ID: 58609053 31-03-2015 Tiragem: 5550 Pág: 27 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 16,85 x 30,71 cm² Âmbito: Regional Corte: 1 de 1 “Já demos provas que temos capacidades, mas não temos apoios” Velejador Renato Conde volta a abordar a experiência que está a viver na Volvo Ocean Race e assume que a “polivalência” foi decisiva para chegar a este patamar MARIA MUIÑA/MAPFRE Vela Volvo Ocean Race O velejador aveirense Renato Conde assume que “é um sonho de miúdo” fazer parte da Volvo Ocean Race, mas garante que não sente responsabilidade acrescida por ser o único português a participar na conceituada prova de Vela. Numa breve passagem por Portugal, o velejador de 31 anos, que integra a equipa de terra da formação espanhola Mapfre afirmou, à agência Lusa, que nem dá conta que “quase represento um país”, porque desde sempre esteve fora e integrou equipas em que era “o único português”. “É-me igual ser português ou não, pois em Portugal não há nada. Não há equipas para reconhecer o meu trabalho e que me contratem ou “sponsors” e isso frustra-me um pouco, pois já demos provas que temos capacidades, mas não temos apoios”, lamentou. Mas Renato Conde lembra que nem tudo foi fácil até chegar a este patamar, até porque, “mesmo tendo muito espírito de sacrifício, é praticamente impossível para um português, e não só, chegar à Volvo Ocean Race, Renato Conde assume que a sua “polivalência” foi decisiva dada a relação entre o circuito e o universo de velejadores”. “No início, eu e o meu irmão dormíamos no atrelado do barco, enquanto outras equipas já tinham barcos de apoio e treinadores”, recorda. De acordo com o velejador aveirense, a sua chegada à maior prova de circum-nave- gação do mundo deveu-se a muito trabalho e pelo percurso que trilhou na sua carreira. “A minha participação no circuito mundial do Extreme Sailing, com os Extreme 40, foi a rampa de lançamento, pois foi uma excelente oportunidade para mostrar o meu trabalho”, esclarece. E Renato Conde contou que, com a redução dos orçamentos na Volvo Ocean Race, a sua “polivalência” foi factor decisivo para integrar uma equipa, uma vez que “há menos concorrência para a posição de ‘rigger’, que é o responsável por cuidar do mastro”, embora cuide, também, dos compósitos e cabos. “É difícil porque há muito para fazer em pouco tempo. Sou o único nesta tarefa, porque ao início queria mostrar trabalho e esforcei-me muito, a trabalhar muitas horas, muitas vezes sem comer, e agora não posso abrandar”, disse. Renato Conde não esquece o papel da família, que o apoia “a 100 por cento”, já que foi com o pai, desenhador e construtor de barcos, que começou a navegar, e ainda ao velejador Pedro Mendonça, que lhe permitiu dar o salto para os circuitos mundiais. Quando não está a trabalhar, Renato “todo o tempo é dedicado à filha”, Maria Mar, de sete meses. “Gosto muito de estar com a filhota, seja aqui ou nalgum sítio onde esteja melhor tempo, e tento gerir as saudades e aproveitá-la ao máximo”, revela Renato Conde. | Pódio na Volvo Ocean Race é um sonho EXPERIÊNCIAS Renato Conde deseja alcançar o pódio na principal prova de circum-navegação mundial, que conta com seis equipas. “Acho um pouco tarde para estarmos a discutir o primeiro lugar, mas se conseguirmos lutar pelo pódio, seria óptimo”, disse o velejador à agência Lusa. Com cinco das dez etapas percorridas, o Mapfre ocupa a quinta e penúltima posição - o Team Vestas, sétimo, só terminou a primeira tirada -, com 16 pontos, a oito pontos da liderança, depois de ter arrancado “com alguns problemas”. “A equipa fez-se muito rápido e, inicialmente, nem toda a gente ligou muito bem, até porque temos muitas nacionalidades, mas entretanto reajustaram-se pessoas e os resultados estão a começar a aparecer”, disse. Renato Conde falou sobre a experiência na Nova Zelândia, em que tiveram que enfrentar o furação Pam, lembrando que “a largada era para ser no domingo, mas o furacão começou a chegar na quarta-feira ao norte da ilha”, o que obrigou a alterar o programa da etapa. “No nosso caso tivemos sorte, porque o furacão mudou de rota, mas temos consciência que estes fenómenos são imprevisíveis”, disse o velejador, que contou que “uma marina simplesmente desapareceu”. Em relação à participação na Volvo Ocean Race, Renato Conde garantiu que está “muito contente de estar em terra”, pois, esclarece, “com 31 anos, além de ser o mais novo da prova, provavelmente nunca houve um ‘rigger’ principal tão novo”. “As pessoas olhavam para mim a medo e agora já falam mais comigo, partilhamos opiniões e noto que sou acolhido e me tratam de igual para igual”, afirmou o velejador, que, um dia, deseja estar a navegar. Renato Conde sublinhou que após terminar o contrato na Volvo Ocean Race, a 25 de Julho, vai ponderar várias situações, entre elas participar na Taça América, uma prova diferente, por não ser disputada em alto mar. Os barcos da Volvo Ocean Race estão agora a ligar Auckkand a Itajaí, no Brasil, de onde partirão para Newport, nos Estados Unidos, sendo que a competição vai passar por Lisboa, entre 25 de Maio e 7 de Junho. |