CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL REBECA MARQUES DE MELO AS INFLUÊNCIAS SOCIAIS DO ESPORTE PARA A JUVENTUDE: REFLEXÕES ACERCA DA CIDADANIA E DA INCLUSÃO SOCIAL NO CENTRO URBANO DE CULTURA, ARTE, CIÊNCIA E ESPORTE. Fortaleza 2014 REBECA MARQUES DE MELO AS INFLUÊNCIAS SOCIAIS DO ESPORTE PARA A JUVENTUDE: REFLEXÕES ACERCA DA CIDADANIA E DA INCLUSÃO SOCIAL NO CENTRO URBANO DE CULTURA, ARTE, CIÊNCIA E ESPORTE. Monografia apresentada ao curso de graduação em Serviço Social da Faculdade Cearense – FAC, como requisito para obtenção do título de bacharelado. Orientadora: Ms. Priscila Nottingham de Lima FORTALEZA 2014 REBECA MARQUES DE MELO AS INFLUÊNCIAS SOCIAIS DO ESPORTE PARA A JUVENTUDE: REFLEXÕES ACERCA DA CIDADANIA E DA INCLUSÃO SOCIAL NO CENTRO URBANO DE CULTURA, ARTE, CIÊNCIA E ESPORTE. Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FAC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data de Aprovação:___/___/_____ BANCA EXAMINADORA _____________________________________________ Ms. Priscila Nottingham de Lima Faculdade Cearense _____________________________________________ Ms. Silvana Maria Pereira Cavalcante Faculdade Cearense ____________________________________________ Ms. Francis Emmanuelle Alves Vasconcelos Universidade Federal do Ceará FORTALEZA 2014 À minha família pelo amor e pelo exemplo, À minha mãe em especial pela dedicação, A Junior Luz pelo conforto e pela compreensão, À Priscila Nottingham pela paciência e pelo companheirismo. AGRADECIMENTOS Este trabalho só foi possível devido à participação direta e indireta de diversos sujeitos que colaboraram com sua construção: família, professores e amigos. Só tenho a agradecer pela força que me foi dada nesse momento tão importante de minha vida. À minha família, em especial, minha mãe Roselene Marques, meu exemplo de mulher, por me fazer acreditar nos meus sonhos e me apoiar em minha escolha profissional, por me transmitir sua experiência de vida, que me fez ser quem sou hoje. Agradeço também à pessoa, que escolhi para passar o resto da vida comigo, Junior Luz, foi você que me compreendeu por inúmeras vezes, mesmo quando não mais suportava, viu-me sofrer e comemorar. Teve a imensa paciência de reler comigo os incansáveis trabalhos realizados, inclusive a monografia, capítulo por capítulo e, mesmo quando eu não aguentava mais, você estava ao meu lado para me levantar e dizer que eu era capaz e que concluiria com êxito. Pois bem, aqui estou, contando a história e fazendo dessas pessoas tão especiais participantes de minha conquista. Às minhas meninas queridas: à Angélica Monte e todas as suas faces extraordinárias, à Larissa Sousa e a sua criatividade incessante, à Marcela Ramos e sua multiplicidade de sentimentos, à Priscila Ribeiro com suas maquiagens e sentimentos à flor da pele. Todas vocês fizeram parte de inúmeros momentos maravilhosos dessa longa caminhada, tornamo-nos amigas, confidentes, irmãs. Aprendemos muito umas com as outras, choramos, sorrimos, brincamos e, hoje, posso dizer que todos esses momentos foram extremamente importantes para que eu concluísse minha jornada. Em especial, agradeço à Mayara Duarte e Samara Leite, juntas formamos um trio quase perfeito, com direito à foto exclusiva por semestre e muito mais. Pois bem, estamos juntas desde o primeiro semestre e só tenho a dizer que amo essas meninas e que elas têm um lugar guardado no meu coração hoje e sempre. Nós nos entendemos até no olhar, nem sempre, mas na maioria das vezes. E isso, para mim, é extremamente essencial. Não posso me esquecer de agradecer às amizades feitas no início dessa jornada, Marjorie Grazielle e Mayara Castro, vocês fizeram parte da nossa turma por um período, porém tiveram que alçar voos mais distantes, nossa amizade permanece até os dias de hoje e é com muito orgulho, que as incluo neste texto. Segundo minha amiga Mayara Castro, conhecemo-nos durante as leituras do texto “O mito da caverna” de Platão, e assim podemos citar o seguinte trecho da obra: “Há pois, o mundo das ideias e o mundo das aparências. Quem não percebe isto, vive como que numa caverna, onde o conhecimento se faz por meio de sombras...” Pois bem, acredito que o Serviço social nos fez enxergar além das sombras, o mundo é cheio de ideias, pensamentos, opiniões e faces. Não somos os mesmos que éramos antes de iniciar essa graduação, aprendemos muito, e estamos fadados a posicionamentos críticos e questionadores por toda nossa vida. Agradeço aos conselhos e ao exemplo de mulher de minha amiga Juaniza Abreu, que muito contribuiu para a minha formação pessoal e acadêmica, a alegria de Nádia Maria, que, por vezes, fez-me esquecer de momentos tensos em sala de aula com suas gargalhadas contagiantes. Agradeço também à Danielle Figueiredo e todos os momentos de descontração, à Tânia Rocha e sua experiência de vida implacável. Aos professores, em específico, agradeço à Priscilla Nottingham, que me orientou neste trabalho, nunca me esquecerei de sua didática fantástica e de suas aulas super esclarecedoras, das leituras dinâmicas de Verbena Sandy, das músicas de Rúbia Martins, dos incessantes risos durante as aulas de Hamilton Teixeira e dos ensinamentos dos demais que me fizeram conhecer o Serviço Social da melhor forma. À Silvana Cavalcante e Emannuelle Alves, as pessoas mais centradas e focadas que conheço, agradeço por tê-las conhecido e por terem aceitado participar da minha banca. À professora Jane Meyre, por acompanhar-nos na disciplina de TCC e fazer-nos sorrir quando queríamos chorar. Por fim, agradeço a todos e todas, que contribuíram, dizendo que nada será esquecido, cada rosto, cada palavra, cada seminário, cada confraternização, amigosecreto, chás de fralda (tivemos muitos), aniversários, trabalhos em trio de oito pessoas, enfim, tudo valeu super a pena. A todos e todas que, direta ou indiretamente, fizeram parte da minha formação, о mеu muito obrigado. O nosso maior medo não é sermos inadequados. O nosso maior medo é sermos infinitamente poderosos. É a nossa própria luz, não a nossa escuridão, que nos amedronta. Sermos pequenos não engrandece o mundo. Não há nada de transcendente em sermos pequenos, pois assim os outros não se sentirão inseguros ao nosso lado. Todos estão destinados a brilhar, como as crianças. Não apenas alguns de nós, mas todos. E, enquanto irradiamos a nossa admirável luz interior, inconscientemente estamos a permitir aos outros fazer o mesmo. E, quando nos libertarmos dos nossos próprios medos, a nossa presença automaticamente libertará os medos dos outros. (Trecho do Film Coach Carter - Treinando para a vida, 2005). RESUMO Esta pesquisa tem como principal proposta compreender a função social do esporte como agente de inclusão social e construção da cidadania para os jovens atendidos pelo Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA). Sendo esta uma pesquisa de natureza qualitativa. Para tanto, realizou-se pesquisa bibliográfica e de campo. A entrevista semiestruturada foi utilizada para coletar a percepção dos jovens e dos profissionais da instituição. A escolha do local se deu devido ao fato do mesmo propor-se oficialmente em trabalhar o esporte em suas três dimensões sociais: educacional, participação e rendimento. Assim, durante a pesquisa, o esporte pôde ser entendido a partir de uma ideia mais ampliada, para além do estímulo às atividades físicas. O estudo também abordará os possíveis aspectos negativos decorrentes do esporte moderno. A pesquisadora teve o contentamento de observar no lócus deste, o modo como os jovens se observam posterior às práticas esportivas, da mesma maneira que o modo como os profissionais lidam com os fatores desfavoráveis em seu fazer profissional no CUCA. Palavras-chave: Esporte. Cidadania. Inclusão social. Juventude. ABSTRATC This search has like main proposal to understand the social function of sport, as agent of social inclusion and construction of citizenship for the young attended by the Urban Center of Culture, Art, Science and Sport (CUCA). Being this a search of qualitative nature. For both, was held bibliographic e field search. The semistructured interview was used to collect the perception of the young people and professionals of the institution. The choice of the place occurred of the fact that the one was proposed officially to work sport in its three social dimensions (educational, participation and yield). So, during the search, the sport could be understood from a broader idea, in addition to the incentive to the physical activities. The study will approach the possible negative aspects arising of modern sport. The searcher had the contentment of watch in this locus the way young people see themselves rear the sportive practices, the same way as professionals deal with unfavorable factor in their professional doing in the CUCA. Keywords: Sport. Citizenship. Social Inclusion. Youth. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CUCA – Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte EDISCA – Escola de Dança e Integração Social para Criança e Adolescente CNTA - Centro Nacional de Treinamento de Atletismo UNIFOR – Universidade de Fortaleza COB – Comitê Olímpico Brasileiro CPB – Comitê Paraolímpico Brasileiro IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura SECEL – Secretaria de Esporte e Lazer da Prefeitura de Fortaleza MH2O – Movimento Hip Hop Organizado do Brasil FUNCI – Fundação da Criança e da Família Cidadã ONGs – Organizações Não Governamentais PROJOVEM – Programa Nacional de Inclusão de Jovens SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11 2 PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO .......................................................... 15 2.1. Lócus da pesquisa: Centro Urbano de Cultura, Ciência e Esporte (CUCA) .... 21 2.2. Sujeitos da pesquisa ....................................................................................... 25 3 ESPORTE: INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOCIAL E CIDADANIA ................. 29 3.1. Categorias da pesquisa ................................................................................... 29 3.2. Esporte: um breve histórico, suas influências e dimensões sociais ................ 38 3.3. Esporte e seus marcos legais ......................................................................... 44 4 PROFISSIONAIS E USUÁRIOS DO CENTRO URBANO DE CULTURA, ARTE, CIÊNCIA E ESPORTE(CUCA).................................................................................. 51 4.1. Profissionais do Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA) . 51 4.2. Usuários do Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA) ....... 61 4.3. Os aspectos sociais negativos do esporte moderno ....................................... 66 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 78 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 82 APÊNDICES ............................................................................................................. 88 ANEXOS ................................................................................................................... 92 11 1 INTRODUÇÃO Este trabalho tem como proposta compreender a função social do esporte como agente de inclusão social e construção da cidadania para os jovens atendidos pelo Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA), analisando as possibilidades de utilização do esporte como instrumento de desenvolvimento social, trabalho este que pode ser realizado não apenas na instituição em questão neste estudo, mas também em Organizações Não Governamentais (ONGs), Instituições de ensino públicas, privadas ou mesmo em clubes desportivos. O interesse da pesquisadora no tema está em investigar como ocorre a prática da interação e inclusão social dos jovens, bem como a construção da cidadania, em uma reflexão sobre as atividades propostas pela equipe multidisciplinar, que trabalha em função da concretização dessas práticas, utilizando como ferramenta o esporte. Através deste estudo, a pesquisadora buscou assimilar as interfaces sociais do fenômeno esportivo, pois já foi participante de projetos sociais, que utilizavam o esporte como instrumento de transformação social. Sendo esta uma indagação recorrente deste a época que era apenas aluna. O profissional de Serviço Social atua nas diversas expressões da questão social1, buscando sempre viabilizar os direitos dos usuários. Sendo sua atuação neste campo de grande importância, trabalhando de modo crítico e investigativo, interagindo com toda equipe multidisciplinar encontrada na área que remete a esta temática. Segundo Sousa (2005, p.03): “O assistente social pode e deve trabalhar em um conjunto de áreas: educação, saúde, família, formação em cidadania, e promoção da cultura e lazer, tudo relacionado com a prática esportiva.”. A área de atividades esportivas é um tema ainda pouco difundido no Serviço Social, por isso a pesquisa busca conhecer melhor como se dá a interação dessas áreas. A contribuição do profissional de Serviço Social poderá acarretar em diversos benefícios para estes jovens. Segundo Sousa (2005, p.03): “Na prática profissional do Assistente Social, uma questão a ser mencionada é a preocupação referente à formação em primeiro lugar, não do atleta, e sim, do cidadão o qual é detentor de direitos e deveres na sociedade.”. 1 A questão social diz respeito ao conjunto das expressões das desigualdades sociais engendradas na sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do Estado. 12 Assim, este novo campo de atuação deve ser mais explorado e seus resultados mais divulgados para que, dessa forma, possam ser aplicados e assim os jovens possam ter a oportunidade de terem seus direitos garantidos, conforme aquilo que se exige da atuação profissional, pela Lei de nº 8662/1993, que dispõe sobre a profissão de Assistente Social e dar outras providências. Dessa maneira, este estudo pretende mostrar ao leitor a perspectiva social do esporte, podendo ele ser trabalhado por outras vertentes profissionais e não somente pela área da Educação Física, englobando os seus mais diversos aspectos em um trabalho social em comum. O primeiro capítulo deste estudo abordará o percurso teórico- metodológico da pesquisa. O presente trabalho apresenta de forma qualitativa os dados coletados a partir da pesquisa bibliográfica, visita exploratória, pesquisa exploratória e de campo. Ainda, neste capítulo, a pesquisa apresenta o seu lócus, explorando o cenário escolhido para este trabalho com uma perspectiva investigativa e crítica. Esse capítulo ainda apresentará os sujeitos em foco para o estudo, bem como o modo que este é compreendido, perante a legislação e suas conjunturas sociais, proporcionando ao leitor deste trabalho o contato inicial com os atores principais desta pesquisa. O segundo capítulo da presente pesquisa abordará o esporte como instrumento de inclusão social e cidadania. Ele apresentará uma análise através de uma leitura das categorias principais em questão, sendo elas: o esporte, a inclusão social, a cidadania e o jovem. Sempre as relacionando de modo a facilitar a apreensão do leitor. Para compreender melhor o significado social do esporte, ainda, no mesmo capítulo, a pesquisadora apresentará um breve histórico do esporte, expondo os diversos papeis que ele possui na sociedade, seus aspectos, influências e dimensões de relevância social. Dessa maneira, este capítulo demonstrará as concepções do esporte como direito, e os marcos legais desse fenômeno, percorrendo, inicialmente, a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Juventude (2013), as Normas Gerais do Desporto (2011), as leis de incentivo ao esporte e as que regulamentam seus recursos, até a Carta Internacional da Educação Física e do Desporto da UNESCO e a Política Nacional do Esporte. Tendo em vista a proposta de atividades do Centro Urbano de Cultura, 13 Arte, Ciência e Esporte (CUCA), pode-se destacar suas áreas de atuação que têm como objeto chave o esporte, não sendo só um instrumento que se reporta ao bemestar e à prática de exercícios, mas também proporciona uma sociabilidade, que é de fundamental importância para crianças e adolescentes, principalmente para aqueles de classes menos favorecidas, intervindo diretamente para reverter a exclusão e a invisibilidade social de certos grupos. Por fim, o terceiro capítulo deste trabalho apresentará a análise das entrevistas, a perspectiva dos profissionais e dos usuários da instituição, e, para finalizar, descreverá os efeitos negativos do esporte moderno, evidenciando não somente o seu lado social e inclusivo, mas a título de informação e conhecimento, o presente trabalho elencará fatores contrários à função social do mesmo. O estudo apresentará, de modo geral, os exemplos de outras instituições que trabalham o esporte além do viés de rendimento, aplicando mecanismo de articulação entre as Organizações Não Governamentais (ONGs), das quais se pode citar o Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA) que será a instituição a qual a pesquisadora remeterá sua pesquisa, e outras como: a Escola de Dança e Integração Social para Criança e Adolescente (EDISCA) e o Centro Nacional de Treinamento de Atletismo da Universidade de Fortaleza (CNTAUNIFOR), que, há algum tempo, possuem trajetória nesta área, promovendo educação, esporte, cidadania e cultura com perspectivas de inclusão social, buscando contribuir para o desenvolvimento humano. Tomando o esporte como exemplo, pode-se observar o fato de ele ir muito além de competições e ginásios, ele também constrói valores necessários para um fazer social e humano pouco presente nesta sociedade marcada de desigualdades. Dessa forma, os objetivos deste estudo foram: compreender a função social do esporte, naquilo que tange a construção da cidadania e a inclusão social dos jovens, atendidos pelo Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA), analisando as perspectivas dos profissionais e dos jovens da instituição supracitada. Por meio deste, identificar a relevância do esporte como agente de transformação social, explorando-o através dos relatos e das experiências dos entrevistados. Compreendendo que além do lado social, o esporte também possui o seus aspectos negativos e suas consequências desfavoráveis aos “possíveis beneficiários” do fenômeno esportivo. Em análise das entrevistas e do campo, a 14 pesquisadora teve a oportunidade de perceber todos esses aspectos, cujo leitor poderá se aprofundar e entender melhor a sua gênese durante a apreciação do presente estudo. 15 2 PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO A natureza deste estudo é realizada em uma perspectiva de cunho qualitativo, com a tradução de dados disponibilizados ao longo de entrevistas, procurando analisar o objeto em questão, descrevendo, além da objetividade material, as subjetividades intrínsecas às relações da conjuntura em questão, encontradas durante todos os processos da pesquisa. Dessa maneira, conforme expressa Minayo (2007): A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. (MINAYO, 2007, pp.21-22) Tendo em vista que a pesquisa qualitativa responde às particularidades das questões enfrentadas pela pesquisa social, sendo ela um instrumento que compreende o objeto estudado, empregando valor às subjetividades e às peculiaridades do objeto pesquisado. Observando que o propósito da pesquisa é conhecer o objeto de modo a apresentá-lo de forma clara e sucinta. Dessa maneira, conforme expressa Minayo (2007): […] podemos observar que o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes, pois o objeto da pesquisa qualitativa dificilmente pode ser traduzido em números e indicadores quantitativos. (MINAYO, 2007, p.23) Os sujeitos desta pesquisa não poderiam ser melhor analisados em outro método, visto que quando se pesquisa nas ciências sociais, a interpretação dos dados do material teórico e dos sujeitos, não seriam tão bem compreendidos se não fosse permitido considerar suas subjetividades, muitas vezes invisíveis a “olho nu”. O objeto deve ser explorado de modo que sua análise seja realizada de maneira aprofundada, conforme expressa Minayo (2007): […] compreender e explicar a dinâmica das relações sociais que, por sua vez são depositárias de crenças, valores, atitudes e hábitos. Trabalham com a vivência, com a experiência, com a cotidianeidade[sic] e também com a compreensão das estruturas e instituições como resultados da ação humana objetivada.Ou seja, desse ponto de vista, a linguagem, as práticas e as coisas são inseparáveis. (MINAYO, 2007, p.24) Todo o processo de investigação que viabilizou o resultado desse estudo qualitativo esteve respaldado pela pesquisa bibliográfica. Iniciada a partir da coleta 16 de dados, como primórdio para conhecermos, satisfatoriamente, o assunto pelo qual a pesquisadora tem interesse, procurando identificar, particularizar e demarcar assuntos com a mesma problemática, tendo como origem livros, artigos científicos ou páginas na internet. Dessa maneira, pode-se familiarizar com os mecanismos em que buscamos informações, sendo cautelosa para simplesmente não acumular materiais e sim analisar detalhadamente, conforme expressa Gil (2002): A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Boa parte dos estudos exploratórios pode ser definida como pesquisas bibliográficas. As pesquisas sobre ideologias, bem como aquelas que se propõem à análise das diversas posições acerca de um problema, também costumam ser desenvolvidas quase exclusivamente mediante fontes bibliográficas. (GIL, 2002, p.44) Para a construção do acervo bibliográfico, a pesquisadora procurou por autores que dimensionam o esporte como um agente social, relacionando-o com outras vertentes como: cidadania e inclusão social, voltadas para seu público-alvo, que são os jovens. No Serviço Social, são poucos os autores que produzem a respeito, e os que fazem, geralmente trabalham em alguma instituição, que reporta o esporte ao lado social, porém institucionalizado. À vista disso, foi realizada uma pesquisa na área da educação física, que produz muito a respeito e, assim, foram encontrados alguns autores que foram de extrema relevância para a construção do trabalho e que deram base para fundamentar as categorias abordadas no estudo, Manoel Tubino (2011) foi um dos autores principais, e que proporcionou a aproximação com a área pesquisada, em específico, este é um dos autores que se refere ao esporte em seus mais variados âmbitos. A partir das leituras do mesmo, o objeto desta pesquisa foi sendo aperfeiçoado. O interesse pela dimensão social do esporte surgiu da leitura do livro de Tubino (2011), que trata a historicidade do esporte e o modo como surgiu, não só para satisfazer as finalidades físicas e corporais, mas para plantar ideais de bemestar social pelo Estado. Voltando para o lado da sociologia, encontra-se algo bastante novo, que é a sociologia do esporte, pautada por Lovisolo (2011), no que diz respeito ao esporte, esclarecendo a importância de entendê-lo além da perspectiva biológica, enfatizando seus valores sociais. Ainda falando sobre esporte, também se traz como base, Barbanti (2011), que descreve o esporte como um fator 17 fundamental para a formação, principalmente da juventude. Dando continuidade à abordagem dos autores utilizados durante todo o trabalho, naquilo que tange a inclusão social através do esporte, situei minha definição em Cunha (2007), que traz o esporte como fator de desenvolvimento primordial. A referida autora compreende a inclusão como um fator social e não institucional. Já para discutir cidadania, me apropriei dos conhecimentos de Saadallah (2006), que trazem a cidadania como uma responsabilidade