CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
REBECA MARQUES DE MELO
AS INFLUÊNCIAS SOCIAIS DO ESPORTE PARA A JUVENTUDE: REFLEXÕES
ACERCA DA CIDADANIA E DA INCLUSÃO SOCIAL NO CENTRO URBANO DE
CULTURA, ARTE, CIÊNCIA E ESPORTE.
Fortaleza
2014
REBECA MARQUES DE MELO
AS INFLUÊNCIAS SOCIAIS DO ESPORTE PARA A JUVENTUDE: REFLEXÕES
ACERCA DA CIDADANIA E DA INCLUSÃO SOCIAL NO CENTRO URBANO DE
CULTURA, ARTE, CIÊNCIA E ESPORTE.
Monografia
apresentada
ao
curso
de
graduação em Serviço Social da Faculdade
Cearense – FAC, como requisito para
obtenção
do
título
de
bacharelado.
Orientadora: Ms. Priscila Nottingham de
Lima
FORTALEZA
2014
REBECA MARQUES DE MELO
AS INFLUÊNCIAS SOCIAIS DO ESPORTE PARA A JUVENTUDE: REFLEXÕES
ACERCA DA CIDADANIA E DA INCLUSÃO SOCIAL NO CENTRO URBANO DE
CULTURA, ARTE, CIÊNCIA E ESPORTE.
Monografia
como
pré-requisito
para
obtenção do título de Bacharelado em
Serviço Social, outorgado pela Faculdade
Cearense – FAC, tendo sido aprovada pela
banca
examinadora
composta
pelos
professores.
Data
de
Aprovação:___/___/_____
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Ms. Priscila Nottingham de Lima
Faculdade Cearense
_____________________________________________
Ms. Silvana Maria Pereira Cavalcante
Faculdade Cearense
____________________________________________
Ms. Francis Emmanuelle Alves Vasconcelos
Universidade Federal do Ceará
FORTALEZA
2014
À minha família pelo amor e pelo exemplo,
À minha mãe em especial pela dedicação,
A Junior Luz pelo conforto e pela compreensão,
À Priscila Nottingham pela paciência e pelo companheirismo.
AGRADECIMENTOS
Este trabalho só foi possível devido à participação direta e indireta de diversos
sujeitos que colaboraram com sua construção: família, professores e amigos. Só
tenho a agradecer pela força que me foi dada nesse momento tão importante de
minha vida.
À minha família, em especial, minha mãe Roselene Marques, meu exemplo de
mulher, por me fazer acreditar nos meus sonhos e me apoiar em minha escolha
profissional, por me transmitir sua experiência de vida, que me fez ser quem sou
hoje.
Agradeço também à pessoa, que escolhi para passar o resto da vida comigo, Junior
Luz, foi você que me compreendeu por inúmeras vezes, mesmo quando não mais
suportava, viu-me sofrer e comemorar. Teve a imensa paciência de reler comigo os
incansáveis trabalhos realizados, inclusive a monografia, capítulo por capítulo e,
mesmo quando eu não aguentava mais, você estava ao meu lado para me levantar
e dizer que eu era capaz e que concluiria com êxito. Pois bem, aqui estou, contando
a história e fazendo dessas pessoas tão especiais participantes de minha conquista.
Às minhas meninas queridas: à Angélica Monte e todas as suas faces
extraordinárias, à Larissa Sousa e a sua criatividade incessante, à Marcela Ramos e
sua multiplicidade de sentimentos, à Priscila Ribeiro com suas maquiagens e
sentimentos à flor da pele. Todas vocês fizeram parte de inúmeros momentos
maravilhosos dessa longa caminhada, tornamo-nos amigas, confidentes, irmãs.
Aprendemos muito umas com as outras, choramos, sorrimos, brincamos e, hoje,
posso dizer que todos esses momentos foram extremamente importantes para que
eu concluísse minha jornada.
Em especial, agradeço à Mayara Duarte e Samara Leite, juntas formamos um trio
quase perfeito, com direito à foto exclusiva por semestre e muito mais. Pois bem,
estamos juntas desde o primeiro semestre e só tenho a dizer que amo essas
meninas e que elas têm um lugar guardado no meu coração hoje e sempre. Nós nos
entendemos até no olhar, nem sempre, mas na maioria das vezes. E isso, para mim,
é extremamente essencial.
Não posso me esquecer de agradecer às amizades feitas no início dessa jornada,
Marjorie Grazielle e Mayara Castro, vocês fizeram parte da nossa turma por um
período, porém tiveram que alçar voos mais distantes, nossa amizade permanece
até os dias de hoje e é com muito orgulho, que as incluo neste texto. Segundo minha
amiga Mayara Castro, conhecemo-nos durante as leituras do texto “O mito da
caverna” de Platão, e assim podemos citar o seguinte trecho da obra: “Há pois, o
mundo das ideias e o mundo das aparências. Quem não percebe isto, vive como
que numa caverna, onde o conhecimento se faz por meio de sombras...”
Pois bem, acredito que o Serviço social nos fez enxergar além das sombras, o
mundo é cheio de ideias, pensamentos, opiniões e faces. Não somos os mesmos
que éramos antes de iniciar essa graduação, aprendemos muito, e estamos fadados
a posicionamentos críticos e questionadores por toda nossa vida.
Agradeço aos conselhos e ao exemplo de mulher de minha amiga Juaniza Abreu,
que muito contribuiu para a minha formação pessoal e acadêmica, a alegria de
Nádia Maria, que, por vezes, fez-me esquecer de momentos tensos em sala de aula
com suas gargalhadas contagiantes. Agradeço também à Danielle Figueiredo e
todos os momentos de descontração, à Tânia Rocha e sua experiência de vida
implacável.
Aos professores, em específico, agradeço à Priscilla Nottingham, que me orientou
neste trabalho, nunca me esquecerei de sua didática fantástica e de suas aulas
super esclarecedoras, das leituras dinâmicas de Verbena Sandy, das músicas de
Rúbia Martins, dos incessantes risos durante as aulas de Hamilton Teixeira e dos
ensinamentos dos demais que me fizeram conhecer o Serviço Social da melhor
forma.
À Silvana Cavalcante e Emannuelle Alves, as pessoas mais centradas e focadas
que conheço, agradeço por tê-las conhecido e por terem aceitado participar da
minha banca. À professora Jane Meyre, por acompanhar-nos na disciplina de TCC e
fazer-nos sorrir quando queríamos chorar.
Por fim, agradeço a todos e todas, que contribuíram, dizendo que nada será
esquecido, cada rosto, cada palavra, cada seminário, cada confraternização, amigosecreto, chás de fralda (tivemos muitos), aniversários, trabalhos em trio de oito
pessoas, enfim, tudo valeu super a pena.
A todos e todas que, direta ou indiretamente, fizeram parte da minha formação, о
mеu muito obrigado.
O nosso maior medo não é
sermos inadequados.
O nosso maior medo é
sermos infinitamente poderosos.
É a nossa própria luz, não a nossa
escuridão, que nos amedronta.
Sermos pequenos
não engrandece o mundo.
Não há nada de transcendente
em sermos pequenos,
pois assim os outros não se
sentirão inseguros ao nosso lado.
Todos estão destinados a brilhar,
como as crianças.
Não apenas alguns de nós,
mas todos.
E, enquanto irradiamos
a nossa admirável luz interior,
inconscientemente estamos a permitir
aos outros fazer o mesmo.
E, quando nos libertarmos
dos nossos próprios medos,
a nossa presença automaticamente
libertará os medos dos outros.
(Trecho do Film Coach Carter - Treinando para a vida, 2005).
RESUMO
Esta pesquisa tem como principal proposta compreender a função social do esporte
como agente de inclusão social e construção da cidadania para os jovens atendidos
pelo Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA). Sendo esta uma
pesquisa de natureza qualitativa. Para tanto, realizou-se pesquisa bibliográfica e de
campo. A entrevista semiestruturada foi utilizada para coletar a percepção dos
jovens e dos profissionais da instituição. A escolha do local se deu devido ao fato do
mesmo propor-se oficialmente em trabalhar o esporte em suas três dimensões
sociais: educacional, participação e rendimento. Assim, durante a pesquisa, o
esporte pôde ser entendido a partir de uma ideia mais ampliada, para além do
estímulo às atividades físicas. O estudo também abordará os possíveis aspectos
negativos decorrentes do esporte moderno. A pesquisadora teve o contentamento de
observar no lócus deste, o modo como os jovens se observam posterior às práticas
esportivas, da mesma maneira que o modo como os profissionais lidam com os
fatores desfavoráveis em seu fazer profissional no CUCA.
Palavras-chave: Esporte. Cidadania. Inclusão social. Juventude.
ABSTRATC
This search has like main proposal to understand the social function of sport, as
agent of social inclusion and construction of citizenship for the young attended by the
Urban Center of Culture, Art, Science and Sport (CUCA). Being this a search of
qualitative nature. For both, was held bibliographic e field search. The semistructured interview was used to collect the perception of the young people and
professionals of the institution. The choice of the place occurred of the fact that the
one was proposed officially to work sport in its three social dimensions (educational,
participation and yield). So, during the search, the sport could be understood from a
broader idea, in addition to the incentive to the physical activities. The study will
approach the possible negative aspects arising of modern sport. The searcher had
the contentment of watch in this locus the way young people see themselves rear the
sportive practices, the same way as professionals deal with unfavorable factor in
their professional doing in the CUCA.
Keywords: Sport. Citizenship. Social Inclusion. Youth.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CUCA – Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte
EDISCA – Escola de Dança e Integração Social para Criança e Adolescente
CNTA - Centro Nacional de Treinamento de Atletismo
UNIFOR – Universidade de Fortaleza
COB – Comitê Olímpico Brasileiro
CPB – Comitê Paraolímpico Brasileiro
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
SECEL – Secretaria de Esporte e Lazer da Prefeitura de Fortaleza
MH2O – Movimento Hip Hop Organizado do Brasil
FUNCI – Fundação da Criança e da Família Cidadã
ONGs – Organizações Não Governamentais
PROJOVEM – Programa Nacional de Inclusão de Jovens
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11
2 PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO .......................................................... 15
2.1. Lócus da pesquisa: Centro Urbano de Cultura, Ciência e Esporte (CUCA) .... 21
2.2. Sujeitos da pesquisa ....................................................................................... 25
3 ESPORTE: INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOCIAL E CIDADANIA ................. 29
3.1. Categorias da pesquisa ................................................................................... 29
3.2. Esporte: um breve histórico, suas influências e dimensões sociais ................ 38
3.3. Esporte e seus marcos legais ......................................................................... 44
4 PROFISSIONAIS E USUÁRIOS DO CENTRO URBANO DE CULTURA, ARTE,
CIÊNCIA E ESPORTE(CUCA).................................................................................. 51
4.1. Profissionais do Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA) . 51
4.2. Usuários do Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA) ....... 61
4.3. Os aspectos sociais negativos do esporte moderno ....................................... 66
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 78
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 82
APÊNDICES ............................................................................................................. 88
ANEXOS ................................................................................................................... 92
11
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como proposta compreender a função social do esporte
como agente de inclusão social e construção da cidadania para os jovens atendidos
pelo Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA), analisando as
possibilidades de utilização do esporte como instrumento de desenvolvimento social,
trabalho este que pode ser realizado não apenas na instituição em questão neste
estudo, mas também em Organizações Não Governamentais (ONGs), Instituições
de ensino públicas, privadas ou mesmo em clubes desportivos.
O interesse da pesquisadora no tema está em investigar como ocorre a
prática da interação e inclusão social dos jovens, bem como a construção da
cidadania,
em
uma reflexão
sobre
as atividades propostas pela
equipe
multidisciplinar, que trabalha em função da concretização dessas práticas, utilizando
como ferramenta o esporte.
Através deste estudo, a pesquisadora buscou assimilar as interfaces
sociais do fenômeno esportivo, pois já foi participante de projetos sociais, que
utilizavam o esporte como instrumento de transformação social. Sendo esta uma
indagação recorrente deste a época que era apenas aluna.
O profissional de Serviço Social atua nas diversas expressões da questão
social1, buscando sempre viabilizar os direitos dos usuários. Sendo sua atuação
neste campo de grande importância, trabalhando de modo crítico e investigativo,
interagindo com toda equipe multidisciplinar encontrada na área que remete a esta
temática. Segundo Sousa (2005, p.03): “O assistente social pode e deve trabalhar
em um conjunto de áreas: educação, saúde, família, formação em cidadania, e
promoção da cultura e lazer, tudo relacionado com a prática esportiva.”.
A área de atividades esportivas é um tema ainda pouco difundido no
Serviço Social, por isso a pesquisa busca conhecer melhor como se dá a interação
dessas áreas. A contribuição do profissional de Serviço Social poderá acarretar em
diversos benefícios para estes jovens. Segundo Sousa (2005, p.03): “Na prática
profissional do Assistente Social, uma questão a ser mencionada é a preocupação
referente à formação em primeiro lugar, não do atleta, e sim, do cidadão o qual é
detentor de direitos e deveres na sociedade.”.
1
A questão social diz respeito ao conjunto das expressões das desigualdades sociais engendradas
na sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do Estado.
12
Assim, este novo campo de atuação deve ser mais explorado e seus
resultados mais divulgados para que, dessa forma, possam ser aplicados e assim os
jovens possam ter a oportunidade de terem seus direitos garantidos, conforme
aquilo que se exige da atuação profissional, pela Lei de nº 8662/1993, que dispõe
sobre a profissão de Assistente Social e dar outras providências.
Dessa maneira, este estudo pretende mostrar ao leitor a perspectiva
social do esporte, podendo ele ser trabalhado por outras vertentes profissionais e
não somente pela área da Educação Física, englobando os seus mais diversos
aspectos em um trabalho social em comum.
O
primeiro
capítulo
deste
estudo
abordará
o
percurso
teórico-
metodológico da pesquisa. O presente trabalho apresenta de forma qualitativa os
dados coletados a partir da pesquisa bibliográfica, visita exploratória, pesquisa
exploratória e de campo. Ainda, neste capítulo, a pesquisa apresenta o seu lócus,
explorando o cenário escolhido para este trabalho com uma perspectiva investigativa
e crítica. Esse capítulo ainda apresentará os sujeitos em foco para o estudo, bem
como o modo que este é compreendido, perante a legislação e suas conjunturas
sociais, proporcionando ao leitor deste trabalho o contato inicial com os atores
principais desta pesquisa.
O segundo capítulo da presente pesquisa abordará o esporte como
instrumento de inclusão social e cidadania. Ele apresentará uma análise através de
uma leitura das categorias principais em questão, sendo elas: o esporte, a inclusão
social, a cidadania e o jovem. Sempre as relacionando de modo a facilitar a
apreensão do leitor.
Para compreender melhor o significado social do esporte, ainda, no mesmo
capítulo, a pesquisadora apresentará um breve histórico do esporte, expondo os
diversos papeis que ele possui na sociedade, seus aspectos, influências e
dimensões de relevância social.
Dessa maneira, este capítulo demonstrará as concepções do esporte como
direito, e os marcos legais desse fenômeno, percorrendo, inicialmente, a
Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Juventude (2013), as Normas Gerais do
Desporto (2011), as leis de incentivo ao esporte e as que regulamentam seus
recursos, até a Carta Internacional da Educação Física e do Desporto da UNESCO e
a Política Nacional do Esporte.
Tendo em vista a proposta de atividades do Centro Urbano de Cultura,
13
Arte, Ciência e Esporte (CUCA), pode-se destacar suas áreas de atuação que têm
como objeto chave o esporte, não sendo só um instrumento que se reporta ao bemestar e à prática de exercícios, mas também proporciona uma sociabilidade, que é
de fundamental importância para crianças e adolescentes, principalmente para
aqueles de classes menos favorecidas, intervindo diretamente para reverter a
exclusão e a invisibilidade social de certos grupos.
Por fim, o terceiro capítulo deste trabalho apresentará a análise das
entrevistas, a perspectiva dos profissionais e dos usuários da instituição, e, para
finalizar, descreverá os efeitos negativos do esporte moderno, evidenciando não
somente o seu lado social e inclusivo, mas a título de informação e conhecimento, o
presente trabalho elencará fatores contrários à função social do mesmo.
O estudo apresentará, de modo geral, os exemplos de outras instituições
que trabalham o esporte além do viés de rendimento, aplicando mecanismo de
articulação entre as Organizações Não Governamentais (ONGs), das quais se pode
citar o Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA) que será a
instituição a qual a pesquisadora remeterá sua pesquisa, e outras como: a Escola de
Dança e Integração Social para Criança e Adolescente (EDISCA) e o Centro
Nacional de Treinamento de Atletismo da Universidade de Fortaleza (CNTAUNIFOR), que, há algum tempo, possuem trajetória nesta área, promovendo
educação, esporte, cidadania e cultura com perspectivas de inclusão social,
buscando contribuir para o desenvolvimento humano.
Tomando o esporte como exemplo, pode-se observar o fato de ele ir muito
além de competições e ginásios, ele também constrói valores necessários para um
fazer social e humano pouco presente nesta sociedade marcada de desigualdades.
Dessa forma, os objetivos deste estudo foram: compreender a função
social do esporte, naquilo que tange a construção da cidadania e a inclusão social
dos jovens, atendidos pelo Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte
(CUCA), analisando as perspectivas dos profissionais e dos jovens da instituição
supracitada. Por meio deste, identificar a relevância do esporte como agente de
transformação social, explorando-o através dos relatos e das experiências dos
entrevistados.
Compreendendo que além do lado social, o esporte também possui o
seus aspectos negativos e suas consequências desfavoráveis aos “possíveis
beneficiários” do fenômeno esportivo. Em análise das entrevistas e do campo, a
14
pesquisadora teve a oportunidade de perceber todos esses aspectos, cujo leitor
poderá se aprofundar e entender melhor a sua gênese durante a apreciação do
presente
estudo.
15
2 PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO
A natureza deste estudo é realizada em uma perspectiva de cunho
qualitativo, com a tradução de dados disponibilizados ao longo de entrevistas,
procurando analisar o objeto em questão, descrevendo, além da objetividade
material, as subjetividades intrínsecas às relações da conjuntura em questão,
encontradas durante todos os processos da pesquisa. Dessa maneira, conforme
expressa Minayo (2007):
A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se
preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser
quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais
profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser
reduzidos à operacionalização de variáveis. (MINAYO, 2007, pp.21-22)
Tendo em vista que a pesquisa qualitativa responde às particularidades
das questões enfrentadas pela pesquisa social, sendo ela um instrumento que
compreende o objeto estudado, empregando valor às subjetividades e às
peculiaridades do objeto pesquisado. Observando que o propósito da pesquisa é
conhecer o objeto de modo a apresentá-lo de forma clara e sucinta. Dessa maneira,
conforme expressa Minayo (2007):
[…] podemos observar que o ser humano se distingue não só por agir, mas
por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da
realidade vivida e partilhada com seus semelhantes, pois o objeto da
pesquisa qualitativa dificilmente pode ser traduzido em números e indicadores
quantitativos. (MINAYO, 2007, p.23)
Os sujeitos desta pesquisa não poderiam ser melhor analisados em outro
método, visto que quando se pesquisa nas ciências sociais, a interpretação dos
dados do material teórico e dos sujeitos, não seriam tão bem compreendidos se não
fosse permitido considerar suas subjetividades, muitas vezes invisíveis a “olho nu”.
O objeto deve ser explorado de modo que sua análise seja realizada de maneira
aprofundada, conforme expressa Minayo (2007):
[…] compreender e explicar a dinâmica das relações sociais que, por sua vez
são depositárias de crenças, valores, atitudes e hábitos. Trabalham com a
vivência, com a experiência, com a cotidianeidade[sic] e também com a
compreensão das estruturas e instituições como resultados da ação humana
objetivada.Ou seja, desse ponto de vista, a linguagem, as práticas e as coisas
são inseparáveis. (MINAYO, 2007, p.24)
Todo o processo de investigação que viabilizou o resultado desse estudo
qualitativo esteve respaldado pela pesquisa bibliográfica. Iniciada a partir da coleta
16
de dados, como primórdio para conhecermos, satisfatoriamente, o assunto pelo qual
a pesquisadora tem interesse, procurando identificar, particularizar e demarcar
assuntos com a mesma problemática, tendo como origem livros, artigos científicos
ou páginas na internet. Dessa maneira, pode-se familiarizar com os mecanismos em
que buscamos informações, sendo cautelosa para simplesmente não acumular
materiais e sim analisar detalhadamente, conforme expressa Gil (2002):
A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado,
constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase
todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há
pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Boa
parte dos estudos exploratórios pode ser definida como pesquisas
bibliográficas. As pesquisas sobre ideologias, bem como aquelas que se
propõem à análise das diversas posições acerca de um problema, também
costumam ser desenvolvidas quase exclusivamente mediante fontes
bibliográficas. (GIL, 2002, p.44)
Para a construção do acervo bibliográfico, a pesquisadora procurou por
autores que dimensionam o esporte como um agente social, relacionando-o com
outras vertentes como: cidadania e inclusão social, voltadas para seu público-alvo,
que são os jovens. No Serviço Social, são poucos os autores que produzem a
respeito, e os que fazem, geralmente trabalham em alguma instituição, que reporta o
esporte ao lado social, porém institucionalizado.
À vista disso, foi realizada uma pesquisa na área da educação física, que
produz muito a respeito e, assim, foram encontrados alguns autores que foram de
extrema relevância para a construção do trabalho e que deram base para
fundamentar as categorias abordadas no estudo, Manoel Tubino (2011) foi um dos
autores principais, e que proporcionou a aproximação com a área pesquisada, em
específico, este é um dos autores que se refere ao esporte em seus mais variados
âmbitos. A partir das leituras do mesmo, o objeto desta pesquisa foi sendo
aperfeiçoado.
O interesse pela dimensão social do esporte surgiu da leitura do livro de
Tubino (2011), que trata a historicidade do esporte e o modo como surgiu, não só
para satisfazer as finalidades físicas e corporais, mas para plantar ideais de bemestar social pelo Estado. Voltando para o lado da sociologia, encontra-se algo
bastante novo, que é a sociologia do esporte, pautada por Lovisolo (2011), no que
diz respeito ao esporte, esclarecendo a importância de entendê-lo além da
perspectiva biológica, enfatizando seus valores sociais. Ainda falando sobre esporte,
também se traz como base, Barbanti (2011), que descreve o esporte como um fator
17
fundamental para a formação, principalmente da juventude.
Dando continuidade à abordagem dos autores utilizados durante todo o
trabalho, naquilo que tange a inclusão social através do esporte, situei minha
definição em Cunha (2007), que traz o esporte como fator de desenvolvimento
primordial. A referida autora compreende a inclusão como um fator social e não
institucional. Já para discutir cidadania, me apropriei dos conhecimentos de
Saadallah (2006), que trazem a cidadania como uma responsabilidade individual e
coletiva, atuando em parceria com outros fatores, por exemplo: a arte, a cultura, a
educação e o esporte.
Por fim, a juventude foi sistematizada tendo por base Novaes (2008),
autora que define juventude como um ser produzido historicamente em uma
sociedade dinâmica. Defendendo a luta pela efetivação e reconhecimento dos
direitos dos mesmos.
Como instrumento das ciências sociais, a pesquisa social estuda o objeto,
dentro de um processo de construção histórica. Observando as relações de
identidade existentes entre sujeito e objeto, com base em outros estudiosos, Minayo
(2007), apresenta alguns desafios enfrentados quando se resolve pesquisar. Para
Strauss (apud Minayo, 2007): “Numa ciência, onde o observador é da mesma
natureza que o objeto, e o observador é, ele próprio, uma parte de sua observação”
(p. 215).
Portanto, quando se faz parte da situação pesquisada, torna-se um
desafio investigar, porém, para que a pesquisa seja realizada é necessário um
desprendimento das opiniões de cunho pessoal, e fazendo parte do espaço
pesquisado,
é
necessário
que
o
mostre
além
dos
conceitos
formados
antecipadamente. Como parte da juventude e por ter participado de projetos que
tivessem como foco o esporte, sendo por meio dele fomentado a ser participante da
sociedade, como pesquisadora, pode-se dizer que foi observada e observadora.
