UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL WILSON ANTÔNIO NASCIMENTO DE OLIVEIRA ASSENTAMENTOS DE REFORMA AGRÁRIA EM SÃO LUIZ GONZAGA- RS: Condições de reprodução dos assentados Ijuí 2011 WILSON ANTÔNIO NASCIMENTO DE OLIVEIRA ASSENTAMENTOS DE REFORMA AGRÁRIA EM DE SÃO LUIZ GONZAGA- RS: Condições de reprodução de assentados Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento – nível de Mestrado – da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, linha de pesquisa Desenvolvimento Local Sustentável, como como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Orientador: Prof Dr. David Basso Ijuí 2011 Catalogação na Publicação O48a Oliveira, Wilson Antônio Nascimento de. Assentamento de reforma agrária em São Luiz Gonzaga - RS : condições de reprodução dos assentados / Wilson Antônio Nascimento de Oliveira. – Ijuí, 2011. – 107 f. : il.; 30 cm. Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento. “Orientador: David Basso”. 1. Agricultura. 2. São Luiz Gonzaga. 3. Estrutura fundiária. 4. Assentamentos. 5. Assentamentos Nova Palma. I. Basso, David. II. Título. III. Título: Condições de reprodução dos assentados. CDU: 332.021.8 Aline Morales dos Santos Theobald CRB10/ 1879 iii UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação ASSENTAMENTOS DE REFORMA AGRÁRIA EM SÃO LUIZ GONZAGA – RS: CONDIÇÕES DE REPRODUÇÃO DOS ASSENTADOS elaborada por WILSON ANTONIO NASCIMENTO DE OLIVEIRA como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento Banca Examinadora: Prof. Dr. David Basso (UNIJUÍ): __________________________________________ Profª. Drª. Arisa Araujo da Luz (UERGS): __________________________________ Prof. Dr. Dilson Trennepohl (UNIJUÍ): _____________________________________ Ijuí (RS), 07 de outubro de 2011. [...] a possibilidade de cidadania plena das pessoas depende de soluções a serem buscadas localmente [...]. Trata-se de baixo para cima cujo ponto central é a existência de individualidades fortes e das garantias jurídicas correspondentes. A base geográfica desta construção será o lugar, considerado como espaço de exercício da experiência plena (SANTOS, 2000, p. 113-114). AGRADECIMENTOS A trajetória desta pesquisa abriu caminhos, estabeleceu lugares e colocou pessoas em minha caminhada que me incentivaram a voar para além das alturas esboçadas, alcançando o impossível do horizonte. Entre tantas que me auxiliaram na construção desta dissertação, privilegio algumas para, de forma especial, agradecer: - Ao professor, coordenador do Mestrado, meu orientador, pela orientação segura, ímpar, competente. Pela compreensão, sem precedentes, pela amizade, sem cobranças, em iluminar o meu caminho, e auxiliar-me , quando das inquietações apresentadas, a contornar obstáculos, a vencer barreiras; - Aos/às professores/as integrantes da comissão examinadora deste trabalho, que disponibilizam seu profissionalismo competente, seus momentos preciosos e seu conhecimento, na leitura e exame desta pesquisa; - Ao corpo docente do curso pela dedicação dispensada; - À minha família, pelo companheirismo, amor e compreensão, nos momentos difíceis. . RESUMO A finalidade principal desse estudo, dá-se ao fato de que o município de São Luiz Gonzaga, RS, até o momento, não possui um instrumento de cunho científico capaz de fornecer-lhe subsídios eficientes com vistas às tomadas de decisões que possibilitem a implementação de um processo de desenvolvimento includente e sustentável. No cenário socioeconômico do município é de fácil percepção a polarização; de um lado um pequeno contingente de produtores capazes de acumular bens e capital e, no outro extremo, um grande número de pequenos produtores, que dado as suas fragilidades de rendas são impedidos de obter acesso a bens de consumo, meios de produção e serviços, etc. Em decorrência desse empobrecimento surge a perda de competitividade por parte dos pequenos agricultores, que, inevitavelmente, acaba por provocar o êxodo rural, culminando no aumento das mazelas sociais, no setor urbano. Em face dessa situação contundente é imperioso a realização de uma análise da evolução da agricultura de São Luiz Gonzaga para que seja possível formular políticas públicas adequadas que contemplem, principalmente, os pequenos agricultores, facilitando o acesso aos recursos necessários para que estes consigam o nível de reprodução social que lhes possibilite uma vida digna. Particularmente, no decurso do processo de graduação e especialização, a temática do desenvolvimento sempre me inquietou a ponto de conduzir meus trabalhos finais para essa área. Na condição de estudioso do desenvolvimento, vejo nesta empreitada a oportunidade de agregar e consolidar conhecimentos, que com certeza, solidificarão a minha formação de acadêmico da área. Ao mesmo tempo em que considero útil para os meus objetivos particulares, também, pretendo contribuir com outros pesquisadores, que certamente, trilharão o mesmo caminho, aperfeiçoando-o no afã de encontrar soluções para os dilemas que afligem essa tão desassistida classe de pequenos produtores familiares. Para tal, proponho produzir um conhecimento científico prévio da realidade do município que permita encontrar condições para que se formulem futuras ações com base numa compreensão fiel do desenvolvimento da localidade. E isso se torna possível com o emprego da metodologia: Análise Diagnóstico de Situações Agrárias. Portanto, os pequenos agricultores familiares, especialmente os assentados, precisam conscientizar-se da necessidade de agregar aos seus saberes, aspectos gerenciais, ambientais, sociais e tecnológicos, para produzirem melhor e auferirem maiores lucros. Para isto, deverão usar tecnologias de baixo custo e com o menor grau de dependência do setor externo, em especial dos produtos químicos, que agridem à saúde das pessoas e o meio ambiente. Palavras-chave: Agricultura. São Luiz Assentamentos. Assentamento Nova Palma. Gonzaga. Estrutura Fundiária. ABSTRACT The main purpose of this study relates to the fact that the city of Sao Luiz Gonzaga, RS, so far, does not have an instrument of a scientific nature able to provide you with effective subsidies with a view to making decisions that enable the implementation of a process of inclusive and sustainable development. Socio-economic scenario in the city is easy to see the polarization, on the one hand a small contingent of producers capable of accumulating goods and capital and the other end a large number of small producers, that given the weakness of their incomes are barred from obtaining access to consumer goods, means of production and services, etc.. Due to this depletion arises by loss of competitiveness of small farmers who inevitably ends up provoking the exodus that culminates in the increase of social ills in the urban sector. Faced with this overwhelming situation it is imperative to carry out an analysis of the evolution of agriculture in São Luiz Gonzaga to be able to formulate appropriate policies that would, especially small farmers, facilitating access to resources necessary for them to get what level of social reproduction that allows them a dignified life. Particularly, during the graduation process and expertise, the theme of development has always troubled me about to drive my final papers for that area. As a student of the development I see in this undertaking the opportunity to aggregate and consolidate knowledge, which certainly solidify my training as an academic area. While I find useful for my particular goals, I also intend to contribute with other researchers, who certainly tread the same path, perfecting it in the rush to find solutions to the dilemmas that plague this class as unattended small family producers. In which we propose to produce a prior scientific knowledge of reality that allows the city to find conditions for the formulation of future actions based on a true understanding of the development of the locality, the methodology adopted Diagnostic Analysis Agrarian Situation. We conclude that the small family farmers, especially the settlers, have become aware of the need to add to their knowledge, managerial aspects, environmental, social and technological par with it to produce better and earn higher profits. But for this you must use low-cost technologies and the lowest degree of dependence on the external sector, especially chemicals that harm human health and the environment. Key-words: Agriculture. São Luiz Gonzaga. Land Ownership Structure. Settlements. New Settlement Palma LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: HIDROGRAFIA DO MUNICÍPIO DE SÃO LUIZ GONZAGA/RS......... 35 FIGURA 2. EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO TOTAL, URBANA E RURAL DO MUNICÍPIO DE SÃO LUIZ GONZAGA-RS – 1890- 2007. .................................... 39 FIGURA 3: ÁREA DE PASTAGEM NATIVA EM REGENERAÇÃO, SUPERPASTEJADA, EM CAMPO ÚMIDO PA PALMA .................................................... 61 FIGURA 4: VEGETAÇÃO CAMPESTRE EM DRENAGEM DO PA PALMA ......... 61 FIGURA 5: FRAGMENTO FLORESTAL EM ESTÁGIO AVANÇADO DE SUCESSÃO EM TOPO DE COXILHA DO PA PALMA, MUNICÍPIO DE SÃO LUIZ GONZAGA. ........................................................................................................... 62 LISTA DE TABELAS TABELA: 1 POPULAÇÃO URBANA, RURAL E TOTAL DO MUNICÍPIO DE SÃO LUIZ GONZAGA – 1890-2007............................................................................... 37 TABELA 2. NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS E ÁREA POR ESTRATO DE ÁREA - SÃO LUIZ GONZAGA/RS-2006............................... 40 SUMÁRIO RESUMO................................................................................................................VI ABSTRACT ...........................................................................................................VII LISTA DE FIGURAS ............................................................................................VIII LISTA DE TABELAS ..............................................................................................IX INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12 1 FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS ............................................. 16 1.1 O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO MISSIONEIRO E A FORMAÇÃO DA AGRICULTURA DE SÃO LUIZ GONZAGA ............................... 16 1.2 A HISTÓRIA DOS TRABALHADORES RURAIS E SUAS CONQUISTAS...... 28 1.2.1 A SAGA DOS ASSENTADOS...................................................................... 30 1.2.2 ASSENTAMENTOS DE REFORMA AGRÁRIA ........................................... 31 1.2.3 O CONTEXTO POLÍTICO-INSTITUCIONAL................................................ 31 2 EVOLUÇÃO RECENTE DA AGRICULTURA DE SÃO LUIZ GONZAGA........... 34 2.1 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO......................................................... 34 2.2 CARACTERÍSTICAS GEOGRÁFICAS DA REGIÃO DE ESTUDO................. 34 2.3 QUESTÕES DEMOGRÁFICAS ...................................................................... 37 2.4 ESTRUTURA FUNDIÁRIA .............................................................................. 40 2.5 UMA AGRICULTURA MARCADA PELA PRESENÇA DE DIFERENTES TIPOS DE AGRICULTORES E DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO ........................ 41 2.6 A INSERÇÃO DE ASSENTAMENTOS DE REFORMA AGRÁRIA NA AGRICULTURA EM SÃO LUIZ GONZAGA .......................................................... 