entrevista da semana SEM ‘GANHA, MAS NÃO LEVA’ 8A A GAZETA CUIABÁ, DOMINGO, 8 DE JANEIRO DE 2012 Nova regra obriga empresas a quitar débitos trabalhistas ou não poderão contratar com Poder Público Banco de Devedores será marco para a Justiça SISSY CAMBUIM DA REDAÇÃO E mpossado em 16 de dezembro do ano passado, o desembargador Tarcísio Valente assumiu a presidência do Tribunal Regional do Trabalho da 23ª Região, em Mato Grosso, e comandará o órgão em 2012 e 2013 com o propósito de acabar com a prática do “ganha, mas não leva”, propondo efetividade na resolução dos processos. Ele foi aprovado no primeiro concurso público realizado pelo TRT/MT, em 1993, e hoje é o 11º presidente a comandar a Casa. Atua no Tribunal desde agosto de 2002, antes, foi titular da 4ª Junta de Conciliação de Julgamento de Barra do Garças e de Cuiabá. Formou-se em Ciências Jurídicas pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás em 1990 e no mesmo ano foi aprovado no concurso para analista judiciário do TRT em Goiás, onde atuou por 2 anos. O ano judiciário começa efetivamente amanhã (9), quando termina o recesso, mas quais os principais desafios previstos para 2012? Efetivamente na segunda-feira, mas já começamos o ano cheio de tarefas porque na última quarta (4) entrou em vigor a lei que criou o Banco Nacional de Devedores do Trabalho (BNDT), que é um marco para a Justiça do Trabalho porque tornará mais efetiva a execução trabalhista. O maior gargalo da Justiça do Trabalho hoje é o empregado não conseguir executar, fazer dinheiro com reconhecimento judicial do seu pedido. Nós julgamos com muita rapidez, com muita celeridade os processos que recebemos, concedemos o direito, mas mais de 60% das nossas decisões não são executadas por problemas financeiros das empresas, que quebraram, fecharam, ou estão em dificuldades financeiras. Geralmente, as empresas quando enfrentam problemas financeiros, o primeiro passo é demitir empregados para sanear folha e fazer dessa forma a recuperação. Toda empresa que deve na Justiça do Trabalho está inscrita no BNDT, se ela garantir em juízo a penhora ou pagar as ações devidas, terá a certidão negativa, senão, estará em débito com a Justiça do Trabalho e por isso não poderá participar de licitações públicas e nós já vínhamos sentindo os efeitos práticos dessa medida. As empresas telefônicas, os bancos, não nos deixaram sossegar desde o início do recesso, em 16 de dezembro, visando a regularização desses débitos porque eles participam de licitações quase que diariamente. Então começamos o ano muito bem! salários dos servidores públicos de um modo geral. Revisão, não é aumento, é apenas correção. O que ocorre é um descaso do Poder Executivo nos três níveis em não observar a CF. Então, o que os servidores do Judiciário Federal e os próprios magistrados buscam é o cumprimento da lei, que não está sendo levado a efeito pelo Executivo e nem mesmo pelo Judiciário, via Supremo Tribunal Federal (STF), que não faz dar efetividade à norma maior que é a CF quanto a essa questão remuneratória, especialmente em relação ao subsídio dos juizes federais, onde, de uma forma geral, os salários de todos os agentes políticos do país é tratado de forma muito hipócrita, que leva a busca por migalhas, por diferenças via judicial e administrativa, porque essa política não é tratada de forma transparente para a sociedade, talvez para deixar em aberto essas situações que possam levar a litígios, inclusive à manifestação inédita da magistratura federal de paralisar por um dia como aconteceu em novembro de 2011. Quando o juiz não consegue defender seus próprios direitos no cumprimento daquilo que ele prometeu e jurou que é a CF, isso extrapola a questão remuneratória. É uma questão de dignidade e até de subsistência do próprio Poder Judiciário. A nova legislação vem ao encontro de um dos objetivos que o senhor destacou no seu discurso de posse, que é acabar com a prática do “ganha, mas não leva”? Isso vem para ser mais uma ferramenta eficaz para acabar com essa história do “ganha, mas não leva”. E nós temos também outras ferramentas muito valiosas que têm nos ajudado ao longo dos anos, como o Bacen Jud, que vai diretamente no sistema do Banco Central e havendo dinheiro na conta das empresas ou de seus sócios fazemos a