Conforme expressa Minayo (2007):
[…] nada pode ser intelectualmente um problema se não tiver sido, em
primeiro lugar, um problema da vida prática. As questões da investigação
estão, portanto, relacionadas a interesses e circunstâncias socialmente
condicionadas. São frutos de determinada inserção na vida real, nela
encontrando suas razões e seus objetivos. (MINAYO, 2007, p.16)
Tanto a historicidade do objeto como as particularidades do mesmo ou as
afinidades que o pesquisador possui com o tema, fazem com que a pesquisa se
18
torne mais instigante, pois, de fato, os indivíduos interessam-se bem mais em
pesquisar aquilo que se tem curiosidade; objetos, que prendem a atenção em
leituras fazendo refletir; objetos pelos quais já se teve experiências práticas ou não;
objetos, que se fazem questionar, tornando, a partir desses fatos, a pesquisa
dinâmica e rica. Pois, a pesquisa só se realiza através de um percurso
metodológico, que envolve uma trajetória anterior a ela, bem como, métodos,
técnicas e teorias. Conforme expressa Minayo (2007):
Entendemos por metodologia o caminho do pensamento e a prática exercida
na abordagem da realidade. Ou seja, a metodologia inclui simultaneamente a
teoria da abordagem (o método), os instrumentos de operacionalização do
conhecimento (as técnicas) e a criatividade do pesquisador (sua experiência,
sua capacidade pessoal e sua sensibilidade). (MINAYO, 2007, p.14)
O trabalho de campo teve início com a pesquisa exploratória, que visa
compreender o objeto no seu lócus, tornando-o mais familiar, e aproximando o
objeto da pesquisa à pesquisadora. Levando em consideração a área um pouco
incomum em pesquisas do Serviço Social, essa fase é umas das mais importantes,
pois traz o contato direto com a ideia antes formulada apenas no papel. Desse
modo, podem-se conhecer os sujeitos e o local escolhido para a presente pesquisa,
visando deixar claros os conceitos tanto para a pesquisadora como para os futuros
leitores deste trabalho. Conforme expressa Gil (2002):
Pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar
visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de
pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco
explorado e torna-se [sic] difícil sobre ele formular hipóteses precisas e
operacionalizáveis. (GIL, 2002, p.27)
Em busca de uma investigação mais ampla, o referido estudo teve por
base a visita exploratória realizada no Centro Urbano de Cultura, Ciência e Esporte –
CUCA da Barra do Ceará (Regional I), equipamento este que atende a juventude e
faz parte da rede CUCA, atendendo também no Jangurussu (Regional IV) e no
Mondubim (Regional V). Localizados em territórios estratégicos da grande Fortaleza
e com altos índices de vulnerabilidade social. Cada CUCA atende, por mês, mais de
mil jovens em cursos de formação e esportes, e, aproximadamente, quatro mil
pessoas nas atividades de difusão cultural, abertas ao público de todas as idades.
Isso sem falar das comunidades localizadas no entorno dos CUCAs, que se
beneficiam direta e/ou indiretamente da vivência plena da condição juvenil. 2
Assim como toda investigação se inicia por uma dúvida, a pesquisadora
2
Prefeitura de Fortaleza (2014)
19
teve o interesse de conhecer melhor esta área e compreender o modo de trabalho
dentro da instituição, e, assim, o modo como a mesma utiliza o esporte para
construção da cidadania e inclusão social, conforme expressa Minayo (2007):
Toda investigação se inicia por uma questão, por um problema, por uma
pergunta, por uma dúvida. A resposta a esse movimento do pensamento
geralmente se vincula a conhecimentos anteriores ou demanda a criação de
novos referenciais. (MINAYO, 2007, p.16)
Visando obter respostas daquele cotidiano até então desconhecido pela
pesquisadora, buscou-se adquirir o máximo de informações possíveis anteriormente
à visita de campo para que fosse possível embasar teoricamente essa experiência,
com o objetivo de construir primeiramente o projeto de pesquisa e posteriormente o
Trabalho de Conclusão de Curso. Conforme expressa Gil (2008):
Sugere-se que após essa formulação provisória do problema sejam feitas
leituras e entrevistas exploratórias tanto com especialistas na área quanto
com pessoas que integram a população a que o estudo se refere. (GIL, 2008,
p.37)
Dessa forma, com o intuito de investigar o campo de pesquisa, foi
desenvolvida uma visita exploratória e, através dela, entrevistas com alguns
profissionais da instituição para atingir os objetivos do estudo na expectativa de
analisar, identificar, estudar e observar a relevância do esporte como instrumento de
transformação social para os jovens atendidos pelo Centro, junto ao trabalho da
equipe multidisciplinar do CUCA, estabelecendo paralelos entre as atividades
desenvolvidas no Centro e suas propostas de enfrentamento em relação à exclusão
social de jovens e aos progressos observados na vida dos mesmos.
Em relação à técnica da entrevista, destaca-se que esta técnica pode ter
o caráter exploratório ou apenas o objetivo de coletar dados. Sendo esta de caráter
exploratório, serão permitidas eventuais indagações, desse modo, a pesquisadora
utilizou a técnica contemplando aquilo que de mais relevante havia nos relatos.
Conforme expressa Kaurtak (2010):
A entrevista é uma das técnicas utilizadas na coleta de dados primários. Para
que a entrevista se efetive com sucesso é necessário ter um plano para a
entrevista, de forma que as informações necessárias não deixem de ser
colhidas. As entrevistas podem ter caráter exploratório ou serem de coleta de
informações. Se forem de caráter exploratório, serão permitidas eventuais
indagações ou levantamento de dados e informações que não estejam
contempladas no formulário; as de coleta de informações são altamente
estruturadas, devendo seguir um roteiro previamente estabelecido e darem
conta de respostas-núcleo do objeto de investigação, preferencialmente
elaboradas com itens e questões fechadas, com múltiplas escolhas.
(KAURTAK, 2010, p.64)
20
Haja vista a importância da pesquisa de campo e a natureza interventiva
do Serviço Social, as entrevistas foram ferramentas relevantes para a construção
desta pesquisa, a partir delas pode-se aproximar do objeto e dos sujeitos propostos
por este trabalho. Com base nos conhecimentos adquiridos durante a pesquisa
bibliográfica e exploratória, definiu-se a entrada em campo de acordo com os
ensinamentos de Minayo (2007), conforme expressa trecho a seguir:
O trabalho de campo permite a aproximação do pesquisador da realidade
sobre o qual formulou uma pergunta, mas também estabelece uma interação
com os “atores” que conformam a realidade e assim, constrói um
conhecimento empírico importantíssimo para quem faz pesquisa social.
(MINAYO, 2007, p.61)
O trabalho de campo é indispensável quando se escolhe uma instituição
como base para pesquisa, pois só a partir desse processo investigativo,
considerando as fases bibliográfica e exploratória, a entrada em campo se torna
mais compreensível. Uma pesquisa exploratória bem elaborada, seguida de uma
visita exploratória proveitosa, trazem resultados favoráveis para a pesquisa de
campo. Assim, expressa Minayo (2007).
[…] a riqueza desta etapa vai depender da qualidade da fase exploratória. Ou
seja, depende da clareza da questão colocada, do levantamento bibliográfico
bem feito que permita ao pesquisador partir do conhecimento já existente e
não repetir o nível primário […] dos conceitos bem trabalhados que viabilizem
sua operacionalização no campo e das hipóteses formuladas. (MINAYO,
2007, p.61)
Com a soma de diversos fatores, a pesquisa assumiu forma, e as
escolhas parecem mais claras com o tempo, para isso, é necessário formular a
metodologia, de maneira substancial, às nossas possibilidades. O pesquisador deve
estar pronto para as adversidades, que poderão surgir no caminho, ele deve levar
em consideração sempre as suas possibilidades e os seus limites. Conforme
expressa Minayo (2007):
[…] o pesquisador precisa não ficar preso às surpresas que encontrar e nem
tenso por não obter respostas imediatas a suas indagações. [...] Mas é
possível recomendar que sempre exercitemos um olhar dinâmico e atento
que passe da confrontação da proposta cientificamente formulada para as
descobertas empíricas e vice-versa. (MINAYO, 2007, p.62)
Em fase de análise dos dados coletados, pode-se observar a relevância
de cada aspecto analisado durante a pesquisa na vida dos jovens assistidos pelo
CUCA, através de entrevistas com alguns jovens, que fizeram ou fazem o uso das
práticas esportivas oferecidas pela instituição, bem como, através de entrevistas
voltadas para os profissionais do CUCA, considerando assim os limites e as
21
possibilidades, que obtiveram desde que iniciaram sua participação nestas
atividades. Os jovens selecionados estavam na faixa etária de 15 a 29 anos, que
compreende a faixa etária prevista para juventude conforme o Capítulo I dos
princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude, o parágrafo 1º, do Estatuto
da Juventude.
Para este fim utilizou-se, como instrumental, entrevistas não estruturadas,
que permitem ao entrevistado mais liberdade em uma conversa inicial, bem como,
possibilita ao pesquisador uma série de desdobramentos, pois a entrevista fluirá de
acordo com as respostas dadas. Durante sua realização, novos questionamentos
podem surgir, da mesma maneira que, as indagações iniciais podem parecer pouco
relevantes. Dessa maneira, conforme expressa Gil (2008, p.117): “Nas entrevistas
estruturadas, a formulação das perguntas assume um caráter metódico. Já nas
entrevistas não estruturadas o desenvolvimento das perguntas depende do contexto
da conversação.”.
Considerando-se os meios utilizados e a forma como essa dinâmica da
pesquisa pôde ser aplicada em campo, compreender essas questões dentro do meio
e buscar elucidar os objetivos através dos instrumentais foram os desafios propostos
no item seguinte, que apresentará o lócus da pesquisa e os sujeitos propostos por
ela.
2.1 Lócus da pesquisa: Centro Urbano de Cultura, Ciência e Esporte (CUCA).
Para um melhor esclarecimento sobre o cenário escolhido para a
pesquisa, compartilham-se as informações sobre este espaço, projetadas e
desenvolvidas para a juventude. Localizado na Barra do Ceará, o equipamento visa
fomentar atividades voltadas para formação, cultura, arte, lazer e esporte. O espaço
procura proporcionar aos jovens a vivência plena da condição juvenil, da mesma
maneira que oportunizar benefícios diretos e indiretos às comunidades localizadas
no entorno do local. (PREFEITURA DE FORTALEZA, 2014).
O CUCA atua desde 2009, é localizado em um território estratégico 3 e
é considerado um dos maiores espaços culturais da América Latina. O CUCA dispõe
de estrutura da seguinte forma: cine teatro, ginásio de esportes, campo de futebol,
3
O princípio da territorialização significa o reconhecimento da presença de múltiplos fatores sociais e
econômicos, que levam o indivíduo e a família a uma situação de vulnerabilidade, risco pessoal e
social.
22
piscina olímpica, rádio- escola, dentre outros espaços que atendem às demandas da
juventude e da comunidade, que praticam alguma atividade no centro.4
O CUCA também conta com os núcleos (diretorias) de formação,
difusão e programação, atividades especiais e protagonismo juvenil, que trabalham
as áreas específicas de cada atividade oferecida. A Diretoria de Formação tem por
finalidade elaborar, propor, realizar, articular e avaliar projetos de educação
profissional e formação nas áreas de cultura, arte e esportes, voltadas,
preferencialmente, para jovens. A Diretoria de Difusão e Programação é responsável
por conceber propostas de atividades que envolvam arte, cultura e esporte,
promovendo experiências de fruição coletivas, de reconhecimentos, formação do
olhar e de plateias em atividades de entretenimento, lazer e difusão. A Diretoria de
Núcleos e Atividades Especiais, que atua conhecendo os interesses e articulando
projetos existentes na comunidade. A Diretoria do Protagonismo Juvenil, responsável
por articular o contato com os jovens, entendendo suas demandas e promovendo
ações que possibilitem às juventudes a construção do seu caminho de forma
autônoma e crítica.5.
Apresentado o campo de pesquisa, numa perspectiva metodológica, vale
indicar o posicionamento de Minayo (2007) quando trata da entrada da pesquisadora
nesse espaço. De acordo com a autora citada, a fase exploratória de campo6, as
etapas do trabalho de campo e os procedimentos para análise são fundamentais
para que seja possível a efetivação da mesma. Seguindo esses princípios, valorizouse bastante essa fase. Conforme expressa Minayo (2007):
[…] há uma série de fenômenos de grande importância que não podem ser
registrados por meio de perguntas ou de documentos quantitativos, mas
devem ser observados in loco, na situação concreta em que acontecem.
Entre eles se incluem [...] o tom das conversas e da vida social, ao redor das
casas (ou em outros espaços que são objeto da pesquisa), a existência de
hostilidades, de simpatias e antipatias entre as pessoas; a maneira sutil, mas
inquestionável em que as vaidades e ambições pessoais se refletem nas
reações emocionais dos indivíduos. (MINAYO, 2007, p.76)
A fase exploratória trouxe à pesquisadora, uma percepção mais realista
do campo, bem como a possibilidade de fundamentar a prática a partir das
discussões realizadas, pois é, no campo, onde se observa, onde se promove a
4
Matéria do Blog Fortaleza em Fatos (2011)
Prefeitura de Fortaleza (2014)
6
Escolha do espaço da pesquisa, critérios e estratégias para escolha do grupo/sujeitos de pesquisa,
a definição de métodos, técnicas e instrumentos para a construção de dados e os mecanismos para
entrada em campo. (2007)
5
23
aproximação com o objeto, com os sujeitos; é o local que permite o contato direto
entre os atores participantes da mesma e o sujeito que os analisa. Conforme
expressa Minayo (2007):
O trabalho de campo é, portanto, uma porta de entrada para o novo, sem,
contudo, apresentar-nos essa novidade claramente. São as perguntas que
fazemos para a realidade, a partir da teoria que apresentamos e dos
conceitos transformados em tópicos de pesquisa que nos fornecerão a grade
ou a perspectiva de observação e de compreensão. Por tudo isso, o trabalho
de campo, além de ser uma etapa importantíssima da pesquisa, é o
contraponto dialético da teoria social. (MINAYO, 2007, p.76)
O primeiro contato que se teve ao pesquisar o campo foi com a área de
esportes do local, a entrevista exploratória foi realizada com o coordenador de
esportes no ano de 2012. Durante suas falas, ele fez um panorama sobre a
implantação do CUCA e sobre a atuação do esporte como uma das atividades
principais do Centro.
Segundo o entrevistado, as atividades esportivas são o carro-chefe do
local, e acabam sendo as mais procuradas por possuir bastante diversidade e
atender a todos os públicos. As atividades oferecem desde os esportes mais
populares como futebol, futsal, basquete, vôlei, natação e handebol, como artes
marciais, polo aquático, pilates, triathlon e rugby. De acordo com as informações
coletadas, a maioria dos jovens manifesta vontade de participar de tais atividades,
mas sua escola, seu bairro ou sua comunidade não os asseguravam em relação a
esse acesso.
O CUCA foi implantado no território com uma nova roupagem, porém a
adesão da juventude às atividades da instituição não foi tão fácil, a maioria das
pessoas da comunidade tinha receio em frequentar o espaço, e, na fase inicial, a
comunidade se mostrou um pouco resistente. Entretanto, com o tempo e
mobilização feita pela equipe de profissionais do CUCA, as atividades acabaram
ganhando muitos adeptos, principalmente com a divulgação do “boca a boca”.7
Gradativamente, as pessoas participavam, gostavam e convidavam os amigos, os
vizinhos, e, assim, o público teve um aumento considerável. Outros assuntos foram
abordados durante a entrevista e outras pessoas também participaram direta e
indiretamente dela, entretanto esses assuntos somente serão discutidos mais a
frente.
No processo de construção da pesquisa, consideramos todo o acervo
7
Dados coletados durante entrevista
24
colhido, tanto anterior à entrada em campo, como nos aspectos constatados durante
as falas dos entrevistados. Todos esses dados foram de suma importância para que
a pesquisadora desse a continuidade à pesquisa. Conforme citado, tanto a visita
como a entrevista exploratórias oferece um desenvolvimento gradativo ao conteúdo
da pesquisa. Conforme expressa Gil (2007):
As pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver,
esclarecer e modificar conceitos e idéias [sic], tendo em vista a formulação de
problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores.
[...] Habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental,
entrevistas não padronizadas e estudos de caso. Procedimentos de
amostragem e técnicas quantitativas de coleta de dados não são
costumeiramente aplicados nestas pesquisas. (GIL, 2007, p.27)
Para desenvolver a pesquisa de campo, o pesquisador deve também
trabalhar com o uso de outras técnicas para que a pesquisa seja realizada com
êxito. Para Minayo (2007), embora haja muitas formas e técnicas de realizar o
trabalho de campo, dois são os instrumentos principais desse tipo de trabalho: a
observação e a entrevista. Enquanto a observação é feita sobre tudo aquilo que não
é dito, mas pode ser visto e captado por um observador atento e persistente, a
entrevista tem como matéria-prima a fala de alguns interlocutores.
Segundo Minayo (2007), os instrumentais utilizados para desenvolver a
pesquisa de campo são essenciais. A ida ao campo nos revela aspectos antes
pouco observados. O trabalho de campo pode ser definido como um divisor de
águas da pesquisa, pois a partir dele vários enfoques surgem e a pesquisa se torna
cada vez mais clara e objetiva.
Para a pesquisa de campo, tomamos por base os ensinamentos de
Minayo (2007), que expressa, muito bem, as ações que o pesquisador deve realizar
em campo, quando afirma que:
Todo pesquisador precisa ser curioso, um perguntador. E essa qualidade
deve ser exercida o tempo todo no trabalho de campo, pois este será tanto
melhor e mais frutuoso quanto mais o pesquisador for capaz de confrontar
suas teorias e suas hipóteses com a realidade empírica. (MINAYO, 2007,
p.77).
A entrevista é uma das etapas mais esperadas da pesquisa, visto que é,
nesta fase, que se tem a ciência de que se chegou ao objeto, pois é o momento de
escutar os sujeitos para analisar os objetivos propostos e construir outros
fundamentos para desenvolver a pesquisa. Conforme expressa Gil (2008):
Pode-se definir entrevista como a técnica em que o investigador se apresenta
frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção
25
dos dados que interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma
de interação social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo
assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se
apresenta como fonte de informação. (GIL, 2008, p.109)
As informações adquiridas, durante as entrevistas, se tornam parte de um
processo de elaboração, e é, neste período, que precisamos sistematizar os dados e
as ideias, observando aquilo que realmente interessa para o tema. Os elementos
mais relevantes devem ter prioridade nesta fase, pois, a partir deles, podem-se
formular mais adequadamente as categorias da pesquisa. A entrevista focalizada foi
uma das técnicas utilizadas para a coleta de dados, visando obter o maior número
de elementos possíveis para construção do objeto. Conforme expressa Gil (2008):
A entrevista focalizada é tão livre [...]; todavia, enfoca um tema bem
específico. O entrevistador permite ao entrevistado falar livremente sobre o
assunto, mas, quando este se desvia do tema original, esforça-se para a sua
retomada. (GIL, 2008, p. 112)
Considerando-se, assim, as indagações que surgem ao longo dela, uma
vez que, não se pode estar fechados a novas referências, principalmente, quando se
referem a dados subjetivos, que, muitas vezes, só podem ser adquiridos através do
depoimento dos sujeitos. Conforme expressa Minayo (2007):
A entrevista como fonte de informações pode nos fornecer dados [...] que são
objetos principais da investigação qualitativa refere-se a informações
diretamente construídas no diálogo com o indivíduo entrevistado e tratam da
reflexão do próprio sujeito sobre a realidade que vivencia. Os cientistas
sociais costumam denominar esses últimos de dados “subjetivos”, pois só
podem ser conseguidos com a contribuição da pessoa. (MINAYO, 2007,
p.112)
De modo a dar continuidade à pesquisa e expor as ideias da mesma, o
tópico seguinte retratará os sujeitos da pesquisa como objetos fundamentais deste
trabalho, sendo estes sujeitos participantes de todo processo de construção deste
estudo.
2.2 Sujeitos da Pesquisa
Esta pesquisa tem o jovem como interlocutor principal. Segundo o
Estatuto da Juventude (Lei de nº 12.852, De 5 de Agosto de 2013), no parágrafo 1º,
são consideradas jovens as pessoas com idade entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove)
anos de idade. Este público foi pensado pelo CUCA por ser um dos mais vulneráveis
e estar em uma fase nova da vida, no mundo das escolhas, do trabalho, dos estudos
e etc. É, geralmente nesta idade, que se passa por um período de transição,
26
deixando de ser criança e passando a ter mais responsabilidades e cobranças da
família e da sociedade em geral. É também, neste momento, que é imposto ao
jovem escolher uma profissão, uma área de formação, ou a velha opção dos mais
necessitados, um trabalho. Conforme expressa Novaes (2004):
[…] a juventude é compreendida como um tempo de construção de
identidades e de definição de projetos de futuro. É vista como tempo de
“moratória social”, “etapa de transição”, em que os indivíduos processam sua
inserção nas diversas dimensões da vida social: responsabilidade com família
própria, inserção no mundo do trabalho, exercício de direitos e deveres de
cidadania. (NOVAES, 2004, p.4)
Segundo Novaes (2004), a juventude é uma das faixas etárias mais
marginalizadas perante a sociedade, pois esta fase é vista como negativa pela
maioria, principalmente em relação àqueles em situação vulnerável, com ausência
de renda e vínculos fragilizados. Nesta idade, é atribuída a impressão de que os
jovens estão prontos para a vida, para o trabalho, para assumir, muitas vezes,
diversas responsabilidades e sanar problemas estruturais, financeiros, entre outros.
Para a sociedade, a juventude é vista por dois aspectos: o aspecto
privilegiado, que lhe oferece jovialidade, mobilidade, tempo e etc. Porém o aspecto
negativo é bem mais pautado, pois a visão, que se tem, é de que o jovem é
irresponsável e que vive no ócio, sem muitas perspectivas e afazeres. Conforme
expressa Novaes (2004):
[...] a “juventude” também é vista como o lugar privilegiado para a expressão
de todo mal-estar social. Provoca inquietações e evoca “problemas sociais”
tais como violência, ócio, desperdício e irresponsabilidade. No âmbito
profissional ou no tocante à participação nos processos de tomada de decisão
– inclusive nas esferas políticas – ser jovem é residir em um incômodo estado
de devir, justificado socialmente como estágio de imaturidade, impulsividade e
rebeldia exacerbada. (NOVAES, 2004, p.6)
O jovem da periferia, muitas vezes, é privado de realizações pelos fatores
do cotidiano, principalmente, o de classe baixa, e, muitas vezes, não tem escolha,
pois, desde muito cedo, não se tem acesso a inúmeras questões como: educação
de qualidade, saúde, moradia digna, segurança. A imagem de jovem ideal quase
sempre está ligada ao trabalho, e, com isso, pode-se observar que nem sempre
essa relação funciona para todos. Conforme expressa Novaes (2004):
No presente momento histórico, a tensão local-global se manifesta no mundo
de maneira contundente: nunca houve tanta integração globalizada e, ao
mesmo tempo, nunca foram tão profundos os sentimentos de desconexão e
agudos os processos de exclusão. Sem qualquer paralelo em relação a
outras gerações, em um mundo sem fortes ideologias, os jovens de hoje se
deparam com múltiplas evidencias da degradação sócio- ambiental e com o
aumento dos abismos sociais. Como projetar o futuro tendo à frente a um
27
elevado grau de incerteza sobre os caminhos para a inserção no mundo do
trabalho? (NOVAES, 2004, p.10)
Esse não é um problema só dos jovens, é um problema social que afeta
a todos, principalmente aqueles desprovidos financeiramente. Entretanto, podemos
afirmar que o jovem é um dos mais afetados por todas as questões sociais desse
sistema8, que acabam, muitas vezes, por selecionar os participantes, a sociedade
sofre com a carência em diversas áreas, mas a falta de estímulos e a falta de
incentivo dentro e fora de casa é um dos principais fatores para que a maioria das
pessoas continue a permanecer na situação em que se encontram, sem
perspectivas de mudanças. Tornam-se reféns de um processo de construção
desigual. Dessa maneira, expressa Correa (2008, p.12): “quase a metade dos jovens
no Brasil se situa em uma zona cinza, de riscos, de vulnerabilidade.”.
Trabalhar toda uma estrutura é sempre desafiador, visto que, o jovem
não é somente classificado por uma faixa etária, essa estrutura compreende além do
corpo, uma série de questões que abordam desde suas relações sociais, bem como,
profissionais e familiares, até o sonho de se tornar um atleta ou mesmo um
professor. Essa tarefa é desafiadora, mas não impossível, tornar o jovem produto de
um meio organizado, que o proporciona possibilidades futuras é um exercício árduo,
porém compensador. Dessa maneira, expressa Brenner (2008):
[…] é preciso considerar o lazer como tempo sociológico, no qual a liberdade
de escolha é elemento preponderante e se constitui, na fase da juventude,
como campo potencial de construção de identidades, descobertas de
potencialidades humanas e exercício de inserção efetiva nas relações sociais.
Assim, considerando o lazer pode ser espaço de aprendizagem das relações
sociais em contexto de liberdade de experimentação. (BRENNER, 2008,
p.30)
Dentre outros, este foi um dos fatos pelo qual a pesquisadora decidiu
trabalhar a categoria esporte e compreender como se dá esse incentivo, não
levando em consideração apenas o corpo e os benefícios para a saúde, mas o lado
social que este possuiu, o esporte é uma ferramenta que trabalha dimensões sociais
como, a inclusão social e a cidadania, podendo esse lado ser bem mais difundido e
encarado como um espaço sócio ocupacional para os alunos e profissionais de
Serviço
8
Social.