44 3 AS CONDIÇÕES DE REPRODUÇÃO DE FAMÍLIAS DO ASSENTAMENTO NOVA PALMA DE SÃO LUIZ GONZAGA ............................................................. 57 3.1 CARACTERIZAÇÃO DO ASSENTAMENTO NOVA PALMA .......................... 57 xi 3.2 O PLANO DE DESENVOLVIMENTO PARA O ASSENTAMENTO NOVA PALMA .................................................................................................................. 58 3.3 O AGROECOSSISTEMA NO ASSENTAMENTO NOVA PALMA ................... 59 3.4 O CONTEXTO SOCIAL PRODUTIVO NO ASSENTAMENTO NOVA PALMA63 3.5 ANÁLISE TÉCNICA E ECONÔMICA DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO NO ASSENTAMENTO NOVA PALMA DE SÃO LUIZ GONZAGA .............................. 65 3.5.1 TIPOS DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO NO ASSENTAMENTO NOVA PALMA .................................................................................................................. 66 A) TIPO LEITE/GRÃOS/FEIRA/SUBSISTÊNCIA.................................................. 69 3.6 FATORES DECISIVOS PARA O ATUAL ESTADO DO ASSENTAMENTO NOVA PALMA ....................................................................................................... 78 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 85 REFERÊNCIAS..................................................................................................... 88 ANEXOS ............................................................................................................... 90 ANEXO 1: QUESTIONÁRIOS ............................................................................... 91 ANEXO 2: CÁLCULO ECONÔMICO .................................................................... 94 INTRODUÇÃO Por não possuir as condições geográficas propícias para os interesses mercantis da época, pois não possuía ouro e nem prata e, o seu clima temperado não ser favorável às culturas tropicais e a falta de portos seguros para o atraque de navios, fizeram com que o extremo sul do Brasil passasse, praticamente, desocupado, durante os primeiros séculos da colonização portuguesa. Assim, coube aos religiosos da Companhia de Jesus, sob a bandeira espanhola, a fundação de várias reduções indígenas, no início do Século XVII, principalmente, na parte ocidental do país. Incumbiu ainda aos jesuítas, a introdução da criação de gado bovino. Esta atividade econômica viria atrair um contingente humano considerável, de outras regiões do Brasil, sequiosos por vantagens lucrativas advindas do abate do gado, que grassava livre pelos campos gaúchos, em função da retirada dos jesuítas e os índios catequizados. Este fenômeno teve grande influência na formação agrária da província. Os jesuítas, suas reduções e o povo indígena catequizado foram derrotados por uma ação conjunta dos exércitos espanhol e português, na batalha de 1756. Desta forma, criou condições para a ocupação luso-brasileira do território missioneiro, o qual veio a transformar seus imensos campos em estâncias privadas para a criação de gado. A ocupação das terras gaúchas possui um vínculo estreito com os militares encarregados de defender esta região das investidas espanholas, em favor da coroa portuguesa. As autoridades militares incentivavam a instalação de estâncias e lavouras para oficias e soldados das fortificações com a finalidade de povoar a área e garanti-la ao reino português. Na região missioneira, a ocupação territorial deu-se de forma idêntica às demais regiões gaúchas. As terras eram vendidas pelos administradores do território 13 que se intitulavam agentes legais para a efetivação de tais negócios. Os chefes militares atinham o poder e as suas indicações eram decisivas para a concessão de terras a preços irrisórios para seus amigos e apadrinhados. Nessas condições os comandantes militares detinham, de fato, o controle sobre o processo de apropriações de terras. O município de São Luís Gonzaga foi fundado pelo Padre Miguel Fernandez e apresenta quatro referenciais épicos que delimitam as suas fases de desenvolvimento. O primeiro refere-se à construção e a organização do povoado que se estende desde a data da sua fundação, em 1687 até a primeira década do Século XVIII. O segundo, o apogeu, vai até 1750, fase de desenvolvimento econômico, social, cultural e político. O terceiro, a decadência, é a fase da Guerra Guaranítica, prolongando-se de 1750 até o início do Século XX. O quarto é o período da reconstrução, iniciado durante a década de 1910-1920. O sistema de produção rural em grandes extensões, em São Luís Gonzaga, é fruto das facilidades de acesso a terra, encontradas pelos militares, seus apadrinhados e outras pessoas de posses ou influência política. Desse processo resultou, a partir de 1801, a configuração de uma classe de proprietários; os latifundiários, que desde então, dominam o cenário sócio-econômico-político do território. Por volta de 1835, em São Luiz Gonzaga, a ocupação das terras já havia acontecido. Nos campos nativos, áreas privilegiadas, em condições de solo e clima, para a atividade pastoril foram instaladas estâncias de grandes extensões, permeadas por médias e pequenas propriedades. Mas predominavam as grandes propriedades, configurando-se, assim, o latifúndio pastoril com todo o poder a ele emanado. A partir da década de 1950 houve um forte incentivo à aplicação de novas técnicas de produção agrícola, introduzidas pelos colonos alemães, italianos e poloneses, que se instalaram no território. O processo de modernização da agricultura brasileira provocou a partir da década de 1960, uma profunda mudança no sistema produtivo do município. Ele que era voltado à policultura e à subsistência, viu-se impelido por forças do mercado, a optar pela monocultura do trigo e, posteriormente, também, a da soja. 14 Em 1984, como fruto de vários movimentos anteriores e como reflexo da distribuição desigual da terra no meio rural, da falta de políticas públicas que solucionassem os problemas do rendimento da produção agrícola, das deficiências da estrutura agrária e, sobretudo, das carências da população trabalhadora do campo, surge oficialmente o movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Em São Luiz Gonzaga, desde 1999, após vários anos de luta do MST foram criados oito assentamentos de reforma agrária. Foram seis criados pelo governo federal e dois pelo governo estadual, totalizando 164 famílias assentadas. A sua inserção, a sua reprodução social e a sua interação com a dinâmica econômica deste ambiente, predominantemente, latifundiário é o objeto de estudo deste trabalho, circunscrito nos 1298 Km² de superfície restantes ao município. Para tanto, é necessário frisar que o cenário reinante é um caso de relação complexa, onde a intolerância é um fato velado que nada contribui para que haja uma coexistência harmônica para a efetiva inserção, dos assentados. Não obstante, somam-se a isto o baixo nível de capital social existente, entre os assentados, e a falta de políticas públicas adequadas para solucionar a gama de problemas existentes. A atitude comportamental de rejeição da sociedade são-luisense não permite observar, de maneira judiciosa, os aspectos positivos gerados pelas ações dos pequenos agricultores, através da produção de alimentos, manutenção das pessoas no meio rural, etc. A apologia em relação à agricultura de grandes extensões é o fator que muito contribui para essa situação. Em função do trabalho proposto: Assentamentos de Reforma Agrária em São Luís Gonzaga – RS: condições de reprodução dos assentados, no qual se propõe produzir um conhecimento científico prévio da realidade do município que permita fornecer condições para que se formulem políticas públicas com base numa compreensão fiel do desenvolvimento da localidade. Para isso, adotou-se a metodologia “ Análise Diagnóstico de Situações Agrárias”. A análise - diagnóstico das realidades agrárias tem por finalidade precípua identificar e classificar hierarquicamente os elementos de todas as ordens (agroecológicos, técnicos, socioeconômicos...) que mais influenciam a evolução dos sistemas de produção e compreender como eles interferem efetivamente nas transformações da agricultura. 15 Portanto, a análise – diagnóstico, em uma abordagem democrática, deve facilitar a compreensão das situações agrárias, geralmente complexas, nas quais agem fenômenos de ordem ecológica, técnica, socioeconômica, cultural e política. O importante é compreender as múltiplas interações que incessantemente se manifestam entre esses fenômenos. O conceito de sistema agrário, nesse caso, reveste-se de extrema valia ao identificar e caracterizar, sistematicamente, as relações existentes entre a evolução das relações sociais, a dinâmica das técnicas e as sucessivas transformações do ecossistema. O importante, na análise – diagnóstico, neste caso, é poder constatar as coerências e contradições que surgem na evolução das variáveis ecológicas, técnicas e socioeconômicas, juntamente, com as mudanças políticas e culturais. Para tanto, valemo-nos de uma pesquisa bibliográfica, entrevistas com pessoas diretamente envolvidas, isto é, integrantes dos assentamentos, visitas em loco, na região de estudo. Assim como, várias pessoas da sociedade contribuíram com suas opiniões calcadas em seus conhecimentos técnicos e profissionais para que esse trabalho chegasse a bom termo. 16 1 FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS Duas questões precisam ser abordadas inicialmente para embasar a discussão do objeto de estudo proposto nesta pesquisa. A primeira está relacionada com o processo de ocupação da terra na região das Missões do Rio Grande do Sul, marcado pela concentração fundiária, e a influência desse processo na formação da agricultura do então município de São Luiz Gonzaga. A segunda questão diz respeito aos movimentos contemporâneos que se orientam pela demanda de desconcentração da terra e as tentativas de assentamentos de reforma agrária em ambientes de forte domínio da grande propriedade territorial. 1.1 O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO MISSIONEIRO E A FORMAÇÃO DA AGRICULTURA DE SÃO LUIZ GONZAGA Valendo-se da análise histórica, pode-se evidenciar a sequência dos acontecimentos que levam à compreensão da realidade atual. Assim como, permitiram identificar as relações de causas e efeitos que determinam as transformações da realidade agrária, quer sejam estas de ordem ecológica, técnica, socioeconômica, cultural e política, num determinado espaço de tempo e local. Com o auxílio desta metodologia torna-se possível identificar as raízes da formação dos diversos sistemas produtivos e os tipos de agricultores instalados no município de São Luís Gonzaga. De acordo com Mazoyer e Roudart (2001, p. 21), no decurso da História, para a sua sobrevivência, o homem precisou encontrar, no meio em que vive os recursos necessários para sua existência material. Entre os recursos essenciais pode-se citar a água, os minerais, espaço, habitat, alimentos, etc. Estes elementos, contudo, são via de regra limitados. Em decorrência disso, o homem se vê obrigado a transformar o meio em que vive para obter os recursos disponíveis para seu consumo. Para a obtenção dos meios indispensáveis para sua existência, através dos tempos, o homem valeu-se dos conhecimentos legados pelos seus antepassados, organizando-os e ou aperfeiçoando-os de forma progressiva. Desse processo resultaram os sistemas produtivos, compostos de força de trabalho, saber e saber 17 fazer, instrumentos e equipamentos produtivos, disponíveis, capazes de desenvolver a exploração da fertilidade do ecossistema. Com esta perspectiva focada na dinâmica de transformação da agricultura pretende-se, nesta parte inicial do estudo, analisar os principais aspectos socioeconômicos que condicionaram o desenvolvimento do setor agrícola no município de São Luís Gonzaga. Para tanto, necessário se faz entender que o processo em estudo não pode ser analisado de forma estanque. A dinâmica da agricultura da região delimitada para o presente estudo possui, intrinsecamente, implicações com a forma de exploração do agroecossistema, com a forma de acesso à terra e ao crédito, com o emprego de técnicas agrícolas, com as relações socioeconômicas que refletem na produção e produtividade no âmbito das unidades agropecuárias. Assim como determinam resultados, estratégias e modelos de desenvolvimento empregados pelos agricultores. 