individual e coletiva, atuando em parceria com outros fatores, por exemplo: a arte, a cultura, a educação e o esporte. Por fim, a juventude foi sistematizada tendo por base Novaes (2008), autora que define juventude como um ser produzido historicamente em uma sociedade dinâmica. Defendendo a luta pela efetivação e reconhecimento dos direitos dos mesmos. Como instrumento das ciências sociais, a pesquisa social estuda o objeto, dentro de um processo de construção histórica. Observando as relações de identidade existentes entre sujeito e objeto, com base em outros estudiosos, Minayo (2007), apresenta alguns desafios enfrentados quando se resolve pesquisar. Para Strauss (apud Minayo, 2007): “Numa ciência, onde o observador é da mesma natureza que o objeto, e o observador é, ele próprio, uma parte de sua observação” (p. 215). Portanto, quando se faz parte da situação pesquisada, torna-se um desafio investigar, porém, para que a pesquisa seja realizada é necessário um desprendimento das opiniões de cunho pessoal, e fazendo parte do espaço pesquisado, é necessário que o mostre além dos conceitos formados antecipadamente. Como parte da juventude e por ter participado de projetos que tivessem como foco o esporte, sendo por meio dele fomentado a ser participante da sociedade, como pesquisadora, pode-se dizer que foi observada e observadora. Conforme expressa Minayo (2007): […] nada pode ser intelectualmente um problema se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática. As questões da investigação estão, portanto, relacionadas a interesses e circunstâncias socialmente condicionadas. São frutos de determinada inserção na vida real, nela encontrando suas razões e seus objetivos. (MINAYO, 2007, p.16) Tanto a historicidade do objeto como as particularidades do mesmo ou as afinidades que o pesquisador possui com o tema, fazem com que a pesquisa se 18 torne mais instigante, pois, de fato, os indivíduos interessam-se bem mais em pesquisar aquilo que se tem curiosidade; objetos, que prendem a atenção em leituras fazendo refletir; objetos pelos quais já se teve experiências práticas ou não; objetos, que se fazem questionar, tornando, a partir desses fatos, a pesquisa dinâmica e rica. Pois, a pesquisa só se realiza através de um percurso metodológico, que envolve uma trajetória anterior a ela, bem como, métodos, técnicas e teorias. Conforme expressa Minayo (2007): Entendemos por metodologia o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Ou seja, a metodologia inclui simultaneamente a teoria da abordagem (o método), os instrumentos de operacionalização do conhecimento (as técnicas) e a criatividade do pesquisador (sua experiência, sua capacidade pessoal e sua sensibilidade). (MINAYO, 2007, p.14) O trabalho de campo teve início com a pesquisa exploratória, que visa compreender o objeto no seu lócus, tornando-o mais familiar, e aproximando o objeto da pesquisa à pesquisadora. Levando em consideração a área um pouco incomum em pesquisas do Serviço Social, essa fase é umas das mais importantes, pois traz o contato direto com a ideia antes formulada apenas no papel. Desse modo, podem-se conhecer os sujeitos e o local escolhido para a presente pesquisa, visando deixar claros os conceitos tanto para a pesquisadora como para os futuros leitores deste trabalho. Conforme expressa Gil (2002): Pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se [sic] difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis. (GIL, 2002, p.27) Em busca de uma investigação mais ampla, o referido estudo teve por base a visita exploratória realizada no Centro Urbano de Cultura, Ciência e Esporte – CUCA da Barra do Ceará (Regional I), equipamento este que atende a juventude e faz parte da rede CUCA, atendendo também no Jangurussu (Regional IV) e no Mondubim (Regional V). Localizados em territórios estratégicos da grande Fortaleza e com altos índices de vulnerabilidade social. Cada CUCA atende, por mês, mais de mil jovens em cursos de formação e esportes, e, aproximadamente, quatro mil pessoas nas atividades de difusão cultural, abertas ao público de todas as idades. Isso sem falar das comunidades localizadas no entorno dos CUCAs, que se beneficiam direta e/ou indiretamente da vivência plena da condição juvenil. 2 Assim como toda investigação se inicia por uma dúvida, a pesquisadora 2 Prefeitura de Fortaleza (2014) 19 teve o interesse de conhecer melhor esta área e compreender o modo de trabalho dentro da instituição, e, assim, o modo como a mesma utiliza o esporte para construção da cidadania e inclusão social, conforme expressa Minayo (2007): Toda investigação se inicia por uma questão, por um problema, por uma pergunta, por uma dúvida. A resposta a esse movimento do pensamento geralmente se vincula a conhecimentos anteriores ou demanda a criação de novos referenciais. (MINAYO, 2007, p.16) Visando obter respostas daquele cotidiano até então desconhecido pela pesquisadora, buscou-se adquirir o máximo de informações possíveis anteriormente à visita de campo para que fosse possível embasar teoricamente essa experiência, com o objetivo de construir primeiramente o projeto de pesquisa e posteriormente o Trabalho de Conclusão de Curso. Conforme expressa Gil (2008): Sugere-se que após essa formulação provisória do problema sejam feitas leituras e entrevistas exploratórias tanto com especialistas na área quanto com pessoas que integram a população a que o estudo se refere. (GIL, 2008, p.37) Dessa forma, com o intuito de investigar o campo de pesquisa, foi desenvolvida uma visita exploratória e, através dela, entrevistas com alguns profissionais da instituição para atingir os objetivos do estudo na expectativa de analisar, identificar, estudar e observar a relevância do esporte como instrumento de transformação social para os jovens atendidos pelo Centro, junto ao trabalho da equipe multidisciplinar do CUCA, estabelecendo paralelos entre as atividades desenvolvidas no Centro e suas propostas de enfrentamento em relação à exclusão social de jovens e aos progressos observados na vida dos mesmos. Em relação à técnica da entrevista, destaca-se que esta técnica pode ter o caráter exploratório ou apenas o objetivo de coletar dados. Sendo esta de caráter exploratório, serão permitidas eventuais indagações, desse modo, a pesquisadora utilizou a técnica contemplando aquilo que de mais relevante havia nos relatos. Conforme expressa Kaurtak (2010): A entrevista é uma das técnicas utilizadas na coleta de dados primários. Para que a entrevista se efetive com sucesso é necessário ter um plano para a entrevista, de forma que as informações necessárias não deixem de ser colhidas. As entrevistas podem ter caráter exploratório ou serem de coleta de informações. Se forem de caráter exploratório, serão permitidas eventuais indagações ou levantamento de dados e informações que não estejam contempladas no formulário; as de coleta de informações são altamente estruturadas, devendo seguir um roteiro previamente estabelecido e darem conta de respostas-núcleo do objeto de investigação, preferencialmente elaboradas com itens e questões fechadas, com múltiplas escolhas. (KAURTAK, 2010, p.64) 20 Haja vista a importância da pesquisa de campo e a natureza interventiva do Serviço Social, as entrevistas foram ferramentas relevantes para a construção desta pesquisa, a partir delas pode-se aproximar do objeto e dos sujeitos propostos por este trabalho. Com base nos conhecimentos adquiridos durante a pesquisa bibliográfica e exploratória, definiu-se a entrada em campo de acordo com os ensinamentos de Minayo (2007), conforme expressa trecho a seguir: O trabalho de campo permite a aproximação do pesquisador da realidade sobre o qual formulou uma pergunta, mas também estabelece uma interação com os “atores” que conformam a realidade e assim, constrói um conhecimento empírico importantíssimo para quem faz pesquisa social. (MINAYO, 2007, p.61) O trabalho de campo é indispensável quando se escolhe uma instituição como base para pesquisa, pois só a partir desse processo investigativo, considerando as fases bibliográfica e exploratória, a entrada em campo se torna mais compreensível. Uma pesquisa exploratória bem elaborada, seguida de uma visita exploratória proveitosa, trazem resultados favoráveis para a pesquisa de campo. Assim, expressa Minayo (2007). […] a riqueza desta etapa vai depender da qualidade da fase exploratória. Ou seja, depende da clareza da questão colocada, do levantamento bibliográfico bem feito que permita ao pesquisador partir do conhecimento já existente e não repetir o nível primário […] dos conceitos bem trabalhados que viabilizem sua operacionalização no campo e das hipóteses formuladas. (MINAYO, 2007, p.61) Com a soma de diversos fatores, a pesquisa assumiu forma, e as escolhas parecem mais claras com o tempo, para isso, é necessário formular a metodologia, de maneira substancial, às nossas possibilidades. O pesquisador deve estar pronto para as adversidades, que poderão surgir no caminho, ele deve levar em consideração sempre as suas possibilidades e os seus limites. Conforme expressa Minayo (2007): […] o pesquisador precisa não ficar preso às surpresas que encontrar e nem tenso por não obter respostas imediatas a suas indagações. [...] Mas é possível recomendar que sempre exercitemos um olhar dinâmico e atento que passe da confrontação da proposta cientificamente formulada para as descobertas empíricas e vice-versa. (MINAYO, 2007, p.62) Em fase de análise dos dados coletados, pode-se observar a relevância de cada aspecto analisado durante a pesquisa na vida dos jovens assistidos pelo CUCA, através de entrevistas com alguns jovens, que fizeram ou fazem o uso das práticas esportivas oferecidas pela instituição, bem como, através de entrevistas voltadas para os profissionais do CUCA, considerando assim os limites e as 21 possibilidades, que obtiveram desde que iniciaram sua participação nestas atividades. Os jovens selecionados estavam na faixa etária de 15 a 29 anos, que compreende a faixa etária prevista para juventude conforme o Capítulo I dos princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude, o parágrafo 1º, do Estatuto da Juventude. Para este fim utilizou-se, como instrumental, entrevistas não estruturadas, que permitem ao entrevistado mais liberdade em uma conversa inicial, bem como, possibilita ao pesquisador uma série de desdobramentos, pois a entrevista fluirá de acordo com as respostas dadas. Durante sua realização, novos questionamentos podem surgir, da mesma maneira que, as indagações iniciais podem parecer pouco relevantes. Dessa maneira, conforme expressa Gil (2008, p.117): “Nas entrevistas estruturadas, a formulação das perguntas assume um caráter metódico. Já nas entrevistas não estruturadas o desenvolvimento das perguntas depende do contexto da conversação.”. Considerando-se os meios utilizados e a forma como essa dinâmica da pesquisa pôde ser aplicada em campo, compreender essas questões dentro do meio e buscar elucidar os objetivos através dos instrumentais foram os desafios propostos no item seguinte, que apresentará o lócus da pesquisa e os sujeitos propostos por ela. 2.1 Lócus da pesquisa: Centro Urbano de Cultura, Ciência e Esporte (CUCA). Para um melhor esclarecimento sobre o cenário escolhido para a pesquisa, compartilham-se as informações sobre este espaço, projetadas e desenvolvidas para a juventude. Localizado na Barra do Ceará, o equipamento visa fomentar atividades voltadas para formação, cultura, arte, lazer e esporte. O espaço procura proporcionar aos jovens a vivência plena da condição juvenil, da mesma maneira que oportunizar benefícios diretos e indiretos às comunidades localizadas no entorno do local. (PREFEITURA DE FORTALEZA, 2014). O CUCA atua desde 2009, é localizado em um território estratégico 3 e é considerado um dos maiores espaços culturais da América Latina. O CUCA dispõe de estrutura da seguinte forma: cine teatro, ginásio de esportes, campo de futebol, 3 O princípio da territorialização significa o reconhecimento da presença de múltiplos fatores sociais e econômicos, que levam o indivíduo e a família a uma situação de vulnerabilidade, risco pessoal e social. 22 piscina olímpica, rádio- escola, dentre outros espaços que atendem às demandas da juventude e da comunidade, que praticam alguma atividade no centro.4 O CUCA também conta com os núcleos (diretorias) de formação, difusão e programação, atividades especiais e protagonismo juvenil, que trabalham as áreas específicas de cada atividade oferecida. A Diretoria de Formação tem por finalidade elaborar, propor, realizar, articular e avaliar projetos de educação profissional e formação nas áreas de cultura, arte e esportes, voltadas, preferencialmente, para jovens. A Diretoria de Difusão e Programação é responsável por conceber propostas de atividades que envolvam arte, cultura e esporte, promovendo experiências de fruição coletivas, de reconhecimentos, formação do olhar e de plateias em atividades de entretenimento, lazer e difusão. A Diretoria de Núcleos e Atividades Especiais, que atua conhecendo os interesses e articulando projetos existentes na comunidade. A Diretoria do Protagonismo Juvenil, responsável por articular o contato com os jovens, entendendo suas demandas e promovendo ações que possibilitem às juventudes a construção do seu caminho de forma autônoma e crítica.5. Apresentado o campo de pesquisa, numa perspectiva metodológica, vale indicar o posicionamento de Minayo (2007) quando trata da entrada da pesquisadora nesse espaço. De acordo com a autora citada, a fase exploratória de campo6, as etapas do trabalho de campo e os procedimentos para análise são fundamentais para que seja possível a efetivação da mesma. Seguindo esses princípios, valorizouse bastante essa fase. Conforme expressa Minayo (2007): […] há uma série de fenômenos de grande importância que não podem ser registrados por meio de perguntas ou de documentos quantitativos, mas devem ser observados in loco, na situação concreta em que acontecem. Entre eles se incluem [...] o tom das conversas e da vida social, ao redor das casas (ou em outros espaços que são objeto da pesquisa), a existência de hostilidades, de simpatias e antipatias entre as pessoas; a maneira sutil, mas inquestionável em que as vaidades e ambições pessoais se refletem nas reações emocionais dos indivíduos. (MINAYO, 2007, p.76) A fase exploratória trouxe à pesquisadora, uma percepção mais realista do campo, bem como a possibilidade de fundamentar a prática a partir das discussões realizadas, pois é, no campo, onde se observa, onde se promove a 4 Matéria do Blog Fortaleza em Fatos (2011) Prefeitura de Fortaleza (2014) 6 Escolha do espaço da pesquisa, critérios e estratégias para escolha do grupo/sujeitos de pesquisa, a definição de métodos, técnicas e instrumentos para a construção de dados e os mecanismos para entrada em campo. (2007) 5 23 aproximação com o objeto, com os sujeitos; é o local que permite o contato direto entre os atores participantes da mesma e o sujeito que os analisa. Conforme expressa Minayo (2007): O trabalho de campo é, portanto, uma porta de entrada para o novo, sem, contudo, apresentar-nos essa novidade claramente. São as perguntas que fazemos para a realidade, a partir da teoria que apresentamos e dos conceitos transformados em tópicos de pesquisa que nos fornecerão a grade ou a perspectiva de observação e de compreensão. Por tudo isso, o trabalho de campo, além de ser uma etapa importantíssima da pesquisa, é o contraponto dialético da teoria social. (MINAYO, 2007, p.76) O primeiro contato que se teve ao pesquisar o campo foi com a área de esportes do local, a entrevista exploratória foi realizada com o coordenador de esportes no ano de 2012. Durante suas falas, ele fez um panorama sobre a implantação do CUCA e sobre a atuação do esporte como uma das atividades principais do Centro. Segundo o entrevistado, as atividades esportivas são o carro-chefe do local, e acabam sendo as mais procuradas por possuir bastante diversidade e atender a todos os públicos. As atividades oferecem desde os esportes mais populares como futebol, futsal, basquete, vôlei, natação e handebol, como artes marciais, polo aquático, pilates, triathlon e rugby. De acordo com as informações coletadas, a maioria dos jovens manifesta vontade de participar de tais atividades, mas sua escola, seu bairro ou sua comunidade não os asseguravam em relação a esse acesso. O CUCA foi implantado no território com uma nova roupagem, porém a adesão da juventude às atividades da instituição não foi tão fácil, a maioria das pessoas da comunidade tinha receio em frequentar o espaço, e, na fase inicial, a comunidade se mostrou um pouco resistente. Entretanto, com o tempo e mobilização feita pela equipe de profissionais do CUCA, as atividades acabaram ganhando muitos adeptos, principalmente com a divulgação do “boca a boca”.7 Gradativamente, as pessoas participavam, gostavam e convidavam os amigos, os vizinhos, e, assim, o público teve um aumento considerável. Outros assuntos foram abordados durante a entrevista e outras pessoas também participaram direta e indiretamente dela, entretanto esses assuntos somente serão discutidos mais a frente. No processo de construção da pesquisa, consideramos todo o acervo 7 Dados coletados durante entrevista 24 colhido, tanto anterior à entrada em campo, como nos aspectos constatados durante as falas dos entrevistados. Todos esses dados foram de suma importância para que a pesquisadora desse a continuidade à pesquisa. Conforme citado, tanto a visita como a entrevista exploratórias oferece um desenvolvimento gradativo ao conteúdo da pesquisa. Conforme expressa Gil (2007): As pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias [sic], tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. [...] Habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso. Procedimentos de amostragem e técnicas quantitativas de coleta de dados não são costumeiramente aplicados nestas pesquisas. (GIL, 2007, p.27) Para desenvolver a pesquisa de campo, o pesquisador deve também trabalhar com o uso de outras técnicas para que a pesquisa seja realizada com êxito. Para Minayo (2007), embora haja muitas formas e técnicas de realizar o trabalho de campo, dois são os instrumentos principais desse tipo de trabalho: a observação e a entrevista. Enquanto a observação é feita sobre tudo aquilo que não é dito, mas pode ser visto e captado por um observador atento e persistente, a entrevista tem como matéria-prima a fala de alguns interlocutores. Segundo Minayo (2007), os instrumentais utilizados para desenvolver a pesquisa de campo são essenciais. A ida ao campo nos revela aspectos antes pouco observados. O trabalho de campo pode ser definido como um divisor de águas da pesquisa, pois a partir dele vários enfoques surgem e a pesquisa se torna cada vez mais clara e objetiva. Para a pesquisa de campo, tomamos por base os ensinamentos de Minayo (2007), que expressa, muito bem, as ações que o pesquisador deve realizar em campo, quando afirma que: Todo pesquisador precisa ser curioso, um perguntador. E essa qualidade deve ser exercida o tempo todo no trabalho de campo, pois este será tanto melhor e mais frutuoso quanto mais o pesquisador for capaz de confrontar suas teorias e suas hipóteses com a realidade empírica. (MINAYO, 2007, p.77). A entrevista é uma das etapas mais esperadas da pesquisa, visto que é, nesta fase, que se tem a ciência de que se chegou ao objeto, pois é o momento de escutar os sujeitos para analisar os objetivos propostos e construir outros fundamentos para desenvolver a pesquisa. Conforme expressa Gil (2008): Pode-se definir entrevista como a técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção 25 dos dados que interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação. (GIL, 2008, p.109) As informações adquiridas, durante as entrevistas, se tornam parte de um processo de elaboração, e é, neste período, que precisamos sistematizar os dados e as ideias, observando aquilo que realmente interessa para o tema. Os elementos mais relevantes devem ter prioridade nesta fase, pois, a partir deles, podem-se formular mais adequadamente as categorias da pesquisa. A entrevista focalizada foi uma das técnicas utilizadas para a coleta de dados, visando obter o maior número de elementos possíveis para construção do objeto. Conforme expressa Gil (2008): A entrevista focalizada é tão livre [...]; todavia, enfoca um tema bem específico. O entrevistador permite ao entrevistado falar livremente sobre o assunto, mas, quando este se desvia do tema original, esforça-se para a sua retomada. (GIL, 2008, p. 112) Considerando-se, assim, as indagações que surgem ao longo dela, uma vez que, não se pode estar fechados a novas referências, principalmente, quando se referem a dados subjetivos, que, muitas vezes, só podem ser adquiridos através do depoimento dos sujeitos. Conforme expressa Minayo (2007): A entrevista como fonte de informações pode nos fornecer dados [...] que são objetos principais da investigação qualitativa refere-se a informações diretamente construídas no diálogo com o indivíduo entrevistado e tratam da reflexão do próprio sujeito sobre a realidade que vivencia. Os cientistas sociais costumam denominar esses últimos de dados “subjetivos”, pois só podem ser conseguidos com a contribuição da pessoa. (MINAYO, 2007, p.112) De modo a dar continuidade à pesquisa e expor as ideias da mesma, o tópico seguinte retratará os sujeitos da pesquisa como objetos fundamentais deste trabalho, sendo estes sujeitos participantes de todo processo de construção deste estudo. 