INfOrMAtIvO IrAPÉ  ANO 2  nº 8  deZeMBrO 2010
Água abundante
e de melhor
qualidade
“Nossa vida melhorou muito. eu agradeço a deus todo dia, porque a vinda pra
cá modificou nossa situação”. As palavras
de Manoel rodrigues de Almeida, 62 anos,
ilustram bem o que representou a mudança da localidade de Posses, em Leme do
Prado, para a fazenda velho texas, também na margem direita, onde mora com a
esposa. Manoel diz que as dificuldades na
origem eram muitas. “A gente não tinha luz
e as estradas eram de pouco acesso. Se
você não tem energia, a cultura da horta é
MArIA tereZA: “AQuI teMOS ÁGuA POtÁveL eM QuANtIdAde”
Sistemas de água revisados e
em pleno funcionamento
A infraestrutura instalada para o sistema de abastecimento de água na região
só para a sobrevivência. Aqui é diferente,
porque a gente pode guardar os alimentos”. ele planta milho, feijão, amendoim e
mandioca, para consumo próprio. O que
sobra é vendido na própria região. “tenho
prazer de ver a colheita da lavoura sempre
em cada casa, com capacidade para 5 mil
sobrando. Nesse ponto o abastecimento
litros.
de água melhorou e tem sido muito im-
de Irapé, que atende às 638 famílias re-
A tranquilidade proporcionada pela
portante, porque lá a água não era boa e
assentadas, está em pleno funcionamen-
garantia de água potável todos os dias
faltava na seca. Aqui a gente tem a conta
to. São 77 sistemas implantados nas 92
transformou a vida da família da profes-
de energia, dividida entre todas as famílias,
fazendas, que passaram por uma revisão
sora Maria tereza da Paixão, moradora da
porque o abastecimento é bombeado. Mas
geral, com novos treinamentos e manu-
fazenda fartura, na margem direita da usi-
estamos fazendo uma gestão desse abas-
tenções realizadas.
na. Casada e mãe de duas filhas, ela con-
tecimento, pra que a água dê para todos e
todo o sistema de abastecimento foi
ta que a pouca infraestrutura dificultava a
não falte em casa”, explica.
planejado de acordo com as condições
vida em Jacuba, seu local de origem. “A
de vida de cada família na origem, para
gente morava na beira do rio, mas faltava
atender à utilidade doméstica: o consumo
bastante água. Aqui temos água potável e
de água humano e de uma pequena cria-
em quantidade, por gravidade. A nascente
ção de animais, além de irrigação de uma
começou a secar, mas a Cemig está con-
horta e pomar. O sistema de cada fazenda
cluindo uma nova barragem. Só falta agora
tem um reservatório geral – que distribui a
a gente saber economizar, porque tudo é
água para as casas pelo sistema de gravi-
repartido”, explica a professora, que mora
dade ou de pressão – e uma caixa d’água
com mais sete famílias na fazenda.
treINAMeNtOS – A Cemig reassumiu a
AutONOMIA – Além do consumo de água
LICeNçA reNOvAdA – A usina de Irapé
gestão de todos os sistemas de abaste-
potável, o abastecimento regular permitiu
teve sua Licença de Operação (LO) revali-
cimento nas fazendas, realizando novos
às famílias o plantio de hortas e pomares
dada por mais sete anos. A renovação foi
treinamentos e serviços de manutenção,
em períodos de seca, o que garante as
aprovada pelo Copam Jequitinhonha, em
além de reformas nas casas.
colheitas.
9 de dezembro.
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Palavra do
EDITOR - O reassentamento realizado na
região de Irapé é modelo em todo o país.
Pela primeira vez, posseiros que trabalhavam nas terras de origem, mas sem direito
sobre elas, foram contemplados com 40
hectares (margem esquerda) e 50 hectares
de terra (margem direita). Isso representou
uma profunda transformação na vida dessas famílias, cujos chefes, que, se antes
prestavam serviços para terceiros, agora
têm o orgulho de dizer que trabalham para
si próprios e podem planejar o seu futuro,
manejando a terra e diversificando o plantio.
