A Blue foi o primeiro cachorro da nossa casa. Mas não foi fácil sua chegada. As crianças queriam ter um cachorro. Afinal, não morávamos mais em apartamento e agora tínhamos pátio, assim o cachorro poderia levar uma vida mais de cachorro do que de gente. Mas meu marido freava: “Não é bem assim ter um bicho. É uma responsabilidade que teremos para o resto da vida dele. Um cachorro pode viver até mais que quinze anos. Agora parece tudo ótimo, mas daqui a alguns anos ele não é mais pequeno nem brincalhão, vocês estarão na faculdade, com namorados, amigos e quem vai cuidar dele? Cachorro tem sentimentos, ele não pode ser deixado de lado, sem mais nem menos.” Por mais que todos dessem suas mais fortes garantias de que cuidariam da água, da comida, dos cocôs, dos banhos e seriam os melhores amigos do cão, ele não afrouxava. Então, sem suspeitarmos de secretos conluios entre a vovó e suas irmãs, dos quais nunca tivemos rumores, um primo dele ligou: “Tenho um cachorro pra dar pro Lucas!” — Ahn?! É mesmo? É seu o cachorro? Ele não sabia bem o que dizer e enrolava um pouco no telefone. As crianças exultaram, ele não iria dizer não para o primo Marcos. — É pequeno esse cachorro? Nunca tivemos um. — É, é um salsicha. — Ah, o Lucas vai gostar muito – disse, ainda meio sem jeito, mas já comprometido. — Como a gente faz? — Venham aqui em casa amanhã à noite e já levam. Vai dar tudo certo. Grande expectativa. Arrumação de lugar pra dormir. Tigela pra comida, tigela pra água, criançada perguntando como cuidar, cavando nas prateleiras um livro sobre “cuidados com o seu cãozinho”.