Causas de afastamento de trabalhadores de enfermagem
Artigo original
Causas de afastamento dos trabalhadores de
enfermagem em um hospital do Distrito Federal
Causes of absenteeism of nursing workers in a hospital of
Distrito Federal
Edí Oliveira Torres1
Diana Lúcia Moura Pinho2
1
2
Ambulatório de Urologia do
Hospital de Base do Distrito
Federal, Brasília, Brasil.
Faculdade de Ciências da Saúde
da Universidade de Brasília,
Brasília, Brasil.
Correspondência
Edí Oliveira Torres
Hospital de Base do Distrito Federal
Ambulatório de Urologia
SMHS Área Especial Q.101
Brasília, Distrito Federal, Brasil
70330-150
[email protected]
Recebido em 30/setembro/2005
Aprovado em 18/agosto/2006
Resumo
Introdução: os agravos à saúde constituem um dos principais problemas
que acometem os trabalhadores de instituições hospitalares em geral e os de
enfermagem em particular. O objetivo da realização deste estudo foi conhecer
as causas de afastamento dos trabalhadores de enfermagem em um contexto
hospitalar, visando uma maior compreensão desse evento.
Método: trata-se de um estudo do tipo exploratório e descritivo. Os dados
foram coletados do Núcleo de Saúde e Higiene do Trabalho no ano de 2004
e analisados com software Epi-info versão 3.3.2.
Resultados: a causa mais freqüente foi a respiratória (17,6%); seguida dos
fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os serviços de
saúde (15,5%); doenças osteomusculares e do tecido conjuntivo (14,7%).
Verificou-se que a causa que representou o maior quantitativo de dias não
trabalhados está relacionada com fatores que influenciam o estado de saúde
(24,6%), seguida dos problemas do sistema musculoesquelético e do tecido
conjuntivo (16,1%) e do grupo das doenças respiratórias (12,9%).
Conclusão: este estudo foi limitado por analisar apenas as licenças médicas
referentes a causas, quantitativo de dias e número de trabalhadores afastados
do trabalho. Para melhor compreender esses afastamentos é necessária uma
observação real do contexto do trabalho.
Palavras-chave: recursos humanos de enfermagem, licença médica, saúde
do trabalhador.
Abstract
Introduction: health related problems constitute one of the principal causes
of absenteeism on the part of hospital workers in general, and nursing staff
in particular. In this study, we present causes of absenteeism among hospital
workers in order to have a better understanding of the causes within the
context of a hospital.
Method: this is an exploratory and descriptive kind study. The data were
collected from the Health and Labour Hygiene Center in the year of 2004
and analyzed by Epi-info software3.3.2 version.
Result: the most frequent cause was respiratory problems (17.6%); followed
by factors which affect their general state of health and contact with health
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Torres EO, Pinho DLM
services (15.5%); osteomuscular and the conjunctiva diseases (14.7%).
However, the explanation for the highest number of days of absenteeism
from work was factors which affect their general state of health (24.6%),
followed by problems related to the muscular and bone system and the
conjunctiva (16.1%) and the respiratory disease group (12.9%).
Conclusion: this study it was limited by analyzing only the referring sick
leave the causes, quantitative of days and absenteeism from the work. To
understand these sick leave it is necessary real observation of the context of
the work.
Key words: nursing staff, sick leave, occupational health.
Introdução
Os agravos à saúde constituem um dos principais
problemas que acometem os trabalhadores de
instituições hospitalares em geral e os de
enfer magem em particular, ocasionando o
afastamento de suas atividades e elevando o índice
de absenteísmo nas instituições, com repercussões
na qualidade de vida do trabalhador, na
organização dos serviços e no atendimento ao
usuário.
Agravo à saúde do trabalhador é o que danifica,
estraga ou causa prejuízo à saúde; desencadeado,
agravado pelo trabalho ou com ele relacionado1.