1.1.1 A Formação Agrária de São Luiz Gonzaga Coube aos religiosos da Companhia de Jesus, sob a bandeira espanhola, a fundação de várias reduções indígenas no inicio do Século XVII, principalmente, na parte ocidental do país. Coube ainda aos jesuítas, a partir de 1629, a introdução da criação de gado bovino, atividade econômica que viria atrair um contingente humano considerável, de outras regiões do Brasil, sequiosos por vantagens lucrativas advindas do abate do gado que grassava livre pelos campos gaúchos. Conforme Quevedo (1977, p. 21), em 1640, com o fim da União das Coroas Ibéricas, o monarca espanhol permitiu que os indígenas reduzidos usassem armas de fogo para deter o avanço português, na região do Rio da Prata. Disso resultou a batalha de M’Bororé, entre 1640/1641 (pequeno afluente do Rio Uruguai), onde os índios derrotaram, militarmente, os bandeirantes, os quais retornaram para São Vicente. Entretanto, segundo o autor, os bandeirantes acabaram por triunfar, tendo os índios e jesuítas abandonado a região, migrando para Oeste do Rio Uruguai e deixando centenas de milhares de cabeças de gado à soltas nas vacarias do Mar. Este fato teve grande influência na formação agrária da província. Os jesuítas, suas reduções e o povo indígena catequizado foram derrotados na batalha de 1756 18 por uma ação conjunta dos exércitos da Espanha e de Portugal. Criando, assim, condições para a ocupação luso-brasileira do território missioneiro, o qual veio a transformar seus imensos campos em estâncias privadas para a criação de gado (ZARTH, 2002, p. 50). A Guerra Guaranítica foi à revolta dos missioneiros guaranis contra as imposições do tratado de Madrid, que os obrigava a abandonar suas terras, moradias, plantações e rebanhos. O acordo de 1750 favorecia as monarquias ibéricas, defendendo seus interesses na região, mas prejudicava gravemente os indígenas. Toda a vida econômica e social que as missões haviam organizado nos dois lados do Rio Uruguai era ameaçada pela divisão de terras entre espanhóis e portugueses, na bacia do prata (QUEVEDO, 1977, p.26). Os guaranis não lutavam contra a monarquia. Reagiam à perda de suas terras que, segundo eles, lhes haviam sido dadas por Deus. “Esta terra tem dono”, diziam eles. [...] Essa guerra representou um dos raros momentos de reação indígena organizada contra as imposições da coroa e dos colonizadores luso-espanhóis. Os índios reagiram conscientemente às pressões e ameaças, planejaram seus movimentos e definiram as estratégias mais convenientes para defender seu espaço e seus direitos. Não queriam se transformar numa espécie de “sem terra” do Século XVIII. (QUEVEDO, 1977, p. 26) A ocupação territorial, na região missioneira, se deu de forma idêntica às demais regiões gaúchas. As terras eram vendidas pelos administradores do território que se intitulavam agentes legais para a efetivação de tais negócios, mas o poder dos chefes militares era de tal ordem que as suas indicações eram decisivas para a concessão de terras a preços irrisórios para seus amigos e apadrinhados. Nessas condições os comandantes militares detinham, de fato, o controle sobre o processo de apropriação de terras. A ocupação do território são-luisense também se deu nessas condições. 1.1.2 O Processo de Ocupação das Terras em São Luiz Gonzaga Entre 1801 e 1835, houve a ocupação das terras em São Luiz Gonzaga. Nos campos nativos, áreas privilegiadas, em condições de solo e clima, para a atividade 19 pastoril, foram instaladas estâncias de grandes extensões, permeadas por médias e pequenas propriedades, mas com o predomínio de enormes fazendas, configurando-se, assim, o latifúndio pastoril com todo o poder dele emanado. Conforme assinalado por Zarth (2002, p. 72), Se de um lado o governo era favorável à idéia de colonização, de outro os latifundiários impunham suas restrições: colonização sim, mas sem mexer nas estâncias pastoris. No final deste embate prevaleceram os interesses dos grandes proprietários. A Lei de Terras, de 18 de setembro de 1850, é o fato histórico que demarca a criação de um instrumento que viera para impedir ou dificultar o acesso a terra, por parte da população pobre, com destaque dentre eles para os nacionais, índios, negros e os imigrantes. Essa também era uma forma de obrigar os homens sem-terra a trabalhar como empregados dos grandes proprietários. A formação agrária na região do então município de São Luiz Gonzaga, segundo registra a historiografia, pode ser demarcada em quatro momentos. Nascimento, por exemplo, afirma, que para melhor se compreender o processo de formação agrária dessa região, [...] é necessário levar em consideração os quatro momentos referenciais épicos que delimitam as suas fases de desenvolvimento: O primeiro referese ao período de construção e organização do povoado que se estende desde a data da sua fundação em 1687 até a primeira década do Século XVIII. O segundo período vai de 1710 até 1750, sendo considerado como a fase do apogeu em termos de desenvolvimento econômico, social, cultural e político. O terceiro momento prolonga-se de 1750 até o início do século 20, sendo considerado um período de decadência, marcado pela Guerra Guaranítica. O quarto é o período da reconstrução, que tem início entre as décadas de 1910 e 1920 e se estende até os dias atuais (NASCIMENTO apud TOMASI; ARAÚJO, 2004, p. 35). Registram-se, na sequência, os principais fatos e acontecimentos que demarcam cada um desses quatro momentos ou fases da dinâmica agrária na região de estudo. a) O 1º Período: 1687 – 1710 Ao fundarem as reduções os jesuítas buscaram, em primeiro lugar, obedecer a um plano geral pré-estabelecido, usado em todas as reduções, ou seja, uma área de campo para construir igrejas, praças e casas dos índios, em lugares altos e 20 próximos aos rios, onde pudessem cultivar as plantações e criar gado. Os missionários apresentaram aos índios a necessidade de cultivar parte dos campos para maior diversidade de alimentos como, por exemplo: milho, trigo, batata, feijão, abóbora, melancia, e a mandioca. (TOMASI; ARAÚJO, 2004, p.48) Foi implantado pelos religiosos e os índios um sistema de trabalho e produção misto (tupambaé ou comunitário e amambaé ou familiar). No sistema comunitário, a produção e os lucros eram em benefício da comunidade e, no familiar, os indígenas deviam trabalhar seus próprios lotes para cultivar o necessário para a sua sobrevivência. (Idem, p. 51) b) O 2º Período: 1710 – 1750 O auge do desenvolvimento de são Luiz Gonzaga ocorreu nas primeiras décadas do século XVIII. O apogeu da redução caracterizou-se pela valorização do ser humano em todos os sentidos. Neste período houve um desenvolvimento artístico, cultural, religioso, político, etc. Havia uma grande preocupação com o cultivo de alimentos que garantissem a sobrevivência das pessoas. Os jesuítas deram a São Luiz Gonzaga um suporte econômico, baseado na agricultura e pecuária (NASCIMENTO, 1987). c) O 3º Período: 1750 – 1910 Em 1756 as forças espanholas e portuguesas invadiram e aniquilaram as reduções jesuíticas. São Luiz Gonzaga passou, muito rapidamente, do estágio de comunidade promissora e pujante ao estado de abandono. A população retrogradou, os templos e as moradias foram se desmoronando e as lavouras aos poucos desaparecendo e os rebanhos diminuindo (TOMASI; ARAÚJO, 2004, p. 58). Em 1826, Frutuoso Rivera invadiu a redução de São Luiz Gonzaga, destruindo parte do templo, arrebanhando a população e o gado das estâncias, levando esse povoamento a um completo definhamento material e social. Após essa invasão, algumas famílias de índios voltaram; poucas, no entanto, ocuparam as casas do povoado. A maioria preferiu os ranchos de palhas nos subúrbios, ficando as demais casas à disposição de algumas famílias brancas (Idem, p.62). 21 A guerra civil de 1835 provocou o desaparecimento das poucas casas de negócio a varejo existente no povoado e a maioria da população branca obrigou-se a abandonar suas estâncias e chácaras. Quando esse núcleo estava prestes a desaparecer, em consequência da guerra civil, vieram algumas famílias, oriundas de São Borja, entre as quais a do juiz de direito da comarca, Agostinho de Souza Loureiro, a do advogado Venâncio José Pereira; o primeiro adquiriu mais de duas sesmarias de campos e o segundo uma. Além dessas, outras famílias passaram a ocupar campos de menores dimensões, de preferência nas áreas de terras próximas aos rios que banham São Luiz Gonzaga (Idem, p. 63). A lei provincial de 3 de novembro de 1854 transferiu o território de São Luiz Gonzaga do município de São Borja para o de Cruz Alta. A 27 de novembro de 1857, o governo fez novamente voltar para o município de São Borja, elevando-o à categoria de freguesia por lei provincial de 8 de janeiro de 1859 (COSTA, 1922, p. 300). O povoado foi elevado à categoria de vila, pela Lei Provincial de 3 de junho de 1880, acrescentando ao território da vila a área entre as margens direita do Rio Comandai e esquerda do Rio Ijuí. Aos poucos, outras pessoas foram adquirindo terras nas proximidades da vila e, ao cultivá-las, o cenário foi se modificando (TOMASI; ARAÚJO, 2004, p.64). São Luiz Gonzaga foi elevado à categoria de cidade em 12 de março de 1902, desmembrando-se do município de São Borja (COSTA, 1922, p. 300). Conforme Zarth (2002, p. 50), após a ação conjunta dos exércitos espanhol e português, que derrotaram os índios missioneiros na batalha de 1756, o território missioneiro foi liberado para a futura ocupação luso - brasileira que transformou seus imensos campos em estâncias de gado privadas. Como já fora mencionado, coube aos jesuítas a introdução do gado bovino, produto que iria atrair milhares de aventureiros, das províncias ao norte, e transformar os militares em prósperos estancieiros. O gado foi à riqueza que viabilizou economicamente a ocupação européia, a partir do século XVIII, e deu origem a uma poderosa classe de latifundiários dedicados à pecuária. 