2.2 Sujeitos da Pesquisa Esta pesquisa tem o jovem como interlocutor principal. Segundo o Estatuto da Juventude (Lei de nº 12.852, De 5 de Agosto de 2013), no parágrafo 1º, são consideradas jovens as pessoas com idade entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove) anos de idade. Este público foi pensado pelo CUCA por ser um dos mais vulneráveis e estar em uma fase nova da vida, no mundo das escolhas, do trabalho, dos estudos e etc. É, geralmente nesta idade, que se passa por um período de transição, 26 deixando de ser criança e passando a ter mais responsabilidades e cobranças da família e da sociedade em geral. É também, neste momento, que é imposto ao jovem escolher uma profissão, uma área de formação, ou a velha opção dos mais necessitados, um trabalho. Conforme expressa Novaes (2004): […] a juventude é compreendida como um tempo de construção de identidades e de definição de projetos de futuro. É vista como tempo de “moratória social”, “etapa de transição”, em que os indivíduos processam sua inserção nas diversas dimensões da vida social: responsabilidade com família própria, inserção no mundo do trabalho, exercício de direitos e deveres de cidadania. (NOVAES, 2004, p.4) Segundo Novaes (2004), a juventude é uma das faixas etárias mais marginalizadas perante a sociedade, pois esta fase é vista como negativa pela maioria, principalmente em relação àqueles em situação vulnerável, com ausência de renda e vínculos fragilizados. Nesta idade, é atribuída a impressão de que os jovens estão prontos para a vida, para o trabalho, para assumir, muitas vezes, diversas responsabilidades e sanar problemas estruturais, financeiros, entre outros. Para a sociedade, a juventude é vista por dois aspectos: o aspecto privilegiado, que lhe oferece jovialidade, mobilidade, tempo e etc. Porém o aspecto negativo é bem mais pautado, pois a visão, que se tem, é de que o jovem é irresponsável e que vive no ócio, sem muitas perspectivas e afazeres. Conforme expressa Novaes (2004): [...] a “juventude” também é vista como o lugar privilegiado para a expressão de todo mal-estar social. Provoca inquietações e evoca “problemas sociais” tais como violência, ócio, desperdício e irresponsabilidade. No âmbito profissional ou no tocante à participação nos processos de tomada de decisão – inclusive nas esferas políticas – ser jovem é residir em um incômodo estado de devir, justificado socialmente como estágio de imaturidade, impulsividade e rebeldia exacerbada. (NOVAES, 2004, p.6) O jovem da periferia, muitas vezes, é privado de realizações pelos fatores do cotidiano, principalmente, o de classe baixa, e, muitas vezes, não tem escolha, pois, desde muito cedo, não se tem acesso a inúmeras questões como: educação de qualidade, saúde, moradia digna, segurança. A imagem de jovem ideal quase sempre está ligada ao trabalho, e, com isso, pode-se observar que nem sempre essa relação funciona para todos. Conforme expressa Novaes (2004): No presente momento histórico, a tensão local-global se manifesta no mundo de maneira contundente: nunca houve tanta integração globalizada e, ao mesmo tempo, nunca foram tão profundos os sentimentos de desconexão e agudos os processos de exclusão. Sem qualquer paralelo em relação a outras gerações, em um mundo sem fortes ideologias, os jovens de hoje se deparam com múltiplas evidencias da degradação sócio- ambiental e com o aumento dos abismos sociais. Como projetar o futuro tendo à frente a um 27 elevado grau de incerteza sobre os caminhos para a inserção no mundo do trabalho? (NOVAES, 2004, p.10) Esse não é um problema só dos jovens, é um problema social que afeta a todos, principalmente aqueles desprovidos financeiramente. Entretanto, podemos afirmar que o jovem é um dos mais afetados por todas as questões sociais desse sistema8, que acabam, muitas vezes, por selecionar os participantes, a sociedade sofre com a carência em diversas áreas, mas a falta de estímulos e a falta de incentivo dentro e fora de casa é um dos principais fatores para que a maioria das pessoas continue a permanecer na situação em que se encontram, sem perspectivas de mudanças. Tornam-se reféns de um processo de construção desigual. Dessa maneira, expressa Correa (2008, p.12): “quase a metade dos jovens no Brasil se situa em uma zona cinza, de riscos, de vulnerabilidade.”. Trabalhar toda uma estrutura é sempre desafiador, visto que, o jovem não é somente classificado por uma faixa etária, essa estrutura compreende além do corpo, uma série de questões que abordam desde suas relações sociais, bem como, profissionais e familiares, até o sonho de se tornar um atleta ou mesmo um professor. Essa tarefa é desafiadora, mas não impossível, tornar o jovem produto de um meio organizado, que o proporciona possibilidades futuras é um exercício árduo, porém compensador. Dessa maneira, expressa Brenner (2008): […] é preciso considerar o lazer como tempo sociológico, no qual a liberdade de escolha é elemento preponderante e se constitui, na fase da juventude, como campo potencial de construção de identidades, descobertas de potencialidades humanas e exercício de inserção efetiva nas relações sociais. Assim, considerando o lazer pode ser espaço de aprendizagem das relações sociais em contexto de liberdade de experimentação. (BRENNER, 2008, p.30) Dentre outros, este foi um dos fatos pelo qual a pesquisadora decidiu trabalhar a categoria esporte e compreender como se dá esse incentivo, não levando em consideração apenas o corpo e os benefícios para a saúde, mas o lado social que este possuiu, o esporte é uma ferramenta que trabalha dimensões sociais como, a inclusão social e a cidadania, podendo esse lado ser bem mais difundido e encarado como um espaço sócio ocupacional para os alunos e profissionais de Serviço 8 Social. A “questão social” relaciona-se estritamente à sociedade capitalista, notadamente em sua fase monopolista, aglutinado o conjunto de desigualdades sociais, políticas e culturais das classes sociais e que têm diferentes expressões no cotidiano da vida social. 29 3 ESPORTE: INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOCIAL E CIDADANIA 3.1 Categorias da pesquisa: Cidadania e Inclusão Social Para melhor esclarecer os objetivos desta pesquisa, cabe considerar a análise de categorias como: esporte, juventude, inclusão social e cidadania. Particularizando, os conceitos do esporte no processo de inclusão social, construção da cidadania, compreendendo a importância do esporte no cotidiano da juventude e as estratégias utilizadas para promover o protagonismo juvenil. Dessa maneira, para definir categorias de uma forma geral, apresentamos a concepção de Minayo (2007): As categorias são empregadas para se estabelecer classificações. Nesse sentido, trabalhar com elas significa agrupar elementos, ideias ou expressões em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso. Esse tipo de procedimento, de um modo geral, pode ser utilizado em qualquer tipo de análise em pesquisa qualitativa. (MINAYO, 2007, p. 70) Para a proposta desta pesquisa, considera-se o esporte o foco central da discussão, estabelecendo a relação entre ele e as demais categorias, tendo em vista que não se pode conhecer a realidade sem considerar a totalidade relacional existente nesse processo. A fase exploratória traz à pesquisa um olhar mais profundo naquela realidade, que se insere. Os dados coletados a partir dela formulam de modo mais claro as ideias da pesquisa. Conforme expressa Minayo (2007): As categorias podem ser estabelecidas antes do trabalho de campo, na fase exploratória da pesquisa, ou a partir da coleta de dados. Aquelas estabelecidas antes são conceitos mais gerais e mais abstratos. Esse tipo requer uma fundamentação teórica sólida por parte do pesquisador. Já as que são formuladas a partir da coleta de dados são mais específicas e mais concretas. (MINAYO, 2007, p. 70) A pesquisadora buscou relacionar todas as categorias envolvidas na pesquisa com o esporte, pois foi a partir dele que se construiu essa investigação. Tendo esse como categoria principal, definir-se-ão, ao longo das mesmas, suas peculiaridades, inicialmente diferenciando brevemente o esporte educacional, o esporte de participação e o esporte de rendimento. Conforme expressa Teixeira (2006, p.01), “o esporte educacional refere-se àquele que é praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer.”. 30 Conforme ainda o mesmo autor, em relação ao esporte de participação, refere-se “àquele que é praticado de modo voluntário, compreendendo as modalidades desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a integração dos praticantes na plenitude da vida social, na promoção da saúde e da educação e na preservação do meio ambiente.”. Teixeira (2006, p.01), por fim, define o esporte de rendimento, que se refere “àquele praticado com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e comunidades do País, e estas com as de outras nações.”. O Centro Urbano de Cultura, Ciência e Esporte, trabalha o esporte nas três modalidades citadas acima.9 Com isso, pode-se compreender a dimensão da relação social do esporte com a juventude. Como eixo fundamental, exerce influência no desenvolvimento social dos atores principais desta pesquisa. Dessa maneira, expressa Cunha (2007): Através da prática esportiva, pode-se sistematizar situações de ensino e aprendizagem que garantem às crianças e jovens o acesso a conhecimentos práticos e conceituais. Dando oportunidade a todos que desenvolvam suas potencialidades, de forma harmoniosa e não seletiva, visando o aprimoramento do ser humano. (CUNHA, 2007, p. 15) Considerando ainda a categoria principal desse estudo, vimos que o esporte também é estudado por outras vertentes, sendo uma delas a sociologia do esporte. Segundo Lovisolo (2011, p. 80), “busca aliar os conhecimentos da educação física com as ciências sociais, discutindo a importância de se articular esses saberes, a primeira área trata do lado biológico, físico e corporal, a segunda traz a questão crítica, indagadora e o indivíduo como matéria social.”. Os enfoques distintos destas áreas são complementares, quando se trabalha associando o esporte e o social, em meio às atribuições profissionais. Dessa maneira, expressa Lovisolo (2011): Para a sociologia, os esportes podem ser classificados a partir das interações específicas entre seus atores e o meio ambiente. Esportes individuais são diferentes dos grupais ou coletivos, esportes em ambiente natural podem ser distinguidos de esportes praticados em ambientes padronizados e que eliminam as incidências da natureza. Um esporte organizado em torno de clubes, como o futebol, tem significados sociológicos diferentes daquele esporte no qual o clube desempenha papel reduzido, como no tênis. Não temos o fenômeno da torcida organizada neste esporte. Os princípios que organizam os esportes são objeto do trabalho sociológico tanto quanto as formas de organização dos torcedores e os motivos das práticas e do gosto pelo espetáculo esportivo. (LOVISOLO, 2011, p.84) 9 Prefeitura de Fortaleza (2014) 31 Como se vê, os enfoques do esporte perpassam por inúmeras dinâmicas, sejam elas realizadas em clubes, em escolas, nas comunidades, ou mesmo ao ar livre. Porém, considera-se que o mais importante nesse sentido é a participação e a interação entre os constituintes das atividades. Conforme expressa Brenner (2008): […] A convivência em grupos possibilita a criação de relações de confiança; desse modo, a aprendizagem das relações sociais serve também de espelho para construção de identidades coletivas e individuais. Em suma, as diferentes práticas de cultura e lazer em espaços sociais públicos podem ser consideradas como verdadeiros laboratórios, onde se processam experiências e se produzem subjetividades. (BRENNER, 2008, p.30) A sociabilidade está ligada ao esporte, este pode ser considerado em três das suas dimensões; educação, participação e rendimento. No que tange à construção da cidadania e à inclusão social. Conforme expressa Lovisolo (2011): Uma das coisas que a sociologia do esporte pretende entender é como chegamos a valorizar o esporte e o lazer, a atividade física para a saúde, a modelagem corporal segundo padrões específicos. Quais foram as influências? Procura também entender como, a partir de interações situadas em relação a valores e normas, os indivíduos se tornam atletas, como aderem ou não à atividade física para a saúde, como chegam ou não a gostar ou se interessar pelos esportes. (LOVISOLO, 2011, p.86) O esporte não deve ser tratado superficialmente, limitado apenas ao fator esporte de rendimento, pois ele está para além dessa prática. Contudo não podemos ignorar sua importância, pois através do esporte de rendimento muitos jovens conseguem construir suas carreiras e enxergam o esporte como fator decisivo para ascensão financeira. Dessa maneira, expressa Marques (2009): O sonho de tornar-se um jogador de futebol profissional, adquirir “status” social e melhores condições financeiras para si mesmo e, muitas vezes, para toda sua família está presente em todas as “peladas” (práticas informais organizadas pelos próprios participantes sem necessariamente seguir as regras e regulamentos determinados pela federação ou órgão regulador do esporte) nas ruas e escolas do Brasil. (MARQUES, 2009, p.01) Visto isso, é nesse momento que se pode considerar a entrada da intervenção profissional, pois todo e qualquer profissional, que esteja envolvido nessa área, é capaz de exercer o seu melhor papel, orientando, esclarecendo os jovens e suas famílias, conforme expressa Trindade (2010): O profissional envolvido em um clube de futebol precisa ter consciência muito clara do seu papel enquanto desafiador do crescimento dos sujeitos ali inseridos. Muitos são os desafios deste profissional, pois cabe a ele a proposição do convívio com as regras, a promoção da informação, a busca da superação, da alienação, o estabelecimento do diálogo, o aproveitamento de eventos diversos relacionados à cultura e tantos outros. (TRINDADE, 2010, p.01) 32 O esporte de rendimento traz em si muito fascínio, e aos profissionais que atuam junto aos jovens, dentro desses espaços, o esporte traz grandes desafios. O mundo esportivo muitas vezes é deslumbrante, mas nem sempre todos conseguiram ascensão. Conforme expressa Trindade (2010): O mundo que esses jovens atletas de futebol vivem é por diversas vezes deslumbrante, pois muitos vêm de origem humilde e de uma hora para outra podem desfrutar do bom e do melhor em todos os sentidos, podem escolher a roupa, a marca do tênis e da chuteira, o restaurante que poderão frequentar. Isso tudo é um choque de realidade e alguns não conseguem se manter tão profissionais com a facilidade que o mundo esportivo pode dar a eles. Neste sentido, o trabalho do assistente social entra em cena, pois cabe a ele trazer o sujeito de volta à sua realidade, fazendo com que perceba as coisas que realmente são importantes para a sua vida e para o seu futuro. (TRINDADE, 2010, p. 02) O esporte de rendimento também trabalha o seu lado inclusivo, existindo até programas de âmbito federal que apoiam essa ideia, porém para que um jovem alcance esse patamar não é fácil, e a seletividade desse percurso se mostra dominante. Para se tornar um atleta, dedicação, tempo, talento, incentivo e patrocínio são necessários, uma vez que sem o último, provavelmente, o jovem sonhador não chegará a lugar algum, tendo em vista que o aspirante à atleta necessita se manter e arcar com os custos desse treino. Conforme Oliveira (2007) aponta: O esporte de rendimento tem como duas de suas características a seletividade e a exclusão. Obedece a regras estabelecidas universalmente e apresenta uma tendência a ser praticado pelos talentos esportivos, dessa forma está a serviço do mercado através da compra e venda de produtos esportivos e da indústria do entretenimento. (OLIVEIRA, 2007, p.20) Um fator importante para possibilitar mais sucesso aos jovens, que enveredam ou pretendem enveredar pelo esporte de rendimento, é que ele deve ser trabalhado em seus mais diversos âmbitos, ou seja, os treinadores não devem ser os únicos a desempenhar o trabalho de formação, profissionais de outras áreas devem participar desse processo e adentrar nesses espaços sócio-ocupacionais, aliando assim os conhecimentos de cada área em um processo inclusivo e transformador. Conforme Oliveira (2007): De modo geral, o professor de esportes que assume o posicionamento tradicional enaltece o individualismo em detrimento do coletivismo; a seletividade em detrimento da participação coletiva; a competição exacerbada em detrimento da cooperação; a vitória a qualquer custo em detrimento da integração dos alunos; a iniciação precoce em detrimento do lúdico; o autoritarismo em detrimento do diálogo; desconsiderando totalmente as necessidades do aluno e seu contexto social. (OLIVEIRA, 2007, p. 25-26) 33 Com relação ao esporte no processo de inclusão social, podem-se citar trabalhos, como: A Escola de Dança e Integração Social para Criança e Adolescente (EDISCA); segundo publicação no site da instituição, a escola forma bailarinos profissionais e professores, promovendo uma transformação notória, com ênfase na formação dos mesmos. O Centro Nacional de Treinamento de Atletismo (CNTA), que funciona em parceria entre a Universidade de Fortaleza (UNIFOR) e Caixa Econômica Federal, enfatiza a importância do esporte no desenvolvimento da socialização dos jovens, com indicadores concretos. Muitos atletas se tornaram campeões em suas categorias e também se tornaram professores. Pensando nisso, segundo publicação no site da Universidade de Fortaleza, o centro de treinamento através da adesão às práticas esportivas, sejam elas com o interesse ou não de se tornarem atletas profissionais, busca promover os futuros atletas e proporcionar a inclusão social através dessas práticas. Toda construção e o reconhecimento se dão a partir desta gênese, assim pode-se perceber o crescente número de instituições que abordam a temática e se interessam em particularizar a formação desses jovens. As políticas públicas têm dado importância ao fenômeno esportivo, reconhecendo-o como ferramenta de inclusão social. Conforme expressam Vianna e Lovisolo (2005): O reconhecimento do esporte como canal de socialização positiva ou inclusão social, é revelado pelo crescente número de projetos esportivos destinados aos jovens das classes populares, financiados por instituições governamentais e privadas. […] As campanhas recentes para a adoção de estilos de vida ativa e saudável e o crescente investimento em instalações e projetos de esportes, destinados à população, indicam que, sob o ponto de vista da política pública, a crença sobre os benefícios psico-fisiológicos se materializa em ações facilitadoras da prática. (VIANNA e LOVISOLO, 2005, p.01) Segundo Cunha (2007), fica claro, no teor do mesmo, o princípio da inclusão, não havendo qualquer tipo de discriminação, garantindo a igualdade na prática esportiva. Para isso, a maneira com que o esporte é abordado deve ser estudada a fundo não permitindo nas atividades esportivas nenhuma forma de exclusão. Devido ao reconhecimento dessa necessidade, é importante investigar de que forma se dá o processo de inclusão dentro dos projetos sociais, que desenvolvem a proposta de educação pelo esporte. Dessa maneira, expressa Cunha (2007): Através de pesquisas realizadas entre [...] jovens de baixa renda, pode-se verificar que em sua grande maioria, não possuem recursos financeiros para 34 o desenvolvimento de habilidades em entidades desportivas particulares, que facilitem sua inclusão social. Devido a essa carência financeira, foram pensadas e estudadas possibilidades para o desenvolvimento humano nessas áreas de baixa renda. E uma das formas que vem se mostrando eficaz são os Projetos Sociais. (CUNHA, 2007, p. 13) Como foi tratado anteriormente, o esporte faz parte de um processo, sendo considerado como um dos canais de inclusão social, contudo para que haja inclusão é necessário que os jovens tenham acesso a essas atividades, muitas delas praticadas apenas em clubes particulares, nos quais estes jovens provavelmente não teriam como custear, conforme expressa Brenner (2008): O lazer é uma atividade social historicamente condicionada pelas condições de vida material e pelo capital cultural, que constitui sujeitos e coletividades. A base material da existência é um dos mais fortes limites da inserção diferenciada no mundo do lazer. […] O tempo livre do trabalho, muitas vezes, pode significar o espaço de penúria, da opressão, da falta de oportunidades. Esse é o caso dramático do desemprego e da desocupação, situação vivida por uma expressiva parcela de jovens brasileiros (BRENNER, 2008, p. 31) Nesse momento, entra o trabalho de instituições como o CUCA, que oferece a estes jovens o acesso pleno às mais variadas atividades esportivas, e que além da formação, também oferece a oportunidade da prática do esporte de rendimento, podendo este jovem vir a se tornar um atleta profissional e representar seu Estado ou até mesmo seu país. (PREFEITURA DE FORTALEZA, 2014) Essa possibilidade só é possível, pois, dentro do referido Centro, esses jovens são sensibilizados, devido a uma formação diversificada. Conforme a entrevista realizada com o Coordenador de esportes, foi deixado bem claro que mesmo fomentando a prática do esporte de rendimento, a prática esportiva ultrapassa esse viés, pois dentro da instituição os jovens têm a oportunidade de realizar diversas atividades, não se atendo somente aos esportes. O jovem poderá participar de aulas de teatro, fotografia, dança, entre muitas outras, e, assim, ele acaba se fixando naquilo que mais lhe causa fascínio, inclusive quando deixam de ser alunos, parte deles se tornam monitores e repassam seus conhecimentos e experiências para os demais. O CUCA é um dos poucos projetos dessa área, que não exige frequência escolar, o jovem é convidado a participar das atividades desde que tenha interesse, porém são cobrados a assiduidade e o respeito com os demais alunos e professores e outros funcionários. Porém, uma das mudanças que pode ser observada é justamente a reinserção escolar de muitos. Durante a entrevista, o coordenador relatou que nota nos jovens uma 35 grande diferença depois do ingresso nas atividades do CUCA, os jovens começam inclusive a se cuidar mais esteticamente e em relação à saúde do corpo, também foram observados pelo entrevistado que os jovens chegam, inicialmente, ao projeto, cansados e desanimados, mas, com o decorrer do tempo acabam por se entrosar e participar das atividades, estabelecendo novas amizades e melhorando a autoestima10. A cidadania foi uma das categorias propostas pela pesquisadora, com o objetivo de relacioná-la com o esporte, ser cidadão é ir além da ideia de possuir direitos e deveres, é compreender que existe a necessidade de conhecê-los, para reivindicá-los quando negligenciados. A inclusão social está ligada diretamente à cidadania, quando é relacionada com o processo de divisão presente em nossa sociedade. Conforme expressa Saadallah (2006): […] somos até hoje um país dividido em cidadãos e subcidadãos,“subnutrição, subemprego, submoradia, subeducação, subdesenvolvimento, subcultura, enfim, tudo o que começa com subdesigna o conjunto de características dos que subsistem do outro lado da linha que separa os incluídos na cidadania dos excluídos dessa condição” (COSTA apud SAADALLAH, 2006, p. 04) O esporte trata-se de um desses direitos e, atrelando esses conceitos, pode-se dizer que, para ser cidadão, nada melhor do que praticar seus direitos. Dessa maneira, expressa Saadallah (2006, p.04): “podemos pensar na cidadania como uma responsabilidade individual e coletiva com o social e o bem comum, buscando cooperação e complementaridade na ação coletiva, em trabalho democrático e plural.”. A dimensão da construção da cidadania dos jovens, através do esporte, está ligada à ação formadora, prática esta que está em constante aprimoramento, trabalhado constantemente em todas as etapas, a partir desse fazer que o jovem se torna mais observador e adquire conhecimentos que só tendem a acrescentar em sua bagagem, e se fazem como formação integral dos mesmos. Ter consciência de seus atos já é um exercício de cidadania e é também considerado um grande avanço, pois muitos jovens entram no Centro sem conseguir trocar poucas palavras e com os diálogos propostos pelos profissionais acaba por se extinguir. O esporte traz em sua prática a necessidade do diálogo, da interação, o que acarreta em mudanças na formação do indivíduo que faz uso delas. Dessa 10 Dados coletados durante a entrevista 36 maneira, expressa Barbanti (2011): A realidade do nosso esporte e o conhecimento cada vez mais fundamentado sobre a atividade deixam transparecer a necessidade de se criar uma outra filosofia relativa a este tipo de prática, que sustente a procura de caminhos mais apropriados. Nesta visão, impõe-se antes de mais nada que se tenha uma ideia clara do que representa e o que significa a formação do indivíduo. (BARBANTI, 2011, p.01) Conforme expressa, Barbanti (2011), “deveríamos ser mais sensíveis à importância do movimento e do alcance educativo da formação esportiva dos jovens. Nossos esforços deveriam ir à direção da formação integral de nossa juventude, sendo a formação esportiva um componente dessa formação.”