A saúde, por outro lado é um completo estado de
bem-estar físico, mental e social, e não meramente
ausência de doença, segundo definição da
Organização Mundial de Saúde (OMS), adotada
em sua Constituição de 1948 2. Saúde também
pode ser entendida, conforme Rey, citado por
Mendes1.
[...] uma condição em que um indivíduo ou
grupo de indivíduos é capaz de realizar suas
aspirações, satisfazer suas necessidades e mudar
ou enfrentar o ambiente. [...] Pela capacidade
de desempenhar pessoalmente funções
familiares, profissionais e sociais; pela
habilidade para tratar com tensões físicas,
biológica, psicológicas ou sociais; com um
sentimento de bem-estar e livre de risco de
doença ou morte extemporânea. É um estado
de equilíbrio entre os seres humanos e o meio
físico, biológico e social, compatível com plena
atividade funcional.
O trabalho hospitalar é considerado insalubre,
por agrupar indivíduos portadores de diversas
enfermidades, muitas vezes infectocontagiosas, e
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Comun Ciênc Saúde. 2006;17(3):207-215
realizar muitos procedimentos que podem oferecer
riscos e danos para os trabalhadores da área da
saúde.3
Os profissionais de saúde, particularmente, os
trabalhadores de enfermagem, no desempenho de
suas atividades diárias, convivem com condições
de trabalho muitas vezes inadequadas, longas
jornadas de trabalho, exposição a agentes
potencialmente perigosos (quimioterápicos,
antibióticos, desinfetantes, esterilizantes, gases
anestésicos, sangue e secreções), riscos ergonômicos
(movimentação e transporte de pacientes e cargas,
inadequação da área física e dos instrumentos para
o desenvolvimento das atividades, movimentos
repetitivos, posturas estereotipadas), riscos
psíquicos (tensão, estresse, violência, sofrimento e
morte dos pacientes), sobreposição de atividades
(múltiplas tarefas, organização ineficaz do trabalho),
além dos fatores externos ao trabalho. Esses fatores
podem redundar em prejuízos para a saúde do
trabalhador, afetando tanto as dimensões físicas
quanto as cognitivas, emocionais e sociais4.
Associado a esses fatores destaca-se o trabalho em
sistema de turnos. Ao analisar a qualidade do sono
entre trabalhadores de enfermagem, observou-se
que episódios de sono diurno após as noites de
trabalho são ruins quando comparados ao sono
noturno.
Sob esta ótica pode-se dizer que os trabalhadores
de enfermagem, especificamente aqueles que
atuam no ambiente hospitalar, em função da
natureza do trabalho e do contexto da sua
realização, estão potencialmente expostos a
situações que podem redundar em agravos à sua
saúde.
Causas de afastamento de trabalhadores de enfermagem
Cabe destacar que a enfermagem é uma profissão
que tem um compromisso ético, social e de
responsabilidade humanista com o usuário, visando
promover e cuidar da saúde. O objeto do seu
trabalho é o cuidado com as pessoas, papel este
que em várias culturas é destinado à mulher. Assim,
a enfermagem, ainda nos dias atuais, permanece
como profissão essencialmente feminina e o
percentual de homens que buscam essa opção
profissional ainda é reduzido.5 Essa característica
profissional deve ser considerada ao analisarem-se
as situações de trabalho.
As condições de trabalho representam a interação
e o inter-relacionamento das circunstâncias material,
psíquica, biológica e social, que por sua vez são
influenciadas pelos fatores econômico, técnico e
organizacional do trabalho, que determinam a
qualidade da atividade laboral6. A qualidade de vida
do trabalhador está associada à compensação
adequada e justa, condições de segurança e saúde
no trabalho, oportunidade imediata para a
utilização e desenvolvimento da capacidade
humana, oportunidade para crescimento contínuo,
integração social na organização, privacidade e
liberdade de expressão7.