22 As críticas oficiais contra o latifúndio, segundo Zarth (2002, p. 67), diziam respeito aos seguintes aspectos: o sistema não satisfazia aos interesses estratégicos portugueses e brasileiros de ocupação, frente aos debates com os espanhóis. O sul do Brasil era a região mais vulnerável da Colônia e era preciso garantir e avançar suas fronteiras em detrimento dos países visinhos. A alta concentração da estrutura agrária e a baixa densidade demográfica eram as preocupações constantes de algumas autoridades portuguesas, que consideravam o latifúndio um sistema inadequado. O Gado desenvolveu-se com facilidade, no sul, principalmente em função das características favoráveis do território, coberto por vastas campinas com pastagens naturais. [...] este fenômeno teve grande influência na formação da estrutura agrária da província. [...] Naturalmente, o gado espalhou-se pelas áreas de campo nativo, nas quais seriam estabelecidas as primeiras fazendas pastoris (ZARTH, 2002, p. 51). Para aquelas autoridades, então, a pobreza da região e ausência de população obstavam qualquer resultado positivo em termos econômicos e militares. Em 1849, o Presidente da Província, Francisco José de Souza Soares de Andréa, fez duras críticas ao latifúndio, não se restringindo somente a aspectos militares, conforme se pode observar na passagem transcrita por Zarth (2002, p. 68): [...] um dos obstáculos que se a posto nesta província ao desenvolvimento da agricultura é a existência de grandes fazendas, ou antes, de grandes desertos, cujos donos cuidando só e mal da criação tem o direito de repelir de seus campos as famílias desvalidas que não têm aonde se conservar em pé. Ainda segundo Zarth (2002), a questão do latifúndio se colocava nos seguintes termos: agricultura versus pecuária; pequena propriedade versus latifúndio. Observava-se que o atraso da agricultura se devia ao fato de que havia muitas famílias pobres vagando de lugar em lugar segundo o favor e o capricho dos proprietários de terras. Em 1846, o Presidente da Província, conde de Caxias, denunciava que, por ser escassa a agricultura da província, não era de se admirar o “alto preço dos gêneros de primeira necessidade, nem a penúria deles”. Sugeria a instalação de 23 colônias para fazer “desaparecer este mal”. Seu sucessor, o Presidente Francisco J. S. S. Andréa, repetiria, em 1849, o mesmo discurso, queixando-se da agricultura e apontando o latifúndio como causa do problema, ao se referir que “Ha léguas não interrompidas de terrenos em que não existe uma árvore plantada e em que nenhuma semente tem sido lançada a terra”. O acesso à propriedade da terra é um elemento central para o estudo da história agrária e para a transição ao capitalismo. As formas e os tipos de produção e as relações de trabalho estão estreitamente ligadas às condições de acesso a terra No Brasil linha de raciocínio semelhante foi usada por José de Souza Martins em estudo sobre a escravidão e posse da terra. O seu pensamento, segundo Zarth (2002 p.46), pode ser ilustrado nesta fórmula: “num regime de terras livres o trabalho tinha que ser cativo; num regime de trabalho livre, a terra tinha que ser cativa”. O cativeiro da terra, na expressão de José de Souza Martins, tem como marco a Lei de Terras de 1850. Esta acabou com o sistema de posse, através do qual o acesso à terra era muito fácil em termos jurídicos. A lei de terras, como instrumento de controle da propriedade da terra, através da qual se pretendia impedir o livre acesso ao solo pelos colonos imigrantes e agricultores nacionais, é uma questão colocada com unanimidade na literatura brasileira que trata do tema. Pois o espírito do controle da terra, imposto pela Lei de 1850, permitiu que as elites do sul determinassem a política de ocupação de terras florestais, inclusive excluindo lavradores nacionais pobres do acesso à propriedade (ZARTH, 2002, p. 47). Segundo informações da Câmara de Cruz Alta, datadas de 16 de Janeiro de 1850, transcritas por Zarth (2002) informam com detalhes como foram apropriados os campos da região que passaram a ser habitados por portugueses depois da conquista das missões em 1801, sendo as terras vendidas pelos administradores do território que se julgavam com direitos de fazer esse tipo de negócio. Esse expediente, de compra, era mais fácil do que requerer as terras sob forma de sesmarias, conforme a lei vigente, processo que exigia demorada tramitação e que, no final dependia dos mesmos chefes militares que vendiam as terras por preços bastante baixos. Fica claro aqui o procedimento ilícito dos chefes militares, bem como o poder que detinham. Mais tarde informa ainda o documento, o comandante da Fronteira foi autorizado a conceder terrenos gratuitamente a quem os quisessem cultivar, sendo a concessão feita por indicação dos comandantes distritais. 24 É fácil imaginar que os militares não tivessem muitas dificuldades em apropriar-se de grandes extensões de campo. Certamente, o tamanho da propriedade estava ligado ao grau militar e à influência do beneficiado. (ZARTH, 2002, p. 60). O sistema de colonização só se efetivou após ter-se a certeza de que isso não significaria uma ameaça à inviolabilidade dos sistemas pastoris de grandes extensões. Na região missioneira e, especificamente, em São Luiz Gonzaga, não foi diferente, assim como não foram diferentes todos os desdobramentos que envolvem o sistema agrário nas regiões de campo até nossos dias. Como relata Costa (1922.p. 300), Na última década do Século XIX, o Município era dividido em sete distritos administrativos: 1º - Sede; 2º São Nicolau; 3º Igrejinha; 4º Porto Xavier; 5º Guarani; 6º Poço Preto; 7º Cerro Azul. Em 1890, São Luiz Gonzaga possuía uma população 13900 habitantes e, ocupava uma superfície de 5600 Km². A população era constituída de elementos nacionais, muitos alemães, russos, polacos e italianos. Em 1891, foi fundada a Colônia de Guarani e, em 1902, a colônia de Cerro Azul (atual Cerro largo). Neste período, houve um grande incremento na produção agrícola e, também, um acentuado aumento populacional, principalmente, nestas duas colônias. Os principais produtos eram: o milho, feijão, cana de açúcar, centeio, alfafa, trigo, cevada, vinho, arroz, ervilha, fava, suínos, aves, etc., configurando a pujança da atividade produtiva, desenvolvida em sistemas de produção com base na pequena propriedade (COSTA, 1922, p. 307/308). Em 1907, foi instalado pelo Dr. Emílio Candia, médico operador, e seu assistente Dr. Hugo Parentelli, clínico geral, a Casa de Saúde, estabelecimento dotado de completo arsenal cirúrgico e gabinete de análises e Raio X. (COSTA, 1922, p. 305) d) O 4º Período: 1910 – 2000 Ainda no início do Século XX, 1910/1911, foi criado e instalado o Aprendizado Agrícola, uma escola com características diferenciadas para a época, pois além dos ensinamentos elementares, tinha complementações de práticas agrícolas. Havia uma preocupação constante no sentido de inserir a região com o restante do país. 25 Em 1905, a cidade teve um impulso expressivo em termos de desenvolvimento com a chegada do Regimento Dragões do Rio Grande, principalmente, na zona urbana A situação de estagnação em que se encontrava São Luiz Gonzaga, no início do Século XX, fez com que algumas lideranças ligadas ao município tomassem a iniciativa no sentido de buscar recursos para promover o progresso da comunidade. Entre esses recursos ou investimentos merecem destaque a estrada de ferro, a instalação do telégrafo, a construção da ponte sobre o Rio Piratini, ligando São Luiz Gonzaga ao Município de São Borja. Como destacam Tomasi e Araújo, São Luiz Gonzaga experimentava um progresso pouco expressivo, deparando-se com sucessivas crises de ordem política e econômica. A chegada de descendentes alemães, italianos e poloneses, oriundos das “colônias velhas” e de algumas das “colônias novas”, a partir de meados do Século XX, incentivou novas técnicas de cultivo agrícola. (2004, p. 75). Por volta de 1915, São Luiz Gonzaga mergulhou numa profunda crise econômica e, somente, depois de algumas décadas retomou o caminho do desenvolvimento. Em 1920, o município não possuía luz elétrica, mas já contava com os serviços de correios e telégrafos, um sanatório atendido por dois médicos e uma agência do Banco da Província do Estado do Rio Grande do Sul (TOMASI; ARAÚJO, 2004, p. 82). Nascimento, por sua vez, observa que no mesmo período: Já funcionava o Colégio Elementar e algumas escolas particulares no atendimento de mais de mil alunos. Quanto à economia não possuía nenhuma indústria de vulto e continuava priorizando a atividade primária. A agricultura, graças ao Aprendizado Agrícola e Seu Campo Experimental, apresentava certa diversidade no plantio: cana-de-açúcar, trigo, cevada, centeio, alfafa, arroz, sorgo e outras culturas (2006 p. 82). Na década de 30, já trafegavam no município automóveis e caminhões, em expressivo número, substituindo as carretas e carroças que ainda eram a maioria. Fora instalado uma pequena hidrelétrica que fornecia luz e energia para o Município. O comércio era constituído de casas de atacado e varejo, 2 agências bancárias, 1 livraria, 1 tipografia, bares, tabernas e pequenas fábricas. (TOMASI; ARAÚJO, 2004, p. 83) 26 A partir de década de 1940, a estrada de ferro chega a São Luiz Gonzaga, significando um avanço extraordinário em termos de escoadouro da produção local, uma conexão importante com o centro do País. No campo educacional houve um sensível progresso com a instalação do Ginásio Santo Antônio. Também foram instalados o Hospital de Caridade e o Posto de Saúde. (NASCIMENTO; OLIVEIRA, apud TOMASI; ARAÚJO, 2004, p. 84) A partir da década de 1950, houve um forte incentivo à aplicação de novas técnicas de produção agrícola, introduzidas pelos colonos alemães, italianos e poloneses, que se instalaram no território. Nesta época, coincidentemente, o governo brasileiro inicia o processo de modernização da agricultura brasileira, criando vários mecanismos que tinham a incumbência de financiar e acelerar o processo. Em meados do Século XX, a agricultura brasileira passou por profundas transformações que modificaram completamente a sua realidade. Esse processo conhecido, amplamente, como Modernização da Agricultura, compreende mudanças nos métodos e técnicas de produção, na utilização de máquinas e equipamentos e insumos modernos, e nas relações sociais de produção. Os avanços chegam ao campo, a partir da década de 1950, com crescente expansão nos anos subsequentes. O processo de modernização da agricultura brasileira ocorreu em sintonia perfeita com a expansão do capitalismo mundial e com o “modelo econômico brasileiro”, associado e dependente. Foi habilmente induzido pelos grandes grupos econômicos norte-americanos (e mundiais), através da chamada “Revolução Verde”, expandindo os seus negócios no mundo, na consolidação da nova fase do sistema capitalista a partir da 2ª Guerra Mundial. A estratégia internacional contemplava a realidade local de crise da agricultura tradicional. (BRUM apud TOMASI; ARAÚJO, 2004, p.85) As políticas públicas de caráter socioeconômico, principalmente, visavam incentivar e garantir a produção do trigo e, posteriormente, também da soja. No entanto, essas culturas são praticadas em grandes extensões, latifúndios, não sendo, portanto recomendáveis para áreas de minifúndio. Mas, sem alternativas, como: apoio do governo, acesso ao crédito, juros baixos, o pequeno produtor passa a plantar soja e rejeita o plantio de culturas de subsistência. Disso, resulta dois fenômenos de consequências graves para São Luiz Gonzaga: a sucumbência de inúmeros sistemas produtivos de pequeno porte e o início do êxodo rural (BRUM apud TOMASI; ARAÚJO, 2004, p. 86) 27 A partir de 1954, com a emancipação do distrito de Cerro Azul (Cerro Largo) e, posteriormente, Guarani, inicia-se um processo de desmembramento territorial e populacional de São Luiz Gonzaga. Consequentemente, a mão-de-obra e o saber que constituía a força motriz do setor colonial, não mais pertencem ao Município. Dessa forma, o sistema econômico são-luisense começa a desfigurar-se. Por