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Pontes entre o que se lê
e escreve na escola e fora
dela: conectivos
Maria Sidalina Gouveia Supervisora Pedagógica
de Língua Portuguesa do IQE – Instituto Qualidade no
Ensino
Para você, atento(a) leitor(a), os conectivos
entre aspas, nos dois trechos abaixo,
suscitam algum estranhamento?
1 - A introdução das novas tecnologias da
comunicação em sala de aula, “além de”
suas vantagens e comodidades, traz algumas
preocupações.
2 – A negação das novas tecnologias
da comunicação em sala de aula é uma
irracionalidade, “mas” não podemos apoiá-la.
Você deve ter observado que o problema
nos trechos analisados está no emprego
inadequado dos conectivos, ou seja, houve
uma ruptura na coesão sequencial, que
interferiu
na legibilidade dos trechos. Em 1, a intenção
do locutor é dizer que a introdução das novas
tecnologias da comunicação em sala de aula,
“apesar de” suas vantagens e comodidades,
traz algumas preocupações; em 2, o propósito
é dizer que a negação das novas tecnologias
da comunicação em sala de aula é uma
irracionalidade, “logo/por isso” não podemos
apoiá-la.
Quando ressaltamos a adoção, em sala
de aula, de uma perspectiva funcional do
ensino da língua, temos em mente o ensino
que ultrapassa o enfoque nas regras e que
permite
ao aluno fazer uma ponte entre o que
aprende na escola e o que encontra fora dela,
nos textos.
A coesão sequencial, assunto problematizado
nos dois trechos acima, assegura a
continuidade lógica dos componentes
textuais, operando por meio de acréscimos,
correlações,
uso de conectivos ou pela simples ordenação
linear dos termos.
Os professores de Português podem, durante
a leitura dos textos, propor o reconhecimento
do sentido atribuído, por exemplo, pelo
emprego de conectivos que indicam oposição
em orações denominadas adversativas (com
as conjunções mas, porém, todavia, contudo,
entretanto, no entanto) e concessivas (com as
conjunções embora, apesar de, mesmo que)
e demais conectores como por outro lado, já,
agora — eu gosto de escrever, já você prefere
ler). O importante, sobretudo nas aulas dos
anos iniciais do Fundamental II, não é a
distinção entre os tipos de conectores ou
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e a constatação, por exemplo, de que duas
ideias estão em oposição/contraste.
Ocorrências com outros conectores também
merecem a análise dos discentes: os que
indicam adição em orações denominadas
aditivas (com as conjunções e, nem, tanto...
quanto),
mas também com os conectores, além
disso, ainda, também etc. Os que indicam
alternância, nas orações alternativas (com
as conjunções ou, ou... ou, seja... seja, ora...
ora), mostrando a opção entre duas ou mais
possibilidades ou a alternância entre elas.
Os que indicam causa/razão/motivo e
consequência também merecem a atenção
de alunos e professores: antes de tudo,
é preciso garantir a compreensão dos
discentes de que, em geral, a uma causa
corresponde uma consequência. A expressão
de causa/razão/motivo e de consequência
abrange muitos tipos de orações. As
orações denominadas de explicativas,
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respectivas conjunções/conectores, em
geral, expressam causa/razão/motivo; já as
orações denominadas de conclusivas e de
consecutivas,
com suas respectivas conjunções/
conectores, em geral, expressam
consequência. Nesse caso, é importante, nos
anos iniciais do Fundamental II, que os alunos
percebam a inter-relação
entre causa e consequência.
Irandé Antunes, em seu livro “Aula de
Português”, fala-nos dos tipos de ensino
de Língua Portuguesa: o que se limita à
memorização de um conjunto de regras,
sem vínculo com a língua em uso e o que se
pauta na linguagem enquanto interação entre
os sujeitos e, portanto, ligada a situações
comunicativas reais. O problema do uso do
primeiro tipo — que
ainda atrai professores de Língua Portuguesa
— é que minimiza as múltiplas possibilidades
de sentido presentes nos discursos.
Compartilhamos com a autora da ideia de
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mais discursiva da língua tendem a ser mais
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do que as restritas a uma sintaxe fora de
contexto.
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que as rupturas na coesão sequencial
interferem na legibilidade, por isso devem, a
todo custo, ser evitadas.
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