História da minha vida Minha trajetória escolar começa com um fato um tanto curioso, minha mãe foi a uma escola estadual próxima a minha casa para fazer minha matrícula na préescola. Como as turmas de pré-escola já estavam lotadas e minha mãe também trabalhava numa escola, resolveram tomar uma decisão simples: - “Vamos matriculá-lo na primeira série!” e assim fui promovido a aluno de primeira série. A partir daí até o final do primário eu me lembro que todo final de ano minha mãe comprava uma porcelana barata para que eu desse de presente de natal para minha professora. Esse período foi marcado pela extrema dificuldade financeira pela qual passamos, lembro-me que não tínhamos dinheiro para comprar mochilas e minha mãe colocava nosso material (dois cadernos, uma borracha e um lápis) dentro de um pacote de açúcar, o que nos causava um terrível constrangimento, pois nos transformava em motivo de riso. Minha mãe costumava ir até a escola praticamente a cada 15 dias e todas as vezes que ela ia eu apanhava quando chegava em casa. Os motivos eram tão variados que não me lembro de todos, mas lembro que os professores sempre diziam que eu fazia de tudo para terminar meu dever primeiro que os outros alunos, só pra atrapalhar o restante da aula, a verdade é que meu comportamento era tão ruim que na 4º série a professora me passou de ano quase um mês antes do restante da classe, só pra não precisar mais brigar comigo. Já no ginásio as coisas mudaram tanto que minha primeira lembrança é que eu estudei na 5º ou 6º série com uma garota meio gordinha, morena e bastante forte que me batia pelo menos uma vez por semana porque ela sempre queria que eu a beijasse. Eu a achava meio feia e como eu estava em desvantagem tanto na idade como no tamanho, o jeito era apanhar mesmo. Durante a 8º comecei a trabalhar em uma distribuidora de bebidas que ficava na região onde eu morava. o dificultou ainda mais meu rendimento escolar. Mas como já conhecia todos os professores e toda a direção da escola, as coisas acabaram ficando mais fáceis. Neste momento minha vida profissional começava a melhorar e minha vida escolar, que até então era de certa forma estabilizada, começava a entrar em declínio. Ao terminar o ginásio, já estava trabalhando durante o dia todo e como tínhamos mudado de bairro, resolvi mudar de escola também e passei a estudar a noite. No primeiro ano do ensino médio, estava num período de adaptação. Novos amigos, novos professores, enfim tudo novo. Achei que fosse continuar passando de ano sem estudar como já estava acostumado a fazer, mas o problema agora é que eu chegava cansado do serviço e acabava dormindo na sala ou nem aparecia por lá, o resultado é que peguei final em praticamente todas as matérias. No segundo ano as coisas continuaram muito parecidas, mas neste ano o resultado foi diferente. Reprovei pela primeira vez em 10 anos de escola. A essa altura eu já era um aluno completamente relapso, e comecei a ter algumas inimizades na direção da escola. Na segunda tentativa de concluir o segundo ano fui expulso da escola por motivos “obscuros”. Foi então que resolvi acionar o conselho tutelar para averiguar, logo descobri que eu já tinha fechado as notas pra passar em todas as matérias. O resultado foi que passei de ano, mas fui aconselhado a mudar de escola. Diante desta situação fiquei completamente desestimulado a estudar, mas durante o segundo semestre de 2001 resolvi me matricular num colégio de ensino semestral e conclui meu ensino médio lá. Após o término do ensino médio e com um emprego promissor em uma exportadora de madeiras, me sentia como se estivesse com o dever cumprido. mais ou menos nesta época que eu passei a me aproximar mais da igreja e passei a ser aconselhado por um pastor que sempre me falava das oportunidades que eram dadas a pessoas com diploma de nível superior, numa dessas conversas tive o desejo de sair de Rondônia pra estudar. A princípio minha mãe não queria que eu saísse nem da cidade, mesmo assim passei a coletar informações sobre as cidades que poderiam interessar e a opção por Curitiba se deu pela facilidade de ingresso na Casa do Estudante Universitário (CEU), onde morei por quase dois anos. Após algumas semanas em Curitiba minha família já havia se acostumado com a idéia e passei a contar com o apoio total deles, o que foi de fundamental importância, pois sem este apoio e ajuda de muitos amigos com certeza eu não teria conseguido superar obstáculos que na época eu julgava praticamente intransponíveis, tais como temperatura muito baixa, pois no inverno eu sempre dizia: “se amanhã fizer frio como hoje, eu vou embora!” Dificuldade para entrar na universidade. Talvez isso tenha originado o pior momento que passei em Curitiba. Após um ano de lutas, receber a notícia que tudo foi por água abaixo. Mas apesar de não ter passado na primeira tentativa, não desisti e fui aprovado no segundo ano que prestei vestibular. Hoje me sinto um vitorioso por ter chegado ate aqui, por ter ganhado bolsa durante os dois anos de cursinho, aos quais tenho muito que agradecer, por ter passado por todo o processo de seleção da universidade e estar fazendo um curso de nível superior, e principalmente por ter conhecido pessoas que me ensinaram valores que eu jamais aprenderia dentro de uma sala de aula.