paradoxal que pareça ser nesta década foi fundada a Cooperativa Tritícola SãoLuizense e o Frigorífico São Luiz S/A, instituições de vulto no cenário econômico regional. O processo de modernização da agricultura brasileira provocou, a partir da década de 1960, uma profunda mudança no sistema produtivo do município. Até então voltado à policultura e à subsistência, viu-se impelido por forças do mercado a optar pela monocultura do trigo e, posteriormente, também da soja (ib idem). Ainda nos anos 60, a substituição da pecuária pela agricultura trouxe consequências significativas para São Luiz Gonzaga. A partir de então, sai do cenário principal a figura do pecuarista tradicional, que reside na cidade, mas investe no campo e em melhorias do rebanho, educa os filhos nos grandes centros, guarda o fruto da produção em agências bancárias, formando assim, um sistema retroalimentado. A figura em evidência passa ser o agricultor; agente que imprime uma nova dinâmica no processo de desenvolvimento. Através da agricultura, ele provoca o crescimento da atividade comercial, faz florescer as empresas fornecedoras de insumos, máquinas, equipamentos e veículos. Nestas condições, a circulação de capitais flui por todo o sistema econômico do município. Aparecem as pequenas indústrias, aumenta a oferta de prestação de serviços, novas agências bancárias instalam-se na cidade. Com isso a construção civil imprime um ritmo vibrante, capilarizando nas demais empresas do setor esta energia. Em consequência o mercado consumidor também é fortalecido. Enquanto isso, no campo, aprofunda-se o processo do êxodo rural. A consolidação do processo de transição da pecuária para a agricultura acaba por expulsar gradativamente do meio rural a figura tradicional dos peões campeiros, como o posteiro, o tropeiro, o galponeiro, o caseiro, o capataz e o alambrador. Por conhecer somente a lida de campo, mas não encontrando condições de sobrevivência no meio rural, esses trabalhadores migram para a cidade com as suas 28 famílias. Como consequência São Luiz Gonzaga sofre um inchaço populacional. Vilas e favelas são, repentinamente, criadas e com isso formam-se os focos de mazelas sociais que estão, até hoje, a desafiar a capacidade resolutiva da comunidade. Em São Luiz Gonzaga, o comportamento dos produtores em relação ao meio ambiente foi tal qual o que aconteceu na maioria das outras regiões. A implantação das novas técnicas de cultivo aconteceu de forma impositiva, e sem a devida precaução, acarretando, com isso, grandes prejuízos de ordem ecológica (TOMASI; ARAÚJO, 2004, p. 86) As décadas de 70 e 80 marcaram significativamente a economia sãoluisense. A conclusão da BR 285 significou o estabelecimento de um canal de escoamento da produção para os grandes centros que ha muito se fazia necessário. Mas, contraditoriamente, a partir de 1980, o sistema econômico nacional entra numa recessão profunda. Em consequência, foram suspensos os financiamentos para o setor agropecuário e com isso, o sistema econômico local estagnou (Idem, p. 89). 1.2 A HISTÓRIA DOS TRABALHADORES RURAIS E SUAS CONQUISTAS O primeiro Sindicato dos Trabalhadores rurais foi fundado em 1932, no Rio de Janeiro. Neste período, havia vários movimentos no campo em defesa do trabalhador rural, principalmente, na luta pelas condições de trabalho, no campo, melhoria de salários e luta pela terra. Os movimentos sociais do campo, na época, tiveram forte influência e envolvimento da igreja católica e de alguns partidos políticos, mas, por outro lado, sofria forte rejeição e repressão da classe dominante (burguesia) e do governo. Em 1954, foi fundada a União dos Lavradores Agrícolas do Brasil (ULTAB), que passou a defender os camponeses, em vários Estados, e continuou a funcionar até ser superado em 1963, pela confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG). Durante a Ditadura Militar, os sindicatos dos trabalhadores e seus dirigentes tiveram forte repressão, com 80% dos sindicatos tendo seu registro cancelado e vários dirigentes passaram a ser perseguidos. Também em 1963, o II 29 Congresso dos Trabalhadores Rurais do RS definiu a criação da Federação dos Trabalhadores Rurais da Agricultura (FETAG/RS). Fases - Para melhor compreender o Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais, podemos apresentar sua trajetória em quatro fases. A primeira fase chamamos de assistencialista. No período de 1965 a 1980, através da lei de 8540 de 1971, que instituiu o Funrural, o Governo repassava recursos para o STR, que prestava serviços de assistência médica, dentária, bolsas de estudo e assistência técnica. O Sindicato, no entanto, era meramente prestador de serviços e não podia questionar as atitudes do Governo. Logo após, veio à segunda fase, chamada de reivindicatória, no período de 1980 a 1990. Foi o início das mobilizações exigindo aposentadoria rural e um salário mínimo para homens e mulheres, reconhecimento da atividade de trabalhadora rural, além de Política Agrícola diferenciada para a agricultura familiar, preços mínimos e organização dos assalariados (CCT). A constituição Federal de 1988 ampliou os direitos dos trabalhadores rurais, especialmente, na área da previdência social e dos assalariados rurais. Após, veio à terceira fase, a das conquistas, no período de 1990 a 2010. Como principais conquistas, podemos destacar a universalização do atendimento à saúde (SUS), benefícios previdenciários, ampliação dos direitos trabalhistas (CLT), Troca-troca de sementes, PRONAF, Crédito Fundiário, Seguro Agrícola (Proagro– Mais), PGPAF (Programa de Garantia de Preços Agrícolas Familiares), Habitação Rural, Mais alimentos, PNAE – Programa Nacional de Alimentos Escolar, entre outras conquistas. Agora estamos diante da quarta fase, que chamamos de Novo Momento, novas realidades, novos desafios, momento de solidificação, implementação e aperfeiçoamento das políticas públicas, de continuidade das lutas e reivindicações em busca da sucessão rural e da permanência do homem e da mulher no campo. (Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Regional sindical Missões II e Fetag-RS-/A notícia 23 /24 jul 2011) 30 1.2.1 A Saga dos Assentados A questão da distribuição da terra remonta milênios, e isto sempre significou riqueza e poder. Sendo também motivo de grandes conflitos e guerras, entre povos. O cenário histórico é perpassado de episódios que dão testemunho a esse fenômeno: as Guerras Camponesas na Alemanha – 1525-1527, Revolução Francesa (Século XVIII), As Lutas Messiânicas no Brasil; Canudos liderada por Antonio Conselheiro – (Bahia- 1893- 1897), Guerra do Contestado- liderada por Monge José Maria – 1912-1916- Santa Catarina; onde uma minoria concentrava a maior fatia das terras e os benefícios delas produzidos, em detrimento de uma maioria populacional que pouco ou nada recebia daquelas benesses. Disso, inevitavelmente, resulta conflitos. Onde a massa de trabalhadores do campo revolta-se, indignada com as injustiças reinantes e demonstrando seu apego pela terra; local de onde tiram o sustento de suas famílias, produzindo alimento para a sociedade. Para isto ocupam, invadem e vão ao enfrentamento sob pena de sofrerem os reveses desses atos. Segundo Mitsue, 2001, sistematicamente, após uma ocupação vêm à reação do latifundiário, a decisão judicial a favor dele, a morosidade ou incompetência do INCRA, em solucionar problemas atinentes à sua esfera de atribuição, sem contar a violência por parte do governo ou dos latifundiários. A saga dos acampados é sempre a mesma: eles desocupam, montam barracas à beira da estrada ou ocupam outras áreas, que sabem, previamente, ser passível de desapropriação e, ao mesmo tempo, utilizam diversas formas de luta para atingir seus objetivos. Um fato que se tornou recorrente nessas situações; é o cenário de guerra montado por forças militares, com finalidade de realizar uma operação presença com o intuito de refrear os ânimos dos acampados, muitas vezes, exaltados, assim como, fazer uma demonstração de força, mostrando todo o aparato bélico disponível pela força militar, caso seja necessário empregá-lo. E por fim, fazer uso efetivo dessa força, caso os ânimos se acirrem entre trabalhadores camponeses e a força militar. Desse tipo de procedimento, em várias ocasiões, isso resultou em prisões de trabalhadores, ferimentos e morte de ambos os lados, com prejuízos acentuados para os acampados. 31 1.2.2 Assentamentos de Reforma Agrária Para Mitsue, 2001, um assentamento caracteriza-se, principalmente, por ser ele fruto de longo tempo de luta, com acampamentos no campo e na cidade, as marchas, os atos públicos, a repressão. Nessa trajetória, os fatores fundamentais do êxito são a união, a solidariedade, a resistência e a cooperação. Por isso ao chegar à terra conquistada, os assentados estabelecem novas relações sociais. O latifúndio, quando dividido em pequenas propriedades, é terra compartilhada por muitos trabalhadores. Ali não se vêem mais assalariados sem registro em carteira ou escravos trabalhando por comida. No assentamento cada família, muitas vezes juntos com seus vizinhos, organiza sua produção e sua existência. Na nova realidade, o assentado é um cidadão inserido numa comunidade, na qual marca presença tanto na economia como na política e na sociedade. Economicamente falando, um assentamento, ao comercializar seus produtos, gera recursos para o município, soma-se ao mercado consumidor, aquece o comércio local e participa da receita do governo pagando impostos. Politicamente os assentados, trazendo consigo a experiência de acampados se destacam por sua capacidade organizativa e de luta pelos direitos sociais. 1.2.3 O Contexto Político-Institucional As situações dos assentamentos em pouco mais de uma década de existência certamente está longe de ser considerada uma experiência de sucesso, em São Luiz Gonzaga. Antes de analisar as suas particularidades locais convém contextualizá-la no quadro político-institucional vigente neste período. No nível federal, o Governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) descartou a reforma agrária como uma política pública necessária ao desenvolvimento nacional. No início do seu primeiro mandato FHC afirmava que a reforma agrária era um imperativo para enfrentar a extrema desigualdade ainda existente no agro brasileiro. Ao longo dos seus dois mandatos, no entanto, a luta 32 contra as desigualdades deu lugar à construção de uma política agrária baseada na necessidade de aliviar a pobreza rural, profundamente influenciada pela retórica e apoio financeiro do Banco Mundial. Para o Governo FHC, portanto, a reforma agrária justificava-se somente como política social compensatória, voltada para a contenção de conflitos agrários. Por isso mesmo, seguindo a cartilha neoliberal, estimulou a reforma agrária de mercado orientada pelo Banco Mundial, com programas como Cédula da Terra e o Banco da Terra. Implantou também um conjunto de assentamentos desarticulados das demais políticas necessárias ao desenvolvimento rural (SAUER; SOUZA, 2008). Segundo Sauer e Souza, a relação entre o poder executivo e os movimentos sociais agrários sempre foi tensa, transitando, ao longo das décadas de 1990 e 2000, do diálogo ao confronto de acordo com a ideologia política de cada governo. No Governo Collor (março de 1990 a outubro de 1992) a relação foi marcada pela repressão contra os movimentos sociais agrários, tendo-se negado a discutir a reforma agrária. Em sintonia com seu programa neoliberal, Collor