A “questão social” relaciona-se estritamente à sociedade capitalista, notadamente em sua fase
monopolista, aglutinado o conjunto de desigualdades sociais, políticas e culturais das classes sociais
e que têm diferentes expressões no cotidiano da vida social.
29
3 ESPORTE: INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOCIAL E CIDADANIA
3.1 Categorias da pesquisa: Cidadania e Inclusão Social
Para melhor esclarecer os objetivos desta pesquisa, cabe considerar a
análise de categorias como: esporte, juventude, inclusão social e cidadania.
Particularizando, os conceitos do esporte no processo de inclusão social, construção
da cidadania, compreendendo a importância do esporte no cotidiano da juventude e
as estratégias utilizadas para promover o protagonismo juvenil. Dessa maneira, para
definir categorias de uma forma geral, apresentamos a concepção de Minayo (2007):
As categorias são empregadas para se estabelecer classificações. Nesse
sentido, trabalhar com elas significa agrupar elementos, ideias ou expressões
em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso. Esse tipo de
procedimento, de um modo geral, pode ser utilizado em qualquer tipo de
análise em pesquisa qualitativa. (MINAYO, 2007, p. 70)
Para a proposta desta pesquisa, considera-se o esporte o foco central da
discussão, estabelecendo a relação entre ele e as demais categorias, tendo em vista
que não se pode conhecer a realidade sem considerar a totalidade relacional
existente nesse processo. A fase exploratória traz à pesquisa um olhar mais
profundo naquela realidade, que se insere. Os dados coletados a partir dela
formulam de modo mais claro as ideias da pesquisa. Conforme expressa Minayo
(2007):
As categorias podem ser estabelecidas antes do trabalho de campo, na fase
exploratória da pesquisa, ou a partir da coleta de dados.
Aquelas
estabelecidas antes são conceitos mais gerais e mais abstratos. Esse tipo
requer uma fundamentação teórica sólida por parte do pesquisador. Já as que
são formuladas a partir da coleta de dados são mais específicas e mais
concretas. (MINAYO, 2007, p. 70)
A pesquisadora buscou relacionar todas as categorias envolvidas na
pesquisa com o esporte, pois foi a partir dele que se construiu essa investigação.
Tendo esse como categoria principal, definir-se-ão, ao longo das mesmas, suas
peculiaridades, inicialmente diferenciando brevemente o esporte educacional, o
esporte de participação e o esporte de rendimento.
Conforme expressa Teixeira (2006, p.01), “o esporte educacional refere-se
àquele que é praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemáticas de
educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes,
com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua
formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer.”.
30
Conforme ainda o mesmo autor, em relação ao esporte de participação,
refere-se “àquele que é praticado de modo voluntário, compreendendo as
modalidades desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a integração
dos praticantes na plenitude da vida social, na promoção da saúde e da educação e
na preservação do meio ambiente.”.
Teixeira (2006, p.01), por fim, define o esporte de rendimento, que se
refere “àquele praticado com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e
comunidades do País, e estas com as de outras nações.”.
O Centro Urbano de Cultura, Ciência e Esporte, trabalha o esporte nas
três modalidades citadas acima.9 Com isso, pode-se compreender a dimensão da
relação social do esporte com a juventude. Como eixo fundamental, exerce
influência no desenvolvimento social dos atores principais desta pesquisa. Dessa
maneira, expressa Cunha (2007):
Através da prática esportiva, pode-se sistematizar situações de ensino e
aprendizagem que garantem às crianças e jovens o acesso a conhecimentos
práticos e conceituais. Dando oportunidade a todos que desenvolvam suas
potencialidades, de forma harmoniosa e não seletiva, visando o
aprimoramento do ser humano. (CUNHA, 2007, p. 15)
Considerando ainda a categoria principal desse estudo, vimos que o
esporte também é estudado por outras vertentes, sendo uma delas a sociologia do
esporte. Segundo Lovisolo (2011, p. 80), “busca aliar os conhecimentos da educação
física com as ciências sociais, discutindo a importância de se articular esses
saberes, a primeira área trata do lado biológico, físico e corporal, a segunda traz a
questão crítica, indagadora e o indivíduo como matéria social.”.
Os enfoques distintos destas áreas são complementares, quando se
trabalha associando o esporte e o social, em meio às atribuições profissionais.
Dessa maneira, expressa Lovisolo (2011):
Para a sociologia, os esportes podem ser classificados a partir das interações
específicas entre seus atores e o meio ambiente. Esportes individuais são
diferentes dos grupais ou coletivos, esportes em ambiente natural podem ser
distinguidos de esportes praticados em ambientes padronizados e que
eliminam as incidências da natureza. Um esporte organizado em torno de
clubes, como o futebol, tem significados sociológicos diferentes daquele
esporte no qual o clube desempenha papel reduzido, como no tênis. Não
temos o fenômeno da torcida organizada neste esporte. Os princípios que
organizam os esportes são objeto do trabalho sociológico tanto quanto as
formas de organização dos torcedores e os motivos das práticas e do gosto
pelo espetáculo esportivo. (LOVISOLO, 2011, p.84)
9
Prefeitura de Fortaleza (2014)
31
Como se vê, os enfoques do esporte perpassam por inúmeras dinâmicas,
sejam elas realizadas em clubes, em escolas, nas comunidades, ou mesmo ao ar
livre. Porém, considera-se que o mais importante nesse sentido é a participação e a
interação entre os constituintes das atividades. Conforme expressa Brenner (2008):
[…] A convivência em grupos possibilita a criação de relações de confiança;
desse modo, a aprendizagem das relações sociais serve também de espelho
para construção de identidades coletivas e individuais. Em suma, as
diferentes práticas de cultura e lazer em espaços sociais públicos podem ser
consideradas como verdadeiros laboratórios, onde se processam
experiências e se produzem subjetividades. (BRENNER, 2008, p.30)
A sociabilidade está ligada ao esporte, este pode ser considerado em três
das suas dimensões; educação, participação e rendimento. No que tange à
construção da cidadania e à inclusão social. Conforme expressa Lovisolo (2011):
Uma das coisas que a sociologia do esporte pretende entender é como
chegamos a valorizar o esporte e o lazer, a atividade física para a saúde, a
modelagem corporal segundo padrões específicos. Quais foram as
influências? Procura também entender como, a partir de interações situadas
em relação a valores e normas, os indivíduos se tornam atletas, como
aderem ou não à atividade física para a saúde, como chegam ou não a gostar
ou se interessar pelos esportes. (LOVISOLO, 2011, p.86)
O esporte não deve ser tratado superficialmente, limitado apenas ao fator
esporte de rendimento, pois ele está para além dessa prática. Contudo não podemos
ignorar sua importância, pois através do esporte de rendimento muitos jovens
conseguem construir suas carreiras e enxergam o esporte como fator decisivo para
ascensão financeira. Dessa maneira, expressa Marques (2009):
O sonho de tornar-se um jogador de futebol profissional, adquirir “status”
social e melhores condições financeiras para si mesmo e, muitas vezes, para
toda sua família está presente em todas as “peladas” (práticas informais
organizadas pelos próprios participantes sem necessariamente seguir as
regras e regulamentos determinados pela federação ou órgão regulador do
esporte) nas ruas e escolas do Brasil. (MARQUES, 2009, p.01)
Visto isso, é nesse momento que se pode considerar a entrada da
intervenção profissional, pois todo e qualquer profissional, que esteja envolvido
nessa área, é capaz de exercer o seu melhor papel, orientando, esclarecendo os
jovens e suas famílias, conforme expressa Trindade (2010):
O profissional envolvido em um clube de futebol precisa ter consciência muito
clara do seu papel enquanto desafiador do crescimento dos sujeitos ali
inseridos. Muitos são os desafios deste profissional, pois cabe a ele a
proposição do convívio com as regras, a promoção da informação, a busca
da superação, da alienação, o estabelecimento do diálogo, o aproveitamento
de eventos diversos relacionados à cultura e tantos outros. (TRINDADE,
2010, p.01)
32
O esporte de rendimento traz em si muito fascínio, e aos profissionais que
atuam junto aos jovens, dentro desses espaços, o esporte traz grandes desafios. O
mundo esportivo muitas vezes é deslumbrante, mas nem sempre todos conseguiram
ascensão. Conforme expressa Trindade (2010):
O mundo que esses jovens atletas de futebol vivem é por diversas vezes
deslumbrante, pois muitos vêm de origem humilde e de uma hora para outra
podem desfrutar do bom e do melhor em todos os sentidos, podem escolher a
roupa, a marca do tênis e da chuteira, o restaurante que poderão frequentar.
Isso tudo é um choque de realidade e alguns não conseguem se manter tão
profissionais com a facilidade que o mundo esportivo pode dar a eles. Neste
sentido, o trabalho do assistente social entra em cena, pois cabe a ele trazer
o sujeito de volta à sua realidade, fazendo com que perceba as coisas que
realmente são importantes para a sua vida e para o seu futuro. (TRINDADE,
2010, p. 02)
O esporte de rendimento também trabalha o seu lado inclusivo, existindo
até programas de âmbito federal que apoiam essa ideia, porém para que um jovem
alcance esse patamar não é fácil, e a seletividade desse percurso se mostra
dominante. Para se tornar um atleta, dedicação, tempo, talento, incentivo e
patrocínio são necessários, uma vez que sem o último, provavelmente, o jovem
sonhador não chegará a lugar algum, tendo em vista que o aspirante à atleta
necessita se manter e arcar com os custos desse treino. Conforme Oliveira (2007)
aponta:
O esporte de rendimento tem como duas de suas características a
seletividade e a exclusão. Obedece a regras estabelecidas universalmente e
apresenta uma tendência a ser praticado pelos talentos esportivos, dessa
forma está a serviço do mercado através da compra e venda de produtos
esportivos e da indústria do entretenimento. (OLIVEIRA, 2007, p.20)
Um fator importante para possibilitar mais sucesso aos jovens, que
enveredam ou pretendem enveredar pelo esporte de rendimento, é que ele deve ser
trabalhado em seus mais diversos âmbitos, ou seja, os treinadores não devem ser
os únicos a desempenhar o trabalho de formação, profissionais de outras áreas
devem participar desse processo e adentrar nesses espaços sócio-ocupacionais,
aliando assim os conhecimentos de cada área em um processo inclusivo e
transformador. Conforme Oliveira (2007):
De modo geral, o professor de esportes que assume o posicionamento
tradicional enaltece o individualismo em detrimento do coletivismo; a
seletividade em detrimento da participação coletiva; a competição exacerbada
em detrimento da cooperação; a vitória a qualquer custo em detrimento da
integração dos alunos; a iniciação precoce em detrimento do lúdico; o
autoritarismo em detrimento do diálogo; desconsiderando totalmente as
necessidades do aluno e seu contexto social. (OLIVEIRA, 2007, p. 25-26)
33
Com relação ao esporte no processo de inclusão social, podem-se citar
trabalhos, como: A Escola de Dança e Integração Social para Criança e Adolescente
(EDISCA); segundo publicação no site da instituição, a escola forma bailarinos
profissionais e professores, promovendo uma transformação notória, com ênfase na
formação dos mesmos. O Centro Nacional de Treinamento de Atletismo (CNTA), que
funciona em parceria entre a Universidade de Fortaleza (UNIFOR) e Caixa
Econômica Federal, enfatiza a importância do esporte no desenvolvimento da
socialização dos jovens, com indicadores concretos. Muitos atletas se tornaram
campeões em suas categorias e também se tornaram professores. Pensando nisso,
segundo publicação no site da Universidade de Fortaleza, o centro de treinamento
através da adesão às práticas esportivas, sejam elas com o interesse ou não de se
tornarem atletas profissionais, busca promover os futuros atletas e proporcionar a
inclusão social através dessas práticas.
Toda construção e o reconhecimento se dão a partir desta gênese, assim
pode-se perceber o crescente número de instituições que abordam a temática e se
interessam em particularizar a formação desses jovens. As políticas públicas têm
dado importância ao fenômeno esportivo, reconhecendo-o como ferramenta de
inclusão social. Conforme expressam Vianna e Lovisolo (2005):
O reconhecimento do esporte como canal de socialização positiva ou inclusão
social, é revelado pelo crescente número de projetos esportivos destinados
aos jovens das classes populares, financiados por instituições
governamentais e privadas. […] As campanhas recentes para a adoção de
estilos de vida ativa e saudável e o crescente investimento em instalações e
projetos de esportes, destinados à população, indicam que, sob o ponto de
vista da política pública, a crença sobre os benefícios psico-fisiológicos se
materializa em ações facilitadoras da prática. (VIANNA e LOVISOLO, 2005,
p.01)
Segundo Cunha (2007), fica claro, no teor do mesmo, o princípio da
inclusão, não havendo qualquer tipo de discriminação, garantindo a igualdade na
prática esportiva. Para isso, a maneira com que o esporte é abordado deve ser
estudada a fundo não permitindo nas atividades esportivas nenhuma forma de
exclusão.
Devido ao reconhecimento dessa necessidade, é importante investigar de
que forma se dá o processo de inclusão dentro dos projetos sociais, que
desenvolvem a proposta de educação pelo esporte. Dessa maneira, expressa Cunha
(2007):
Através de pesquisas realizadas entre [...] jovens de baixa renda, pode-se
verificar que em sua grande maioria, não possuem recursos financeiros para
34
o desenvolvimento de habilidades em entidades desportivas particulares, que
facilitem sua inclusão social. Devido a essa carência financeira, foram
pensadas e estudadas possibilidades para o desenvolvimento humano
nessas áreas de baixa renda. E uma das formas que vem se mostrando
eficaz são os Projetos Sociais. (CUNHA, 2007, p. 13)
Como foi tratado anteriormente, o esporte faz parte de um processo,
sendo considerado como um dos canais de inclusão social, contudo para que haja
inclusão é necessário que os jovens tenham acesso a essas atividades, muitas delas
praticadas apenas em clubes particulares, nos quais estes jovens provavelmente
não teriam como custear, conforme expressa Brenner (2008):
O lazer é uma atividade social historicamente condicionada pelas condições
de vida material e pelo capital cultural, que constitui sujeitos e coletividades. A
base material da existência é um dos mais fortes limites da inserção
diferenciada no mundo do lazer. […] O tempo livre do trabalho, muitas vezes,
pode significar o espaço de penúria, da opressão, da falta de oportunidades.
Esse é o caso dramático do desemprego e da desocupação, situação vivida
por uma expressiva parcela de jovens brasileiros (BRENNER, 2008, p. 31)
Nesse momento, entra o trabalho de instituições como o CUCA, que
oferece a estes jovens o acesso pleno às mais variadas atividades esportivas, e que
além da formação, também oferece a oportunidade da prática do esporte de
rendimento, podendo este jovem vir a se tornar um atleta profissional e representar
seu Estado ou até mesmo seu país. (PREFEITURA DE FORTALEZA, 2014)
Essa possibilidade só é possível, pois, dentro do referido Centro, esses
jovens são sensibilizados, devido a uma formação diversificada. Conforme a
entrevista realizada com o Coordenador de esportes, foi deixado bem claro que
mesmo fomentando a prática do esporte de rendimento, a prática esportiva
ultrapassa esse viés, pois dentro da instituição os jovens têm a oportunidade de
realizar diversas atividades, não se atendo somente aos esportes.
O jovem poderá participar de aulas de teatro, fotografia, dança, entre
muitas outras, e, assim, ele acaba se fixando naquilo que mais lhe causa fascínio,
inclusive quando deixam de ser alunos, parte deles se tornam monitores e repassam
seus conhecimentos e experiências para os demais.
O CUCA é um dos poucos projetos dessa área, que não exige frequência
escolar, o jovem é convidado a participar das atividades desde que tenha interesse,
porém são cobrados a assiduidade e o respeito com os demais alunos e professores
e outros funcionários. Porém, uma das mudanças que pode ser observada é
justamente a reinserção escolar de muitos.
Durante a entrevista, o coordenador relatou que nota nos jovens uma
35
grande diferença depois do ingresso nas atividades do CUCA, os jovens começam
inclusive a se cuidar mais esteticamente e em relação à saúde do corpo, também
foram observados pelo entrevistado que os jovens chegam, inicialmente, ao projeto,
cansados e desanimados, mas, com o decorrer do tempo acabam por se entrosar e
participar das atividades, estabelecendo novas amizades e melhorando a
autoestima10.
A cidadania foi uma das categorias propostas pela pesquisadora, com o
objetivo de relacioná-la com o esporte, ser cidadão é ir além da ideia de possuir
direitos e deveres, é compreender que existe a necessidade de conhecê-los, para
reivindicá-los quando negligenciados. A inclusão social está ligada diretamente à
cidadania, quando é relacionada com o processo de divisão presente em nossa
sociedade. Conforme expressa Saadallah (2006):
[…]
somos
até
hoje
um
país
dividido
em
cidadãos
e
subcidadãos,“subnutrição,
subemprego,
submoradia,
subeducação,
subdesenvolvimento, subcultura, enfim, tudo o que começa com subdesigna
o conjunto de características dos que subsistem do outro lado da linha que
separa os incluídos na cidadania dos excluídos dessa condição” (COSTA
apud SAADALLAH, 2006, p. 04)
O esporte trata-se de um desses direitos e, atrelando esses conceitos,
pode-se dizer que, para ser cidadão, nada melhor do que praticar seus direitos.
Dessa maneira, expressa Saadallah (2006, p.04): “podemos pensar na cidadania
como uma responsabilidade individual e coletiva com o social e o bem comum,
buscando cooperação e complementaridade na ação coletiva, em trabalho
democrático e plural.”.
A dimensão da construção da cidadania dos jovens, através do esporte,
está ligada à ação formadora, prática esta que está em constante aprimoramento,
trabalhado constantemente em todas as etapas, a partir desse fazer que o jovem se
torna mais observador e adquire conhecimentos que só tendem a acrescentar em
sua bagagem, e se fazem como formação integral dos mesmos.
Ter consciência de seus atos já é um exercício de cidadania e é também
considerado um grande avanço, pois muitos jovens entram no Centro sem conseguir
trocar poucas palavras e com os diálogos propostos pelos profissionais acaba por se
extinguir. O esporte traz em sua prática a necessidade do diálogo, da interação, o
que acarreta em mudanças na formação do indivíduo que faz uso delas. Dessa
10
Dados coletados durante a entrevista
36
maneira, expressa Barbanti (2011):
A realidade do nosso esporte e o conhecimento cada vez mais fundamentado
sobre a atividade deixam transparecer a necessidade de se criar uma outra
filosofia relativa a este tipo de prática, que sustente a procura de caminhos
mais apropriados. Nesta visão, impõe-se antes de mais nada que se tenha
uma ideia clara do que representa e o que significa a formação do indivíduo.
(BARBANTI, 2011, p.01)
Conforme expressa, Barbanti (2011), “deveríamos ser mais sensíveis à
importância do movimento e do alcance educativo da formação esportiva dos jovens.
Nossos esforços deveriam ir à direção da formação integral de nossa juventude,
sendo a formação esportiva um componente dessa formação.”.
Sendo o esporte um componente da formação integral, todos os
profissionais envolvidos na temática devem estar mais sensíveis do papel por ele
representado, pois, em conjunto com as demais áreas e atividades, ele poderá se
tornar uma ferramenta de desenvolvimento social.
Sendo o esporte um espetáculo, isso repercute em seus praticantes,
brincadeiras e jogos fizeram parte de uma fase de formação na vida desses jovens,
hoje não mais, muitos jovens se encontram presos a perspectivas individuais e não
mais
coletivas.
As
relações
sociais
foram
banidas
pelo
entretenimento
individualizado. Dessa maneira, expressa Barbanti (2011):
Nossa sociedade assiste atônita a uma surpreendente patologia
comportamental: o desaparecimento da infância como fase natural da vida
humana. Já não vemos crianças entretidas em brincadeiras e jogos que
faziam parte da paisagem urbana das nossas cidades. Com apoio dos
próprios pais, entusiasmados com a perspectiva econômica, muitas crianças
estão sendo prematuramente condenadas a uma vida adulta e sórdida.
Privadas da infância, elas estão se comportando, vestindo, consumindo,
falando e trabalhando como adultos. A inocência infantil está sendo
impiedosamente banida pela indústria do entretenimento. (BARBANTI, 2011,
p.02)
Segundo Saadallah (2006), a cidadania sempre esteve ligada à noção
dos direitos, sejam eles civis, políticos e sociais, referindo-se às liberdades
individuais de cada um. Esses conceitos afirmam a ideia de que ser cidadão é ter
direitos e deveres, mas esse processo vai muito além disso. Se não tiver
conhecimento de nossos direitos, provavelmente, nunca se recorrerá a eles, sejam
eles em relação a uma fila de hospital, de um banco ou mesmo em qualquer outro
equipamento, que forneça serviços à população, sejam eles públicos ou privados.
Muitas vezes costuma-se parecer atônitos, quando na realidade dever-se-ia
reivindicar o acesso a serviços garantidos universalmente assegurados pela
37
Constituição de 1988. O esporte pode trazer esta prática, desde que seja trabalhado
da maneira correta. Conforme expressa Oliveira (2007):
O Esporte Educacional difundido dentro e fora da escola tem por finalidade
democratizar e gerar cultura, configurando-se como uma prática social de
exercício crítico da cidadania, privilegiando a inclusão social, a troca de
saberes e conhecimentos, o respeito às diferenças, a diversidade, a
valorização das culturas e a experiência significativa. (OLIVEIRA, 2007, p.20)
Relacionando o esporte à cidadania, pode-se observar que o direito a seu
acesso também está garantido por lei, porém poucos têm conhecimento dessas
informações, a cidadania envolve uma postura a ser construída em parceria, e o
esporte é um desses parceiros na formação dos jovens, desenvolvendo saberes de
modo individual e coletivo. O esporte traz o lado inclusivo e competitivo, por isso
deve ser discutido e avaliado, principalmente, quando se trabalha com jovens em
período de formação. Assim expressa Saadallah (2006):
[...] as grandes transformações pelas quais vem passando a humanidade,
especialmente a partir da década de 1990, reconhecidas como o processo de
globalização mundial, traz novos desafios para se pensar a relação da pessoa
com o seu contexto social e com o coletivo. Neste contexto, em que o
individualismo, a exclusão, o preconceito, a competição exacerbada e o
consumismo tomam conta de nossa vida, constatamos uma reprodução de
ideias entre as pessoas, e um grande conformismo com a situação de
opressão e exclusão em que vivem. (SAADALLAH, 2006, p.04)
Em fase de análise dos dados colhidos para a pesquisa, pode-se observar
a relevância de cada aspecto analisado durante a mesma, na formação dos jovens
assistidos pelo CUCA, através de entrevistas realizadas com alguns profissionais do
centro e com alguns jovens, que fizeram ou fazem o uso das práticas esportivas
oferecidas pela instituição, conceituando assim, os limites e as possibilidades que
obtiveram desde que iniciaram sua participação nestas atividades.
Para essa pesquisa, considera-se como jovem aquele que se encontra na
faixa etária de 15 a 29 anos, de acordo com o Capítulo I dos princípios e diretrizes
das políticas públicas de juventude, o parágrafo 1º, do Estatuto da Juventude.
A juventude também define um período diferente da vida, como explicitado
anteriormente, é, nessa fase, que se passa por uma brusca mudança entre ser
criança ou se tornar adulto, não se tem escolha com relação a essa mudança, mas
se sabe que ela pode ser trabalhada da melhor forma possível para que não haja
maiores consequências. Conforme expressa Aquino (2009):
[…] a juventude também foi tradicionalmente tematizada como fase transitória
para a vida adulta, o que exigiria um esforço coletivo, principalmente da
família e da escola, no sentido de “preparar o jovem” para ser um adulto
socialmente ajustado e produtivo. (AQUINO, 2009, p.01)
38
Em geral, não se é preparado para essa mudança e as instituições, das
quais os jovens fazem parte, tendem a fragmentar cada etapa, como se o ritual de
passagem fosse feito por um simples soar de sinos. Conforme expressa Aquino
(2009):
Tendo como referência central o conceito de socialização, esta abordagem
sugere que a transição é demarcada por etapas sucessivamente organizadas
que garantem a incorporação pelo jovem dos elementos socioculturais que
caracterizam os papeis típicos do mundo adulto. […] Ao fim deste processo, o
jovem-adulto adentraria uma nova fase do ciclo da vida [...]. (AQUINO, 2009,
p.01)
Normalmente, os indivíduos se esquecem de que são produtos de um
meio que está em constante mudança, em que nada é previsível, inclusive o
conceito de juventude, de cidadania, de inclusão ou mesmo de esporte, daqui a um
tempo estes podem estar totalmente ultrapassados, pois são produtos históricos, e a
história é dinâmica e transitória. Conforme expressa Novaes (2008):
Olhada como fase natural da vida, a “juventude” é tratada como um segmento
populacional bem definido, suposto como universal. No entanto, os limites
etários e as características de cada uma das “idades da vida” são produtos
históricos, resultados de dinâmicas sociais mutantes e de constantes (re)
invenções culturais. (NOVAES, 2008, p.03)
Utilizando os meios e as categorias acima citadas, realiza-se uma
pesquisa de maneira clara e objetiva, com a finalidade de produzir um material com
informações imprescindíveis no que se refere à temática do esporte para a
construção da cidadania como meio de inclusão e interação social.
