O PAI “GRÁVIDO”…
A gravidez é uma situação que envolve não apenas a mulher mas também o seu
companheiro e o meio social. Em relação à gravidez e ao nascimento, embora ambos sejam
estados e eventos fisiológicos da mulher, a maior parte dos homens sentem-se profundamente
envolvidos com o nascimento dos seus filhos. Em muitas culturas, este envolvimento emocional
é reconhecido através de uma série de rituais realizados pelo homem durante a gravidez, parto e
período pós - parto.
Hoje, este “novo” pai participa na gravidez da mulher, vai às consultas e à preparação para
o parto, ajuda a escolher o enxoval, assiste às ecografias e ao nascimento do filho. A gravidez é
por vezes uma prova para o futuro pai, quando tem de suportar uma companheira referida como
algo “…algumas vezes, transtornada, enjoada e mal-humorada”.
Aos olhos de alguns autores uma das principais missões do futuro pai durante a gravidez é
prestar cuidados à mulher, trazer-lhe chocolates, ajudá-la (ainda mais) no trabalho doméstico,
oferecer-lhe flores, ceder aos seus pequenos caprichos, sendo esta fase sentida pela mulher como
um retomar do namoro. Durante a gravidez, a participação do pai pode ir mais além do que um
mero suporte de necessidades e satisfação dos seus caprichos. Embora, o apoio do pai, não possa
ser dado de forma direta à criança, devido à inexistência de canais biológicos entre os dois, o
apoio dado à mãe é uma forma indireta de “tocar” no seu filho.
O Pai preparado…para participar no Parto
A presença do pai na sala de partos é de grande utilidade pois permite estreitar os laços
mais íntimos, consolidando a união familiar e proporcionando bem-estar à grávida. Apesar dos
enormes avanços que têm ocorrido, no sentido de aproximar os pais de uma maior vivência da
gravidez e parto, são ainda muito fortes as forças e os fatores que historicamente os têm
excluído. Na nossa prática, temos constatado que estes fatores podem ser modificados por meio
de programas, como a preparação para a parentalidade, na qual promovemos a participação do
pai na gravidez e no parto.
Promover o acompanhamento do pai /companheiro no momento do parto, bem como
prepará-lo para esse momento é uma preocupação do Enfermeiro Especialista em Saúde
Materna e Obstétrica, ao longo da gravidez.
Como enfermeiros responsáveis por esta preparação devemos, nas aulas de preparação
para o parto, centrar a nossa atenção no “Casal Grávido” e não apenas na grávida, porque o
companheiro tem um papel muito importante no ajudar a grávida a colocar em prática os
exercícios e as técnicas de relaxamento que se adequam aos diferentes estádios do trabalho de
parto. Esta preparação para participar no nascimento de um filho é muito importante. Pois, tanto
os homens como as mulheres, estão sujeitos a elevados níveis de tensão física e mental e os
exercícios de relaxamento são benéficos para ambos.
Os pais/companheiros que recebem esta preparação, apresentam menor ansiedade
relativamente ao momento do parto, contribuindo para um eficaz controlo emocional e
respiratório da grávida, essencial a esse momento.
O parto é o culminar de muitas tensões e anseios que se acumularam durante nove meses
de gestação. O acompanhamento durante o trabalho de parto sugere-nos a existência de uma
relação de solidariedade, entreajuda e reconforto psicológico, determinante no sistema interativo
da tríade mãe/pai/filho.
O nascimento de um bebé, proporciona ao homem e à mulher, a oportunidade de
conhecerem novos aspetos da sua personalidade e de adquirirem novas responsabilidades. Este
momento assume grande relevo e importância, devido ao efeito que desempenha no
casamento/relação e na família mais próxima, porque reforça os laços familiares de afetos, de
inter ajuda, de partilha e de coesão que une as diferentes gerações. A relevância e o significado
emocional para todos os indivíduos neles envolvidos, assumem também um significado
espiritual.
A vivência deste momento, quando a parturiente está sozinha, torna-o ainda mais doloroso,
sendo prioritário a prevenção desta solidão. Nesta ocasião de intensa vulnerabilidade, encontrarse só durante o parto, apesar de assustador, representa uma ameaça ao auto conceito da mulher.
Ser protegida, é ser valorizada, neste momento em que a mulher sente temor pelo desconhecido e
precisa de ser o centro das atenções. É importante a presença de alguém significativo
(companheiro, mãe, amiga) para a parturiente durante todo o trabalho de parto e nascimento,
para lhe dar o necessário apoio e orientação. Este apoio pode, por vezes, traduzir-se em simples
gestos quer de contacto físico, como massajar as costas e/ou segurar a mão, dialogar com a
mesma ou simplesmente estar presente.
Nasceu…sou Pai…
O momento do parto, não é apenas o final da gravidez, mas é também o início real e físico
da paternidade. Os primeiros minutos e horas depois do parto, são importantes para o
desenvolvimento do papel de mãe e de pai. Porque são capazes de sentir que o filho realmente
lhes pertence e vice-versa.
O momento imediatamente a seguir ao nascimento, é referido como um período único na
vida tríade mãe/pai/filho, sendo essencial para a estruturação de laços vinculativos. A
experiência diz-nos, que o papel do pai durante o parto, parece ser um dos aspetos mais
relevantes entre os fatores que influenciam positivamente o comportamento materno e o
processo de vinculação mãe/filho em particular no contato pele a pele no pós parto. A presença
do pai na sala de partos vai diminuir a ansiedade e o stress sentido pela mulher. As mulheres
acompanhadas durante o trabalho de parto estão mais sossegadas e relaxadas, manifestando mais
prazer no primeiro contato com os seus filhos.
Os Enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstétrica proporcionam e
incentivam um maior contato entre a tríade pai/mãe/filho, logo após o nascimento. Porque é
neste período, segundo GOMES PEDRO, que ocorre uma passagem inequívoca de informação
entre a mãe e o filho na qual o pai deve estar incluído, com o propósito de adquirir, não só o
interesse e o sentimento de pertença em relação ao bebé, mas também a partilha de laços afetivos
que habitualmente unem a díade mãe/filho.
O impacto do nascimento para uma vinculação precoce e duradoura…
No primeiro contato do pai com o seu bebé, ele sente uma atração pelo filho e tem a
perceção de como ele é “perfeito” aumentando o seu sentimento de auto-estima.
O futuro envolvimento do pai com o seu filho é influenciado pelo processo interativo
pai/bebé, que ocorre imediatamente após o nascimento do mesmo. Os pais que participam neste
maravilhoso momento que é o nascimento de um filho, e que têm contato precoce com este,
mostram uma quantidade significativamente maior de comportamentos afetivos, que envolvem o
toque e as brincadeiras com seus bebés.
A presença do pai na sala de partos, influencia potencialmente e positivamente o
comportamento deste, tornando-o fortemente apegado ao bebé. As suas atitudes positivas e de
proximidade em relação à esposa também aumentam, por ter compartilhado de um evento tão
intenso e importante como é assistir ao milagre da vida.
Enf.ª Maria José Silva e Enfª Lígia Lemos Enfermeiras Especialistas em Enfermagem de
Saúde Materna e Obstétrica
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O PAI “GRÁVIDO”… - Ordem dos Enfermeiros