UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Faculdade de Letras - Câmara de Pesquisa
PROJETO DE PESQUISA
I - DADOS BÁSICOS
1. Nome do pesquisador:
Maria Inês de Almeida
2. Título do projeto:
OS LIVROS DE AUTORIA INDÍGENA NA AMPLIAÇÃO DO ESPAÇO LITERÁRIO
3. Data de início: 01 / 03 / 2014
Data de término:28
4. Tipo de projeto:
X Pesquisa
X Pesquisa e extensão
/ 02
/2017
X Pesquisa aplicada ao ensino
Doutorado
Recém-doutor
5. Área de conhecimento:
Estudos linguísticos X Estudos literários
6. Sub-área de conhecimento (seguir tabela do CNPq):
7. Palavras-chave (mínimo 03): Literatura Kaxinawá
Transdisciplinaridade Interculturalidade
II – DADOS COMPLEMENTARES
8. O pesquisador é bolsista de agência de fomento?
Não X Sim Qual? CNPq
Possui outras formas de financiamento (verbas concedidas por editais etc.)
Não
Sim Quais?
9. O projeto é vinculado a núcleo de estudos da FALE?
Não X Sim
Nome do núcleo: Literaterras
10. O projeto é vinculado a grupo de pesquisa cadastrado no CNPq?
Não X Sim
Nome do grupo: Literaterras: escrita, leitura, tradução
III - RESUMO DO PROJETO
O que pretendo, com o desenvolvimento deste novo projeto, é dar continuidade a pesquisas que venho desenvolvendo com o
apoio do CNPq, ampliando e aprofundando alguns aspectos observados no decorrer da realização dos projetos anteriores. Em
uma já longa trajetória de estudos e experiências literárias/editoriais com os povos indígenas, iniciada em 1996, tive a
oportunidade de realizar projetos individuais e coordenar projetos coletivos do Núcleo Transdisciplinar de Pesquisas
Literaterras: escrita, leitura, traduções (cf. Diretório de Grupos de Pesquisa no site do CNPq), que ensejaram elaborações
teóricas que têm fortemente subsidiado minhas pesquisas e meu ensino na Faculdade de Letras da Universidade Federal de
Minas Gerais. Pelo menos duas ideias axiais têm se afirmado com os sucessivos projetos de pesquisas desenvolvidos a partir do
meu doutorado (1995-1999): a primeira é a de que a literatura indígena contemporânea tem sua entrada na cultura do impresso
com a força de projeto gráfico; e a segunda é que, ao tratamos de literatura indígena, estamos falando de uma experiência
tradutória. Em síntese, são estas as duas ideias principais apontadas em meu livro Desocidentada – experiência literária em terra
indígena, publicado pela Editora da UFMG em 2009. Quando defendi, em 1999, a tese (doutorado em Comunicação e
Semiótica, na PUC de São Paulo) de que a literatura indígena na contemporaneidade, no Brasil, a cada livro publicado, se
mostrava, antes de mais nada, como projeto gráfico, baseava-me em minha primeira experiência editorial com livros indígenas
(realizada com 66 professores das etnias Krenak, Maxakali, Pataxó e Xacriabá, de Minas Gerais), percebia que, nesse trabalho,
estávamos diante da oportunidade de retomar, com vigor, a proposta explicitada por Oswald de Andrade em seus manifestos da
Poesia Pau-Brasil (1924) e Antropófago (1928). Mais tarde, com o desenvolvimento do projeto Escrevendo a voz:
produção coletiva de literatura em território indígena (PQ: 2003/2007), pude observar que aquela conclusão da tese de
doutorado era pertinente a ponto de se tornar um princípio orientador da experiência literária que, cada vez mais
intensamente, eu tinha a chance de vivenciar com algumas comunidades indígenas. Em 2006, quando realizei um pósdoutoramento no Programa de PósGraduação em Antropologia Social do Museu Nacional (UFRJ), com a supervisão
do professor Eduardo Viveiros de Castro, acoplei a meu projeto de pesquisa do CNPq um outro, Experiência literária
e "estética orgânica" em comunidades indígenas, que me levou a ampliar minhas pesquisas de campo para além das
comunidades indígenas de Minas Gerais e iniciei um processo de cooperação e parcerias eventuais com pesquisadores
do povo Kaxinawá, Yawanawá e Ashaninka, do Acre. Neste ano, iniciamos o Curso de Formação Intercultural de
Educadores Indígenas da Universidade Federal de Minas Gerais, em que fui encarregada de coordenar a área de
Língua, Arte e Literatura, e também passei a orientar as pesquisas de vários grupos de educadores indígenas. Esse
trabalho, imbricado com a coordenação editorial de material didático de autoria indígena para as escolas indígenas de
todas as regiões do Brasil (cooperação estabelecida entre a UFMG e o MEC, cuja execução ficou a cargo do núcleo
Literaterras), foi se constituindo como um valoroso campo de pesquisa e me levou a elaborar um segundo projeto
junto ao CNPq: Literatura indígena: experiência tradutória (Pq 2007-2010). Com a realização deste projeto e já com
uma significativa experiência editorial (produção e publicação de pelo menos 15 livros de autoria indígena) com
diversas etnias, foi se firmando a ideia de que, a cada projeto gráfico trabalhado, ou seja, a cada livro indígena
publicado, o que vivemos sempre é experimental, coletivo, inacabado. Como os mitos, a literatura indígena é
experiência tradutória. Nos últimos anos, especialmente com o desenvolvimento e orientação de pesquisas em torno
de traduções interculturais e experiências literárias entre os indígenas (PQ 2011-2013: Xinã Kayawa, o caminho de
Txaitá Ibã na tradução e na ciência dos cantos Kaxinawá do Rio Jordão, com o objetivo geral de estudar as
possibilidades de tradução de conhecimentos tradicionais de um povo indígena), tive a oportunidade de seguir
atuando em campo em parceria com pesquisadores indígenas. Pretendo retomar os princípios teóricos da comunicação
e da semiótica, que embasaram meus estudos para o doutorado, na análise dos projetos gráficos e das experiências
tradutórias, explicitando os procedimentos criativos, verificando como os autores indígenas atuam de forma
transdisciplinar, abrindo com seus processos escriturais os caminhos da cura. As três experiências acima mencionadas
constituem significativo exemplo de como a saúde da terra, o equilíbrio ecológico, implicam na saúde dos humanos.
Podemos constatar que, para os índios, a prática da literatura, como arte, assim como o ritual, faz parte, no sentido
amplo, de suas medicinas. Essas relações entre a literatura e a medicina, acredito que poderão ser melhor
compreendidas, se pensarmos ambas com as bases da filosofia e da psicanálise.Para que seja possível aprofundar os
estudos da literatura indígena contemporânea, escolhi fazer das aldeias indígenas Kaxinawá, situadas à beira do Rio
Jordão, no Acre, meu campo de pesquisa, em sua parte prática, devido à demanda que representantes desse povo, a
partir das parcerias decorrentes de minha pesquisa anterior junto ao CNPq, têm me colocado. Sobretudo a de fazer
com que O Livro Vivo, recém distribuído nas aldeias, cumpra a sua função plenamente, qual seja a de constituir
material didático para suas escolas.
Data:
24
/ 02
/ 2015
Assinatura:
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Poesia Pau-Brasil (1924) e Antropófago (1928). Mais tarde, com o