Em toda atividade laboral é importante promover
condições para garantir saúde física e mental dos
trabalhadores, porém, este aspecto é muitas vezes
colocado em segundo plano. Na maioria das
instituições de saúde, a preocupação com aspectos
ergonômicos é pouco observada (planta física
inadequada, equipamentos reduzidos ou obsoletos,
falta de material de consumo, mobiliários
inadequados ao desenvolvimento do trabalho, entre
outros), dificultando a atuação dos trabalhadores
em geral e de enfermagem em particular, trazendo
vários agravos à saúde e insatisfação no trabalho.
Na atualidade, tem-se grande preocupação em
melhorar o nível de qualificação e satisfação dos
trabalhadores de enfermagem, para que se sintam
mais preparados e motivados para o trabalho que
realizam e assim, possibilitar o acompanhamento
das rápidas transformações e das novas exigências
do mundo do trabalho8.
A qualidade de vida do trabalhador está
diretamente associada à organização do serviço,
ao efeito final de seu trabalho e à sociedade. O
trabalhador insatisfeito tende a sofrer todo tipo de
problema que pode agravar a saúde. 9
Considerando esse cenário e as suas repercussões
na qualidade de vida do trabalhador e no
atendimento aos usuários, pode-se questionar se
esses agravos são peculiares à natureza do trabalho
ou se os trabalhadores e instituições ainda não se
conscientizaram da real magnitude do problema.
Desta forma, entende-se serem necessários estudos
que aprofundem a análise desse problema e que
venham contribuir para a qualidade de vida e o
processo de trabalho.
Nesta perspectiva, o presente estudo tem como
objetivo conhecer as causas mais freqüentes de
afastamento dos trabalhadores de enfermagem em
um contexto hospitalar, visando uma maior
compreensão do evento, a fim de propor medidas
para a melhoria da qualidade de vida no trabalho.
Método
Trata-se de um estudo do tipo exploratório e
descritivo, desenvolvido no Hospital Regional da
Asa Norte (HRAN), pertencente à rede pública de
saúde do Distrito Federal - Brasil, integrante do
Sistema Único de Saúde (SUS), destinado ao
atendimento de diversas especialidades.
Foi realizado levantamento dos afastamentos por
motivo de saúde dos trabalhadores de enfermagem
referentes ao período de 1º de janeiro a 31 de
dezembro de 2004, no Núcleo de Segurança,
Higiene e Medicina do Trabalho do hospital, campo
de estudo. Os dados coletados foram registrados
em um formulário contendo: nome, matrícula,
sexo, lotação, função, Classificação Internacional de
Doenças – Décima Revisão (CID-10)10, período e
dias de afastamento. Afastamento, neste contexto,
entendido como licenças médicas concedidas aos
trabalhadores de enfermagem para tratamento e/
ou restabelecimento da saúde. As licenças para
tratamento de saúde estão citadas na Seção IV, da
lei nº 8.112 de 11 de dezembro de 1990, que institui
o Regime Jurídico dos Servidores Públicos.
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Torres EO, Pinho DLM
O processamento e análise dos dados foram feitos
utilizando-se o software Epi-info versão 3.3.2,
sendo depois compilados no programa Microsoft
Excel. Na verificação das medidas de associação
dos afastamentos por setor, sexo e categoria dos
trabalhadores, foram aplicados o odds ratio (OR)
com intervalo de confiança de 95% (IC 95%) e o
teste estatístico Qui-quadrado ( ÷²), sendo
considerado estatisticamente significativos os
resultados com valor de p< 0,0511.
O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê
de Ética em Pesquisa da Secretaria de Estado da
Saúde do Distrito Federal (Parecer nº 020/2005).
Resultados e discussão
No ano de 2004, observou-se a ocorrência de 698
afastamentos por problemas de saúde entre 350
trabalhadores de enfermagem, sendo que destes,
45 eram enfermeiros (12,9%) e 305 auxiliares de
enfermagem (87,1%). Quanto ao sexo, 77,7% eram
do sexo feminino, comprovando o perfil destes
trabalhadores já apresentado na literatura12.