O esporte aborda diversas dimensões, dessa forma, as categorias citadas
acima permitem articular com os demais assuntos que serão abordados no decorrer
desta pesquisa. Para refletir sobre esses questionamentos, faz-se necessário,
discutir os marcos legais do esporte, apontando as perspectivas das propostas
implementadas por lei, como também, um breve histórico do esporte e sua gênese
naquilo que tange a promoção social.
3.2 Esporte: Um breve histórico, suas influências e dimensões sociais
O esporte surgiu como um dos maiores fenômenos do século XX,
consolidando-se através de sua abrangência na forma mais prática do esporte. O
esporte-educação e o esporte de rendimento são os mais difundidos, porém o
esporte também possui seu lado social e todo um significado por traz dessa relação.
39
Dessa maneira, expressa Tubino (2011):
[…] o esporte situou-se, na segunda metade do século XX, como um dos
mais relevantes fenômenos sociais do mundo, pela abrangência de seu
envolvimento e de suas relações, é possível explicar esta interpretação,
principalmente pela mudança conceitual ocorrida nas últimas décadas,
quando deixou de perspectivar-se apenas no rendimento, e conseguiu
também incorporar os sentidos educativos e o bem-estar social. Hoje, sabese que o fato esportivo possui uma abrangência muito maior, o que lhe
permite encontrar significados sociais mais efetivos. (TUBINO, 2011, p. 09)
O esporte também possui um grande papel ideológico, sendo utilizado
como uma ferramenta política desde a criação das olimpíadas na antiga Grécia.
Naquele período, governantes usaram-no para fomentar a participação alienada da
sociedade. Inclusive, é muito comum ver-se políticos apoiando times de várzea11 em
época de campanha, bem como, promovendo campeonatos de futebol em
comunidades com maior quantitativo eleitoral. As influências do esporte são as mais
diversas possíveis, desde a economia até mesmo a política. Conforme expressa
Lovisolo (2011):
As influências do esporte na economia e na política, por exemplo, e as
influências do esporte na formação de valores e hábitos formam parte do
discurso da sociologia e da história. Houve marxistas e seguidores que
analisaram as influências negativas do esporte sobre a classe trabalhadora.
Outras teorias destacam a influência positiva do esporte na formação de
hábitos e valores, na educação e integração social. Assim, as teorias
sociológicas do esporte não podem escapar ao tratamento das influências
nem àquilo que promotores e críticos disseram no passado e dizem no
presente. (LOVISOLO, 2011, p.86)
Além das influências políticas, o esporte também exerce suas influências
na formação do indivíduo, através das práticas coletivas de participação, que fazem
parte da interação social. Segundo, Weller (2005), a prática esportiva está mais a
serviço dos grupos dominantes do que dos jovens em precária situação de inserção
social. Dessa maneira, expressa Weller (2005):
[…] os jovens se deparam constantemente com a precariedade no
atendimento aos seus direitos básicos como alimentação, habitação,
educação e saúde. O lazer desses jovens geralmente acontece nas ruas do
bairro com suas poucas opções de divertimento e os seus sonhos se realizam
na vida dos protagonistas das telenovelas, de seus ídolos esportivos ou do
entretenimento da mídia de massa. (WELLER, 2005, p. 01)
Considerando os fatores ideológicos, políticos e de lazer, pode-se
perceber que o esporte abrange as mais diversas áreas de atuação e influência,
sendo de fundamental importância a garantia a seu acesso, independente de raça,
11
Segundo publicação do Blog André Soares, time de várzea: são clubes de prática amadora, que
funcionam informalmente, com o intuito de reunir amigos nos fins de semana, 2014.
40
gênero, classe social, religião ou limitação. Dessa maneira, expressa Weller (2005):
[…] percebe-se uma grande aderência à atividade esportiva, tanto em
quantidade de instituições que as utilizam quanto pela diversidade dos
praticantes. Nelas se valem dessas práticas, tanto portadores de deficiências
diversas, idosos, crianças e adolescentes de baixa renda, como pessoas em
processos diversos de reabilitação e outros. (WELLER, 2005, p.04)
Conforme ainda o mesmo autor, observa-se que muitas entidades presas
a uma visão assistencialista, acabam realizando trabalhos de caráter reformador,
procurando “melhorar” o comportamento do jovem, valorizando pouco a bagagem
cultural da sua clientela e não os estimulando a desenvolverem maior consciência
dos deveres, direitos, interesses e responsabilidades, que os levem a atuar como
membro consciente e ativo da sociedade.
Para Weller (2005), entretanto, essa aderência parece ocorrer por motivos
diversos, pois existem muitos discursos explicativos, aceitos sem questionamentos
como, por exemplo, de que o esporte “ajuda a pessoa a ficar mais tranquila, mais
disciplinada, mais motivada”, e assim por diante, parecendo existir muitas
expectativas a respeito dos benefícios da prática esportiva. Entretanto, estes
discursos nem sempre são fundamentados nas suas reais possibilidades e nem
sempre respondem aos anseios dos praticantes. (Weller, p.04)
As altas expectativas, criadas com relação ao esporte de rendimento,
fornecem tanto ao jovem quanto à sociedade um imaginário idealizado de ações
voltadas a partir dele. Inúmeras pessoas pensam no esporte como um meio de vida,
ascensão e estrelato, o que muitas vezes não é possível para todos. Os ganhos
através do esporte podem percorrer vários caminhos e assim oferecer ou não o
alcance de resultados satisfatórios.
Com isso, o esporte de rendimento não pode ser considerado o vilão da
história, ele deve ser trabalhado de maneira crítica e centrada por todos os
profissionais que perpassam sua trajetória. Proporcionar investimentos nos meios
estruturais e profissionais para a efetivação do esporte com qualidade já é uma das
alternativas para torná-lo mais acessível. Conforme expressa Weller (2005):
[...] por um lado expectativas altas em relação aos benefícios da prática
esportiva, por outro lado, porém, verificou que muito pouco está sendo
investido para alcançar estes resultados. Frequentemente o ensino de
esporte é de responsabilidade de monitores e/ou voluntários sem o menor
preparo, além de existirem carências em materiais e espaços adequados.
Dessa forma, mais uma vez os jovens em situação de risco, se vêem
deparados com a falta de acesso a um ensino de qualidade e a
impossibilidade de sair do seu meio, o que poderia ser propiciado, por
exemplo, pela participação em campeonatos. (WELLER, 2005, p.04)
41
Desvelando o esporte, percebe-se que este possui seu viés mercantilista,
quando se fala em rendimento, entretanto possui seu lado educacional e
participativo. O “movimento esporte para todos” surge com uma vertente social, indo
de encontro com aquilo que se espera do esporte competitivo e lucrativo
financeiramente. Sua abrangência vai além do espetáculo e se torna palco de
desenvolvimento e formação. Conforme expressa Tubino (2011):
[…] o movimento esporte para todos, nascido no sentido contestatório do
esporte de alto nível, possibilitou grandes campanhas de valorização das
práticas esportivas, reforçando muito o aumento da abrangência do renovado
conceito de esporte. (TUBINO, 2011, p.15).
Conforme ainda o mesmo autor, vê-se que após a ampliação da
abrangência do conceito do esporte, este passou a oferecer um elenco maior de
aspectos socialmente relevantes, os quais passaram a se constituir em objetos de
inúmeros estudos sociológicos. Dessa maneira, expressa Tubino (2011):
Por outro lado, o exame diário do esporte pela mídia prova de forma
inequívoca o interesse da população mundial por este fenômeno. Também o
aumento considerável do número de praticantes de esporte no mundo e o
surgimento ininterrupto de novas modalidades esportivas, sob diferentes
perspectivas, evidenciam que o esporte, pela sua crescente relevância social,
tornou-se um dos mais importantes fenômenos do final do século XX.
(TUBINO, 2011, p.17)
Dito isto, Tubino (2011) define o esporte em oito aspectos de abordagem,
justificando sua relevância social: o associacionismo é uma espécie de organização,
que visa reunir esforços coletivos em prol de angariar os materiais necessários para
a prática esportiva, o esporte como instituição social, que visa promover valores para
ser reconhecido como tal, o envolvimento social do esporte e o aparecimento do
homo sportivus, que incorpora a atividade física em seu cotidiano de forma
abrangente, a interdependência do bem-estar social com a relação estadosociedade-esporte, que traz o estado de dependência a ações governamentais, que
visa oferecer o esporte popular, mas acabam por fracassar, esporte como meio de
democratização visa proporcionar o esporte livre como um direito de todos,
compromisso do homem com a natureza que fomenta a criação de associações
próprias do ramo, por fim, a relevância sociocultural da relação jogo-esporte é
retomada de valores sociais, culturais e de bem-estar, esquecidos pela força
mercadológica do fenômeno esportivo.
O primeiro deles é o associacionismo no esporte: em que a necessidade
de associação no esporte pressupõe um esforço no sentido de reunir as condições
42
materiais necessárias para que seja apresentado um sentido de democracia interna
na organização esportiva. Infelizmente, em alguns casos se delimitou ao se vincular
aos esquemas de poder, assim os clubes foram substituídos por empresas.
(TUBINO, p. 19)
Segundo Tubino (2011), outro aspecto é o esporte como instituição social:
para ser considerada uma instituição socialmente, representar uma forma de
atividade social, promover identificações sociais, e, ao mesmo tempo, ao constituirse num problema social e num problema humano, deve-se promover valores.
(TUBINO, p. 19-20)
Conforme ainda o mesmo autor, têm-se, como terceiro aspecto, o
envolvimento social do esporte e o aparecimento do homo sportivus: a quantidade
de envolvidos, socialmente no esporte, é crescente em todo o mundo, desde os
usuários praticantes até os usuários passivos desse fenômeno. O homo esportivos
é aquele que, de alguma forma, incorpora a atividade física às suas culturas
individuais. (TUBINO, p. 20-21)
De acordo com Tubino (2011), o quarto aspecto é a interdependência do
bem-estar social com a relação estado-sociedade-esporte: os esforços para
uniformizar os serviços sociais, na maioria das vezes, têm provocado sérios
conflitos, derivados das agressões nas realidades regionais culturais e étnicas. No
caso específico do esporte, constata-se que muitos programas de esporte popular,
ligados a ações governamentais, têm fracassado devido às indisposições causadas
pelas contradições internas. (TUBINO, 2011, p. 22-23)
Prosseguindo com os demais aspectos, Tubino (2011) faz referência ao
esporte como meio de democratização: a democratização pelo esporte implicará
sempre em uma prática esportiva livre, em que a liberdade estará sempre implícita.
Esta é uma das razões mais efetivas para que o esporte não seja considerado um
fim em si mesmo, mas que possa permanentemente servir de meio indiscutível de
formação e libertação dos seus praticantes. (IDEM, 2011, p. 25-26)
Conforme ainda o mesmo autor o sexto aspecto traz o esporte e o
compromisso do homem com a natureza: o número de praticantes de esportes ao ar
livre é crescente, sem se vincular aos tradicionais sistemas esportivos, criando
organizações próprias e atípicas. (IBIDEM, 2011 p. 28-29)
Tubino (2011) revela o sétimo aspecto, a relevância sociocultural da
relação jogo-esporte: enquanto perdurou a perspectiva única do rendimento, tornou-
43
o muito mais competição do que jogo, perdendo parte do seu significado
sociocultural inicial. No entanto, a aceitação de um conceito mais amplo do esporte,
envolvendo também compromissos com os preceitos de bem-estar social e de
educação, levou este fenômeno à retomada destes valores e significados que
estavam em processo de redução. (TUBINO, p. 29- 30)
Assim, pode-se concluir com o último aspecto, o direito à prática esportiva
é um fator de novas dimensões sociais para o esporte, quando o fenômeno esportivo
já era discutido na exaustão social do esporte de alta competição, surgiu, como
síntese de uma reação da intelectualidade mundial do esporte, a vinculação da
prática esportiva ao conjunto de direitos sociais do homem contemporâneo, de modo
que o esporte, agora mais ampliado e abrangente no seu conceito, pudesse atender
às necessidades das três dimensões sociais (educação, participação e performance)
do renovado conceito de esporte. (IDEM, 2011, p. 32)
Conforme ainda Tubino (2011), as três dimensões sociais do esporte
acontecem a partir do pressuposto do direito de todos à prática esportiva, passou a
ser compreendido através das três manifestações esportivas, que, na verdade, são
as formas de exercício deste direito, e constituem-se nas efetivas dimensões do
esporte. Dessa forma, expressa Tubino (2011): “[…] o esporte, como instituição
social, não deve ser analisado fora de suas dimensões sociais, porque esta seria
uma via reducionista, que levaria a uma visão e perspectiva anacrônica deste
fenômeno.” (IBIDEM, 2011, p.35).
Para Tubino (2011), o esporte-educação tem um fim eminentemente
social, ao compreender o esporte como manifestação educacional, tem que exigir do
chamado esporte-educação um conteúdo fundamentalmente educativo. Porém, nem
sempre a prática ocorre dessa maneira, os conceitos do esporte-educação são
confundidos com as demais dimensões. Dessa maneira, expressa Tubino (2011):
Nesta perspectiva equivocada, as competições escolares, que deveriam ter
um sentido educativo, em vez disto, simplesmente reproduzem as
competições de alto nível, com todas as suas características, inclusive com
seus vícios, deformando qualquer conceito de educação. (TUBINO, 2011,
p.36)
A próxima dimensão a ser abordada é o esporte de participação,
referenciado com o princípio do prazer lúdico, e que tem como finalidade o bemestar social dos seus participantes. Também oferece oportunidades de liberdade a
cada praticante, a qual se inicia na própria participação voluntária. Além das
44
condições hedonísticas, que o envolvem, tem o seu valor social evidenciado na
participação e nas alianças ou parcerias desenvolvidas. Conforme expressa Tubino
(2011):
O esporte participação, como a própria denominação sugere, ao promover a
participação e ao obter sucesso neste seu objetivo principal, pode-se afirmar,
equilibra o quadro de desigualdades de oportunidades esportivas encontrado
na dimensão do esporte performance. Enquanto o esporte-performance só
permite sucesso aos talentos ou aqueles que tiveram condições, o esporte
participação, ao contrário, favorece o prazer a todos que dele desejarem
tomar parte. (TUBINO, 2011, p. 40)
Por fim, pode-se descrever o esporte-performance ou de rendimento
como um esporte socialmente importante pelos efeitos que exerce sobre a
sociedade. Há uma tendência que ele seja praticado, principalmente, pelos
chamados talentos esportivos, o que o impede de ser considerado uma
manifestação comprometida com os preceitos democráticos. É também a dimensão
social que propicia os espetáculos esportivos, em que uma série de possibilidades
sociais positivas e negativas pode acontecer. Assim expressa Tubino (2011):
[...] é no esporte de rendimento que a literatura de crítica aguda ao esporte se
encontra, principalmente pelos autores que combatem o capitalismo, que
consideram o esporte de competição e suas vinculações com negócios
financeiros sintomas evidentes de um capitalismo exacerbado. (TUBINO,
2011, p.41)
O esporte deve ser de fácil e livre acesso a todos aqueles que têm
curiosidade de aprender e de se aprimorar, seja qual for a modalidade escolhida.
Diante disso, o tópico seguinte abordará os marcos legais desse fenômeno,
esclarecendo sua importância e suas dimensões na perspectiva social.
3.3 Esporte e seus marcos legais
Como constituintes dos marcos legais do esporte, tem-se como ponto de
partida desse tópico a Constituição Federal de 1988, tomando por base o Art.217, do
Capítulo III da Educação, da Cultura e do Desporto, que apresentam o dever do
Estado enquanto ao ato de fomentar práticas esportivas. Percebe-se que o esporte é
tratado não só como atividade recreativa ou mesmo atividade que relacione o
esporte apenas ao rendimento, mas em provocar a autonomia dos indivíduos como
forma de promoção social. Conforme expressa Lacocca (2003):
É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como
direito de cada um, observando: a autonomia das entidades, a destinação de
recursos públicos, o desporto educacional e o incentivo às manifestações de
criação nacional. Tendo como finalidade ofertar o lazer como forma de
45
promoção social. (LACOCCA, 2003, p.55)
Reforçando o que foi dito acima, pode-se destacar o dever do Estado em
garantir as práticas desportivas formais e não formais, bem como o fator autonomia
das entidades desportivas e a diferença entre o financiamento das práticas
educacionais e de alto rendimento.
As práticas desportivas também são dever do Estado e direito de cada
um. O Estado deve promover a autonomia das entidades e associações desportivas,
destinando recursos para promoção do desporto educacional em tom de prioridade e
para o desporto de alto rendimento em casos específicos, com proteção e incentivo
às manifestações desportivas de criação nacional, diferenciando o desporto
profissional e o não profissional, conforme descrito na Constituição Federal (1988):
Art.217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não
formais, como direito de cada um, observados:
I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a
sua organização e funcionamento;
II - a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto
educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento;
III - o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não
profissional;
IV - a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação
nacional.
§1º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às
competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça
desportiva, regulada em lei.
§2º A justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias, contados da
instauração do processo, para proferir decisão final.
§3º O poder público incentivará o lazer, como forma de promoção social.
(BRASIL, 1988)
É garantido por lei ao jovem o usufruto da prática esportiva. Em vista
disso, observamos o conteúdo do Art. 3 das diretrizes gerais do Estatuto da
Juventude, atribuindo especial destaque para o inciso V, que trata de garantir meios
e equipamentos públicos que promovam o acesso à produção cultural, à prática
esportiva, à mobilidade territorial e à fruição do tempo livre. Os agentes públicos ou
privados envolvidos com políticas públicas devem garantir o acesso do jovem a
essas práticas.
Nos parâmetros legais que dizem respeito à temática do esporte, tem-se:
O Estatuto da Juventude como base nos Art.28 da Seção VIII do direito ao desporto
e ao Lazer, em que o jovem tem direito à prática desportiva destinada a seu pleno
desenvolvimento com prioridade para o desporto de participação. Dessa maneira, a
46
prática esportiva vem apresentada como direito do jovem, com aspecto de primazia
ao aprimoramento do mesmo.
O esporte e o jovem estão ligados legalmente, o estatuto da juventude
aborda o direito do jovem às práticas esportivas. Assim, podem-se destacar o Art. 3
e o Art. 28, mencionados acima. O lócus desta pesquisa foi criado especificamente
para trabalhar o que rege a lei, o que representa um grande avanço naquilo que se
refere a equipamentos para usufruto dessas práticas, principalmente com
direcionamento específico para determinado público.
Ainda falando sobre os marcos legais, também se pode citar a lei 12.395
de 16 de Março de 2011, que institui normas gerais sobre o desporto, o bolsa atleta
e os programas atleta pódio e cidade esportiva. Atribuindo grande expressividade ao
esporte de alto rendimento.
A lei 10.264 de 16 de Julho de 2001, que acrescenta inciso e parágrafos
ao art.56 da lei 9.615 de 24 de Março de 1998, que reúne informações sobre o
percentual de recursos financeiros destinados ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB)
e ao Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), da mesma maneira que relata de onde
estes provêm.
O esporte de alto rendimento é o mais valorizado, por possuir resultados,
por atrair patrocínios, por exportar atletas, por trazer visibilidade, seja ela, regional,
nacional ou internacional. Porém, todo atleta profissional precisou antes passar por
categorias de base e, para isso, é necessário investimento.
Tendo em vista que é dever do Estado prover esse financiamento, podemse citar os percentuais previstos em lei para cada modalidade: O Art.56 da lei 9.615
de 1998 trata das normas gerais sobre o desporto. O Capítulo VIII trata dos recursos
para o desporto, tendo por base os parágrafos 1º e 2º, no total de recursos
destinados ao desporto, 85% são destinados ao Comitê Olímpico Brasileiro e 15%
são destinados ao Comitê Paraolímpico Brasileiro. Sendo destes, 10% destinados
ao desporto escolar e 5% ao desporto universitário.
Diante do exposto, o que chama atenção é que, na prática, esse
investimento parece ser bem inferior, principalmente quando se trata de prover esses
recursos em bairros de classe baixa, pouco se vê investimento ou mesmo a
preocupação em manter os já existentes, conforme expressa Brenner (2008):
Chamam a atenção a pouca abrangência dessas ações [...] e o que é mais
sério: o detalhamento dos dados aponta que os jovens das camadas
populares, que deveriam ser os sujeitos privilegiados […]. são exatamente
47
aqueles que têm menos acesso a tais projetos. Essa evidência deve servir
para que, na oferta de atividades, instalações e equipamentos [...] para os
jovens, sejam consideradas as especificidades das situações de vida dos
setores mais empobrecidos da população, que, mesmo diante da oferta,
encontram maiores dificuldades para participar. (BRENNER, 2008, p.33)
O mesmo ocorre com o esporte, que sofre com a falta de investimento, os
jovens, por sua vez, são os maiores prejudicados, pois isso promove obstáculos
para tais atividades, conforme expressa Brenner (2008):
Em relação ao acesso a atividades esportivas, o índice de participação é
ainda menor [...]: 72% dos jovens brasileiros nunca participaram de alguma
atividade esportiva promovida pelo poder público. Esse alto índice indica o
pouco investimento feito em ações que democratizem as práticas esportivas.
(BRENNER, 2008, p. 33-34)
O jovem ainda é pouco beneficiado com o acesso às práticas esportivas,
as políticas são seletivas e muitos desses jovens nunca tiveram ou terão a
possibilidade de ingressar em alguma delas de modo institucionalizado. As
desigualdades com relação às oportunidades ainda são gritantes, e os serviços
prestados até o presente momento são oportunizados de maneira precária e sem
continuidade. Conforme expressa Brenner (2008):
Os contrastes socioeconômicos da sociedade brasileira se manifestam
eloquentemente na desigualdade da qualidade do tempo livre juvenil e no
precário acesso a bens, serviços e espaços públicos de cultura e lazer da
maioria da população juvenil. (BRENNER, 2008, p.41)
Considerando todo esse contexto legal, percebe-se que o esporte está
atrelado a múltiplos fatores, sendo os principais deles os financeiros e de garantia de
direitos, que incluem o emprego da cidadania e a promoção da inclusão social.
Sendo o jovem objeto de análise dessa pesquisa, analisando as leis pôde-se
perceber que o investimento nas práticas esportivas de base ainda é insuficiente
para que o mesmo seja difundido e assim muitos continuam sem ter acesso a ele.
Dessa maneira, expressa Brenner (2008):
Num quadro de profundas restrições orçamentárias, tanto das famílias quanto
do Estado, a cultura e o lazer são frequentemente vistos como algo supérfluo
ou mesmo privilégio de uns poucos. Políticas públicas de juventude devem
ser capazes de atuar sobre essas condições desiguais, favorecendo a criação
de condições materiais que ampliem as possibilidades dos jovens de fruição
do seu tempo livre, ao mesmo tempo em que ampliem esferas públicas
democráticas de cultura e lazer. (BRENNER, 2008, p.41)
Em pesquisa publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
(IBGE) no ano de 2001, levantando dados do perfil da juventude Brasileira,
observou-se que mais da metade dos jovens brasileiros declarou na pesquisa que
48
gostaria de fazer parte de algum clube ou associação esportiva. Ou seja, mesmo
diante dos marcos legais, vê-se que as leis não garantem esse acesso, no que tange
as vias de fato, muito menos, garantem o fator participação na prática esportiva, o
que condiciona o jovem, assim como a qualquer outro, a custear esses serviços, ou
a se contentar em jogar apenas nos campos de várzea de seu bairro, ou
proximidades. O investimento existe, mas não de maneira satisfatória, pois não
atende a todos como é previsto em lei. (BRASIL, 2008, p. 34).
A Carta Internacional da Educação e do Esporte da UNESCO, do ano de
1978, já apontava o esporte com um direito humano efetivo, consistindo em deixar
as pessoas livres para desenvolver e preservar suas aptidões físicas, intelectuais e
morais, e que, consequentemente, o acesso a ele possa ser garantido a todos.
Conforme expressa o Art. 1 deste documento:
1.1. Todo ser humano tem o direito fundamental de acesso à educação física
e ao esporte, que são essenciais para o pleno desenvolvimento da sua
personalidade. A liberdade de desenvolver aptidões físicas, intelectuais e
morais, por meio da educação física e do esporte, deve ser garantida dentro
do sistema educacional, assim como em outros aspectos da vida social.