penhora. Temos também Hiperjud, Renajud, convênios com a Receita Federal, com cartórios de registro de imóveis, com sistema de inteligência que está sendo implantado pela corregedoria do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT). Todas estas são ferramentas muito valiosas para a gente acabar com esse passivo de ações que leva anos para ser pago. Porque para o trabalhador o que interessa é dinheiro no bolso, não é uma sentença bela, muito bem redigida reconhecendo seu direito, mas que não foi efetivada, pois a verba é de natureza alimentícia. Há um concurso em andamento no TRT. Qual a previsão para conclusão? Estamos realizando agora o 18º concurso público para juiz do trabalho substituto, isso significa que temos quase 1 concurso por ano. Nós tínhamos 30 vagas, realizamos 6 concursos para para conseguir preenchê-las. Hoje,menos de 1% dos candidatos inscritos são aprovados nesses concursos. O penúltimo realizado, o 16º, nem mesmo 1% de aprovação teve. De 1,8 mil candidatos foram aprovados apenas 3. No 17º a aprovação foi maior, passaram 14, mas já tivemos duas baixas de candidatos aprovados em outros tribunais. Estamos realizando agora o 18º com uma participação recorde de mais de 2 mil candidatos e esperamos que nele haja uma aprovação de pelo menos 1% para que possamos preencher a carência crônica de juizes. Todos os estados da federação têm representação de candidatos no nosso concurso. Desse último, apenas uma candidata aprovada era de Cuiabá, então, 90% dos nossos juízes são de outros estados, inclusive eu. Nós temos ainda 14 vagas, e esperamos que com a aprovação de pelo menos 1% dos candidatos, possamos preenchê-los. O concurso deve ser concluído em maio. Pelas normas do Conselho Nacional de Justiça, nós somos o tribunal que mais fizemos concursos e com mais presteza, nossos prazos são estritamente aqueles determinados pela resolução do CNJ então não podemos fazer um concurso mais enxuto do que isso. Para o senhor, com essas medidas, é agora em 2012 que a Justiça do Trabalho passa a realmente fazer diferença na vida econômica do trabalhador? Há 70 anos a Justiça do Trabalho faz diferença econômica e social na vida do trabalhador. Somos um distribuidor de renda por excelência. Nós distribuímos mais renda que o Bolsa Família e esses programas em voga e muito bem massificados pelo governo federal. A Justiça do Trabalho é a maior distribuidora de renda do país. Em 2010 nós distribuímos mais de R$ 7 bilhões em pagamento de verbas trabalhistas. E cada vez mais fazemos com maior eficiência, maior presteza. No ano passado houve, pela primeira vez, uma paralisação de magistrados do trabalho. Como está a situação trabalhista dos servidores da Justiça do Trabalho? É uma questão de valorização do serviço público. A Constituição Federal (CF) prevê a revisão anual dos Marcus Vaillant Tarcísio Valente, presidente do TRT 23ª Região, lembra que a Justiça do Trabalho é a maior distribuidora de renda do país, tendo distribuído em 2010 mais de R$ 7 bilhões em pagamento de verbas trabalhistas “ Nós distribuímos mais renda que o Bolsa Família e esses programas em voga e muito bem massificados pelo governo federal Nos últimos anos, tanto o TJMT quanto o Tribunal Regional Eleitoral passaram por escândalos, como o TRT consegue se manter ileso? Avalio que Justiça do Trabalho como um todo é bem estruturada, tem um orçamento, dentro do contexto brasileiro, relativamente bom, é até suficiente e a Justiça do Trabalho tem um destaque no Judiciário brasileiro, ela não é pautada por escândalos. Especificamente no nosso tribunal que é jovem, completaremos 20 anos em 2012, que desde a sua primeira administração, com decisões corretas, visando o futuro, com planejamento estratégico e um corpo de servidores altamente capacitados, nós temos logrado êxito de ser um dos melhores tribunais de toda a Justiça brasileira. Tanto é verdade que somos o único dentre 91 tribunais do país que cumpriu as 10 metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça e já cumprimos as 5 metas de 2011. Nós, do Judiciário, temos sempre que fazer uma autocrítica para vermos os nossos erros e corrigi-los para não sofrermos ações externas de pessoas que não conhecem e têm outras intenções que são, em última análise, a própria desmoralização do Judiciário.