O abastecimento regular de água potável
nas fazendas também facilitou a vida dos
reassentados, que hoje cultivam suas plantações mesmo em períodos de seca. A irrigação das hortas e pomares com milho, feijão, mandioca, arroz e amendoim, além de
frutas e verduras, garantem a subsistência
das famílias. Além disso, o excedente é vendido para a Companhia Nacional de Abastecimento - Conab ou nas regiões vizinhas,
o que ajuda no orçamento doméstico.
A gestão do abastecimento de água está
agora sendo assumida de forma definitiva
pelas famílias, depois de um novo treinamento detalhado, desenvolvido pela Cemig
e aplicado em cada uma das 92 fazendas.
Os reassentados receberam instruções especificas sobre a manutenção do equipamento e a melhor forma de realizar a gestão
do abastecimento. Controlar o consumo é
fundamental, por dois motivos básicos:
evitar o desperdício e a falta d’água na
casa dos vizinhos, e também economizar
na conta de energia, cujo pagamento será
de responsabilidade das famílias a partir de
janeiro de 2011. Passados cinco anos, é
fácil verificar a satisfação das famílias reassentadas, que, apesar da saudade da terra natal, hoje se encontram perfeitamente
adaptadas nas fazendas onde moram.
MedIçãO INdIvIduAL CONtrOLA CONSuMO POr fAMíLIA
Hidrômetros facilitam
gestão da água
Os reassentados contam hoje com
hidrômetros individuais instalados nas
casas, o que representa uma segurança
a mais na questão do controle sobre o
gasto de água de cada família. de acordo
com o engenheiro Mauro fernando Horta
de Almeida, a nova gestão de consumo
vai ser facilitada com a instalação dos medidores. “Instalamos 600 hidrômetros em
todas as fazendas cujo abastecimento
é feito por pressão. Assim será possível
controlar o consumo e também gerenciar
o pagamento das contas de energia”, diz.
Outro problema, segundo ele, era a
falta de um período de descanso nos poços artesianos, o que acabava queimando as bombas. “Antes não havia controle.
uma família que tinha mais cabeças de
gado, por exemplo, consumia muito mais
água e deixava o sistema ligado de forma
ininterrupta, o que gerava pane nas bombas, prejudicando o abastecimento das
outras casas”, acrescenta.
em 2009, um relatório feito pela
emater apontou também problemas
construtivos em 83 casas das famílias de
reassentados na margem esquerda. As
ocorrências mais comuns indicavam pequenas trincas, problemas nos telhados
e também a revisão de algumas serpentinas que apresentavam defeitos. todo o
serviço de reformas já foi concluído.
“A Cemig jamais irá se eximir das suas
responsabilidades. tudo o que for da nossa alçada será feito, para que as famílias
possam ter sempre condições adequadas
de moradia e infraestrutura”, completa o
engenheiro, que coordenou o trabalho de
instalação dos hidrômetros e também da
reforma nas casas.
Casas entregues com água e energia
Quando os reassentados se instalaram
em suas novas casas – cujas fazendas foram escolhidas por eles mesmos, após visitarem lotes em pelos menos três propriedades de localidades diferentes – receberam
as residências em boas condições de uso,
com luz elétrica e sistema de abastecimento de água em funcionamento. Na época,
um morador de cada fazenda foi selecionado pela própria comunidade para participar de um treinamento em Sete Lagoas,
na Grande BH, com o objetivo de aprender
o funcionamento do sistema e a melhor
forma de realizar sua manutenção. A partir
daí, os reassentados foram se adaptando à
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nova realidade, ao mesmo tempo em que
eram direcionados pela emater-MG para
outros projetos de sustentabilidade.
A gestão do sistema de abastecimento pelos próprios reassentados, no entanto, não foi satisfatória. A Cemig reassumiu
todo o trabalho e implantou o sistema de
abastecimento por gravidade (sem sistema de bombeamento) em todas as fazendas em que o sistema era viável. foi
elaborado, pelas associações dos reassentamentos com a orientação da emater,
um regimento para a Gestão da Água: o
documento, entregue às famílias, detalha
todos os cuidados necessários para o
bom funcionamento do sistema e ensina
também a realizar uma leitura correta dos
hidrômetros, bem como a manutenção do
filtro lento e do clorador, equipamentos
necessários no sistema por gravidade.
