1 Estudo da Dinâmica de uma Partícula em Bilhares Clássicos Lucas Augusto Mauer1, Gustavo Michel Mendoza La Torre2 1 Universidade Federal do ABC, Santo André, SP, BRA CCNH, Universidade Federal do ABC, Santo André, SP, BRA 2 Neste trabalho será apresentado um estudo numérico da dinâmica de uma partícula em bilhares clássicos. Usaremos diferentes geometrias de confinamento. Os bilhares serão modelados com paredes abruptas (duras) e a dinâmica será calculada usando a Mecânica Newtoniana. Nosso interesse é distinguir as diferentes dinâmicas (regular, caótica ou mista) em função da geometria do bilhar. Isto será abordado mediante uma análise das órbitas e dos mapas de Birkhoff-Poincaré, calculadas analiticamente para os casos dos bilhares quadráticos e retangulares e numericamente para geometrias mais complicadas. Palavras-Chave— Bilhares Clássicos, Caos, Mecânica Newtoniana, Sistemas Dinâmicos. I.INTRODUÇÃO B ilhar é a estrutura de confinamento (modelado como bidimensional). Assumimos que suas paredes sejam abruptas (duras) e que não existe atrito em seu interior. Analisamos a dinâmica de uma partícula pontual (sem dimensões) com a Mecânica Newtoniana. Dessa maneira, enquanto não ocorre uma colisão a partícula se move em trajetória retilínea com velocidade constante. FIG. 1 AQUI Em toda colisão, uma força de reação atua. Esta é normal à parede do bilhar ou normal à reta tangente ao bilhar no ponto de colisão. Na direção perpendicular a essa força não temos variação do momento linear. Consideramos que nas colisões a partícula não perde massa, assim a componente do vetor velocidade nesta direção não é alterada (1). Supomos que não atuam forças dissipativas, então usamos a conservação da Energia Mecânica (Cinética) para calcular que a componente do vetor velocidade na direção da força de reação tem seu sinal invertido (2). FIG. 2 AQUI p x ,i = p x , f ⇒ m v x ,i = m v x , f ⇒ v x , i = v x , f (1) 1 2−1 m v2i = 2−1 m v 2f ⇒ v 2x ,iv2y ,i = v2x , f v 2y , f ⇒ v y , f = ±v y , i (2) Nos bilhares quadráticos e retangulares podemos posicionar o sistema de referência de tal forma que o maior número de forças de reação seja perpendicular a um dos eixos (consequentemente, paralelo ao outro). Para bilhares de outras geometrias é necessario fazer uma rotação no sistema de referência do vetor velocidade, utilizar as idéias do parágrafo anterior e fazer uma nova rotação para voltar ao sistema de referência antigo. A equação (3) sintetiza este procedimento. 2 2 v x , f = v x ,i cos ө− sen ө −2v y ,i senөcos ө v y , f = v y ,i sen 2 ө−cos 2 ө −2v x ,i senө cosө (3) II.BILHARES QUADRÁTICOS E RETANGULARES: REGULARES Para iniciar o estudo, calculamos algumas órbitas para partícula com posição e velocidade iniciais arbitrárias. Elaboramos um método, chamado “Tabela de Posição e Velocidade na Colisão”, que auxilia neste procedimento. A primeira coluna identifica as linhas. As demais colunas representam as características da partícula num determinado instante. A partir do instante inicial, selecionamos os instantes imediatamente após cada colisão. Para determiná-los, verificamos qual componente do vetor posição leva menor variação de tempo para atingir um dos limites do bilhar, esta variação indica o próximo instante a ser colocado na tabela. TABELA 1 AQUI Nestes bilhares, cada componente do vetor posição varia de forma independente, isto é, cada componente segue de forma linear até um dos limites do bilhar, retorna até o outro limite e segue até a posição inicial. As componentes do vetor velocidade e as dimensões do bilhar determinam quanto tempo cada componente do vetor posição levará para completar um ciclo. Associamos a cada componente um período (τx e τy). O período total da trajetória é o menor múltiplo comum, o MMC, entre o de cada componente (como ponteiros de relógio). Como estes períodos podem ser frações, foi induzida (e provada) a equação (4) para calcular este MMC. a c ac , = (4) b d TC a , c TC b , d 2 c v 4 n 0x ,d a n v 0y ,d MMC τ x , τ y = TC cn v0x ,d , a n v 0y, d TC cd v 0x, n , a d v 0y ,n MMC (5) Analogamente às componentes do vetor posição, cada componente do vetor velocidade varia de forma independente. Plotamos o gráfico do comportamento de uma das componentes do vetor velocidade em função do tempo. Observamos que é parecido com a função da onda quadrada. Com alguns ajustes nesta última, modelamos (6) o comportamento de cada componente do vetor velocidade em função do tempo. FIG. 3 AQUI v x t = [ 4v0x ∞ 1 t v ∑ sen k c 0x n =0 k ] onde k = 2n 1 (6) Em seguida, determinamos a equação (7) para o movimento de uma partícula em um destes bilhares. FIG. 4 AQUI 2 ∞ x t = − { [ ]} 4c 1 k c ∑ cos c tv0x x0 2 2 n= 0 k 2 onde k = 2n1 (7) Continuando com a análise, fizemos um mapa conhecimdo como mapa de Birkhoff-Poincaré, onde cada ponto é uma colisão de uma das órbitas de um conjunto. Ele tem como abscissa o módulo do vetor posição e como ordenada o módulo do vetor velocidade. O padrão na disposição dos pontos indica um sistema regular. FIG. 5 AQUI III.BILHARES TRAPEZOIDAIS: MISTOS Partindo do bilhar retangular, tentamos inserir caos no bilhar inclinando em θ uma de suas paredes. FIG. 6 AQUI Para θ = 45° encontramos órbitas regulares e mapas característicos de sistemas regulares. (Os mapas para a componente na direção do eixo y dos vetores velocidade e posição apresentam o mesmo padrão de pontos.) FIG.S 7 e 8 AQUI Contudo, para θ = 10° observamos órbitas em maioria caóticas com mapas característicos de sistemas caóticos. FIG.S 9 e 10 AQUI No intuito de encontrar um possível intervalo de transição do regular para o caótico, calculamos órbitas para θ cada vez mais próximos de 0° e 45°. Em todos os testes, os bilhares apresentaram características caóticas. Entendemos o bilhar Trapezoidal, da forma como foi proposto, um sistema misto de regularidade instável pois qualquer pertubação em θ leva caos ao sistema. IV.ALGORITMO PARA BILHAR DE FORMA ARBITRÁRIA Para analisar bilhares de outras geometrias, foi necessário desenvolver um novo método para calcular a órbita da partícula. Inicialmente, passamos a definir os limites de um bilhar com um conjunto de funções Bi(x) válidas no intervalo [ai, bi]. Em seguida, para calcular a posição da próxima colisão calculamos a intersecção entre a reta do movimento da partícula e Bi(x) mais próxima de sua posição “atual”. FIG. 11 AQUI Quando Bi(x) é um polinômio de até 2° grau é possível determinar a intersecção analiticamente. Nos demais casos utilizamos um método numérico para encontrar raízes de funções, o método de Newton-Raphson. Seja φ o ângulo formado entre dois segmentos de raio, r, cujas extremidades estão em duas colisões consecutivas. Sua relação com d é d = 2 r sen 2 (8). Posicionando o sistema de referência no centro do bilhar, observamos que a cada colisão o ângulo do vetor posição é incrementado em φ. Seguindo raciocínio análogo ao usado para determinar o período nos bilhares quadráticos e retangulares, podemos perceber que existe um ângulo de período da órbita Ф tal que = MMC 2 , (9). Sabendo que o número de colisões pode ser determinado por n colisões = (10). E que a cada colisão a partícula percorre uma distância d, podemos determinar o período da trajetória por S n colisões d X d = = (11). ∥vi∥ ∥vi∥ ∥vi∥ Os mapas calculados são característicos de sistemas regulares. A quantidade de pontos foi temporariamente reduzida pois algumas adaptações feitas no programa que calcula os mapas ainda estão sendo testadas. FIG. 14 AQUI = VI.CONCLUSÃO A partir da análise das órbitas, dos mapas de BirkhoffPoincaré e de algumas equações induzidas, verificamos que os bilhares Quadráticos, Retangulares e Circulares são regulares. O bilhar Trapezoidal, da maneira como foi proposto, se encaixa na classificação de bilhar misto de regularidade instável. Com o auxílio do Algoritmo para Bilhares de Formas Arbitrárias podemos analisar órbitas e mapas em bilhares com geometrias como o Estadio (Stadium), Trevo (Clover) ou o Triangulo. REFERÊNCIAS [1] [2] D. Halliday; R. Resnick; J. Walker. Fundamentos de Física, Vol. 1. 7 ed. Rio de Janeiro : LTC. M. A. G. Ruggiero; V. L. R. Lopes. Cálculo Numérico – Aspectos Teóricos e Computacionais, 2 ed. São Paulo : PEARSON. Tabela 1. Aplicação do método Tabelas de Posição e Velocidade na Colisão. V.BILHARES CIRCULARES: REGULARES Utilizando o método apresentado na seção IV calculamos algumas órbitas para uma partícula no bilhar circular e, em alguns casos, encontramos numericamente o período das órbitas. FIG. 12 AQUI Analisando com atenção as órbitas, observamos que existe uma relação entre as distâncias percorridas pela partícula entre duas colisões de uma mesma órbita (d0, d1, ...), são sempre as mesmas (d). FIG. 13 AQUI Fig. 1. Trajetória retilínea. Fig. 2. Exemplo de colisão. 3 Fig. 9. Exemplo de órbita para θ = 10°. Fig. 3. Componente do vetor velocidade em função do tempo. Fig. 10. Mapa de Birkhoff-Poincaré para o bilhar Trapezoidal (10°). Fig. 4. Resultados das equações (6) e (7). Fig. 11. Definição do bilhar arbitrário. Fig. 12. Exemplo de órbitas para o bilhar Circular. Fig. 5. Mapa de Birkhoff-Poincaré para o Quadrado (acima) e Retângulo (abaixo). Fig. 6. Mudança para o bilhar Trapezoidal. Fig. 13. Relação entre as distâncias percorridas. Fig. 7. Exemplo de órbita para θ = 45°. Fig. 8. Mapa de Birkhoff-Poincaré para o bilhar Trapezoidal (45°). Fig. 14. Mapa de Birkhoff-Poincaré para o bilhar Circular.