plantas não ser descartado o mesmo é bastante restrito, uma vez que a freqüência de polinização cruzada, realizada por insetos ― principalmente abelhas, é menor que 1% (Abud et al., 2007). Dentre as espécies silvestres ou nativas pertencentes ao gênero Glycine que possuem a capacidade de intercruzamento com Glycine max, nenhuma ocorre naturalmente no Brasil (Abud et al., 2003). A soja é uma planta extremamente versátil, capaz de associar seu sistema radicular com bactérias do solo (Rhizobium sp., Bradyrhizobium sp.) fixadoras de nitrogênio atmosférico para a biossíntese de moléculas aminadas, como bases nitrogenadas, aminoácidos e co-enzimas, reduzindo a necessidade de utilização de fertilizantes nitrogenados (Castro et al., 1993). Essa propriedade não só desonera sensivelmente a produção, como reduz os riscos de contaminação do solo, da água e do próprio agricultor com uréia, amônia e outras moléculas constituintes dessa classe de fertilizantes. -1- Outra característica importante dessa leguminosa é a sua sensibilidade ao fotoperíodo, expressa na modulação temporal da fase vegetativa do seu ciclo fenológico em função do tempo e da intensidade de iluminação diários. Períodos superiores a treze horas diárias de luz incidente resultam em aumento de emissão de ramos e folhas a partir de gemas laterais localizadas no colmo da planta. Como a diferenciação de tecidos florais e conseqüentemente de vagens ocorre justamente nas junções entre os ramos e as folhas, a produção de sementes por planta pode ser aumentada sobremaneira em condições controladas em casa de vegetação (Kantolic & Slafer, 2007). Devido em grande parte à diversidade de germoplasma da cultura, o ciclo fenológico da soja varia de 70 dias para as cultivares precoces até 200 dias para as tardias. Dependendo da região brasileira o mesmo pode variar entre 100 e 160 dias, dando origem a diversos grupos de cultivares, classificadas quanto à época de maturação em precoces, semiprecoces, médias, semitardias e tardias (Lima et al., 2007). 1.1.2) Composição nutricional De acordo com dados do Centro Nacional de Pesquisa de Soja (CNPSo, 2004 - www.cnpso.embrapa.br), a composição nutricional do grão corresponde a 19% de lipídios, 23% de carboidratos, 15% de fibra alimentar e 38% de proteínas. Em função do alto conteúdo protéico estocado na semente a soja é caracterizada como uma acumuladora natural de proteínas de reserva utilizadas para a nutrição parcial do embrião ainda no estágio de plântula, durante a fase de germinação. Além de importante fonte protéica a soja, juntamente com o milho, a colza e o girassol, é classificada agronomicamente como pertencente ao grupo das oleaginosas e utilizada tanto no consumo humano quanto no arraçoamento de bovinos, suínos e aves. -2- 1.1.3) Importância econômica Em função da grande versatilidade de utilização do grão, a demanda e o consumo mundial da soja e de seus derivados industriais superam 180 milhões de toneladas/ano, o que justifica sua posição como uma das principais commodities mundiais. Uma característica que justifica essa posição é o fato de que o preço de comercialização da cultura é determinado pela negociação nas principais bolsas internacionais de mercadorias antes mesmo do plantio da safra de sucessão. O agronegócio brasileiro movimentou em 2006 mais de 540 bilhões de reais, valor correspondente a 23,3% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, sendo o complexo-soja (grão, farelo e óleo) o segmento mais importante do setor e principal estabilizador da balança comercial do país (CNA, 2007 - http://www.cna.org.br/cna/index.wsp). O Brasil é o segundo produtor mundial de soja com 58,4 milhões de toneladas produzidas na safra de 2006, o que representa cerca de 24% da produção mundial. A área plantada nesse ano atingiu 20,68 milhões de hectares ― 1,3% maior que no ano anterior ― e a produtividade média alcançou 2,82 kg/ha (CONAB, 2007 http://www.conab.gov.br/conabweb/download/safra/estudo_safra.pdf). Os Estados Unidos são os maiores produtores do grão, com uma produção equivalente a 86,77 milhões de toneladas na safra 2006/2007 (CNPSo, 2007). Desde 1994 o complexo-soja é o principal item na pauta das exportações brasileiras, posicionando o país na liderança mundial de exportações do grão, com 25 milhões de toneladas exportadas (CNA, 2007). A movimentação financeira em torno das exportações de soja brasileira foi estimada em US$ 9.3 bilhões em 2006, refletindo claramente o sucesso e a competitividade do produto brasileiro no mercado internacional (CNA, 2007). 1.1.4) Melhoramento genético Nas últimas três décadas o Brasil experimentou uma sensível expansão de suas fronteiras agrícolas. Isso se deve em grande parte ao desenvolvimento de cultivares de soja adaptadas às baixas latitudes e a condições edafo-climáticas das mais diversas regiões do país. -3- Atualmente o cultivo da soja atinge desde o estado de Roraima até o Rio Grande do Sul, apresentando um aumento significativo do cultivo extensivo na região do Cerrado. Os principais objetivos do melhoramento genético da soja, que originalmente na década de 70 visavam à adaptação às condições edafo-climáticas de diferentes regiões brasileiras, gradualmente se converteram na obtenção de ganhos de produtividade e uma maior estabilidade do rendimento da cultura. Além disso, ganhou destaque também a necessidade de maior adaptação das plantas a condições ambientais adversas, a efetiva resistência/tolerância a doenças e pragas e a redução da sensibilidade ao fotoperíodo. A obtenção de variabilidade genética para exploração nos programas de melhoramento brasileiros tem se baseado na seleção de parentais para cruzamentos e retrocruzamentos com base nas regiões nacionais e em métodos de melhoramento típicos para plantas autógamas, como a seleção de plantas individuais com teste de progênie e os métodos de seleção populacionais e genealógicos (CNPSo, 2004). Dentre as cultivares melhor adaptadas para a região Centro-Oeste desenvolvidas pela Embrapa, juntamente com parceiras como a EPAMIG (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais), destaca-se a de ciclo médio (completo em até 130 dias após a semeadura) Conquista, que possui características voltadas para a manutenção da estabilidade do rendimento ― como resistência a fitopatógenos que causam sérios prejuízos ao produtor e perdas na cultura, principalmente os causadores de doenças fúngicas como o Oídio (Sphaerotheca fugilinea), a Mancha “olho-de-rã” (Cercospora sojina) e o Cancro da haste (Phomopsis phaseoli f. sp.; Diaporthe phaseolorum f. sp. meridionalis) e também doenças bacterianas como a Pústula bacteriana (Xanthomonas campestris). As cultivares de soja lançadas mais recentemente pela Embrapa, tais como a de ciclo precoce (até 120 dias após a semeadura) BR-16, possuem características especiais para o consumo humano e para a indústria de alimentos, refletindo uma demanda crescente por produtos com maior valor agregado (CNPSo, 2004). O atual direcionamento dos esforços dos melhoristas de soja se concentra na redução de custos de produção e numa maior agregação de valor ao produto, visando o aumento da lucratividade da cultura. -4- 1.2) Sistemas de expressão de proteínas heterólogas Entende-se como proteína heteróloga aquela produzida em organismos diferentes daqueles de sua origem (Cançado, 2002). Há um grande número de diferentes sistemas de expressão de proteínas heterólogas, dentre os quais os que utilizam células de bactérias, de leveduras, cultura de células de plantas, insetos e mamíferos; além de plantas e animais transgênicos. O sistema mais amplamente utilizado é o bacteriano, cujos rendimentos de produção de proteínas recombinantes são os maiores já descritos dentre todos os demais. Células bacterianas transgênicas em meio de cultura apresentam rapidez de biossíntese, baixos custos e alta capacidade de escalonamento de produção (Leite et al., 2001). Esse sistema apresenta desvantagens principalmente no que diz respeito à expressão de proteínas que requerem processamentos e modificações póstraducionais complexas (principalmente glicosilação) e que necessitem da manutenção de suas estruturas originais íntegras, sem adições ou remoções de resíduos de aminoácidos que possam comprometer sua função e especificidade naturais (Twyman et al., 2003). Há ainda a possibilidade de proteínas recombinantes expressas em células bacterianas serem tóxicas para o organismo, resultando em baixos níveis de produção. Geralmente as proteínas expressas em bactérias retém o resíduo de metionina ― derivado do resíduo de formil-metionina adicionado no início do processo de tradução ― na extremidade amino-terminal. A remoção do radical formil é realizada de maneira eficiente pela bactéria, o que não ocorre com o resíduo de metionina (Spector et al., 2003). As causas para a não-remoção da metionina estão relacionadas à natureza do resíduo adjacente na porção N-terminal e ao nível de expressão da proteína heteróloga. Resíduos adjacentes grandes e possuidores de carga dificultam a remoção e o processamento da metionina terminal, enquanto que o alto rendimento de produção da proteína heteróloga satura o processo, diminuindo a eficiência de remoção independentemente da natureza do aminoácido vizinho (Leite et al., 2001). -5- Para solucionar esse problema foram desenvolvidas estratégias visando à remoção do resíduo de metionina em polipeptídios recombinantes produzidos em sistema bacteriano. A utilização da enzima metionil-aminopeptidase catalisa eficientemente a remoção da metionina terminal in vitro. Pode-se também expressar essa enzima conjuntamente com a proteína recombinante de interesse na célula bacteriana (Spector et al., 2003). Com a finalidade de não onerar o processo de remoção foram desenvolvidas estratégias alternativas como a inclusão, na extremidade N-terminal, de seqüências denominadas líderes de secreção, as quais permitem a remoção do fragmento adicional no espaço periplasmático mediante o direcionamento da proteína recombinante para essa região (Wong, 1995). Outra estratégia alternativa é a utilização de proteínas de alta massa molecular fusionadas à extremidade amino-terminal que removem as inclusões (no caso o resíduo de formil-metionina) na proteína recombinante (Tang et al., 2004). Apesar de eficientes, essas estratégias promovem um sensível decréscimo no rendimento de produção de proteína recombinante. Outra desvantagem dos sistemas de expressão bacterianos é a formação de agregados de proteínas desnaturadas, denominados corpúsculos de inclusão (Garcia-Fruitos et al., 2007), os quais protegem as proteínas recombinantes. A utilização de agentes desnaturantes para a solubilização das proteínas “engaioladas” pode resultar em danos estruturais e dificuldades de recuperação das cadeias polipeptídicas, além de representar um sensível aumento nos custos de processamento pós-síntese. Além das desvantagens mencionadas anteriormente, a possibilidade de contaminação de amostras por endotoxinas bacterianas e os custos moderados com a estocagem de biorreatores bacterianos representam importantes fatores que devem ser levados em consideração na escolha de um sistema-alvo para a produção de polipeptídeos heterólogos complexos (Ma et al., 2003). O mais antigo sistema de expressão eucariótico é o que utiliza células de levedura, notadamente as da espécie Saccharomyces cerevisiae, o qual vem sendo substituído pela produção em Pichia pastoris, a espécie eucariótica que apresenta os maiores rendimentos médios de produção de proteína recombinante. Assim como os sistemas de expressão bacterianos, os que utilizam células de levedo são relativamente econômicos, mas apresentam as desvantagens de -6- freqüentemente hiperglicosilarem as proteínas recombinantes e de as mesmas serem instáveis e insolúveis quando produzidas abundantemente (Twyman et al., 2003). A adição de resíduos de prolina próximos aos sítios-alvo de glicosilação de levedura e estruturalmente distantes de domínios importantes para a função da proteína heteróloga nascente, parece inibir o processo de adição catalítica de glicanos N-ligados, tipicamente promovida tanto por Saccharomyces cerevisiae quanto por Pichia pastoris (Roitsch & Lehle, 1989). A humanização de células de leveduras geneticamente modificadas, através do nocaute de genes codificadores de glicosidases específicas do organismo unicelular e a introdução e expressão de genes de glicosilação humana é a mais recente e eficiente estratégia para solucionar esse problema, apesar de encarecer significativamente o processo (Hamilton et al., 2006). O sistema de expressão que utiliza células de inseto transgênicas baseia-se na infecção das mesmas por baculovirus geneticamente modificado, o qual possui, integrado ao seu genoma, o cassete de expressão contendo o gene codificador da proteína de interesse controlado por um potente promotor viral e pelo seu terminador correspondente (Stoger et al., 2005). Esse sistema permite o enovelamento e a montagem protéica corretos, além da promoção de modificações pós-traducionais como glicosilação e γ-carboxilação, sendo indicado para a produção de glicoproteínas recombinantes de interesse clínico, tais como antígenos virais, hormônios, fatores de crescimento e coagulação sangüínea. A utilização de células de mamíferos como veículos de expressão de proteínas recombinantes complexas também já foi demonstrada ser eficiente e interessante para essa finalidade (Capell & Christou, 2004). Entretanto, a utilização de ambos implica na necessidade da manutenção das células transgênicas sob condições especiais proporcionadas por meios de cultura complexos e a utilização de reatores sofisticados, o que acaba por onerar drasticamente o processo. Além disso, esses sistemas apresentam outras desvantagens em comum, como baixos rendimentos e longo tempo de produção de proteínas heterólogas, a baixa capacidade de escalonamento de biossíntese, altos custos de armazenamento -7- e a possibilidade de contaminação das amostras com vírus, príons e oncogenes animais (Hamilton et al., 2006). Eucariotos superiores transgênicos vêm sendo apontados como possíveis alternativas para a produção de proteínas de interesse farmacológico, uma vez que os níveis de expressão e a qualidade do produto final em termos estruturais e de processamento pós-traducional são bastante elevados (Leite et al., 2001). Um dos sistemas propostos baseia-se na secreção dessas proteínas no leite de caprinos, ovinos, suínos, coelhos e bovinos transgênicos (Larrick & Thomas, 2001), os quais possuem integrados aos seus genomas os genes de interesse controlados por promotores que restringem a expressão da proteína heteróloga às células das glândulas mamárias. Alguns fármacos importantes para a saúde humana já foram eficientemente produzidos nesse sistema, como o ativador de plasminogênio tecidual (Gordon et al., 1987; Pittius et al., 1988), os fatores VIII e IX da coagulação sangüínea (Chrenek et al., 2007; Clark et al., 1989) e a uroquinase (Meade et al., 1990). A principal inconveniência da utilização de biorreatores animais é a restrição da produção do fármaco recombinante às fêmeas em fase de lactação. Para solucionar esse problema foi demonstrada a possibilidade de secreção das proteínas heterólogas na urina de animais transgênicos portando as seqüências codificadoras sob controle de promotores tecido-específicos. Essas seqüências regulatórias restringem a expressão protéica às células endoteliais da bexiga desses animais. Camundongos transgênicos secretando o hormônio de crescimento humano em sua urina representam a primeira demonstração concreta dessa possibilidade (Kerr et al., 1998). Dentre todos os sistemas de expressão desenvolvidos até o momento os que utilizam animais transgênicos representam o conjunto mais caro, tanto do ponto de vista produtivo quanto de estocagem, com maior tempo de produção e menor capacidade de escalonamento de biossíntese de proteínas heterólogas (Twyman et al., 2003). Outra grande limitação da utilização desse tipo de sistema é o risco de contaminação da amostra por vírus animais e príons (Larrick & Thomas, 2001), o que exige a purificação rigorosa das proteínas recombinantes secretadas. As atenções voltam-se então para sistemas de expressão de fármacos recombinantes que sejam eficientes e que possibilitem tanto o dobramento e a -8- montagem corretos de proteínas heterólogas complexas, como o correto processamento pós-traducional dessas moléculas e que possuam, comparativamente, vantagens em termos de biossegurança e menor custo de produção em larga escala – características típicas de biorreatores vegetais. 1.3) Propriedades gerais de biorreatores vegetais A produção de proteínas heterólogas em sistema vegetal tem se mostrado atraente por diversos aspectos relacionados tanto a benefícios econômicos quanto qualitativos. O sucesso comercial de alguns produtos da primeira geração de plantas transgênicas, que acabam de chegar ao mercado, e o avançado estágio de desenvolvimento de muitos outros ― sintetizados em inúmeras espécies de plantas superiores ― confirmam o enorme potencial desse sistema de expressão. Os vegetais se constituem num dos sistemas mais econômicos para a produção em larga escala de proteínas de interesse farmacológico, representando de 2 a 10% dos custos de sistemas de fermentação eucarióticos, cerca de 0,1% dos de cultura de células de mamíferos (Twyman et al., 2003) e uma redução de 10 a 50 vezes em relação ao custo final do sistema bacteriano (Kusnadi et al., 1997). Essa economia se deve principalmente à eliminação do uso de fermentadores caros, ao fato de os vegetais representarem a biomassa de menor custo da natureza, à capacidade de escalonamento da produção, ao estabelecimento prévio das práticas de colheita, transporte, armazenamento e processamento do material vegetal, à possibilidade de compartimentalização das proteínas em organelas típicas de células vegetais, à presença de órgãos naturais de armazenamento de proteínas ― como sementes, tubérculos e rizomas ― e à eliminação ou redução da necessidade de purificação sofisticada da proteína recombinante quando o tecido armazenador é consumido in natura (Kusnadi et al., 1997). Sistemas vegetais de produção de fármacos possibilitam ainda a modulação e o escalonamento da produção protéica de acordo com a demanda pelo polipeptídeo e o ciclo da cultura ― geralmente mais curto que o de mamíferos de grande porte secretores no leite ou urina. -9- Basicamente os métodos de purificação e “downstream processing” de proteínas recombinantes são similares independentemente do sistema de produção utilizado, representando mais de 85% do custo total de produção desses fármacos (Twyman et al., 2003). A ausência de patógenos comuns ao homem e às plantas representa uma clara fonte de redução de custos além de uma vantagem qualitativa e de biossegurança, uma vez que a necessidade de purificação acurada dos polipeptídeos recombinantes produzidos em sistema vegetal é bastante reduzida se comparada aos produzidos em células de mamíferos e microorganismos, fontes carreadoras potenciais de toxinas e diversos outros contaminantes (Giddings, 2001). Além disso, plantas cujas folhas, frutos, tubérculos e sementes são consumidos in natura são potenciais candidatos a funcionarem como biofábricas de antígenos de imunização humana e veterinária, constituindo promissores veículos de expressão de subunidades de vacinas (Floss et al., 2007). Do ponto de vista qualitativo fatores como a alta conservação do processo de síntese, secreção e modificação pós-traducional ― enovelamento protéico, oligomerização, glicosilação no Retículo Endoplasmático (RE) e processamento no Complexo de Golgi ― em sistemas vegetais e animais, havendo somente diferenças quanto ao padrão de glicosilação, aproximam bastante o modo como essas proteínas são sintetizadas e processadas nos organismos vegetais e no humano. As diferenças em termos de glicosilação são devidas à síntese de cadeias laterais de glicanos no aparelho de Golgi, representadas pela incapacidade de plantas de adicionarem resíduos terminais de galactose e ácido siálico às proteínas nascentes e também à adição de grupos de carboidratos xilose-β (1→2) e fucose-α (1→3), ausentes em mamíferos (Ma et al., 2003). Essas pequenas diferenças em termos de estrutura de glicanos podem potencialmente alterar a atividade, a biodistribuição e a longevidade de proteínas heterólogas expressas em plantas, além de induzir respostas alérgicas ao consumidor e fenômenos de baixa aceitação pela opinião pública. Entretanto, epitopos ligados a carboidratos raramente são alergênicos e esses mesmos resíduos de glicanos são encontrados em glicoproteínas presentes na dieta humana há décadas, o que torna altamente improvável sua associação à alergenicidade. - 10 - Estudos em que camundongos tiveram um anticorpo contendo resíduos de glicanos específicos de plantas administrado à sua dieta, não apresentaram qualquer evidência de reação imune anti-glicano (Chargelegue et al., 2000). Estratégias para a humanização do padrão de glicosilação de proteínas recombinantes já foram elaboradas e aplicadas com sucesso. O silenciamento dos genes codificadores das enzimas específicas de plantas fucosiltransferase e xilosiltransferase proporcionou a síntese de proteínas ausentes de fucose e xilose pelo musgo Physcomitrella patens (Warner, 2000). A utilização in vitro das enzimas humanas purificadas β1→4- galactosiltransferase e sialiltransferase foi eficiente para promover a modificação de glicosilação de anticorpos recombinantes produzidos por plantas transgênicas (Blixt et al., 2002). Plantas de tabaco transgênico expressando simultaneamente a β1→4galactosiltransferase e um anticorpo recombinante foram utilizadas para a recuperação de aproximadamente 30% de anticorpos corretamente galactosilados, uma fração similar àquela produzida por células de hibridomas (Bakker et al., 2001). A adição in vivo de ácido siálico em proteínas recombinantes originária de plantas transgênicas ainda é improvável uma vez que esses organismos não possuem a via metabólica de precursores desse glicano. A produção em plantas transgênicas de anticorpos secretórios funcionais, moléculas diméricas de alta massa molecular que contém, além das quatro cadeias típicas de imunoglobulinas, dois componentes polipeptídicos adicionais (dez monômeros ao todo), é um resultado espantoso uma vez que dois tipos diferentes de células são requeridas para a oligomerização desses anticorpos em mamíferos e apenas uma em sistema vegetal (Ma et al., 1995; Larrick & Thomas, 2001). Isso representa a clara capacidade de plantas transgênicas em realizar a síntese, o enovelamento e a montagem corretos até mesmo de proteínas grandes e complexas como anticorpos, conservando estrutura e função idênticas às das proteínas nativas humanas (Schillberg et al., 2002). Alguns exemplos de proteínas de interesse comercial produzidas em plantas transgênicas podem ser observados na tabela 1. - 11 - Tabela 1. Proteínas de potencial interesse comercial produzidas em sistema vegetal. Proteína Massa Molecular Recombinante (kDa/subunidade) Origem Planta Nível de Hospedeira produção. Referência (Proteínas Solúveis Totais PST) α-Amilase 55.2 Bacillus Tabaco 0.3% (folhas) Pen et al., 1992 licheniformis Quimosina 30 Bovina Tabaco 0.1-0.5% Willmitzer et al., 1992 Ciclodextrina 76 Klebsiella Batata <0.01% (tubérculos) Oakes et al., 1991 Batata ND van den Elzen et al., pneumoniae Glucoamilase 74 Aspegillus niger 1991 Hirudina 11 Hirudo medicinalis Canola 1% (sementes) Parmenter et al., 1995 Cadeias γ e κ de 45 e 27 Camundongo Tabaco 1. 