CeMIG tAMBÉM reALIZOu NOvA MANuteNçãO NOS SISteMAS
reassentados recebem novos treinamentos
em 2005, a Cemig realizou a mudança
de todos os reassentados que moravam às
margens do lago de Irapé para 92 fazendas em 17 municípios das regiões Norte e
vale do Jequitinhonha. Cada fazenda tinha
instalado um sistema de abastecimento de
água, e os representantes de cada comunidade fizeram treinamento conjunto para
aprenderem operar o sistema.
dois anos depois, a emater preparou
um relatório informando que havia muitos
sistemas parados, muitos deles danificados,
e que várias fazendas estavam desabastecidas. “voltamos a campo e descobrimos
que havia várias pendências, como corte
do fornecimento de energia por falta do pagamento de contas, bombas quebradas e
canos estourados, sem a manutenção dos
responsáveis”, conta Miriam ribeiro Silvério, responsável pelo apoio no reestabelecimento da gestão da água. de um total de
77 sistemas, 38 estavam parados.
toda a manutenção do sistema foi então reassumida de forma voluntária pela
Cemig. foram formadas duas equipes,
fazendas que não
“ Há
visitamos há um ano, pois
se tornaram autônomas na
gestão do abastecimento
de água
”
Glauco Gonçalves Dias,
coordenador do trabalho de
intervenção nos sistemas de água
uma para a manutenção e outra para a
reforma de algumas casas, que também
apresentavam problemas. desde junho
de 2008 a empresa assumiu ainda o pagamento das contas e foi feito um novo
treinamento para operação do sistema,
de forma individualizada, em cada fazenda. Hoje, todo o sistema de abastecimento está em pleno funcionamento, com
hidrômetros individuais instalados nas
casas. “É importante dizer que, mesmo
antes desse novo treinamento, muitas comunidades já faziam uma boa gestão do
sistema. e há fazendas que não visitamos
há um ano, pois se tornaram autônomas
nessa gestão”, observa Glauco Gonçalves dias, coordenador do trabalho.
Boa gestão dos sistemas inclui economia de água
A Cemig produziu uma cartilha para
apoio na manutenção dos sistemas, com
conceitos básicos e explicações gerais
sobre o funcionamento, além de detalhes
técnicos, contatos e sugestões de locais
para a compra de materiais, próximos às
fazendas. de acordo com Miriam ribeiro,
um dos maiores problemas na gestão dos
sistemas é a falta do hábito de controlar
o gasto de água, já que as comunidades
moravam nas margens do rio Jequitinhonha. “Não havia essa cultura de economizar água, para não faltar na caixa d’água
do vizinho. Hoje é fundamental gerenciar
o abastecimento, até por uma questão de
economia”, reforça. A partir de janeiro de
2011, as próprias comunidades irão arcar
com os custos de energia gerados pelas
bombas de sucção do sistema. Os valores das contas, no entanto, serão baixos,
pois os reassentados estão inscritos no
programa de tarifa de Baixa renda. Ainda assim, a conta de energia será dividida
entre todas as famílias.
O responsável pelo treinamento nas
fazendas, Gelson toledo, destaca a importância da iniciativa. “esse trabalho foi
fundamental para que as famílias apren-
dessem usar o equipamento. Isso aumenta a vida útil do sistema, e como diz o ditado, sabendo usar, não vai faltar”.
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vivendo uma
nova vida
A fazenda riacho da Porta é ligada ao município de diamantina, na região do Jequitinhonha. Na época do
reassentamento foram transferidas 15
famílias, número que passou para 22,
com a ampliação familiar. As terras,
de ótima qualidade, têm agricultura
diversificada. A fazenda foi premiada
pela emater em 2009 como reassentamento destaque, pelas características apresentadas: produção familiar,
diversificação na agricultura, organização comunitária e liderança. Segundo Josi Lopes, técnica da emater que
trabalha com a comunidade, o sentimento das famílias é de muita satisfação com o que conquistaram. “Pelos
relatos que eu tenho, eles acham que
aqui é o paraíso, porque antes não tinham terra de qualidade nem nessa
quantidade, de 40 hectares. também
não tinham assistência técnica, nem
como vender a produção. A maioria
não tinha energia nem água encanada. Aqui eles estão vivendo uma nova
vida”, diz ela.