1.3. Oportunidades especiais devem ser disponibilizadas aos jovens,
incluindo crianças em idade pré-escolar, idosos e pessoas portadoras de
deficiências, a fim de possibilitar o desenvolvimento pleno de sua
personalidade, por meio de programas de educação física e de esportes
adequados às suas necessidades. (UNESCO, 1978, p. 03)
Continuando a citar o mesmo documento, e ressaltando o direito junto à
efetivação, a carta acredita que o esporte deve contribuir de forma mais efetiva para
inculcar os valores humanos fundamentais subjacentes ao pleno desenvolvimento
dos povos.
Promovendo comunhão, competição, solidariedade, respeito mútuo,
integridade e dignidade aos seres humanos. O que não o limita somente ao bemestar físico e à saúde, mas contribui para o pleno equilíbrio e desenvolvimento.
Conforme expressa o Art. 9 deste documento:
9.1. É fundamental que autoridades públicas de todos os níveis, bem como
órgãos não governamentais especializados, incentivem as atividades
esportivas e de educação física que tenham valor educacional mais evidente.
Suas ações devem consistir no fortalecimento da legislação e da
regulamentação, de modo a fornecer assistência material e a adoção de
todas as outras medidas que visem a incentivar, estimular e controlar. As
autoridades públicas também devem assegurar que sejam adotadas medidas
fiscais que incentivem tais atividades. (UNESCO, 1978, p. 05)
Seguindo com essa proposta, a carta visa o esporte como um fenômeno
de desenvolvimento social, tornando-o direito real e priorizando os grupos sociais
mais desfavorecidos. Para isso, é necessário investimento em equipamentos e
49
instalações adequadas para a prática esportiva. Diante dessas ideias, conforme
expressa o Art. 3 e o Art. 5 deste documento:
3.1. Os programas de educação física e de esporte devem ser elaborados de
forma a satisfazerem as necessidades e as características pessoais de seus
praticantes, assim
como as condições institucionais, culturais,
socioeconômicas e climáticas de cada país. Deve ser dada prioridade às
necessidades de grupos sociais desfavorecidos.
5.1. Devem ser disponibilizados equipamentos e instalações suficientes e
adequados, para possibilitar a participação intensiva e segura, dentro e fora
da escola, em programas de educação física e de esporte.
5.2. Governos, autoridades públicas, escolas e agências privadas pertinentes,
em todos os âmbitos, são responsáveis por unirem forças e planejarem, em
conjunto, a disponibilização e o melhor uso das instalações, locais e
equipamentos para a educação física e o esporte. (UNESCO, 1978, pp. 03 e
04)
Voltando um pouco mais no tempo, destaca-se a Lei 6.251 de 1975, que
preconizava apenas o esporte de rendimento. Conforme a Política Nacional do
Esporte (2005), o esporte era entendido somente como rendimento, isto é, existia
unicamente nos documentos legais do país o esporte institucionalizado e as práticas
não formais esportivas eram entendidas como recreação.
Seria necessária, assim, a construção da figura do esporte como uma
política de Estado. Dessa maneira, a Política Nacional do Esporte buscou abordar o
esporte com um novo viés, pois o esporte, ao deixar de ser entendido unicamente na
perspectiva do rendimento, passa a ser percebido também na perspectiva do social
(Esporte Educacional, Esporte para Portadores de Deficiências, Esporte para a
Terceira Idade, Esporte para as Pessoas Comuns etc.), passou a intervir
efetivamente na Saúde, na Educação e no Lazer das pessoas. É evidente que esta
abrangência ampliada do alcance do Esporte no país, fez com que o mesmo fosse
gradualmente se tornando uma prioridade do Estado.
Finalmente, ao identificar as dimensões sociais do esporte, suas
influências e os seus papeis na sociedade, compreende-se sua relevância social e a
forma como as categorias desta pesquisa trabalham de modo articulado e em
conjunto.
Dito isso, o terceiro capítulo do presente estudo fará uma análise das
entrevistas realizadas com os profissionais do CUCA e com os usuários, mais
precisamente, com os jovens atendidos pelo mesmo. Apresentará ainda os efeitos
negativos
do
esporte
moderno
e
suas
novas
implicações.
51
4 PROFISSIONAIS E USUÁRIOS DO CENTRO URBANO DE CULTURA, ARTE,
CIÊNCIA E ESPORTE (CUCA).
4.1 Profissionais do Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte
Com base na proposta metodológica apresentada no primeiro capítulo
desta investigação, foi entrevistado para essa pesquisa o total de duas pessoas, que
atuam ou atuaram como profissionais do CUCA. Um deles é educador social. O
outro é profissional de Educação Física, visando esclarecer as inquietações desta
pesquisa, a escolha por estes profissionais foi feita devido à aproximação destes
com o tema proposto no estudo e pelo fato destes trabalharem diretamente com a
juventude. O número de entrevistados escolhidos para a pesquisa se deu a partir do
interesse dos mesmos em responder aos questionamentos do presente estudo, por
isso o número reduzido de entrevistados.
No decorrer desta análise, a pesquisadora buscou a aproximação com o
objetivo da pesquisa, identificando na fala dos entrevistados a perspectiva real da
situação vivenciada dentro da instituição.
Atribui-se, com o objetivo de preservar a identidade e o sigilo dos sujeitos
que contribuíram para o estudo, identificações fictícias aleatórias intituladas de
Lucas e Natan. Essa nomenclatura não possui relação com a ordem em que as
entrevistas foram realizadas nem com a ordem dos perfis acima indicados.
O primeiro entrevistado atribui o nome fictício de Lucas, com o objetivo de
preservar-lhe a identidade e resguardando os aspectos éticos deste estudo. Em
especial, essa entrevista foi concedida no ano de 2012, quando a pesquisadora deu
início ao projeto de pesquisa. Por conta de reestruturações no local e mudança de
gestão, o profissional não faz mais parte do quadro de funcionários do Centro. Este
permaneceu em atividade profissional no local até o ano de 2014, a vaga encontrase ociosa até o presente momento e, por este fato, não foi possível realizar a
entrevista no ano de 2014 com outro profissional da área. O mesmo trabalhou no
Centro por aproximadamente 04 (quatro) anos, desde a criação do CUCA, sendo ele
o precursor no trabalho com o esporte do local.
Lucas é graduado em Educação Física e tem uma longa experiência no
esporte nas vertentes de participação e alto rendimento. Possui ainda experiência
em projetos, que visam o lado social da prática esportiva, este foi membro da
52
Coordenação do Programa Esporte na Comunidade12, programa este executado
pela Secretaria de Esporte e Lazer da Prefeitura de Fortaleza (SECEL).
Outro profissional que contribuiu para esta pesquisa atribui o nome fictício
de Natan, que atuou no CUCA desde sua implementação até o ano de 2014, e que
também não faz mais parte do quadro de funcionários da instituição, cujos serviços
foram dispensados dois dias após esta entrevista.
O Natan tem uma longa caminhada em trabalhos com a juventude, o
mesmo é militante do Movimento Hip Hop Organizado do Brasil (MH2O) há cerca de
dez anos, sendo um de seus fundadores no Estado do Ceará. Segundo Natan, o
MH2O é um movimento que trouxe para as comunidades oficinas de grafite, rap e
break, atendendo nos locais mais esquecidos, excluídos e marginalizados pela
sociedade e pelos seus governantes.
O mesmo também foi integrante de uma das gangues mais conhecidas
da grande fortaleza: A CDM (Criaturas da Maldição), responsável por organizar
bailes funk, no antigo gigantão da Av. José Bastos. Na referida localidade, eles
incitavam a violência, propondo o “lado a” e o “lado b”, prática corriqueira nos bailes
funk dos anos 2000. Estes também frequentavam estádios de futebol e faziam parte
de torcidas organizadas.
Natan intitula-se “pesquisador da juventude”, atuando na ponta dos
movimentos sociais há mais de dez anos, com experiências na Fundação da
Criança e da Família Cidadã (FUNCI) e no Programa Nacional de Inclusão de
Jovens (PROJOVEM) adolescentes.
Tendo como objetivo desta pesquisa, compreender como o esporte
poderia contribuir para a inclusão social e para a construção da cidadania. As
perguntas feitas durante as entrevistas foram pautadas com o cuidado de analisar a
perspectiva do profissional, enquanto agente de transformação social, nessas
categorias.
Naquilo que tange a inclusão social, Lucas, expôs que “a inclusão através
do esporte não ocorre somente dentro da instituição, o esporte proporciona aos
jovens voos mais altos, pois por intermédio dele, os jovens têm acesso a bolsas de
estudo, e podem trabalhar a sua autonomia.” De acordo com o entrevistado, muitos
12
O Programa Esporte na Comunidade (Atleta Cidadão), ao todo, possui 50 núcleos espalhados
pelas sete Secretarias Regionais de Fortaleza, que irão levar esporte às comunidades, tratando a
prática como ferramenta pedagógica, 2014.
53
deles sequer saíam do bairro, ou frequentavam outros lugares, a não ser nos
arredores de suas comunidades, hoje isso é diferente. A inclusão acontece quando
se conhece o novo, e não quando se tem contato com os pares, participar de novas
experiências e oportunizar a eles novos conhecimentos. Dessa maneira, conforme
expressa Cunha (2007):
Fica claro no teor do mesmo o princípio da inclusão, não havendo qualquer
tipo de discriminação, garantindo a igualdade na prática esportiva. Para isso,
a maneira com que o esporte é abordado deve ser estudada a fundo não
permitindo nas atividades esportivas nenhuma forma de exclusão. (CUNHA,
2007, p.13)
Segundo Lucas, “essa prática tem como objetivo construir uma nova
visão para os jovens, mostrando que eles são capazes.” Levando em consideração,
que a maioria deles adentra a carreira esportiva muito cedo e não consegue conciliar
a escola com os treinamentos. Segundo Marques (2009, p.107), “jovens atletas
envolvidos no esporte de competição têm dificuldade de conciliar estudos e vida
esportiva. Mais da metade dos atletas estão defasados em relação à série
correspondente à sua faixa etária.”.
Com o exposto, pode-se analisar que, para trabalhar-se a cidadania, a
inclusão social, a participação juvenil, a profissionalização e a consciência dos
jovens é necessário um esforço coletivo. O esporte é apenas uma das ferramentas
para a concretização desses propósitos. E jamais conseguiria alcançá-los sozinho.
Através dele novas oportunidades podem surgir, a bolsa de estudo é apenas uma
dessas oportunidades.
Um fato que chamou muito a atenção foi que para ingressar no CUCA
não é necessário que o aluno esteja matriculado em qualquer instituição de
educação. Segundo Lucas, “não existe nenhuma restrição do acesso do jovem ao
equipamento, pelo contrário, nós recebemos e queremos aqueles que não estão
matriculados em escolas, existem regras e frequências.” Conforme expressa Correa
(2008, p.22): “As chances são poucas quando os jovens não têm meios para se
constituir autores de suas biografias.”.
A perspectiva do entrevistado vai de encontro à concepção de Trindade
(2010, p.03), quando afirma a certa falta de preocupação com a situação escolar dos
jovens. “A prática esportiva poderá se relacionar com as demais áreas, só assim a
formação se tornará completa. Algumas instituições utilizam essa ferramenta como
ação formadora.”
54
As atividades lúdicas não são as únicas formadoras de um indivíduo, o
jovem precisa de educação, formação, disciplina e lazer. Na fala do entrevistado, a
pesquisadora pôde observar certa falta de regras, pois o único modo de controlar a
entrada e a saída dos jovens de cada atividade é a frequência. Caso o mesmo não
cumpra, poderá se matricular normalmente e esperar vaga, o que não lhe ocasiona
ônus algum. Essa liberdade não pode ser praticada de forma abusiva, percebe-se a
falta de limites, é como se não existisse um parâmetro. Caso atinja o limite de faltas,
o jovem poderá perder a vaga ou não, ou seja, é-lhe dada uma nova oportunidade
sem qualquer questionamento.
Sendo que muitos não conseguem sequer ter o
acesso inicial a estes serviços.
Como se pode perceber, a inclusão social poderá ser efetivada a partir
das demais ações conjuntas ao esporte, mas as dificuldades de como o profissional
lida com o público e como esse público responde ao programa que é proposto.
Com relação às dificuldades que os profissionais enfrentam, o
entrevistado conta que não encontra nenhuma e que os jovens têm o direito de ir e
vir livremente. Conforme expressa Lucas (2012):
Os profissionais não enfrentam nenhuma dificuldade, pois estes não tentam
mudar a cabeça dos jovens. O acesso inicial ao espaço acontece de forma
espontânea, obviamente, que existem alguns casos de jovens com o histórico
de violência social, consumo de drogas, com histórico de problemas em casa,
com a família, questões de justiça, mas isso não é considerado uma
dificuldade. (LUCAS, 2012)
Os históricos de problemas sociais, como a violência física e social, o
consumo de drogas e questão de justiça não são considerados por Lucas como
dificuldades, pois segundo o mesmo, os profissionais não tentam mudar a cabeça
dos jovens, pois estes aprendem por si só a lidar com tais barreiras, sendo eles
vitimas da reprodução do submundo da modernidade capitalista. Dessa maneira,
expressa Correa (2008):
Diante da desigualdade social no Brasil, os jovens são, geralmente, situados
socialmente nos dois extremos. Os jovens abastados seriam mais os atores
socialmente responsáveis para assumir o encargo da reprodução de uma
sociedade moderna, enquanto os jovens desfavorecidos seriam os
responsáveis e as vítimas da reprodução de um tipo de submundo da
modernidade. (CORREA, 2008, p.22)
Dessa maneira, segundo Weller (2005, p. 07): O educador precisa ter
clareza destas dificuldades para poder lidar melhor com o comportamento dos seus
alunos e planejar as atividades de tal forma que eles aprendam a lidar com as
exigências sem que percam a motivação para continuar a prática esportiva.
55
Os
ensinamentos
não
são
pautados
na
repressão
e
sim
no
compartilhamento de ideias e pensamentos. O entrevistado também ressalta que, a
comunicação inicial é uma das dificuldades enfrentadas, mas que com o passar das
atividades esse problema é sanado. Muitos têm o seu primeiro contato com regras
nesse espaço e de início não entendem essa relação. Conforme expressa Brenner
(2008):
Os jovens revelam com nitidez situações de vida e processos sociais que
reafirmam os traços de diversidade, ao mesmo tempo em que denunciam que
esta se processa sobre bases socioeconômicas desiguais, que incidem sobre
as possibilidades de acesso. (BRENNER, 2008, p.30)
O jovem participa de toda e qualquer atividade, desde que os horários
permitam isso, não se limitando apenas à prática esportiva, pois o centro possui
diversos cursos profissionalizantes, de áreas bastante diferentes, que proporcionam
aos jovens o acesso a conteúdos pouco difundidos para as classes menos
favorecidas,
como
curso
de
fotografia,
rádio,
artes
gráficas,
audiovisual,
fotojornalismo e etc. Muitos se descobrem nas mais diversas áreas.
No entanto, a participação ainda é maior por parte de pessoas do sexo
masculino, Lucas relata a disparidade de gênero, que ainda ocorre nas práticas
esportivas, a procura ainda é maior por jovens do sexo masculino.” Conforme
expressa Brenner (2008):
Há participação desigual quando se considera a variável “gênero”: 33% de
homens e 22% de mulheres praticam algum esporte. Os dados evidenciam a
tradicional divisão socioespacial brasileira, na qual os homens possuem maior
mobilidade sócio-comunitária no espaço público, enquanto as mulheres estão
mais circunscritas ao espaço doméstico e têm menor mobilidade para praticar
de atividades extrafamiliares. (IDEM, p.34)
O esporte não é o único elemento de inclusão social e construção da
cidadania abordado neste estudo, o trabalho multidisciplinar do CUCA é
extremamente importante para os jovens. Segundo Brenner (2008, p.30): “Na prática
do lazer, os indivíduos buscam realizar atividades, que proporcionem formas
agradáveis de excitação, expressão e realização individual. As atividades de lazer
criam certa consciência de liberdade ao permitir uma fuga temporária à rotina
cotidiana de trabalho e obrigações sociais.”.
Na área dos esportes, existe a profissionalização através dos cursos de
monitoria, os jovens aprendem na prática, que aquela atividade pode se tornar
profissão, não, necessariamente, sendo um atleta, mas atuando em seu esporte
favorito como treinador, árbitro, auxiliar, preparador e etc. O esporte possibilita um
56
universo de ramificações que podem ser seguidas por eles. A experiência na
monitoria poderá trazer ao jovem a vivência para o mercado de trabalho, como se
fosse um passo inicial para o fazer profissional. Conforme expressa Weller (2005):
[...] exigências fazem parte da nossa sociedade, especialmente no momento
de entrar no mercado de trabalho. […] a participação em competições pode
ajudar em muito nesta aprendizagem, pois, neste momento, os praticantes
precisam adquirir um compromisso maior com o treino, além de facilitar uma
maior motivação para tal, pela maior identificação com o esporte que
praticam. (WELLER, 2005, p. 07)
Com o passar do tempo, os profissionais percebem mudanças em
diversos aspectos destes jovens, a educação e o convívio com as outras pessoas, a
tolerância, os aspectos físicos e de saúde, a consciência de seus direitos e deveres,
bem como de seu papel na sociedade, melhora sua autoestima, afirma a sua
personalidade, o jovem se modifica de dentro para fora. Conforme expressa Weller
(2005):
Além de oferecer a possibilidade de trabalhar estas dificuldades é consenso
na literatura que o esporte pode ajudar também a aumentar a autoestima,
contribuir positivamente no desenvolvimento da personalidade e se tornar um
espaço no qual o jovem pode experimentar comportamentos diferentes.
(IDEM, p.07)
Natan trouxe para a pesquisa uma perspectiva mais aproximada da
realidade dos jovens, bem como uma vivência real do cotidiano enfrentado por eles
e pelos profissionais do local. Também falou abertamente das dificuldades
enfrentadas por ele e pelos demais, em seu local de trabalho.
Por ter vivenciado, pessoalmente, os aspectos negativos da juventude
pobre, marginalizada e discriminada, o entrevistado se viu como arquiteto desta
temática e passou a trabalhar com esse público, em locais que ninguém mais queria
frequentar, pessoas com que muitos não tinham paciência de lidar, como ele mesmo
salientou na entrevista: “os jovens são a solução e não o problema.” Dessa maneira,
expressa Brenner (2008, p.29): “o erro de se compreender a juventude como uma
realidade homogênea aparece com expressiva frequência no senso comum em
relação ao tempo livre e ao lazer.”.
Os jovens apresentam comportamentos que são reflexos do mundo
mercantilista e consumista em que vivemos, o desejo pelo consumo está estampado
na maioria, sendo estes estimulados pela grande mídia diariamente, o que pode
acarretar em incidências à criminalidade. Dessa maneira, Brenner (2008) afirma que:
A distância entre sonho de consumação e o poder de compra pode suscitar
um aumento da criminalidade entre os jovens, pois os valores mudam
57
também. Eis aqui um dos problemas da individualização num quadro de
socialização precária. Assim, o aumento da criminalidade não tem ligação
direta com a pobreza, mas com a socialização precária e a inculcação do
espírito de consumação entre os jovens, especialmente entre aqueles com
baixa renda ou mesmo sem renda. (BRENNER, 2008, p. 19)
Logo no início da entrevista, Natan fala que o CUCA é um “espaço
político” e, por isso, os trabalhos nem sempre se concretizam ou chegam a dar
continuidade. O entrevistado afirma que, para ele, a instituição é um espaço único,
localizado em um ambiente com alto índice de vulnerabilidade, exclusão e ausência
de perspectivas ou apoio governamental.
Ele relata que o papel principal do educador social é dialogar, interagir
com os jovens, adquirindo a confiança deles. Para que, depois, possa realizar seu
trabalho, de maneira mais integral. A maioria dos jovens assistidos não está
acostumada a regras e, por isso, sente-se insegura, ou mesmo, tende a ser ríspida
em determinadas situações, por isso, o educador está na ponta, visando o trabalho
de interação e negociação. Conforme expressa Brenner (2008):
Ainda que as amizades sejam relações de natureza privada entre sujeitos
particulares em contextos de ações coletivas ou não, os espaços de
convivência pública são indispensáveis para a criação de condições sociais
favoráveis ao estabelecimento de redes de amizades. Sobre isso, é
importante dizer que a amizade não é somente uma questão da eleição livre
nem da seleção por atração pessoal: a disponibilidade de amigos está
fortemente referida à localização física e à inserção dos indivíduos na
estrutura social. (BRENNER, 2008, p. 40)
Falando em negociação, Natan relatou que ao chegar à instituição, o
clima era totalmente diferente, os arredores eram bastante violentos, e a própria
comunidade tinha medo de frequentar o espaço, praticamente, todo dia tinha
assalto. Então, sua primeira tarefa, foi articular com as gangues locais uma espécie
de “trégua”. O entrevistado relata que se dirigiu até o morro e explicou o que o CUCA
tinha a oferecer à comunidade, muitos jovens já conheciam o MH2O, passando para
eles o direito de frequentar e utilizar o Centro. Conforme relata Natan, “havia uma
divisão territorial e o CUCA se localiza na fronteira.” Devido à tal iniciativa, que
ocorreu em meados dos anos 2010, hoje, todos têm a liberdade de ir e vir nas
redondezas.
O entrevistado salienta que o público atendido pelo CUCA é “especial”, e
precisa de atenção, pois estes são considerados muitas vezes como o “resto” da
sociedade, são extremamente excluídos e privados de oportunidades e recursos. As
políticas públicas não chegam efetivamente ao local, e talvez, por isso, muitos
58
enveredem por outros caminhos, pois não há um trabalho inicial, que gere as
oportunidades. Os direitos só chegam lá, quando são totalmente violados. Dessa
maneira, expressa Borba (2011):
A inclusão social é o processo que garante que as pessoas em risco de
pobreza e exclusão social acedam às oportunidades e aos recursos
necessários para participarem plenamente nas esferas econômica, social e
cultural e beneficiem de um nível de vida e bem-estar considerado normal na
sociedade em que vivem. (BORBA, 2011, p. 221)
Dentre as estratégias utilizadas para fomentar a participação do jovem,
surgiu o programa “Comunidade em Pauta”, que foi criado no ano de 2010 e que
tinha como objetivo organizar horários e programação. Porém, o programa passou
nas mãos de diversos profissionais e, mesmo com o empenho destes profissionais,
o programa não evoluiu. Como relata Natan, “a galera ameaçava os profissionais”,
fazendo com que os mesmos ficassem com receio, e desistissem de trabalhar com o
programa.
O problema estava na sistematização e na metodologia do programa, os
jovens não entendiam o que os profissionais queriam, conforme Natan, “o que os
jovens simplesmente queriam era um horário para jogar”, consequentemente, não
escutavam, não tinham paciência. Então, Natan resolveu moldar o diálogo do
programa, para que o mesmo fosse trabalhado de maneira efetiva, lúdica e clara.
Iniciou-se, assim, o trabalho de diálogo direto com os jovens. Se o espaço
era deles, eles deveriam participar e apontar o que queriam. Desse modo, o
programa se reestruturou e, atrelados a ele, os educadores sociais conseguiram
inserir diversas atividades, antes, pouco realizadas pelos jovens, como, por
exemplo, as regras de convivência do CUCA, dentre elas, a importância de não
andar sem camisa, portar sempre algum documento de identificação, pois como é de
costume, na localidade, a maioria já foi abordada diversas vezes por agentes de
segurança pública e o porte de documentos pode evitar certas situações.
Devido ao sucesso dessas orientações, a instituição faz empréstimo de
material esportivo. Para realizar o empréstimo do referido material, os jovens
apresentam a identidade e podem usufruir dos materiais. Natan frisou que isso tem
um ponto interessante, pois “os jovens acreditam que o documento é para garantir o
retorno do material, mas, na realidade, é para incentivar que eles portem o
documento.”.
No presente ano (2014), pode-se afirmar que os próprios jovens fazem o
59
trabalho de sensibilização, repassando as regras para os novatos e reforçando com
os veteranos. Do mesmo modo, são eles que se organizam, não existindo mais
brigas por conta de horário no ginásio ou nas salas de ensaio de dança e teatro.
Dessa maneira, expressa Weller (2005):
Esporte pode ser um meio para treinar a consideração para com o outro, o
jogo limpo e franco e a capacidade de guiar as suas emoções por canais
saudáveis. Oferece recursos também para desenvolver a capacidade de
trabalhar em grupo e aprender a integrar-se socialmente. (WELLER, 2005, p.
07)
Como observado nas falas dos profissionais, o grande instrumento é o
diálogo, tanto para tornar as atividades atrativas, como para fomentar a sua
participação e sua continuidade. A participação de todos é fundamental, tanto dos
profissionais como dos jovens, que são incentivados a essa prática. Tornando os
jovens mais participantes e incentivando-os a propor e a organizar atividades na
instituição.