Tomando como base essa distribuição, verifica-se
que o sexo feminino possui 2,3 (1,3 - 3,5) mais
chances de sair de licença médica do que o sexo
masculino, acompanhando alguns estudos, os quais
destacam que é comum a sobrecarga de trabalho
das mulheres, muitas vezes, em função das
atividades domésticas e do duplo emprego12.
Avaliando o odds ratio entre as categorias,
enfermeiro e auxiliares de enfermagem, verificou-
se que os auxiliares possuem 2,22 (1,39 - 3,53) mais
chances de saírem de licença médica. As diferenças
encontradas entre sexo e categorias profissionais
foram estatisticamente significativas (p<0,05).
A comparação dos setores quanto às licenças
médicas dos trabalhadores de enfermagem são
apresentados na Tabela 1. Verifica-se que em
setores como Ambulatório, Centro Cirúrgico,
Clínica Médica e Pronto Socorro, há uma forte
associação em trabalhar nestes locais e as chances
de afastamentos do trabalho em relação a unidades
como Berçário, Ginecologia, Pediatria, Maternidade
e Queimados. As diferenças analisadas pelo quiquadrado foram estatisticamente significativas.
Os setores que apresentaram os mais elevados
coeficientes de licença médica, no período
estudado, foram: Ambulatório, Clínica Médica,
Centro Cirúrgico, Pronto Socorro e UTI (Tabela2).
Essas diferenças podem ser explicadas pelas
características do trabalho nessas unidades, onde o
ambiente é tenso com o manejo de situações
intensas e penosas, podendo contribuir com os
transtornos de ordem física, química e psicológica,
aumentando os riscos de agravos à saúde e
12,13
afastamento do trabalho , especialmente em
setores como Centro Cirúrgico, Clínica Médica e
Pronto Socorro. Em contrapartida, a Maternidade
é apontada na literatura como um espaço que tem
como objetivo apoiar a fisiologia humana, a trazer
bebês ao mundo. Desta forma, é considerada
como um local de trabalho paradisíaco quando
13
comparado aos outros setores do hospital .
Tabela 1
Distribuição dos afastamentos dos trabalhadores de enfermagem segundo a chance de licenças médicas por setor de
trabalho, Hospital Regional da Asa Norte, Brasília, 2004.
Setores
Ambulatório x Berçário
Ambulatório x Ginecologia
Ambulatório x Pediatria
Centro Cirúrgico x Berçário
Centro Cirúrgico x Ginecologia
Clínica Médica x Pediatria
Ambulatório x Maternidade
Centro Cirúrgico x Pediatria
Pronto Socorro x Berçário
Pronto Socorro x Ginecologia
Ambulatório x Clínica Médica
Ambulatório x Queimados
OR
17,27
17,27
11,92
10,63
10,63
9,40
8,79
7,34
6,49
6,49
5,79
5,72
(IC 95%)
(4,48
(4,86
(3,58
(3,28
(3,58
(2,99
(2,40
(2,65
(2,39
(2,64
(1,70
(1,66
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
71,92)
65,76)
42,37)
36,03)
32,72)
30,99)
32,91)
20,90)
18,05)
16,24)
20,86)
20,82)
P- valor
0,0000040
0,0000050
0,0000014
0,0000033
0,0000060
0,0000068
0,0000639
0,0000105
0,0000216
0,0000330
0,0011284
0,0013580
Nota: OR = odds ratio; IC = intervalo de confiança; P- valor = probabilidade de significância; ÷ ² = qui-quadrado
210
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÷²
25,60
28,75
23,30
21,63
24,82
20,25
15,98
19,42
18,4
21,64
10,60
10,26
Causas de afastamento de trabalhadores de enfermagem
Tabela 2
Taxa de afastamento dos trabalhadores de enfermagem segundo os setores de lotação, Hospital Regional da Asa Norte,
Brasília, 2004
Setores
N*
N° de
N° de
Coeficiente de
Média de
Média de licença/
trabalhadores