. Sendo o esporte um componente da formação integral, todos os profissionais envolvidos na temática devem estar mais sensíveis do papel por ele representado, pois, em conjunto com as demais áreas e atividades, ele poderá se tornar uma ferramenta de desenvolvimento social. Sendo o esporte um espetáculo, isso repercute em seus praticantes, brincadeiras e jogos fizeram parte de uma fase de formação na vida desses jovens, hoje não mais, muitos jovens se encontram presos a perspectivas individuais e não mais coletivas. As relações sociais foram banidas pelo entretenimento individualizado. Dessa maneira, expressa Barbanti (2011): Nossa sociedade assiste atônita a uma surpreendente patologia comportamental: o desaparecimento da infância como fase natural da vida humana. Já não vemos crianças entretidas em brincadeiras e jogos que faziam parte da paisagem urbana das nossas cidades. Com apoio dos próprios pais, entusiasmados com a perspectiva econômica, muitas crianças estão sendo prematuramente condenadas a uma vida adulta e sórdida. Privadas da infância, elas estão se comportando, vestindo, consumindo, falando e trabalhando como adultos. A inocência infantil está sendo impiedosamente banida pela indústria do entretenimento. (BARBANTI, 2011, p.02) Segundo Saadallah (2006), a cidadania sempre esteve ligada à noção dos direitos, sejam eles civis, políticos e sociais, referindo-se às liberdades individuais de cada um. Esses conceitos afirmam a ideia de que ser cidadão é ter direitos e deveres, mas esse processo vai muito além disso. Se não tiver conhecimento de nossos direitos, provavelmente, nunca se recorrerá a eles, sejam eles em relação a uma fila de hospital, de um banco ou mesmo em qualquer outro equipamento, que forneça serviços à população, sejam eles públicos ou privados. Muitas vezes costuma-se parecer atônitos, quando na realidade dever-se-ia reivindicar o acesso a serviços garantidos universalmente assegurados pela 37 Constituição de 1988. O esporte pode trazer esta prática, desde que seja trabalhado da maneira correta. Conforme expressa Oliveira (2007): O Esporte Educacional difundido dentro e fora da escola tem por finalidade democratizar e gerar cultura, configurando-se como uma prática social de exercício crítico da cidadania, privilegiando a inclusão social, a troca de saberes e conhecimentos, o respeito às diferenças, a diversidade, a valorização das culturas e a experiência significativa. (OLIVEIRA, 2007, p.20) Relacionando o esporte à cidadania, pode-se observar que o direito a seu acesso também está garantido por lei, porém poucos têm conhecimento dessas informações, a cidadania envolve uma postura a ser construída em parceria, e o esporte é um desses parceiros na formação dos jovens, desenvolvendo saberes de modo individual e coletivo. O esporte traz o lado inclusivo e competitivo, por isso deve ser discutido e avaliado, principalmente, quando se trabalha com jovens em período de formação. Assim expressa Saadallah (2006): [...] as grandes transformações pelas quais vem passando a humanidade, especialmente a partir da década de 1990, reconhecidas como o processo de globalização mundial, traz novos desafios para se pensar a relação da pessoa com o seu contexto social e com o coletivo. Neste contexto, em que o individualismo, a exclusão, o preconceito, a competição exacerbada e o consumismo tomam conta de nossa vida, constatamos uma reprodução de ideias entre as pessoas, e um grande conformismo com a situação de opressão e exclusão em que vivem. (SAADALLAH, 2006, p.04) Em fase de análise dos dados colhidos para a pesquisa, pode-se observar a relevância de cada aspecto analisado durante a mesma, na formação dos jovens assistidos pelo CUCA, através de entrevistas realizadas com alguns profissionais do centro e com alguns jovens, que fizeram ou fazem o uso das práticas esportivas oferecidas pela instituição, conceituando assim, os limites e as possibilidades que obtiveram desde que iniciaram sua participação nestas atividades. Para essa pesquisa, considera-se como jovem aquele que se encontra na faixa etária de 15 a 29 anos, de acordo com o Capítulo I dos princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude, o parágrafo 1º, do Estatuto da Juventude. A juventude também define um período diferente da vida, como explicitado anteriormente, é, nessa fase, que se passa por uma brusca mudança entre ser criança ou se tornar adulto, não se tem escolha com relação a essa mudança, mas se sabe que ela pode ser trabalhada da melhor forma possível para que não haja maiores consequências. Conforme expressa Aquino (2009): […] a juventude também foi tradicionalmente tematizada como fase transitória para a vida adulta, o que exigiria um esforço coletivo, principalmente da família e da escola, no sentido de “preparar o jovem” para ser um adulto socialmente ajustado e produtivo. (AQUINO, 2009, p.01) 38 Em geral, não se é preparado para essa mudança e as instituições, das quais os jovens fazem parte, tendem a fragmentar cada etapa, como se o ritual de passagem fosse feito por um simples soar de sinos. Conforme expressa Aquino (2009): Tendo como referência central o conceito de socialização, esta abordagem sugere que a transição é demarcada por etapas sucessivamente organizadas que garantem a incorporação pelo jovem dos elementos socioculturais que caracterizam os papeis típicos do mundo adulto. […] Ao fim deste processo, o jovem-adulto adentraria uma nova fase do ciclo da vida [...]. (AQUINO, 2009, p.01) Normalmente, os indivíduos se esquecem de que são produtos de um meio que está em constante mudança, em que nada é previsível, inclusive o conceito de juventude, de cidadania, de inclusão ou mesmo de esporte, daqui a um tempo estes podem estar totalmente ultrapassados, pois são produtos históricos, e a história é dinâmica e transitória. Conforme expressa Novaes (2008): Olhada como fase natural da vida, a “juventude” é tratada como um segmento populacional bem definido, suposto como universal. No entanto, os limites etários e as características de cada uma das “idades da vida” são produtos históricos, resultados de dinâmicas sociais mutantes e de constantes (re) invenções culturais. (NOVAES, 2008, p.03) Utilizando os meios e as categorias acima citadas, realiza-se uma pesquisa de maneira clara e objetiva, com a finalidade de produzir um material com informações imprescindíveis no que se refere à temática do esporte para a construção da cidadania como meio de inclusão e interação social. O esporte aborda diversas dimensões, dessa forma, as categorias citadas acima permitem articular com os demais assuntos que serão abordados no decorrer desta pesquisa. Para refletir sobre esses questionamentos, faz-se necessário, discutir os marcos legais do esporte, apontando as perspectivas das propostas implementadas por lei, como também, um breve histórico do esporte e sua gênese naquilo que tange a promoção social. 3.2 Esporte: Um breve histórico, suas influências e dimensões sociais O esporte surgiu como um dos maiores fenômenos do século XX, consolidando-se através de sua abrangência na forma mais prática do esporte. O esporte-educação e o esporte de rendimento são os mais difundidos, porém o esporte também possui seu lado social e todo um significado por traz dessa relação. 39 Dessa maneira, expressa Tubino (2011): […] o esporte situou-se, na segunda metade do século XX, como um dos mais relevantes fenômenos sociais do mundo, pela abrangência de seu envolvimento e de suas relações, é possível explicar esta interpretação, principalmente pela mudança conceitual ocorrida nas últimas décadas, quando deixou de perspectivar-se apenas no rendimento, e conseguiu também incorporar os sentidos educativos e o bem-estar social. Hoje, sabese que o fato esportivo possui uma abrangência muito maior, o que lhe permite encontrar significados sociais mais efetivos. (TUBINO, 2011, p. 09) O esporte também possui um grande papel ideológico, sendo utilizado como uma ferramenta política desde a criação das olimpíadas na antiga Grécia. Naquele período, governantes usaram-no para fomentar a participação alienada da sociedade. Inclusive, é muito comum ver-se políticos apoiando times de várzea11 em época de campanha, bem como, promovendo campeonatos de futebol em comunidades com maior quantitativo eleitoral. As influências do esporte são as mais diversas possíveis, desde a economia até mesmo a política. Conforme expressa Lovisolo (2011): As influências do esporte na economia e na política, por exemplo, e as influências do esporte na formação de valores e hábitos formam parte do discurso da sociologia e da história. Houve marxistas e seguidores que analisaram as influências negativas do esporte sobre a classe trabalhadora. Outras teorias destacam a influência positiva do esporte na formação de hábitos e valores, na educação e integração social. Assim, as teorias sociológicas do esporte não podem escapar ao tratamento das influências nem àquilo que promotores e críticos disseram no passado e dizem no presente. (LOVISOLO, 2011, p.86) Além das influências políticas, o esporte também exerce suas influências na formação do indivíduo, através das práticas coletivas de participação, que fazem parte da interação social. Segundo, Weller (2005), a prática esportiva está mais a serviço dos grupos dominantes do que dos jovens em precária situação de inserção social. Dessa maneira, expressa Weller (2005): […] os jovens se deparam constantemente com a precariedade no atendimento aos seus direitos básicos como alimentação, habitação, educação e saúde. O lazer desses jovens geralmente acontece nas ruas do bairro com suas poucas opções de divertimento e os seus sonhos se realizam na vida dos protagonistas das telenovelas, de seus ídolos esportivos ou do entretenimento da mídia de massa. (WELLER, 2005, p. 01) Considerando os fatores ideológicos, políticos e de lazer, pode-se perceber que o esporte abrange as mais diversas áreas de atuação e influência, sendo de fundamental importância a garantia a seu acesso, independente de raça, 11 Segundo publicação do Blog André Soares, time de várzea: são clubes de prática amadora, que funcionam informalmente, com o intuito de reunir amigos nos fins de semana, 2014. 40 gênero, classe social, religião ou limitação. Dessa maneira, expressa Weller (2005): […] percebe-se uma grande aderência à atividade esportiva, tanto em quantidade de instituições que as utilizam quanto pela diversidade dos praticantes. Nelas se valem dessas práticas, tanto portadores de deficiências diversas, idosos, crianças e adolescentes de baixa renda, como pessoas em processos diversos de reabilitação e outros. (WELLER, 2005, p.04) Conforme ainda o mesmo autor, observa-se que muitas entidades presas a uma visão assistencialista, acabam realizando trabalhos de caráter reformador, procurando “melhorar” o comportamento do jovem, valorizando pouco a bagagem cultural da sua clientela e não os estimulando a desenvolverem maior consciência dos deveres, direitos, interesses e responsabilidades, que os levem a atuar como membro consciente e ativo da sociedade. Para Weller (2005), entretanto, essa aderência parece ocorrer por motivos diversos, pois existem muitos discursos explicativos, aceitos sem questionamentos como, por exemplo, de que o esporte “ajuda a pessoa a ficar mais tranquila, mais disciplinada, mais motivada”, e assim por diante, parecendo existir muitas expectativas a respeito dos benefícios da prática esportiva. Entretanto, estes discursos nem sempre são fundamentados nas suas reais possibilidades e nem sempre respondem aos anseios dos praticantes. (Weller, p.04) As altas expectativas, criadas com relação ao esporte de rendimento, fornecem tanto ao jovem quanto à sociedade um imaginário idealizado de ações voltadas a partir dele. Inúmeras pessoas pensam no esporte como um meio de vida, ascensão e estrelato, o que muitas vezes não é possível para todos. Os ganhos através do esporte podem percorrer vários caminhos e assim oferecer ou não o alcance de resultados satisfatórios. Com isso, o esporte de rendimento não pode ser considerado o vilão da história, ele deve ser trabalhado de maneira crítica e centrada por todos os profissionais que perpassam sua trajetória. Proporcionar investimentos nos meios estruturais e profissionais para a efetivação do esporte com qualidade já é uma das alternativas para torná-lo mais acessível. Conforme expressa Weller (2005): [...] por um lado expectativas altas em relação aos benefícios da prática esportiva, por outro lado, porém, verificou que muito pouco está sendo investido para alcançar estes resultados. Frequentemente o ensino de esporte é de responsabilidade de monitores e/ou voluntários sem o menor preparo, além de existirem carências em materiais e espaços adequados. Dessa forma, mais uma vez os jovens em situação de risco, se vêem deparados com a falta de acesso a um ensino de qualidade e a impossibilidade de sair do seu meio, o que poderia ser propiciado, por exemplo, pela participação em campeonatos. (WELLER, 2005, p.04) 41 Desvelando o esporte, percebe-se que este possui seu viés mercantilista, quando se fala em rendimento, entretanto possui seu lado educacional e participativo. O “movimento esporte para todos” surge com uma vertente social, indo de encontro com aquilo que se espera do esporte competitivo e lucrativo financeiramente. Sua abrangência vai além do espetáculo e se torna palco de desenvolvimento e formação. Conforme expressa Tubino (2011): […] o movimento esporte para todos, nascido no sentido contestatório do esporte de alto nível, possibilitou grandes campanhas de valorização das práticas esportivas, reforçando muito o aumento da abrangência do renovado conceito de esporte. (TUBINO, 2011, p.15). Conforme ainda o mesmo autor, vê-se que após a ampliação da abrangência do conceito do esporte, este passou a oferecer um elenco maior de aspectos socialmente relevantes, os quais passaram a se constituir em objetos de inúmeros estudos sociológicos. Dessa maneira, expressa Tubino (2011): Por outro lado, o exame diário do esporte pela mídia prova de forma inequívoca o interesse da população mundial por este fenômeno. Também o aumento considerável do número de praticantes de esporte no mundo e o surgimento ininterrupto de novas modalidades esportivas, sob diferentes perspectivas, evidenciam que o esporte, pela sua crescente relevância social, tornou-se um dos mais importantes fenômenos do final do século XX. (TUBINO, 2011, p.17) Dito isto, Tubino (2011) define o esporte em oito aspectos de abordagem, justificando sua relevância social: o associacionismo é uma espécie de organização, que visa reunir esforços coletivos em prol de angariar os materiais necessários para a prática esportiva, o esporte como instituição social, que visa promover valores para ser reconhecido como tal, o envolvimento social do esporte e o aparecimento do homo sportivus, que incorpora a atividade física em seu cotidiano de forma abrangente, a interdependência do bem-estar social com a relação estadosociedade-esporte, que traz o estado de dependência a ações governamentais, que visa oferecer o esporte popular, mas acabam por fracassar, esporte como meio de democratização visa proporcionar o esporte livre como um direito de todos, compromisso do homem com a natureza que fomenta a criação de associações próprias do ramo, por fim, a relevância sociocultural da relação jogo-esporte é retomada de valores sociais, culturais e de bem-estar, esquecidos pela força mercadológica do fenômeno esportivo. O primeiro deles é o associacionismo no esporte: em que a necessidade de associação no esporte pressupõe um esforço no sentido de reunir as condições 42 materiais necessárias para que seja apresentado um sentido de democracia interna na organização esportiva. Infelizmente, em alguns casos se delimitou ao se vincular aos esquemas de poder, assim os clubes foram substituídos por empresas. (TUBINO, p. 19) Segundo Tubino (2011), outro aspecto é o esporte como instituição social: para ser considerada uma instituição socialmente, representar uma forma de atividade social, promover identificações sociais, e, ao mesmo tempo, ao constituirse num problema social e num problema humano, deve-se promover valores. (TUBINO, p. 19-20) Conforme ainda o mesmo autor, têm-se, como terceiro aspecto, o envolvimento social do esporte e o aparecimento do homo sportivus: a quantidade de envolvidos, socialmente no esporte, é crescente em todo o mundo, desde os usuários praticantes até os usuários passivos desse fenômeno. O homo esportivos é aquele que, de alguma forma, incorpora a atividade física às suas culturas individuais. (TUBINO, p. 20-21) De acordo com Tubino (2011), o quarto aspecto é a interdependência do bem-estar social com a relação estado-sociedade-esporte: os esforços para uniformizar os serviços sociais, na maioria das vezes, têm provocado sérios conflitos, derivados das agressões nas realidades regionais culturais e étnicas. No caso específico do esporte, constata-se que muitos programas de esporte popular, ligados a ações governamentais, têm fracassado devido às indisposições causadas pelas contradições internas. (TUBINO, 2011, p. 22-23) Prosseguindo com os demais aspectos, Tubino (2011) faz referência ao esporte como meio de democratização: a democratização pelo esporte implicará sempre em uma prática esportiva livre, em que a liberdade estará sempre implícita. Esta é uma das razões mais efetivas para que o esporte não seja considerado um fim em si mesmo, mas que possa permanentemente servir de meio indiscutível de formação e libertação dos seus praticantes. (IDEM, 2011, p. 25-26) Conforme ainda o mesmo autor o sexto aspecto traz o esporte e o compromisso do homem com a natureza: o número de praticantes de esportes ao ar livre é crescente, sem se vincular aos tradicionais sistemas esportivos, criando organizações próprias e atípicas. (IBIDEM, 2011 p. 28-29) Tubino (2011) revela o sétimo aspecto, a relevância sociocultural da relação jogo-esporte: enquanto perdurou a perspectiva única do rendimento, tornou- 43 o muito mais competição do que jogo, perdendo parte do seu significado sociocultural inicial. No entanto, a aceitação de um conceito mais amplo do esporte, envolvendo também compromissos com os preceitos de bem-estar social e de educação, levou este fenômeno à retomada destes valores e significados que estavam em processo de redução. (TUBINO, p. 29- 30) Assim, pode-se concluir com o último aspecto, o direito à prática esportiva é um fator de novas dimensões sociais para o esporte, quando o fenômeno esportivo já era discutido na exaustão social do esporte de alta competição, surgiu, como síntese de uma reação da intelectualidade mundial do esporte, a vinculação da prática esportiva ao conjunto de direitos sociais do homem contemporâneo, de modo que o esporte, agora mais ampliado e abrangente no seu conceito, pudesse atender às necessidades das três dimensões sociais (educação, participação e performance) do renovado conceito de esporte. (IDEM, 2011, p. 32) Conforme ainda Tubino (2011), as três dimensões sociais do esporte acontecem a partir do pressuposto do direito de todos à prática esportiva, passou a ser compreendido através das três manifestações esportivas, que, na verdade, são as formas de exercício deste direito, e constituem-se nas efetivas dimensões do esporte. Dessa forma, expressa Tubino (2011): “[…] o esporte, como instituição social, não deve ser analisado fora de suas dimensões sociais, porque esta seria uma via reducionista, que levaria a uma visão e perspectiva anacrônica deste fenômeno.” (IBIDEM, 2011, p.35). Para Tubino (2011), o esporte-educação tem um fim eminentemente social, ao compreender o esporte como manifestação educacional, tem que exigir do chamado esporte-educação um conteúdo fundamentalmente educativo. Porém, nem sempre a prática ocorre dessa maneira, os conceitos do esporte-educação são confundidos com as demais dimensões. Dessa maneira, expressa Tubino (2011): Nesta perspectiva equivocada, as competições escolares, que deveriam ter um sentido educativo, em vez disto, simplesmente reproduzem as competições de alto nível, com todas as suas características, inclusive com seus vícios, deformando qualquer conceito de educação. (TUBINO, 2011, p.36) A próxima dimensão a ser abordada é o esporte de participação, referenciado com o princípio do prazer lúdico, e que tem como finalidade o bemestar social dos seus participantes. Também oferece oportunidades de liberdade a cada praticante, a qual se inicia na própria participação voluntária. Além das 44 condições hedonísticas, que o envolvem, tem o seu valor social evidenciado na participação e nas alianças ou parcerias desenvolvidas. Conforme expressa Tubino (2011): O esporte participação, como a própria denominação sugere, ao promover a participação e ao obter sucesso neste seu objetivo principal, pode-se afirmar, equilibra o quadro de desigualdades de oportunidades esportivas encontrado na dimensão do esporte performance. Enquanto o esporte-performance só permite sucesso aos talentos ou aqueles que tiveram condições, o esporte participação, ao contrário, favorece o prazer a todos que dele desejarem tomar parte. (TUBINO, 2011, p. 40) Por fim, pode-se descrever o esporte-performance ou de rendimento como um esporte socialmente importante pelos efeitos que exerce sobre a sociedade. Há uma tendência que ele seja praticado, principalmente, pelos chamados talentos esportivos, o que o impede de ser considerado uma manifestação comprometida com os preceitos democráticos. É também a dimensão social que propicia os espetáculos esportivos, em que uma série de possibilidades sociais positivas e negativas pode acontecer. Assim expressa Tubino (2011): [...] é no esporte de rendimento que a literatura de crítica aguda ao esporte se encontra, principalmente pelos autores que combatem o capitalismo, que consideram o esporte de competição e suas vinculações com negócios financeiros sintomas evidentes de um capitalismo exacerbado. (TUBINO, 2011, p.41) O esporte deve ser de fácil e livre acesso a todos aqueles que têm curiosidade de aprender e de se aprimorar, seja qual for a modalidade escolhida. Diante disso, o tópico seguinte abordará os marcos legais desse fenômeno, esclarecendo sua importância e suas dimensões na perspectiva social. 