O Centro também oferece a Copa “Comunidade em Pauta”, que reúne
todos os times inscritos no programa, que utilizam o ginásio, campo de futebol ou
areia, nas mais diversas modalidades. Sendo realizado campeonato em período
mensal, promovido e organizado pelos próprios participantes.
Com ele, surgiu o Programa “Quarta Cultural”, que abrange modalidades
para além das práticas esportivas, tais como: os grupos de artes cênicas, de dança
(pop coreana, swingueira), entre outros. O referido programa passou a ser o
segundo mais procurado, e acontecia inicialmente uma vez por mês, o que
ocasionava brigas constantes entre os grupos interessados em participar. Segundo
Correa (2008, p.23): “A integração dos jovens depende de sua socialização.
Portanto, a individualização se faz mais rápida do que a reparação de uma
socialização precária.”.
Porém, esclarece o entrevistado que, no momento, o programa “Quarta
Cultural” não está em funcionamento devido a problemas internos da instituição. Não
problemas estruturais ou de organização, mas problemas de ego, pois para ele um
dos maiores problemas no local são as vaidades internas de alguns profissionais, e
isso acaba prejudicando o mais interessado, que é o jovem. O evento chegou a
reunir 500 pessoas em uma única apresentação, sendo o local de realização
transferido do teatro para o anfiteatro e, assim, o público pudesse acompanhar o
espetáculo.
60
Quando indagado sobre as dificuldades enfrentadas no local, o mesmo
ressalta que o maior problema não é o trato com os jovens, mas sim o jogo de
vaidades e a disputa por visibilidade de alguns profissionais, que visam só o
individual e nunca o trabalho coletivo da instituição.
Para o entrevistado, outro fator problema é o “espaço político” do local,
que perpassa a dimensão política pública e acaba caminhando para o espaço da
“politicagem”, todos os profissionais querem crescer, alguns se esforçam para isso,
outros não, porém o reconhecimento não existe e muitos, como ele, nunca
conseguem uma promoção profissional. Não se pode ir de encontro com algumas
ideias impostas e isso faz com que o profissional se sinta prejudicado e
desmotivado.
O entrevistado comenta que já pediu demissão por duas vezes no local,
pois já lhe informaram que o problema naquilo que tange a ascensão, é um caso
individual e particular, se ele não consegue progredir algum motivo existe, já o
tacharam de analfabeto e desorganizado, o mesmo está como educador social há 5
anos e nunca cogitaram alguma mudança de função.
Natan relata que os projetos que se sobressaem sempre contam com
diversos profissionais que queiram participar, porém quando começam o trabalho de
lidar com os jovens e ouvir reclamações, logo, solicitam dispensa e o serviço acaba
“sobrando” para outros. A “guerra de vaidades” é a maior disputa encontrada no
local.
Segundo o entrevistado, o jovem não é problema, trabalhar com eles é
maravilhoso, o problema é convencer os profissionais a trabalhar de maneira
conjunta. Muitos profissionais não têm experiência nem formação específica
adequada e não aceitam auxílio dos profissionais mais experientes, muito menos,
aceitam os jovens.
Conforme o que foi coletado nas entrevistas, parece que os jovens
precisam ser ouvidos, pois muitos apresentam um histórico de violência, de algum
ato infracional, de problemas familiares, e uso de drogas. Esses aspectos precisam
ser trabalhados e compreendidos, principalmente, pelos profissionais, que
necessitam ter dedicação e preparo no trato com o público-alvo da instituição. Pois,
muitos apresentam receio em trabalhar com esse público, demonstrando medo e
insegurança. Conforme expressa Brenner (2008):
Há uma tendência da sociedade em enxergar nessas culturas traços de
61
marginalidade, um tempo social potencialmente negativo e, em geral pensado
em oposição ao trabalho, este entendido como tempo de positividade, naquilo
que se refere à formação humana. (BRENNER, 2008, p.30)
A relação do educador social com o jovem é fazer a defesa dos direitos
dos mesmos, dialogar, discutir, promover e criar junto com eles e para eles. O
trabalho é feito em conjunto, a relação profissional e jovem no CUCA deve ser
realizada em caráter multiprofissional, incentivando-os a interagir e propor novas
ideias.
Segundo Natan, as principais mudanças percebidas foram, “o ar que se
respira no local, a violência que existia, inclusive na porta da instituição, quase não
existe mais, as pessoas andam mais tranquilas, o jovem têm o direito de ir e vir, o
meu objetivo eu consegui realizar. Os jovens reivindicam, querem o local bem
cuidado e pronto para o uso, e assim é o trabalho do Comunidade em Pauta”.
Como se vê, a mudança acontece depois de muito trabalho, os
programas, assim como o CUCA, atuam há aproximadamente cinco anos, uma
longa estrada foi percorrida e ainda há muito a se trabalhar, pois tudo se renova, a
sociedade é muito dinâmica e necessita de um trabalho árduo e concreto. Nada de
políticas fantasiosas, ou medidas paliativas, precisa-se de espaços com ações
permanentes, que visem sempre o crescimento das partes a quem se direciona e
não programas que causem dependência social ou financeira da população.
Portanto, pode-se concluir que, analisando o real papel do esporte, este
poderá proporcionar benefícios aos jovens, mas quando trabalhado de maneira que
possa ir além do aspecto do lazer. O tempo livre deste jovem poderá ser melhor
trabalhado, em uma perspectiva formadora, inclusiva e não apenas ilustrativa, tendo
como consequência apenas a distração.
O próximo tópico abordará, a percepção dos jovens atendidos pelo
Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte, apresentando de modo detalhado
o que foi exposto durante as entrevistas.
4.2 Jovem do Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte
A entrevista com o jovem foi realizada em sua residência, local este
solicitado pelo próprio. O entrevistado possui 26 anos, pratica natação e dança no
local, este possui um grupo de swingueira13 que também utiliza o espaço para seus
13
A swingueira foi criada na Bahia, mais precisamente, nos subúrbios de Salvador. Ela surgiu entre
62
ensaios, quando está com tempo livre ainda pratica vôlei no local.
A entrevista foi realizada com apenas um jovem devido à falta de
interesse dos mesmos em responder aos questionamentos propostos, outros jovens
participaram indiretamente da entrevista, o irmão do entrevistado foi um deles, que
também pratica atividades esportivas no local, os demais responderam a algumas
indagações no período em que se realizava o trabalho de campo.
O jovem entrevistado relata que o ingresso no Centro Urbano de Cultura,
Ciência e Esporte (CUCA) foi extremamente fácil. Conta que fez sua inscrição, e
tudo foi bem acessível. O mesmo relata que tinha bastante interesse em ocupar seu
tempo, que considerava ocioso, e, com a chegada do CUCA nas proximidades do
seu bairro, isso foi possível.
Pode-se destacar que além do CUCA se localizar em um espaço bem
estratégico, este absorveu vários jovens da comunidade que não tinham acesso a
essas atividades anteriormente.
Questionado sobre o que lhe motiva a participar destas atividades, o jovem
responde que, “o amor pelo esporte o levou a essas práticas” (sic), desde muito
cedo sempre participou de diversas atividades, jogava vôlei no colégio, nas ruas do
bairro, e se descobriu na dança, montou seu grupo, com aproximadamente
40(quarenta) pessoas e hoje participa de campeonatos na cidade, inclusive já foi
campeão em alguns deles. O espaço físico do CUCA também é importante para que
eles possam ensaiar, pois antes a situação era complicada, eles improvisavam um
espaço e agora têm acesso a uma sala feita para este fim.
Questionado a avaliar o CUCA com relação àquilo que o espaço lhe
oferece, o jovem responde que, “daria nota 8 (oito) ao CUCA, pois o espaço é muito
bom, mas o interesse dos professores é mínimo, com isso, a nossa evolução nas
práticas esportivas fica comprometida.” (Jovem, 26)
Dito isto, pode-se observar que a estrutura física existe, mas que o trato
com os jovens ainda precisa ser mais bem trabalhado. O jovem necessita de uma
preparação, de um acompanhamento, o que não parece existir diante da fala do
entrevistado. Dessa maneira, expressa Marques (2009):
Muitas vezes não é dada a devida atenção a esta preparação, o que pode
resultar em aproveitamento inadequado do potencial atlético, falta de apoio
social e institucional, desorganização da vida não esportiva, dificuldade de
1998 e 2000 na Bahia a partir de manifestações musicais de Margareth Menezes e Daniela Mercury
cantoras famosas de Axé Music.
63
adaptação a novas fases da carreira e até mesmo desistência da prática
esportiva. (MARQUES, 2009. pp. 104-105)
Indagado sobre as mudanças que o mesmo faria na instituição, o jovem
responde que, “Com certeza mudaria os professores, pois como disse antes, eles
têm pouco interesse e isso prejudica os alunos, principalmente os que se dedicam,
pois muitos têm futuro como atletas.” (Jovem, 26). A preparação deve ser feita em
conjunto, com os profissionais, com a família, com os jovens, com todos os
envolvidos direta e indiretamente. Dessa maneira, expressa Marques (2009):
Os conhecimentos produzidos a partir do estudo deste tema poderão ser
bastante relevantes no que diz respeito à intervenção e ao aconselhamento
junto a atletas, pais de atletas, empresários, treinadores e dirigentes
esportivos, pois possibilitam um maior entendimento dos processos
organizacionais, sociais e psicológicos que permeiam a trajetória esportiva de
atletas desde a iniciação até o término e após o término de sua carreira
esportiva. (MARQUES, 2009, p. 104)
Questionado sobre as atividades que mais lhe chamam a atenção, o jovem
responde que, “O que mais me chama atenção são os cursos e os esportes, eu
gostaria de ter mais tempo para praticar handebol e fazer o curso de inglês, mas
como trabalho e estudo à noite, os horários ficam complicados.” (Jovem, 26).
Segundo Correa (2008, p.13): “para quase 40% dos jovens o trabalho é uma
necessidade. Sendo estes frequentemente subempregados, e o tempo de trabalho
demonstra também a desigualdade social.”.
Relacionando a fala do jovem e o trecho da fala de Correa (2008), pode-se
observar que assim, como o entrevistado, parte dos jovens terem como
responsabilidade conciliar estudos e trabalho, ficando com o tempo escasso para
atividades de lazer e esportes. Como o próprio jovem relata, ele gostaria de possuir
mais tempo para praticar outras atividades, porém devido à falta dele, este prefere
participar daquelas que se encaixam em seu tempo livre.
Questionado com relação ao interesse em ingressar na instituição como
monitor, na área dos esportes, o jovem responde que “possui interesse e que
trabalha para isso, se esforça, tenta ajudar o professor, participa, mas como disse
anteriormente, os professores pouco se importam, e como ele já faz esse trabalho
com seu grupo de dança, já se sente realizado.” (Jovem, 26)
Questionado sobre os seus objetivos com a prática esportiva, o
entrevistado responde que, “para melhorar seu condicionamento físico, movimentar
o corpo, ocupar seu tempo ocioso, tudo isso me levou à prática esportiva, além da
64
interação com os meus colegas e os demais que conhecemos no CUCA.” (Jovem,
26)
A partir de sua fala, pode-se observar o alcance do esporte de participação
nas atividades do CUCA. Articulando com as atribuições do mesmo, este
proporciona ao jovem a interação com os demais e, assim, a inclusão social, bem
como outros aspectos mencionados pelo mesmo.
Indagado sobre a representatividade do esporte em sua vida, o
entrevistado responde que, este representa qualidade de vida, deixando-o mais
disposto, além de ser uma atividade gratuita que ele sempre teve vontade de praticar
e antes não podia devido aos custos. Segundo jovem (2014):
O esporte representa, bem-estar e melhoria na qualidade de vida, me deixa
mais disposto para outras atividades do dia a dia. Proporciona-me um lazer
pelo qual sairia caro se tivesse que pagar. Me traz novas amizades, outro
olhar sobre o talento dos meus colegas, vejo o talento de cada um, através do
esporte ou da dança. (Jovem, 26)
Segundo Brenner (2008, p. 34): “Mais da metade dos jovens brasileiros
declarou que gostaria de fazer parte de algum clube ou associação esportiva”.
Sendo esse um fato alarmante naquilo que tange a investimentos e oportunidades
oferecidas ao jovem, principalmente para aqueles oriundos de classes menos
abastadas.
Questionado sobre uma autoavaliação com relação à prática do esporte, o
entrevistado responde que, “antes minha vida era cansativa, o meu dia-a-dia parecia
ser mais pesado, hoje, minha vida funcional melhorou bastante, posso interagir com
outras pessoas, meu grupo de amigos está maior, posso praticar as atividades que
tinha vontade anteriormente.” (Jovem, 26)
Pode-se perceber que o esporte proporcionou ao jovem uma maior
interação com os demais e, segundo ele, uma “vida funcional”, porém para o jovem o
esporte não passa de uma atividade física que lhe oferece o bem-estar, os demais
valores: participação, desenvolvimento social, protagonismo, criticidade e cidadania,
que, segundo os profissionais entrevistados, são trabalhados, parecem não surtir
tanto efeito quanto ao seu aspecto físico.
Questionado sobre os ensinamentos a partir da prática do esporte, o
jovem responde que, “para se ter uma vida melhor e com saúde, temos que
trabalhar nosso corpo e mente, assim nosso futuro será melhor e saudável.” (Jovem,
26)
65
Como observamos na fala anterior, o jovem expressa além da noção
física, outros valores adquiridos através da prática do esporte, o seu aspecto físico
ainda é o mais valorizado. Porém outra área também é trabalhada como a mente. O
seu aspecto social parece ser pouco trabalhado, ou mal compreendido, as atividades
da instituição e os objetivos delas precisam ser claramente expostos, só assim os
jovens atendidos pela instituição poderão alcançar o desenvolvimento proposto por
ela.
Questionado sobre a relação dos jovens com os profissionais do CUCA, o
jovem responde que, “nós temos voz, podemos dar opinião nas atividades, isso é
interessante. Porém, nem todos os professores, aplicam essa técnica no seu
trabalho.”.
As ações dos profissionais poderão repercutir na compreensão dos
alunos, naquilo que tange aos objetivos das atividades propostas pelo Centro. Como
o jovem relata que a maioria dos professores não os escuta, portanto o trabalho de
fomentar a participação se torna perdido.
Indagado sobre a construção da cidadania através dos ensinamentos do
esporte, o jovem responde que, “ser cidadão é agir com o todo para melhoria de sua
região.” Como cidadania é uma das categorias desta pesquisa, a pesquisadora ficou
surpresa com a definição dada pelo jovem, pois estes conceitos não são trabalhados
de maneira explícita pela instituição, este é um conceito formulado pelo próprio
jovem, com base em suas experiências. A construção da cidadania através do
esporte pode ser entendida justamente dessa forma, em que se trabalha o coletivo
em prol dos demais.
A partir das falas do entrevistado, pode-se destacar seu interesse nos
esportes, tanto como praticante, como monitor/professor, o mesmo se sente
prejudicado por não ter a devida atenção dos professores, não só como um
sentimento individual, mas pensando no coletivo.
O jovem também relata que sente a liberdade no CUCA. Lá, ele pode
ensaiar com seus amigos, sem precisar se preocupar com o volume da música,
literalmente, eles podem fazer barulho sem incomodar. O CUCA proporciona a eles,
um espaço de interação, lógico que também existem as regras, horários, mas isso
tudo é relevante quando se pode expressar aquilo que se mais gosta de fazer.
Quando indagado a respeito da nota que este daria ao CUCA, o mesmo
respondeu que daria nota 8 (oito), pois o espaço é maravilhoso, mas que os
66
professores deixam um pouco a desejar, no quesito atenção. São poucos os que
sabem lidar diretamente com o jovem.
Pôde-se notar que o esporte surgiu na vida do entrevistado, tanto como
paixão, como estética. O esporte lhe proporcionou o bem-estar e um melhor
condicionamento físico, bem como, proporciona-lhe a vontade de se tornar um
profissional da área e poder repassar aquilo que se aprendeu para os outros.
O esporte lhe proporciona a interação com os demais, faz-lhe perceber o
que é ser cidadão, pois, como disse o mesmo, ser cidadão é agir com o todo para a
melhoria da sua região. Ou seja, o esporte oferece valores que vão além do âmbito
físico, adentram ao campo do social, e mistura-se com as mais diversas práticas
oferecidas pela instituição.
O esporte representa para estes jovens, uma melhoria, uma liberdade, um
conhecimento, uma oportunidade. O esporte expressa bem mais do que se pode
ver, ele representa desejos e anseios. A partir dele, vários jovens conseguem
ascensão social, tornam-se profissionais, porém, além do seu lado otimizado,
também existem os aspectos negativos, que podem estar atrelados ao mau uso das
práticas esportivas.
No tópico seguinte, a presente pesquisa abordará os efeitos negativos do
esporte moderno e os meios que o fazem. Tendo como base o livro de Manoel
Tubino (2011), Dimensões Sociais do Esporte.
4.3 Os aspectos sociais negativos do esporte moderno
O esporte tanto possui o seu viés social e humanista, como possui o seu
lado duro e desumano. Este tópico pretende trazer aos leitores os aspectos
negativos do esporte moderno, através de exemplos do cotidiano. Fatos estes que
ocorrem principalmente associados ao esporte de rendimento.
Eventualmente, depara-se com notícias tristes associadas ao esporte,
sejam elas em jornais, telejornais, programas de televisão, ou mesmo nas redes
sociais. Segundo notícia do portal G1, ainda no ano de 2014, pode-se destacar, o
caso dos meninos do Estado do Ceará, que caíram no conto do “olheiro”14 e foram
14
Segundo matéria do site Olheiro digital, o olheiro tem como função: Captar, revelar e realocar
talentos novos e já existentes no mercado esportivo de forma prática e rentável. Visão: Tornar-se
referência na captação e prospecção de atletas no mercado nacional. Valores: Transparência na
forma de trabalho. Preocupação com o bem estar do atleta. Foco e agilidade em soluções ao afiliado.
67
levados para outro Estado com promessas de se tornarem grandes jogadores
profissionais.
Depois dos familiares desembolsarem o que não tinham para esse feito, ao
chegarem ao local, os meninos se depararam com situações precárias de higiene,
alimentação e moradia, até a cidade de destino era diferente daquela prometida pelo
olheiro, eles sofreram maus-tratos, abuso sexual, ficaram sem comer e muitos eram
crianças sem a menor oportunidade de defesa. Esse é apenas um dos exemplos.
Pode-se citar um fato ocorrido no interior da cidade de Natal. Segundo
notícia do blog Esporte no Ar, divulgada no ano de 2013, um “falso olheiro” realizava
peneiras15 em vários Estados do Brasil, cobrando dinheiro e se passando por
observador técnico de um time da mesma cidade. Enganava as famílias e fazia com
que os jovens atletas gastassem muito dinheiro para se deslocarem de sua cidade
até a cidade de Natal. O falso olheiro utilizava as redes sociais para atrair as vítimas.
Com isso, pode-se perceber que algumas pessoas utilizam o esporte e os sonhos
que são construídos a partir dele apenas para explorar, enganar e lucrar.
Segundo Tubino (2011, p.44), “o esporte é caracterizado pela maneira que
é usado, a partir disso, o seu lado positivo ou negativo aflorará, ou seja, é o seu mau
uso que lhe coloca em uma posição desconfortável.”
Por possuir suas particularidades, o esporte proporciona grandes
fantasias, na verdade, grande alucinação como bem se observa anteriormente. Por
meio dessa prática negativa, famílias fazem de tudo, abrem mão até do que não
podem para tornar um filho atleta, assim continuam a ocorrer os casos de “falsos
olheiros” e “falsas peneiras”, que prometem o céu, mas, na verdade, proporcionam o
inferno para diversas famílias. Dessa maneira, expressa Tubino (2011):
[…] O esporte, pelas suas particularidades e pelo fascínio que envolve e
provoca, permite muitas vezes um mal (SIC) uso de suas possibilidades de
conteúdo, paradoxalmente, com as finalidades e até dos discursos de sua
promoção como um dos melhores meios de convivência humana. Isto explica
que os efeitos sociais negativos do esporte são, na verdade utilizações
tendenciosas do fenômeno esportivo. (TUBINO, 2011, p.44)
Diante disso, o referido autor lista 5 (cinco) efeitos sociais negativos do
esporte moderno: a reprodução compulsória do esporte-performance na educação;
15
Segundo matéria do site do São Paulo Esporte Clube, as peneiras são conhecidas no mundo
inteiro por descobridor e formar talentos. É com essa finalidade que existe o setor de Avaliações
Técnicas das Categorias de Base, que vem sendo referência no que diz respeito à avaliação e
captação de novo atletas. O setor tem como principal objetivo avaliar jovens dos 14 aos 17 anos, no
que diz respeito às suas capacidades gerais, buscando, dessa forma, encontrar jovens com grande
potencial a ser desenvolvido.
68
as violências do esporte-performance; a discriminação contra a mulher no esporte; o
uso ideológico político do esporte e a preponderância da lógica do mercantilismo no
esporte. A articulação com as ideias desse autor foi escolhida para discutir os
aspectos negativos do esporte, pois ele elucida o esporte em suas três áreas de
atuação: educacional, rendimento e participação, do mesmo modo que analisa, de
maneira precisa, esses aspectos no esporte moderno.
Efeitos estes, que adentram o campo social como um todo, na educação,
na segurança, na discriminação de gênero, no uso ideológico e político, no
mercantilismo. Dessa maneira, expressa Tubino (2011):
a) a reprodução compulsória do esporte – performance na educação: o apelo
do esporte-performance ou de rendimento, através dos meios de
comunicação de massa, principalmente da televisão, levam os dirigentes
educacionais de um modo geral a desconhecer a magnitude da utilidade
pedagógica do esporte como meio de educação. (TUBINO, 2011, p.45)
Outra questão bastante recorrente é a violência no esporte-performance,
pois é a manifestação negativa mais conhecida do esporte.16 Na mídia em geral, é
recorrente deparar-se com notícias sobre esse tipo de violência. A demanda é tão
crescente que o Jornal Estadão online possui um tópico específico, que contém
apenas matérias sobre violência no esporte.17 Seja ela dentro ou fora dos estádios
ou ginásios, violências que perpassam as agressões físicas. Recentemente, tiveram
vários casos de racismo18 nos campos de futebol, tanto por parte da torcida, como
por parte de alguns jogadores.
Analisando os fatos e os exemplos, percebe-se que essa violência não
ocorre de maneira velada, ela acontece de maneira bastante evidente, sendo essa
prática considerada, na maioria das vezes, normal por torcidas organizadas19, que
associam a violência ao amor pelo time. Dessa maneira, expressa Tubino (2011):
[...] as violências são tão numerosas no esporte-performance, que se pode
afirmar que é nesta dimensão social do esporte que ocorreu o maior número
de distorções. Comportamentos coletivos, como a moda, os pânicos, as
16
O mesmo Esporte que ajuda a propagar valores como amizade, companheirismo, cooperação,
pode ser usado para difundir comportamentos violentos e eventos de erupção social. Segundo Prof.
Angelo Vargas (CREF 000007-G/RJ), que comanda o Laboratório de Estudos do Comportamento
Urbano (LECSU). “Nossos estudos trabalham com o desporto não só dentro do estádio, dentro do
ginásio, como trabalha no entorno, sobretudo no comportamento social urbano”, explica o
pesquisador, 2011.
17
Violência no Esporte, Jornal Estadão, São Paulo, 2014.
18
Blog Racismo no Esporte apresenta os casos emblemáticos de manifestações de racismo no
esporte em todo Brasil, 2013.
19
Segundo matéria de Rodrigo Vessoni ao site Lance Net, a violência das torcidas organizadas já
matou mais de 234 pessoas, sendo 30 delas só no ano de 2013. Sendo estas nomeadas pelo
jornalista como facções uniformizadas, 2013.
69
massas, a opinião pública, e os outros, são ingredientes utilizados nas ações
negativas de aproveitamento do esporte. (TUBINO, 2011, p. 46)
Essas práticas de violência ocorrem constantemente, as violências não se
detêm apenas a agressões físicas, elas abrangem outras áreas como: a
discriminação, os crimes contra o patrimônio público, seja ele material ou financeiro.