3% (folhas) Hiatt et al., 1989 β-interferon 20 Homo sapiens Tabaco 0.000017% Edelbaum et al., 1992 Levansucrase 49.9 B. subtilis Tabaco ND Ebskamp et al., 1994 S. mutans Batata hibridoma Lisozima 14.4 Galinha Tabaco 0.003% (folhas) Trudel et al., 1992 Fitase 80 Aspegillus niger Tabaco 14.4% (folhas) Verwoerd et al., 1995 Ricina 34 Mamona Tabaco 0.25% (folhas) Sehnke et al., 1994 Xilanase 37 Clostridium Tabaco 4.1% (folhas) Herbers et al., 1995 Tabaco >2% (folhas) Scheller et al., 2001 thermocellum Seda >100 Nephila clavipes Batata ND, não-determinado. Além desses polipeptídeos muitos outros já foram produzidos em plantas transgênicas, incluindo proteínas com aplicações médicas, como a β-caseína e a lactoferrina humanas, utilizadas para complementar a dieta de recém-nascidos (Chong et al., 1997; Chong & Langridge, 2000). Polímeros como a elastina bovina e o colágeno humano também já foram produzidos respectivamente em cloroplastos e folhas de plantas de tabaco, mas o primeiro apresentou níveis desapontadores de biossíntese (mesmo com altos níveis de síntese de mRNAs correspondentes) e o segundo baixa estabilidade térmica, apesar de ser espontaneamente processado e montado em sua típica estrutura complexa de tripla hélice (Guda et al., 2000; Ruggiero et al., 2000). A baixa estabilidade foi justificada pela ausência de resíduos de hidroxiprolina na estrutura primária original, remediada pela co-expressão da enzima prolil-4hidroxilase utilizando o mesmo biorreator vegetal (Merle et al., 2002). - 12 - Algumas plataformas visando à produção de proteínas heterólogas em larga escala em sistema vegetal já foram desenvolvidas, entretanto apenas dois produtos recombinantes já foram submetidos a todos os testes e fases regulatórias e chegaram ao mercado – nenhum deles biofármacos. A empresa líder em produção comercial de proteínas de cereais Prodigene Inc. (http://www.prodigene.com) utilizou plantas de milho transgênicas para a obtenção dos dois produtos mencionados: avidina e β-glucuronidase (Hood et al., 1997; Witcher et al., 1998) e visa explorar futuramente o potencial de acúmulo de outras proteínas, como subunidades de vacinas, anticorpos e enzimas recombinantes como a aprotinina e a lacase nessas plantas (Fischer et al., 2004). Apesar das vantagens evidentes a produção de proteínas recombinantes em plantas esbarra em problemas comuns às espécies já utilizadas para essa finalidade, principalmente os baixos níveis de expressão do transgene e acúmulo dos polipeptídeos recombinantes e também problemas associados individualmente a cada espécie-alvo, como a baixa estabilidade protéica pós-colheita e dificuldades de transformação e de manipulação. Alguns desses problemas podem ser contornados utilizando-se diferentes estratégias moleculares visando à maximização da expressão gênica e o acúmulo dos polipeptídeos recombinantes, conforme será abordado mais adiante. 1.4) Tipos de biorreatores vegetais Os biorreatores vegetais desenvolvidos até o presente momento se dividem em duas categorias principalmente no que diz respeito ao tipo de expressão da proteína heteróloga desejada: os de expressão transiente e os de expressão estável. No primeiro grupo enquadram-se as plantas agroinfiltradas e aquelas infectadas por vírus transgênicos. No segundo encontram-se as suspensões de células geneticamente modificadas e plantas transgênicas propriamente ditas. - 13 - 1.4.1) Plantas agroinfiltradas A expressão transiente é geralmente utilizada para verificar a eficiência de atividade da construção gênica empregada em experimentos de transformação genética e para validar a estrutura e função de pequenas quantidades de proteína recombinante (Twyman et al., 2003). Entretanto, a infiltração de folhas de plantas por meio de vácuo ou de seringas, utilizando suspensões de Agrobacterium tumefaciens recombinantes, pode resultar na transformação transiente de várias células e na obtenção de altos níveis de expressão poucos dias após a realização do experimento (Kapila et al., 1997). Apesar do pouco tempo de manutenção dos níveis de expressão (principalmente em função da substituição de células transformadas por outras nãotransgênicas), alguns relatos da utilização desse método para a produção de proteínas heterólogas em larga escala já foram descritos. Voinnet e colaboradores (2003) demonstraram que a redução dos níveis de expressão de transgenes nesse sistema ocorre também por silenciamento gênico e que o acúmulo de diferentes proteínas, utilizando plantas agroinfiltradas coexpressando a proteína p19 do Tomato bushy stunt virus (TBSV), um polipeptídeo inibidor de silenciamento gênico, resultaram num incremento dos valores iniciais de produção em até cinqüenta vezes. A agroinfiltração de folhas de alfafa pôde ser escalonada em até 7.500 folhas por semana por pesquisadores da empresa Medicago Inc (http://medicago.com), resultando na produção de mais de cem microgramas de proteína recombinante a cada semana (D'Aoust et al., 2005). 1.4.2) Plantas infectadas por vírus transgênicos Outra tecnologia emergente é a expressão transiente de proteínas heterólogas baseada na utilização de vírus de plantas como vetores de expressão. As vantagens desse sistema incluem o curto tempo de início de expressão, a capacidade de infecção sistêmica proporcionada pelos vírus, levando à produção da proteína heteróloga em todas as células da planta e a capacidade de utilização de - 14 - mais de um vetor na mesma planta, o que permite a montagem de proteínas multiméricas num mesmo ambiente (Fischer et al., 2004). Plantas infectadas por vírus recombinantes já foram utilizadas para a produção de proteínas candidatas a vacinas e anticorpos (McCormick et al., 2003). 1.4.3) Suspensão de células transgênicas Culturas de células de plantas podem ser utilizadas para a produção de proteínas heterólogas em alternativa aos sistemas de expressão transientes e a plantas transgênicas. Elas combinam os méritos de sistemas de expressão que utilizam plantas completas (como os mecanismos de síntese, processamento pós-traducional e montagem) com aqueles de culturas de células de microorganismos (capacidade intrínseca de secreção protéica). A transformação genética dessas células se dá geralmente através de introdução de genes exógenos por biobalística e freqüentemente são utilizados peptídeos-sinais nas construções gênicas capazes de destinar os polipeptídeos nascentes para a via secretória, culminando na extrusão dos mesmos para o sobrenadante da cultura (Hellwig et al., 2004). Outro destino possível dessas proteínas é a retenção celular. Tanto a secreção quanto a retenção dependem da estratégia de produção a ser empregada, do grau de purificação desejado, do emprego de peptídeos sinais e da permeabilidade da parede celular em relação às proteínas produzidas em questão ― polipeptídeos entre 20 e 30 kDa tendem a atravessar a parede facilmente enquanto moléculas maiores tendem a ficar retidas (Twyman et al., 2003). O alto grau de restrição física da biossíntese de proteínas heterólogas e a possibilidade de produção sob boas práticas de manipulação ― tais como o controle preciso de condições de crescimento, a utilização de ambientes estéreis, de meios de cultura e tampões bem definidos e a exigência de protocolos de purificação representam as grandes vantagens qualitativas desse sistema, embora algumas delas encareçam a produção final (Twyman et al., 2003). Células de folhas de tabaco são as mais utilizadas até o momento para essa finalidade, mas as de folhas de soja, tomate, arroz e de raízes de tabaco já foram empregadas para a secreção de mais de 20 diferentes proteínas heterólogas, dentre elas anticorpos, interleucinas, eritropoietina e antígenos vacinais (Doran, 2000). - 15 - Entretanto, poucas proteínas recombinantes produzidas em suspensões celulares apresentaram rendimentos de biossíntese satisfatórios para viabilizar sua produção comercial, o que constitui o principal fator limitante para uma maior popularização desse sistema de expressão. 1.4.4) Plantas transgênicas Uma planta transgênica é aquela que contém um ou mais genes que foram inseridos no seu genoma por meios que não o da via sexual (Brasileiro, 1998). A seqüência gênica inserida pode ser originária de um organismo nãorelacionado diretamente à planta receptora, inclusive oriundo de espécies que não possuam compatibilidade sexual ou que sejam evolutivamente muito distantes da planta transgênica em questão. Na grande maioria dos casos a escolha de biorreatores vegetais para a produção de qualquer classe de proteína heteróloga incide preferencialmente sobre a transformação estável e regeneração de plantas transgênicas (Fischer et al., 2004). Além dos aspectos comuns aos sistemas de expressão vegetais apresentadas anteriormente, plantas transgênicas possuem pelo menos três características que as distinguem dos demais biorreatores vegetais: a regeneração de indivíduos geneticamente transformados completos, a partir de uma ou poucas células transgênicas; a integração estável do transgene ao genoma vegetal e a presença de órgãos vegetativos evolutivamente projetados para o acúmulo de proteínas. Como as plantas transgênicas são regeneradas in vitro a partir de células germinativas ou totipotentes previamente transformadas, os indivíduos resultantes do processo possuem todas as suas células constituintes portadoras da seqüência nucleotídica exógena, podendo transmitir cópias do transgene original aos seus descendentes pelos mesmos princípios que regem a hereditariedade em plantas não-transgênicas (Chapman & Burke, 2006). Salvo a ocorrência de quimeras (indivíduos portadores de partes transgênicas e não-transgênicas), a integração de transgenes ao genoma vegetal e a evidência de que os órgãos responsáveis pela fecundação e produção de sementes (ovários e anteras) também são geneticamente transformados, permitem a obtenção de - 16 - linhagens transgênicas sob condições controladas em casa de vegetação ou no campo, a partir de eventos transformantes primários obtidos em laboratório. Além disso, o fenótipo da progênie (incluindo a eficiência de síntese e capacidade de manutenção da integridade das proteínas heterólogas) pode ser monitorado e avaliado em sucessivas gerações da cultura e as plantas obtidas podem inclusive ser cruzadas com linhagens não-transgênicas de interesse agronômico (Lee & Natesan, 2006). Dessa maneira, plantas-elite altamente produtivas, agronomicamente eficientes, homozigotas para o gene de interesse e capazes de sintetizar quantidades satisfatórias de polipeptídeos recombinantes podem ser obtidas quando os eventos transformantes são assistidos por programas adequados de melhoramento genético. Como nesses casos os grãos de pólen de plantas transgênicas também carreiam cópias dos transgenes, questões complexas envolvendo biossegurança e regulamentação devem ser levadas em consideração na elaboração de estratégias de obtenção de biorreatores vegetais. A possibilidade de restrição da expressão de transgenes em órgãos como sementes e tubérculos, locais naturais de acúmulo de proteínas, por meio da utilização de promotores tecido-específicos, funciona não apenas como uma estratégia eficiente para minimizar questões envolvendo fluxo gênico intra e interespecífico, como também para garantir um aumento de acúmulo de proteínas heterólogas, a redução de custos de produção e facilitar a purificação dessas moléculas, como será discutido de maneira mais aprofundada adiante (Daniell, 2002). 1.5) Técnicas de transformação genética de plantas A obtenção de plantas transgênicas representa uma das maiores conquistas proporcionadas pelo advento da tecnologia do DNA recombinante. A transformação genética de plantas pode ser compreendida como a introdução controlada de genes oriundos de diferentes espécies animais, vegetais ou de microorganismos, em um genoma vegetal receptor, independentemente da fecundação (Brasileiro, 1998). - 17 - Pode-se afirmar que a obtenção de plantas transgênicas apóia-se em três conjuntos amplos de técnicas celulares e moleculares: a tecnologia do DNA recombinante, comumente conhecida como engenharia genética; a morfogênese in vitro associada a técnicas de cultura de tecidos e técnicas de transferência de genes entre diferentes organismos. As técnicas de engenharia genética permitem a construção e a clonagem de vetores plasmidiais bacterianos de expressão gênica a serem introduzidos no núcleo ou no interior de organelas de plantas que contenham seu próprio genoma, como mitocôndrias e cloroplastos. Os plasmídeos íntegros ou fragmentados contêm as seqüências codantes de proteínas heterólogas devidamente flanqueadas por seqüências regulatórias distintas, como promotores; peptídeos-sinais e terminadores, constituindo o cassete de expressão a ser estavelmente integrado ao genoma vegetal. Um dos fatores limitantes para a transformação genética de plantas é o estabelecimento de um protocolo eficiente de cultura de tecidos e de regeneração de plantas in vitro, mediante a utilização de meios de cultura nutritivos e reguladores de crescimento apropriados. O cultivo de embriões com sua região meristemática apical preservada ou simplesmente dos próprios meristemas apicais ou axilares, em meio de cultura contendo citocininas, foi descrita como um eficiente indutor de organogênese direta de parte aérea, capaz de regenerar plantas transgênicas eliminando a necessidade de passagem do tecido por fases intermediárias de desdiferenciação ― como calo, por exemplo (Sharma et al., 2004; Sairam et al., 2003). Outro fator crucial para a transformação genética de plantas é a transferência de genes de interesse oriundos de outros organismos para células vegetais potencialmente precursoras de um órgão ou um embrião. Convencionalmente para a produção de plantas transgênicas essa introdução tem sido feita de duas formas: através da infecção dos tecidos-alvos por Agrobacterium tumefaciens recombinantes ― método preferencialmente empregado para a transformação genética da maioria das plantas dicotiledôneas ― ou pelo bombardeamento dos explantes com micropartículas contendo o DNA portador dos genes de interesse adsorvido superficialmente (biobalística). - 18 - Este último método foi o empregado no presente trabalho e, além de demonstrar menor dependência genotípica, é o mais utilizado para a transformação genética de leguminosas, como soja e alfafa e de cereais, como arroz, trigo e milho. O processo de biobalística preconiza a aceleração de microprojéteis (de 0,2 a 4 µm de diâmetro) recobertos com seqüências específicas de ácidos nucléicos, a uma velocidade final de 1.500 km/h sobre os explantes ou células em suspensão (Sanford et al., 1987). Os microprojéteis, de ouro ou tungstênio, penetram de maneira não-letal a parede celular e a membrana citoplasmática, alojando-se aleatoriamente nas organelas celulares. O DNA exógeno é então dissociado das micropartículas pela ação citosólica e integrado ao genoma vegetal por recombinação homóloga. O sistema que utiliza gás hélio sob alta pressão é o que apresenta maior eficiência na obtenção de altas freqüências de transformação pelo método de bombardeamento, além de ser amplamente utilizado para a transformação genética de uma grande variedade de espécies vegetais (Rech et al., 1997). O processo de regeneração de plantas em transformação genética via biobalística reduz a possibilidade de ocorrência de variação somaclonal, uma vez que o tecido não é submetido necessariamente à fase de calo, reduzindo o período de contato entre o explante e fitoreguladores. Dessa maneira a obtenção de transformantes se torna mais rápida e segura, sendo essa a principal vantagem sobre o sistema que utiliza estirpes de A. tumefaciens (Irvine et al., 1991). Além disso, o sistema de biobalística permite a redução do tempo de cultura in vitro, proporcionando a realização de testes moleculares e bioquímicos para a identificação de transformantes e de polipeptídeos com maior precocidade. (Vianna, 2002). Como resultado da ação integrada entre os três conjuntos de técnicas principais que constituem o processo de transformação genética de plantas, é possível construir vetores plasmidiais contendo genes de interesse, realizar a introdução dos mesmos em células e explantes vegetais, verificar a integração das seqüências exógenas ao genoma da espécie vegetal em questão e expressá-las de forma estável em sucessivas gerações, a fim de se obter proteínas heterólogas em quantidades significativas. - 19 - 1.6) Transformação genética de soja Segundo Irvine e colaboradores (1991), os sistemas de introdução de genes mais utilizados em soja são o via Agrobacterium e a biobalística. Os grupos de Hinchee e McCabe, ambos em 1988, foram os primeiros a registrar trabalhos sobre transformação de soja, sendo que o primeiro utilizou o sistema Agrobacterium, visando a obtenção de plantas regeneradas a partir de nós cotiledonares, resistentes à canamicina e expressando a enzima β-glucuronidase e o segundo utilizou o sistema biobalístico, obtendo apenas plantas quiméricas. Vários pesquisadores têm buscado ativamente o aperfeiçoamento destes sistemas, mas maioria dos protocolos publicados apresenta baixa eficiência de transformação e restrições quanto a sua execução, limitando sua utilização em função da variedade de soja disponível (Barwale et al., 1986; Finer & McMullen, 1991; Hooykaas & Schilperoort, 1992; Hansen et al., 1994). Em 1995 Padgette e colaboradores desenvolveram uma linhagem-elite de soja transgênica contendo o gene mutado codificador da enzima 5-enol-piruvilshiquimato-3-fosfato sintase (EPSPS) de Agrobacterium tumefaciens, capaz de tolerar altas doses do herbicida Round up®. O desenvolvimento do produto, patenteado pela empresa norte-americana Monsanto (http://www.monsanto.com/), representou um marco na transgenia de plantas e nas relações de aceitação da tecnologia tanto por pesquisadores e produtores agrícolas quanto pela opinião pública (embora os pontos-de-vista não tenham sido exatamente coincidentes). Apenas três anos depois a enzima fitase de Aspergillus sp. foi expressa com sucesso em sementes de soja transgênica (Denbow et al., 1998). No mesmo ano, o primeiro biofármaco produzido em soja, um anticorpo monoclonal humanizado anti-herpes simplex vírus (HSV) foi expresso de maneira constitutiva em sementes da planta por Zeitlin e colaboradores (1998), assim como a proteína β-caseína bovina sob controle de um promotor de uma lecitina de soja (Philip et al., 2001). Para que haja sucesso em um sistema de transformação genética de soja, é necessário que ocorra eficiência não só na introdução do gene de interesse, mas também nas fases de seleção e regeneração de células transformadas (Vianna, 2002). - 20 - O gene marcador ahas previamente isolado de Arabidopsis thaliana, o qual codifica a enzima ácido-aceto-hidroxi-sintase (AHAS) ― fundamental na via de biossíntese de aminoácidos essenciais como valina, isoleucina e leucina em plantas superiores ― contém uma mutação na posição 653 pb capaz de ocasionar a troca de uma serina por uma asparagina na cadeia polipeptídica. Essa alteração permite que o princípio ativo do herbicida Imazapyr® (Arsenal), que atua na região meristemática apical da planta, não reconheça seu sítio de acoplamento na seqüência peptídica, resultando na tolerância das plantas transformadas a esse agroquímico e a todos os outros herbicidas da classe das Imidazolinonas (Sathasivan et al., 1991). O estabelecimento de um protocolo de transformação genética utilizando o gene ahas combinado à citocinina 6-benzilaminopurina (BAP), indutora de multibrotação em meristemas apicais de embriões de soja bombardeados com genes de interesse, resultou no aumento da freqüência de transformação desses explantes em comparação a outros protocolos desenvolvidos anteriormente, independentemente da variedade de soja utilizada (Aragão et al., 1999). Esse sistema passou a ser utilizado com sucesso para a seleção de plantas transgênicas obtidas pelo grupo do Laboratório de Transferência de Genes do Centro Nacional de Recursos Genéticos e Biotecnologia da Embrapa (Cenargen) desde 1996. 