3.3 Esporte e seus marcos legais Como constituintes dos marcos legais do esporte, tem-se como ponto de partida desse tópico a Constituição Federal de 1988, tomando por base o Art.217, do Capítulo III da Educação, da Cultura e do Desporto, que apresentam o dever do Estado enquanto ao ato de fomentar práticas esportivas. Percebe-se que o esporte é tratado não só como atividade recreativa ou mesmo atividade que relacione o esporte apenas ao rendimento, mas em provocar a autonomia dos indivíduos como forma de promoção social. Conforme expressa Lacocca (2003): É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um, observando: a autonomia das entidades, a destinação de recursos públicos, o desporto educacional e o incentivo às manifestações de criação nacional. Tendo como finalidade ofertar o lazer como forma de 45 promoção social. (LACOCCA, 2003, p.55) Reforçando o que foi dito acima, pode-se destacar o dever do Estado em garantir as práticas desportivas formais e não formais, bem como o fator autonomia das entidades desportivas e a diferença entre o financiamento das práticas educacionais e de alto rendimento. As práticas desportivas também são dever do Estado e direito de cada um. O Estado deve promover a autonomia das entidades e associações desportivas, destinando recursos para promoção do desporto educacional em tom de prioridade e para o desporto de alto rendimento em casos específicos, com proteção e incentivo às manifestações desportivas de criação nacional, diferenciando o desporto profissional e o não profissional, conforme descrito na Constituição Federal (1988): Art.217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um, observados: I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua organização e funcionamento; II - a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento; III - o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não profissional; IV - a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional. §1º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei. §2º A justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias, contados da instauração do processo, para proferir decisão final. §3º O poder público incentivará o lazer, como forma de promoção social. (BRASIL, 1988) É garantido por lei ao jovem o usufruto da prática esportiva. Em vista disso, observamos o conteúdo do Art. 3 das diretrizes gerais do Estatuto da Juventude, atribuindo especial destaque para o inciso V, que trata de garantir meios e equipamentos públicos que promovam o acesso à produção cultural, à prática esportiva, à mobilidade territorial e à fruição do tempo livre. Os agentes públicos ou privados envolvidos com políticas públicas devem garantir o acesso do jovem a essas práticas. Nos parâmetros legais que dizem respeito à temática do esporte, tem-se: O Estatuto da Juventude como base nos Art.28 da Seção VIII do direito ao desporto e ao Lazer, em que o jovem tem direito à prática desportiva destinada a seu pleno desenvolvimento com prioridade para o desporto de participação. Dessa maneira, a 46 prática esportiva vem apresentada como direito do jovem, com aspecto de primazia ao aprimoramento do mesmo. O esporte e o jovem estão ligados legalmente, o estatuto da juventude aborda o direito do jovem às práticas esportivas. Assim, podem-se destacar o Art. 3 e o Art. 28, mencionados acima. O lócus desta pesquisa foi criado especificamente para trabalhar o que rege a lei, o que representa um grande avanço naquilo que se refere a equipamentos para usufruto dessas práticas, principalmente com direcionamento específico para determinado público. Ainda falando sobre os marcos legais, também se pode citar a lei 12.395 de 16 de Março de 2011, que institui normas gerais sobre o desporto, o bolsa atleta e os programas atleta pódio e cidade esportiva. Atribuindo grande expressividade ao esporte de alto rendimento. A lei 10.264 de 16 de Julho de 2001, que acrescenta inciso e parágrafos ao art.56 da lei 9.615 de 24 de Março de 1998, que reúne informações sobre o percentual de recursos financeiros destinados ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e ao Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), da mesma maneira que relata de onde estes provêm. O esporte de alto rendimento é o mais valorizado, por possuir resultados, por atrair patrocínios, por exportar atletas, por trazer visibilidade, seja ela, regional, nacional ou internacional. Porém, todo atleta profissional precisou antes passar por categorias de base e, para isso, é necessário investimento. Tendo em vista que é dever do Estado prover esse financiamento, podemse citar os percentuais previstos em lei para cada modalidade: O Art.56 da lei 9.615 de 1998 trata das normas gerais sobre o desporto. O Capítulo VIII trata dos recursos para o desporto, tendo por base os parágrafos 1º e 2º, no total de recursos destinados ao desporto, 85% são destinados ao Comitê Olímpico Brasileiro e 15% são destinados ao Comitê Paraolímpico Brasileiro. Sendo destes, 10% destinados ao desporto escolar e 5% ao desporto universitário. Diante do exposto, o que chama atenção é que, na prática, esse investimento parece ser bem inferior, principalmente quando se trata de prover esses recursos em bairros de classe baixa, pouco se vê investimento ou mesmo a preocupação em manter os já existentes, conforme expressa Brenner (2008): Chamam a atenção a pouca abrangência dessas ações [...] e o que é mais sério: o detalhamento dos dados aponta que os jovens das camadas populares, que deveriam ser os sujeitos privilegiados […]. são exatamente 47 aqueles que têm menos acesso a tais projetos. Essa evidência deve servir para que, na oferta de atividades, instalações e equipamentos [...] para os jovens, sejam consideradas as especificidades das situações de vida dos setores mais empobrecidos da população, que, mesmo diante da oferta, encontram maiores dificuldades para participar. (BRENNER, 2008, p.33) O mesmo ocorre com o esporte, que sofre com a falta de investimento, os jovens, por sua vez, são os maiores prejudicados, pois isso promove obstáculos para tais atividades, conforme expressa Brenner (2008): Em relação ao acesso a atividades esportivas, o índice de participação é ainda menor [...]: 72% dos jovens brasileiros nunca participaram de alguma atividade esportiva promovida pelo poder público. Esse alto índice indica o pouco investimento feito em ações que democratizem as práticas esportivas. (BRENNER, 2008, p. 33-34) O jovem ainda é pouco beneficiado com o acesso às práticas esportivas, as políticas são seletivas e muitos desses jovens nunca tiveram ou terão a possibilidade de ingressar em alguma delas de modo institucionalizado. As desigualdades com relação às oportunidades ainda são gritantes, e os serviços prestados até o presente momento são oportunizados de maneira precária e sem continuidade. Conforme expressa Brenner (2008): Os contrastes socioeconômicos da sociedade brasileira se manifestam eloquentemente na desigualdade da qualidade do tempo livre juvenil e no precário acesso a bens, serviços e espaços públicos de cultura e lazer da maioria da população juvenil. (BRENNER, 2008, p.41) Considerando todo esse contexto legal, percebe-se que o esporte está atrelado a múltiplos fatores, sendo os principais deles os financeiros e de garantia de direitos, que incluem o emprego da cidadania e a promoção da inclusão social. Sendo o jovem objeto de análise dessa pesquisa, analisando as leis pôde-se perceber que o investimento nas práticas esportivas de base ainda é insuficiente para que o mesmo seja difundido e assim muitos continuam sem ter acesso a ele. Dessa maneira, expressa Brenner (2008): Num quadro de profundas restrições orçamentárias, tanto das famílias quanto do Estado, a cultura e o lazer são frequentemente vistos como algo supérfluo ou mesmo privilégio de uns poucos. Políticas públicas de juventude devem ser capazes de atuar sobre essas condições desiguais, favorecendo a criação de condições materiais que ampliem as possibilidades dos jovens de fruição do seu tempo livre, ao mesmo tempo em que ampliem esferas públicas democráticas de cultura e lazer. (BRENNER, 2008, p.41) Em pesquisa publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) no ano de 2001, levantando dados do perfil da juventude Brasileira, observou-se que mais da metade dos jovens brasileiros declarou na pesquisa que 48 gostaria de fazer parte de algum clube ou associação esportiva. Ou seja, mesmo diante dos marcos legais, vê-se que as leis não garantem esse acesso, no que tange as vias de fato, muito menos, garantem o fator participação na prática esportiva, o que condiciona o jovem, assim como a qualquer outro, a custear esses serviços, ou a se contentar em jogar apenas nos campos de várzea de seu bairro, ou proximidades. O investimento existe, mas não de maneira satisfatória, pois não atende a todos como é previsto em lei. (BRASIL, 2008, p. 34). A Carta Internacional da Educação e do Esporte da UNESCO, do ano de 1978, já apontava o esporte com um direito humano efetivo, consistindo em deixar as pessoas livres para desenvolver e preservar suas aptidões físicas, intelectuais e morais, e que, consequentemente, o acesso a ele possa ser garantido a todos. Conforme expressa o Art. 1 deste documento: 1.1. Todo ser humano tem o direito fundamental de acesso à educação física e ao esporte, que são essenciais para o pleno desenvolvimento da sua personalidade. A liberdade de desenvolver aptidões físicas, intelectuais e morais, por meio da educação física e do esporte, deve ser garantida dentro do sistema educacional, assim como em outros aspectos da vida social. 1.3. Oportunidades especiais devem ser disponibilizadas aos jovens, incluindo crianças em idade pré-escolar, idosos e pessoas portadoras de deficiências, a fim de possibilitar o desenvolvimento pleno de sua personalidade, por meio de programas de educação física e de esportes adequados às suas necessidades. (UNESCO, 1978, p. 03) Continuando a citar o mesmo documento, e ressaltando o direito junto à efetivação, a carta acredita que o esporte deve contribuir de forma mais efetiva para inculcar os valores humanos fundamentais subjacentes ao pleno desenvolvimento dos povos. Promovendo comunhão, competição, solidariedade, respeito mútuo, integridade e dignidade aos seres humanos. O que não o limita somente ao bemestar físico e à saúde, mas contribui para o pleno equilíbrio e desenvolvimento. Conforme expressa o Art. 9 deste documento: 9.1. É fundamental que autoridades públicas de todos os níveis, bem como órgãos não governamentais especializados, incentivem as atividades esportivas e de educação física que tenham valor educacional mais evidente. Suas ações devem consistir no fortalecimento da legislação e da regulamentação, de modo a fornecer assistência material e a adoção de todas as outras medidas que visem a incentivar, estimular e controlar. As autoridades públicas também devem assegurar que sejam adotadas medidas fiscais que incentivem tais atividades. (UNESCO, 1978, p. 05) Seguindo com essa proposta, a carta visa o esporte como um fenômeno de desenvolvimento social, tornando-o direito real e priorizando os grupos sociais mais desfavorecidos. Para isso, é necessário investimento em equipamentos e 49 instalações adequadas para a prática esportiva. Diante dessas ideias, conforme expressa o Art. 3 e o Art. 5 deste documento: 3.1. Os programas de educação física e de esporte devem ser elaborados de forma a satisfazerem as necessidades e as características pessoais de seus praticantes, assim como as condições institucionais, culturais, socioeconômicas e climáticas de cada país. Deve ser dada prioridade às necessidades de grupos sociais desfavorecidos. 5.1. Devem ser disponibilizados equipamentos e instalações suficientes e adequados, para possibilitar a participação intensiva e segura, dentro e fora da escola, em programas de educação física e de esporte. 5.2. Governos, autoridades públicas, escolas e agências privadas pertinentes, em todos os âmbitos, são responsáveis por unirem forças e planejarem, em conjunto, a disponibilização e o melhor uso das instalações, locais e equipamentos para a educação física e o esporte. (UNESCO, 1978, pp. 03 e 04) Voltando um pouco mais no tempo, destaca-se a Lei 6.251 de 1975, que preconizava apenas o esporte de rendimento. Conforme a Política Nacional do Esporte (2005), o esporte era entendido somente como rendimento, isto é, existia unicamente nos documentos legais do país o esporte institucionalizado e as práticas não formais esportivas eram entendidas como recreação. Seria necessária, assim, a construção da figura do esporte como uma política de Estado. Dessa maneira, a Política Nacional do Esporte buscou abordar o esporte com um novo viés, pois o esporte, ao deixar de ser entendido unicamente na perspectiva do rendimento, passa a ser percebido também na perspectiva do social (Esporte Educacional, Esporte para Portadores de Deficiências, Esporte para a Terceira Idade, Esporte para as Pessoas Comuns etc.), passou a intervir efetivamente na Saúde, na Educação e no Lazer das pessoas. É evidente que esta abrangência ampliada do alcance do Esporte no país, fez com que o mesmo fosse gradualmente se tornando uma prioridade do Estado. Finalmente, ao identificar as dimensões sociais do esporte, suas influências e os seus papeis na sociedade, compreende-se sua relevância social e a forma como as categorias desta pesquisa trabalham de modo articulado e em conjunto. Dito isso, o terceiro capítulo do presente estudo fará uma análise das entrevistas realizadas com os profissionais do CUCA e com os usuários, mais precisamente, com os jovens atendidos pelo mesmo. Apresentará ainda os efeitos negativos do esporte moderno e suas novas implicações. 51 4 PROFISSIONAIS E USUÁRIOS DO CENTRO URBANO DE CULTURA, ARTE, CIÊNCIA E ESPORTE (CUCA). 4.1 Profissionais do Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte Com base na proposta metodológica apresentada no primeiro capítulo desta investigação, foi entrevistado para essa pesquisa o total de duas pessoas, que atuam ou atuaram como profissionais do CUCA. Um deles é educador social. O outro é profissional de Educação Física, visando esclarecer as inquietações desta pesquisa, a escolha por estes profissionais foi feita devido à aproximação destes com o tema proposto no estudo e pelo fato destes trabalharem diretamente com a juventude. O número de entrevistados escolhidos para a pesquisa se deu a partir do interesse dos mesmos em responder aos questionamentos do presente estudo, por isso o número reduzido de entrevistados. No decorrer desta análise, a pesquisadora buscou a aproximação com o objetivo da pesquisa, identificando na fala dos entrevistados a perspectiva real da situação vivenciada dentro da instituição. Atribui-se, com o objetivo de preservar a identidade e o sigilo dos sujeitos que contribuíram para o estudo, identificações fictícias aleatórias intituladas de Lucas e Natan. Essa nomenclatura não possui relação com a ordem em que as entrevistas foram realizadas nem com a ordem dos perfis acima indicados. O primeiro entrevistado atribui o nome fictício de Lucas, com o objetivo de preservar-lhe a identidade e resguardando os aspectos éticos deste estudo. Em especial, essa entrevista foi concedida no ano de 2012, quando a pesquisadora deu início ao projeto de pesquisa. Por conta de reestruturações no local e mudança de gestão, o profissional não faz mais parte do quadro de funcionários do Centro. Este permaneceu em atividade profissional no local até o ano de 2014, a vaga encontrase ociosa até o presente momento e, por este fato, não foi possível realizar a entrevista no ano de 2014 com outro profissional da área. O mesmo trabalhou no Centro por aproximadamente 04 (quatro) anos, desde a criação do CUCA, sendo ele o precursor no trabalho com o esporte do local. Lucas é graduado em Educação Física e tem uma longa experiência no esporte nas vertentes de participação e alto rendimento. Possui ainda experiência em projetos, que visam o lado social da prática esportiva, este foi membro da 52 Coordenação do Programa Esporte na Comunidade12, programa este executado pela Secretaria de Esporte e Lazer da Prefeitura de Fortaleza (SECEL). Outro profissional que contribuiu para esta pesquisa atribui o nome fictício de Natan, que atuou no CUCA desde sua implementação até o ano de 2014, e que também não faz mais parte do quadro de funcionários da instituição, cujos serviços foram dispensados dois dias após esta entrevista. O Natan tem uma longa caminhada em trabalhos com a juventude, o mesmo é militante do Movimento Hip Hop Organizado do Brasil (MH2O) há cerca de dez anos, sendo um de seus fundadores no Estado do Ceará. Segundo Natan, o MH2O é um movimento que trouxe para as comunidades oficinas de grafite, rap e break, atendendo nos locais mais esquecidos, excluídos e marginalizados pela sociedade e pelos seus governantes. O mesmo também foi integrante de uma das gangues mais conhecidas da grande fortaleza: A CDM (Criaturas da Maldição), responsável por organizar bailes funk, no antigo gigantão da Av. José Bastos. Na referida localidade, eles incitavam a violência, propondo o “lado a” e o “lado b”, prática corriqueira nos bailes funk dos anos 2000. Estes também frequentavam estádios de futebol e faziam parte de torcidas organizadas. Natan intitula-se “pesquisador da juventude”, atuando na ponta dos movimentos sociais há mais de dez anos, com experiências na Fundação da Criança e da Família Cidadã (FUNCI) e no Programa Nacional de Inclusão de Jovens (PROJOVEM) adolescentes. Tendo como objetivo desta pesquisa, compreender como o esporte poderia contribuir para a inclusão social e para a construção da cidadania. As perguntas feitas durante as entrevistas foram pautadas com o cuidado de analisar a perspectiva do profissional, enquanto agente de transformação social, nessas categorias. Naquilo que tange a inclusão social, Lucas, expôs que “a inclusão através do esporte não ocorre somente dentro da instituição, o esporte proporciona aos jovens voos mais altos, pois por intermédio dele, os jovens têm acesso a bolsas de estudo, e podem trabalhar a sua autonomia.” De acordo com o entrevistado, muitos 12 O Programa Esporte na Comunidade (Atleta Cidadão), ao todo, possui 50 núcleos espalhados pelas sete Secretarias Regionais de Fortaleza, que irão levar esporte às comunidades, tratando a prática como ferramenta pedagógica, 2014. 53 deles sequer saíam do bairro, ou frequentavam outros lugares, a não ser nos arredores de suas comunidades, hoje isso é diferente. A inclusão acontece quando se conhece o novo, e não quando se tem contato com os pares, participar de novas experiências e oportunizar a eles novos conhecimentos. Dessa maneira, conforme expressa Cunha (2007): Fica claro no teor do mesmo o princípio da inclusão, não havendo qualquer tipo de discriminação, garantindo a igualdade na prática esportiva. Para isso, a maneira com que o esporte é abordado deve ser estudada a fundo não permitindo nas atividades esportivas nenhuma forma de exclusão. (CUNHA, 2007, p.13) Segundo Lucas, “essa prática tem como objetivo construir uma nova visão para os jovens, mostrando que eles são capazes.” Levando em consideração, que a maioria deles adentra a carreira esportiva muito cedo e não consegue conciliar a escola com os treinamentos. Segundo Marques (2009, p.107), “jovens atletas envolvidos no esporte de competição têm dificuldade de conciliar estudos e vida esportiva. Mais da metade dos atletas estão defasados em relação à série correspondente à sua faixa etária.”. Com o exposto, pode-se analisar que, para trabalhar-se a cidadania, a inclusão social, a participação juvenil, a profissionalização e a consciência dos jovens é necessário um esforço coletivo. O esporte é apenas uma das ferramentas para a concretização desses propósitos. E jamais conseguiria alcançá-los sozinho. Através dele novas oportunidades podem surgir, a bolsa de estudo é apenas uma dessas oportunidades. Um fato que chamou muito a atenção foi que para ingressar no CUCA não é necessário que o aluno esteja matriculado em qualquer instituição de educação. Segundo Lucas, “não existe nenhuma restrição do acesso do jovem ao equipamento, pelo contrário, nós recebemos e queremos aqueles que não estão matriculados em escolas, existem regras e frequências.” Conforme expressa Correa (2008, p.22): “As chances são poucas quando os jovens não têm meios para se constituir autores de suas biografias.”. A perspectiva do entrevistado vai de encontro à concepção de Trindade (2010, p.03), quando afirma a certa falta de preocupação com a situação escolar dos jovens. “A prática esportiva poderá se relacionar com as demais áreas, só assim a formação se tornará completa. Algumas instituições utilizam essa ferramenta como ação formadora.” 54 As atividades lúdicas não são as únicas formadoras de um indivíduo, o jovem precisa de educação, formação, disciplina e lazer. Na fala do entrevistado, a pesquisadora pôde observar certa falta de regras, pois o único modo de controlar a entrada e a saída dos jovens de cada atividade é a frequência. Caso o mesmo não cumpra, poderá se matricular normalmente e esperar vaga, o que não lhe ocasiona ônus algum. Essa liberdade não pode ser praticada de forma abusiva, percebe-se a falta de limites, é como se não existisse um parâmetro. Caso atinja o limite de faltas, o jovem poderá perder a vaga ou não, ou seja, é-lhe dada uma nova oportunidade sem qualquer questionamento. Sendo que muitos não conseguem sequer ter o acesso inicial a estes serviços. Como se pode perceber, a inclusão social poderá ser efetivada a partir das demais ações conjuntas ao esporte, mas as dificuldades de como o profissional lida com o público e como esse público responde ao programa que é proposto. Com relação às dificuldades que os profissionais enfrentam, o entrevistado conta que não encontra nenhuma e que os jovens têm o direito de ir e vir livremente. Conforme expressa Lucas (2012): Os profissionais não enfrentam nenhuma dificuldade, pois estes não tentam mudar a cabeça dos jovens. O acesso inicial ao espaço acontece de forma espontânea, obviamente, que existem alguns casos de jovens com o histórico de violência social, consumo de drogas, com histórico de problemas em casa, com a família, questões de justiça, mas isso não é considerado uma dificuldade. (LUCAS, 2012) Os históricos de problemas sociais, como a violência física e social, o consumo de drogas e questão de justiça não são considerados por Lucas como dificuldades, pois segundo o mesmo, os profissionais não tentam mudar a cabeça dos jovens, pois estes aprendem por si só a lidar com tais barreiras, sendo eles vitimas da reprodução do submundo da modernidade capitalista. Dessa maneira, expressa Correa (2008): Diante da desigualdade social no Brasil, os jovens são, geralmente, situados socialmente nos dois extremos. Os jovens abastados seriam mais os atores socialmente responsáveis para assumir o encargo da reprodução de uma sociedade moderna, enquanto os jovens desfavorecidos seriam os responsáveis e as vítimas da reprodução de um tipo de submundo da modernidade. (CORREA, 2008, p.22) Dessa maneira, segundo Weller (2005, p. 07): O educador precisa ter clareza destas dificuldades para poder lidar melhor com o comportamento dos seus alunos e planejar as atividades de tal forma que eles aprendam a lidar com as exigências sem que percam a motivação para continuar a prática esportiva. 55 Os ensinamentos não são pautados na repressão e sim no compartilhamento de ideias e pensamentos. O entrevistado também ressalta que, a comunicação inicial é uma das dificuldades enfrentadas, mas que com o passar das atividades esse problema é sanado. Muitos têm o seu primeiro contato com regras nesse espaço e de início não entendem essa relação. Conforme expressa Brenner (2008): Os jovens revelam com nitidez situações de vida e processos sociais que reafirmam os traços de diversidade, ao mesmo tempo em que denunciam que esta se processa sobre bases socioeconômicas desiguais, que incidem sobre as possibilidades de acesso. (BRENNER, 2008, p.30) O jovem participa de toda e qualquer atividade, desde que os horários permitam isso, não se limitando apenas à prática esportiva, pois o centro possui diversos cursos profissionalizantes, de áreas bastante diferentes, que proporcionam aos jovens o acesso a conteúdos pouco difundidos para as classes menos favorecidas, como curso de fotografia, rádio, artes gráficas, audiovisual, fotojornalismo e etc. Muitos se descobrem nas mais diversas áreas. No entanto, a participação ainda é maior por parte de pessoas do sexo masculino, Lucas relata a disparidade de gênero, que ainda ocorre nas práticas esportivas, a procura ainda é maior por jovens do sexo masculino.” Conforme expressa Brenner (2008): Há participação desigual quando se considera a variável “gênero”: 33% de homens e 22% de mulheres praticam algum esporte. Os dados evidenciam a tradicional divisão socioespacial brasileira, na qual os homens possuem maior mobilidade sócio-comunitária no espaço público, enquanto as mulheres estão mais circunscritas ao espaço doméstico e têm menor mobilidade para praticar de atividades extrafamiliares. (IDEM, p.34) O esporte não é o único elemento de inclusão social e construção da cidadania abordado neste estudo, o trabalho multidisciplinar do CUCA é extremamente importante para os jovens. Segundo Brenner (2008, p.30): “Na prática do lazer, os indivíduos buscam realizar atividades, que proporcionem formas agradáveis de excitação, expressão e realização individual. As atividades de lazer criam certa consciência de liberdade ao permitir uma fuga temporária à rotina cotidiana de trabalho e obrigações sociais.”