reduziu a presença do Estado na gestão da estrutura fundiária, extinguindo o Ministério da Reforma Agrária (MIRAD). O Governo Itamar Franco (1992 a 1994) distencionou a relação entre o Poder Executivo e as organizações camponesas. Itamar reconheceu a legitimidade dos movimentos agrários e foi o primeiro Presidente da República a receber o MST no Palácio do Planalto. Apesar da relação respeitosa, a reforma agrária permaneceu ausente do seu plano de governo. No Governo FHC, além dos massacres de Corumbiara (RO) e de Eldorado dos Carajás (PA), que resultaram em pressão internacional sobre o Governo, a marcha do MST, realizada em 1997, recolocou o tema na opinião pública nacional, capitalizou insatisfações diversas e se constituiu na primeira manifestação popular contra o governo que, até então, parecia gozar de unanimidade absoluta em função do impacto econômico do Plano Real e queda da inflação (MEDEIROS, 2002, p.61). Disso resultou um novo enfoque destinado à reforma agrária, colocando-a no cenário econômico-social do Brasil. No primeiro mandato do Governo Lula (2003-2006) a questão agrária deixou de ser tratada como caso de polícia, mas avançou muito pouco no que tange à 33 democratização do acesso a terra por meio de assentamentos de famílias em projetos de reforma agrária. O ll Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA) destacou o problema da concentração de terra e exclusão social no meio rural. De acordo com o INCRA (2003b, p.8-9), era necessário então “atingir magnitude suficiente para provocar modificações nessa estrutura, combinada com ações dirigidas a assegurar qualidade dos assentamentos, por meio de investimentos em infraestrutura social produtiva”, combinando massividade e qualidade. Passados oito anos dos dois mandatos de Governo Lula, entretanto, o ll PNRA constituiu-se em apenas mais uma promessa não cumprida. Lula não deu prioridade à reforma agrária, fazendo clara opção pelo agronegócio. O Governo Dilma que está se iniciando aparenta poucas possibilidades de inversão desse quadro. Além da falta de dinheiro e de mobilização social, o cientista político Edélcio Vigna do Inesc, (Carta Capital 03 de agosto de 2011, nº 657) destaca três fatores que confirmariam esse pessimismo em relação ao governo Dilma no que diz respeito à reforma agrária. O primeiro, de natureza econômica, considera que, para se adequar ao modelo de alta produtividade, os assentamentos precisariam de vultosos investimentos públicos. O segundo é político, pois o Governo é formado por uma coalizão na qual a maioria dos partidos rejeita a idéia de reforma agrária. Por fim haveria o perfil da Presidente Dilma, menos ligado às demandas dos movimentos sociais. Se Lula não fez, afirma Edélcio, Dilma fará menos ainda. As preocupações de Dilma estariam mais focadas no aumento da produção e nos resultados econômicos. É neste contexto que o assentamento de reforma agrária em São Luiz Gonzaga foram gestados e criados, sob a égide das contradições, até agora reinantes. Muitas das carências verificadas, nos seus interiores, são frutos do descompasso entre as diferenças de concepção e de visão política que marcaram o período do final dos anos 1990 e toda a década 2000. 34 2 EVOLUÇÃO RECENTE DA AGRICULTURA DE SÃO LUIZ GONZAGA A presente sessão expõe os resultados obtidos, na primeira etapa da pesquisa, descrevendo, deste modo, as características gerais da área de estudo, assim como, enfocam a caracterização do agrossistema e, do sistema sócioprodutivo. 2.1 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO São Luiz Gonzaga encontra-se localizado na mesorregião Noroeste RioGrandense; microrregião Santo Ângelo. Tendo como municípios limítrofes os seguintes entes federativos: ao sul – Bossoroca; SE – São Miguel das Missões; NE – Caibaté; NO – Roque Gonzáles e Dezesseis de Novembro; O – São Nicolau. Situa-se na interseção das coordenadas geográficas de latitude 28º 24’ 28’’S e de longitude 54º 57’ 39’’O, em relação a Greenwich, com altitude média de 231 m. em relação ao nível do mar. (IBGE-2005) O município dista 505 km da Capital do Estado e dispõe como via de acesso a BR 285, RS 161 e RS 168. (IBGE – 2005) O decreto de 12 de março de 1902, do Governo Estadual, elevou a povoação à categoria de cidade, desmembrando-o do município de São Borja. (Costa, 1922, p. 300) 2.2 CARACTERÍSTICAS GEOGRÁFICAS DA REGIÃO DE ESTUDO O Município de São Luiz Gonzaga está assentado sobre o Aquífero Guarani, possuindo uma extensão territorial de 1.298 Km², onde predomina o clima subtropical, contabilizando em 2009 uma população de 34.999 habitantes e uma densidade demográfica de 27,1 hab/Km² (IBGE, 2009). Como pode ser observado na figura 1 o território do município é banhado apenas por riachos e arroios, em sua quase totalidade pertencente estação à bacia hidrográfica do Rio Piratini. Apenas duas pequenas frações do território são-luizense, que fazem limite com os 35 municípios de Roque Gonzales e Caibaté, são pertencentes à bacia hidrográfica do Rio Ijuí. Figura 1: Hidrografia do município de São Luiz Gonzaga/RS. Fonte: UFRGS De acordo com Nolla, O município é constituído de Neossolos (39,76% do território), Latossolos (36,74%) e Argissolos (23,50%). Estes solos apresentam ótimas condições para o desenvolvimento de uma agricultura racional. A utilização destes solos é a mais indicada, devendo ser expandidas as culturas de trigo, soja milho, feijão e sorgo. (1982, p. 36). O relevo é predominantemente plano em toda a área do Município, com altitudes variando entre 140 e 231 metros. As declividades se distribuem de forma relativamente homogênea, com predominância de inclinações planas. As áreas com 36 mais de 5% de inclinação são pouco expressivas, constituindo áreas de relevo suave ondulado a forte ondulado. O município tem parte de seu território no Bioma Pampa e parte no Bioma Mata Atlântica, e possuía, originalmente, 84% de Savana-Estépica e 16% de Floresta Estacional Decidual. Os campos neste município correspondentes à Savana-Estépica são do tipo Gramíneo-lenhosa. (PDAs – EMATER – 2002) A Floresta Estacional Decidual é do tipo Submontana, estando localizada em pequenas porções a leste, norte e nordeste, na área do Bioma Mata Atlântica. A Savana-Estépica predomina no restante do município, na área correspondente ao Bioma Pampa (INCRA/UFRGS). São Luiz Gonzaga registra uma temperatura média anual de 16,1°C, tendo em janeiro seu mês mais quente, com temperatura média de 22°C, e em julho seu mês mais frio, com temperatura média de 12°C. A precipitação pluvial anual é de 1.660 mm, não havendo grandes diferenças de distribuição entre as estações do ano. A diferença entre a estação mais seca, o inverno e a mais chuvosa, o verão, é de 6 mm. O mês que registra a maior precipitação é outubro, com 193 mm e o de menor precipitação é novembro, com 110 mm. O comportamento da precipitação em São Luiz Gonzaga garante disponibilidade regular de água no solo para as plantas, em especial nos meses mais quentes. (Estação Metereológica – São Luiz Gonzaga) O zoneamento agrícola (SAA/RS, 1994) aponta como culturas preferenciais para o município de São Luiz Gonzaga: alfafa, arroz irrigado, citros (laranja e bergamota), mandioca (sul), cana -de- açúcar (sul) para a produção de açúcar e álcool, trigo, milho, soja (sul), sorgo (sul) e forrageiras de clima temperado (aveia, azevém, centeio, cornichão, festuca, serradela, trevo branco, trevo visiculosum, trevo subterrâneo, trevo vermelho, e outras). As culturas toleradas incluem os citros (limões), cebola e alho (oeste), mandioca (norte), soja (norte) e cana-de-açúcar (leste) para a produção de álcool e açúcar. O município é considerado marginal para culturas tradicionais como batatinha (setembro, fevereiro), fumo, feijão, pessegueiro e forrageiras de clima temperado e inapto para os cultivos do abacaxi, banana, videira européia (vinho), videira americana e maçã (PRA-COPTEC- 2009). 37 2.3 QUESTÕES DEMOGRÁFICAS Conforme Santos (1987, p. 300) o município de São Luiz Gonzaga, ao findar a década de 1890 e início do Século XX contava com uma população que girava em torno de 15.000 pessoas. Como se pode observar na tabela 1, a população do município cresceu significativamente até meados do século XX e, a partir de então, vem apresentando quedas significativas no seu contingente populacional, afetando particularmente as pessoas residentes no meio rural. Tabela: 1 População urbana, rural e total do Município de São Luiz Gonzaga – 1890-2007. População Urbana Habitantes % População Rural Habitantes % População Total 1890 13.900 1900 15.190 1918 26.200 1922 37.375 1940 9.099 14,6 53.220 85,4 62.319 1950 11.979 16,3 61.673 83,7 73.652 1960 16.126 29,0 39.410 71,0 55.537 1970 18.609 45,3 22.452 54,7 41.061 1980 30.684 64,5 16.849 35,5 47.533 1991 33.564 80,5 8.107 19,5 41.671 2000 32.752 82,8 6.801 17,2 39.553 2007 34.487 Fonte: Santos (1987, p.15-16) período 1890-1960. IBGE – Censos demográficos período 1970-2007. Analisando a Tabela 1, nota-se que entre a última década do Século XIX e o início do Século XX, houve um aumento populacional na ordem de 9.28%, 38 correspondente a 1290 pessoas. No período compreendido entre 1900 e 1918, houve um acréscimo de pessoas, num percentual de 72,48%, equivalente a 11.010 pessoas. Entre 1918 e 1922, o aumento foi de 42,65%, correspondendo a 11.175 pessoas. No período de 32 anos o município de São Luiz Gonzaga obteve um aumento populacional de 168,88%, isto é, um acréscimo de 23475 pessoas, nos seus 5600 Km² de superfície, da época. Significando, isto, uma média de crescimento na ordem de 5,28% a./a. Observando a tabela acima, percebe-se a tendência progressiva do processo populacional, até os meados do Século XX, com alta concentração de pessoas, no meio rural. Isto é perceptível ao verificar que, na década de 1940, a população estava assim distribuída: 9.099 habitantes residiam no meio urbano, isto é, 14,6%, enquanto 53.220 pessoas habitavam o meio rural, correspondendo a 85,4% da população. O mesmo fenômeno é observado, na década de 1950, quando; 11.979 pessoas, 16,26% da população viviam no setor urbano, enquanto 61.673 habitantes, 83,74% habitavam o meio rural. A partir da década de 1950, dá-se início ao processo de esvaziamento populacional, em virtude das emancipações distritais, sendo o primeiro caso, o desmembramento do distrito de Cerro Largo, em 1954, quando o Município cedeu parte do seu território e, consequentemente, perdeu considerável contingente populacional, em consequência desse fato histórico-administrativo, e o início do êxodo rural, São Luiz Gonzaga, em 1960, já acusava uma perda substancial em termos de população: no setor urbano, havia 16.126 moradores, 29,96% do total da população, enquanto 70,96%, isto é, 39.410 habitantes viviam no meio rural. Com esse fato iniciou-se a concentração populacional urbana. No ínterim da década 60 e 90, o processo de desaceleração populacional, perda de território e concentração urbana continua acontecer; em função do processo emancipatório distrital e do êxodo rural. Em 1965, São Nicolau, Bossoroca e Caibaté ao se emanciparem, levaram consigo parte do território, provocando, assim, uma perda considerável em termos de população, principalmente, da rural de São Luiz Gonzaga, isto é, 26,06% a menor, em relação ao ano de 1960. Em 1987, 39 Pirapó e, em 1988, São Miguel das Missões e Dezesseis de Novembro conseguiram emancipar-se. Consequentemente foram contemplados com parte do território sãoluisense