1.7) Plantas transgênicas como biorreatores de fármacos: “Plant Molecular Pharming” A utilização da engenharia genética como ferramenta do melhoramento assistido de plantas foi inicialmente voltada para a melhoria de características agronômicas, tais como a resistência a doenças e pragas, a tolerância a diferentes formas de estresses bióticos e abióticos, a obtenção de maior tempo de prateleira dos frutos, a promoção de modificações nos padrões de cores de flores ornamentais e a obtenção de macho-esterilidade (Daniell, 1999). Desde que a primeira planta transgênica foi produzida por pesquisadores da Universidade de Washington (EUA), em associação com a Universidade de Gent (Bélgica) e a empresa americana Monsanto em 1983 ― uma planta de tabaco contendo um gene bacteriano de resistência à canamicina ― esforços de inúmeros - 21 - pesquisadores nos mais variados centros de investigação científica vêm sendo direcionados para potencializar a utilização de vegetais superiores como veículos de expressão de uma enorme gama de proteínas heterólogas, com as mais diversas funções biológicas (Kusnadi et al., 1997). Uma tendência mais atual e que se fortalece na medida em que aumenta a demanda mundial por biofármacos é a utilização de plantas transgênicas como veículos para a produção de polipeptídeos utilizados como reagentes diagnósticos, vacinas e drogas. Essa aplicação representa uma vertente relativamente recente da biotecnologia denominada “Plant Molecular Pharming”, quando o polipeptídeo produzido apresenta interesse farmacêutico (Fischer et al., 2004). Nos últimos dez anos mais de 100 fármacos protéicos, dentre eles anticorpos, antígenos vacinais, hormônios, soroalbumina humana, peptídeos anticoagulantes e enzimas já foram produzidos em diversas espécies vegetais (tabela 2). Tabela 2. Importantes proteínas farmacêuticas produzidas em plantas transgênicas. Proteína Planta Características Referências Tabaco e Primeira proteína humana expressa em plantas Barta et al., 1986; Staub et Girassol Primeira proteína humana expressa em cloroplastos (7% PSTF) al., 2000 Albumina Tabaco e Primeira proteína nativa completa expressa em plantas (0.1% Fernandez-San-Millan et sérica humana batata PST).Altos níveis de expressão em cloroplastos (11% PSTF) al., 2003; Sijmons et al., hospedeira Biofármacos humanos hGH 1990 α-interferon Arroz e nabo Primeira proteína humana produzida em arroz Zhu et al., 1994 Eritropoetina Tabaco Primeira proteína humana produzida em suspensão de células Matsumoto et al., 1995 Fosfatase Tabaco Secretada por folhas e raízes alcalina Borisjuk et al., 1999; Komarnytsky et al., 2000 Aprotinina Milho Primeira proteína humana produzida em milho Delaney, 2002 Antitripsina α1 Arroz Primeira utilização de células de arroz em suspensão como Terashima et al., 1999 biorreatores Anticorpos recombinantes IgG1 Tabaco Primeiro anticorpo produzido em plantas; IgG sérico obtido pelo Hiatt et al., 1989 cruzamento de plantas que expressavam as cadeias leves e pesadas individualmente IgM Tabaco Primeiro IgM expresso em plantas e endereçado para os Düring et al., 1990 cloroplastos SIgA/G Tabaco Primeiro anticorpo secretório produzido em plantas; obtido pelo (anti-adesina S. cruzamento seqüencial de quatro linhagens portadoras dos mutans) componentes individuais; o mais avançado fármaco derivado de Ma et al., 1998 - 22 - plantas até o momento scFv-briodina 1 Tabaco (anti-CD 40) Primeiro scFv farmacêutico produzido em sistema vegetal Francisco et al., 1997 (suspensão de células) IgG (HSV) Soja Primeira proteína farmacêutica produzida em soja Zeitlin et al., 1998 LSC (HSV) Chlamydomo Primeiro exemplo de fármaco produzido em alga Mayfield et al., 2003 Primeira candidata à vacina produzida em vegetais; terceira Mason et al., 1992 nas reinhardtii Subunidades de vacinas Proteína de Tabaco envelope Vírus vacina derivada de plantas a atingir estágio de testes clínicos hepatite B Glicoproteína do Tomate vírus da raiva Primeiro exemplo de vacina “comestível” expressa em planta McGarvey et al., 1995 também comestível Enterotoxina Tabaco e Primeira vacina produzida em planta a atingir estágio de testes termolábil de E. batata clínicos Batata Segunda vacina produzida em planta a atingir estágio de testes Tacket et al., 1998 coli Proteína do capsídeo de Tacket et al., 2000 clínicos Norwalk virus Autoantígeno do Tabaco e Primeira vacina originária de planta para uma doença auto- Diabetes batata imune Subunidade B da Tabaco e Primeira vacina expressa em cloroplastos Daniell et al., 2001 toxina da Cólera batata Subunidades B e Batata Primeiro antígeno recombinante multivalente derivado de planta, Yu and Langridge, 2001 A2 da toxina da sintetizado para a proteção simultânea contra várias doenças Cólera, entéricas Ma et al., 1997 enterotoxina de Rotavirus A e fusões de antígeno enterotoxigênico de fímbria de E. coli Glicoproteína S do Tabaco e Primeiro exemplo de proteção induzida via alimentação em um vírus da milho animal Lamphear et al., 2002 gastroenterite HSV, herpes simplx vírus; IgG, imunoglobulina G; IgM, imunoglobulina M; LSC, long single chain; scFv, single-chain FV fragment; SIgA, secretory immunoglobulin A; PSTF, proteínas solúveis totais de folhas. Ma et al., 2003. Notadamente os principais polipeptídeos farmacológicos já produzidos em plantas se agrupam em três categorias: biofármacos humanos, anticorpos recombinantes e subunidades de vacinas recombinantes. - 23 - 1.7.1) Biofármacos humanos A primeira proteína farmacêutica humana relevante produzida em plantas foi o hormônio de crescimento humano (hGH), apenas três anos após a obtenção da primeira planta transgênica (Barta et al., 1986). Nesse trabalho o hormônio humano foi expresso fusionado à enzima nopalina sintase de Agrobacterium tumefaciens e representou um divisor de águas para o que se convencionou denominar “Plant Molecular Pharming”. Desde então muitas proteínas de origem humana, como hemoderivados, outros hormônios, enzimas e citocinas já foram produzidas em espécies vegetais. Um exemplo notório é a albumina sérica humana, molécula cuja demanda mundial atinge as 500 toneladas por ano e que foi produzida em biorreator vegetal em 1990 (Sijmons et al., 1990). Até a segunda metade da década de 90 a grande maioria de biofármacos humanos era sintetizada em plantas de tabaco, extraídas diretamente das folhas e geralmente apresentavam baixos níveis de produção, em torno de 0.1% do teor de proteínas solúveis totais (PST) (Ma et al., 2003). Os fatores mais importantes que explicam esses níveis são a baixa capacidade de dobramento e a instabilidade protéica proporcionados pelo ambiente foliar nessas plantas. Diferentes estratégias foram desenvolvidas para solucionar o problema e exemplos de “protein targeting” e expressão desses polipeptídeos fusionados a proteínas abundantemente expressas, além da escolha de outras espécies vegetais como cereais e soja, se mostraram bastante promissoras. A oleaginosa “Safflower” (Carthamus tinctorius), por exemplo, vem sendo utilizada como veículo para a produção de altos níveis de insulina humana e da apolipoproteína APO A1 pela companhia SemBioSys Genetics Inc. (http://www.sembiosys.com) , num sistema de fusão à proteína oleosina, presente em corpos oleaginosos das sementes da planta (Fischer et al., 2004). Uma lipase humana recombinante, Merispase®, produzida em plantas de milho pela empresa francesa Meristem Therapeutics (http://www.meristem- therapeutics.com/), também vem sendo testada para o catabolismo in vitro de lipídeos e para o tratamento de sintomas da fibrose cística. - 24 - Até o momento, este é um forte candidato a chegar ao mercado em médio e longo prazo, uma vez que o medicamento se encontra em fase de otimização da formulação e de sua fármaco-cinética (Kusnadi et al., 1997). 1.7.2) Anticorpos recombinantes A produção de imunoglobulinas em plantas transgênicas (“plantibodies”) representa um dos maiores desafios da tecnologia, uma vez que essas moléculas possuem uma estrutura complexa, que necessita de um ambiente oxidativo para o estabelecimento de pontes dissulfeto estabilizadoras das cadeias leves e pesadas entre si. Uma outra dificuldade é o fato de o reconhecimento correto de antígenos só se tornar possível quando o dobramento e a montagem protéicos ocorrem corretamente e também a adição catalítica de glicanos é similar à original. Anticorpos recombinantes também representam moléculas multifuncionais do ponto de vista médico, uma vez que podem ser empregadas para o diagnóstico precoce, a prevenção e o tratamento de doenças. Apesar de plantas de tabaco terem sido extensamente utilizadas para a produção de anticorpos, sementes de cereais e de leguminosas começam a despertar maior interesse para essa finalidade. Além de anticorpos completos, derivados de imunoglobulinas como fragmentos Fab, scFvs, “diabodies”, “minibodies”, domínios variáveis simples, fusões anticorpos-proteínas “tags” e até mesmo anticorpos secretórios, já foram sintetizados utilizando a maquinaria celular de diversas espécies vegetais, (Ma et al., 2003). Nos últimos anos análises e comparações intensivas têm sido realizadas para determinar a otimização de parâmetros de expressão de plantibodies em diversas espécies, resultando freqüentemente em rendimentos de produção acima de 1% PST (Twyman et al., 2003). O desenvolvimento de alguns plantibodies alcançou estágios pré-clínicos avançados e essas imunoglobulinas provavelmente serão os primeiros biofármacos produzidos em plantas a atingirem caráter comercial. - 25 - Um exemplo é o anticorpo secretório quimérico CaroRX®, um IgA/G produzido em linhagens transgênicas de tabaco de propriedade da empresa Planet Biotechnology (http://www.planetbiotechnology.com/products.html#carorx), obtido através do cruzamento de plantas que expressavam individualmente cada uma das quatro cadeias polipeptídicas correlatas. Esse anticorpo se encontra em fase II de testes clínicos e é capaz de reconhecer a principal proteína de adesão de Streptococcus mutans, agente patogênico oral responsável pelo desenvolvimento de cáries dentárias em humanos. Sua aplicação tópica após a remoção da bactéria ajuda a prevenir a recolonização dentária por muitos meses (Ma et al., 1998). O anticorpo recombinante PIPP® foi desenvolvido em plantas transgênicas de tabaco e é capaz de detectar a atividade da gonadotrofina coriônica humana (hCG), uma glicoproteína hormonal normalmente produzida pela placenta exclusivamente durante a gravidez, cuja produção em mulheres não-gestantes está relacionada à presença de tumores do aparelho reprodutivo (Kathuria et al., 2002). A versatilidade de utilização de anticorpos recombinantes pode ser verificada uma vez que o PIPP® é funcionalmente eficiente tanto para o diagnóstico e terapia de câncer relacionado à hCG quanto para testes bastante acurados de gravidez (Kathuria et al., 2002). Outro plantibody interessante é a Avicidina® (NeoRx - http://www.neorx.com) um IgG que reconhece uma molécula de adesão celular truncada (EpCAM), específica de epitélio do aparelho digestório que funciona como marcador de câncer de colo retal. Produzido em milho transgênico, esse IgG foi o primeiro anticorpo de origem vegetal a ser administrado em humanos e demonstrou efetivamente atividade anticâncer mas, por causar diarréia como efeito colateral, foi abandonado pelas empresas NeoRx e Monsanto ainda em fase de testes clínicos (Ma et al., 2003). O scFv 38C13®, produzido em plantas de tabaco infectadas por vírus transgênico, é derivado de linfócitos B malignos da linhagem de células 38C13 de linfoma de camundongo. Uma vez administrado a animais sadios, resultou na produção de anticorpos capazes de reconhecer especificamente células 38C13 e protegê-los contra injeções letais de células cancerosas (McCormick et al., 1999). - 26 - A possibilidade de adaptação desse scFv como indutor de produção de anticorpos contra marcadores tumorais de linfócitos B humanos malignos vem sendo avaliada pela empresa californiana Large Scale Biology Corp (http://www. lsbc.com). 1.7.3) Subunidades de vacinas recombinantes O desenvolvimento de vacinas recombinantes de origem vegetal representa avanços importantes tanto do ponto de vista tecnológico quanto potencialmente social. A autenticidade estrutural de biofármacos vegetais foi finalmente comprovada em 1992, quando o antígeno de superfície do vírus da hepatite B (HBV), a primeira vacina recombinante, foi expressa em plantas transgênicas de tabaco e induziu resposta imune após ser injetada em camundongos (Mason et al., 1992; Thanavala et al., 1995). Outras espécies vegetais logo pareceram mais atraentes que tabaco para servirem de veículos de expressão de subunidades de vacinas, principalmente folhosas como a alface, além de frutas e tubérculos. A maior vantagem apresentada por essas espécies é o fato de serem consumidas in natura, não-cozidas ou parcialmente processadas, o que as eleva como candidatos em potencial para carrearem proteínas estimuladoras do sistema imune humano (Ma et al., 2005). O carro-chefe para a produção de vacinas no momento são tubérculos de batata transgênica. Plantas de batata e folhas de alface transgênicas também já foram utilizadas para a expressão de antígeno do vírus da hepatite B (Richter et al., 2000; Kapusta et al., 1999). A produção da proteína VP6 do capsídeo do rotavírus em batatas transgênicas já se mostrou eficiente para a imunização contra gastroenterite aguda viral em camundongos (Yu & Langridge, 2003). Dois antígenos de patógenos humanos importantes também já foram acumulados em tubérculos de batata: a subunidade B da toxina termolábil (LT-B) de E. coli enterotoxigênica (ETEC), e a proteína do capsídeo do Norwalk vírus (Tacket et al., 1998; Tacket et al., 2000). - 27 - Ambos apresentaram estruturas multiméricas ativas sob condições do trato gástrico humano e foram sintetizados em altos níveis e oligomerizados corretamente no interior de células dos tubérculos. Testes clínicos com LT-B recombinante mostraram que o consumo de batatas cruas contendo 0,3 a 10 mg do antígeno foram suficientes para a produção de altas concentrações de anticorpos sistêmicos e na mucosa de camundongos (Tacket et al., 1998). Tomates são mais palatáveis que tubérculos crus de batata e já foram empregados para sintetizar uma vacina contra o vírus da raiva, mas apresentaram baixa capacidade de manutenção da estabilidade protéica, resultando em rendimento abaixo de 3 µg de vacina por grama de peso seco (McGarvey et al., 1995). A distribuição mundial de cultivo e o consumo por adultos e crianças fazem de bananas um excelente veículo para imunização potencial principalmente em países pobres. Apesar disso ainda não há resultados animadores em estudos sobre a utilização dessa fruta como biofábrica de vacinas recombinantes até o momento. 1.8) Estratégias moleculares para aumento de produção de proteínas heterólogas em plantas Um dos fatores mais importantes que determinam a viabilidade de produção de proteínas heterólogas em plantas é a obtenção de quantidades satisfatórias dos polipeptídeos. O rendimento absoluto de produção depende da maximização de eficiência de todos os estágios da expressão gênica e da estabilidade protéica propriamente dita. As recentes estratégias visando o aumento de eficiência desses processos atuam sobre a transcrição gênica, o processamento pós-transcricional, a tradução e a estabilidade protéica pós-traducional. - 28 - 1.8.1) Estratégias a nível transcricional • Escolha de promotores e terminadores Para a obtenção de altos níveis de expressão os dois elementos mais importantes são o promotor e o terminador de transcrição (Ma et al., 2003). Promotores eucarióticos “fortes” são aqueles que proporcionam altos níveis de produção de mRNAs em função de sua seqüência ser portadora de sítios de início de transcrição, sítios específicos de fácil acoplamento de fatores de transcrição e da RNA polimerase II, a presença abundante de elementos “enhancers” e a fácil modulação de elementos “silencers” (Ow et al., 1987). Os promotores constitutivos fortes mais amplamente utilizados para expressão heteróloga em dicotiledôneas são o CaMV 19S e 35S, derivados dos transcritos 19S e 35S do cauliflower mosaic vírus (CaMV). Em monocotiledôneas o promotor da ubiquitina 1 de milho (ubi-1) também é bastante popular e eficiente para a expressão de proteínas heterólogas em cereais (Twyman et al., 2003). Terminadores amplamente utilizados incluem o 35S CaMV, o dos genes nos e ssu respectivamente de Agrobacterium tumefaciens e de ervilha – Pisum sativum (Ma et al., 2003). Promotores induzíveis, que permitem a regulação externa por estímulos químicos e físicos despontam como ferramentas interessantes para maximização da expressão gênica a nível transcricional, uma vez que a restringem temporalmente. Um promotor de batata-doce (Ipomoea batatas) ativado por peroxidase foi utilizado para a produção de 30 vezes mais GUS em plantas transgênicas de tabaco submetidas à presença de peróxido de hidrogênio, à exposição pós-colheita e à luz ultra-violeta do que o promotor 35S CaMV (Kim et al., 2003). A indução rápida de biossíntese de proteínas heterólogas em tabaco foi obtida pela utilização do promotor da enzima hidroxi-3-metilglutaril-Coa-redutase de tomate (HMGR2), ativado por estresse mecânico induzido por práticas de colheita, um sistema desenvolvido pela já extinta empresa americana Crop Tech Corp (Padidam, 2003). - 29 - • Minimização do Silenciamento transcricional O Silenciamento gênico é um grupo de fenômenos epigenéticos que levam à inibição da expressão gênica em nível transcricional e pós-transcricional. Diversos mecanismos levam à interrupção ou inibição da síntese de mRNAs em plantas, dentre eles a presença de seqüências procarióticas de DNA, típicas do backbone do plasmídeo utilizado em transformação genética, a metilação em nível de DNA, o “efeito de posição” relacionado ao local de integração do transgene no genoma vegetal, a estrutura do lócus de integração, a presença de múltiplas cópias ou cópias “supérfluas” do transgene, seqüências com potencial para a formação de “hairpin” e de RNA dupla-fita, além de retroalimentação negativa de promotores ― evento comum quando os produtos finais da expressão gênica são enzimas recombinantes (Finnegan & McElroy, 1994). Algumas estratégias já se mostraram eficientes para eliminar ou reduzir esses problemas, como a utilização de vetores “limpos” de seqüências procarióticas, ausentes de obstáculos ao acoplamento da RNA polimerase II e que possam levar à formação de mRNA dupla- fita; técnicas para a integração de cópias únicas do transgene ao genoma vegetal; a adição de seqüências flanqueadoras do tipo “scaffold attachment regions” e integração sítio-dirigida; a escolha de germoplasma com baixa atividade de metilação; além da redução de "feedback” negativo de promotores pela expressão da enzima-alvo em um compartimento celular diferente do qual se encontra seu substrato (Meyer & Saedler, 1996). 1.8.2) Minimização do silenciamento pós-transcricional O processamento de transcritos primários è crucial para a obtenção de altos níveis de proteína heteróloga. Apesar de a grande maioria dos experimentos de transformação genética de plantas utilizar seqüências codantes na forma de cDNA, originárias de bibliotecas construídas a partir de mRNAs devidamente processados, a presença de íntrons no transgene pode aumentar significativamente a estabilidade dos mRNAs (Töpfer et al., 1993). - 30 - Essa aplicação já foi comprovada no aumento da expressão de genes endógenos de monocotiledôneas, principalmente em plantas de milho (Maas et al., 1991). Os sítios de poliadenilação também exercem grande influência sobre a estabilidade de mRNAs e sobre os níveis de expressão gênica em células vegetais. A detecção e a eliminação, quando possível, de sítios específicos de reconhecimento que contribuem para o decaimento de mRNAs em alguns terminadores, também pode ser utilizada como ferramenta para evitar o silenciamento pós-transcricional (Abler & Green, 1996). 1.8.3) Otimização da tradução O correto funcionamento da iniciação da tradução é um fator-limitante para o nível de acúmulo de proteínas heterólogas. A sobreposição do sítio de iniciação da tradução com a seqüência consenso de Kozak do mRNA é um grande otimizador dos níveis de tradução, mesmo havendo pequenas diferenças estruturais nessas seqüências em animais e vegetais, algo importante quando o objetivo é expressar genes humanos em plantas transgênicas (Kawaguchi & Bailey-Serres, 2005). A taxa de tradução também pode variar em função da disponibilidade de RNAs de transferência de aminoácidos específicos para determinados códons na célula vegetal. A modificação do chamado “codon usage” através de mutações silenciosas sítio-dirigidas ou da obtenção de seqüências codantes sintéticas previamente modificadas ou naturalmente variáveis, pode ser bastante útil para aumentar sobremaneira a tradução de mRNAs eucarióticos (Cornelissen et al., 1993). As seqüências-líderes de diferentes transcritos de plantas comprovadamente influenciam o aumento dos níveis de acúmulo de proteínas recombinantes em biorreatores vegetais. Elas podem ser adaptadas caso-a-caso para diferentes combinações gene/planta hospedeira a fim de maximizar a eficiência de tradução (Gallie, 1996). - 31 - 1.8.4) Estabilidade protéica pós-traducional Os níveis de transcrição e tradução estão relacionados à eficiência de biossíntese de proteínas heterólogas. Outra variável deve ser levada em consideração para a estimativa do rendimento de produção ou acúmulo de biofármacos protéicos: seu nível de degradação após a biossíntese, ou seja, seu grau de estabilidade (Stoger et al., 2005). As estratégias moleculares que atuam sobre a estabilidade de proteínas, aliadas à escolha de promotores, correspondem aos avanços mais eficientes em termos de aumentos reais de rendimento de produção de biofármacos recombinantes e incluem duas abordagens distintas não-excludentes: a utilização de promotores tecido-específicos ― principalmente os associados a genes endógenos de sementes ― e o endereçamento subcelular dos polipeptídeos (“protein targeting”). 