licenças
licença/setor
licença/
trabalhador
licenciados
médicas
(%)†
trabalhador‡
licenciado§
Pronto Socorro
87
64
130
73,6
1,5
2,0
Centro Obstétrico
52
31
56
59,6
1,1
1,8
Centro Cirúrgico
49
41
92
83,7
1.9
2,2
Pediatria
47
18
47
38,3
1,0
2,6
Ambulatório
42
37
91
88,1
2,2
2,5
Clínica Médica
41
35
54
85,4
1,3
1,5
Clínica Cirúrgica
41
23
43
56,1
1,0
1,9
Ginecologia
40
12
23
30,0
0,6
1,9
Queimados
39
22
35
56,4
0,9
1,6
UTI
37
25
46
67,6
1,2
1,8
Maternidade
35
16
30
45,7
0,9
1,9
Berçário
28
09
20
32,1
0,7
2,2
Cirurgia Plástica
27
17
31
63,0
1,1
1,8
Total
565
350
698
-
1,2
2,0
* n° de trabalhadores de enfermagem
† n° de pessoas que se afastaram por licença médica do setor x 100/ nº de trabalhadores de enfermagem do setor
‡ n° de licenças médicas/nº de trabalhadores de enfermagem do setor
§ n° de licenças médicas/nº de trabalhadores de enfermagem do setor que se afastaram por licença médica no período
avaliado
Quando analisada a média de licença médica por
trabalhador, de cada setor do hospital verificouse que o Ambulatório também mantém um alto
índice, seguido do Centro Cirúrgico, Pronto
Socorro, Clinica Médica e Unidade de Tratamento
Intensivo (UTI). Entretanto, ao analisar a média de
licença por trabalhador licenciado, verificou-se que
a Pediatria está em primeiro lugar, seguida do
Ambulatório, Berçário, Centro Cirúrgico e Pronto
Socorro.
Ao analisar-se a distribuição mensal dos
afastamentos verifica-se que o mês de agosto foi o
que apresentou a maior proporção de
afastamentos, 11,5%, seguido pelos meses de maio
com 10,2%, de abril e novembro com 9,7% cada
e de outubro 9,6% (Figura 1). Ao comparar-se a
distribuição dos afastamentos, no período avaliado,
observou-se que o mês de janeiro foi o que
apresentou o menor percentual (3,4%), seguido de
um aumento progressivo nos quatro meses
subseqüentes e uma nova queda nos meses de junho,
setembro e dezembro.
Pode-se inferir que a queda, especialmente nos
meses de janeiro e dezembro, esteja relacionada ao
grande quantitativo de trabalhadores em férias. O
mês de agosto corresponde à época de seca,
período este que poderia estar influenciando o
aumento das licenças médicas por problemas
respiratórios.
Quando se analisa o total de licenças médicas (698)
segundo o número de dias (Tabela 3), observa-se
que elas representaram 3.729 dias não trabalhados,
envolvendo 350 profissionais de enfermagem.
Dentre os setores, o Pronto Socorro apresenta o
maior número de dias perdidos de trabalho (643)
com índice geral de 17,2%. Entretanto, se
comparado com seu quantitativo de trabalhadores,
coloca-se em quarto lugar com a média de 7,3 dias
não trabalhados por trabalhador, mesmo
destacando que nesse setor, pela natureza do
trabalho desenvolvido, há uma maior exigência
física e psicológica do trabalhador14.
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Figura 1
Distribuição dos afastamentos de trabalhadores de enfermagem segundo o mês, Hospital Regional da Asa Norte, Brasília,
2004.
O Ambulatório ficou em segundo lugar, com 504
dias não trabalhados e em primeiro, quando
observada sua média de dias não trabalhos por
servidor de enfermagem. Esse setor na instituição
tem como característica ser o local onde são lotados
habitualmente os trabalhadores que possuem
agravos à saúde. Assim, estes afastamentos podem
ser justificados em função de fatores intrínsecos
aos próprios trabalhadores.