GerALdO PereIrA e fAMíLIA: trABALHO e AutONOMIA
riacho da Porta: mais conforto
e autonomia para as famílias
As manhãs, são frias na fazenda
riacho da Porta. Geraldo Pereira dos
Santos se levanta e, depois de tomar
um café forte com pão e requeijão feito
em casa, vai cuidar da criação (galinha,
porco, gado) e tirar leite das vacas. Ali
do curral ele avista suas terras: a horta e
o pomar estão verdinhos, com as plantações de milho, feijão, arroz e mandioca, além de frutas e verduras. Logo ele
está cuidando da roça, com a ajuda do
seu filho mais velho e da esposa, Ana.
“O trabalho é importante para todo
mundo da família. eu ensinei meus filhos
a trabalhar, porque é assim que a gente
cresce na vida”, diz Geraldo. ele está
satisfeito com a autonomia que conseguiu, depois de cinco anos da mudança de Canabrava, seu local de origem,
no município de turmalina. “Graças a
deus, pelo que a gente tinha, nossa vida
melhorou muito. e não foi dez por cento
não, foi cem por cento. Onde a gente
morava era muito ruim, o local era acidentado, tinha muita pedra. Aqui a terra
é mais plana, mais favorável. e antes a
gente tinha que escoar a produção no
lombo do burro, bem devagar, não tinha
o acesso que a gente tem aqui.”
Além da aposentadoria, hoje o casal
pode contar com a venda do excedente
da produção para a Companhia Nacional
de Abastecimento (Conab), cooperativa
que paga às famílias de dois em dois meses. “A Cemig nos ajudou com a casa, o
terreno, a água e a luz. Antes a gente não
tinha nada, só a graça de deus. Não tinha
energia em casa. então, o conforto que
a gente tem aqui, não tem comparação”,
finaliza d. Ana.
Agricultura familiar ampliada
Seu José do Socorro dos Santos é muito conhecido por todos em
riacho da Porta. Pai de uma família
de dez filhos, ele se define como o
“coordenador” das atividades diárias
em casa. “Aqui todos ajudam na roça.
recebemos uma terra muito boa, então temos que saber cuidar dela, para
que a gente colha tudo do bom e do
melhor”, diz.
ele conta que a terra é muito produtiva, e por isso as colheitas são muito
mais fartas do que antes. “A gente planta de tudo, só não planta macarrão”, diz
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ele, soltando uma risada. “A vida lá era
mais difícil: cidade longe, estrada ruim.
uma vez perdi 15 cabeças de gado por
causa da seca, fiquei com só duas.
Hoje tenho mais de 40. Aqui a gente
conseguiu ampliar nossa atividade, que
é a agricultura familiar. Nós temos uma
base muito boa, e o povo de casa é
muito trabalhador”, conta.
A estrutura, de acordo com ele, facilitou muito o dia-a-dia da família. “temos escola pros meninos, com ônibus
na porta, e também um posto de saúde”. Com a vida mais organizada, José
do Socorro faz planos para o próximo
ano. “em 2011 quero plantar um grande
pomar de laranjas. tenho fé de que as
coisas só vão melhorar. O melhor dessa
vida é a gente poder criar a família da
gente com mais conforto”, completa.
pobre, e as terras eram piores. A terra era
vermelha e macia, mas não produzia.
A gente morava numa terra e trabalhava
em outra, era difícil. e tinha peão que
morava em um lugar tão difícil que só
saía de casa se fosse por muita necessidade. Não se podia beneficiar a terra,
porque trator não andava lá, era tudo no
bico do arado. O único carro que desceu lá foi a toyota da Cemig, pra fazer a
mudança”, relembra ele.
ficou muito
“ Aqui
mais fácil
planejar a vida.