1.9) Promotores tecido-específicos: heterólogas em sementes expressão de proteínas Promotores tecido-específicos são seqüências regulatórias que restringem a expressão gênica espacialmente a apenas uma ou mais partes da planta, podendo também regular indiretamente a expressão a nível temporal quando o órgão destinado ao acúmulo de proteínas heterólogas é associado apenas a um período do ciclo da cultura (ex. flores e sementes). Uma série de promotores tecido-específicos já foram extensamente caracterizados, como os que controlam a expressão de uma zeína de sementes de milho, da glutenina de trigo, da glutelina de arroz e de proteínas de semente de ervilhas (Ma et al., 2003). A expressão de proteínas heterólogas especificamente em sementes implica em uma série de vantagens naturalmente proporcionadas por esses órgãos. Como os custos de processamento e purificação são inversamente proporcionais à concentração do produto em relação à biomassa vegetal, o acúmulo de altos níveis de proteínas heterólogas em um volume reduzido propicia uma diminuição significativa dos custos de produção de biofármacos recombinantes (Stoger et al., 2002). - 32 - Apesar de promotores constitutivos permitirem altos níveis de expressão de proteínas heterólogas em sementes, os polipeptídeos também se encontram em folhas, pólen e raízes, o que pode afetar de maneira adversa o desenvolvimento de partes vegetativas da planta, aumentar o risco de exposição da proteína tanto à herbivoria quanto a insetos polinizadores e a microorganismos da rizosfera, além de abrir margem para maiores questionamentos em termos de regulamentação e biossegurança (Commandeur et al., 2003). A restrição de acúmulo de proteínas heterólogas em sementes ajuda a reduzir esses riscos e também a diminuir a possibilidade de toxidez potencial do polipeptídeo à planta (Kusnadi et al., 1997). Entretanto o sucesso dessa estratégia necessita da ocorrência do florescimento e da fecundação durante o ciclo reprodutivo da planta para a obtenção de sementes, enquanto que proteínas produzidas em órgãos vegetativos podem ser colhidas anteriormente à produção de pólen, eliminando a possibilidade de ocorrência de fluxo gênico via flores (Lee and Natesan, 2006). O cultivo de plantas transgênicas em casa de vegetação e a utilização de plantas autógamas como a soja, o arroz e o feijão, podem ajudar a diminuir a probabilidade de fluxo gênico mesmo quando promotores tecido-específicos são empregados para a expressão de proteínas heterólogas nas sementes. Uma das grandes desvantagens da produção de biofármacos protéicos em folhas é o fato de os tecidos desses órgãos serem ricos em água e compostos fenólicos, resultando em um ambiente altamente instável e degradativo, além de haver a necessidade de congelamento ou desidratação do material após a colheita para a extração e purificação das proteínas-alvo (Stoger et al., 2005). Durante a colheita e extração de polipeptídeos recombinantes expressos nesse ambiente, a alta atividade hidrolítica natural e a presença de proteases associadas a esses tecidos podem proporcionar uma redução drástica dos níveis de acúmulo dessas moléculas (Ma et al., 2005). Diferentemente de folhas, as sementes são locais naturais de armazenamento de altas concentrações de proteínas de reserva, utilizadas na nutrição do embrião nos estágios iniciais do desenvolvimento fisiológico da plântula (Stoger et al., 2005). Esses órgãos apresentam não apenas um ambiente bioquímico apropriado, desprovido de compostos fenólicos e com baixa concentração de hidrolases, como - 33 - também apresenta tecidos especializados para o acúmulo protéico altamente estável por longos períodos de tempo mesmo à temperatura ambiente, o que reduz a necessidade de condições especiais de armazenamento (Leite et al., 2001). Stöger e colaboradores (2000) demonstraram que anticorpos expressos em sementes de cereais permaneceram estáveis por pelo menos três anos de armazenamento em temperatura ambiente, sem perda detectável de sua atividade. Sementes de tabaco transgênicas foram utilizadas como veículo de expressão de um anticorpo modificado (Fiedler & Conrad, 1995) e de um antígeno do Human cytomegalovirus (HCMV) (Tackaberry et al., 1999) mediante a regulação de um promotor tecido-específico de sementes. O mesmo tipo de promotor foi utilizado para a produção de altos níveis da enzima recombinante (1,3-1,4)-β-glucanase em sementes de cevada transgênica. (Horvath et al., 2000). Jaeger e colaboradores (2002) utilizaram um promotor tecido-específico, modulador da expressão de uma arcelina de sementes de feijão, para acumular 36 vezes mais (36% PST) um fragmento de anticorpo monoclonal em sementes de Arabidopsis thaliana do que a mesma proteína sob controle do promotor constitutivo 35S do CaMV (1%TSP). Dessa maneira, os promotores tecido-específicos de genes codificadores de proteínas de reserva constituem uma excelente ferramenta a ser empregada em sistemas de expressão de proteínas recombinantes em plantas. 1.9.1) O promotor da β-faseolina de feijão A proteína do feijoeiro-comum (Phaseolus vulgaris L.) β-faseolina ― a mais abundante dentre todas as proteínas de reserva de sementes dessa planta ― é um polipeptídeo oligomérico com 3 subunidades; α (53 kDa), β (48 kDa) e γ (46 kDa); cujo promotor gênico foi inicialmente caracterizado por van der Geest e colaboradores (1996) e estudado por diversos outros autores. Essa seqüência de 891 pb dirige o acúmulo da β-faseolina especificamente para os cotilédones responsáveis por nutrir o embrião em sementes de feijão. Apesar de se mostrar inadequado para viabilizar a expressão da proteína no endosperma de sementes de algumas monocotiledôneas, esse promotor foi eficiente - 34 - para o acúmulo da enzima β-glucuronidase (GUS) no endosperma de sementes de tabaco transgênico (Bustos et al., 1989). Também em sementes de tabaco transgênico foi verificada a modulação da atividade do promotor da β-faseolina pela variação da concentração exógena de ácido abscísico, sacarose e íons Ca2+ em meio de cultura contendo embriões expressando o gene uidA (Bustos et al., 1998), além do aumento do conteúdo de lisina nessas sementes através da expressão da proteína CP 3-5 sob controle desse mesmo promotor (Keeler et al., 1997). Ainda sob controle dessa seqüência regulatória Ginzberg e colaboradores (2004) obtiveram plantas de tomate transgênicas expressando altos níveis de streptavidina nas sementes. A hemaglutinina humana também já foi expressa utilizando-se o promotor da β-faseolina, acumulada nos vacúolos de folhas de tabaco transgênico através de “protein targeting” (Voelker et al., 1989). 1.10) Endereçamento subcelular - Protein Targeting Peptídeos-sinais N ou C-terminais podem ser fusionados a proteínas heterólogas a fim de direcioná-las para locais específicos na célula. Essas seqüências podem destinar proteínas para a mitocôndria, vacúolos, cloroplastos ou retê-las no retículo endoplasmático, e geralmente são clivadas após a chegada do polipeptídeo de interesse à organela de destinação (Bednarek & Raikhel, 1992). O endereçamento subcelular exerce um papel fundamental nos níveis de acúmulo de proteínas heterólogas, uma vez que o compartimento celular em que elas se encontram influencia diretamente os processos de dobramento, montagem e de modificações pós-traducionais, além de evitar a degradação imediata e a interferência dos polipeptídeos com o metabolismo da célula ― eventos bastante freqüentes no citosol (Fischer et al., 2004). A adição de peptídeos-sinais para o acúmulo eficiente em organelas proporcionou maiores níveis de produção de proteínas heterólogas em muitos estudos em que elas naturalmente eram pouco expressas devido à sua toxidez (Pen et al., 1993; Hood & Jilka, 1999). - 35 - Comumente quatro destinos subcelulares são os principais alvos de compartimentalização para a produção de biofármacos: o apoplasto, o retículo endoplasmático, os cloroplastos e os corpos protéicos de sementes. 1.10.1) Endereçamento para o apoplasto Após a síntese protéica no retículo endoplasmático rugoso, se nenhuma seqüência de endereçamento é associada à proteína nascente, seu destino final é o apoplasto precedido pela passagem através da via secretória (Twyman et al., 2003). Dependendo da massa molecular o polipeptídeo pode ser secretado ou retido no apoplasto, o que acarreta em importantes aplicações para sistemas de culturas de células em suspensão. Schillberg e colaboradores (1999) compararam a estabilidade de anticorpos completos idênticos, cujo acúmulo fora direcionado para o citosol e para o apoplasto de folhas de tabaco transgênico e constataram que a via secretória constitui um conjunto de ambientes mais apropriados para o dobramento e montagem desse tipo de proteína complexa, uma vez que os níveis de acúmulo no apoplasto foram muito maiores que os do citosol. Há algumas exceções quanto ao papel da via secretória para o melhor destino subcelular de anticorpos, principalmente quando são considerados fatores intrínsecos presentes em cada imunoglobulina e o seu nível de interação com o compartimento subcelular em que se encontram, refletindo diretamente no grau de estabilidade dessas moléculas (Schouten et al., 2002). A principal desvantagem do endereçamento para o apoplasto é o fato de que as proteínas heterólogas obrigatoriamente são processadas antes no complexo de Golgi, ambiente onde ocorre a adição de glicanos típicos de plantas, o que pode levar a perda de autenticidade estrutural e funcional dos polipeptídeos. 1.10.2) Endereçamento para o retículo endoplasmático O retículo endoplasmático de células vegetais superiores constitui um ambiente oxidativo, com baixa concentração de proteases e presença de chaperonas em abundância ― como a proteína Bip ― capazes de promover o - 36 - correto dobramento e montagem de proteínas heterólogas complexas, além de pontes dissulfeto, contribuindo decisivamente para a manutenção da estabilidade estrutural dessas moléculas (Bruyns et al., 1996). Além disso, a glicosilação protéica ocorre primeiramente nesse ambiente e seu correto processamento é crucial para a manutenção da função de muitas proteínas de origem humana (Ma et al., 2003). A passagem de proteínas pelo retículo é o destino inicial de polipeptídeos encaminhados à via secretória e a retenção dessas moléculas no lúmen dessa organela foi demonstrada como mais recomendável para o acúmulo de maiores quantidades de proteínas recombinantes em plantas que o próprio apoplasto e o citosol (Zimmermann et al., 1998). Conrad e colaboradores (1998) determinaram que a quantidade de anticorpos recombinantes fusionados na porção C-terminal ao tetrapeptídeo H/KDEL ― um dos mais populares peptídeos-sinais atualmente empregados para a retenção de proteínas heterólogas no lúmen do retículo endoplasmático ― foi de 2 a 10 vezes maior que aqueles expressos em diferentes espécies vegetais na ausência do peptídeo-sinal. A utilização do H/KDEL também foi responsável pelo aumento acentuado no acúmulo da proteína DIP B (similar à teia de aranha), em células das folhas de Arabidopsis thaliana, resultando em 8,5 % de proteínas solúveis totais nesses órgãos (Yang et al., 2005). Polipeptídeos expressos em sementes de cereais permaneceram estáveis até três anos após armazenamento em temperatura ambiente, sem perda significativa de atividade em função da baixa atividade proteolítica nesses compartimentos (Larrick & Thomas, 2001). Outra vantagem do chamado “protein targeting” para o retículo endoplasmático de sementes é o fato de que proteínas retidas nessa organela não passam pelo processamento no complexo de Golgi, aspecto fundamental para a produção de proteínas heterólogas e anticorpos recombinantes em especial (Sriraman et al., 2004). - 37 - 1.10.3) Endereçamento para os cloroplastos A introdução de genes no genoma cloroplasmático ao invés do núcleo também vem se mostrando interessante nos últimos anos para a obtenção de altos níveis de proteínas heterólogas nessas organelas (Daniell, 2002). A obtenção de plantas transplastômicas geralmente é realizada por biobalística e apresenta inúmeras vantagens; como o alto número de cópias do transgene associadas à enorme quantidade de cloroplastos em células fotossintetizantes (o que freqüentemente leva a altos níveis de expressão gênica); a ausência de silenciamento gênico e a possibilidade de expressão conjunta de vários genes regulados por operons; o alto grau de compartimentalização proporcionado pelo sistema de membranas da organela, o que limita a possibilidade de degradação protéica e de toxidez para a planta; além da ausência de DNA cloroplasmático funcional em grãos de pólen (Fischer et al., 2004). Plantas de tabaco e a alga Chlamydomonas reinhardtii são os grandes modelos vegetais para a transformação genética rotineira de cloroplastos. A albumina sérica humana já foi expressa em cloroplastos de tabaco a um nível superior a 11% PST (Fernandez-San-Millan et al., 2003). Essa estratégia também possibilitou o acúmulo das toxinas do cólera e do tétano acima de 25% PST nessa mesma planta (Daniell et al., 2001; Tregoning et al., 2003). Também em cloroplastos de tabaco, Leelavathi e colaboradores (2003) conseguiram obter um sucesso de 85% recuperação de uma xilanase termoestável expressa a 6% PST em tecido foliar. Os altos níveis de expressão gênica em cloroplastos, a possibilidade de purificação facilitada após a separação dessas organelas do material inicial e aspectos de biossegurança são tão promissores nesse sistema que em 2003 a “venture” americana Chlorogen (http://www.chlorogen.com) foi fundada exclusivamente para a exploração comercial de biofármacos utilizando essa tecnologia em tabaco (Twyman et al., 2003). Apesar dos pontos altos mencionados há limitações inerentes à esse sistema. A incapacidade de realização de modificações pós-traducionais em cloroplastos, incluindo glicosilação, torna restritiva a utilização dessas organelas para a expressão de proteínas complexas (Daniell, 2002). - 38 - Outra questão importante é a possibilidade de transferência horizontal in vitro de genes cloroplasmáticos de plantas transplastômicas para bactérias (Kay et al., 2002). A produção de anticorpos em batatas por transformação genética nuclear, utilizando um peptídeo-sinal de endereçamento posterior da proteína heteróloga para os cloroplastos, local onde o anticorpo inibiu enzimas de adição de ramificações glicosídicas em grãos de amido, pode funcionar como uma estratégia adicional para evitar o fluxo horizontal de transgenes presentes no genoma cloroplasmático (Jobling et al., 2003). 1.10.4) Endereçamento para os corpos protéicos Os corpos protéicos são prolongamentos derivados do retículo endoplasmático especializados no acúmulo de proteínas de reserva. Funcionam como cisternas que ocupam um grande volume citoplasmático e evolutivamente sofreram adaptações resultantes na alta capacidade de compartimentalização de grandes volumes de proteínas e de maximização da integridade desses polipeptídeos (Zheng et al., 1992). Essas inclusões globulares são encontradas em células cotiledonares de sementes de tabaco, de leguminosas como a soja e o feijão, além de gramíneas como o trigo e a cevada e se originam no momento em que começa a biossíntese de proteínas de reserva nos tecidos responsáveis por nutrir o embrião (Yoo and Chrispeels, 1980). Dessa maneira há um sensível aumento do número e da disponibilização de corpos protéicos ao longo do processo de maturação fisiológica dos grãos dessas espécies. Uma vez que esses vacúolos altamente especializados não sofrem qualquer tipo de fusão com lisossomos, seu lúmen apresenta pH próximo do neutro e praticamente a ausência de aminopeptidases, fatores que os caracterizam como um ambiente subcelular onde a degradação protéica é mínima e um excelente alvo para o endereçamento de polipeptídeos heterólogos quando o objetivo principal da transformação genética é a manutenção da estabilidade dessas moléculas (Takaiwa et al., 2007). - 39 - Os corpos protéicos de sementes de soja contêm aproximadamente 70% das proteínas do grão, sendo que a maior parte dessa porcentagem refere-se à proteína de reserva glicinina, a mais abundante dentre os polipeptídeos presentes nessas sementes (Tombs, 1967). Algumas moléculas já foram estavelmente acumuladas com sucesso em corpos protéicos de soja, dentre elas a enzima D-mio-inositol-3-fosfato-sintase (MIPS), envolvida na biossíntese de ácido fítico nas sementes (Hegema et al., 2001); uma proteína δ-zein de reserva de milho (Kim & Krishnan, 2004) e a subunidade B da toxina termolábil de Escherichia coli (LT-B) (Moravec et al., 2007). 1.11) O peptídeo-sinal de α-coixina O peptídeo-sinal de uma α-coixina (22 kDa) da poácea Coix (lacrima-jobi), é uma seqüência do tipo “tag” de 62 pb (figura 1), previamente caracterizada como um endereçador subcelular N-terminal de polipeptídeos nascentes para corpos protéicos de sementes dessa planta (Ottoboni et al., 1993). 5` M A T K I F A L L V L L A L S A S A T T CATG GCT ACC AAG ATA TTT GCC CTC CTT GTG CTC CTT GCT CTT TCA GCG AGC GCT ACA ACT 3` Figura 1: Seqüência nucleotídica e peptídica (em negrito) do peptídeo-sinal da α-coixina. O “Laboratório de Genética de Plantas” do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) vem desenvolvendo, desde 1990, diferentes cassetes de expressão para avaliar a produção de proteínas heterólogas no endosperma de sementes de cereais, incluindo construções contendo o peptídeo-sinal de sementes de C. jobi. Dentre as proteínas expressas com sucesso pelo grupo da Unicamp, utilizando o endereçador subcelular, estão o hormônio de crescimento e a próinsulina humanos em sementes de tabaco e de milho transgênicos (Leite et al., 2000; De Lucca, 2003), um fragmento simples de anticorpo anti-câncer de mama e a enzima β-glucuronidase também expressos em sementes de tabaco transgênico (Cançado, 2002; DeRose et al., 1996). - 40 - 1.12) A pró-insulina humana A insulina humana é um pequeno hormônio composto por 51 aminoácidos, com um peso molecular de 5,8 kDa, sintetizada pelas células Beta das ilhotas de Langerhans do pâncreas. Essa proteína é responsável pelo controle da absorção de açúcar presente na corrente sangüínea, através do mecanismo de transdução de sinal que ativa receptores de glicose presentes na membrana plasmática de hepatócitos e células musculares, capazes de captar moléculas excedentes para serem estocadas como glicogênio (Goldman et al., 1979 ). O hormônio é secretado como um precursor de 86 aminoácidos ― a próinsulina (8 kDa e ponto isoelétrico aproximado de 5,8) ― cujo gene se encontra no lócus p15.5 no cromossomo 11 e possui uma seqüência codante de 396 pb (figura 2). gccatcaagcaggtctgttccaagggcctttgcgtcagatcactgtccttctgccatggcc P S S R S V P R A F A S D H C P S A M A ctgtggatgcgcctcctgcccctgctggcgctgctggccctctggggacctgacccagcc L W M R L L P L L A L L A L W G P D P A gcagcctttgtgaaccaacacctgtgcggctcacacctggtggaagctctctacctagtg A A F V N Q H L C G S H L V E A L Y L V tgcggggaacgaggcttcttctacacacccaagacccgccgggaggcagaggacctgcag C G E R G F F Y T P K T R R E A E D L Q gtggggcaggtggagctgggcgggggccctggtgcaggcagcctgcagcccttggccctg V G Q V E L G G G P G A G S L Q P L A L gaggggtccctgcagaagcgtggcattgtggaacaatgctgtaccagcatctgctccctc E G S L Q K R G I V E Q C C T S I C S L taccagctggagaactactgcaactagacgcagcc Y Q L E N Y C N - T Q Figura 2: Seqüência codificadora da pró-insulina humana. Acesso AY899304, GenBank.; e sua respectiva seqüência de aminoácidos (em negrito). A pró-insulina humana possui uma cadeia polipeptídica simples, estabilizada por três pontes dissulfeto e organizada em três segmentos distintos: o peptídeo C e as cadeias A e B, conforme ilustra a figura 3. - 41 - A PC2 B Peptídeo C Pró-insulina Cadeia A PC1 Cadeia B Figura 3: A) Representação esquemática da pró-insulina humana com os sítios de clivagem das convertases PC1 e PC2, o peptídeo C, as cadeias A e B e as três pontes dissulfeto estabilizadoras da estrutura. B) Estrutura terciária da pró-insulina humana; PDB ID: 1sju. Duas endoproteases, PC1 e PC2 catalisam a ocorrência de clivagens proteolíticas nas terminações carboxila do aminoácidos Arg 32 e Arg 65 da cadeia polipeptídica (Steiner et al., 1996 ). Com a remoção do peptídio C, dois pares de aminoácidos básicos expostos nas novas extremidades são posteriormente removidos pela ação de carboxipeptidases adicionais, produzindo a insulina madura (figura 4) no interior das vesículas do complexo de Golgi, local de armazenamento natural do hormônio processado. (Kaufmann et al., 1997 ) Insulina Cadeia A Cadeia B Figura 4: Insulina humana madura após sofrer as clivagens proteolíticas. O diabetes mellitus é uma doença metabólica, caracterizada por hiperglicemia em função da deficiência de secreção de insulina, da ação ineficiente do hormônio ou de ambos. - 42 - A variante tipo 1 da doença é resultante da deficiência de síntese de insulina em função da perda ou inativação das células Beta do pâncreas, causadas pelo ataque auto-imune promovido por células T do sistema imunológico (Rother, 2007). O tipo 2 ocorre em função da redução da sensibilidade celular à ação da insulina ou resistência ao hormônio, sendo relacionado a disfunções dos receptores presentes na membrana celular das células-alvo (Zimmet et al., 2001). Essa patologia é de enorme importância social e econômica, uma vez que afeta cerca de 151 milhões de pessoas adultas em todo o mundo (4,6% da população mundial), 8,6 milhões só na América do Sul (International Diabetes Federation- IDF, 2007, http://www.idf.org/). Ambos os tipos são crônicos e apenas o tipo 2 apresenta cura, mediante intervenção cirúrgica desenvolvida recentemente. O tratamento do diabetes mellitus consiste na administração de insulina exógena para pacientes do tipo 1 e numa combinação de recomendações para diabéticos do tipo 2, que incluem: dieta controlada, suplementação de drogas orais que diminuem a mobilização de glicose a partir de glicogênio hepático, exercícios físicos regulares e injeção de insulina quando a eficácia de medicação oral é reduzida (Adler & Turner, 1999). Desde 1922 a insulina destinada ao tratamento do diabetes era purificada a partir do pâncreas de suínos e bovinos e apresentava baixa estabilidade, razoável similaridade com a molécula humana e grande potencial carreador de contaminantes patogênicos, principalmente vírus de mamíferos (Patlak, 2002). A fim de substituir o hormônio purificado de mamíferos (comumente utilizado por pacientes diabéticos até o início dos anos 80), numerosos esforços para a produção da segunda molécula humana recombinante em sistemas heterólogos surtiram efeito em 1978, quando um grupo de cientistas liderado por David Goeddel da empresa de biotecnologia Genentech (fundada pelo prêmio Lemelson e um dos “pais” da engenharia genética Herb Boyer) e do City of Hope National Medical Center na Califórnia, conseguiu obter quantidades