. Na área dos esportes, existe a profissionalização através dos cursos de monitoria, os jovens aprendem na prática, que aquela atividade pode se tornar profissão, não, necessariamente, sendo um atleta, mas atuando em seu esporte favorito como treinador, árbitro, auxiliar, preparador e etc. O esporte possibilita um 56 universo de ramificações que podem ser seguidas por eles. A experiência na monitoria poderá trazer ao jovem a vivência para o mercado de trabalho, como se fosse um passo inicial para o fazer profissional. Conforme expressa Weller (2005): [...] exigências fazem parte da nossa sociedade, especialmente no momento de entrar no mercado de trabalho. […] a participação em competições pode ajudar em muito nesta aprendizagem, pois, neste momento, os praticantes precisam adquirir um compromisso maior com o treino, além de facilitar uma maior motivação para tal, pela maior identificação com o esporte que praticam. (WELLER, 2005, p. 07) Com o passar do tempo, os profissionais percebem mudanças em diversos aspectos destes jovens, a educação e o convívio com as outras pessoas, a tolerância, os aspectos físicos e de saúde, a consciência de seus direitos e deveres, bem como de seu papel na sociedade, melhora sua autoestima, afirma a sua personalidade, o jovem se modifica de dentro para fora. Conforme expressa Weller (2005): Além de oferecer a possibilidade de trabalhar estas dificuldades é consenso na literatura que o esporte pode ajudar também a aumentar a autoestima, contribuir positivamente no desenvolvimento da personalidade e se tornar um espaço no qual o jovem pode experimentar comportamentos diferentes. (IDEM, p.07) Natan trouxe para a pesquisa uma perspectiva mais aproximada da realidade dos jovens, bem como uma vivência real do cotidiano enfrentado por eles e pelos profissionais do local. Também falou abertamente das dificuldades enfrentadas por ele e pelos demais, em seu local de trabalho. Por ter vivenciado, pessoalmente, os aspectos negativos da juventude pobre, marginalizada e discriminada, o entrevistado se viu como arquiteto desta temática e passou a trabalhar com esse público, em locais que ninguém mais queria frequentar, pessoas com que muitos não tinham paciência de lidar, como ele mesmo salientou na entrevista: “os jovens são a solução e não o problema.” Dessa maneira, expressa Brenner (2008, p.29): “o erro de se compreender a juventude como uma realidade homogênea aparece com expressiva frequência no senso comum em relação ao tempo livre e ao lazer.”. Os jovens apresentam comportamentos que são reflexos do mundo mercantilista e consumista em que vivemos, o desejo pelo consumo está estampado na maioria, sendo estes estimulados pela grande mídia diariamente, o que pode acarretar em incidências à criminalidade. Dessa maneira, Brenner (2008) afirma que: A distância entre sonho de consumação e o poder de compra pode suscitar um aumento da criminalidade entre os jovens, pois os valores mudam 57 também. Eis aqui um dos problemas da individualização num quadro de socialização precária. Assim, o aumento da criminalidade não tem ligação direta com a pobreza, mas com a socialização precária e a inculcação do espírito de consumação entre os jovens, especialmente entre aqueles com baixa renda ou mesmo sem renda. (BRENNER, 2008, p. 19) Logo no início da entrevista, Natan fala que o CUCA é um “espaço político” e, por isso, os trabalhos nem sempre se concretizam ou chegam a dar continuidade. O entrevistado afirma que, para ele, a instituição é um espaço único, localizado em um ambiente com alto índice de vulnerabilidade, exclusão e ausência de perspectivas ou apoio governamental. Ele relata que o papel principal do educador social é dialogar, interagir com os jovens, adquirindo a confiança deles. Para que, depois, possa realizar seu trabalho, de maneira mais integral. A maioria dos jovens assistidos não está acostumada a regras e, por isso, sente-se insegura, ou mesmo, tende a ser ríspida em determinadas situações, por isso, o educador está na ponta, visando o trabalho de interação e negociação. Conforme expressa Brenner (2008): Ainda que as amizades sejam relações de natureza privada entre sujeitos particulares em contextos de ações coletivas ou não, os espaços de convivência pública são indispensáveis para a criação de condições sociais favoráveis ao estabelecimento de redes de amizades. Sobre isso, é importante dizer que a amizade não é somente uma questão da eleição livre nem da seleção por atração pessoal: a disponibilidade de amigos está fortemente referida à localização física e à inserção dos indivíduos na estrutura social. (BRENNER, 2008, p. 40) Falando em negociação, Natan relatou que ao chegar à instituição, o clima era totalmente diferente, os arredores eram bastante violentos, e a própria comunidade tinha medo de frequentar o espaço, praticamente, todo dia tinha assalto. Então, sua primeira tarefa, foi articular com as gangues locais uma espécie de “trégua”. O entrevistado relata que se dirigiu até o morro e explicou o que o CUCA tinha a oferecer à comunidade, muitos jovens já conheciam o MH2O, passando para eles o direito de frequentar e utilizar o Centro. Conforme relata Natan, “havia uma divisão territorial e o CUCA se localiza na fronteira.” Devido à tal iniciativa, que ocorreu em meados dos anos 2010, hoje, todos têm a liberdade de ir e vir nas redondezas. O entrevistado salienta que o público atendido pelo CUCA é “especial”, e precisa de atenção, pois estes são considerados muitas vezes como o “resto” da sociedade, são extremamente excluídos e privados de oportunidades e recursos. As políticas públicas não chegam efetivamente ao local, e talvez, por isso, muitos 58 enveredem por outros caminhos, pois não há um trabalho inicial, que gere as oportunidades. Os direitos só chegam lá, quando são totalmente violados. Dessa maneira, expressa Borba (2011): A inclusão social é o processo que garante que as pessoas em risco de pobreza e exclusão social acedam às oportunidades e aos recursos necessários para participarem plenamente nas esferas econômica, social e cultural e beneficiem de um nível de vida e bem-estar considerado normal na sociedade em que vivem. (BORBA, 2011, p. 221) Dentre as estratégias utilizadas para fomentar a participação do jovem, surgiu o programa “Comunidade em Pauta”, que foi criado no ano de 2010 e que tinha como objetivo organizar horários e programação. Porém, o programa passou nas mãos de diversos profissionais e, mesmo com o empenho destes profissionais, o programa não evoluiu. Como relata Natan, “a galera ameaçava os profissionais”, fazendo com que os mesmos ficassem com receio, e desistissem de trabalhar com o programa. O problema estava na sistematização e na metodologia do programa, os jovens não entendiam o que os profissionais queriam, conforme Natan, “o que os jovens simplesmente queriam era um horário para jogar”, consequentemente, não escutavam, não tinham paciência. Então, Natan resolveu moldar o diálogo do programa, para que o mesmo fosse trabalhado de maneira efetiva, lúdica e clara. Iniciou-se, assim, o trabalho de diálogo direto com os jovens. Se o espaço era deles, eles deveriam participar e apontar o que queriam. Desse modo, o programa se reestruturou e, atrelados a ele, os educadores sociais conseguiram inserir diversas atividades, antes, pouco realizadas pelos jovens, como, por exemplo, as regras de convivência do CUCA, dentre elas, a importância de não andar sem camisa, portar sempre algum documento de identificação, pois como é de costume, na localidade, a maioria já foi abordada diversas vezes por agentes de segurança pública e o porte de documentos pode evitar certas situações. Devido ao sucesso dessas orientações, a instituição faz empréstimo de material esportivo. Para realizar o empréstimo do referido material, os jovens apresentam a identidade e podem usufruir dos materiais. Natan frisou que isso tem um ponto interessante, pois “os jovens acreditam que o documento é para garantir o retorno do material, mas, na realidade, é para incentivar que eles portem o documento.”. No presente ano (2014), pode-se afirmar que os próprios jovens fazem o 59 trabalho de sensibilização, repassando as regras para os novatos e reforçando com os veteranos. Do mesmo modo, são eles que se organizam, não existindo mais brigas por conta de horário no ginásio ou nas salas de ensaio de dança e teatro. Dessa maneira, expressa Weller (2005): Esporte pode ser um meio para treinar a consideração para com o outro, o jogo limpo e franco e a capacidade de guiar as suas emoções por canais saudáveis. Oferece recursos também para desenvolver a capacidade de trabalhar em grupo e aprender a integrar-se socialmente. (WELLER, 2005, p. 07) Como observado nas falas dos profissionais, o grande instrumento é o diálogo, tanto para tornar as atividades atrativas, como para fomentar a sua participação e sua continuidade. A participação de todos é fundamental, tanto dos profissionais como dos jovens, que são incentivados a essa prática. Tornando os jovens mais participantes e incentivando-os a propor e a organizar atividades na instituição. O Centro também oferece a Copa “Comunidade em Pauta”, que reúne todos os times inscritos no programa, que utilizam o ginásio, campo de futebol ou areia, nas mais diversas modalidades. Sendo realizado campeonato em período mensal, promovido e organizado pelos próprios participantes. Com ele, surgiu o Programa “Quarta Cultural”, que abrange modalidades para além das práticas esportivas, tais como: os grupos de artes cênicas, de dança (pop coreana, swingueira), entre outros. O referido programa passou a ser o segundo mais procurado, e acontecia inicialmente uma vez por mês, o que ocasionava brigas constantes entre os grupos interessados em participar. Segundo Correa (2008, p.23): “A integração dos jovens depende de sua socialização. Portanto, a individualização se faz mais rápida do que a reparação de uma socialização precária.”. Porém, esclarece o entrevistado que, no momento, o programa “Quarta Cultural” não está em funcionamento devido a problemas internos da instituição. Não problemas estruturais ou de organização, mas problemas de ego, pois para ele um dos maiores problemas no local são as vaidades internas de alguns profissionais, e isso acaba prejudicando o mais interessado, que é o jovem. O evento chegou a reunir 500 pessoas em uma única apresentação, sendo o local de realização transferido do teatro para o anfiteatro e, assim, o público pudesse acompanhar o espetáculo. 60 Quando indagado sobre as dificuldades enfrentadas no local, o mesmo ressalta que o maior problema não é o trato com os jovens, mas sim o jogo de vaidades e a disputa por visibilidade de alguns profissionais, que visam só o individual e nunca o trabalho coletivo da instituição. Para o entrevistado, outro fator problema é o “espaço político” do local, que perpassa a dimensão política pública e acaba caminhando para o espaço da “politicagem”, todos os profissionais querem crescer, alguns se esforçam para isso, outros não, porém o reconhecimento não existe e muitos, como ele, nunca conseguem uma promoção profissional. Não se pode ir de encontro com algumas ideias impostas e isso faz com que o profissional se sinta prejudicado e desmotivado. O entrevistado comenta que já pediu demissão por duas vezes no local, pois já lhe informaram que o problema naquilo que tange a ascensão, é um caso individual e particular, se ele não consegue progredir algum motivo existe, já o tacharam de analfabeto e desorganizado, o mesmo está como educador social há 5 anos e nunca cogitaram alguma mudança de função. Natan relata que os projetos que se sobressaem sempre contam com diversos profissionais que queiram participar, porém quando começam o trabalho de lidar com os jovens e ouvir reclamações, logo, solicitam dispensa e o serviço acaba “sobrando” para outros. A “guerra de vaidades” é a maior disputa encontrada no local. Segundo o entrevistado, o jovem não é problema, trabalhar com eles é maravilhoso, o problema é convencer os profissionais a trabalhar de maneira conjunta. Muitos profissionais não têm experiência nem formação específica adequada e não aceitam auxílio dos profissionais mais experientes, muito menos, aceitam os jovens. Conforme o que foi coletado nas entrevistas, parece que os jovens precisam ser ouvidos, pois muitos apresentam um histórico de violência, de algum ato infracional, de problemas familiares, e uso de drogas. Esses aspectos precisam ser trabalhados e compreendidos, principalmente, pelos profissionais, que necessitam ter dedicação e preparo no trato com o público-alvo da instituição. Pois, muitos apresentam receio em trabalhar com esse público, demonstrando medo e insegurança. Conforme expressa Brenner (2008): Há uma tendência da sociedade em enxergar nessas culturas traços de 61 marginalidade, um tempo social potencialmente negativo e, em geral pensado em oposição ao trabalho, este entendido como tempo de positividade, naquilo que se refere à formação humana. (BRENNER, 2008, p.30) A relação do educador social com o jovem é fazer a defesa dos direitos dos mesmos, dialogar, discutir, promover e criar junto com eles e para eles. O trabalho é feito em conjunto, a relação profissional e jovem no CUCA deve ser realizada em caráter multiprofissional, incentivando-os a interagir e propor novas ideias. Segundo Natan, as principais mudanças percebidas foram, “o ar que se respira no local, a violência que existia, inclusive na porta da instituição, quase não existe mais, as pessoas andam mais tranquilas, o jovem têm o direito de ir e vir, o meu objetivo eu consegui realizar. Os jovens reivindicam, querem o local bem cuidado e pronto para o uso, e assim é o trabalho do Comunidade em Pauta”. Como se vê, a mudança acontece depois de muito trabalho, os programas, assim como o CUCA, atuam há aproximadamente cinco anos, uma longa estrada foi percorrida e ainda há muito a se trabalhar, pois tudo se renova, a sociedade é muito dinâmica e necessita de um trabalho árduo e concreto. Nada de políticas fantasiosas, ou medidas paliativas, precisa-se de espaços com ações permanentes, que visem sempre o crescimento das partes a quem se direciona e não programas que causem dependência social ou financeira da população. Portanto, pode-se concluir que, analisando o real papel do esporte, este poderá proporcionar benefícios aos jovens, mas quando trabalhado de maneira que possa ir além do aspecto do lazer. O tempo livre deste jovem poderá ser melhor trabalhado, em uma perspectiva formadora, inclusiva e não apenas ilustrativa, tendo como consequência apenas a distração. O próximo tópico abordará, a percepção dos jovens atendidos pelo Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte, apresentando de modo detalhado o que foi exposto durante as entrevistas. 4.2 Jovem do Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte A entrevista com o jovem foi realizada em sua residência, local este solicitado pelo próprio. O entrevistado possui 26 anos, pratica natação e dança no local, este possui um grupo de swingueira13 que também utiliza o espaço para seus 13 A swingueira foi criada na Bahia, mais precisamente, nos subúrbios de Salvador. Ela surgiu entre 62 ensaios, quando está com tempo livre ainda pratica vôlei no local. A entrevista foi realizada com apenas um jovem devido à falta de interesse dos mesmos em responder aos questionamentos propostos, outros jovens participaram indiretamente da entrevista, o irmão do entrevistado foi um deles, que também pratica atividades esportivas no local, os demais responderam a algumas indagações no período em que se realizava o trabalho de campo. O jovem entrevistado relata que o ingresso no Centro Urbano de Cultura, Ciência e Esporte (CUCA) foi extremamente fácil. Conta que fez sua inscrição, e tudo foi bem acessível. O mesmo relata que tinha bastante interesse em ocupar seu tempo, que considerava ocioso, e, com a chegada do CUCA nas proximidades do seu bairro, isso foi possível. Pode-se destacar que além do CUCA se localizar em um espaço bem estratégico, este absorveu vários jovens da comunidade que não tinham acesso a essas atividades anteriormente. Questionado sobre o que lhe motiva a participar destas atividades, o jovem responde que, “o amor pelo esporte o levou a essas práticas” (sic), desde muito cedo sempre participou de diversas atividades, jogava vôlei no colégio, nas ruas do bairro, e se descobriu na dança, montou seu grupo, com aproximadamente 40(quarenta) pessoas e hoje participa de campeonatos na cidade, inclusive já foi campeão em alguns deles. O espaço físico do CUCA também é importante para que eles possam ensaiar, pois antes a situação era complicada, eles improvisavam um espaço e agora têm acesso a uma sala feita para este fim. Questionado a avaliar o CUCA com relação àquilo que o espaço lhe oferece, o jovem responde que, “daria nota 8 (oito) ao CUCA, pois o espaço é muito bom, mas o interesse dos professores é mínimo, com isso, a nossa evolução nas práticas esportivas fica comprometida.” (Jovem, 26) Dito isto, pode-se observar que a estrutura física existe, mas que o trato com os jovens ainda precisa ser mais bem trabalhado. O jovem necessita de uma preparação, de um acompanhamento, o que não parece existir diante da fala do entrevistado. Dessa maneira, expressa Marques (2009): Muitas vezes não é dada a devida atenção a esta preparação, o que pode resultar em aproveitamento inadequado do potencial atlético, falta de apoio social e institucional, desorganização da vida não esportiva, dificuldade de 1998 e 2000 na Bahia a partir de manifestações musicais de Margareth Menezes e Daniela Mercury cantoras famosas de Axé Music. 63 adaptação a novas fases da carreira e até mesmo desistência da prática esportiva. (MARQUES, 2009. pp. 104-105) Indagado sobre as mudanças que o mesmo faria na instituição, o jovem responde que, “Com certeza mudaria os professores, pois como disse antes, eles têm pouco interesse e isso prejudica os alunos, principalmente os que se dedicam, pois muitos têm futuro como atletas.” (Jovem, 26). A preparação deve ser feita em conjunto, com os profissionais, com a família, com os jovens, com todos os envolvidos direta e indiretamente. Dessa maneira, expressa Marques (2009): Os conhecimentos produzidos a partir do estudo deste tema poderão ser bastante relevantes no que diz respeito à intervenção e ao aconselhamento junto a atletas, pais de atletas, empresários, treinadores e dirigentes esportivos, pois possibilitam um maior entendimento dos processos organizacionais, sociais e psicológicos que permeiam a trajetória esportiva de atletas desde a iniciação até o término e após o término de sua carreira esportiva. (MARQUES, 2009, p. 104) Questionado sobre as atividades que mais lhe chamam a atenção, o jovem responde que, “O que mais me chama atenção são os cursos e os esportes, eu gostaria de ter mais tempo para praticar handebol e fazer o curso de inglês, mas como trabalho e estudo à noite, os horários ficam complicados.” (Jovem, 26). Segundo Correa (2008, p.13): “para quase 40% dos jovens o trabalho é uma necessidade. Sendo estes frequentemente subempregados, e o tempo de trabalho demonstra também a desigualdade social.”. Relacionando a fala do jovem e o trecho da fala de Correa (2008), pode-se observar que assim, como o entrevistado, parte dos jovens terem como responsabilidade conciliar estudos e trabalho, ficando com o tempo escasso para atividades de lazer e esportes. Como o próprio jovem relata, ele gostaria de possuir mais tempo para praticar outras atividades, porém devido à falta dele, este prefere participar daquelas que se encaixam em seu tempo livre. Questionado com relação ao interesse em ingressar na instituição como monitor, na área dos esportes, o jovem responde que “possui interesse e que trabalha para isso, se esforça, tenta ajudar o professor, participa, mas como disse anteriormente, os professores pouco se importam, e como ele já faz esse trabalho com seu grupo de dança, já se sente realizado.” (Jovem, 26) Questionado sobre os seus objetivos com a prática esportiva, o entrevistado responde que, “para melhorar seu condicionamento físico, movimentar o corpo, ocupar seu tempo ocioso, tudo isso me levou à prática esportiva, além da 64 interação com os meus colegas e os demais que conhecemos no CUCA.” (Jovem, 26) A partir de sua fala, pode-se observar o alcance do esporte de participação nas atividades do CUCA. Articulando com as atribuições do mesmo, este proporciona ao jovem a interação com os demais e, assim, a inclusão social, bem como outros aspectos mencionados pelo mesmo. Indagado sobre a representatividade do esporte em sua vida, o entrevistado responde que, este representa qualidade de vida, deixando-o mais disposto, além de ser uma atividade gratuita que ele sempre teve vontade de praticar e antes não podia devido aos custos. Segundo jovem (2014): O esporte representa, bem-estar e melhoria na qualidade de vida, me deixa mais disposto para outras atividades do dia a dia. Proporciona-me um lazer pelo qual sairia caro se tivesse que pagar. Me traz novas amizades, outro olhar sobre o talento dos meus colegas, vejo o talento de cada um, através do esporte ou da dança. (Jovem, 26) Segundo Brenner (2008, p. 34): “Mais da metade dos jovens brasileiros declarou que gostaria de fazer parte de algum clube ou associação esportiva”. Sendo esse um fato alarmante naquilo que tange a investimentos e oportunidades oferecidas ao jovem, principalmente para aqueles oriundos de classes menos abastadas. Questionado sobre uma autoavaliação com relação à prática do esporte, o entrevistado responde que, “antes minha vida era cansativa, o meu dia-a-dia parecia ser mais pesado, hoje, minha vida funcional melhorou bastante, posso interagir com outras pessoas, meu grupo de amigos está maior, posso praticar as atividades que tinha vontade anteriormente.” (Jovem, 26) Pode-se perceber que o esporte proporcionou ao jovem uma maior interação com os demais e, segundo ele, uma “vida funcional”, porém para o jovem o esporte não passa de uma atividade física que lhe oferece o bem-estar, os demais valores: participação, desenvolvimento social, protagonismo, criticidade e cidadania, que, segundo os profissionais entrevistados, são trabalhados, parecem não surtir tanto efeito quanto ao seu aspecto físico. Questionado sobre os ensinamentos a partir da prática do esporte, o jovem responde que, “para se ter uma vida melhor e com saúde, temos que trabalhar nosso corpo e mente, assim nosso futuro será melhor e saudável.” (Jovem, 26) 65 Como observamos na fala anterior, o jovem expressa além da noção física, outros valores adquiridos através da prática do esporte, o seu aspecto físico ainda é o mais valorizado. Porém outra área também é trabalhada como a mente. O seu aspecto social parece ser pouco trabalhado, ou mal compreendido, as atividades da instituição e os objetivos delas precisam ser claramente expostos, só assim os jovens atendidos pela instituição poderão alcançar o desenvolvimento proposto por ela. Questionado sobre a relação dos jovens com os profissionais do CUCA, o jovem responde que, “nós temos voz, podemos dar opinião nas atividades, isso é interessante. Porém, nem todos os professores, aplicam essa técnica no seu trabalho.”