O Ambulatório, o Centro Cirúrgico, o Centro
Obstétrico e o Pronto Socorro superaram a média
do hospital de dias não trabalhados por trabalhador
(6,6), enquanto a UTI, Clínica Médica, Pediatria,
Queimados, Clínica Cirúrgica, Maternidade,
Ginecologia e Berçário ficaram abaixo dessa média.
A Cirurgia Plástica se manteve dentro da média
do hospital.
O Ambulatório e o Centro Cirúrgico chamam
atenção pela elevada média de dias não trabalhados
por trabalhador durante aquele ano.
O índice médio de dias não trabalhados por licença
médica foi de 5,3 dias no geral. Setores como o
Centro Obstétrico, Ambulatório, Pediatria,
Queimados, Cirurgia Plástica e Ginecologia
superaram essa média. Por outro lado, há setores
em que o índice de dias não trabalhados é menor
que a média geral, como o Pronto Socorro, Centro
Cirúrgico, Clínica Médica, UTI, Clinica Cirúrgica,
Maternidade e Berçário.
Tabela 3
Distribuição dos dias de afastamento nos diversos setores, Hospital Regional da Asa Norte, Brasília, 2004.
Setores
Dias não trabalhados
Médias de dias não trabalhados
Por trabalhador*
Pronto Socorro
643
7,4
Ambulatório
504
12,0
Centro cirúrgico
480
9,8
Centro obstétrico
415
8,0
Pediatria
274
5,8
Clinica médica
244
6,0
UTI
240
6,5
Queimados
204
5,2
Clínica cirúrgica
180
4,4
Cirurgia plástica
179
6,6
Maternidade
153
4,4
Ginecologia
125
3,1
Berçário
88
3,1
Total
3.729
6,6
* total de dias não trabalhados do setor/ nº de trabalhadores de enfermagem do setor
† total de dias não trabalhados do setor/ nº de licenças de trabalhadores de enfermagem do setor
212
Comun Ciênc Saúde. 2006;17(3):207-215
Por licença†
4,9
5,5
5,2
7,4
5,8
4,5
5,2
5,8
4,2
5,8
5,1
5,4
4,4
5,3
Causas de afastamento de trabalhadores de enfermagem
Ao analisar-se as causas dos afastamentos, dos 350
trabalhadores de enfermagem, durante o ano de
2004, apresentados na Tabela 4, observou-se que
no grupo das doenças relacionadas ao aparelho
respiratório estão as causas mais freqüentes de
afastamento do trabalho. Entretanto, ao compararse com a média de dias perdidos de trabalho (481
dias), este grupo assume o terceiro lugar.
A segunda causa de afastamento são os fatores que
influenciam o estado de saúde e o contato com os
serviços de saúde. Ao comparar com o quantitativo
de dias de afastamento, essa causa corresponde a
918 dias perdidos de trabalho (24,6%), ou seja, ele
assume a primeira posição no conjunto das causas
de afastamento. Destacaram-se nesse grupo de
causas, os afastamentos por convalescença após
cirurgias (92%).
As doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo ocupam a terceira colocação, com
destaque para dorsalgia com 43 licenças (41,7%)
que representam 280 (46,6%) dias não trabalhados.
As outras causas como, artropatias, doenças do
tecido conjuntivo e tecidos moles, osteopatias e
condropatias representam no conjunto 321 dias de
afastamentos (53,4% do grupo do sistema
osteomuscular). Os fatores que influenciam este
grupo de causas podem estar relacionados à
natureza do trabalho de enfermagem, que envolve
sobrecargas físicas com dispêndio de força
muscular, manipulação e transporte de objetos,
sucessivos deslocamentos, que podem
comprometer o sistema osteo-muscular 13 .
Tabela 4
Causas versus números e dias de afastamento dos trabalhadores de enfermagem, Hospital Regional da Asa Norte,
Brasília, 2004.
