HOSPITAL DA CRIANÇA CONCEIÇÃO GERÊNCIA DE INTERNAÇÃO GERENCIAMENTO DE RISCO CIRURGIA SEGURA PROTOCOLO DE ALERGIA AO LÁTEX PACIENTE PEDIÁTRICO Christa Schmiedt – Enfermeira Clarissa de Leon Soares - Enfermeira Clóvis Câmara Zimmer – Médico Anestesista Elizabeth de Venuto - Nutricionista Lisiane Fraga – Enfermeira Marcia Martins Marquesan – Médica Pediatra Raquel Pelegrino da Silva - Enfermeira Regina Watanabe Di Gesu – Médica Alergista e Imunologista ______________________________________________________________ Protocolo de Atendimento ao Paciente com Alergia ao Látex CID – 10: L 50 9 – Urticária não especificada T 78 2 – Choque anafilático não especificado INTRODUÇÃO A Alergia ao Látex ocorre por resposta imunológica em pacientes previamente sensibilizados às proteínas da Hevea brasiliensis, seiva extraída da seringueira. Em geral cursam com manifestações clínicas leves como prurido localizado e urticária até reações sistêmicas graves (anafilaxia), potencialmente fatais. Grande parte do material utilizado a nível hospitalar pode conter látex em sua composição, sendo as luvas a principal fonte de exposição e sensibilização. O talco lubrificante aumenta o potencial de sensibilização às partículas do látex pelo contato direto com a pele assim como por inalação. Os aerossóis das luvas lubrificadas com talco alcançam as mucosas dos olhos, nariz, traqueia, orofaringe e vias aéreas inferiores onde são absorvidas. O mesmo ocorre no trato urinário no caso de exposição aos cateteres de látex assim como no contato com peritônio e meninges. A exposição continuada aumenta a probabilidade de o indivíduo desenvolver e manifestar doença alérgica. Magnitude: O aumento da prevalência e gravidade das manifestações clínicas relacionadas à Alergia ao Látex foi observado na década de 1980, quando a doença passou a representar um problema de saúde pública, especialmente em grupos específicos denominados “Grupo de Risco”. Pacientes classificados como pertencentes ao Grupo de Risco apresentam: 1. História de anafilaxia ou teste positivo para látex; 2. Reações sistêmicas ao contato com produtos contendo látex; 3. Pacientes com cirurgias múltiplas por anomalias congênitas (meningomielocele, espinha bífida, cirurgia urológica ou gastrointestinal reconstrutiva associado à 1,2 cateterização frequente) (CR 1) ; 3 4. Profissionais de saúde ou trabalhadores com manuseio frequente com látex ; 5. Pacientes com alergia alimentar IgE mediada por alimentos vegetais ( banana, 4 abacate, kiwi, mandioca, castanhas etc) ; 6. História de reação alérgica durante procedimento cirúrgico prévio, sem 5 diagnóstico etiológico, especialmente em crianças . ____________________________________________________________ Estima-se que a prevalência de sensibilização ao látex entre os profissionais de saúde oscile 3,6 entre 3 a 17% , sendo mais elevadas nas unidades hospitalares como blocos cirúrgicos, unidades de cuidados intensivos, endoscopias e laboratórios, atribuídos ao maior contato com as luvas de látex. A prevalência de sensibilização ao látex na população geral é estimada em menos de 1% porém, muito mais elevada nos denominados “Grupos de Risco”, representados 6,7. principalmente pelas crianças portadoras de espinha bífida (18 a 73%) Transcendência: No início da década de 1990, vários relatos de casos descreviam crianças portadoras de espinha bífida apresentando maior frequência de alergia ao látex com características comuns como múltiplos procedimentos cirúrgicos, exposições frequentes aos materiais médicos com látex e atopia (capacidade de produzir anticorpo IgE para proteínas estranhas, no caso para o látex). Vários relatos de anafilaxia durante esses procedimentos, incluindo reações anafiláticas antes do início das cirurgias e relacionadas à inalação de partículas do látex presentes no ambiente foram descritas. Trabalhos do início de 1990, antes da utilização das medidas de prevenção ao látex nas salas cirúrgicas, relatam taxas alarmantes de reações alérgicas ao látex nos pacientes portadores de espinha bífida representando 500 vezes mais 8 anafilaxia do que o usual nas cirurgias em geral . Vulnerabilidade: A implantação de protocolo clínico para portadores de alergia ao látex com estratégias de prevenção primária reduz reações alérgicas potencialmente graves como a anafilaxia nos 1, 9, 10 pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos, diagnósticos e odontológicos . Medidas preventivas incluindo a identificação precoce dos grupos de risco e realização de cirurgias isenta de látex nas crianças portadoras de espinha bífida desde o nascimento tem 2, 11 sido relacionada à diminuição de sensibilização . Estudo de Allmers e cols. descreve importante redução na incidência dos casos de reações alérgicas ao látex entre os profissionais de saúde, após proibição do uso de luvas com 12. talco a partir de 1998 na Alemanha Manifestações clínicas: Dermatite de contato ou de hipersensibilidade tardia (reação tipo IV). Reação alérgica ao látex mediada por IgE: urticária ( manifestação precoce mais frequente), sintomas respiratórios (congestão nasal, rinorreia, tosse, asma), oculares (congestão), GI (náuseas, vômitos, diarreia, cólicas), palpitação, hipotensão, colapso