”
PArA OBed BICALHO, fALtA de LuZ trAZIA PrIvAçõeS
Ponte Pequena:
acesso fácil e terra produtiva
“Muita gente na cidade não imagina o que é viver sem luz. O camarada
acorda às 4h30 pra tomar um café e
trabalhar na roça, cuidar da criação.
No fim do dia, quando chega 7 horas,
não há nada pra fazer, não tem diversão, o dia acaba. Aí é deitar e dormir.
desse jeito, a vida era só trabalho, não
tinha um lazer, só o descanso da madrugada.” As palavras de Obed ferreira
Bicalho ilustram bem o que representou
a mudança da fazenda ribeirão das
Piabas para a Ponte Pequena, na margem esquerda da usina de Irapé.
Casado, pai de dois filhos, ele diz
que a energia trouxe mais conforto
para a família. “Hoje podemos ouvir
uma música, ligar a tv pra ver o jornal.
e a conta é razoável: 15 reais a cada
três meses. vale muito a pena.”
Mas Obed conta que, em seu local de
origem, as dificuldades iam muito além
da falta de energia elétrica em casa.
“O sistema de transporte era muito
Agricultor que não tem medo de trabalho, Obed cuida muito bem de seu
terreno, cujo lote tem 50 hectares e mais
32 de reserva ambiental. ”Hoje eu moro
e trabalho na minha terra, que é mais
fácil de beneficiar. tem trator por todo
canto. eu planto café, milho, feijão e
mandioca. Aqui, tudo que se planta vinga. eu estou começando com laranja e
banana e tenho planos de plantar eucalipto também”, diz ele, que faz questão
de demonstrar a satisfação de ser dono
do próprio nariz. “ter sua própria terra é
outra coisa. A gente fica mais à vontade
e faz o serviço no tempo e no jeito que
quer. Aqui ficou muito mais fácil planejar
a vida”, conclui.
dona Zita: um exemplo de superação
“Sofrimento não mata não. Se matasse, eu tinha morrido faz tempo. você
não faz ideia do que era minha vida antes.” dona Zita florêncio de Souza, mãe
de nove filhos, criou seus meninos em
Itacambiraçu, no município de Alegre.
Mas as dificuldades eram enormes,
pois o acesso era o pior possível. A escola das crianças era longe e não havia
nada perto, segundo ela.
“Lá não ia carro, e o transporte era
a cavalo. Pra fazer a feira era tão difícil
que tinha dias que a gente nem comia.
Quando eu ia levar uma comida na roça
pro meu marido, eu sentava pra descansar das dores nas pernas, de tanta ladeira que eu subia”, relata.
O acesso ao transporte era raro,
o que os deixava isolados na zona rural. “Os ônibus passavam uma vez por
mês. Pros meninos irem à escola, a viagem demorava uma hora. Aqui temos
ônibus duas vezes por dia, temos cidade perto. Os meninos todos gostaram
da mudança, não fui só eu não”.
As terras de dona Zita chamam a
atenção, porque ficam encravadas no
alto da fazenda. A região é bonita e da
porta da casa avista-se a plantação
generosa e variada, com a estrada e
a vizinhança lá embaixo. “A Cemig nos
colocou em um lugar muito
bom, e aqui eu planto muita
coisa: milho, feijão, mandioca,
amendoim, quiabo, abóbora,
melancia. Aqui a terra é boa,
dá de tudo. A gente planta e
depois vê essa roça tão bonita, dá prazer andar no meio da
plantação”, diz, satisfeita.
Cemig nos
“ Acolocou
num
Logo que se mudou para Ponte
Pequena, dona Zita ficou viúva. “Criei
nove filhos com muita luta lá na terra
de origem. deus levou meu marido,
mas eu agradeço a ele por ter hoje
esse conforto, com meus filhos perto
de mim. e ainda tenho geladeira, som
e televisão, o que é uma novidade na
minha casa”.
”
lugar muito bom.
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eMBArCAçãO fAZ A trAveSSIA eM CerCA de 14 MINutOS
Balsa Posses-Botumirim: economia de tempo
A balsa que atravessa o lago de Irapé,
unindo as localidades de Botumirim e
Leme do Prado, é um importante transporte
de passageiros na região. Para se ter uma
ideia da economia de tempo na travessia,
quem preferir fazer o percurso por terra de
uma cidade à outra terá que rodar cerca de
200 quilômetros a mais. O transporte é diário e funciona há dois anos e meio, com três
horários em cada margem. São transportados, em média, 40 passageiros por dia e
8 veículos. A travessia dura 14 minutos.