razoáveis da molécula recombinante, produzida em células de E.coli transgênica contendo a seqüência nucleotídica de 333 pb do hormônio humano integrada ao seu genoma (Goeddel et al., 1979). - 43 - Em 1982 é concedida a liberação da insulina humana recombinante (Humulin®) pelo FDA (Food and Drug Administration, http://www.fda.gov/) visando sua administração regular em pacientes diabéticos americanos. Desde então se intensificaram as pesquisas para o desenvolvimento de drogas recombinantes mais eficazes, resultando em produtos altamente eficientes como a Humalog® (Lilly), a Lantus® (Aventis) e a Levemir® (Novo Nordisk); além de outros sistemas de administração complementares a injeções subcutâneas, como as bombas de hormônio e as insulinas inaláveis Exubera® (Pfizer) e AERx iDMS® (Novo Nordisk). Inúmeros artigos relatando a produção heteróloga aperfeiçoada dessa proteína em bactéria e em outros organismos transgênicos já foram publicados. Um sistema de expressão da pró-insulina fusionada a uma cauda “his-tag” Nterminal auxiliou o processo de purificação do hormônio a partir de corpúsculos de inclusão bacterianos indesejados, problema recorrente de biorreatores procarióticos (Nilsson et al., 1996). Kjeldsen e colaboradores (1999) foram os primeiros a expressar a pró-insulina recombinante em eucariotos, utilizando células de Pichia pastoris e Saccharomyces cerevisiae. A remoção da seqüência nucleotídica que codifica os 35 aminoácidos do peptídeo C, e a inclusão de um heptapeptídio conector das cadeias A e B permitiu a expressão da insulina por vírus recombinantes empregados com sucesso na terapia genética de camundongos diabéticos tipo 1 (Lee et al., 2000). Trabalhos mais recentes citados anteriormente envolvem a produção da próinsulina humana em sementes de tabaco e milho transgênicos (De Lucca, 2003), além da produção em peixes como carpas (Cirrhinus molitorella) (Zhang et al., 2006) salmão (Salmo salar) (Wilkinson et al., 2004) e para o tratamento eficiente de camundongos transgênicos com diabetes do tipo 2 (Pennisi et al., 2006). O pró-hormônio também foi expresso fusionado à Green Fluorescent Protein (GFP) de Aequorea victoria em céluas de E. coli (Shi et al., 2006) e em sementes transgênicas de Arabidopsis thaliana quando, após purificação cromatográfica, apresentou atividade similar à insulina recombinante produzida em sistema bacteriano, (Nykiforuk et al., 2006). - 44 - 1.13) O hormônio de crescimento humano ― hGH O hormônio de crescimento humano (hGH), também conhecido como somatotropina, é uma proteína de cadeia simples, constituída por 191 aminoácidos, estabilizada por duas ligações do tipo ponte dissulfeto, com uma massa molecular de aproximadamente 22 kDa e ponto isoelétrico aproximado de 5,3 (figura 5) (Filikov et al., 2002). Figura 5: Estrutura terciária do hormônio de crescimento humano (hGH). PDB ID: 1hgu. Essa molécula é sintetizada, estocada e secretada pelas células somatotrópicas da parte anterior da glândula pituitária e desempenha papel importante no ciclo celular e no crescimento de células somáticas através de seu efeito sobre o metabolismo de proteínas, carboidratos e lipídeos. O gene que codifica o hGH se localiza no lócus 17q24.2 do cromossomo 17 e possui uma seqüência codante de 654 pb (figura 6). atggctacaggctcccggacgtccctgctcctggcttttggcctgctctgcctgccctgg M A T G S R T S L L L A F G L L C L P W cttcaagagggcagtgccttcccaaccattcccttatccaggctttttgacaacgctatg L Q E G S A F P T I P L S R L F D N A M ctccgcgcccatcgtctgcaccagctggcctttgacacctaccaggagtttgaagaagcc L R A H R L H Q L A F D T Y Q E F E E A tatatcccaaaggaacagaagtattcattcctgcagaacccccagacctccctctgtttc Y I P K E Q K Y S F L Q N P Q T S L C F tcagagtctattccgacaccctccaacagggaggaaacacaacagaaatccaacctagag S E S I P T P S N R E E T Q Q K S N L E ctgctccgcatctccctgctgctcatccagtcgtggctggagcccgtgcagttcctcagg L L R I S L L L I Q S W L E P V Q F L R agtgtcttcgccaacagcctggtgtacggcgcctctgacagcaacgtctatgacctccta - 45 - S V F A N S L V Y G A S D S N V Y D L L aaggacctagaggaaggcatccaaacgctgatggggaggctggaagatggcagcccccgg K D L E E G I Q T L M G R L E D G S P R actgggcagatcttcaagcagacctacagcaagttcgacacaaactcacacaacgatgac T G Q I F K Q T Y S K F D T N S H N D D gcactactcaagaactacgggctgctctactgcttcaggaaggacatggacaaggtcgag A L L K N Y G L L Y C F R K D M D K V E acattcctgcgcatcgtgcagtgccgctctgtggagggcagctgtggcttctag T F L R I V Q C R S V E G S C G F Figura 6: Seqüência codante do hGH. Acesso NM000515, GenBank.; e sua respectiva seqüência de aminoácidos (em negrito). A capacidade de biossíntese de hGH decai naturalmente a partir dos 20 anos de idade, mas a ausência ou baixa produção do hormônio na infância e adolescência, principalmente em função de mutações genéticas, é a causadora do nanismo hipopituitário pediátrico (Hindmarsh & Brook, 1987). Até 1985 praticamente todo o hGH disponível para o tratamento de nanismo e de uma série de doenças associadas à deficiência do hormônio era obtida pela extração e purificação da proteína de cadáveres humanos. Apesar de todos os riscos implícitos na utilização da droga em função de sua origem, não havia alternativa tecnológica e economicamente viável para o tratamento eficiente do déficit do hormônio. O gene do hGH foi clonado e expresso em células de E.coli pela primeira vez em 1979 e o hormônio se tornou a terceira proteína-fármaco produzida em um organismo transgênico, um marco da biotecnologia atingido pelo grupo pertencente à mesma Genentech que havia produzido insulina recombinante apenas 1 ano antes, liderado pelos pesquisadores John Baxter e, novamente, David Goeddel (Fiddes et al., 1979; Goeddel et al., 1979). A utilização do hormônio recombinante foi liberada pelo FDA para tratamento infantil em 1985 e em adultos em 1996. Desde então inúmeras drogas injetáveis à base de hGH recombinante sintetizado em E. coli foram produzidas a nível comercial, tais como: Nutropin® (Genentech), Humatrope® (Lilly), Genotropin® (Pfizer), Norditropin® (Novo), Saizen® (Merck Serono), Onmitrope® (Sandoz) e Nutropin Depot®. Apesar de o nanismo ser considerado uma doença rara pelo Human Growth Foundation (http://www.hgfound.org/) – afeta menos de 200.000 pessoas na população americana – os custos relacionados ao seu tratamento ainda são altos - 46 - mesmo utilizando a droga recombinante, em torno de US$ 4.000 a 20.000 por ano (http://www.doctorshealthsupply.com/hgh/), o que sinaliza para a necessidade de desenvolvimento de plataformas de produção recombinante mais eficientes e que reduzam os custos do medicamento. Há poucos dados sobre o consumo de hGH no Brasil, mas estima-se a existência de cerca de 10.000 pacientes em idade escolar que necessitam de doses do hormônio a um custo médio de 4.000 reais/mês, com uma demanda anual de um milhão de doses do hormônio importadas a um custo de 15 milhões de dólares por ano (Revista Fapesp, Dezembro/02, número 82). A expressão do hGH de maneira aprimorada em bactéria ou em outros organismos transgênicos já foi alcançada por muitos grupos dos mais variados centros de pesquisa e de diversas universidades. O hormônio já foi obtido com 90% de pureza após secreção para o periplasma de células de E. coli (Becker & Hsiung, 1986) e altos níveis de expressão já foram relatados utilizando células de Bacillus subtilis (Franchi et al., 1991). Um gene sintético codificador do hGH também foi expresso utilizando células de levedura, atingindo a produção de mais de dez moléculas do hormônio por célula transformada (Tokunaga et al., 1985). Outros exemplos interessantes são a utilização de baculovirus para mediar a produção do hormônio em células de larva de bicho da seda (Bombyx mori) e em cultura de células de inseto (Kadonookuda et al., 1995; Cholin et al., 1996); o acúmulo de 8% e 10% (PST) de hGH, respectivamente nos cloroplastos de folhas de Nicotiana tabacum e no apoplasto de células de folhas de Nicotiana benthamiana (Staub et al., 2000; Gils et al., 2005). Duas isoformas do hGH, com 20 e 22 kDa respectivamente, foram expressas estável e transientemente em culturas de células de ovário de hamsters chineses e foram eficientes para promover a diferenciação de células precursoras em adipócitos propriamente ditos (Rincon-Limas et al., 1993). Russell e colaboradores (2005) expressaram o hGH em cultura de células de tabaco e em sementes de milho e observaram menor degradação proteolítica e maior acúmulo e manutenção da atividade do hormônio nas sementes do cereal do que em sistema de suspensão celular. Trabalhos mais recentes envolvendo mamíferos transgênicos também obtiveram grande êxito em expressar corretamente e abundantemente o hGH. - 47 - Sanchez e colaboradores (2004) obtiveram alta concentração do hormônio secretado no leite de camundongos e de cabras transformadas por um vetor viral. Animais transgênicos de maior porte apresentaram rendimentos de produção do hormônio impressionantes: vacas transgênicas expressaram 5 g de hGH por litro de leite ordenhado (Salamone et al., 2006), porcas secretaram 25 ng por ml de leite (Hens et al., 2000) e coelhos produziram 50 µg de hGH por ml de leite e 0,6 ng por mL de sangue (Limonta et al., 1995). Recentemente linhagens puras de camundongas transgênicas foram obtidas utilizando-se o promotor da β-actina de galinha e superexpressaram o hGH, atingindo um rendimento de até 17 µg do hormônio por ml de leite (von Waldthausen et al.). 1.14) O fator IX de coagulação sangüínea humana ― FIX O fator IX de coagulação sangüínea (FIX) é um zimogênio da classe das serino-proteases, pertencente à família de peptidases S1, dependente de vitamina K e que apresenta uma cadeia polipeptídica única, dividida em duas regiões: uma leve e a outra pesada; totalizando 461 aminoácidos, três pontes dissulfeto e uma massa molecular e ponto isoelétrico aproximados de 55 kDa e 5,2 (figura 7). Figura 7: Estrutura terciária do fator IX de coagulação sangüínea humana. PDB ID: irfn. EC 3.4.21.22. Essa glicoproteína é sintetizada e armazenada no fígado e secretada posteriormente no sangue, onde desempenha um papel-chave nas vias intrínseca e - 48 - extrínseca de coagulação sangüínea, quando acoplada a cofatores lipídicos e íons de cálcio (Bristol et al., 1993). A participação do FIX na complexa cascata de reações envolve diretamente mais duas serino-proteases: os fatores XI (FXI) e X (FX). Após a ativação do FIX pelo FXI previamente ativado, um peptídeo de 11 kDa é removido da cadeia do primeiro pela clivagem de duas ligações peptídicas, expondo o sítio com função proteolítica presente na porção pesada da cadeia. Essa modificação estrutural torna o FIX capaz de catalisar a hidrólise de uma ligação peptídica envolvendo uma arginina e uma isoleucina do FX, possibilitando que este último atue na ativação de duas proteínas essenciais para a coagulação sangüínea: a pró-trombina e o fibrinogênio (Osterud & Rapaport, 1977). A informação genética do FIX é armazenada em um dos maiores e mais complexos genes humanos já caracterizados e mapeados, localizado no lócus Xq27.1-q27.2.1 no braço longo do cromossomo X. O gene completo possui 35 kb de extensão, 8 exons e uma longa seqüência codante de 1.326 pb (figura 8). atgcagcgcgtgaacatgatcatggcagaatcaccaggcctcatcaccatctgcctttta M Q R V N M I M A E S P G L I T I C L L ggatatctactcagtgctgaatgtacagtttttcttgatcatgaaaacgccaacaaaatt G Y L L S A E C T V F L D H E N A N K I ctgaatcggccaaagaggtataattcaggtaaattggaagagtttgttcaagggaacctt L N R P K R Y N S G K L E E F V Q G N L gagagagaatgtatggaagaaaagtgtagttttgaagaagcacgagaagtttttgaaaac E R E C M E E K C S F E E A R E V F E N actgaaagaacaactgaattttggaagcagtatgttgatggagatcagtgtgagtccaat T E R T T E F W K Q Y V D G D Q C E S N ccatgtttaaatggcggcagttgcaaggatgacattaattcctatgaatgttggtgtccc P C L N G G S C K D D I N S Y E C W C P tttggatttgaaggaaagaactgtgaattagatgtaacatgtaacattaagaatggcaga F G F E G K N C E L D V T C N I K N G R tgcgagcagttttgtaaaaatagtgctgataacaaggtggtttgctcctgtactgaggga C E Q F C K N S A D N K V V C S C T E G tatcgacttgcagaaaaccagaagtcctgtgaaccagcagtgccatttccatgtggaaga Y R L A E N Q K S C E P A V P F P C G R gtttctgtttcacaaacttctaagctcacccgtgctgagactgtttttcctgatgtggac V S V S Q T S K L T R A E T V F P D V D tatgtaaattctactgaagctgaaaccattttggataacatcactcaaagcacccaatca Y V N S T E A E T I L D N I T Q S T Q S tttaatgacttcactcgggttgttggtggagaagatgccaaaccaggtcaattcccttgg F N D F T R V V G G E D A K P G Q F P W caggttgttttgaatggtaaagttgatgcattctgtggaggctctatcgttaatgaaaaa - 49 - Q V V L N G K V D A F C G G S I V N E K tggattgtaactgctgcccactgtgttgaaactggtgttaaaattacagttgtcgcaggt W I V T A A H C V E T G V K I T V V A G gaacataatattgaggagacagaacatacagagcaaaagcgaaatgtgattcgaattatt E H N I E E T E H T E Q K R N V I R I I cctcaccacaactacaatgcagctattaatagtacaaccatgacattgcccttctggaac P H H N Y N A A I N S T T M T L P F W N tggacgaacccttagtgctaaacagctacgttacacctatttgcattgctgacaaggaat W T N P - C - T A T L H L F A L L T R N acacgaacatcttcctcaaatttggatctggctatgtaagtggctggggaagagtcttcc T R T S S S N L D L A M - V A G E E S S acaaagggagatcagctttagttcttcagtaccttagagttccacttgttgaccgagcca T K G D Q L - F F S T L E F H L L T E P catgtcttcgatctacaaagttcaccatctataacaacatgttctgtgctggcttccatg H V F D L Q S S P S I T T C S V L A S M aaggaggtagagattcatgtcaaggagatagtgggggaccccatgttactgaagtggaag K E V E I H V K E I V G D P M L L K W K ggaccagtttcttaactggaattattagctggggtgaagagtgtgcaatgaaaggcaaat G P V S - L E L L A G V K S V Q - K A N atggaatatataccaaggtatcccggtatgtcaactggattaaggaaaaaacaaagctca M E Y I P R Y P G M S T G L R K K Q S S cttaatgaaagatggatttccaaggttaat L N E R W I S K V N Figura 8: Seqüência codante do FIX humano contendo 1.326 pb, Acesso NM000133, GenBank.; e sua respectiva seqüência de aminoácidos (em negrito). Mutações genéticas que levem à disfunção ou à ausência de síntese do FIX causam o segundo tipo de hemofilia mais comum, o B (“Christmas disease’), doença recessiva ligada ao X que afeta 1 em cada 30.000 homens (Roth et al., 2001). Até a segunda metade de 2007 o tratamento para a hemofilia do tipo B era realizado apenas a partir de FIX purificado do fígado ou derivado do sangue de cadáveres humanos. Nesse ano a multinacional americana Wyeth lançou comercialmente na América do Norte e Europa a proteína recombinante produzida em larga escala a partir de células de ovário de hamsters chineses (http://www.benefix.com/), configurando a primeira incursão do FIX heterólogo destinado ao tratamento de hemofilia B. Apesar do ineditismo dessa iniciativa ainda predomina a utilização terapêutica do fator de coagulação hemoderivado que, apesar de eficiente, é caro e apresenta enormes riscos de contaminação dos pacientes por príons causadores da doença de Creutzfeldt-Jakob (vCJD), parvovirus, vírus causadores dos diferentes tipos de - 50 - hepatite e AIDS, além de manifestações de trombose, coagulação intravascular disseminada e alterações da função imune (Shapiro et al., 2005). Em 1982, a seqüência codante do FIX foi clonada em bactéria pela primeira vez (Kurachi & Davie, 1982) e quatro anos mais tarde Kaufman e colaboradores conseguiram expressar, purificar e caracterizar o FIX humano produzido em células de ovários de hamsters chineses. Outros sistemas recombinantes de expressão do FIX humano já foram desenvolvidos, como camundongos transgênicos secretando o hormônio no leite (Jallat et al., 1990), suspensão de fibroblastos bovinos (Liu et al., 1993) e cultura de células-tronco do sistema hematopoiético (Chen et al., 2006) e de células de rim de hamsters bebês (Wajih et al., 2005). A transferência in vivo de um plasmídeo contendo o gene codificador do FIX humano se mostrou eficiente para elevar a produção da molécula em células do fígado de camundongos (Miao et al., 2001). Partículas de adenovirus também foram utilizadas para transformar células de músculos esqueléticos de camundongos e cães com hemofilia B (Arruda et al., 2004), além de células do fígado de macacos (Rhesus macaques) (Nathwani et al., 2002). Até o presente momento o FIX recombinante não foi sintetizado em escala comercial, ao contrário do que ocorre com os fatores VII, VIII, X, e XIII, produzidos por vários conglomerados diferentes que controlam juntos um mercado em expansão que começa a marginalizar a produção de hemoderivados. Apenas no setor de produção de FVIII recombinante, as vendas de drogas das empresas Bayer, Baxter e Wyeth atingiram juntas US$ 2,8 bilhões em 2007 (http://www.medicalnewstoday.com/articles/63055.php). Recentemente uma avaliação envolvendo 25 pacientes brasileiros tratados com FVII recombinante e uma droga similar hemoderivada constatou que a primeira promoveu coagulações com 100% de eficiência e em média 14 vezes mais rapidamente do que a droga convencional (57% de eficiência), a um custo completo de tratamento de US$ 7.590 por paciente, quase a metade dos 13.500 dólares gastos por indivíduo tratado com o hemoderivado (Ozelo et al., 2007). Apesar da disponibilidade e do tratamento com alguns fatores recombinantes ser relativamente mais eficiente e mais barato para promover a coagulação sangüínea em hemofílicos, seu uso terapêutico ainda possui um custo proibitivo em - 51 - países em desenvolvimento como o Brasil, o que sinaliza para a necessidade de obtenção de sistemas de expressão heteróloga dessas moléculas que permitam uma redução do preço final da droga ao consumidor. 1.15) O anticorpo scFv DIR83D4 O sc FvDIR83D4 é um fragmento de cadeia simples da porção variável do anticorpo monoclonal AcM 83D4 (isotipo IgM e subtipo κ), com massa molecular de 29 kDa e ponto isoelétrico estimado em 7,0; cuja extremidade N-terminal do domínio variável da cadeia pesada (VH) foi fusionado à extremidade C-terminal do domínio da cadeia leve (VL), sendo ambos interligados por um peptídeo conector de glicina e sernina (Gly4-Ser1)3 (Babino et al., 1997 ). O antígeno tumoral Tn é uma molécula truncada de natureza glicídica identificada pela primeira vez como um produto da doença poliaglutinabilidade permanente ou síndrome Tn (Bird et al., 1971). Essa doença é caracterizada pela exposição de antígenos dessa natureza na superfície de células sangüíneas, resultando na aglutinação de hemácias. Pequenas quantidades do antígeno Tn também foram encontradas em mucinas, constituintes protéicos de grande parte do muco que recobre superficialmente o lúmen de órgãos epiteliais (Cançado, 2002). As mucinas atuam protegendo fisicamente a membrana plasmática das células desses órgãos contra o ambiente extracelular, constituindo também um mecanismo molecular de defesa adicional dos epitélios (Moniaux et al., 2001). Essas proteínas apresentam grande variabilidade estrutural sendo agrupadas em diversas famílias. Algumas características são recorrentes a todas às famílias de mucinas, tais como a presença de certos domínios peptídicos repetidos seqüencialmente ― onde a presença de resíduos de serina e treonina é abundante ― além de um complexo padrão de tradução de mRNAs (Moniaux et al., 2001). Dentre as mucinas previamente identificadas, aquelas codificadas pelo gene polimórfico muc1, constituem a família de maior utilidade clínica como marcador tumoral, particularmente de câncer de mama humano (Petrakou et al., 1998). - 52 - As MUC1 foram descritas inicialmente como produtos de secreção de células epiteliais envolvidas na produção de leite humano e representam o principal componente protéico da superfície luminal de células das glândulas mamárias (Petrakou et al., 1998). A estrutura funcional dessas glicoproteínas está organizada em três domínios distintos: uma cauda citoplasmática, uma região transmembrana e um extenso domínio extracelular constituído por repetições em tandem de 20 aminoácidos. Nessas regiões repetitivas há uma alta concentração de oligossacarídeos Oligados a hidroxilas livres de resíduos de serina e treonina. A primeira etapa da síntese dos oligossacarídeos O-ligados em mucinas corresponde à adição de N-acetil-galactosamina (GalNac) às hidroxilas livres laterais. Em células sadias essa etapa é seguida pela produção de estruturas denominadas Core 1 ou antígeno TF, e Core 3, através da adição de um resíduo de galactose (Gal) ou N-acetil-glicosamina (GlcNac) ao esqueleto carbônico de GalNac (van den Steen et al., 1998). Glicosilações adicionais são então realizadas, estendendo as projeções laterais de oligossacarídeos (Cho et al., 1997). Em determinados tipos de células cancerosas as mucinas freqüentemente são expressas abundantemente e seu padrão de glicosilação sofre alterações. Em processo de câncer algumas das etapas da O-glicosilação são inibidas, principalmente a adição de galactose e N-acetil-glicosamina, resultando na truncagem da molécula e na formação do antígeno tumoral Tn, o qual pode ainda receber uma molécula de ácido N-acetil-neuramínico (antígeno sialil-Tn) (Springer, 1984). O anticorpo AcM83D4 que deu origem ao scFv DIR83D4 é altamente eficiente no reconhecimento de antígenos tumorais Tn e foi produzido a partir da linhagem de hibridomas de mama MCF-7 (Babino et al., 1997 ) e também no sangue de camundongos imunizados com suspensões celulares de seções epiteliais de tumores mamários (Pancino et al., 1990). Esse anticorpo reconhece outros tipos de tumores produtores do antígeno Tn, como os de ovário e colo retal, sem apresentar reatividade em tecidos sadios (Charpin et al., 1992), sendo que o reconhecimento do antígeno requer no mínimo dois resíduos adjacentes de Tn (Osinaga et al., 2000). - 53 - Outra característica importante é que o acúmulo do antígeno Tn já foi verificado em tecidos em início de transformação maligna, caracterizando-o também como marcador pré-tumoral dos mesmos tipos de cânceres humanos previamente mencionados (Babino et al., 2000). O scFv DIR83D4 já foi produzido em bactéria e teve sua eficiência de reconhecimento do antígeno Tn demonstrada através de ensaios de ELISA (Babino et al., 1997 ). Cançado (2002) conseguiu acumular esse mesmo anticorpo em sementes de tabaco transgênico a partir da integração de um cassete de expressão contendo sua seqüência codante de 746 pb (figura 9) fusionada ao promotor da γ-kafirina de sorgo e ao peptídeo-sinal da α-coixina citado anteriormente. caggttcagctgcagcagtctgacgctgagttggtgaaacctggggcttcagtgaagata Q V Q L Q Q S D A E L V K P G A S V K I tcctgcaaggcttctggctacaccttcactgaccatgctattcactgggtgaagcagaag S C K A S G Y T F T D H A I H W V K Q K cctgaacagggcctggaatggattggatatttttctcccggaaatggtgatattaagtac P E Q G L E W I G Y F S P G N G D I K Y aatgagaagttcaagggcaaggccacactgactgcagacaaatcctccagcactgcctac N E K F K G K A T L T A D K S S S T A Y atgcagctcaacagcctgacatctgaggattctgctgtgtatttctgtaaaagatcctat M Q L N S L T S E D S A V Y F C K R S Y ggtaactacgactactggggccaaggcaccactctcacactgccttcaggtggcggtggc G N Y D Y W G Q G T T L T L P S G G G G tcgggcggtggtgggtcgggtggcggcggatctgacatcaagctgactcagtctccagcc S G G G G S G G G G S D I K L T Q S P A atcctgtctgtgagtccaggagaaagagtcagtttctgctgcagggccagtcagaacatt I L S V S P G E R V S F C C R A S Q N I ggcacaagtatacactggtatcagcaaagaacaaatggttctccaaggcttctcataaag G T S I H W Y Q Q R T N G S P R L L I K tatgcttctgagtctgtctctgggatcccttccaggtttagtgccagtggatcagggaca Y A S E S V S G I P S R F S A S G S G T gattttactcttagcatcaacagtgtggagtctgaagatattgcagattattactgtcaa D F T L S I N S V E S E D I A D Y Y C Q catactaatagctggccaaccacgttcggaggggggccaaaactggaaataaaactcgag H T N S W P T T F G G G P K L E I K L E Figura 9: Seqüência codante do scFv DIR83D4. Nucleotídeos em preto correspondem à região variável da cadeia pesada; em vermelho ao peptídio conector de glicina e serina e em azul à porção variável da cadeia leve. Em negrito é apresentada a seqüência de aminoácidos correspondente. Segundo a American Cancer Society (http://www.cancer.org/downloads/ /STT/BCFF-Final.pdf), somente nos Estados Unidos foi estimada a incidência de - 54 - 62.000 novos casos de câncer de mama e de 42.000 mortes em 2007, o que representa uma estatística alarmante de aumento de ocorrência da doença quando comparada aos dados do ano anterior. De acordo com o mesmo instituto, com relação aos sete estágios de desenvolvimento do câncer de mama, as chances de sobrevivência do paciente após cinco anos decorridos do diagnóstico do tumor equivalem a 98% se a detecção ocorrer no primeiro estágio, o que reforça a necessidade de adoção de medidas de detecção precoce da doença. Além disso, a utilização de anticorpos carreadores fusionados a agentes terapêuticos, que direcionam especificamente os princípios ativos aos locais de ocorrência dos tumores, representam uma perspectiva futura de aumento de eficácia e de segurança no tratamento a longo prazo de diversos tipos câncer. O scFv DIR83D4 recombinante constitui um excelente candidato em potencial para atuar em kits diagnósticos precoces de câncer de mama, dada sua capacidade de reconhecimento do antígeno tumoral Tn, tipicamente acumulado em tumores em início de formação nesse órgão. Com a finalidade de produzir o anticorpo scFv DIR83D4 anti-Tn em sementes de plantas transgênicas de soja, foi estabelecida uma parceria e colaboração entre o Laboratório de Transferência de Genes (Cenargen), o Centro CBMEG – Unicamp e o Laboratório de Oncologia Básica da Faculdade de Medicina de Montevidéu (Uruguai). 