Afastamentos
CAUSAS (CID – 10)
n
Dias de afastamento
n
%
Aparelho Respiratório
123
17,6
%
481
12,9
Fatores que influenciam o estado de saúde
108
15,5
918
24,6
103
14,7
601
16,1
64
9,2
473
12,7
Aparelho Digestivo
46
6,6
144
3,9
Infecciosas e Parasitárias
39
5,6
81
2,2
e o contato com os serviços de saúde
Sistema Osteomuscular e do Tecido Conjuntivo
Lesões, Envenenamento e algumas outras
conseqüências de causa externa
Olho e anexos
36
5,1
177
4,8
Transtornos Mentais e Comportamentais
32
4,6
228
6,1
Aparelho Geniturinário
31
4,4
121
3,2
Aparelho Circulatório
23
3,3
124
3,3
Ouvido e da Apófise Mastóide
21
3,0
86
2,3
Sintomas, sinais e achados anormais de exames
21
3,0
56
1,5
Gravidez, Parto e Puerpério.
15
2,1
106
2,9
Pele e Tecido Subcutâneo
12
1,8
64
1,7
Sangue e Órgãos Hematopoéticos trans-imunitários 11
1,6
31
0,8
Clínicos e Laboratoriais.
Sistema nervoso
9
1,3
24
0,6
Causas externas de morbidade
4
0,6
14
0,4
698
100,0
3.729
100,0
Total
As três primeiras causas juntas somaram 2.000 dias
perdidos de trabalho (53,6%), perfazendo 334
licenças médicas das 698 encontradas.
citado por Alves15, somente de 20% a 25% são
relacionados à doença que justifica a ausência ao
trabalho.
A maioria das jornadas perdidas são justificadas
por atestados médicos que segundo McEwan
Na atualidade, há estudos que colocam em
evidência os reais motivos dos afastamentos e
Comun Ciênc Saúde. 2006;17(3):207-215
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Torres EO, Pinho DLM
introduzem ainda a observação do
desenvolvimento do trabalho, procurando
compreender a realidade complexa do fenômeno,
que envolve os trabalhadores, as condições e a
organização do trabalho e sobretudo as políticas
da instituição12, 15.
Os afastamentos do trabalho por motivo de saúde
são um problema de grande magnitude que
necessita ser abordado pelas instituições. Este
fenômeno repercute no cotidiano das instituições
hospitalares, afetando tanto os trabalhadores,
quanto os usuários do serviços16.
Considerações finais
Referências
Com base na análise das licenças médicas ocorridas
durante o ano de 2004, verificou-se que os setores
como Ambulatório, Centro Cirúrgico e Clínica
Médica apresentam as maiores chances dos
trabalhadores de enfermagem saírem de licença
médica e que no mês de agosto houve a maior
proporção de afastamentos. Constatou-se também
que o Pronto Socorro e Ambulatório apresentaram
a maior magnitude de dias não trabalhados. Dentre
as causas mais freqüentes desses afastamentos, estão
as doenças do sistema respiratório, os fatores que
influenciam o estado de saúde e o contato com os
serviços de saúde e as doenças do sistema
osteomuscular e o tecido conjuntivo.
1.
Chama atenção o grande quantitativo de dias não
trabalhados por fatores que influenciam o estado
de saúde e o contato com os serviços de saúde e
em especial os afastamentos por convalescença
após cirurgias, que foram de 844 dias não
trabalhados.
Este estudo foi limitado por analisar apenas as
licenças médicas. Há necessidade de maior
aprofundamento no estudo das causas de
afastamento do trabalho associando-as com outras
variáveis relacionadas à situação de trabalho como,
por exemplo, a demanda física e cognitiva, a
exposição a agentes estressores ocupacionais, os
meios disponíveis para a realização da tarefa, a
pressão temporal, entre outras.
A análise ergonômica do trabalho que pode ser
utilizada para compreender as causas de
afastamento do trabalho, considerando que a
ergonomia tem como eixo central a análise das
situações de trabalho, no contexto real, visando a
melhoria da qualidade de vida do trabalhador e
do trabalho.
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Revista CCs vol 17 N 03 ja com correção