e contribuíram para a queda populacional do Município, desta forma, aprofundando o processo recorrente de esvaziamento. Finalmente, no ano de 2000, o distrito de Rolador consegue sua autonomia administrativa, observando os mesmos critérios que nortearam as emancipações dos demais. Entre 1991 e 2000, 1306 pessoas deixaram o campo, isto é, 16,2% da população rural. Neste período, 812 pessoas, 2,42%, deixaram de residir na área urbana, mas não voltaram ao campo. Isso permite concluir que 2118 pessoas, 18,62%, simplesmente, não mais residem em São Luiz Gonzaga. Em 2007, 5.066 pessoas, 12,89% da população, em relação ao ano de 2000, em consequência do êxodo rural e emancipação do município de Rolador deixaram São Luiz Gonzaga. Com os processos de desmembramento o município passa dos 5600 Km², período em que se constituiu como município (1902), para os atuais 1298 Km² e uma densidade demográfica de 26 hab/Km², onde se enfoca o presente trabalho. A forma como evoluiu a população do município pode ser visualizada pela observação da figura 2. Figura 2. Evolução da população total, urbana e rural do município de São Luiz Gonzaga-RS – 18902007. Fonte: Elaboração do autor. Observando a figura 2, percebe-se que a partir de 1890 a 1950, houve um afluxo populacional, no Município, devido à intensidade imprimida, na economia 40 municipal, principalmente, pelo setor rural. A partir de 1950, observa-se um fenômeno inverso, onde o processo emancipatório e o êxodo rural contribuíram, significativamente, para o esvaziamento populacional. Por outro lado, de 1940 até 1990, a população urbana acusa um crescimento contínuo, onde o êxodo rural é fator preponderante para a existência deste fato. A partir de 1990, constata-se certa estabilidade, em termos populacionais. 2.4 ESTRUTURA FUNDIÁRIA A estrutura fundiária do Município de São Luiz Gonzaga, como pode se obervar pelos dados da tabela 2, é marcada por um forte processo de concentração da terra. Tabela 2. Número de estabelecimentos agropecuários e Área por estrato de área - São Luiz Gonzaga/RS-2006. % % Tam. ESTAB. % ACUM. ÁREA % ACUM. Méd. Menos de 5 ha 185 15,7 15,76 485 0,5 0,5 2,6 De 5 a 20 ha 485 41,3 57,07 5814 5,3 5,8 12 De 20 a 50 ha 222 18,9 75,98 6263 5,7 11,5 28 De 50 a 100 ha 75 6,4 82,37 5096 4,7 16,2 68 De 100 a 200 ha 66 5,6 87,99 8977 8,2 24,4 136 De 200 a 500 ha 83 7,1 95,06 24313 22,4 46,8 293 De 500 a 1000 ha 42 3,6 98,64 28089 25,7 72,5 668 De 1000 a 2500 ha 13 1,1 99,74 18734 17,2 89,7 1441 De 2500 ha e mais 3 0,3 100 11277 10,3 100 3759 TOTAL 1174 100 109048 100 Com mais de 500 ha 5,0 93 53,3 Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 2006 Na tabela acima se observam dados, que bem caracterizam o grau de concentração da terra, no Município. Dentre os estabelecimentos constituídos de 20 41 a 50 ha, 222 destes representam 18,91% das propriedades e, 11,52% das terras produtivas, isto é, 6263 ha. Por outro lado, as propriedades compreendidas entre 2500 ou mais ha, em número de 3, representam 0,26 % das propriedades e detêm 10,34% do solo produtivo e isto significa 11277 ha. Outro dado ilustrativo da situação de acesso a terra é assim representado: 58 unidades de produção, com extensão a partir de 500 ha ou mais, representam apenas 4,94% dos estabelecimentos, mas ocupam 53,28 % das terras, abrangendo assim; 58100 ha. No entanto, 1116 propriedades rurais, compreendidas entre menos de 5 até 500 ha, representam 95,06% das propriedades, ocupam 46,72% das terras, abrangendo, assim, 50948 ha. Neste cenário em que a alta concentração de terra é fato consolidado, o paradigma reinante procura estabelecer uma visão estrábica sobre as atividades agropecuária – afirmando que a viabilidade do setor está ligada, principalmente, a fatores de ordem tecnológica, motomecanização dos sistemas de cultura e ganhos de produtividade, aliadas às grandes extensões de terra. Mas, isto caracteriza uma idéia reducionista, que rejeita outras alternativas, enfim, nega a própria realidade. Então, é neste ambiente inóspito à sua existência, que, veladamente, contribui para a sua sucumbência, em São Luiz Gonzaga a agricultura familiar, obstinadamente, tenta sobreviver. Apesar de rotulada como ineficiente, sem competitividade, sem vocação a novos rearranjos produtivos, ela continua a existir, prestando inestimáveis serviços à sociedade, especialmente, produzindo alimentos e absorvendo, parcialmente, a mão-de-obra rural, a despeito de qualquer tipo de estigmatização que lhe seja feita. 2.5 UMA AGRICULTURA MARCADA PELA PRESENÇA DE DIFERENTES TIPOS DE AGRICULTORES E DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO Provenientes da diferenciação socioeconômica, das relações sociais, das técnicas agrícolas adotadas, das transformações ecológicas, das informações acessadas em relação ao mercado, formas de acesso a terra etc., no cenário rural do Município, surge uma diversidade de tipos de agricultores e, consequentemente, 42 de sistemas de produção. Apesar de o sistema agrário são-luisense ser de predominância latifundiária, existe no seu interior uma tipificação variada de agricultores, que em função disto formam vários sistemas de produção distintos entre si. Pela proximidade territorial e similaridade das agriculturas os tipos de agricultores e de sistemas de produção existentes em São Luiz Gonzaga e daqueles identificados por Stamberg (2005) ao analisar a situação da agricultura de Santo Antônio das Missões. Para este autor o setor rural desses municípios abriga duas categorias sociais de agricultores: os familiares (que contam basicamente com a força de trabalho de membros da própria família) e os patronais (que além da mão de obra familiar igualmente dependem de trabalho contratado). Entre os agricultores familiares existe uma grande diferenciação, tanto em termos do grau de capitalização quanto do sistema de produção que desenvolvem. Existem agricultores familiares minifiundiários, com áreas de terras exploradas de menos de 10 hectares, onde desenvolvem um sistema de produção pouco intensivo em capital e trabalho, normalmente associado a produções de autoconsumo com venda de excedentes. Para complementar a renda parte da mão de obra familiar desenvolve atividades fora da unidade de produção. Existem ainda agricultores familiares sem acesso a máquinas e equipamentos, que desenvolvem uma pecuária extensiva de baixos rendimentos em áreas médias que se situam entre 100 a 150 hectares. A baixa renda proporcionada pela bovinocultura de corte é complementada com o arrendamento de parte da área própria para o cultivo de grãos de sequeiro. Existe também um conjunto de agricultores familiares semi-capitalizados, que possuem uma estrutura de mecanização parcial ou intermediária, incluindo máquinas e equipamentos necessários para as operações de preparo do solo e plantio, no caso das culturas, e uma estrutura mínima para atividades animais, como é o caso da pecuária leiteira. Tais agricultores familiares combinam distintas atividades, com destaque para os seguintes sistemas de produção: Produção diversificada, incluindo pecuária mista e culturas para subsistência em áreas variando de 15 a 50 hectares; um sistema que associa arroz irrigado, grãos de sequeiro, pecuária de corte e subsistência, em áreas médias de 50 a 100 há; e, por fim, um sistema especializado na pecuária de corte e produções para subsistência, em áreas que variam entre 50 e 80 hectares. Os agricultores familiares que possuem 43 mecanização completa dedicam-se prioritariamente à produção de grãos, leite e subsistência, em áreas de 60 a 120 ha. Entre os tipos de agricultores patronais predomina a existência de mecanização completa. Os principais sistemas de produção desenvolvidos por agricultores desta categoria social são: a produção de grãos de sequeiro aliada a uma pecuária de corte e subsistência em áreas variando de 300 a 350 ha; a produção especializada na produção de grãos de sequeiro aliada à produção de subsistência em áreas de 500 a 750 ha; em áreas igualmente de 500 a 750 ha outros agricultores patronais se dedicam à produção de arroz irrigado, grãos de sequeiro, pecuária de corte e produtos para subsistência e, por fim, agricultores patronais que, em áreas que variam de 1500 a 1800 ha, dedicam-se prioritariamente à pecuária de corte e subsistência. O quadro 1 sintetiza as principais características dos tipos de agricultores e sistemas de produção existentes na agricultura de um município (Santo Antônio das Missões) com características gerais muito semelhantes às características de São Luiz Gonzaga/RS. Quadro 1: Demonstrativo de Agricultores e de Sistemas de Produção de Santo Antônio das Missões/RS Tipos de Agricultores Sistemas de Produção Fam. Minif. TAT Leite/Grãos/Subsistência Área Média IBGE (ha) 5,3 Fam. TAT Pecuária/Leite/Subsistência 13,7 Familiar TMI Diversificado/Subsistência 13,7 Fam. TMI Mista/Subsistência 31,6 Fam. TMI Pecuária Mista/ Subsistência 69,65 Fam. TMC Grãos/Pec Leite/ Subsistência 69, 65 Fam. TMI Pecuária Corte/ Subsistência 69,65 Fam. TAT Pec Corte/Arrendamtº/Subsistência 141,6 Fam. TMI Arroz irrig/grãos seq/Corte/Subs. 69,65 Patr. TMC Grãos Seq/Subsistência 680,65 Patr. TMC Grãos Seq/Pec Corte/Subsistêmcia 318,03 44 Tipos de Agricultores Sistemas de Produção Patr. TMC Arroz irrig/Grãos Seq/ corte/Subs. Área Média IBGE (ha) 680,65 Patr.TMI Pecuária Corte/Subsistência 1608,5 Fonte: Dados da pesquisa de Stamberg, (2005). A diferenciação entre os tipos de agricultores provém, principalmente, das variações agroecológicas locais e das diferentes situações socioeconômicas dos seus componentes. Os estágios evolutivos em que se encontram os agricultores são frutos de uma série de fatores influentes que vão desde o acesso à terra aos recursos naturais, à informação, aos serviços públicos, mercado, crédito, e mão-deobra ao seu dispor. A capacidade dos diferentes agricultores em otimizar os recursos disponíveis fazem surgir os diferentes sistemas de produção: Segundo Garcia Filho, 1999, em estabelecimentos capitalistas se busca otimizar a taxa de lucro do capital investido, já nas unidades familiares, os agricultores buscam otimizar a renda agrícola, remunerando a mão-de-obra por ativo familiar. No entanto, o modo de exploração do agroecosistema a ser adotado na unidade de produção depende também da disponibilidade dos meios de produção. Se o recurso mais limitante for à mão-de-obra, provavelmente, os agricultores adotarão sistemas de produção mais extensivos, ao contrário, se o fator limitante for área disponível, os agricultores irão adotar sistemas de produção mais intensivos, os quais geralmente exigem maior uso de mão-de-obra. Por outro lado, quando as limitações vão além dos meios de produção disponíveis, em situações muito adversas, os agricultores procuram priorizar a produção para garantir o autoconsumo da família. 2.6 A INSERÇÃO DE ASSENTAMENTOS DE REFORMA AGRÁRIA NA AGRICULTURA EM SÃO LUIZ GONZAGA Entre 1997 e 2007 foram instalados oito assentamentos de reforma agrária em São Luiz Gonzaga. O quadro abaixo especifica, quantitativamente, as circunstâncias das instalações, nas unidades de produção: 45 Quadro Demonstrativo das instalações de assentamentos Denominação/ Data da instalação Assentamento Quantida de de há Nº de famílias Nova Palma 1997 219 12 Ximbocú 1997 136 8 1998 780 31 Panorama 1998 440,48 17 São 1998 971,65 50 Sepé Tiarajú 1999 1016 57 Coqueiro 1999 156 12 28 de Maio 2007 829,55 53 4548,68 240 Campos do Pontão Sebastião Total 2.6.1 Origem das Famílias Todas as famílias assentadas são originárias da região das Missões e do Alto Uruguai. A maioria dos assentados já era agricultor na região de origem na condição de proprietário, meeiro ou arrendatário, e seus cultivos e criações destinavam-se prioritariamente para a subsistência. 