cardiovascular, anafilaxia. _____________________________________________________________ Diagnóstico: O diagnóstico de alergia ao látex é baseado em suspeita e história clínica minuciosa complementados por exames para pesquisa e confirmação de sensibilização através dos testes alérgicos de puntura ou pesquisa de IgE específica. Tratamento: O tratamento da Alergia ao Látex consiste em identificar precocemente os sintomas, 11 eliminar exposição às partículas de látex e em medidas de prevenção que devem ser 4, 5, 6, 7, 8, 13, 14, 15,16, 17, 18 recomendadas aos pacientes do grupo de risco . A implantação do protocolo clínico para portadores de alergia ao látex segue orientações dos vários consensos publicados que citam o látex como a causa mais frequente de anafilaxia durante procedimento cirúrgico entre as crianças ao contrário dos adultos, onde 5 os responsáveis maiores são os bloqueadores neuromusculares . (CR1) O objetivo da implantação do protocolo para portadores de alergia ao látex, no Hospital da Criança Conceição, visa estimular a identificação precoce, propiciando manejo adequado e como consequência, diminuir reações potencialmente graves como a anafilaxia nos pacientes de risco atendidos nos diversos setores do Hospital. Estratégia de busca: A busca foi realizada no MEDLINE e na Biblioteca Cochrane. Na base de dados MEDLINE foram utilizados os termos: "latex hypersensitivity"[MeSH Terms] OR ("latex"[All Fields] AND "hypersensitivity"[All Fields]) OR "latex hypersensitivity"[All Fields] OR ("latex"[All Fields] AND "allergy"[All Fields]) OR "latex allergy"[All Fields]. Na Biblioteca Cochrane nenhuma revisão sistemática completa foi encontrada abordando alergia ao látex e medidas de controle de exposição quando se utilizou os termos (latex and allergy). Medidas para aplicação do protocolo: Após diagnóstico, os pacientes alérgicos ao látex ou pertencentes ao grupo de risco atendidos no HCC serão registrados seguindo check list sobre alergias e identificados com pulseira vermelha de alerta (ALERGIA AO LÁTEX), etiquetas adesivas padronizadas no prontuário e no leito - POP. Resultados esperados: Promover a identificação dos pacientes pertencentes aos grupos de risco ou alérgicos ao látex, envolver pacientes e cuidadores diminuindo riscos de reações alérgicas potencialmente graves. _____________________________________________________________ Níveis de evidência: Os níveis de evidência descritos neste recomendações propostas pelo sistema GRADE: protocolo seguem as classes de CR1 Evidência forte (é improvável que pesquisas futuras venham afetar a confiança na estimativa de risco ou efeito): - coerência entre as meta-análises - pelo menos um estudo avançado em que os resultados não contradizem outro estudo avançado ou de nível inferior - pelo menos dois estudos de nível inferior onde não exista contradição e demonstre risco relativo >2 ou < 0,5 em todos os estudos CR2 Evidência moderada (existe possibilidade de pesquisas futuras modificarem os efeitos e riscos esperados ou afetarem a confiança com o qual são previstos): - dois ou mais estudos de nível baixo não conflitante com risco relativo >2 ou <0,5 em todos ou todos menos um. CR3 Evidência fraca CR4 Evidência muito fraca __________________________________________________________ Bibliografia: 1 - Yeh WSC, Kiohara PR, Soares ISC, Carmona MJC, Galvão CES. Prevalência de sinais de sensibilidade ao Látex em Pacientes com Mielomeningocele Submetidos a Múltiplos Procedimentos Cirúrgicos. Ver Bras Anestesiol, 2012:62:156-62. 2 - Nieto A, Mázon A, Pamies R. Efficacy of latex avoidance for primary prevention of latex sensitization in children with spina bifida. J Pediatr 2002:140(3): 370-2. 3 - Yassin MS, Lierl MB, Fischer TJ, et al. Latex allergy in hospital employees. Ann Allergy 1994; 72(3): 245-9. 4 - Gaspar A, Pires G. Alergia ao Latex: sensibilização sem clínica e reatividade cruzada – que implicações? Rev Port Imunoalergol 2002; 10(3/4): 159-62. 5 - PM MMertes, et al. Reducing the risk of anaphylaxis during anesthesia: 2011 Update Guidelines for Clinical Practice. J Investig Allergol Clin Immunol 2011; vol. 21(6): 442-453. 6 - Gaspar A., Faria E. Alergia ao látex. Tratado de Alergia e Imunologia Clínica, Solé D, Bernd LAG e Rosário Filho, NA, São Paulo, Editora Atheneu, 2011. 7 - Bueno de SA, Mallozi MC, Solé D. Alergia ao látex: atualização. Imunopatol, 2010; 33:173-183. Rev Bras Alerg 8 - Kelly KJ. Latex Allergy. Pediatric Allergy: principles and practice – second edition, Leung D, Sampson HA, Geha R and Szefler SJ, Elsevier Inc., 2010. 9 - Revista Brasileira de Anestesiologia. Alergia ao Látex. Vol.53, n º 1, janeiro-fevereiro, 2003. 10 – Simons FE, Ardusso LR, Biló MB, El-Gamal YM, Ledford DK, Ring J, et al. World Allergy Organization anaphylaxis guidelines: summary. J Allergy Clin Immunol 2011; 127:587-93. 11 - Patriarca et al. Sublingual Desensitization: A New Approach to Latex Allergy Problem. Anesth Analg 2002; 95:956 –60. 12 - Allmers H, Schmenggler J, John SM. Decreasing incidence of occupational contact urticaria caused by natural rubber latex allergy in German health workers. 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