1.16) O anticorpo scFv anti-CD18 Há pelo menos três décadas as doenças do aparelho circulatório representam a principal causa de morte no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde (http://hiperdia.datasus.gov.br/), as doenças cardiovasculares são responsáveis por 1.150.000 internações/ano, com um custo aproximado de 475 milhões de reais aos cofres públicos. A hipertensão arterial, que atinge aproximadamente 7,5 milhões de brasileiros, e o diabetes mellitus representam os principais fatores de risco que levam às doenças do aparelho circulatório. - 55 - Entre suas complicações mais freqüentes encontram-se o infarto agudo do miocárdio, o acidente vascular cerebral, a insuficiência renal crônica e a insuficiência cardíaca. Ainda considerando dados do Ministério da Saúde, as mortes em decorrência de infarto agudo do miocárdio corresponderam a mais de 27% do total de óbitos ocorridos no Brasil em 2007. A lesão de repefusão do músculo miocárdio é causada pelo acúmulo de neutrófilos ativos nesse tecido após diminuição da oxigenação e infarto, levando freqüentemente à inflamação tecidual e à morte (Engler et al., 1986). A aderência de neutrófilos ao endotélio vascular é um evento-chave para o processo de transmigração e influxo no miocárdio lesionado e ocorre pelo reconhecimento celular mediado por proteínas denominadas “integrinas de adesão” CD11 e β-2 CD18, presentes na membrana plasmática dessas células e pela molécula endotelial de adesão intercelular 1 (ICAM-1) (Albelda et al., 1994). Uma vez aderidos, os neutrófilos penetram o espaço subendotelial e liberam mediadores inflamatórios que contribuem para a danificação do tecido após evento de isquemia (Albelda et al., 1994). Anticorpos monoclonais anti-CD18 possuem a capacidade de reconhecimento e ligação à integrina CD18 dos neutrófilos, bloqueando sua adesão ao endotélio vascular e prevenindo o surgimento de lesões cardíacas associadas a essas células (Diacovo et al., 1996). Coelhos pré-tratados com anticorpos anti-CD18 sofreram redução da área de extensão do infarto e de injúrias no músculo cardíaco após eventos de má oxigenação tecidual, além de apresentarem maiores chances de sobrevivência após choque hemorrágico e maior grau de prevenção de lesões de reperfusão tanto no coração quanto no intestino e pulmões (Vedder et al., 1988; Horgan et al., 1990). O anticorpo scFv anti-CD18 é um fragmento de cadeia simples da porção variável do anticorpo monoclonal anti-CD18 (IgG1), com 36 kDa de massa molecular e ponto isoelétrico aproximado de 9,1. Essa imunoglobulina é codificada por uma seqüência nucleotídica de 763 pb, clonada em fusão com um sítio de NcoI e com a seqüência parcial de 202 pb codificadora de um dos principais domínios da proteína A de Staphylococcus aureus (figura 10). - 56 - ctcaagttcagttggttcaatctggtgctgaagttaaaaagcccggtgcttctgttaaagtg Q V Q L V Q S G A E V K K P G A S V K V tcttgtaaagcctctggttatacttttaatagattctggattgagtgggtaagacaggcc S C K A S G Y T F N R F W I E W V R Q A cccggtcaaggtttggaatggatgggcgagatcctgccaggctctggcagcccaaactat P G Q G L E W M G E I L P G S G S P N Y aatgaaaagtttaagggcagggtgactatgactgccgataccagcaccagcaccgtgtat N E K F K G R V T M T A D T S T S T V Y atggagctgagcagcctaaggtcagaagacacagccgtgtattactgcgcccgtgacctt M E L S S L R S E D T A V Y Y C A R D L cctggcggagatttctacgcaatggattactggggacaggggacattagtcacggtctcc P G G D F Y A M D Y W G Q G T L V T V S tctagaggtgggggcggttcgggtggcgggggctcgggcgggggaggctcagatcgatct S R G G G G S G G G G S G G G G S D R S gacgtggttatgacccaaagccccttgtccctgccagtcactctgggccagcctgcctct D V V M T Q S P L S L P V T L G Q P A S ataagctgcaggtctagccaacgcttggtgcacaccaacggtaacacctacttccactgg I S C R S S Q R L V H T N G N T Y F H W tttcttcaaagaccaggacagagcccccgtctgttgatttacaaggtttccaatagattc F L Q R P G Q S P R L L I Y K V S N R F tttggagtcccagacaggttttctggctctggtagcgggactgatttcacactcaaaatt F G V P D R F S G S G S G T D F T L K I tccagggtagaagctgaggatgtcggggtgtattattgttcacagtcaacacatgttccc S R V E A E D V G V Y Y C S Q S T H V P cggactttcggtggtggcacaaagctcgagatcaagagagcccatggtgatccgaaagct R T F G G G T K L E I K R A H G D P K A gacaacaaattcaacaaagaacaacaaaatgctttctatgaaatcttacatttacctaac D N K F N K E Q Q N A F Y E I L H L P N ttaaatgaagaacaacgcaatggtttcatccaaagcttaaaagatgacccaagccaaagc L N E E Q R N G F I Q S L K D D P S Q S gctaaccttttagcagaagctaaaaagctaaatgatgcacaagcaccaaaagcttaaggt A N L L A E A K K L N D A Q A P K A - G accgagctc T E L Figura 10: Seqüência codante do scFv anti-CD18. Nucleotídeos em preto correspondem às regiões variáveis da cadeias leve; em azul aos da cadeia pesada; em vermelho ao peptídio conector de glicina e serina; em laranja ao sítio da enzima NcoI e em verde à seqüência nucleotídica parcial da proteína A. Os aminoácidos correspondentes estão em negrito. Essa imunoglobulina foi previamente caracterizada como um efetor eficiente da redução tanto da intensidade com que aneurismas da artéria aorta se expandem em camundongos quanto da reperfusão pós-isquêmica após infarto do miocárdio em cachorros (Ricci et al., 1996; Arai et al., 1996). O grupo de pesquisadores do Laboratório de Imunologia Molecular da Universidade de Brasília (UnB), prevendo o enorme potencial que o anticorpo scFv anti-CD18 apresenta para o tratamento clínico em humanos com insuficiência - 57 - cardíaca e problemas circulatórios, propôs a humanização dessa proteína visando a validação da sua capacidade terapêutica. Desta maneira, Caldas e colaboradores (2003) conseguiram resultados bastante promissores com a humanização do anticorpo anti-CD 18 para futuro tratamento em pacientes humanos. Sementes transgênicas de soja podem ser veículos eficientes para a produção do scFv anti-CD18 humanizado, visando a ampliação de sua aplicação clínica principalmente em função da redução de custos de produção que esse vegetal pode oferecer. - 58 - 2) OBJETIVOS 2.1) Objetivo geral O objetivo principal do presente trabalho foi expressar a pró-insulina humana, o hGH, o FIX da coagulação sangüínea humana e os fragmentos de anticorpos scFv DIR83D4 e scFv anti-CD 18 em sementes de soja transgênica. 2.2) Objetivos específicos • Avaliar os níveis de expressão dessas proteínas nas sementes, proporcionados pelo cassete de expressão, contendo o promotor da βfaseolina. • Estudar a modulação temporal e avaliar a estabilidade das proteínas heterólogas nas sementes após alguns anos de armazenamento. • Caracterizar, do ponto de vista subcelular, a compartimentalização dos polipeptídeos nos corpos protéicos cotiledonares, avaliando a eficiência da estratégia de “protein targeting” proporcionada pelo peptídeo-sinal de αcoixina. - 59 - 3) JUSTIFICATIVAS A importância da estratégia empregada é justificada não apenas quando se avalia o papel terapêutico e o potencial econômico encerrados nos cinco biofármacos recombinantes estudados, bem como na magnitude e impacto social causados pelo nanismo, a hemofilia B, o diabetes mellitus, o câncer de mama e as isquemias cardiovasculares em todos os setores da sociedade. A possibilidade em longo prazo do desenvolvimento tanto de linhagens-elite de plantas transgênicas, quanto de plataformas de produção comercial dessas moléculas ― utilizando as mais variadas combinações de diferentes promotores tecido-específicos e peptídeos-sinais ― necessita primeiramente de estudos acadêmicos preliminares de prospecção e avaliação de promotores e de estratégias de expressão gênica, bem como do modo como se comportam a nível estrutural e funcional cada uma das proteínas heterólogas mencionadas produzidas em soja. Alternativas terapêuticas eficientes e de custo mais reduzido serão cruciais para o aumento da sobrevivência e da qualidade de vida dos pacientes num futuro não tão distante. Plantas transgênicas como biorreatores de fármacos protéicos, principalmente a soja como organismo emergente nesses sistemas, se encaixam no cenário descrito como ferramentas úteis, capazes de auxiliar o alcance desses objetivos. - 60 - 4) MATERIAIS E MÉTODOS 4.1) Construção dos vetores plasmidiais de expressão 4.1.1) Construção do vetor pFasPSProins Para a construção do vetor de expressão da pró-insulina humana, um fragmento de 483 pb contendo a seqüência codante da proteína e do peptídeo-sinal de α-coixina foi retirado do vetor pRT-PGK-PSpróINS (4.732 pb), com as enzimas NcoI e BamHI, e inserido no vetor Beta P/Beta T previamente digerido com as mesmas enzimas, nos sítios presentes no múltiplo sítio de clonagem entre o promotor e o terminador da β-faseolina, gerando o vetor pFasPSProins de 4.528 pb (figura 11). - 61 - Hind III (1) 1 Lac Z Xba I (198) 1 PGK AMP Beta P/Beta T 4046bp Eco RV (915) Eco RI (1136) pRT-PgK-PSpróINS Term Beta P AMP 4732bp ORI Prom Beta P Hind III (2547) Nco I (1211) Bal I Kpn I PS-Coix (62pb) Pró-Ins (396 pb) BamHI (1656) Sma I Pst I Eco RI Nco I Pst I Eco RV Kpn I Stu I Sal I XhoI (1711) ORI Pst I (1298) T-35S Bam HI (1694) Xba I (1698) Hind II (1928) Linearização do vetor BetaP/Beta T com Nco I e Bam HI. Retirada do fragmento contendo a seq. PS Coix e proIns com Nco I e Bam HI. Eco RI (654) 1 Ligação do fragmento PSCoix/proIns no vetor BetaP/Beta T entre o promotor e o terminador da β-Phaseolina nos sítios de Nco I e Bam HI. AMP Lac Z pFASPSproINS Term B-P ProINS (396pb) 4528bp PS-Coix (62pb) ORI Prom B-P Xho I (2961) Hind III (2547) Bam HI (1174) Sma I Pst I Eco RI (1199) Pst I (1570) Nco I (1656) Pst I Eco RV Kpn I Stu I Sal I XhoI (1681) Figura 11: Demonstração da construção do plasmídeo de expressão pFASPSproINS (4528 pb). 4.1.2) Construção do vetor pFasGH O vetor de expressão do hGH foi obtido a partir da retirada de um fragmento de 740 pb contendo a seqüência codante da proteína e do peptídeo-sinal de αcoixina a partir do vetor pRT-PGK-PShGH (4.990 pb), com as enzimas NcoI e BamHI. Esse fragmento foi inserido no vetor Beta P/Beta T previamente digerido com NcoI e BamHI, nos sítios presentes no múltiplo sítio de clonagem entre o promotor e o terminador da β-faseolina, gerando o vetor pFasGH de 4.786 pb (figura 12). - 62 - Hind III (1) 1 AMP Lac Z Xba I (198) 1 PGK Beta P/Beta T 4046bp Eco RV (915) AMP Eco RI (1136) pRT-PgK-PShGH Term Beta P PS-Coix (62pb) Nco I (1211) Pst I (1298) 4990bp ORI Prom Beta P Hind III (2547) hGH (654 pb) BamHI (1656) Sma I Pst I Eco RI Nco I Pst I Eco RV Kpn I Stu I Sal I XhoI (1711) ORI T-35S Bam HI (1951) Xba I (1998) Hind II (2221) Retirada do fragmento contendo a seq. PS Coix e hGH com Nco I e Bam HI. Linearização do vetor BetaP/Beta T com Nco I e Bam HI. Eco RI (396) 1 Lac Z Term B-P Ligação do fragmento PSCoix/Hgh no vetor BetaP/Beta T entre o promotor e o terminador da βPhaseolina nos sítios de Nco I e Bam HI. AMP pFASGH hGH (654 pb) BamHI (916) Sma I Pst I Eco RI (941) Sma I (1071) 4786bp PS-Coix (62pb) ORI Prom B-P Xho I (2961) Hind III (2547) Pst I (1570) Nco I (1656) Pst I Eco RV Kpn I Stu I Sal I XhoI (1681) Figura 12: Demonstração da construção do plasmídeo de expressão pFASGH (4.786 pb). 4.1.3) Construção do vetor pFasFIX O fragmento de 1.326 pb contendo a seqüência codante do FIX humano foi amplificada a partir do DNA plasmidial de um clone constituinte de uma biblioteca de cDNA humano, previamente construída pela equipe do Laboratório de Imunologia Molecular da UnB a partir de mRNAs isolados de tecido hepático. Os oligonucleotídeos de anelamento específico no cDNA do FIX humano FIXPSNcoI e FIXBamHI (figura 13) foram utilizados na reação de amplificação e adicionaram um sítio de NcoI, seguido pelo peptídeo sinal de α-coixina na - 63 - extremidade 5` do fragmento e BamHI na extremidade 3`, conforme mostra a figura 14. Primer FIXPSNcoI Nco I 5`ACCATGGCTACCAAGATATTTGCCCTCCTTGTGCTCCTTGCTCTTTCAGCGAGCGCTACAACTGCGACAG TTTTTCTTGATCATGA 3` Primer FIXBamHI Bam HI 5`AGGATCCTTAAGTGAGCTTTGTTTTTT 3` Figura 13: Oligonucleotídeos utilizados para amplificar o fragmento contendo a seqüência codante do FIX humano. Em verde se encontram as seqüências dos sítios de restrição, a do peptídeo-sinal de αcoixina se encontra sublinhada e em negrito as de anelamento no cDNA do FIX. Biblioteca de cDNA. 1 1 1 clone 1 clone 3000 3000 clone 3000 1 clone 1 clone 3000 clone 3000 3000 1 1 FIXPSNco I clone 3000 clone 3000 5` Biblioteca de cDNA humano contendo clones portadores da seq. do FIX. Nco I 5`c catgg 3` 3`ggtac c 5` FIX (1326pb) 3` FIX BamHI Amplificação da seq. FIX com os primers FIXPSNco I e FIX BamHI. PSCoix (62pb) FIX (1326pb) Bam HI 5`g gatcc 3` 3`cctag g 5` Obtenção de fragmentos contendo, a partir da extremidade 5`, um sítio de Nco I seguida do peptídeo sinal de Coix, da seq. do FIX e de um sítio de Bam HI. - 64 - Figura 14: Demonstração da obtenção do fragmento NcoI-PS-FIX-BamHI (1.412 pb). O fragmento NcoI-PS-FIX-BamHI foi então clonado no vetor Beta P/Beta T previamente digerido com NcoI e BamHI, nos sítios presentes no múltiplo sítio de clonagem entre o promotor e o terminador da β-faseolina, gerando o vetor pFasPSFIX de 5.458 pb (figura 15). 1 AMP Lac Z Beta P/Beta T 4046bp Nco I Eco RI (1136) PS Coix Term Beta P (62pb) ORI Prom Beta P Bam HI FIX (1326pb) BamHI (1656) Sma I Pst I Eco RI Nco I Hind III (2547) Pst I Eco RV Kpn I Stu I Sal I XhoI (1711) Linearização do vetor BetaP/Beta T com Nco I e Bam HI. Eco RI (524) AMP 1 Lac Z Term B-P ORI Ligação do fragmento PSCoix/FIX no vetor BetaP/Beta T entre o promotor e o terminador da βPhaseolina nos sítios de Nco I e Bam HI. Bam HI (1044) Sma I Pst I Eco RI (1069) pFASPSFIX 5458bp Sma I (1199) Xho I (3761) FIX (1326 pb) Hind III (3346) Prom B-P PS-Coix (62pb) Pstu I (2370) Nco I (2456) Pst I Eco RV Kpn I Stu I Sal I Xho I (2481) Figura 15: Demonstração da construção do plasmídeo de expressão pFASPSFIX (5.458 pb). - 65 - 4.1.4) Construção do vetor pFASPSscFvDIR Para a construção do vetor de expressão do scFv DIR83D4, um fragmento de 805 pb contendo a seqüência codante da proteína e do peptídeo-sinal de α-coixina foi retirado do vetor pRT-PSscFv (5.062 pb), com as enzimas NcoI e BamHI, e inserido no vetor Beta P/Beta T previamente digerido com as mesmas enzimas, nos sítios presentes no múltiplo sítio de clonagem entre o promotor e o terminador da βfaseolina, gerando o vetor pFASPSscFvDIR de 4.826 pb (figura 16). Hind III (1) 1 AMP Lac Z Xba I (198) 1 PGK Beta P/Beta T 4046bp Eco RI (1136) AMP pRT-PSscFv Term Beta P 5062bp ORI Prom Beta P Hind III (2547) BamHI (1656) Sma I Pst I Eco RI Nco I Pst I Eco RV Kpn I Stu I Sal I XhoI (1711) PS-Coix (62pb) Eco RV (915) Nco I (1211) Bal I Kpn I Pst I (1298) scFvDIR (718pb) ORI T-35S Bam HI (2016) Hind II (2221) Xba I (2020) Retirada do fragmento contendo a seq. PS Coix e ScFvDIR83D4 com Nco I e Bam HI. Linearização do vetor BetaP/Beta T com Nco I e Bam HI. Eco RI (396) 1 Ligação do fragmento PSCoix/ ScFvDIR83D4 no vetor BetaP/Beta T entre o promotor e o terminador da β-Phaseolina nos sítios de Nco I e Bam HI. Lac Z Term B-P AMP Bam HI (876) Sma I Pst I Eco RI (901) pFASPSscFvDIRscFvDIR (718pb) 4826bp PS-Coix (62pb) ORI Prom B-P Xho I (2961) Hind III (2547) Pst I (1570) Nco I (1656) Pst I Eco RV Kpn I Stu I Sal I XhoI (1681) Figura 16: Demonstração da construção do plasmídeo de expressão pFASPSscFvDIR (4.826 pb). - 66 - 4.1.5) Construção do vetor pFASPSAnti-CD18 O fragmento de 960 pb contendo a seqüência codante do scFv anti-CD18 foi amplificada a partir do DNA plasmidial de um clone bacteriano constituinte de uma biblioteca de cDNA do scFv anti-CD18 humanizado, previamente construída pelo grupo do Laboratório de Imunologia Molecular da UnB. Os oligonucleotídeos de anelamento específico no cDNA do anticorpo CD18PSEcoRV e CD18BamHI (figura 17) foram utilizados na reação de amplificação e adicionaram um sítio de EcoRV, seguido pelo peptídeo sinal de α-coixina, na extremidade 5` do fragmento e BamHI na extremidade 3`, conforme mostra a figura 18. Primer CD18PSEcoRV Eco RV AGATATCATGGCTACCAAGATATTTGACCTCCTTGTGCTCCTTGCTCTTTCAGCGAGCGCTACAACTGC GCGGGCTCAAGTTCAGTTG CD18BamHI Bam HI AGGATCCGAGCTCGGTACCTTAAGC Figura 17: Oligonucleotídeos utilizados para amplificar o fragmento contendo a seqüência codante do scFv anti-CD18. Em verde se encontram as seqüências dos sítios de restrição, em sublinhado a do peptídeo-sinal de α-coixina e em negrito as de anelamento no cDNA do scFv anti-CD18. - 67 - Biblioteca de cDNA. 1 1 1 1 clone 3000 clone clone 3000 3000 1 clone 1 clone 1 3000 clone clone 3000 3000 3000 1 CD18PSEco RV clone 3000 5` Amplificação da seq. anti-CD18 com os primers CD18PSEco RV e CD18 BamHI. Biblioteca de cDNA humano contendo clones portadores da seq. do anti-CD18. Eco RV 5`ngat Anti-CD-18 (960pb) PS Coix atcn 3` 3`ncta tagn 5` (62pb) Anti-CD-18 (960pb) 3` CD18 BamHI Bam HI 5`g gatcc 3` 3`cctag g 5` Obtenção de fragmentos contendo, a partir da extremidade 5`, um sítio de Eco RV seguida do peptídeo sinal de Coix, da seq. do Anti-CD18 e de um sítio de Bam HI. Figura 18: Demonstração da obtenção do fragmento EcoRV-PS-Anti-CD18-BamHI (1.046 pb). O fragmento EcoRV-PS-Anti-CD18-BamHI foi então clonado no vetor Beta P/Beta T previamente digerido com EcoRV e BamHI, nos sítios presentes no múltiplo sítio de clonagem entre o promotor e o terminador da β-faseolina, gerando o vetor pFasPSAnti-CD18 de 5.092 pb (figura 19). - 68 - 1 AMP Lac Z Beta P/Beta T 4046bp Eco RV Eco RI (1136) Bam HI PS Coix Anti-CD18 Term Beta P (62pb) ORI Prom Beta P Hind III (2547) (960pb) BamHI (1656) Sma I Pst I Eco RI Nco I Pst I Eco RV Kpn I Stu I Sal I XhoI (1711) Linearização do vetor BetaP/Beta T com Eco RV e Bam HI. AMP 1 Bam HI (890) Sma I Pst I Eco RI (915) Lac Z Ligação do fragmento PSCoix/anti-CD18 no vetor BetaP/Beta T entre o promotor e o terminador da β-Phaseolina nos sítios de Eco RV e Bam HI. ORI pFASPSAnti-CD18 5092bp Term B-P Bam HI (1410) Sma I Pstu I Eco RI (1435) Xho I (3761) CD-18 (960pb) Hind III (3346) Prom B-P PS-Coix (62pb) Pstu I (2370) Nco I (2456) Pst I Eco RV Kpn I Stu I Sal I Xho I (2481) Figura 19: Demonstração da construção do plasmídeo de expressão pFASPSAnti-CD18 (5.092 pb). - 69 - 4.2) Obtenção do fragmento contendo o gene ahas Com o objetivo de ser utilizado como gene marcador de seleção, o gene ahas foi retirado do vetor pAC 321® de 8.400 pb (Cyanamid) pela digestão com XbaІ nas posições 73 pb e 6.440 pb, liberando o cassete contendo o promotor ahas, o gene ahas e o terminador ahas (frag ahas) (figura 20), o qual foi utilizado em co-transformação juntamente com o vetores plasmidiais mostrados anteriormente nos experimentos de biobalística. pAC 321® PvuII Ampicili lac M f1(-) XbaI PvuII prom. ahas gene ahas ColE1 term. ahasXbaI Frag. ahas. Figura 20: Fragmento contendo o gene ahas, utilizado como marcador de seleção nos experimentos de co-transformação de soja. 4.3) Transformação de soja 4.3.1) Esterilização de sementes e preparo do material vegetal Sementes maduras das cultivares BR16 e Conquista foram superficialmente esterilizadas em etanol 70% por 1 minuto, seguidas por imersão em 1% de hipoclorito de sódio por 20 minutos e lavadas três vezes em água destilada estéril, permanecendo nessas condições por 16 a 18 horas. Os eixos embrionários foram excisados das sementes e seus meristemas apicais expostos pela remoção dos primórdios foliares. Os eixos embrionários foram então posicionados em placas de cultura de 5 cm de diâmetro contendo 12 mL de meio de bombardeamento [meio basal de sais MS (Murashige & Skoog, 1962), 3% de sacarose e 0,8% fitagel Sigma, pH 5,7] com a região apical direcionada para cima. - 70 - 4.3.2) Bombardeamento O bombardeamento dos eixos embrionários com os vetores plasmidiais e o fragmento ahas foi conduzido como previamente descrito por Aragão e colaboradores (1996). 