ID: 62068123 29-11-2015 Tiragem: 33573 Pág: 23 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 15,88 x 30,26 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 1 FERNANDO VELUDO/NFACTOS Médico e ex-administrador hospitalar, ministro diz que vai governar para todas as profissões do sector Ministro da Saúde estuda novo mapa de urgências, mas não sabe se o revoga Congresso Alexandra Campos Médicos ameaçam ir para tribunal, se tiverem de mudar férias no Natal. Ministro diz ser preciso “garantir interesse público” A nova rede de serviços de urgência está a ser estudada, mas ainda é cedo para adiantar o que vai ser feito. Foi de forma cautelosa, sem se comprometer com uma decisão a propósito da polémica medida do seu antecessor, que o novo ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, respondeu ontem aos jornalistas à saída do Congresso Nacional de Medicina, na sua primeira intervenção pública, no Porto. Lembrando que ainda está “a mergulhar nos dossiers”, o ministro deixou apenas a garantia de que está a estudar o novo mapa das urgências e frisou que a sua decisão será norteada pelo “interesse público”. Foi o o anterior ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, no cargo menos de um mês, que publicou uma nova rede de urgências, extinguindo formalmente 11 serviços. “Estamos a estudar e a procurar recolher a informação necessária para que a decisão seja ponderada”, precisou Adalberto Fernandes, sem se comprometer a “revogar ou deixar de revogar” o despacho publicado no dia 20 para entrar em vigor dentro de seis meses. “O interesse geral será estudado, será reavaliado em função daquilo também que é o interesse do país”, acentuou. Quanto ao anúncio de que oito das principais associações que apoiam doentes com VIH/sida se arriscam a ficar sem financiamento público já no final do ano, o ministro lembrou que esta é “uma responsabilidade partilhada com a Segurança Social”, mas adiantou que já deu indicações para que os serviços verifiquem o que está a acontecer, de forma a que se possa ultrapassar este “constrangimento”. Se a ameaça se concretizar, são perto de 1 500 doentes com VIH/sida em situação de elevada dependência que ficam sem apoio. Antes, o novo ministro, que é médico e ex-administrador hospitalar, quis deixar bem claro, perante uma plateia de colegas, que vai governar para todas as profissões do sector. “Sou médico e, circunstancialmente, sou ministro da Saúde, mas vou ser ministro com todas as profissões da saúde”, enfatizou, no encerramento do XVIII Congresso Nacional de Medicina, na Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos. Sublinhando que há que recuperar a confiança “perdida” nos últimos anos, Adalberto Fernandes disse que “conta muito com os médicos”, a quem pediu que o ajudem a desempenhar a complexa tarefa “sem crispação”. Mas crispação foi aquilo que o novo governante encontrou à saída do congresso. Questionado pelos jornalistas sobre a ameaça feita por alguns médicos — que se mostram dispostos a ir para tribunal, se tiverem de cancelar férias marcadas para o Natal ou Ano Novo —, o ministro defendeu que há que cumprir a lei, e reafirmou que também há que garantir o interesse público. “Não podemos repetir este ano aquilo que aconteceu no ano passado [nalguns serviços de urgência, onde houve esperas de mais de 20 horas]. Preocupa-me que os portugueses tenham uma resposta atempada, mas também garanto que será cumprida a lei”, disse. Esta medida foi igualmente determinada pela anterior equipa ministerial liderada por Leal da Costa e integra o plano de contingência para o frio e a epidemia de gripe deste Inverno. No congresso, o bastonário da Ordem dos Médicos (OM), José Manuel Silva, revelou ter “expectativas muito positivas” sobre a futura actuação do novo ministro e elegeu a “reforma dos cuidados de saúde primários” como a principal preocupação. “Todo o sistema de saúde estará desequilibrado, enquanto houver portugueses sem acesso a um médico de família”, justificou. Mas reconheceu que a missão de gerir hoje o sector da saúde é “uma missão quase impossível”. “Curar as cicatrizes recentes do SNS [Serviço Nacional de Saúde] não é tarefa fácil”, corroborou Miguel Guimarães, presidente da OM Norte.