Porém, nenhuma medida preventiva ou mesmo punitiva é tomada para sanar essas
práticas. As organizações, os dirigentes ou o Estado pouco parecem se importar
com esse fenômeno. Dessa maneira, expressa Tubino (2011):
A violência nos espetáculos esportivos entre os espectadores [...] além das
violências físicas, constatáveis pelas tragédias e conflitos consequentes,
também existem as violências simbólicas e verbais, presentes com muita
frequência, e que, entretanto, não chegam a emocionar os dirigentes, a ponto
de propor medidas. (TUBINO, 2011, p.46-47)
Os casos de suborno e doping também são pautados como forma de
violência e se tornaram tão costumeiros, que são equivalentes a práticas normais do
esporte. Conforme expressa Tubino (2011):
Interessante dizer que o esporte de rendimento ou performance, quando
politicamente vai deixando de se constituir num uso político-ideológico, em
vez de recrudescer a utilização de meios ilícitos para a obtenção das vitórias,
continua no mesmo nível de busca destes meios nefastos de sucesso, e em
alguns casos cresce quantitativamente e até “qualitativamente”. O doping é
considerado, no mundo esportivo de hoje, a forma mais grave de violência
existente. Ele inverte o resultado esportivo eminente, e atinge biologicamente
o pseudovencedor, isto é, o seu usuário direto. (TUBINO, 2011, p.48)
As forças de trabalho escravizadas nas propriedades esportivas se
tornaram hábito no esporte moderno, os atletas trabalham em verdadeiros feudos
esportivos para garantir seu sustento. Conforme expressa Tubino (2011):
[…] esta situação no esporte profissional foi agravada, historicamente pela
desorganização das categorias profissionais, o que conjunturou um quadro
em que os atletas são explorados pelas imposições regulamentares e pela
dependência escravagista a instituições (clubes e entidades dirigentes) e até
pessoas (empresários). (TUBINO, 2011, p.49)
Outra questão atrelada à força esportiva escravizada e ao limite biológico
dos atletas é que eles não estão aptos a serem atletas pela eternidade, uma hora os
corpos não respondem mais aos estímulos do cérebro, e ser primeiro lugar requer
um esforço tão grande, que, muitas vezes, o corpo chega a sucumbir. Fato este
bastante complicado, pois a maioria tem o esporte como ofício, e quando se
deparam com essa situação, tudo fica mais complicado. Dessa maneira, expressa
Tubino (2011):
O encerramento prematuro da carreira esportiva atlética e a grande
solicitação de horas de treino durante o período de práticas, impedindo quase
70
sempre que os atletas possam frequentar outras formações ou ter outras
experiências profissionais, impede frequentemente uma mobilidade social, e,
muitas vezes, até agravam a situação socioeconômica dessas pessoas.
(TUBINO, 2011, p.49)
A discriminação contra a mulher no esporte, ainda é um fator
preponderante,
e
também
se
configura
como
uma
forma
de
violência,
ontologicamente falando. Desde os jogos da Grécia antiga, as mulheres eram
excluídas de qualquer competição até mesmo como espectadoras. Conforme
expressa Tubino (2011):
Desde os jogos Gregos, na antiguidade, a mulher é socialmente discriminada
no esporte. Nos jogos olímpicos da antiga Grécia, a mulher não podia nem
assistir às competições. Isso gerou uma reação, fazendo com que existam
modalidades esportivas somente para prática feminina, discriminando o sexo
masculino, é o caso da ginástica rítmica desportiva e da natação
sincronizada. (TUBINO, 2011, p.49)
O uso político-ideológico do esporte também é um fator extremamente
relevante, presente na história desde os jogos olímpicos. Manifestações já ocorriam
em 1936, ano que Berlim capital da Alemanha sediaria os jogos, época do clamor da
segunda Guerra Mundial. Vinte anos antes, os jogos seriam sediados nessa mesma
capital, mas foram cancelados devido à Primeira Guerra Mundial. Conforme
expressa Tubino (2011):
[...] a primeira grande manifestação de utilização do esporte como meio
ideológico-político foi a de Hitler durante os jogos olímpicos de 1936. Foi
construída toda uma estrutura que permitisse a demonstração para o mundo
da supremacia dos alemães arianos sobre os demais povos e raças.
(TUBINO, 2011, p. 51)
Entretanto as manifestações de violência e discriminação não poderiam
ficar de fora desse grande espetáculo, vários atletas negros foram hostilizados pelas
torcidas e pelo próprio ditador Adolf Hitler. Dessa maneira, expressa Tubino (2011):
No entanto, as vitórias do negro norte-americano Jesse Owens, e a
valorização destas conquistas derrotaram o ditador alemão nas suas
intenções e ações torpes de uso do esporte. É interessante observar que os
alemães (arianos) tiveram grandes vitórias, as quais permaneceram
apagadas em virtude do sucesso de Owens. (TUBINO, 2011, p. 51)
A luta por poder continuou ainda mais forte e, com a Guerra Fria, a
disputa entre União Soviética, que entrou nos jogos apenas em 1952, e Estados
Unidos tomou mais força. Segundo Tubino (2011), “os Estados Unidos cresceram
geometricamente os seus orçamentos nas preparações esportivas das equipes
norte-americanas
Olimpíadas.”.
para
competições
internacionais,
principalmente
para
as
71
Os Jogos Olímpicos foram utilizados como palcos de reprodução da
Guerra Fria, em uma luta entre os regimes capitalista e socialista. Esse palco trocou
a glória por medalhas pela honra, pelo poder. Dessa maneira, expressa Tubino
(2011, p.52): “Os jogos olímpicos passaram a constituir-se em mais um palco de
guerra fria, e o número de medalhas passou a ser entendido como um indicador de
supremacia do regime, na disputa entre capitalismo e socialismo.”.
Segundo publicação da Enciclopédia do Holocausto (2014): Enquanto
aconteciam os Jogos Olímpicos de Verão, a ditadura de Adolf Hitler camuflou seu
caráter racista e militarista. Ocultando sua agenda antissemita e seus planos de
expansão territorial, o regime explorou os Jogos para impressionar os espectadores
e jornalistas estrangeiros com a imagem de uma Alemanha pacífica e tolerante.
Como se pode observar, o esporte foi e ainda é utilizado como ferramenta
ideológica. Porém, muitos atrelam sua maior utilidade ao lucro. Segundo Tubino
(2011, p.52): “o esporte foi uma ferramenta ideológica durante muito tempo, [...]. Por
outro lado, os esportistas socialistas pertencentes à intelectualidade mundial do
esporte acusam o capitalismo pelo uso do fenômeno como apenas uma fonte de
lucro.”.
Com o aumento de seu alcance o esporte passou a ser mais valorizado e
difundido de maneira mais popular, o que consequentemente proporciona o aumento
do lucro dos investidores e, por conseguinte a alienação ideológica causada por este
fenômeno. Segundo Tubino (2011, p.52), “Quando o esporte, […] aumentou sua
abrangência, [...] a prática esportiva por massas populares e por escolares, em
perspectivas diferentes, continuaram a permitir as intoxicações ideológicas.”.
O direito à prática esportiva envolveu diversos atores e grupos sociais,
esse direito traz para sociedade uma conquista, que poderá ofertar atividades
inclusivas, que envolvam a construção da cidadania e as práticas de lazer. Levando
a caminhos mais democráticos em defesa aos usos ideológicos e políticos.
Conforme expressa Tubino (2011):
Entretanto, a conquista ao direito à prática esportiva pelos grupos sociais
populares, no esporte-participação, e das crianças, de utilizarem a riqueza
cultural do conteúdo do esporte para a formação da cidadania, passaram a
conduzir os envolvidos nos fatos esportivos a caminhos democráticos,
aumentando as defesas contra os seus usos políticos. (TUBINO, 2011. P. 52)
Com o aumento das defesas ao uso ideológico e político do fenômeno
esportivo, o esporte de rendimento foi notado pelo lado mercantilista, passando a ser
72
visto como um negócio e respondendo de maneira bastante lucrativa ao
empresariado. Dessa maneira, expressa Tubino (2011, p.53): “No esporte de
rendimento, a chegada de forma inequívoca dos interesses mercantis ao esporte,
praticamente, inauguram um novo processo, agora voltado para o negócio, anulando
pouco a pouco as influências ideológico-políticas.”.
Chega-se ao quinto efeito social negativo do esporte moderno listado por
Tubino (2011), a preponderância da lógica do mercantilismo no esporte: a chegada
definitiva da televisão, encurtando as distâncias no mundo e modificando
radicalmente o elenco de hábitos dos habitantes do planeta também provocou
profundas mudanças no processo esportivo. Uma das mudanças mais visíveis foi a
substituição gradual do uso ideológico-político do esporte pela utilização comercial.
Dessa maneira, expressa Tubino (2011):
[…] o número de medalhas esportivas olímpicas e os sucessos esportivos
eram contados como provas de superioridade ideológica ou de regime
político. Agora o uso político-ideológico do fenômeno esportivo está sendo
substituído por um novo paradigma, o do esporte como negócio, surge um
novo conflito social, de difícil tratamento, que é confronto direto entre a lógica
do mercantilismo e os valores do esporte. (TUBINO, 2011, p.53-54)
Tendo em vista o esporte como fenômeno, podem-se destacar os grandes
espetáculos e tudo aquilo que está relacionado a estas práticas, como consequência
disso, Tubino (2011) destaca um fator. Definham modalidades clássicas, que não
provocam espetáculos para a televisão, ou que não prometem lucros em suas
disputas. Dessa maneira, expressa Tubino (2011):
Por outro lado, cresce o número de modalidades relacionadas com mais risco
de morte (ralis, automobilismo, motociclismo, bicicross etc.), e,
consequentemente, despertam mais interesse com o espetáculo de televisão.
Também cresce a quantidade de novas modalidades desportivas de relação
com a natureza e que exigem aparelhos de fabricação industrial (voo livre,
surfe, esqueite[SIC] etc... (TUBINO, 2011, p.54)
Além da indústria esportiva existente relacionada diretamente aos
equipamentos esportivos, também se pode perceber o grande aumento de
competições com o formato de circuito, estratégia esta que permite aos
patrocinadores a divulgação maior de suas marcas, pois as competições ocorrem
em cidades, ou até países distintos, englobando uma gama de possíveis clientes.
Dessa maneira, conforme expressa Tubino (2011):
Nas formas de competição, passam a dominar os circuitos, para que os
produtos de patrocínio possam parecer mais vezes. Já existem até aqueles
críticos e estudiosos do fenômeno esportivo que afirmam que o esporte virou
grande espetáculo de televisão. É evidente ainda que exista todo um
73
processo de imitação deste esporte-espetáculo, de alto nível e de grandes
espetáculos, para a prática popular. (TUBINO, 2011, pp.54-55)
Todos os dias, assiste-se a este fenômeno sem ao menos perceber o
quanto ele é pertencente ao nosso cotidiano, vários programas de rádio e televisão,
disponibilizam dias e horários específicos dedicados a notícias do esporte. A
sociedade é engolida por essa ideologia, novas modalidades e novos modismos
surgem a cada momento, hoje, ter-se-á o espetáculo da ginástica localizada,
amanhã o espetáculo da ginástica funcional, depois de amanhã, ter-se-á o crossfit.
Dessa maneira, expressa Tubino (2011, p.55): “Deve-se também dizer que esta
lógica do mercantilismo introduzida efetivamente no esporte, principalmente pelo
maior chamamento do espetáculo esportivo, é também uma manifestação do mundo
atual de sociedades de massas.”.
O esporte envolve muito mais do que uma simples prática de bem-estar, o
esporte envolve o lado econômico-material, envolve a mão de obra dos atletas,
treinadores, e outros profissionais que fazem parte desse fenômeno. O esporte
envolve todos em um negócio bastante lucrativo, que pode tornar-se uma ferramenta
de alienação da sociedade. Dessa maneira, expressa Tubino (2011):
Nesta perspectiva, este esporte-negócio envolve uma pedagogia da
superação para seus praticantes, levando no seu conteúdo um fenômeno
reconhecido como agressividade esportiva. Os estudiosos marxistas do
assunto reconhecem o esporte moderno, por tudo isso, como uma diversão
alienante, por atuar como sucedâneo das massas que não têm acesso às
práticas esportivas. (TUBINO, 2011, p. 55)
Por outro lado, tendem as surgir opiniões diversas, segundo Tubino
(2011), estudiosos capitalistas se contrapõem, dizendo que a todos os assistentes
de um determinado espetáculo esportivo está aberta a possibilidade de prática
esportiva, apenas em nível diferenciado. Dessa maneira, expressa Tubino (2011):
Existem ainda aqueles que acusam o espetáculo esportivo de catalizar
frustrações inconscientes e alienantes. É muito difícil a aceitação deste
posicionamento, pois seria o equivalente a aceitar a mesma premissa para
qualquer espetáculo que promova talentos em qualquer manifestação
humana, o que de fato, torna este tipo de análise de certa forma
preconceituosa e tendenciosa. (TUBINO, 2011, p. 55)
Pode-se analisar que a partir desses conceitos, o esporte sendo um
processo social, passa por limites e possibilidades como todo e qualquer outro na
sociedade. Segundo Tubino (2011), em qualquer processo social, o esporte é um
processo social, é exigida uma visão mais profunda de sociedade, bem como dos
seus mecanismos de controle social. Dessa maneira, expressa Tubino (2011, p.58):
74
“A prática esportiva, como prática social, precisa ser entendida com a percepção de
que cabe à sociedade, como processo social articulador de várias atividades sociais,
desenvolver-se numa estrutura social articulada.”.
Para isso, surge o famoso espírito esportivo, segundo Tubino (2011), a
aproximação e o equilíbrio entre a atitude ética e a atitude esportiva teriam como
resultante a formação do chamado espírito esportivo.
Espírito este que não se consolida somente através do jogo limpo e do
respeito, mas através da afirmação de alguns fatores, como: a consolidação do
conceito de homo sportivus, que, segundo Tubino (2011), há a aceitação, nas
nações, de que a prática esportiva constitui-se num direito inalienável do ser
humano e a revisão do papel do Estado na questão social do esporte.
Outra questão, segundo Tubino (2011), é a relativização do esporte com a
natureza e o lazer, que começa a surgir uma discussão sobre o ponto de saturação
dos locais naturais de competição. O excesso de competições esportivas, de uma
mesma modalidade ou de diversas, somando à afluência de espectadores, têm
provocado ações poluidoras paralelas de várias formas, criando um constrangimento
social naqueles que têm consciência do problema.
A aproximação do fenômeno esportivo com as práticas corporais de
expressão,
segundo Tubino
(2011), a busca
de
situações esportivas,
a
impossibilidade da maioria das pessoas em apresentar talento para modalidades
esportivas de solicitação física complexa, a influência da mídia, a plasticidade, os
espetáculos e outros fatores levaram a práticas com a dança (ginástica) aeróbica,
dança, ginástica de jazz, e outras a serem utilizadas como modalidades esportivas.
Conforme expressa Tubino (2011):
Isto quer dizer, em outras palavras, que o início dos gostos esportivos ocorre
a partir da acomodação das estruturas das práticas esportivas, que
compreendem uma diferença sexual no interior da diferença social.
Finalmente, estes autores ainda reconhecem que a demanda social na
prática do esporte depende dos fatores sociológicos, econômicos, técnicos e
individuais. (TUBINO, 2011, p. 68)
Surge o novo papel do Estado diante do esporte, segundo Tubino (2011),
pois até os anos de 1930, o esporte era autogovernado pelo Estado, através de
inferências, financiamentos e legislações. No que tange à relação Estado-EsporteSociedade, podemos destacar, conforme expressa Tubino (2011):
a) a responsabilidade social do Estado de fomentar as manifestações
esporte-eduação e esporte-participação;
b) a responsabilidade social do Estado de normatizar a manifestação esporte-
75
performance;
c) a responsabilidade social do Estado de estimular o interesse de iniciativa
privada para as questões do esporte, levando-a a uma corresponsabilidade;
f) a responsabilidade social do Estado de desenvolver meios para intercâmbio
internacional na área do esporte;
g) a responsabilidade social do Estado diante do problema da violência nos
palcos esportivos. (TUBINO, 2011, p. 70)
Os pontos destacados pelo autor são necessários para que se possa
entender o papel do Estado no esporte, sendo ele responsável por fomentar as
manifestações no esporte-educação e no esporte-participação, bem como
normatizando o esporte de rendimento, através de campeonatos, podendo ser estas
competições de alto rendimento ou não, existindo inclusive os jogos e as olimpíadas
escolares, os jogos universitários que fomentam o esporte-educação, o dia D20, as
ações globais, que fomentam o esporte-participação.
A responsabilidade do Estado de estimular o interesse de iniciativa
privada, gerando a corresponsabilidade. Pode ser observada através das
legislações, como exemplo, a lei de incentivo ao esporte (Lei nº 11.472, de 2 de maio
de 2007), que possibilita pessoas físicas e jurídicas a contribuir com o esporte,
sendo este valor deduzido em seu imposto de renda.
O problema da violência nos palcos esportivos é um fenômeno, que não
precisa de grandes esforços para ser notado, as arenas de esportes se tornaram
palco de grandes guerras, de torcidas organizadas, fenômeno este que não ocorre
somente no Brasil, alguns países possuem leis específicas que punem esses
“torcedores”, sendo eles banidos do espetáculo, a fim de assegurar a integridade de
outras pessoas e do local.
O Estado também tem a responsabilidade social de desenvolver meios
para intercâmbio internacional nesta área, podendo citar como exemplo; as
escolinhas de futebol do exterior que montam centros de treinamentos no país para
revelar novos atletas, os treinadores especialistas de outras nacionalidades que são
lotados em determinadas modalidades a fim de aprimorar o treinamento dos atletas.
Por meio destes, pode-se perceber que o esporte não é apenas uma
atividade física, este perpassa por várias dimensões sociais, fazendo-se necessário
analisá-lo como um processo social. O papel do Estado sempre foi de fundamental
20
É uma campanha mundial de incentivo à prática regular de atividades físicas em benefício da
saúde e do bem-estar, realizada por meio de ações das comunidades. Os vencedores são os
cidadãos que, além do corpo, exercitam a integração, a criatividade, a liderança e o espírito
comunitário.
76
importância para este processo, portanto interessante seria se este regulamentasse,
fomentasse e oferecesse de maneira mais ampla o acesso a tal serviço. Sendo ele
disponibilizado de forma mais igualitária, com maior qualidade, tanto para os atletas,
como para os demais profissionais que estão ligados a esta área.
As dimensões abordadas durante a pesquisa proporcionaram a
pesquisadora a entender de fato o esporte em sua gênese e as suas mais diversas
variações, o esporte educacional, de participação e de rendimento atuam de maneira
articulada e se complementam.
O local escolhido para a pesquisa aborda o esporte nessas três
dimensões, o que possibilitou à pesquisadora uma vivência rica durante a
construção deste trabalho. A pesquisa bibliográfica também proporcionou um
aprofundamento no tema escolhido junto às entrevistas que ofereceram o real
alcance das indagações, que existiam anteriormente à pesquisa.
Como se vê, o esporte possui o seu lado negativo, a partir dele
fenômenos de proporção mundial surgiram, e, na maioria das vezes, estes parecem
incontroláveis, praticar um esporte por, muitas vezes, não é apenas diversão, muitos
o tem como profissão e são obrigados a se submeter a tratamentos degradantes por
conta dele. Porém, o seu lado social e inclusivo ainda prevalece, e é por ele que
esta pesquisa foi realizada.
Entretanto, a pesquisadora afirma que as indagações anteriores a este
trabalho foram todas sanadas, porém um novo leque de informações e perguntas
veio à mente, podendo dizer que há uma melhor compreensão da função social do
esporte, mas que muito ainda precisa ser feito para que essa função seja realmente
concretizada, os projetos, os programas e as instituições existentes trabalham de
modo superficial, sem aprofundamento na temática, o que acarreta em diversos
erros.
Durante as falas do jovem entrevistado, a pesquisadora pôde perceber o
descontentamento e a superficialidade daquilo que é aprendido na instituição, os
meios existem, porém eles são utilizados de maneira equivocada. Os profissionais
trabalham em modo de competição, alguns tentam mudar a situação, outros poucos
se importam. O mais prejudicado em toda essa história é o jovem.
Portanto, conclui-se que este capítulo registra toda a pesquisa de modo a
difundir mais a área, que também é um espaço sócio ocupacional de nossa
profissão, pretendendo também, com este trabalho, dar continuidade a essa linha de
77
pesquisa e, assim, poder enriquecer ainda mais os conhecimentos sobre a área,
pois, a partir do campo, a pesquisadora teve o prazer de analisar os olhares de
dentro para fora, de jovens e profissionais que estão inseridos em um ambiente
repleto
de
experiências.
78
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em virtude da análise realizada, durante a pesquisa, pôde-se perceber
que tornar o jovem escritor de sua história é um dos trabalhos mais importantes a se
fazer. Os saberes desenvolvidos de modo individual e coletivo contribuem bastante
para a construção da cidadania, pois todos devem se apropriar dos seus direitos e
deveres. A inclusão social também pode ser observada nas atividades propostas
pelo CUCA, porém ambas ainda apresentam valores confusos e às vezes
desnorteadores.
A relação com o jovem requer exemplificações e um acompanhamento
mais eficaz, o que, para a pesquisadora, ainda está em falta nas atividades na
instituição. Com a falta de compromisso dos profissionais com os alunos e com o
seu fazer profissional, com a falta de normas e objetivos claros das atividades, com
as rivalidades por promoção, com a negligência em atividades que estão em
execução e acabam por se perder no meio do caminho por conta de vaidades
profissionais.
Entretanto, ficou-se ciente de que o esporte não resolverá todas as
questões conflituosas que envolvem a juventude, contudo, ele poderá proporcionar
ao jovem uma nova visão, quando é trabalhado nessa perspectiva. Porém, a partir
das falas, a pesquisadora não percebeu de maneira tão eficiente esse trabalho, a
instituição ainda trabalha na perspectiva do lazer, de apenas preencher as horas
ociosas dos jovens, a monitoria é o único projeto que poderá trazer ao jovem uma
continuidade dentro da instituição e o mesmo parece não ser amplamente aplicado.
As dimensões do esporte trabalhadas com o jovem fazem parte de um
processo de formação, podendo este se tornar ou não um atleta, a pesquisadora
acredita que essas dimensões poderiam ser aplicadas de maneira mais integral,
reforçando as ideias de afinidade, desempenho e vocação. Cada jovem deveria ser
melhor acompanhado e orientado naquilo que poderá ser sua perspectiva de futuro.
Em relação àquilo que é válido indicar, percebe-se que o esporte, na
experiência do CUCA, parece trabalhar os dois lados, tanto na dimensão individual,
como as particularidades, as afinidades e o desempenho de cada atleta, bem como,
a dimensão coletiva, junto ao trabalho em equipe, o companheirismo, o
compartilhamento, a participação, pois quando se fala em esporte de grupo, sabe-se
79
que um time composto apenas por um único jogador, dificilmente, conseguirá o
êxito.
Nessa perspectiva, pode-se perceber que as categorias abordadas nesta
pesquisa se complementam e traduzem o objetivo principal da pesquisa, que é de
compreender a relevância social do esporte, pois, quando se trabalha de modo
articulado com o coletivo, os resultados se tornam mais palpáveis.
Destacando o trabalho de inclusão social e cidadania realizados pelo
Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA), fazendo relação com as
áreas profissionais atuantes no Centro e a profissão de Serviço Social, pode-se
relatar que o esporte pode ser trabalhado em conjunto com as demais áreas
profissionais do CUCA e, para isso, a nossa profissão também poderá se apropriar
desta área.
Como se vê nesta análise, o esporte é uma ferramenta de inclusão social,
construção da cidadania, de protagonismo e de participação. O jovem necessita
desse incentivo, a sociedade como um todo pode e deve ser transformada através
de pequenas ações comunitárias. O jovem deve se sentir participante, deve
compreender o ambiente como uma oportunidade de desenvolvimento social, para
isso, precisa de acompanhamento e orientações objetivas.
Durante as entrevistas e a vivência no campo, os entrevistados
demonstraram a real importância do esporte e do modo como este pode ser utilizado
para além dos aspectos físicos. As indagações desta pesquisa foram totalmente
esclarecidas, a pesquisadora percebeu que o esporte não é apenas o esporte
isoladamente, ele envolve uma trama de fatores, que se interligam e perpassam os
estigmas da competitividade, podendo até dizer que isso é o que menos importa. Na
verdade, o que ele proporciona é uma visão de futuro, é um sentimento de
autonomia, de poder alcançar os objetivos, de se superar, não porque se deseje o
melhor, embora isso também seja levado em consideração numa competição
profissional, mas porque simplesmente se abre um campo de possibilidades para
relacionar-se com outras pessoas, respeitar e ser respeitado, desde que se esforce
o bastante.
Porém, podem-se destacar também os aspectos negativos encontrados
na instituição abordada pela pesquisa, tomando por base a fala do jovem
entrevistado, percebe-se a falta de interesse dos profissionais do Centro para com
os jovens, pois o entrevistado relata que a relação professor e aluno seria um ponto
80
importante a melhorar no local.
Analisando as falas dos profissionais entrevistados, também se pode
perceber a falta de regras e limites para com os jovens, a única maneira de
organizar as atividades seria a frequência, que para a pesquisadora não proporciona
um contato direto e especifico com as normas que deveriam ser trabalhadas pela
instituição como, por exemplo: a instituição poderia fazer uma atividade de iniciação
para todos aqueles que ingressem no CUCA, apresentando, de maneira bem
ilustrativa e lúdica, as regras e as normas gerais da instituição, abrindo espaço para
o jovem propor idéias novas, já que sua proposta seria de promover no jovem sua
autonomia, fazendo com que se sensibilize para a realidade em que vive e as regras
existentes na instituição de uma maneira não repressiva.
