entrevista
Conhecer e enfrentar o câncer de mama
Segundo o INCA (Instituto Nacional de Câncer)
neste ano ocorrerão 48 mil novos casos de câncer
de mama no Brasil, e 10 mil mortes pela doença. Ao
mesmo tempo em que é assustador e intrigante,
o dado deve servir de alerta para a difusão de
informações sobre a doença, que vão servir de
alerta para que pacientes procurem ajuda médica
o mais rápido possível. Segundo o dr. Sérgio Bruno
Barbosa, médico ginecologista e mastologista, os
índices de cura, intervalo livre de doença e sobrevida
dependem diretamente da detecção precoce.
Acompanhe a entrevista:
Dr. Jornal - Quais os tipos de câncer de mama?
dr Sérgio Bruno
CRM 53 346
Médico Ginecologista e Mastologista
Dr. Sérgio Bruno - Existem vários tipos de câncer
de mama. Dentre a linhagem dos carcinomas o
mais freqüente é o ductal, seguido do lobular que
pode ser bilateral. Menos freqüente o medular e
o colóide. Existem também, alem dos carcinomas
os tumores de origem mesenquimal, os sarcomas,
extremamente agressivos. Isso em relação ao tipo
histológico, ou seja, o local onde se originou o
tumor na mama. Existem diversos tipos de câncer
de mama quanto a imunohistoquimica do tumor,
onde analisamos os receptores hormonais, c-erb-B2,
p53, Ki67, que compõem o painel prognóstico da
doença. Esse exame permite dizer a agressividade
do tumor e a sua sensibilidade à determinado tipo
de esquema quimioterápico. Ou seja, direciona o
tratamento e dá uma boa pista sobre o prognóstico,
intervalo livre de doença e sobrevida..
Dr. Jornal - Quais os fatores de risco para a doença?
Dr. Sérgio Bruno - O principal fator de risco para
o câncer de mama é a idade; quanto mais velha
a paciente maior a probabilidade de desenvolver
a neoplasia. O tempo de exposição das células da
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mama aos agentes carcinogênicos é a explicação.
Entretanto não podemos deixar de citar o aumento
de incidência de câncer de mama em mulheres cada
vez mais jovens, inclusive abaixo de 30 anos. Dentre
outros fatores podemos citar menarca precoce
e menopausa tardia, nuliparidade, alta ingestão
de gordura animal, obesidade, álcool, ingestão de
estrogênios e antecedentes familiares positivos
de câncer de mama, principalmente parentes de
primeiro grau que tiveram seu diagnóstico da
doença antes dos 50 anos de idade. Mutações no
BRCA1 e BRCA2 também aumentam o risco de
desenvolver a doença.
Dr. Jornal - E os sintomas do câncer de mama?
Dr. Sérgio Bruno - O principal é o aparecimento de
nódulo, que pode primeiro ser sentido pela paciente
ou ser achado de exames de imagem em exames de
rotina em mulheres assintomáticas. Pode ocorrer
também, porém bem menos freqüente, a descarga
papilar aquosa ou sanguinolenta, que sempre deve
ser investigada histológicamente para diferenciar
os papilomas intraductais dos carcinomas. Em
casos avançados pode ocorrer retração da pele ou
do mamilo, vermelhidão e outros sinais flogísticos
na pele, principalmente nos chamados “carcinomas
inflamatórios”, de prognóstico muito ruim.
Dr. Jornal - Como se faz o diagnóstico?
Dr. Sérgio Bruno - Principalmente pela mamografia,
ultra-som e exame clínico. Detectado um nódulo
sólido ele dever ser analisado histológicamente
através da “core-biopsy” ou biópsia de fragmento.
Em casos muito iniciais, onde nem o nódulo existe
ainda, podemos detectar indícios de doença em fase
inicial através da presença de microcalcificaçóes
agrupadas na mamografia digital. A estereotaxia,
marcação pré-operatória ou agulhamento para
localização da lesão se faz necessária nesses casos.
O avanço tecnológico como a mamografia digital e
ultra-som com sondas cada vez mais poderosas está
permitindo um aumento do diagnóstico precoce da
doença.
Dr. Jornal - Quais os tratamento disponíveis
atualmente?
Dr. Sérgio Bruno - O tratamento é multidisciplinar:
cirúrgico, radioterápico, quimioterápico, com
hormonioterapia. Na cirurgia ocorreram avanços
importantes sendo cada vez mais conservadoras.
Quadrantectomias cada vez menores, preservação
da axila com o advento do Linfonodo Sentinela
pela medicina nuclear, biópsias de congelação do
linfonodo e das margens operatórias tem permitido
a nós mastologistas tratar dessa doença com o
mínimo de mutilação e máximo de segurança
oncológica. A radioterapia intra-operatoria é a
última novidade permitindo, em casos especiais,
uma dose única de radioterapia durante o ato
cirúrgico, e sem necessidade de irradiar a pele da
mama, com benefícios estéticos evidentes. A terapia
antiblástica, quimioterapia, com o surgimento de
novas drogas, principalmente a terapia alvo-dirigida
tem contribuído imensamente para uma melhor
taxa de cura, aumento da sobrevida e controle de
metástases que até pouco tempo seria significado
de morte.
Dr. Jornal - A detecção precoce é importante?
Dr. Sérgio Bruno - Sem duvida alguma a detecção
precoce de qualquer câncer é a melhor coisa a
acontecer. Os índices de cura, intervalo livre de
doença e sobrevida dependem diretamente dela.
Quanto mais inicial o câncer maior a chance de vida
dessa paciente, e melhores resultados estéticos pósoperatórios. Dr. Jornal - Existem dados epidemiológicos sobre a
incidência no Brasil?
Dr. Sérgio Bruno - Segundo o INCA nesse ano
ocorrerão 48.000 novos casos de câncer de mama
no Brasil, e 10.000 mortes pela doença.. Dr. Jornal - Dr. Jornal - Outras considerações.
Dr. Sérgio Bruno - Gostaria de salientar algumas
coisas: a importância da auto-palpação, da
mamografia anual após os 40 anos de idade, da
visita freqüente e regular ao ginecologista ou
mastologista. A mulher deve perder o medo do
diagnóstico. Muitas delas retardam por medo. O
câncer tem tratamento quando diagnosticado em
tempo.Estudos no mundo todo tentam relacionar
os fatores emocionais e estados como depressão e
retenção de sentimentos negativos como mágoas
e rancores ao aparecimento de cânceres num
futuro próximo (1-2 anos). A vida moderna, alta
competitividade no mercado de trabalho, onde a
mulher se inseriu nas últimas décadas, parece ter
relação com o aumento do número de casos de
câncer de mama em regiões desenvolvidas.
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