. As ações dos profissionais poderão repercutir na compreensão dos alunos, naquilo que tange aos objetivos das atividades propostas pelo Centro. Como o jovem relata que a maioria dos professores não os escuta, portanto o trabalho de fomentar a participação se torna perdido. Indagado sobre a construção da cidadania através dos ensinamentos do esporte, o jovem responde que, “ser cidadão é agir com o todo para melhoria de sua região.” Como cidadania é uma das categorias desta pesquisa, a pesquisadora ficou surpresa com a definição dada pelo jovem, pois estes conceitos não são trabalhados de maneira explícita pela instituição, este é um conceito formulado pelo próprio jovem, com base em suas experiências. A construção da cidadania através do esporte pode ser entendida justamente dessa forma, em que se trabalha o coletivo em prol dos demais. A partir das falas do entrevistado, pode-se destacar seu interesse nos esportes, tanto como praticante, como monitor/professor, o mesmo se sente prejudicado por não ter a devida atenção dos professores, não só como um sentimento individual, mas pensando no coletivo. O jovem também relata que sente a liberdade no CUCA. Lá, ele pode ensaiar com seus amigos, sem precisar se preocupar com o volume da música, literalmente, eles podem fazer barulho sem incomodar. O CUCA proporciona a eles, um espaço de interação, lógico que também existem as regras, horários, mas isso tudo é relevante quando se pode expressar aquilo que se mais gosta de fazer. Quando indagado a respeito da nota que este daria ao CUCA, o mesmo respondeu que daria nota 8 (oito), pois o espaço é maravilhoso, mas que os 66 professores deixam um pouco a desejar, no quesito atenção. São poucos os que sabem lidar diretamente com o jovem. Pôde-se notar que o esporte surgiu na vida do entrevistado, tanto como paixão, como estética. O esporte lhe proporcionou o bem-estar e um melhor condicionamento físico, bem como, proporciona-lhe a vontade de se tornar um profissional da área e poder repassar aquilo que se aprendeu para os outros. O esporte lhe proporciona a interação com os demais, faz-lhe perceber o que é ser cidadão, pois, como disse o mesmo, ser cidadão é agir com o todo para a melhoria da sua região. Ou seja, o esporte oferece valores que vão além do âmbito físico, adentram ao campo do social, e mistura-se com as mais diversas práticas oferecidas pela instituição. O esporte representa para estes jovens, uma melhoria, uma liberdade, um conhecimento, uma oportunidade. O esporte expressa bem mais do que se pode ver, ele representa desejos e anseios. A partir dele, vários jovens conseguem ascensão social, tornam-se profissionais, porém, além do seu lado otimizado, também existem os aspectos negativos, que podem estar atrelados ao mau uso das práticas esportivas. No tópico seguinte, a presente pesquisa abordará os efeitos negativos do esporte moderno e os meios que o fazem. Tendo como base o livro de Manoel Tubino (2011), Dimensões Sociais do Esporte. 4.3 Os aspectos sociais negativos do esporte moderno O esporte tanto possui o seu viés social e humanista, como possui o seu lado duro e desumano. Este tópico pretende trazer aos leitores os aspectos negativos do esporte moderno, através de exemplos do cotidiano. Fatos estes que ocorrem principalmente associados ao esporte de rendimento. Eventualmente, depara-se com notícias tristes associadas ao esporte, sejam elas em jornais, telejornais, programas de televisão, ou mesmo nas redes sociais. Segundo notícia do portal G1, ainda no ano de 2014, pode-se destacar, o caso dos meninos do Estado do Ceará, que caíram no conto do “olheiro”14 e foram 14 Segundo matéria do site Olheiro digital, o olheiro tem como função: Captar, revelar e realocar talentos novos e já existentes no mercado esportivo de forma prática e rentável. Visão: Tornar-se referência na captação e prospecção de atletas no mercado nacional. Valores: Transparência na forma de trabalho. Preocupação com o bem estar do atleta. Foco e agilidade em soluções ao afiliado. 67 levados para outro Estado com promessas de se tornarem grandes jogadores profissionais. Depois dos familiares desembolsarem o que não tinham para esse feito, ao chegarem ao local, os meninos se depararam com situações precárias de higiene, alimentação e moradia, até a cidade de destino era diferente daquela prometida pelo olheiro, eles sofreram maus-tratos, abuso sexual, ficaram sem comer e muitos eram crianças sem a menor oportunidade de defesa. Esse é apenas um dos exemplos. Pode-se citar um fato ocorrido no interior da cidade de Natal. Segundo notícia do blog Esporte no Ar, divulgada no ano de 2013, um “falso olheiro” realizava peneiras15 em vários Estados do Brasil, cobrando dinheiro e se passando por observador técnico de um time da mesma cidade. Enganava as famílias e fazia com que os jovens atletas gastassem muito dinheiro para se deslocarem de sua cidade até a cidade de Natal. O falso olheiro utilizava as redes sociais para atrair as vítimas. Com isso, pode-se perceber que algumas pessoas utilizam o esporte e os sonhos que são construídos a partir dele apenas para explorar, enganar e lucrar. Segundo Tubino (2011, p.44), “o esporte é caracterizado pela maneira que é usado, a partir disso, o seu lado positivo ou negativo aflorará, ou seja, é o seu mau uso que lhe coloca em uma posição desconfortável.” Por possuir suas particularidades, o esporte proporciona grandes fantasias, na verdade, grande alucinação como bem se observa anteriormente. Por meio dessa prática negativa, famílias fazem de tudo, abrem mão até do que não podem para tornar um filho atleta, assim continuam a ocorrer os casos de “falsos olheiros” e “falsas peneiras”, que prometem o céu, mas, na verdade, proporcionam o inferno para diversas famílias. Dessa maneira, expressa Tubino (2011): […] O esporte, pelas suas particularidades e pelo fascínio que envolve e provoca, permite muitas vezes um mal (SIC) uso de suas possibilidades de conteúdo, paradoxalmente, com as finalidades e até dos discursos de sua promoção como um dos melhores meios de convivência humana. Isto explica que os efeitos sociais negativos do esporte são, na verdade utilizações tendenciosas do fenômeno esportivo. (TUBINO, 2011, p.44) Diante disso, o referido autor lista 5 (cinco) efeitos sociais negativos do esporte moderno: a reprodução compulsória do esporte-performance na educação; 15 Segundo matéria do site do São Paulo Esporte Clube, as peneiras são conhecidas no mundo inteiro por descobridor e formar talentos. É com essa finalidade que existe o setor de Avaliações Técnicas das Categorias de Base, que vem sendo referência no que diz respeito à avaliação e captação de novo atletas. O setor tem como principal objetivo avaliar jovens dos 14 aos 17 anos, no que diz respeito às suas capacidades gerais, buscando, dessa forma, encontrar jovens com grande potencial a ser desenvolvido. 68 as violências do esporte-performance; a discriminação contra a mulher no esporte; o uso ideológico político do esporte e a preponderância da lógica do mercantilismo no esporte. A articulação com as ideias desse autor foi escolhida para discutir os aspectos negativos do esporte, pois ele elucida o esporte em suas três áreas de atuação: educacional, rendimento e participação, do mesmo modo que analisa, de maneira precisa, esses aspectos no esporte moderno. Efeitos estes, que adentram o campo social como um todo, na educação, na segurança, na discriminação de gênero, no uso ideológico e político, no mercantilismo. Dessa maneira, expressa Tubino (2011): a) a reprodução compulsória do esporte – performance na educação: o apelo do esporte-performance ou de rendimento, através dos meios de comunicação de massa, principalmente da televisão, levam os dirigentes educacionais de um modo geral a desconhecer a magnitude da utilidade pedagógica do esporte como meio de educação. (TUBINO, 2011, p.45) Outra questão bastante recorrente é a violência no esporte-performance, pois é a manifestação negativa mais conhecida do esporte.16 Na mídia em geral, é recorrente deparar-se com notícias sobre esse tipo de violência. A demanda é tão crescente que o Jornal Estadão online possui um tópico específico, que contém apenas matérias sobre violência no esporte.17 Seja ela dentro ou fora dos estádios ou ginásios, violências que perpassam as agressões físicas. Recentemente, tiveram vários casos de racismo18 nos campos de futebol, tanto por parte da torcida, como por parte de alguns jogadores. Analisando os fatos e os exemplos, percebe-se que essa violência não ocorre de maneira velada, ela acontece de maneira bastante evidente, sendo essa prática considerada, na maioria das vezes, normal por torcidas organizadas19, que associam a violência ao amor pelo time. Dessa maneira, expressa Tubino (2011): [...] as violências são tão numerosas no esporte-performance, que se pode afirmar que é nesta dimensão social do esporte que ocorreu o maior número de distorções. Comportamentos coletivos, como a moda, os pânicos, as 16 O mesmo Esporte que ajuda a propagar valores como amizade, companheirismo, cooperação, pode ser usado para difundir comportamentos violentos e eventos de erupção social. Segundo Prof. Angelo Vargas (CREF 000007-G/RJ), que comanda o Laboratório de Estudos do Comportamento Urbano (LECSU). “Nossos estudos trabalham com o desporto não só dentro do estádio, dentro do ginásio, como trabalha no entorno, sobretudo no comportamento social urbano”, explica o pesquisador, 2011. 17 Violência no Esporte, Jornal Estadão, São Paulo, 2014. 18 Blog Racismo no Esporte apresenta os casos emblemáticos de manifestações de racismo no esporte em todo Brasil, 2013. 19 Segundo matéria de Rodrigo Vessoni ao site Lance Net, a violência das torcidas organizadas já matou mais de 234 pessoas, sendo 30 delas só no ano de 2013. Sendo estas nomeadas pelo jornalista como facções uniformizadas, 2013. 69 massas, a opinião pública, e os outros, são ingredientes utilizados nas ações negativas de aproveitamento do esporte. (TUBINO, 2011, p. 46) Essas práticas de violência ocorrem constantemente, as violências não se detêm apenas a agressões físicas, elas abrangem outras áreas como: a discriminação, os crimes contra o patrimônio público, seja ele material ou financeiro. Porém, nenhuma medida preventiva ou mesmo punitiva é tomada para sanar essas práticas. As organizações, os dirigentes ou o Estado pouco parecem se importar com esse fenômeno. Dessa maneira, expressa Tubino (2011): A violência nos espetáculos esportivos entre os espectadores [...] além das violências físicas, constatáveis pelas tragédias e conflitos consequentes, também existem as violências simbólicas e verbais, presentes com muita frequência, e que, entretanto, não chegam a emocionar os dirigentes, a ponto de propor medidas. (TUBINO, 2011, p.46-47) Os casos de suborno e doping também são pautados como forma de violência e se tornaram tão costumeiros, que são equivalentes a práticas normais do esporte. Conforme expressa Tubino (2011): Interessante dizer que o esporte de rendimento ou performance, quando politicamente vai deixando de se constituir num uso político-ideológico, em vez de recrudescer a utilização de meios ilícitos para a obtenção das vitórias, continua no mesmo nível de busca destes meios nefastos de sucesso, e em alguns casos cresce quantitativamente e até “qualitativamente”. O doping é considerado, no mundo esportivo de hoje, a forma mais grave de violência existente. Ele inverte o resultado esportivo eminente, e atinge biologicamente o pseudovencedor, isto é, o seu usuário direto. (TUBINO, 2011, p.48) As forças de trabalho escravizadas nas propriedades esportivas se tornaram hábito no esporte moderno, os atletas trabalham em verdadeiros feudos esportivos para garantir seu sustento. Conforme expressa Tubino (2011): […] esta situação no esporte profissional foi agravada, historicamente pela desorganização das categorias profissionais, o que conjunturou um quadro em que os atletas são explorados pelas imposições regulamentares e pela dependência escravagista a instituições (clubes e entidades dirigentes) e até pessoas (empresários). (TUBINO, 2011, p.49) Outra questão atrelada à força esportiva escravizada e ao limite biológico dos atletas é que eles não estão aptos a serem atletas pela eternidade, uma hora os corpos não respondem mais aos estímulos do cérebro, e ser primeiro lugar requer um esforço tão grande, que, muitas vezes, o corpo chega a sucumbir. Fato este bastante complicado, pois a maioria tem o esporte como ofício, e quando se deparam com essa situação, tudo fica mais complicado. Dessa maneira, expressa Tubino (2011): O encerramento prematuro da carreira esportiva atlética e a grande solicitação de horas de treino durante o período de práticas, impedindo quase 70 sempre que os atletas possam frequentar outras formações ou ter outras experiências profissionais, impede frequentemente uma mobilidade social, e, muitas vezes, até agravam a situação socioeconômica dessas pessoas. (TUBINO, 2011, p.49) A discriminação contra a mulher no esporte, ainda é um fator preponderante, e também se configura como uma forma de violência, ontologicamente falando. Desde os jogos da Grécia antiga, as mulheres eram excluídas de qualquer competição até mesmo como espectadoras. Conforme expressa Tubino (2011): Desde os jogos Gregos, na antiguidade, a mulher é socialmente discriminada no esporte. Nos jogos olímpicos da antiga Grécia, a mulher não podia nem assistir às competições. Isso gerou uma reação, fazendo com que existam modalidades esportivas somente para prática feminina, discriminando o sexo masculino, é o caso da ginástica rítmica desportiva e da natação sincronizada. (TUBINO, 2011, p.49) O uso político-ideológico do esporte também é um fator extremamente relevante, presente na história desde os jogos olímpicos. Manifestações já ocorriam em 1936, ano que Berlim capital da Alemanha sediaria os jogos, época do clamor da segunda Guerra Mundial. Vinte anos antes, os jogos seriam sediados nessa mesma capital, mas foram cancelados devido à Primeira Guerra Mundial. Conforme expressa Tubino (2011): [...] a primeira grande manifestação de utilização do esporte como meio ideológico-político foi a de Hitler durante os jogos olímpicos de 1936. Foi construída toda uma estrutura que permitisse a demonstração para o mundo da supremacia dos alemães arianos sobre os demais povos e raças. (TUBINO, 2011, p. 51) Entretanto as manifestações de violência e discriminação não poderiam ficar de fora desse grande espetáculo, vários atletas negros foram hostilizados pelas torcidas e pelo próprio ditador Adolf Hitler. Dessa maneira, expressa Tubino (2011): No entanto, as vitórias do negro norte-americano Jesse Owens, e a valorização destas conquistas derrotaram o ditador alemão nas suas intenções e ações torpes de uso do esporte. É interessante observar que os alemães (arianos) tiveram grandes vitórias, as quais permaneceram apagadas em virtude do sucesso de Owens. (TUBINO, 2011, p. 51) A luta por poder continuou ainda mais forte e, com a Guerra Fria, a disputa entre União Soviética, que entrou nos jogos apenas em 1952, e Estados Unidos tomou mais força. Segundo Tubino (2011), “os Estados Unidos cresceram geometricamente os seus orçamentos nas preparações esportivas das equipes norte-americanas Olimpíadas.”. para competições internacionais, principalmente para as 71 Os Jogos Olímpicos foram utilizados como palcos de reprodução da Guerra Fria, em uma luta entre os regimes capitalista e socialista. Esse palco trocou a glória por medalhas pela honra, pelo poder. Dessa maneira, expressa Tubino (2011, p.52): “Os jogos olímpicos passaram a constituir-se em mais um palco de guerra fria, e o número de medalhas passou a ser entendido como um indicador de supremacia do regime, na disputa entre capitalismo e socialismo.”. Segundo publicação da Enciclopédia do Holocausto (2014): Enquanto aconteciam os Jogos Olímpicos de Verão, a ditadura de Adolf Hitler camuflou seu caráter racista e militarista. Ocultando sua agenda antissemita e seus planos de expansão territorial, o regime explorou os Jogos para impressionar os espectadores e jornalistas estrangeiros com a imagem de uma Alemanha pacífica e tolerante. Como se pode observar, o esporte foi e ainda é utilizado como ferramenta ideológica. Porém, muitos atrelam sua maior utilidade ao lucro. Segundo Tubino (2011, p.52): “o esporte foi uma ferramenta ideológica durante muito tempo, [...]. Por outro lado, os esportistas socialistas pertencentes à intelectualidade mundial do esporte acusam o capitalismo pelo uso do fenômeno como apenas uma fonte de lucro.”. Com o aumento de seu alcance o esporte passou a ser mais valorizado e difundido de maneira mais popular, o que consequentemente proporciona o aumento do lucro dos investidores e, por conseguinte a alienação ideológica causada por este fenômeno. Segundo Tubino (2011, p.52), “Quando o esporte, […] aumentou sua abrangência, [...] a prática esportiva por massas populares e por escolares, em perspectivas diferentes, continuaram a permitir as intoxicações ideológicas.”. O direito à prática esportiva envolveu diversos atores e grupos sociais, esse direito traz para sociedade uma conquista, que poderá ofertar atividades inclusivas, que envolvam a construção da cidadania e as práticas de lazer. Levando a caminhos mais democráticos em defesa aos usos ideológicos e políticos. Conforme expressa Tubino (2011): Entretanto, a conquista ao direito à prática esportiva pelos grupos sociais populares, no esporte-participação, e das crianças, de utilizarem a riqueza cultural do conteúdo do esporte para a formação da cidadania, passaram a conduzir os envolvidos nos fatos esportivos a caminhos democráticos, aumentando as defesas contra os seus usos políticos. (TUBINO, 2011. P. 52) Com o aumento das defesas ao uso ideológico e político do fenômeno esportivo, o esporte de rendimento foi notado pelo lado mercantilista, passando a ser 72 visto como um negócio e respondendo de maneira bastante lucrativa ao empresariado. Dessa maneira, expressa Tubino (2011, p.53): “No esporte de rendimento, a chegada de forma inequívoca dos interesses mercantis ao esporte, praticamente, inauguram um novo processo, agora voltado para o negócio, anulando pouco a pouco as influências ideológico-políticas.”. Chega-se ao quinto efeito social negativo do esporte moderno listado por Tubino (2011), a preponderância da lógica do mercantilismo no esporte: a chegada definitiva da televisão, encurtando as distâncias no mundo e modificando radicalmente o elenco de hábitos dos habitantes do planeta também provocou profundas mudanças no processo esportivo. Uma das mudanças mais visíveis foi a substituição gradual do uso ideológico-político do esporte pela utilização comercial. Dessa maneira, expressa Tubino (2011): […] o número de medalhas esportivas olímpicas e os sucessos esportivos eram contados como provas de superioridade ideológica ou de regime político. Agora o uso político-ideológico do fenômeno esportivo está sendo substituído por um novo paradigma, o do esporte como negócio, surge um novo conflito social, de difícil tratamento, que é confronto direto entre a lógica do mercantilismo e os valores do esporte. (TUBINO, 2011, p.53-54) Tendo em vista o esporte como fenômeno, podem-se destacar os grandes espetáculos e tudo aquilo que está relacionado a estas práticas, como consequência disso, Tubino (2011) destaca um fator. Definham modalidades clássicas, que não provocam espetáculos para a televisão, ou que não prometem lucros em suas disputas. Dessa maneira, expressa Tubino (2011): Por outro lado, cresce o número de modalidades relacionadas com mais risco de morte (ralis, automobilismo, motociclismo, bicicross etc.), e, consequentemente, despertam mais interesse com o espetáculo de televisão. Também cresce a quantidade de novas modalidades desportivas de relação com a natureza e que exigem aparelhos de fabricação industrial (voo livre, surfe, esqueite[SIC] etc... (TUBINO, 2011, p.54) Além da indústria esportiva existente relacionada diretamente aos equipamentos esportivos, também se pode perceber o grande aumento de competições com o formato de circuito, estratégia esta que permite aos patrocinadores a divulgação maior de suas marcas, pois as competições ocorrem em cidades, ou até países distintos, englobando uma gama de possíveis clientes. Dessa maneira, conforme expressa Tubino (2011): Nas formas de competição, passam a dominar os circuitos, para que os produtos de patrocínio possam parecer mais vezes. Já existem até aqueles críticos e estudiosos do fenômeno esportivo que afirmam que o esporte virou grande espetáculo de televisão. É evidente ainda que exista todo um 73 processo de imitação deste esporte-espetáculo, de alto nível e de grandes espetáculos, para a prática popular. (TUBINO, 2011, pp.54-55) Todos os dias, assiste-se a este fenômeno sem ao menos perceber o quanto ele é pertencente ao nosso cotidiano, vários programas de rádio e televisão, disponibilizam dias e horários específicos dedicados a notícias do esporte. A sociedade é engolida por essa ideologia, novas modalidades e novos modismos surgem a cada momento, hoje, ter-se-á o espetáculo da ginástica localizada, amanhã o espetáculo da ginástica funcional, depois de amanhã, ter-se-á o crossfit. Dessa maneira, expressa Tubino (2011, p.55): “Deve-se também dizer que esta lógica do mercantilismo introduzida efetivamente no esporte, principalmente pelo maior chamamento do espetáculo esportivo, é também uma manifestação do mundo atual de sociedades de massas.”. O esporte envolve muito mais do que uma simples prática de bem-estar, o esporte envolve o lado econômico-material, envolve a mão de obra dos atletas, treinadores, e outros profissionais que fazem parte desse fenômeno. O esporte envolve todos em um negócio bastante lucrativo, que pode tornar-se uma ferramenta de alienação da sociedade. Dessa maneira, expressa Tubino (2011): Nesta perspectiva, este esporte-negócio envolve uma pedagogia da superação para seus praticantes, levando no seu conteúdo um fenômeno reconhecido como agressividade esportiva. Os estudiosos marxistas do assunto reconhecem o esporte moderno, por tudo isso, como uma diversão alienante, por atuar como sucedâneo das massas que não têm acesso às práticas esportivas. (TUBINO, 2011, p. 55) Por outro lado, tendem as surgir opiniões diversas, segundo Tubino (2011), estudiosos capitalistas se contrapõem, dizendo que a todos os assistentes de um determinado espetáculo esportivo está aberta a possibilidade de prática esportiva, apenas em nível diferenciado. Dessa maneira, expressa Tubino (2011): Existem ainda aqueles que acusam o espetáculo esportivo de catalizar frustrações inconscientes e alienantes. É muito difícil a aceitação deste posicionamento, pois seria o equivalente a aceitar a mesma premissa para qualquer espetáculo que promova talentos em qualquer manifestação humana, o que de fato, torna este tipo de análise de certa forma preconceituosa e tendenciosa. (TUBINO, 2011, p. 55) Pode-se analisar que a partir desses conceitos, o esporte sendo um processo social, passa por limites e possibilidades como todo e qualquer outro na sociedade. Segundo Tubino (2011), em qualquer processo social, o esporte é um processo social, é exigida uma visão mais profunda de sociedade, bem como dos seus mecanismos de controle social. Dessa maneira, expressa Tubino (2011, p.58): 74 “A prática esportiva, como prática social, precisa ser entendida com a percepção de que cabe à sociedade, como processo social articulador de várias atividades sociais, desenvolver-se numa estrutura social articulada.”