O condutor da embarcação, Cleumar
Pereira da Anunciação, trabalha na balsa
desde sua implantação. “Nessa época de
fim do ano o fluxo está razoável, mas o
período de maior movimento é em agosto, quando acontece a festa de Botumirim.
Aí chegamos a transportar 60 veículos por
dia e mais de 300 passageiros”.
O transporte é mantido pelas prefeituras de Leme do Prado e Botumirim.
Segundo o condutor, o que é arrecadado por mês – entre r$ 2.000 e r$ 2.500
– cobre pouco mais da metade do custo, que é de cerca de r$ 4.000, com
três funcionários e o combustível (óleo
diesel).
A balsa é uma das duas existentes
no lago de Irapé, junto à outra que une
Cabra, em Cristália, a Malhada, em José
Gonçalves de Minas – que está em fase
de reformas. As embarcações foram reconstruídas pela Cemig e entregues aos
municípios após a conclusão das obras
da usina.
Irapé obtém renovação da licença
A usina de Irapé teve sua Licença de
Operação (LO) renovada por mais sete
anos pelo Conselho de Política Ambiental
(Copam) Jequitinhonha, em reunião realizada em diamantina, dia 9 de dezembro.
“A equipe multidisciplinar da Cemig trabalhou com extrema dedicação para o cumprimento das condicionantes definidas
pelo órgão”, afirma o superintendente de
Manutenção de Ativos de Geração (MG)
da Cemig, fernando Augusto.
de acordo com o Gerente de Licenciamento e Gestão Ambiental da Geração e
transmissão (GA/LA), Wilson Grossi, todas
as condicionantes exigidas no processo de
licenciamento foram cumpridas. “foram
implementadas obras gerais de acesso,
incluindo os reassentamentos; sistema de
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abastecimento de água; conclusão das
escolas; obras de recuperação das casas;
conclusão dos centros de referência e das
estações de tratamento de esgoto de Posses e de Mandassaia. tudo foi feito dentro
dos prazos estabelecidos”, conclui.
“um exemplo do compromisso da
Cemig em cumprir todas as condicionantes
foi à obtenção das certificações do Sistema
de Gestão da Qualidade – 9001, Ambiental
– 14001 e de Saúde e Segurança – 18001,
em dezembro de 2008 pela equipe da
Gerência de usinas do Norte (MG/Nt), lembra o gerente da área Carlos Casagrande”.
Irapé em números - Instalada no rio
Jequitinhonha, entre municípios de Berilo e
Grão Mogol, a usina de Irapé tem um reservatório com 137 km² e cerca de seis bilhões
de metros cúbicos de água. O grande lago
atinge sete municípios das regiões Norte e
vale do Jequitinhonha. As três turbinas de
Irapé geram 360 megawatts de energia.
A barragem é outro aspecto superlativo da
usina: com 208 metros de altura, é a mais
alta do país e segunda maior da América
do Sul.
vOtAçãO dA LO PeLO COPAM
para as cooperativas agrícolas, garantindo uma fonte de renda regular.
Mas além da agricultura familiar, outra atividade de cultivo vem oferecendo
novos horizontes para os reassentados:
o plantio de eucalipto. Muitos agricultores, orientados pela emater, têm conseguido financiamentos e vêm iniciando
investimentos na planta.
José Geraldo Gomes, o Zezinho,
trabalhava para os outros em Córrego
do engenho, e passava a semana longe da mulher e dos filhos para garantir
o sustento da família. Hoje, instalado na
fazenda Palmital, ele mantêm uma horta
diversificada, o que garante comida na
mesa, todos os dias, e faz planos para
ZeZINHO e fAMíLIA: PLANtIO dIverSIfICAdO NA rOçA
eucalipto: uma nova fonte de renda
melhorar a vida da família.