Outro fator importante é os limites de organização das atividades da
instituição, sendo a frequência a única maneira de estruturar as atividades, os jovens
possuem uma falsa noção de liberdade, que, para um dos entrevistados, seria um
ponto positivo. Para a pesquisadora, essa noção de liberdade empregada pela
instituição exibe falhas em partes, uma delas seria o fato desse controle se tornar
ineficaz, pois o jovem possui livre acesso às atividades, sem lhe ser exigido nada,
apenas que cumpra a frequência, caso o mesmo atinja ao limite de três faltas
injustificadas, ele perderá a vaga, porém poderá se matricular logo em seguida, o
que para a pesquisadora gera certa falta de compromisso com os demais alunos e
profissionais.
Outra ação, que para a pesquisadora vai totalmente de encontro com o
conceito de formação proposto pela instituição, é o fato de não haver pré-requisitos
para se matricular nas atividades, o único existente seria o interessado se enquadrar
na idade entre 15 e 29 anos, que compreende a faixa etária da juventude. Em
alguns casos é aberta a exceção para alunos que não se enquadram nessa faixa
etária participarem das atividades, esse ponto pode parecer positivo, mas a falta de
requisitos para além da idade para a pesquisadora é um erro que compromete as
atividades, pois o equipamento foi criado para a juventude e visa manter essa
proposta, se a instituição começa a abrir exceções o serviço perde a sua principal
característica.
Diante disto, com base nos fatos exposto anteriormente, de acordo com
as entrevistas, os profissionais relatam que buscam relacionar o esporte ou outras
atividades e, como consequência, as regras da instituição seriam apresentadas por
81
outros alunos no decorrer dessas atividades, porém, na maioria das vezes, este
seria o primeiro contato com normas e regras que estes jovens teriam. Sendo esta
uma dificuldade inicial, esse campo deveria ser melhor trabalhado e as atividades
elaboradas de maneira mais eficiente.
Durante as entrevistas, deparou-se com a maneira de organização das
atividades que, segundo um dos profissionais entrevistados, traz ao jovem uma
“noção de liberdade” que seria um ponto positivo, pois não restringe sua entrada ou
sua saída. O que diverge da ideia da noção de liberdade empregada pela maneira
de organizar as ações do local. Ou seja, se o CUCA pretende realizar um trabalho
de formação, as normas propostas por ele devem ser mais claras e objetivas, assim
o jovem poderá compreender melhor as relações presentes na instituição.
Outro ponto relevante, destacando a falta de normas claras e a falta de
proximidade professor-aluno, é a fala do jovem entrevistado, que enxerga o esporte
apenas como uma atividade de lazer, bem-estar e melhoramento físico. Ou seja, a
“formação” proposta pela instituição ficou totalmente em segundo plano. O jovem vê
o esporte unicamente como uma atividade lúdica, não demonstrando, pelo menos
durante a entrevista, que esteja apreendendo através dele qualquer outro valor.
Para a pesquisadora, o sentimento de missão cumprida surge com a
construção dessa pesquisa, com a ida ao campo, com a escuta dos protagonistas
dessa história. Este trabalho é dedicado a essas pessoas, que estão todos os dias
na ponta, se empenhando ao máximo para mudar a vida de pelo menos um destes
jovens, para torná-los confiantes, para fazê-los acreditar em si.
82
REFERÊNCIAS
AQUINO, Luseni. A juventude como foco das políticas públicas. In: CASTRO, Jorge
Abrahão de Castro; et.al (orgs). Juventude e políticas sociais no Brasil. Brasília:
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2009.
ALCÂNTARA, Gisele Oliveira de; LEITE, Janete Luzia. As expressões da “questão
social” na era do capitalismo financeiro. Maranhão, 2011.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da república federativa do Brasil.
Brasília, DF, Senado, 1998.
________. Ministério da Saúde. Estatuto da criança e do adolescente / Ministério
da Saúde. 3. ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2008.
________. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Norma
Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social NOB/SUAS.
Brasília, 2005.
________. Lei nº 12.395, de 16 de março de 2011. Altera as leis nº9.615, de 24 de
março de 1998, que institui normas gerais sobre desporto, e 10.891, de 9 de julho de
2004, que institui a Bolsa-Atleta; cria os Programas Atleta pódio e Cidade Esportiva;
revoga a lei nº6.354, de 2 de setembro de 1976; e dá outras providências. Disponível
em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12395.htm>.
Acesso em: 10 abr. 2012.
________. Lei nº 10.264, de 16 de junho de 2001. Acrescenta inciso e parágrafos ao
art.56 da lei nº9.615, de 24 d e março de 1998, que institui normas gerais sobre
desporto. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03 /leis/ LEIS _2001 / L 1
0264.htm>. Acesso em: 10 abr. 2012.
________. Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998. Institui normas gerais sobre
desporto e dá outras providências, revogando as leis de nº 8.672 de 6 de julho de
1993 e de nº6.251 de 8 de outubro de 1975. Disponível em: <http:// www . P l a n a l
to.gov.br/ccivil_0 3 / l e i s / l 9 6 1 5consol.htm>. Acesso em: 10 abr. 2012.
BARREIRA, César (Coord) et.al (Orgs). Ligado na galera: juventude, violência e
cidadania na cidade de fortaleza. Brasília: UNESCO, 1999.
BARBANTI, Valdir José. Esporte como construção da cidadania, 2011. p.
Disponível em:<http:/www.eeferp.usp.br/paginas/docentes/Valdir/Esporte% 20como
%20construcao%20da %20cidadania.pdf>. Acesso em: 01 set. 2012.
BRENER, Branca Sylvia. O que é o protagonismo juvenil. Fundação Telefônica,
2005. Disponível em: <http://www.promenino.org.br/servicos/biblioteca/o-que-eprotagonismo-juvenil>. Acesso em: 04.abril.2014.
BORBA, Andreilcy Alvino; LIMA, Herlander Mata. Exclusão e inclusão social nas
sociedades modernas, 2011. In Serviço Social e Sociedade, São Paulo, n.106,
p.2019-240, abri./jun.2011.
83
BRENNER, Ana Karina. Um olhar sobre o jovem no Brasil. In: DAYRELL, Juarez;
et.al (orgs). Modo de vida e transição para vida adulta. Brasília: Ministério da
Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, 2008.
Blog
Fortaleza
em
fatos,
CUCA
Che
Guevara.
Disponível
em:
<http://www.fortalezaemfotos.com.br/2011/02/cuca-che-guevara.html>. acesso em:
03. Agosto. 2014.
Blog
André
Soares,
Times
de
Várzea.
Disponível
<http://andressoares.com.urlpreview.net/blog/brasoes-dos-times/>.
Acesso
20.nov.2014.
em:
em:
Blog Esporte no ar, Falso olheiro aplica golpe em vários estados do Brasil se
passando
por
Observador
do
ABC
de
Natal.
Disponível
em:
http://valeesportenoar.blogspot.com.br/2014/06/falso-olheiro-aplica-golpe-emvarios.html, acesso em 20. Nov.2014.
Blog Olheiro Digital. Disponível em: http://olheirodigital. C o m . b r / ? t a g=e sporti v
o>.Acesso em 25.Nov.2014.
CORREA, Silvio Marcos de Souza. Um olhar sobre o jovem no Brasil. In: et.al (orgs).
Modo de vida e transição para vida adulta. Brasília: Ministério da Saúde,
Fundação Oswaldo Cruz, 2008.
COSTA, Antônio Carlos Gomes da. Protagonismo juvenil: adolescência,
educação e participação democrática. Salvador: Fundação Odebrecht, 2000.
Disponível em: < http://www.odebrecht.com/node/4464. Acesso em: 24 abril. 2014.
CUNHA. Beatriz. Zacchi. A inclusão da criança em projetos sociais de educação
pelo esporte, 2007. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/
123456789/39/ monografia% 20beatriz%20cunha.pdf?sequence=3/>. Acesso em: 02
nov. 2012.
CFESS. Atribuições privativas do (a) Assistente Social em Questão. Brasília/DF,
2002.
Disponível
em:
<
http://www.cfess.org.br/arquivos/atribuicoes2012completo.pdf> Acesso em: 15. Dez. 2014.
Casos polêmicos de racismo no esporte, 2013. Disponível em:< http://racismono-brasil.info/mos/view/ C a s o s _ pol%C3%AAmicos_de_racismo_no_esporte/
Acesso em 25. Nov.2014.
Dia do desafio, 2014. Disponível em:<
http://www.sescpr.com.br/esporte-elazer/dia-do-desafio/>. Acesso em: 15. Dez.2014.
Enciclopédia do Holocausto, Os jogos Olímpicos de 1936-Berlim. Disponível em:
<http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10005680>. Acesso em 20.
Nov.2014.
84
Escola de Dança e Integração Social para Criança e Adolescente (EDISCA).
Disponível em: <http://www.edisca.org.br/br/#/social>. Acesso em: 20.nov.2014.
FREIRE, Paulo. Educação com prática de liberdade. São Paulo: Paz e Terra,
1967.
GIL, Antônio Carlos.Como elaborar projetos de pesquisa.São Paulo: Atlas,2002.
KAUARK, Fabiana. Metodologia da pesquisa: guia prático / Fabiana Kauark,
fernanda Castro Manhães e Carlos Henrique Medeiros. Itabuna: Via Litterarum,
2010.
LACOCCA, L. Você e a constituição: 33 temas para conhecer os seus direitos
de cidadão.São Paulo: casa Amarela, 2003.
LOVISOLO, Hugo. Sociologia do Esporte: Temas e problemas. Rio de Janeiro,
2011. Disponível em: <http://www.rbceonline.org.br/revista/index.php/ca d e r n o s /
a r t i c l e / view/1254>. Acesso em: 27. maio.2014.
MARQUES, Maurício Pimenta; SAMULSKI.Dietmar Martin. Ánalise da carreira de
jovens atletas de futebol na transição da fase amadora para a fase profissional:
escolaridade, iniciação, contexto sócio-familiar e planejamento da carreira,
2009. in Revista brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v.23, n.2,
p.103-19, abri./jun.2009.
MINAYO, Maria Cecilia de Souza., 1994. Ciência, técnica e arte: o desafio da
pesquisa social. In: Pesquisa social: teoria, método e criatividade (M.C.S. Minayo,
org.). Petrópolis: Vozes.
________. Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. 26. ed. Petrópolis:
Vozes, 2007.
NOVAES, Regina. Programa Mais Cultura Audiovisual, 2008. Disponível em:<
http://www2.cultura.gov.br/audiovisual/fictv/files/2008/12/juventude-juventudes.pdf >.
Acesso em: 14.Julho.2014.
OLIVEIRA, Ana Amélia Neri. O esporte como instrumento de inclusão social: um
estudo na Vila Olimpica do Conjunto Ceará. Fortaleza, 2007.
PIMENTEL, José. Estatuto da Juventude: mais direitos para a juventude que
transforma o Brasil. Brasília: Senado Federal, Gabinete do Senador, 2013.
PREFEITURA,
de
Fortaleza.
Disponível
em:
<<http://www.fortaleza.ce.gov.br/redecuca/cucas>>. Acesso em: 14.Julho.2014.
Projetos de inclusão social através do esporte. Disponível em:
<http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/5190/5832/>. Acesso em: 02 nov. 2012.
Peneiras no futebol. Disponivel em:< http://www.saopaulofc.net/equipe/formacao-
85
de-atletas/testes-e-inscricoes/>/>. Acesso em: 25 nov. 2014
Programa Esporte na Minha Cidade. Disponivel em: http://inacio.com.br/2013/10/ p
r efeitura-de-fortaleza-realizara-chamada-publica-para-programa-esporte-nacomunidade/>. Acesso em: 25.Nov.2014.
Politica
Nacional
do
Esporte,
2004.
Disponível
em:
<http://www.esporte.gov.br/index.php/meioacademico/83-ministerio-do-esporte
/institu c i o nal/o-ministerio/sala-de-imprensa2/21849-politica-nacional-do-esporte>.
Acesso em: 12.set.2014.
Portal G1, Após golpe em SP, garotos voltarão ao Ceará com ajuda da
prefeitura. Disponivel em: <http://g1.globo.com/ceara/noticia/2014/03/apos-golpeem-sp-garotos-voltarao-ao-ceara-com-ajuda-da-prefeitura.html>. Acesso em 20.
Nov.2014.
Portal de Música. Disponivel em: <http://www.portaldamusicamt. com/ s wingueira. h
tml>.Acesso em 25. Nov.2014.
RABÊLLO, Maria Eleonora Diniz Lemos. O que é protagonismo juvenil? In:
<www.cedeca.org.br/PDF/protagonismo_juvenil_eleonora_rabello.pdf>. Acesso em:
23.abril.2014.
Revista Brasileira de educação física e esporte.
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S180755092011000200010/>. Acesso em: 02 nov. 2012.
Disponível
em:
SOUZA, R.M. O discurso do protagonismo juvenil. Tese(Doutorado)-Programa de
Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de São Paulo. São Paulo,2006.
Disponível em:< http://www.teses.usp. Br/ index.php ? option=com _ c o n t e n t & v i
e w = a r t i c l e & id=49&Itemid=64&lang=pt-br >. Acesso em: 24.abril.2014.
SOUSA, Marijane Ribeiro. A intervenção do serviço social no esporte:a atuação
do assistente aocial em clubes de futebol, especificamente nas categorias de base.
2005. Disponível em: <http://www.geniodalampada.com.br/index.php?option=com _
c o n t ent & view = a r t icle&id=220:a-intervencao-do-servico-social-noesporte&catid=86:servico-so cial &I t e m i d=130>. Acesso em: 11 abr. 2014.
SAADALLAH, Márcia Mansur; GONÇALVES, Betânia Diniz; ABADE, Flávia Lemos.
Arte, cultura e cidadania: Tornando visível o invisível, 2006. disponível em:
http://www.abrapso.o r g . b r / s i t e p r i n c i p a l / i m a
ges/Anais_XVENABRAPSO/16.%20arte,%20cultura%20e%20cidadania%20tornand
o%20vis%CDvel%20o%20invis%CDvel.pdf. Acesso em: 24.abril.2014.
TEIXEIRA, Aleluia Heringuer Lisboa. Orientação pedagógica: Diferença entre o
86
esporte educacional, de rendimento e de participação, 2005. Disponivel em:
http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.aspx?ID_OBJETO =42037 & tipo
=ob & c p=999999&cb=&n1=&n2=Orienta%C3%A7%C3%B5es%20Pedag%C3% B3
gicas
&n3
=
Fundamental%20%206%C2%BA%20ao%209%C2%BA&n4=Educa%C3%A7%C3%A3o%20F%C3%A
Dsica&b=s. Acesso em: 21.set.2014.
TUBINO, Manoel José Gomes. Dimensões sociais do esporte. 3. ed. São Paulo:
Cortez, 2011.
TRINDADE, Daniele Paiva. Serviço Social e futebol: atuando na construção de
um
atleta
cidadão,
2010.
Disponível
em:
http://www.mesquitaonline.com.br/Artigos/visualizar.php?id=451. Acesso em: 01
set.2012.
UNESCO. Carta Internacional da Educação Física e do Esporte. Paris, 1978.
Disponivel em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0021/002164/216489por.pdf>.
Acesso em: 01.set.2012.
UNICEF. Esporte e Cidadania: guia de orientação para os municípios do
semiárido: Selo UNICEF Município Aprovado Edição 2009-2012 / Fundo das
Nações Unidas para a Infância. – Brasília: UNICEF, 2011. 52 p.: il. Disponível em:
<http://www.unicef.org/brazil/pt/esporte_cidadania.pdf>. Acesso em: 01 set. 2012.
Universidade de fortaleza, Alunos de educação física apresentam o atletismo em
escolas
da
rede
pública.
Disponível
em:
http://www.unifor.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5523:alunosde-educacao-fisica-apresentam-o-atletismo-a-alunos-da-redepublica&catid=218:noticia&Itemid=76. Acesso em: 20.nov.2014.
VIANNA, José Antônio; LOVISOLO, Hugo. Educação física, esportes e lazer para
as camadas populares: a representação social dos seus atores. In:congresso
brasileiro de ciências do esporte (13., 2003, Caxambu).Anais…Campinas: CBCE,
2003. [recurso eletrônico].
________. Esportes e camadas populares: inclusão e profissionalização. Tese
(Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Universidade
Gama
Filho.
Rio
de
Janeiro,
2007.
Disponível
em:
<<
http://cev.org.br/biblioteca/esporte-camadas-populares-inclusao-profissionalizacao/>.
Acesso em: 03.junho.2014.
VARGAS, Ângelo. Educação contra a violência no Esporte. 2011 Disponivel em:
http://www.confef.org.br/extra/revistaef/show.asp?id=3962. Acesso em 25. Nov.2014.
Violência
no
Esporte,
Estadão
online,
São
Paulo.
Disponivel
87
em:<http://topicos.estadao.com.br/violencia-no-esporte>. Acesso em 25. Nov.2014.
VESSONI, Rodrigo. Violência entre torcidas organizadas, São Paulo, 2013.
Disponivel em:<http://www.lancenet.com.br/minuto/Violencia-torcidas _organizadas _
0 _10 4 449 55 44.html#ixzz3K7xMwiyL>. Acesso em 25. Nov.2014.
WELLER, Mirja Jaksch. Esporte e educação não-formal: as atividades
esportivas como fator de inclusão social para jovens em situação de risco.
(2005).
Disponível
em:
<<
http://www.portalanpedsul.com.br/admin/uploads/2004/Poster /PostE S P ORTE_E _
EDUCACAO_NAO-FORMAL_AS_ATIVIDADES_ESPORTIVAS_COMO_.pdf>.
Acesso em: 03.junho.2014.
88
APÊNDICE I
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE
Caro (a) participante,
Sou Rebeca Marques de Melo, aluna da Faculdade Cearense (FAC).
Estou desenvolvendo um estudo, que tem cujo objetivo compreender a dimensão
social do esporte para construção da cidadania e inclusão social dos jovens
atendidos pelo Centro Urbano de Cultura, Ciência e Esporte (CUCA).
Esclareço que entrevistaremos__________________________________
Neste sentido, estou solicitando sua contribuição nesse estudo.
Gostaria de deixar claro que essas informações são sigilosas, e
principalmente seu nome não será em nenhum momento divulgado. Caso se sinta
constrangido, envergonhado, durante essa nossa entrevista, você tem o direito de
pedir para interrompê-la, sem causar prejuízo.
Mesmo tendo aceitado participar, se por qualquer motivo, durante o
andamento da pesquisa, resolver desistir, tem toda liberdade para retirar o seu
consentimento.
Dessa forma, gostaríamos de contar com a sua participação, permitindo
que realizemos entrevista e que possamos gravá-las para que nenhuma informação
seja perdida. Garantimos resguardar o seu anonimato, bem como o nome de
pessoas citadas na entrevista.
A pesquisa não trará risco a sua pessoa e você poderá desistir de
participar da mesma no momento em que decidir, sem que isso lhe acarrete
qualquer penalidade.
Diante disso, gostaria muito de poder contar com sua colaboração.
Atenciosamente,
_________________________________________________
Pesquisador
_________________________________________________
Entrevistado
Fortaleza, _____ de ___________________ de 2014.
89
APÊNDICE II
Questionário/Profissional I
Pesquisa de campo – Cuca Barra
Dados do entrevistado
Nome:
Formação:
Cargo/Função:
e-mail:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Há quanto tempo trabalha no CUCA?
Como é realizada a inclusão do jovem nas práticas esportivas?
Como é feito o trabalho de inclusão social através do esporte?
Qual esporte é o mais procurado?
Quais as modalidades oferecidas no CUCA?
Já tinha trabalhado com projetos sociais, se sim onde e como foi sua
experiência?
7. Quais são as mudanças que você como profissional observa nas crianças e
nos jovens quando iniciam a prática esportiva?
8. Quais são os principais problemas que esses jovens apresentam ao ingressar
no CUCA?
9. Quais as maiores dificuldades que o profissional enfrentam em orientar esses
jovens?
10. O índice de abandono ou desistência é considerável?
11. Desde que ano surgiu a necessidade de se inserir o esporte nos projetos do
CUCA e com qual finalidade ele se apresenta para o jovem?
12. Existem alguma formação para que esses jovens se tornem monitores?
13. O que é ensinado para este jovem através do esporte? Que lição se pode tirar
das práticas esportivas?
14. Quais comunidades são atendidas pelo CUCA?
15. Quantos jovens são atendidos pelo CUCA e qual faixa etária?
16. Existe algum pré-requisito para participar das atividades oferecidas pelo
CUCA, se sim quais são?
17. Existe alguma preocupação com a situação escolar do aluno do CUCA?
18. Os jovens participam de outras atividades, além do esporte?
90
APÊNDICE III
Questionário/Profissional II
Pesquisa de campo – Cuca Barra
Dados do entrevistado
Nome:
Função/Cargo:
Formação:
Email/Contato:
1. Há quanto tempo trabalha no CUCA?
2. Já tinha trabalhado com projetos/programas sociais, se sim onde, e como foi
sua experiência?
3. Fale-me um pouco sobre o CUCA?
4. Na sua percepção, qual é o papel do educador social?
5. Quais diferenças você percebe no fazer profissional?
6. E o trabalho do educador o que você faz exatamente?
7. E o seu trabalho como educador dentro do comunidade?
8. O que o comunidade em pauta representa no CUCA?
9. O que mudou a partir do Comunidade em Pauta?
10. Como e quando se iniciou o comunidade em pauta, como ele funciona?
11. Quais as maiores dificuldades enfrentadas no espaço de trabalho?
12. Como se dá a relação educador/jovem no CUCA?
13. Como se dá o trabalho do educador social com os demais profissionais e
setores?
14. Como educador social, quais mudanças são percebidas nos jovens em curto,
médio e longo prazo?
15. Onde os jovens têm mais participação?
16. Quais foram as principais mudanças no decorrer desses cinco anos de
CUCA?
91
APENDICE IV
Questionário/Jovem
JOVEM
Nome:
Idade:
Atividades que pratica:
Tempo que participa das atividades do CUCA:
1. Como foi seu ingresso e acesso ao CUCA?
2. O que lhe motiva a participar das atividades do CUCA?
3. O que mudou em seu cotiano quando começou a participar das atividades do
CUCA?
4. Que nota você daria para o CUCA? Justifique a nota.
5. O que você mudaria ou melhoraria no CUCA?
6. Na sua opinião, quais atividades do CUCA lhe chamam mais atenção?
7. Você gostaria de praticar mais atividades no CUCA? Quais?
8. Antes de conhecer o CUCA, você já tinha participado de algo parecido?
9. Pra você o que é cidadania(ser cidadão)?
10. Você gostaria de se tornar um monitor na área dos esportes no CUCA, ou em
outra área?
11. Quais seus objetivos com a prática do esporte, ou de outras atividades?
12. O que o esporte representa na sua vida?
13. Como você se avalia antes e depois da pratica do esporte?
14. A partir da pratica do esporte, quais ensinamentos você pôde trazer para sua
vida?
15. Como é o relacionamento dos jovens com os profissionais do CUCA? Os
jovens têm voz, podem dar sua opinião nas atividades?
92
ANEXO I
Figura 1 - Artes Marciais (MMA)
Fonte: Prefeitura de Fortaleza
Figura 2 – Artes Marciais (Jiu-Jitsu)
Fonte: Prefeitura de Fortaleza
93
ANEXO II
Figura 3 – Esportes de Quadra (Futsal)
Fonte: Prefeitura de Fortaleza
Figura 4 – Esportes de Quadra (Vôlei)
Fonte: Prefeitura de Fortaleza
94
ANEXO III – DESTAQUE NO ESPORTE
Figura 5 – Atleta José Edson Vitorino de Souza
Fonte: Prefeitura de Fortaleza
José Edson Vitorino de Souza, 25 anos: Em 2011 venceu a competição
no duathlon (natação e corrida). Em 2012 deu inicio aos treinos de triathlon (natação,
corrida e pedalada). No ano de 2014, o jovem venceu a I Etapa do Campeonato
Cearense de Triathlon Olímpico.
Morador do bairro Vila Velha, Dudé envolveu-se com o crime organizado
na adolescência. Mas, em 2011, foi levado por um amigo ao Cuca Barra, onde
começou a praticar natação. “O Cuca Barra mudou a minha vida. Se eu não tivesse
entrado lá, certamente, já estaria morto. Só tenho a agradecer, aprendi tudo lá, até a
ser uma pessoa melhor, mais calma”, conta o jovem em entrevista.
Download

centro de ensino superior do ceará faculdade cearense curso de