. Para isso, surge o famoso espírito esportivo, segundo Tubino (2011), a aproximação e o equilíbrio entre a atitude ética e a atitude esportiva teriam como resultante a formação do chamado espírito esportivo. Espírito este que não se consolida somente através do jogo limpo e do respeito, mas através da afirmação de alguns fatores, como: a consolidação do conceito de homo sportivus, que, segundo Tubino (2011), há a aceitação, nas nações, de que a prática esportiva constitui-se num direito inalienável do ser humano e a revisão do papel do Estado na questão social do esporte. Outra questão, segundo Tubino (2011), é a relativização do esporte com a natureza e o lazer, que começa a surgir uma discussão sobre o ponto de saturação dos locais naturais de competição. O excesso de competições esportivas, de uma mesma modalidade ou de diversas, somando à afluência de espectadores, têm provocado ações poluidoras paralelas de várias formas, criando um constrangimento social naqueles que têm consciência do problema. A aproximação do fenômeno esportivo com as práticas corporais de expressão, segundo Tubino (2011), a busca de situações esportivas, a impossibilidade da maioria das pessoas em apresentar talento para modalidades esportivas de solicitação física complexa, a influência da mídia, a plasticidade, os espetáculos e outros fatores levaram a práticas com a dança (ginástica) aeróbica, dança, ginástica de jazz, e outras a serem utilizadas como modalidades esportivas. Conforme expressa Tubino (2011): Isto quer dizer, em outras palavras, que o início dos gostos esportivos ocorre a partir da acomodação das estruturas das práticas esportivas, que compreendem uma diferença sexual no interior da diferença social. Finalmente, estes autores ainda reconhecem que a demanda social na prática do esporte depende dos fatores sociológicos, econômicos, técnicos e individuais. (TUBINO, 2011, p. 68) Surge o novo papel do Estado diante do esporte, segundo Tubino (2011), pois até os anos de 1930, o esporte era autogovernado pelo Estado, através de inferências, financiamentos e legislações. No que tange à relação Estado-EsporteSociedade, podemos destacar, conforme expressa Tubino (2011): a) a responsabilidade social do Estado de fomentar as manifestações esporte-eduação e esporte-participação; b) a responsabilidade social do Estado de normatizar a manifestação esporte- 75 performance; c) a responsabilidade social do Estado de estimular o interesse de iniciativa privada para as questões do esporte, levando-a a uma corresponsabilidade; f) a responsabilidade social do Estado de desenvolver meios para intercâmbio internacional na área do esporte; g) a responsabilidade social do Estado diante do problema da violência nos palcos esportivos. (TUBINO, 2011, p. 70) Os pontos destacados pelo autor são necessários para que se possa entender o papel do Estado no esporte, sendo ele responsável por fomentar as manifestações no esporte-educação e no esporte-participação, bem como normatizando o esporte de rendimento, através de campeonatos, podendo ser estas competições de alto rendimento ou não, existindo inclusive os jogos e as olimpíadas escolares, os jogos universitários que fomentam o esporte-educação, o dia D20, as ações globais, que fomentam o esporte-participação. A responsabilidade do Estado de estimular o interesse de iniciativa privada, gerando a corresponsabilidade. Pode ser observada através das legislações, como exemplo, a lei de incentivo ao esporte (Lei nº 11.472, de 2 de maio de 2007), que possibilita pessoas físicas e jurídicas a contribuir com o esporte, sendo este valor deduzido em seu imposto de renda. O problema da violência nos palcos esportivos é um fenômeno, que não precisa de grandes esforços para ser notado, as arenas de esportes se tornaram palco de grandes guerras, de torcidas organizadas, fenômeno este que não ocorre somente no Brasil, alguns países possuem leis específicas que punem esses “torcedores”, sendo eles banidos do espetáculo, a fim de assegurar a integridade de outras pessoas e do local. O Estado também tem a responsabilidade social de desenvolver meios para intercâmbio internacional nesta área, podendo citar como exemplo; as escolinhas de futebol do exterior que montam centros de treinamentos no país para revelar novos atletas, os treinadores especialistas de outras nacionalidades que são lotados em determinadas modalidades a fim de aprimorar o treinamento dos atletas. Por meio destes, pode-se perceber que o esporte não é apenas uma atividade física, este perpassa por várias dimensões sociais, fazendo-se necessário analisá-lo como um processo social. O papel do Estado sempre foi de fundamental 20 É uma campanha mundial de incentivo à prática regular de atividades físicas em benefício da saúde e do bem-estar, realizada por meio de ações das comunidades. Os vencedores são os cidadãos que, além do corpo, exercitam a integração, a criatividade, a liderança e o espírito comunitário. 76 importância para este processo, portanto interessante seria se este regulamentasse, fomentasse e oferecesse de maneira mais ampla o acesso a tal serviço. Sendo ele disponibilizado de forma mais igualitária, com maior qualidade, tanto para os atletas, como para os demais profissionais que estão ligados a esta área. As dimensões abordadas durante a pesquisa proporcionaram a pesquisadora a entender de fato o esporte em sua gênese e as suas mais diversas variações, o esporte educacional, de participação e de rendimento atuam de maneira articulada e se complementam. O local escolhido para a pesquisa aborda o esporte nessas três dimensões, o que possibilitou à pesquisadora uma vivência rica durante a construção deste trabalho. A pesquisa bibliográfica também proporcionou um aprofundamento no tema escolhido junto às entrevistas que ofereceram o real alcance das indagações, que existiam anteriormente à pesquisa. Como se vê, o esporte possui o seu lado negativo, a partir dele fenômenos de proporção mundial surgiram, e, na maioria das vezes, estes parecem incontroláveis, praticar um esporte por, muitas vezes, não é apenas diversão, muitos o tem como profissão e são obrigados a se submeter a tratamentos degradantes por conta dele. Porém, o seu lado social e inclusivo ainda prevalece, e é por ele que esta pesquisa foi realizada. Entretanto, a pesquisadora afirma que as indagações anteriores a este trabalho foram todas sanadas, porém um novo leque de informações e perguntas veio à mente, podendo dizer que há uma melhor compreensão da função social do esporte, mas que muito ainda precisa ser feito para que essa função seja realmente concretizada, os projetos, os programas e as instituições existentes trabalham de modo superficial, sem aprofundamento na temática, o que acarreta em diversos erros. Durante as falas do jovem entrevistado, a pesquisadora pôde perceber o descontentamento e a superficialidade daquilo que é aprendido na instituição, os meios existem, porém eles são utilizados de maneira equivocada. Os profissionais trabalham em modo de competição, alguns tentam mudar a situação, outros poucos se importam. O mais prejudicado em toda essa história é o jovem. Portanto, conclui-se que este capítulo registra toda a pesquisa de modo a difundir mais a área, que também é um espaço sócio ocupacional de nossa profissão, pretendendo também, com este trabalho, dar continuidade a essa linha de 77 pesquisa e, assim, poder enriquecer ainda mais os conhecimentos sobre a área, pois, a partir do campo, a pesquisadora teve o prazer de analisar os olhares de dentro para fora, de jovens e profissionais que estão inseridos em um ambiente repleto de experiências. 78 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Em virtude da análise realizada, durante a pesquisa, pôde-se perceber que tornar o jovem escritor de sua história é um dos trabalhos mais importantes a se fazer. Os saberes desenvolvidos de modo individual e coletivo contribuem bastante para a construção da cidadania, pois todos devem se apropriar dos seus direitos e deveres. A inclusão social também pode ser observada nas atividades propostas pelo CUCA, porém ambas ainda apresentam valores confusos e às vezes desnorteadores. A relação com o jovem requer exemplificações e um acompanhamento mais eficaz, o que, para a pesquisadora, ainda está em falta nas atividades na instituição. Com a falta de compromisso dos profissionais com os alunos e com o seu fazer profissional, com a falta de normas e objetivos claros das atividades, com as rivalidades por promoção, com a negligência em atividades que estão em execução e acabam por se perder no meio do caminho por conta de vaidades profissionais. Entretanto, ficou-se ciente de que o esporte não resolverá todas as questões conflituosas que envolvem a juventude, contudo, ele poderá proporcionar ao jovem uma nova visão, quando é trabalhado nessa perspectiva. Porém, a partir das falas, a pesquisadora não percebeu de maneira tão eficiente esse trabalho, a instituição ainda trabalha na perspectiva do lazer, de apenas preencher as horas ociosas dos jovens, a monitoria é o único projeto que poderá trazer ao jovem uma continuidade dentro da instituição e o mesmo parece não ser amplamente aplicado. As dimensões do esporte trabalhadas com o jovem fazem parte de um processo de formação, podendo este se tornar ou não um atleta, a pesquisadora acredita que essas dimensões poderiam ser aplicadas de maneira mais integral, reforçando as ideias de afinidade, desempenho e vocação. Cada jovem deveria ser melhor acompanhado e orientado naquilo que poderá ser sua perspectiva de futuro. Em relação àquilo que é válido indicar, percebe-se que o esporte, na experiência do CUCA, parece trabalhar os dois lados, tanto na dimensão individual, como as particularidades, as afinidades e o desempenho de cada atleta, bem como, a dimensão coletiva, junto ao trabalho em equipe, o companheirismo, o compartilhamento, a participação, pois quando se fala em esporte de grupo, sabe-se 79 que um time composto apenas por um único jogador, dificilmente, conseguirá o êxito. Nessa perspectiva, pode-se perceber que as categorias abordadas nesta pesquisa se complementam e traduzem o objetivo principal da pesquisa, que é de compreender a relevância social do esporte, pois, quando se trabalha de modo articulado com o coletivo, os resultados se tornam mais palpáveis. Destacando o trabalho de inclusão social e cidadania realizados pelo Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA), fazendo relação com as áreas profissionais atuantes no Centro e a profissão de Serviço Social, pode-se relatar que o esporte pode ser trabalhado em conjunto com as demais áreas profissionais do CUCA e, para isso, a nossa profissão também poderá se apropriar desta área. Como se vê nesta análise, o esporte é uma ferramenta de inclusão social, construção da cidadania, de protagonismo e de participação. O jovem necessita desse incentivo, a sociedade como um todo pode e deve ser transformada através de pequenas ações comunitárias. O jovem deve se sentir participante, deve compreender o ambiente como uma oportunidade de desenvolvimento social, para isso, precisa de acompanhamento e orientações objetivas. Durante as entrevistas e a vivência no campo, os entrevistados demonstraram a real importância do esporte e do modo como este pode ser utilizado para além dos aspectos físicos. As indagações desta pesquisa foram totalmente esclarecidas, a pesquisadora percebeu que o esporte não é apenas o esporte isoladamente, ele envolve uma trama de fatores, que se interligam e perpassam os estigmas da competitividade, podendo até dizer que isso é o que menos importa. Na verdade, o que ele proporciona é uma visão de futuro, é um sentimento de autonomia, de poder alcançar os objetivos, de se superar, não porque se deseje o melhor, embora isso também seja levado em consideração numa competição profissional, mas porque simplesmente se abre um campo de possibilidades para relacionar-se com outras pessoas, respeitar e ser respeitado, desde que se esforce o bastante. Porém, podem-se destacar também os aspectos negativos encontrados na instituição abordada pela pesquisa, tomando por base a fala do jovem entrevistado, percebe-se a falta de interesse dos profissionais do Centro para com os jovens, pois o entrevistado relata que a relação professor e aluno seria um ponto 80 importante a melhorar no local. Analisando as falas dos profissionais entrevistados, também se pode perceber a falta de regras e limites para com os jovens, a única maneira de organizar as atividades seria a frequência, que para a pesquisadora não proporciona um contato direto e especifico com as normas que deveriam ser trabalhadas pela instituição como, por exemplo: a instituição poderia fazer uma atividade de iniciação para todos aqueles que ingressem no CUCA, apresentando, de maneira bem ilustrativa e lúdica, as regras e as normas gerais da instituição, abrindo espaço para o jovem propor idéias novas, já que sua proposta seria de promover no jovem sua autonomia, fazendo com que se sensibilize para a realidade em que vive e as regras existentes na instituição de uma maneira não repressiva. Outro fator importante é os limites de organização das atividades da instituição, sendo a frequência a única maneira de estruturar as atividades, os jovens possuem uma falsa noção de liberdade, que, para um dos entrevistados, seria um ponto positivo. Para a pesquisadora, essa noção de liberdade empregada pela instituição exibe falhas em partes, uma delas seria o fato desse controle se tornar ineficaz, pois o jovem possui livre acesso às atividades, sem lhe ser exigido nada, apenas que cumpra a frequência, caso o mesmo atinja ao limite de três faltas injustificadas, ele perderá a vaga, porém poderá se matricular logo em seguida, o que para a pesquisadora gera certa falta de compromisso com os demais alunos e profissionais. Outra ação, que para a pesquisadora vai totalmente de encontro com o conceito de formação proposto pela instituição, é o fato de não haver pré-requisitos para se matricular nas atividades, o único existente seria o interessado se enquadrar na idade entre 15 e 29 anos, que compreende a faixa etária da juventude. Em alguns casos é aberta a exceção para alunos que não se enquadram nessa faixa etária participarem das atividades, esse ponto pode parecer positivo, mas a falta de requisitos para além da idade para a pesquisadora é um erro que compromete as atividades, pois o equipamento foi criado para a juventude e visa manter essa proposta, se a instituição começa a abrir exceções o serviço perde a sua principal característica. Diante disto, com base nos fatos exposto anteriormente, de acordo com as entrevistas, os profissionais relatam que buscam relacionar o esporte ou outras atividades e, como consequência, as regras da instituição seriam apresentadas por 81 outros alunos no decorrer dessas atividades, porém, na maioria das vezes, este seria o primeiro contato com normas e regras que estes jovens teriam. Sendo esta uma dificuldade inicial, esse campo deveria ser melhor trabalhado e as atividades elaboradas de maneira mais eficiente. Durante as entrevistas, deparou-se com a maneira de organização das atividades que, segundo um dos profissionais entrevistados, traz ao jovem uma “noção de liberdade” que seria um ponto positivo, pois não restringe sua entrada ou sua saída. O que diverge da ideia da noção de liberdade empregada pela maneira de organizar as ações do local. Ou seja, se o CUCA pretende realizar um trabalho de formação, as normas propostas por ele devem ser mais claras e objetivas, assim o jovem poderá compreender melhor as relações presentes na instituição. Outro ponto relevante, destacando a falta de normas claras e a falta de proximidade professor-aluno, é a fala do jovem entrevistado, que enxerga o esporte apenas como uma atividade de lazer, bem-estar e melhoramento físico. Ou seja, a “formação” proposta pela instituição ficou totalmente em segundo plano. O jovem vê o esporte unicamente como uma atividade lúdica, não demonstrando, pelo menos durante a entrevista, que esteja apreendendo através dele qualquer outro valor. Para a pesquisadora, o sentimento de missão cumprida surge com a construção dessa pesquisa, com a ida ao campo, com a escuta dos protagonistas dessa história. Este trabalho é dedicado a essas pessoas, que estão todos os dias na ponta, se empenhando ao máximo para mudar a vida de pelo menos um destes jovens, para torná-los confiantes, para fazê-los acreditar em si. 82 REFERÊNCIAS AQUINO, Luseni. A juventude como foco das políticas públicas. In: CASTRO, Jorge Abrahão de Castro; et.al (orgs). Juventude e políticas sociais no Brasil. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2009. ALCÂNTARA, Gisele Oliveira de; LEITE, Janete Luzia. As expressões da “questão social” na era do capitalismo financeiro. Maranhão, 2011. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da república federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado, 1998. ________. Ministério da Saúde. Estatuto da criança e do adolescente / Ministério da Saúde. 3. ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2008. ________. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social NOB/SUAS. Brasília, 2005. ________. 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Estou desenvolvendo um estudo, que tem cujo objetivo compreender a dimensão social do esporte para construção da cidadania e inclusão social dos jovens atendidos pelo Centro Urbano de Cultura, Ciência e Esporte (CUCA). Esclareço que entrevistaremos__________________________________ Neste sentido, estou solicitando sua contribuição nesse estudo. Gostaria de deixar claro que essas informações são sigilosas, e principalmente seu nome não será em nenhum momento divulgado. Caso se sinta constrangido, envergonhado, durante essa nossa entrevista, você tem o direito de pedir para interrompê-la, sem causar prejuízo. Mesmo tendo aceitado participar, se por qualquer motivo, durante o andamento da pesquisa, resolver desistir, tem toda liberdade para retirar o seu consentimento. Dessa forma, gostaríamos de contar com a sua participação, permitindo que realizemos entrevista e que possamos gravá-las para que nenhuma informação seja perdida. Garantimos resguardar o seu anonimato, bem como o nome de pessoas citadas na entrevista. A pesquisa não trará risco a sua pessoa e você poderá desistir de participar da mesma no momento em que decidir, sem que isso lhe acarrete qualquer penalidade. Diante disso, gostaria muito de poder contar com sua colaboração. Atenciosamente, _________________________________________________ Pesquisador _________________________________________________ Entrevistado Fortaleza, _____ de ___________________ de 2014. 89 APÊNDICE II Questionário/Profissional I Pesquisa de campo – Cuca Barra Dados do entrevistado Nome: Formação: Cargo/Função: e-mail: 1. 2. 3. 4. 5. 6. Há quanto tempo trabalha no CUCA? Como é realizada a inclusão do jovem nas práticas esportivas? Como é feito o trabalho de inclusão social através do esporte? Qual esporte é o mais procurado? Quais as modalidades oferecidas no CUCA? Já tinha trabalhado com projetos sociais, se sim onde e como foi sua experiência? 7. Quais são as mudanças que você como profissional observa nas crianças e nos jovens quando iniciam a prática esportiva? 8. Quais são os principais problemas que esses jovens apresentam ao ingressar no CUCA? 9. Quais as maiores dificuldades que o profissional enfrentam em orientar esses jovens? 10. O índice de abandono ou desistência é considerável? 11. Desde que ano surgiu a necessidade de se inserir o esporte nos projetos do CUCA e com qual finalidade ele se apresenta para o jovem? 12. Existem alguma formação para que esses jovens se tornem monitores? 13. O que é ensinado para este jovem através do esporte? Que lição se pode tirar das práticas esportivas? 14. Quais comunidades são atendidas pelo CUCA? 15. Quantos jovens são atendidos pelo CUCA e qual faixa etária? 16. Existe algum pré-requisito para participar das atividades oferecidas pelo CUCA, se sim quais são? 17. Existe alguma preocupação com a situação escolar do aluno do CUCA? 18. Os jovens participam de outras atividades, além do esporte? 90 APÊNDICE III Questionário/Profissional II Pesquisa de campo – Cuca Barra Dados do entrevistado Nome: Função/Cargo: Formação: Email/Contato: 1. Há quanto tempo trabalha no CUCA? 2. Já tinha trabalhado com projetos/programas sociais, se sim onde, e como foi sua experiência? 3. Fale-me um pouco sobre o CUCA? 4. Na sua percepção, qual é o papel do educador social? 5. Quais diferenças você percebe no fazer profissional? 6. E o trabalho do educador o que você faz exatamente? 7. E o seu trabalho como educador dentro do comunidade? 8. O que o comunidade em pauta representa no CUCA? 9. O que mudou a partir do Comunidade em Pauta? 10. Como e quando se iniciou o comunidade em pauta, como ele funciona? 11. Quais as maiores dificuldades enfrentadas no espaço de trabalho? 12. Como se dá a relação educador/jovem no CUCA? 13. Como se dá o trabalho do educador social com os demais profissionais e setores? 14. Como educador social, quais mudanças são percebidas nos jovens em curto, médio e longo prazo? 15. Onde os jovens têm mais participação? 16. Quais foram as principais mudanças no decorrer desses cinco anos de CUCA? 91 APENDICE IV Questionário/Jovem JOVEM Nome: Idade: Atividades que pratica: Tempo que participa das atividades do CUCA: 1. Como foi seu ingresso e acesso ao CUCA? 2. O que lhe motiva a participar das atividades do CUCA? 3. O que mudou em seu cotiano quando começou a participar das atividades do CUCA? 4. Que nota você daria para o CUCA? Justifique a nota. 5. O que você mudaria ou melhoraria no CUCA? 6. Na sua opinião, quais atividades do CUCA lhe chamam mais atenção? 7. Você gostaria de praticar mais atividades no CUCA? Quais? 8. Antes de conhecer o CUCA, você já tinha participado de algo parecido? 9. Pra você o que é cidadania(ser cidadão)? 10. Você gostaria de se tornar um monitor na área dos esportes no CUCA, ou em outra área? 11. Quais seus objetivos com a prática do esporte, ou de outras atividades? 12. O que o esporte representa na sua vida? 13. Como você se avalia antes e depois da pratica do esporte? 14. A partir da pratica do esporte, quais ensinamentos você pôde trazer para sua vida? 15. Como é o relacionamento dos jovens com os profissionais do CUCA? Os jovens têm voz, podem dar sua opinião nas atividades? 92 ANEXO I Figura 1 - Artes Marciais (MMA) Fonte: Prefeitura de Fortaleza Figura 2 – Artes Marciais (Jiu-Jitsu) Fonte: Prefeitura de Fortaleza 93 ANEXO II Figura 3 – Esportes de Quadra (Futsal) Fonte: Prefeitura de Fortaleza Figura 4 – Esportes de Quadra (Vôlei) Fonte: Prefeitura de Fortaleza 94 ANEXO III – DESTAQUE NO ESPORTE Figura 5 – Atleta José Edson Vitorino de Souza Fonte: Prefeitura de Fortaleza José Edson Vitorino de Souza, 25 anos: Em 2011 venceu a competição no duathlon (natação e corrida). Em 2012 deu inicio aos treinos de triathlon (natação, corrida e pedalada). No ano de 2014, o jovem venceu a I Etapa do Campeonato Cearense de Triathlon Olímpico. Morador do bairro Vila Velha, Dudé envolveu-se com o crime organizado na adolescência. Mas, em 2011, foi levado por um amigo ao Cuca Barra, onde começou a praticar natação. “O Cuca Barra mudou a minha vida. Se eu não tivesse entrado lá, certamente, já estaria morto. Só tenho a agradecer, aprendi tudo lá, até a ser uma pessoa melhor, mais calma”, conta o jovem em entrevista.