“tudo isso está acontecendo graças
à Cemig, que tirou a gente daquele lugar
isolado e nos trouxe pra cá. Na origem
a vida era muito mais difícil, a gente não
Pelos relatos dos reassentados ins-
javam para o interior paulista para traba-
tinha luz em casa, nada ficava perto
talados nas duas margens da usina de
lharem em canaviais, uma atividade des-
e o acesso era complicado. Aqui eu
Irapé, é fácil notar a transformação ocor-
gastante e mal remunerada. Hoje todos
cuido da minha plantação e já tenho
rida nas famílias a partir da mudança do
possuem terras de grande extensão – 40
três hectares de eucalipto plantado.
local de origem para as fazendas. Muitos
a 50 hectares – e plantam para o consu-
A emater fez o projeto, o Banco do
deles, que nem terra tinham, trabalhavam
mo próprio. Além disso, comercializam o
Nordeste liberou o dinheiro, eu plantei e
para terceiros em carvoarias. Alguns via-
excedente da produção na vizinhança ou
ano que vem já vou colher”, afirma.
Peixe Cru: comunidade adaptada
O plantio de eucalipto também é uma
“temos saudade das nossas raízes, mas
atividade frequente em Peixe Cru, comu-
temos consciência de que obtivemos
nidade que foi inteiramente transplanta-
um termo de acordo muito bom, talvez o
da e hoje situa-se próxima a turmalina,
melhor na história das barragens do país.
na margem direita da usina. O presidente
A mudança foi muito boa para todos aqui,
da Associação de Moradores do povoa-
todo mundo tem seu pedaço de terra para
do, Zé de Lurdes, conta por que as pes-
cultivar, e plantam mandioca, feijão,
soas estão felizes depois da mudança.
milho e eucalipto”, observa.
“Meu trabalho se desenvolveu graças ao eucalipto”
Para francisco Alves Afonso, a
proximidade da escola e do atendimento à saúde fazem toda diferença.
“Quando a gente adoecia, só sarava
por milagre de deus, porque não tinha posto médico. Aqui, se precisar,
num instante estamos em turmalina.
e o transporte passa na porta de casa
e leva nossos filhos para a escola”,
diz. ele conta que, na origem, não era
possível sonhar com o futuro. “Lá não
era possível contar com nada, não tinha como melhorar a vida. eu trabalhava no garimpo, e era quase igual
ao tempo de escravo. Aqui o meu trabalho se desenvolveu, porque planto
de tudo na horta e ainda tenho dois
hectares de eucalipto, plantados há
seis anos. No próximo ano já vou
faturar com eles”, revela.
ZÉ de LurdeS:
MudANçA fOI BOA PArA MOrAdOreS
um termo
“ Obtivemos
de acordo muito bom,
talvez o melhor na
história das barragens
do país. A mudança
foi muito boa, porque
todo mundo tem
seu pedaço
de terra para cultivar
”
Zé de Lurdes,
presidente da Associação
de Peixe Cru
frANCISCO AfONSO: eduCAçãO e
SAÚde AO ALCANCe de tOdOS
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eugenio Pacelli/Arquivo Cemig
estímulo
a educação
ambiental
Irapé: uma revolução
em obras na região
A construção da usina de Irapé representou uma verdadeira revolução desenvolvimentista na região. foram realizados
grandes investimentos em infraestrutura,
como a melhoria de acessos aos municípios e às fazendas; obras de saneamento
básico; construção de pontes e passarelas;
recuperação de balsas; construção e recuperação de sistemas de abastecimento de
água e reforma de casas, além da assinatura de convênios de assistência técnica
para apoio aos reassentados, entre outros
benefícios. Conheça a relação das obras
realizadas, para as quais foram necessários investimentos em equipamentos e
mão-de-obra durante vários anos:
Convênio com a Copasa para obras de
saneamento básico em vários municípios
e distritos
Saneamento básico de Posses (Leme do
Prado) e Igicatu (José Gonçalves de Minas);
Calçamento e rede de água pluvial em
Lelivéldia (Berilo)
Construção da passarela do tingui, ponte de montante no Córrego ventania (comunidade do tingui, Grão Mogol) e pontes do taquaral e do Colatino