4.3.3) Indução de multibrotação A multibrotação dos meristemas apicais dos eixos embrionário bombardeados foi induzida pela transferência e completa imersão dos mesmos em placa de vidro de 10 cm de diâmetro contendo 15 mL de meio de indução [meio basal de sais MS , suplementado com 10,0 mg/L benzilaminopurina (BAP), 3% de sacarose e 0,6% ágar Sigma, pH 5,7], imediatamente após o bombardeamento. Após a transferência os embriões foram acondicionados no escuro, a 28ºC por 16 horas. 4.3.4) Seleção dos explantes Após o período de indução os explantes foram transferidos para um frasco de vidro do tipo “baby food” contendo 20 mL do meio de seleção (MS meio basal de sais, 3% de sacarose, 500 nM do herbicida imazapyr e 0,7% de ágar Sigma, pH 5,7) e cultivados a 28ºC sob um fotoperíodo de 16 horas (50 µmoles m -2 s-1). A partir do momento em que o sistema radicular dos explantes encontrouse plenamente desenvolvido (cerca de 30 dias) os mesmos foram individualizados em copos plásticos de 7,0 cm de diâmetro, contendo 0,2 dm3 de solo fertilizado e transferidos para casa de vegetação sob condições de 25ºC, umidade relativa de 80% e intensidade luminosa de 350 µmoles m -2 s-1, onde permaneceram protegidos por um envoltório plástico transparente na primeira semana de aclimatação. Após a identificação por PCR das plantas efetivamente transformadas, as mesmas foram transferidas para vasos plásticos contendo 5 dm3 de solo - 71 - fertilizado e isoladas das plantas não transformadas em outra casa de vegetação, sob condições propícias para produção de sementes. 4.4) Reação em cadeia da polimerase (PCR) Para análise de PCR dos eventos potencialmente transformados e das progênies, o DNA das plantas selecionadas com o herbicida foi isolado de discos foliares de acordo com metodologia de Doyle & Doye (1987), utilizando-se CTAB 2X (brometo de cetil-trimetil-amônio). Cada reação de PCR foi realizada em volume de 25 µL, contendo 10 mM Tris-HCl (pH 8,4), 50 mM KCl, 2 mM MgCl2, 160 µM de cada dNTP, 200 nM de cada primer, 2U de Taq polimerase (GIBCO BRL) e cerca de 20 ng de DNA plasmidial. O “mix” foi coberto com óleo mineral, desnaturado por 5 minutos a 95°C em um termociclador (MJ thermal cycler-EUA), e amplificada por 35 ciclos (95°C por 1 minuto, 55°C por 1 minuto e 73°C por 1 minuto) com um ciclo final de 7 minutos a 72°C. A reação foi aplicada em gel de agarose 1% e visualizada em luz ultravioleta (UV) por coloração com brometo de etídio. Foram utilizados 12 oligonucleotídeos (primers) para verificar a presença dos transgenes nas plantas obtidas (Tabelas 3 e 4). Tabela 3. Seqüência de oligonucleotídeos utilizados como primers para análise de PCR. Primer Seqüência 5`- 3` Orientação AHAS 500c GTG GCT ATA CAG ATA CCT GG Complementar AHAS p124 ACT AGA GAT TCC AGC GTC AC Normal PSSCFVRev TGA GAA GCC TTG GAG AAC Complementar PSSCFVFwa TGA AGC AGA AGC CTG AAC Normal HGH 601c CCTTGTCCATGTCCTTCC Complementar HGH 273 ATCCAACCTAGAGCTGCTCC Normal pCons3 CTTATCTGGGAACTACTCACAC Complementar pCons5 CCCTCGTACGCCTATGCAC Normal - 72 - FIX AL 751c TAACGATAGAGCCTCCACAG Complementar FIX AL 256 GATGGAGATCAGTGTGAGTC Normal CD 18 AL 583C TGTGCACCAAGCGTTGGCTA Complementar CD18 AL 66 GGCTCAAGTTCAGTTGGTTC Normal Tabela 4. Pares de primers utilizados e o tamanho dos fragmentos amplificados. Primer Fragmento amplificado Gene pCons3 701 pb pró-insulina 328 pb hgh 495 pb fix 450 pb ScFvDIR83D4 517 pb cd18 pCons5 HGH 273 HGH 601c FIX AL 256 FIX AL 751c PSSCFVFwa PSSCFVRev CD18 AL 66 CD 18 AL 583C 4.5) Avaliação da progênie Cinco gerações de plantas de soja PCR positivas para o gene do scFv DIR83D4 foram cultivadas em casa de vegetação. Já as demais plantas positivas para outros genes avançaram duas gerações nas mesmas condições. Lotes de sementes das progênies de todas as plantas transgênicas foram avaliados por PCR. Apenas as transgênicas foram plantadas ou analisadas molecular ou bioquimicamente conforme indicado a seguir: - 73 - 4.5.1) Análise por Southern blot O DNA genômico de plantas da primeira geração (R1) PCR positivas para os genes do hGH, FIX e scFv DIR83D4 foi isolado de acordo com o protocolo estabelecido por Dellaporta e colaboradores (1983). O Southern blot foi realizado segundo protocolo estabelecido por Sambrook e colaboradores (1989). Cerca de 15 µg de DNA foram digeridos com a enzima HindIII (150 unidades), separados em gel de agarose 1% e transferidos para uma membrana de nylon Hybond® N + (Amersham). Para a hibridização foram utilizadas respectivamente sondas de 750, 885 e 890 pb, de anelamento interno nos próprios genes hgh, fix e scFvdir83d4, marcadas com α32P dCTP (3000 Ci/mol) usando o kit de marcação Ready-To-Go DNA ® Labeled (GE Healthcare) de acordo com as recomendações do fabricante. 4.5.2) Análise por RT- PCR Sementes verdes R2 e R5 (no caso do scFv DIR83D4) de plantas PCR positivas com 60 dias completos foram analisadas para a presença de transcritos dos genes hgh, fix e scfvdir83d4. Os RNAs totais de 250 mg de sementes verdes foram isolados segundo o kit Micro-to-Midi Total RNA Purification System® (Invitrogen). O DNA genômico remanescente foi eliminado pela digestão das amostras de RNA pela ação de 2 U de DNAse 1® (Ambion). Os cDNAs foram construídos a partir de 2 µg de RNA total utilizando-se o kit SuperScript II RNase H- Reverse Transcriptase® (Invitrogen) de acordo com as recomendações do fabricante. Após a construção dos cDNAs foram realizadas reações de PCR conforme descrito anteriormente. - 74 - 4.5.3) Análises por western blot Os extratos protéicos totais de sementes R1 e R5 (scFv DIR83D4) maduras PCR positivas para os genes pró-insulina, hgh, fix, scfvdir83d4 e anti-cd18 foram isolados e quantificados de acordo com o protocolo descrito por Marcellino e colaboradores (1998) Os mesmos foram separados por eletroforese em gel de poliacrilamida (SDSPAGE, “stacking gel” 5% e “resolving gel” 15%) e transferidos para membranas de nitrocelulose C Extra® (Hybond) utilizando o transblot SD-eletrotransfer® (Bio-Rad) sob 100 mA constantes e 15 V regulados. As membranas foram bloqueada com 50 mL de solução de leite em pó 5% em TBS 1X (Tris base 0,02 M e NaCl 0,137 M, pH 7,6) por 16 horas a 4°C e incubadas por 4 hs à temperatura ambiente com os respectivos anticorpos primários anti-soro policlonais produzidos em coelho, diluídos em 10 mL de solução de bloqueio: antipró-insulina (dil. 1 : 1.000 - 0,5 ng/µL), anti-hGH (dil. 1 : 2.500 - 0,2 ng/µL); antihuman FIX (dil. 1 : 3.000 - 4 ng/µL), anti-scFv DIR83D4 (dil. 1 : 2.500 – 0,48 ng/µL) e anti-proteina A (dil. 1 : 2.000 - 0,25 ng/µL). Após lavagem com PBS 1X (Na2HPO4 10 mM, KH2PO4 1,7 mM, NaCl 140 mM e KCl 2,7 mM) os blots foram incubados em solução anti-soro anti-IgG de coelho (produzido em cabra) conjugado com fosfatase alcalina (Bio-Rad) numa diluição de 1: 5.000 (0,2 ng/ µL). Os blots foram revelados com o substrato quimioluminescente CSPD® (Applied Biosystems) de acordo com as indicações do fabricante e com filmes fotográficos Kodak Standard® (Kodak). Também para a revelação foram utilizados 10 mL do tampão de revelação (200 µL de NaCl 5 M; 1 mL de Tris 3 M, pH 9,5; 50 µL de MgCl2 1 M) acrescido dos substratos cromogênicos para fosfatase alcalina NBT 50 mg/mL (Nitro blue tetrazolium em dimetil formamida 70%) e BCIP 25 mg/mL (5-bromo-4-cloro-3-indolil fosfato em dimetil formamida 70%). Para a estimativa dos níveis de expressão do hGH, FIX e scFv DIR83D4 em sementes transgênicas R1 de diferentes linhagens, foram realizados western blots semi-quantitativos com 80 µg de extratos protéicos em triplicata de cada amostra e 30, 90, 150 e 20 ng das respectivas proteínas comerciais ou produzidas e - 75 - purificadas a partir de E.coli (controles positivos), separados individualmente em membranas, uma para cada proteína heteróloga. Os procedimentos de eletroforese, eletro transferência, bloqueio, incubação com anticorpos e revelação foram os mesmos já descritos anteriormente. Os filmes fotográficos foram digitalizados e as bandas relativas às amostras e aos controles positivos foram analisadas utilizando-se o programa Muli-Gauge® (FujiFilm). Foram elaboradas curvas-padrões para cada série de controles-positivos, relacionando a respectiva quantidade de pixels de cada banda e sua massa molecular em µg. Essas curvas foram utilizadas para estimar a massa percentual das proteínas heterólogas contidas nas sementes transgênicas. Western blots fenológicos foram realizados também com linhagens hGH, FIX e scFv DIR83D4, utilizando respectivamente sementes transgênicas R2 e R5 em 4 diferentes estágios de maturação fisiológica, colhidas com 15 dias de diferença ao longo do ciclo da cultura. 4.5.4) Análises de imunocitoquímica Sementes maduras transgênicas R1 de linhagens pró-insulina, hGH, FIX, e anti-CD18 e R5 de scFv DIR83D4 foram cortadas manualmente em pedaços pequenos e fixadas por 4 horas a 4°C em solução contendo paraformaldeído 2% e glutaraldeído 0,5% em tampão cacodilato 0,05 M, pH 7,2. Após a fixação os segmentos foram lavados três vezes, cada uma por 15 minutos no mesmo tampão e desidratados por 5 horas com etanol sob concentrações crescentes de 30%, 50%, 70%, 95% e 100%, 1 hora para cada concentração, a -20°C sob vácuo. Após a desidratação os segmentos foram infiltrados durante 3 horas com soluções de concentrações crescentes de resina LR White® (SPI Supplies), diluída em etanol, variando de 30% a 100%, e 8 horas em resina pura. A inclusão foi realizada com a embebição dos pedaços de sementes em solução contendo 1,98 g de benzoilperóxido e 5 gotas do acelerador de - 76 - polimerização da própria resina em 100 mL de resina LR White® pura, e incubados a 4°C sob luz UV por 72 horas. Seções ultra-finas foram obtidas com ultra-micrótomo e coletadas em telas de níquel de 400 mesh. Para a reação de imunocitoquímica as telas foram incubadas por 1 hora à temperatura ambiente com PBST 1X (Na2HPO4 10 mM, KH2PO4 1,7 mM, NaCl 140 mM , KCl 2,7 mM, Tween 20 0,5% e albumina sérica bovina 2% ), e por 2 horas com os anticorpos anti-pró-insulina (dil. 1: 10 - 5 ng/µL), anti-hgh (1 : 100 - 5 ng/µL), antihuman FIX (1 : 500 - 24 ng/µL), antiscFv DIR83D4 ( 1 : 100 - 12 ng/µL) e anti-antiCD18 (1 : 30 - 16,6 ng/µL) diluídos em PBST 1X. Após lavagem por 1 hora em PBS 1X (Na2HPO4 10 mM, KH2PO4 1,7 mM, NaCl 140 mM e KCl 2,7 mM) as telas foram incubadas em solução contendo proteína A conjugada com ouro (Gold Conjugate Protein A® – SPI Supplies) numa diluição de 1 : 20 (20 nM) por 2 horas. Após lavagem por 1 hora em PBS 1X as amostras foram secas por 24 horas, contrastadas com acetato de uranila 1% em PBS 0,1 M e observadas no Microscópio de Transmissão Eletrônica Zeiss EM 900® (Carl Zeiss). - 77 - 5) RESULTADOS 5.1) Linhagens transgênicas obtidas Nos experimentos de biobalística foram bombardeadas as regiões dos meristemas apicais de eixos embrionários de sementes de soja cv. Conquista e cv BR16. Foram obtidas 2 linhagens transgênicas com o gene da pró-insulina humana, 5 com o do hGH, 11 com o do FIX humano, 1 com o do scFv DIR83D4 e 4 com o do scFv anti-CD18 (tabela 5). Tabela 5. Linhagens transgênicas de soja obtidas por biobalística. N° embriões bombardeados 450 1000 1100 600 1000 Linhagem Gene Cultivar 194 195 23 /01 23/03 23/06 23/09 23/19 01 07 51 73 106 171 177 211 216 94 170 13/27 12 26 68 61 pró-insulina pró-insulina hgh hgh hgh hgh hgh fix fix fix fix fix fix fix fix fix fix fix scfvddir83d4 anti-cd18 anti-cd18 anti-cd18 anti-cd18 Conquista Conquista Conquista Conquista Conquista Conquista Conquista BR 16 BR 16 BR 16 BR 16 BR 16 BR 16 BR 16 BR 16 BR 16 BR 16 BR 16 Conquista BR 16 BR 16 BR 16 BR 16 PCR Planta R0 + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + - 78 - 5.2) Análise das progênies por PCR A presença dos transgenes na geração R1 das diferentes linhagens foi detectada por PCR utilizando-se os pares de primers mencionados na tabela 4, conforme ilustram as figuras 21, 22, 23, 24 e 25. 1 2 3 4 5 6 7 701 pb Figura 21: Reação de PCR demonstrando a amplificação de um fragmento de aproximadamente 701 pb interno ao gene da pró-insulina humana. 1 e 2 correspondem às sementes transgênicas das linhagens 194 e 195; 3 à semente não-transgênica da mesma linhagem 195; 4 à semente sabidamente não-transformada (controle negativo) controle negativo; 5 à água; 6 ao plasmídeo ® pFASPSproINS e 7 ao marcador de peso molecular 1 kb DNA ladder (Invitrogen). 1 2 3 6 11 7 128 13914101511 41 52 6 3 7 48 59 10 16 12 13 14 328 pb Figura 22: Reação de PCR demonstrando a amplificação de um fragmento de aproximadamente 328 pb interno ao gene do hGH. 1, 2, 5, 6, 7, 8, 9, 10 e 11 correspondem a sementes transgênicas das linhagens 23 /01, 23/03, 23/06, 23/09 e 23/19; 3, 4 e 12 a sementes não-transgênicas das linhagens 23 /01 e 23/19; 13 ao controle negativo; 14 à água; 15 ao plasmídeo pFasGH e 16 ao marcador de peso molecular 1 kb DNA ladder® (Invitrogen). - 79 - 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 495 pb Figura 23: Reação de PCR demonstrando a amplificação de um fragmento de aproximadamente 495 pb interno ao gene do FIX humano. 1, 3, 4, 5, 6 e 7 correspondem a sementes transgênicas das linhagens 01, 07, 51, 73, 101 e 107; 2 à semente não-transgênica da linhagem 01; 8 ao controle negativo; 9 à água; 10 ao plasmídeo pFASPSFIX e 11 ao marcador de peso molecular 1 kb DNA ladder® (Invitrogen). 1 2 3 5 4 6 7 8 9 450 pb Figura 24: Reação de PCR demonstrando a amplificação de um fragmento de aproximadamente 450 pb interno ao gene do scFv DIR83D4. 1, 2, 3, 4 e 5 correspondem a sementes transgênicas da linhagem 13/27; 6 ao controle negativo; 7 à água; 8 ao plasmídeo pFASPSscFvDIR83D4 e 9 ao marcador de peso molecular 1 kb DNA ladder® (Invitrogen). 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 517 pb Figura 25: Reação de PCR demonstrando a amplificação de um fragmento de aproximadamente 517 pb interno ao gene do scFv anti-CD18. 1, 3, 4, 6 e 11 correspondem a sementes transgênicas das linhagens 12, 26, 61 e 68; 2, 5, 7, 8, 9 e 10 a sementes não-transgênicas das mesmas linhagens; 12 ao controle negativo; 13 à água; 14 ao plasmídeo pFASPSAnti-CD18 e 15 ao marcador de peso molecular 1 kb DNA ladder® (Invitrogen). - 80 - 5.3) Análise das progênies por Southern blot As figuras 26, 27 e 28 ilustram as análises de hibridização dos DNAs genômicos de plantas R1 PCR positivas com sondas marcadas radioativamente. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 4.7 kb Figura 26: Southern blot de plantas R1 de três linhagens distintas transformadas com o plasmídeo pFasGH. 1, 2 e 3 correspondem a plantas da linhagem 23/01; 4, 5, 6, 7 e 8 a plantas da linhagem 23/03; 9, 10, 11, 12 e 13 a plantas da linhagem 23/09; 14 a uma planta sabidamente não-transgênica (controle negativo); 15 ao plasmídeo pFasGH de 4. 786 pb (100 pg); 16 ao marcador de peso molecular 1 kb DNA ladder® (Invitrogen). 1 2 3 4 5 5.4 kb Figura 27: Southern blot de plantas R1 de duas linhagens distintas transformadas com o plasmídeo pFASPSFIX. 1 corresponde à planta da linhagem 51; 2 à planta da linhagem 171; 3 ao controle negativo; 4 ao plasmídeo pFASPSFIX de 5.458 pb (100 pg) e 5 ao marcador de peso molecular 1 kb DNA ladder® (Invitrogen). - 81 - 1 2 3 4 5 6 7 4.8 kb Figura 28: Southern blot de plantas R1 da linhagem 13/27 transformada com o plasmídeo pFASPSscFvDIR. 1, 2, 3, 4 e 5 correspondem a plantas da linhagem transgênica; 6 ao controle negativo e 7 ao plasmídeo pFASPSscFvDIR de 4.826 pb (100 pg). 5.4) Análise das progênies por RT- PCR A verificação da expressão a nível transcricional dos genes hgh, fix e scfvdir83d4 foi realizada por meio de reações de RT-PCR de sementes R2 e R5 imaturas conforme ilustrado nas figuras 29, 30 e 31. 1 2 3 4 5 6 7 8 328 pb Figura 29: Análise de RT-PCR de sementes verdes R2, PCR positivas para o gene do hGH. 1, 2, 3 e 4 correspondem respectivamente às sementes transgênicas das linhagens 23/01, 23/03, 23/09 e 23/19; 5 à semente de uma planta sabidamente não-transformada (controle negativo); 6 à água; 7 ao plasmídeo pFasGH e 8 ao marcador de peso molecular 1 kb DNA ladder® (Invitrogen). - 82 - 1 2 3 5 4 6 7 495 pb Figura 30: Análise de RT-PCR de sementes verdes R2, PCR positivas para o gene do FIX. 1, 2 e 3 correspondem respectivamente às sementes transgênicas das linhagens 01, 07 e 171; 4 ao controle negativo; 5 à água; 6 ao plasmídeo pFASPSFIX e 7 ao marcador de peso molecular 1 kb DNA ladder® (Invitrogen). 1 2 3 4 5 6 450 pb Figura 31: Análise de RT-PCR de sementes verdes R5, PCR positivas para o gene do scFv DIR83D4. 1 e 2 correspondem a sementes transgênicas da linhagem 13/27; 3 ao controle negativo; 4 à água; 5 ao plasmídeo pFASPSscFvDIR e 6 ao marcador de peso molecular 1 kb DNA ladder® (Invitrogen). - 83 - 5.5) Análise de western blot de sementes transgênicas A análise da expressão a nível traducional dos transgenes hgh, fix, scfvdir83d4 e anti-cd18 e a comprovação do acúmulo das proteínas heterólogas em sementes transgênicas R1 e R5 pode ser verificada nas figuras 32, 33, 34 e 35. 1 2 3 4 5 6 22 kDa Figura 32: Detecção do hGH em sementes transgênicas R1. 1, 2 e 3 correspondem respectivamente a 100 µg de extratos protéicos de sementes das linhagens 23/19, 23/09 e 23/03; 4 a 100 µg de semente sabidamente não-transformada (controle negativo); 5 a 100 ng de hGH purificado de E. coli e 6 ao marcador de massa molecular All Blue® (Bio-Rad). 1 2 3 4 5 6 7 8 55 kDa Figura 33: Detecção do FIX humano em sementes transgênicas R1. 1, 2 e 3, correspondem respectivamente a 100 µg de extratos protéicos de sementes das linhagens 01, 07 e 51; 4 e 5 a sementes da linhagem 171; 6 a 100 µg de controle negativo; 7 a 40 ng de FIX comercial (SIGMA) e 8 ao marcador de massa molecular All Blue®(Bio-Rad). - 84 - 1 3 2 4 5 6 7 29 kDa Figura 34: Detecção do scFv DIR83D4 em sementes transgênicas R5. 1, 2, 3 e 4 correspondem respectivamente a 100 µg de extratos protéicos de sementes da linhagem 13/27; 5 a 100 µg de controle negativo; 6 a 300 ng de scFv DIR83D4 purificado de E. coli e 7 ao marcador de massa molecular All Blue® (Bio-Rad). 1 2 3 4 5 6 42 kDa Figura 35: Detecção do Anti-CD18 em sementes transgênicas R1. 1 e 2, correspondem a 90 µg de extratos protéicos de sementes da linhagem 12; 3 e 4 à mesma massa de sementes da linhagem 26; 5 ao controle negativo e 6 ao marcador de massa molecular All Blue® (Bio-Rad). - 85 - 5.6) Estimativa de acúmulo do hGH, FIX e scFv DIR83D4 em sementes transgênicas Os níveis de acúmulo das três proteínas heterólogas em sementes de soja transgênicas R1 foi estimado por western blots semi-quantitativos (tabela 6): Tabela 6. Estimativas de concentração de três proteínas heterólogas em sementes transgênicas. Gene Linhagem Acúmulo (%) hgh 23 /01 0,07 23/03 0,05 23/06 0,03 23/09 0,16 23/19 0,8 01 0,023 07 0,085 51 0,15 73 ND 94 ND 106 ND 170 ND 171 ND 177 ND 211 ND 216 ND 13/27 0.93 fix scfvdir83d4 ND: não determinado 5.7) Cinética de acúmulo das proteínas heterólogas A produção e o acúmulo do hGH, do FIX e do scFv DIR83D4 foi avaliada ao longo do ciclo fenológico da soja. - 86 - Experimentos de western blots foram realizados tendo como material vegetal sementes R1 e R5 com 15 dias de diferença de maturação fisiológica, conforme mostram os resultados das figuras 36, 37 e 38. hGH. 1 2 3 4 Loading control Western blot PCR 75 dia s 90 10 dia s 5d ias 12 0 dia s Figura 36: Avaliação da cinética de expressão do hGH em sementes transgênicas em diferentes estágios de maturação fisiológica. 1, 2, 3 e 4 correspondem a 80 µg de extratos protéicos de sementes R1 PCR positivas (linhagem 23/19), que apresentam diferentes níveis de acúmulo do hormônio. FIX. 1 2 3 4 Loading control Western blot PCR 75 dia s 90 dia s 10 5d ias 12 0d ias Figura 37: Avaliação da cinética de expressão do FIX em sementes transgênicas em diferentes estágios de maturação fisiológica. 1, 2, 3 e 4 correspondem a 80 µg de extratos protéicos de sementes R1 PCR positivas (linhagem 07), que apresentam diferentes níveis de acúmulo do fator de coagulação. - 87 - scFvDIR83D4. 1 2 3 4 Loading control Western blot PCR 75 d ia s 90 d ia s 10 5d ias 12 0d ias Figura 38: Avaliação da cinética de expressão do scFv DIR83D4 em sementes transgênicas em diferentes estágios de maturação fisiológica. 1, 2, 3 e 4 correspondem a 80 µg de extratos protéicos de sementes R5 PCR positivas (linhagem 13/27), que apresentam diferentes níveis de acúmulo do anticorpo. 5.8) Ensaios de imunocitoquímica de sementes maduras A localização espacial e o endereçamento subcelular das proteínas heterólogas, promovido pelo peptídeo-sinal de α-coixina, foram verificados por análises de imunocitoquímica (figuras 39, 40, 41, 42 e 43). - 88 - CP CO CO CP CP CO CP CO CP CP 1 2 CO CP CP CP CO CP CO CO 3 CP 4 Figura 39: Imunocitoquímica de seções ultra-finas de cotilédones, mostrando o acúmulo subcelular da pró-insulina em sementes R1 de soja transgênica. CP = Corpos Protéicos; CO = Corpos de Óleo. 1 e 2 correspondem a sementes transgênicas da linhagem 194; 3 à semente transgênica da linhagem 195 e 4 à semente nãotrasngênica (controle negativo). As setas indicam a presença da proteína A conjugada com ouro e conseqüentemente o reconhecimento da pró-insulina humana pelo anticorpo anti-pró-insulina. - 89 - CP CP CP CO CO CP CO CP CO CO CO 1 2 CP CP PC CO CO CO CO CO CP CP CO 3d) 4 Figura 40: Imunocitoquímica de seções ultra-finas de cotilédones, mostrando o acúmulo subcelular do hGH em sementes R1 de soja transgênica. CP = Corpos Protéicos; CO = Corpos de Óleo; PC = Parede Celular. 