Cessão de roda d’água para a comunidade do tingui
Construção de trevo e aterro sanitário
em virgem da Lapa
Construção das sedes das Associações
das fazendas fartura e Mandassainha
Perfuração de poços profundos para
captação de água, restituindo abastecimento de água em várias fazendas
recuperação do acesso ao atracadouro
da balsa em Posses/Botumirim
Instalação de hidrômetros nos lotes de
todas as fazendas
recuperação de sistemas de abastecimento de água danificados devido à
falta de manutenção por parte dos reassentados
treinamento para gestão do consumo
de água, através dos hidrômetros, para
posterior rateio dos custos com energia
na captação da água
Implantação de sistemas de abastecimento de água alternativos, por gravidade
Implantação de lavoura mandioca para
abastecimento da fábrica de farinha de
Peixe Cru
recuperação de 83 casas com problemas construtivos na margem esquerda
recuperação do beiral (“cachorro”) de
19 casas e de 5 casas com problemas
construtivos na margem direita
Cessão de computadores para a associação de jovens da fazenda Muquém
Apoio para feira de Artesanato de Leme
do Prado e estande dos reassentados
de Irapé na exposição Agropecuária de
Janaúba
Apoio à participação das artesãs reassentadas na 5ª AgriMinas, da fetaemg
Programa de educação ambiental e recepção de visitas na usina
extensão do convênio com a emater
Solturas de peixes jovens no lago e após
a barragem, os peixamentos.
eRRAtA: na edição especial nº 7, novembro de
2010, página 7, a nota “títulos de terra” informa
que Viviane Lisboa é advogada; na realidade
Viviane Lisboa é administradora e trabalha na
Cemig como analista de gestão de imóveis.
exPediente
Publicação da Cemig – Companhia energética de Minas Gerais – Av. Barbacena, 1.200 – Santo Agostinho – Belo Horizonte/MG – CeP: 30.190-131 –
telefone: (31) 3506-3996 – Jornalista Responsável: Luiz Michalick – Reg. nº 2211 – SJPMG – Gerência de Comunicação interna e de Relacionamento com a Comunidade – Redação: Paulo Boanova – edição: Rodrigo Borges – Projeto Gráfico: técnica Composição e Arte – impressão:
Gráfica e editora 101 – tiragem: 4.000 exemplares.
PÁGINA 8
A melhor energia do Brasil
CLASSIfICAçãO: PÚBLICO
uSINA trOuxe INveStIMeNtOS eM INfrAeStruturA PArA MuNICíPIOS
Os programas de educação ambiental
desenvolvidos pelo Centro de referência
de Irapé beneficiam inúmeras escolas da
região do entorno da usina. O Centro incentiva atividades externas, nas escolas e
também ao ar livre, desenvolvendo noções
de ecologia e sustentabilidade entre os
alunos. São estimuladas várias atividades,
como caminhadas ecológicas, plantio de
mudas e também dicas de educação ambiental, como reciclagem, recolhimento de
lixo e o não desperdicio.
Há dois anos em funcionamento, o
Centro de referência de Irapé também recebe visitas agendadas à usina. em 2010
foram registradas 2.150 visitas ao centro, o
que inclui escolas, faculdades e a comunidade dos municípios vizinhos.
A coordenadora do espaço, Ádila Silva,
descreve o trabalho. “recebemos cerca de
45 pessoas por visita, a maioria de escolas.
Aqui nós apresentamos esse patrimônio,
como a exposição de objetos que compunham o dia-a-dia dos moradores dos
municípios atingidos, e também acompanhamos os visitantes pelas instalações da
usina”, relata. veja a seguir a relação das
atividades desenvolvidas em 2010:
Semana Ambiental usina de Irapé.
Caminhada ecológica em Ijicatu.
Criação da feira Livre de Ijicatu-José
Gonçalves de Minas.
visitas das comunidades “vizinhas de
Irapé”: Malhada, Santa rita, Catutiba e
José Gonçalves de Minas.
exposição fotográfica – “A riqueza do
vale” – Comunidade de Ijicatu (José
Gonçalves de Minas) e turmalina.
Peixamentos.
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Informativo_Usina_Irape_ANO2_N°8_DEZEMBRO2010