1 e 2 correspondem a sementes transgênicas da linhagem 23/19; 3 à semente transgênica da linhagem 23/09 e 4 à semente não-trasngênica (controle negativo). As setas indicam a presença da proteína A conjugada com ouro e conseqüentemente o reconhecimento do hGH pelo anticorpo anti-hGH na parede celular cotiledonar de soja. - 90 - CP CO CO CP CP CO CP CP CP CO CP CO 1 2 CO CP CP CP CO CP CP CO CO CO CO CP 3 4 Figura 41: Imunocitoquímica de seções ultra-finas de cotilédones, mostrando o acúmulo subcelular do FIX em sementes R1 de soja transgênica. CP = Corpos Protéicos; CO = Corpos de Óleo. 1 e 2 correspondem a sementes transgênicas da linhagem 07; 3 à semente transgênica da linhagem 171 e 4 à semente não-trasngênica (controle negativo). - 91 - CO CP CO CO CO CP CP CP CP PC CO CP 1 2 CP CP CO CP CO CP CP CO CO PC PC CO CO 3 4 Figura 42: Imunocitoquímica de seções ultra-finas de cotilédones, mostrando o acúmulo subcelular do scFv DIR83D4 em sementes R5 de soja transgênica. CP = Corpos Protéicos; CO = Corpos de Óleo; PC = Parede Celular. 1, 2 e 3 correspondem a sementes transgênicas da linhagem 13/27 e 4 à semente não-trasngênica (controle negativo). As setas indicam a presença da proteína A conjugada com ouro e conseqüentemente o reconhecimento do scFvDIR83d4 pelo anticorpo anti-scFvDIR83D4. - 92 - CO CO CO CO CP CP CO CO CP 2 1 CO CO CO CP CP MP PC CO CO CO 3 4 Figura 43: Imunocitoquímica de seções ultra-finas de cotilédones, mostrando o acúmulo subcelular do anti-CD18 em sementes R1 de soja transgênica. CP = Corpos Protéicos; CO = Corpos de Óleo; MP = Membrana Plasmática; PC = Parede Celular. 1 e 2 correspondem a sementes transgênicas da linhagem 12; 3 à semente da linhagem 26 e 4 à semente não-trasngênica (controle negativo). As setas indicam a presença da proteína A conjugada com ouro e conseqüentemente o reconhecimento do scFv anti-CD18 pelo anticorpo anti-Proteína A. - 93 - 6) DISCUSSÃO Nos experimentos de transformação genética foram obtidas linhagens transgênicas de soja contendo todos os 5 transgenes individualmente. Cada grupo de linhagens de um transgene específico apresentou uma eficiência de transformação genética diferente: 0,44% para o gene da pró-insulina humana; 0,5% para o do hGH; 1% para o do FIX; 0,16% para o do scFv DIR83D4 e 0,4% para o do Anti-CD18. Esses valores podem ser atribuídos tanto a diferentes condições de laboratório, como o preparo e a utilização de reagentes para o bombardeamento e a manipulação dos explantes em cultura de tecidos, quanto a elementos genéticos intrínsecos a cada evento transformante, relacionados à expressão do gene ahas para seleção com o herbicida imazapyr® e a interação entre cada transgene com o genoma das cultivares BR16 e Conquista. Nos experimentos de co-transformação não foram obtidas plantas transgênicas contendo apenas cópias do gene ahas e ausência dos demais transgenes, o que indica que todos os eventos transformados continham, além do gene de interesse, uma ou mais cópias do gene ahas e que a seleção ocorreu exclusivamente pela ação do herbicida e não fruto de escapes fortuitos. A obtenção de progênies R1 transgênicas em todas as linhagens sugeriu que a integração genômica dos transgenes foi estável e passível de herança quando do avanço de gerações em casa de vegetação – algo bastante evidente com a linhagem 13/27, que atingiu a R5 em estufa. Essa característica é essencial para o melhoramento genético assistido e para a introgressão da capacidade de produção das proteínas heterólogas em outras variedades de soja desenvolvidas mais recentemente. As análises de PCR mostraram que tanto os eventos transformantes primários (plantas-mães de cada linhagem) obtidos em laboratório, quanto as progênies apresentaram amplificações de fragmentos dos cassetes de expressão decorrentes do anelamento específico com os respectivos primers. Em todas as reações os padrões de migração eletroforética dos fragmentos amplificados nas amostras corresponderam àqueles esperados pelos locais de anelamento dos primers (checadas em comparação com o padrão de marcador de - 94 - peso molecular 1 kb DNA Ladder), e também pela comparação com os padrões apresentados pelos próprios plasmídeos correspondentes (controles positivos). Os controles negativo e positivo apresentaram o padrão de amplificação esperado, o que sugere que não houve contaminação no processo de extração e manipulação do DNA genômico dos eventos transgênicos. Foram observados também diferentes padrões de segregação dos transgenes tanto entre linhagens contendo um mesmo transgene quanto entre aquelas contendo diferentes, sendo que apenas as linhagens 194 (pró-insulina); 23/03, 23/09 (Hgh); 07 e 211 (FIX) e 55 (scFv anti-CD18) apresentaram segregação mendeliana. Isso indica que a maioria dos eventos transformantes e das progênies portava um alto número de cópias dos respectivos transgenes, o que foi corroborado pelo menos entre algumas das linhagens hGH, FIX e scFv DIR83D4 com os resultados de Southern blot de suas progênies R1. As linhagens hGH analisadas por essa técnica: 23/01, 23/03 e 23/09, apresentaram respectivamente pelo menos 8, 4 e 3 cópias do transgene cada, além de padrões de altura de bandas diferentes entre as linhagens e próximos dentro das linhagens. Foi possível detectar pelo menos 5 e 4 cópias do transgene fix nas progênies R1 51 e 171 e 4 cópias do scfvdir83d4 na progênie 13/27. Não foi possível realizar análises de Southern blot em linhagens da próinsulina e do scFv anti-CD18, uma vez que suas plantas não apresentavam folhas no período de disponibilidade de radioatividade para marcação de sondas. Além disso a extração de DNA genômico de boa qualidade para a digestão com enzimas de restrição a partir de sementes é bastante difícil em função do alto teor e carboidratos e lipídeos nesses órgãos. Conforme analisado anteriormente, a presença de cópias “supérfluas” e organizadas em tandem pode refletir diretamente nos níveis de produção das proteínas heterólogas. Com análises futuras de Southern blot de gerações mais avançadas, será possível monitorar a segregação de cópias dos transgenes e associar padrões de segregação específicos com maiores e menores níveis de expressão gênica. A obtenção de linhagens cujos transgenes estejam em homozigose (caracterizado por cópias no mesmo lócus e pela presença de uma única banda em - 95 - experimentos de Southern blot) é algo desejado futuramente, uma vez que esses eventos em muitos casos estão associados a maiores níveis de expressão transcricional. Plantas que apresentavam sementes imaturas puderam ser analisadas por RT-PCR. A escolha por sementes verdes se justifica pelo fato de o metabolismo de ácidos nucléicos, em especial RNA, apresentado em estágio de pré-maturação fisiológica de sementes ser bastante ativo, ao contrário de sementes maduras, cujo metabolismo geral é basal. Apenas linhagens portando os genes hgh, fix e scfvdir83d4 apresentaram sementes imaturas na época de realização dos experimentos e puderam ter a sua expressão a nível transcricional analisada. Em todas as reações os controles positivos e negativos funcionaram, sugerindo que não houve contaminação de manipulação nem de resquícios de mRNAs e os produtos de amplificação apresentaram tamanhos correspondentes aos controles plasmidiais esperados. Dentre as linhagens hGH analisadas aparentemente o nível de transcrição foi crescente para as sementes R2 das linhagens 23/01, 23/03, 23/09 e 23/19. Isso pode ser observado pela intensidade de amplificação dos cDNAs das respectivas amostras, sugerindo que bandas mais intensas representam amostras com maiores quantidades de cDNAs para a amplificação, conseqüência direta de maior disponibilidade de seus mRNAs correspondentes. Dentre as três sementes R2 de linhagens FIX: 51, 94 e 171, a última apresentou um ligeiro aumento em termos de expressão a nível transcricional quando comparada às demais, algo que dificilmente pode ser afirmado quando avaliadas as intensidades de bandas do RT-PCR de sementes da linhagem 13/27 (scFv DIR83D4), aparentemente muito similares. Esses resultados sugerem que há alguma variação de expressão a nível transcricional entre sementes das diferentes linhagens transgênicas obtidas mas menores diferenças envolvendo sementes de uma mesma linhagem (como a 13/27). Estudos estatísticos mais abrangentes envolvendo um maior número de sementes para a comparação dos níveis de transcrição dentro e entre linhagens poderão auxiliar a melhor compreensão de como esse evento de expressão gênica se comporta em cada linhagem. - 96 - Além da transcrição, a expressão a nível traducional foi avaliada nas progênies de linhagens para todos os transgenes. As sementes R1 das duas linhagens 194 e 195, portadoras do gene da próinsulina humana, não apresentaram níveis detectáveis das proteínas pela técnica de western blot. A explicação provável para esse e outros resultados discutidos adiante se deve à cronologia de obtenção das linhagens e de sementes transgênicas para análise. As linhagens 194 e 195 foram obtidas em junho de 2000 e suas sementes R1 ficaram estocadas à temperatura ambiente e somente no primeiro semestre de 2006 foram analisadas por western blot. Mesmo havendo expressão a nível traducional do gene da pró-insulina e o correto processamento do endereçamento subcelular, é provável que a proteína tenha sido parcialmente degradada em função do tempo e das condições de armazenamento extremamente prolongado. A linhagem 13/27 do scFv DIR83D4 é a segunda mais antiga, foi obtida em laboratório em maio de 2002. Apesar de suas sementes também terem sido estocadas à temperatura ambiente (assim como as de todas as demais linhagens transgênicas), foram obtidas 5 gerações dessa linhagem em casa de vegetação, o que permitiu a utilização de sementes obtidas mais recentemente nos experimentos bioquímicos. As linhagens do hGH, do FIX e do scFv anti-CD18 foram obtidas entre março de 2003 e junho de 2004. O acúmulo dessas três proteínas heterólogas e do scFv DIR83D4 foi observado em sementes transgênicas das respectivas progênies nos experimentos de western blot. As alturas das bandas apresentadas aparentemente correspondem às massas esperadas descritas na literatura e compatíveis com os controles positivos (22 kDa para o hGH, 55 kDa para o FIX, 29 kDa para o scFv DIR83D4 e 42 kDa para o anti-CD18 fusionado à uma fração da proteína A). Isso sugere que provavelmente houve a clivagem e remoção do peptídeosinal de α-coixina no retículo endoplasmático de células das sementes de soja e que o endereçamento subcelular ocorreu eficientemente. - 97 - Amostras protéicas de sementes não-transgênicas (controles negativos) apresentaram pouco ou nenhum “background”, sendo que quando este foi mais evidente (como no western blot de sementes scFv anti-CD18), bandas presentes no controle negativo eram comuns às amostras transgênicas e em alturas diferentes da massa molecular esperada. Ainda com relação ao western blot do anticorpo anti-CD18, foi detectada uma proteína com massa ligeiramente superior a 36 kDa , em torno de 42 kDa, provavelmente referente aos 7 kDa adicionais da cadeia parcial da proteína A, expressa fusionada ao anticorpo original. A detecção das proteínas heterólogas com as massas moleculares aparentemente corretas evidencia que os anticorpos policlonais primários apresentaram um grau de confiabilidade bastante razoável em termos de sua especificidade de reconhecimento das proteínas heterólogas. Um fato curioso foi que das sete linhagens transgênicas FIX e das cinco transgênicas scFv anti-CD18 analisadas por western blot, apenas quatro do primeiro grupo (01, 07, 51 e 171) e duas do segundo (12 e 26) apresentaram expressão a nível traducional. Aparentemente eventos de silenciamento gênico a nível transcricional e póstranscricional podem explicar esse resultado embora o primeiro caso não seja o mais correto para as linhagens 01, 07 e 171, uma vez que ambas apresentaram expressão transcricional nos experimentos de RT-PCR. O padrão de migração eletroforética do scFv DIR83D4 produzido em sementes de soja foi relativamente diferente do apresentado pelo anticorpo produzido em bactéria (controle positivo). Aparentemente a massa molecular do controle positivo foi maior, resultando em menor capacidade de migração ao longo do gel de poliacrilamida. Essa diferença de massa pode ser explicada pelo fato de células de E.coli apresentarem maior dificuldade de realização do dobramento do fragmento de anticorpo que células vegetais e pelo fato da a cadeia pesada da isoforma bacteriana apresentar aminoácidos discrepantes de maior massa molecular nas regiões de complementaridade (CDRs) da cadeia pesada. Quanto ao scFv anti-CD18, apesar do aparecimento de bandas nas amostras protéicas de sementes transgênicas com a massa molecular esperada, não dispúnhamos do próprio anticorpo purificado ou produzido comercialmente para - 98 - comparar sua massa molecular às das amostras recombinantes, o que limita nossa possibilidade em apenas inferir sua correta detecção nesse experimento. Também por esse motivo, foram estimadas as concentrações relativas nas sementes transgênicas apenas das proteínas heterólogas previamente identificadas por western blot e que dispunham de controle positivo para a realização das curvaspadrões: hGH, FIX e scFv DIR83D4. O acúmulo de hGH variou de 0,03 a 0,8% do conteúdo protéico das sementes; os do FIX de 0,023 a 0,15% e o do scFv DIR83D4 foi de 0,93%. As eficiências de produção e acúmulo obtidas são próximas dos valores habitualmente apresentados por outras plantas transgênicas utilizadas como biorreatores vegetais e transformadas nuclearmente. Apesar disso, valores próximos de 1% são animadores e sinalizam que a obtenção de um número maior de linhagens transgênicas, pela intensificação dos experimentos de biobalística, aumentaria as chances de ocorrência de um evento transformante-elite, com alta capacidade de expressão e produção propriamente ditas dessas proteínas. Não houve possibilidade de avaliação do acúmulo do FIX humano em outras linhagens por motivo de baixa disponibilidade de anticorpo-policlonal anti-FIX humano. A modulação da expressão a nível traducional do hGH, do FIX e do scFv DIR83D4 em sementes transgênicas foi verificada por western blots fenológicos ao longo do período de 45 dias durante a fase de enchimento de grãos. O acúmulo do hGH pôde ser detectado já aos 75 dias em semente da linhagem 23/19, pela presença de uma banda de baixa intensidade no western blot. Houve um aumento considerável de expressão aos 90 dias e um leve decréscimo aos 105 dias, mantendo-se aproximadamente inalterado aos 120 dias com o completo amadurecimento da semente. Praticamente não houve detecção do FIX aos 75 dias, mas aos 90 já havia sinal de acúmulo, intensificado aos 105 dias e que se manteve estável até os 120 dias. Já as sementes da linhagem 13/27 apresentaram um padrão de acúmulo crescente do scFv DIR83D4 ao longo do período. De praticamente indetectável aos 75 dias e com leve aumento aos 90, passou a apresentar uma banda pouco intensa aos 105 que praticamente dobrou de intensidade aos 120 dias. - 99 - As cinéticas de acúmulo sugerem que, para cada linhagem testada, há diferentes épocas de colheita onde ocorre maximização da produção de cada proteína heteróloga: aos 90 dias para o hGH, a partir dos 105 dias para o FIX e apenas aos 120 dias para o scFv DIR83D4. Apesar de diferentes entre si as cinéticas de expressão traducional observadas sugerem que houve um aumento e conseqüente estabilização do acúmulo da proteínas recombinantes em paralelo com o amadurecimento do grão. Como a disponibilização de corpos protéicos destinados ao acúmulo de proteínas de reserva nas sementes aumenta à medida que elas atingem a maturidade fisiológica, é possível concluir que a expressão traducional das três proteínas heterólogas nesses órgãos esteja diretamente relacionada ao maior número de corpos protéicos disponíveis para compartimentalizá-las. Esse padrão corrobora o padrão de expressão temporal e espacial esperados pela estratégia molecular adotada no trabalho: a utilização de um promotor tecidoespecífico de sementes, no caso o da β-faseolina de feijão, associado ao endereçamento subcelular promovido pelo peptídeo-sinal de α-coixina. Os resultados obtidos com as análises imunocitoquímicas sobre cortes ultrafinos confirmaram que o peptídeo-sinal de α-coixina foi eficiente para o endereçamento subcelular da maior parte das proteínas heterólogas expressas nas sementes para os corpos protéicos, inclusive permitindo a detecção da pró-insulina humana. O nível de acúmulo dessa proteína nessas organelas foi o menor apresentado dentre todas as análises de imunocitoquímica realizadas, o que leva a crer que ou ocorreram fenômenos genéticos intrínsecos à interação do transgene com o genoma da planta ― que podem ter levado ao silenciamento parcial dos transgenes ― ou que o endereçamento subcelular foi menos eficiente nesse caso, já que a maior parte de pró-insulina detectável se encontrava fora dos corpos protéicos, ambiente mais propício à degradação proteolítica. Outra possibilidade é de que houve influência decisiva do armazenamento por seis anos à temperatura ambiente na velocidade de degradação protéica, ou até mesmo que todas as hipóteses levantadas tenham atuado conjuntamente para explicar os baixos níveis de acúmulo do hormônio. Tanto o hGH quanto o FIX apresentaram um padrão de acúmulo distribuído primariamente por todo o lúmem dos corpos protéicos cotiledonares, com muito - 100 - poucas proteínas na periferia e praticamente ausentes no interior de corpos de óleo. Houve inclusive a detecção de uma quantidade significativa de hGH presente na parede celular em uma das imunomarcações. Já seções de sementes transgênicas expostas ao anti-scFv DIR83D4 policlonal apresentaram menor intensidade de marcação com proteína A conjugada com ouro do que as observadas para as duas proteínas anteriores, mas o padrão se repetiu: a maior concentração do anticorpo foi observada dentro dos corpos protéicos e poucas marcações estavam associadas aos corpos de óleo. A localização subcelular do scFv anti-CD18 foi a que apresentou os resultados mais divergentes dos demais, uma vez que houve o reconhecimento de agregados do anticorpo notadamente no interior dos corpos protéicos e, em alguns casos, no citosol. Poucos agrupamentos também puderam ser identificados na parede celular, mas aparentemente a marca de acúmulo do scFv anti-CD18 nas linhagens 12 e 26 é mesmo a formação de agregados protéicos principalmente no lúmen dos corpos protéicos. Em todas as seções pouca ou nenhuma marcação inespecífica ocorreu em sementes não-transgênicas ou nas próprias regiões onde apenas havia colóide e não tecidos propriamente ditos. Também foram realizadas duas repetições do experimento, à exceção do scFv DIR83D4, utilizando sementes de pelo menos duas linhagens para os demais transgenes, a fim de aumentar a confiabilidade dos resultados observados. Os resultados das repetições corroboraram aqueles obtidos originalmente, havendo apenas diferenças sutis no nível de acúmulo das respectivas proteínas heterólogas quando da mudança da linhagem analisada. Algo bastante interessante a ser ressaltado é a eficiência da estratégia molecular empregada para preservar a estabilidade protéica a nível de produção/acúmulo das proteínas heterólogas, uma vez que a expressão gênica direcionada para as sementes (via promotor da β-faseolina) e o “protein targeting” para os corpos protéicos cotiledonares (pelo peptídeo-sinal de α-coixina) permitiu a detecção de proteínas armazenadas há pelo menos quatro anos e meio (não se levando em conta os baixos rendimentos das linhagens da pró-insulina humana). Esse período de manutenção de estabilidade é maior que o relatado na literatura e as condições de armazenamento, tais como temperatura ambiente e - 101 - ausência de controle mais sofisticado de umidade, servem para ressaltar ainda mais o potencial do emprego dessa combinação de seqüências regulatórias quando um dos focos principais da análise é a estabilidade protéica. - 102 - 7) CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS Foi possível observar que as seqüências regulatórias utilizadas no trabalho foram eficientes ao controlar a expressão e o endereçamento subcelular para os corpos protéicos cotiledonares de sementes transgênicas de pelo menos quatro das cinco proteínas heterólogas estudadas. Apesar de os níveis de expressão terem sido baixos (mas coerentes com os apresentados pela maioria dos biorreatores vegetais cuja integração dos transgenes é nuclear) há a possibilidade de compensação dessa desvantagem pela estabilidade de compartimentalização protéica e pela capacidade de multiplicação da biomassa de sementes através da manipulação do fotoperíodo das plantas de soja em casa de vegetação. Em paralelo vêm sendo realizadas a extração e purificação desses polipeptídeos em cromatografia multidimensional para posterior análise de espectrometria de massa e “peptide mass fingerprint”. Essas técnicas permitirão obter frações com relativamente menores quantidades de contaminantes protéicos, lipídicos e glicosídicos e avaliar mais precisamente as massas moleculares, a ocorrência de modificações póstraducionais desejáveis e indesejáveis e comparar a seqüência de aminoácidos na estrutura primária das proteínas heterólogas com as nativas, a fim de checar se houve a manutenção estrutural sem adições ou remoções de aminoácidos. Os resultados permitirão a realização de testes biológicos específicos com cada polipeptídeo recombinante, para avaliar se sua aparente integridade estrutural será refletida em manutenção de suas funções biológicas. Numa perspectiva a longo prazo e bastante otimista, esse sistema de expressão que utiliza sementes de soja pode vir a desempenhar um papel de plataforma de produção de fármacos protéicos, desde que a redução de custos e a obtenção de altos níveis de expressão sejam alcançados com o aperfeiçoamento de estratégias moleculares de expressão de transgenes. A prospecção de outros promotores e peptídeos-sinais mais eficientes que os empregados no presente trabalho pode vir a preencher essa lacuna de maneira satisfatória. - 103 - 8) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abler, M.L., and Green, P.J. (1996). Control of mRNA stability in higher plants. Plant Mol Biol. 32, 63-78. Abud, S., Souza, P.I.M., Moreira, C.T., Andrade, S.R.M., Ulbrich, A.V., Vianna, G.R., Rech, E.L., and Aragão, F.J.L. (2003). Dispersão de pólen em soja transgênica na região do Cerrado. Pesquisa agropecuária brasileira 38, 1229-1235. 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