2.6.2 Relações Sociais As instalações dos assentamentos em São Luiz Gonzaga, via de regra, sempre aconteceram com fortes tensões sociais. E, isto se deve ao fato de que a visão latifundiária criou o dogma de que a presença dos assentados, na região, significa uma ameaça aos seus interesses. Esta situação torna-se, ainda mais conturbada ao passo que elementos do MST são acusados de desordeiros e praticantes de outros tipos de deslizes sociais, que muitas vezes são fatos irrefutáveis sem chances para contestação. 46 2.6.3 Assistência Precária A ineficiência do Estado como órgão fomentador do desenvolvimento, da justiça social e bem-estar muito contribuem para que os objetivos traçados como estratégicos não sejam alcançados. A inobservância dos prazos quer sejam para o cumprimento de etapas de programas, ou para liberação de recursos que diretamente digam respeito aos assentados, são os entraves que definitivamente refletem-se nas questões econômicas, técnicas e sociais dos assentados. E isto implica, negativamente, na tomada de decisões desses agentes, que precisam definir o que produzir?, como produzir?, quando produzir? Para quem produzir? 2.6.4 Sistema Produtivo O sistema produtivo principal desses atores sociais, dos assentamentos em São Luiz Gonzaga, está focado na produção de leite. Este é consorciado com subsistemas de produção direcionado à subsistência, ocorrendo à comercialização destes produtos, somente em caso de excedência. Dentre os produtos podemos citar: hortaliças, animais de pequeno porte, tais como; suínos, ovinos, aves, frutas e mel. Entre os gargalos vivenciados por esses atores podemos observar; dificuldade de acesso a crédito, escoamento de produção, canais de comercialização, pouca vocação para empreendimentos de caráter cooperativo e dificuldade em implementar novas tecnologias (MDA/SDT, 2005) 2.6.5 Transações Desvantajosas Como os demais produtores familiares, os assentados de São Luiz Gonzaga, mantêm uma relação desvantajosa com as empresas que os cercam, pois via de regra vêem–se cercados por circunstâncias nada convenientes para seus interesses, tornando-se presas fáceis das grandes firmas ao entregarem os excedentes de seus produtos e, destas receberem insumos e outros artigos necessários à suas atividades econômicas. Desta forma, perdem o poder de barganha, tanto ao venderem seus produtos, quanto ao comprarem artigos destes estabelecimentos. Quando proprietários, sistematicamente, também, são administradores de suas 47 propriedades, e trabalhadores agrícolas. Mas historicamente, não recebem remuneração pelas terras que possuem, nem tão pouco são pagos pela condição de administradores e, nem por serem trabalhadores assalariados. Restando-lhes, apenas, um salário para subsistir. Nestas condições é a sociedade que acumula ganhos ao manter relações com a família produtora. (BROSE, 1999, p.35) 2.6.6 Realidade Oculta As respostas obtidas, através de questionários aplicados aos pequenos produtores assentados, revelam, parcialmente, a real situação de um cenário formado por vários componentes que dão forma a um contorno muito subjetivo para o caso. Pois, somente uma observação judiciosa é capaz de constatar a gama de problemas que se acoberta sob a sublime intenção de produzir alimentos para si e para a sociedade. Em primeiro plano destaca-se o baixo nível de Capital Social, e por isso, insuficiente para servir de sustentação para a construção de soluções que equacionem os problemas que dizem respeito as suas atividades econômicas, sociais etc. Os conflitos são tantos, as formações individuais tão diferentes, as escalas de valores tão distintas, que se torna difícil construir uma agenda de ações em prol da comunidade. Há situações de invasões de lotes, através de mudanças progressivas de divisas, onde a justificativa para tal ação é tão somente a condição masculina do invasor, enquanto o lado agredido é uma mulher ou um ancião. Nesses casos evidencia-se a falta de ética de uma das partes e ausência do exercício da cidadania de outra. Também falta de fiscalização do INCRA, isto é, do Estado. Mostra, ainda, a reprodução da mentalidade do latifundiário grileiro – indicando que o assentamento (as famílias) é um terreno de disputa política. No campo da saúde, o indício do alcoolismo é um aspecto que contribui para as externalidades negativas do cenário, pois, entre os chefes de famílias o indício da doença, é fato comum. Somam-se a isto várias mulheres vítimas do tabagismo, vários ambientes infestados de pragas como; bicho-de-pé, piolhos e pulgas. Acrescenta-se a isto os casos de depressão, especialmente no sexo feminino. Este último fato e o alcoolismo evidenciam a necessidade de uma investigação, mais 48 profunda, para que sejam apuradas as suas causas. Mas que só uma equipe especializada seria capaz, o que não é o caso deste pesquisador. No entanto, não existe nenhuma iniciativa no sentido de averiguar a origem de tais fatos. Outro aspecto que merece ser levado em consideração, por ser foco gerador de externalidades negativas na implantação de assentamentos e, causador de polêmicas no seio da sociedade são a aquisição e distribuição de terras para a implantação dos assentamentos. Se de um lado os assentados reclamam por receber terras inadequadas para atividade agropecuária, de outro, os agentes do INCRA afirmam agir em concordância com os interessados, os assentados, nestes casos. E nestes episódios fica claro um embate travado entre um sistema burocrático, moroso na resolução destas questões e um grupo de acampados sequiosos que tencionam pela ocupação da terra reivindicada. E disso resulta a cessão de áreas que somente o tempo dirá sobre sua adequação ou não para atividades agrícolas. Em muitos casos os resultados negativos, criam situações embaraçosas, em torno da sua aquisição, revestindo-se de desconfiança, perante a opinião social. Nesse caso, também, é importante considerar o comportamento dos latifundiários dispostos a venderem suas terras improdutivas para a implantação da reforma agrária, por preços e condições, altamente, convenientes para si. Na realidade este caso torna-se um instrumento de pressão usado pelos acampados para acelerar o processo de assentamento. Pois a eles, acampados, não interessa o preço da aquisição da terra, interessa-lhes a terra para assentar-se. A reversão destas situações implica em despesas adicionais, de grande monta. E, nem todos os segmentos sociais aceitam estas atitudes “perdulárias”. Cria-se então um problema de difícil solução, não atendendo nenhuma das partes, nem assentados e nem os demais segmentos sociais, nem as autoridades governamentais. Gera-se então um fator depoente que nada tem a acrescentar em favor da inserção dos pequenos produtores assentados. Sobre esse tema Marc Dufumier, p. 16, observa o seguinte: As intervenções do Estado destinadas a viabilizar o desenvolvimento agrícola são ainda mais necessárias nos países do Sul onde a segurança alimentar está longe de ser 49 garantida para as populações mais pobres. A segurança alimentar das populações e o desenvolvimento rural são problemas de tal importância que os governos, geralmente, evitam deixar que as soluções permaneçam na dependência de uma prática do tipo “lasssier faire”. Em matéria de desenvolvimento rural, quase sempre são exigidas intervenções públicas. Assegurar a sociedade contra eventuais crises alimentares continua sendo um objetivo essencial dos países mais pobres. A questão que se coloca agora é saber se a nação deve (e pode) satisfazer, por si só, todas as suas necessidades alimentares. A resposta a essa questão é determinante na escolha entre incentivo à produção de alimentos destinados ao mercado interno ou a uma especialização agro-exportadora que tire proveito das “vantagens comparativas” dos ecossistemas nacionais, em relação ao mercado mundial. As intervenções do Estado na esfera agrícola não são motivadas somente pela vontade de orientar as escolhas de produtos ou processo técnicos, mas visam também à distribuição das riquezas criadas pelos agricultores entre as diversas classes, camadas e categorias sociais que constituem a nação. Com efeito, a política dos governos está sempre inserida no contexto mais geral de uma política de rendas. O problema é que a pequena fração das rendas que fica com os agricultores é quase sempre insuficiente para que eles possam investir de modo a equipar suas explorações e aumentar a produtividade do seu trabalho. Em decorrência, a agricultura, geralmente, se revela incapaz de produzir, com custos decrescentes, quantidades suficiente de bens demandados pelas camadas urbanas em franco desenvolvimento. A fragilidade das rendas monetárias pode limitar, consideravelmente, o poder de compra dos agricultores os quais passam a experimentar sérias dificuldades para terem acesso às mercadorias produzidas nos outros setores da economia; meios de produção, bens de consumo, serviços, etc. Temos pelo menos duas correntes de pensamento sobre este tema, uma ligada ao agronegócio, aos liberais, que entendem que os agricultores familiares têm que ficar refém “das leis de mercado”, ser expulsos de suas terras e servirem de mão – de –obra barata nas cidades e quando não arranjam emprego viverem de 50 cestas básicas. Mas, este mesmo grupo defende também que os governos acabem com programas de auxílio aos menos favorecidos, como por exemplo, o Bolsa Família, PRONAF, entre outros. Entretanto, os que defendem a não interferência do governo em benefício de quem produz e precisa, são os primeiros que apelam ao governo ao menor sinal de problema com seus negócios, como ocorreu na grande crise de 2009, e sugam bilhões dos cofres públicos. Então, nesse contexto, para estes é difícil entender que com a ausência de políticas públicas não será possível melhorar a sociedade como um todo, através das práticas de distribuição de renda. (SCHUC, p. 85) O financiamento solidário, experiência primeira, entre os produtores familiares tornou-se o ponto crucial dos problemas econômicos, destes agentes sociais. Pois a falta de compreensão da finalidade do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) levou, de forma generalizada, à inadimplência a maioria dos grupos formados. Consequentemente, as pessoas cônscias das responsabilidades assumidas foram e são até hoje, prejudicadas pelas ações daquelas que não honraram com seus compromissos. Nas entrevistas realizadas com os assentados, ficou evidenciado tratar-se o caso de inadimplência, uma questão mais complexa do que parece ser. Antes de uma rotulação generalizada; “caloteiro, irresponsável” procurou-se, de forma criteriosa, saber, particularmente, as razões da difícil situação em que se encontram. O que leva um cidadão não pagar suas contas? Não paga porque não escoa a sua produção? Ou porque não quer pagar? É um problema produtivo? É uma questão moral? É um tema da Economia ou da Ética? Os modelos de financiamento têm algo a ver com isso? Quanto a essa situação observou-se o seguinte: a) por ocasião da seleção das pessoas para compor os contingentes dos acampamentos, não houve um critério seletivo que levasse em consideração a condição de “oriundo da lavoura” como fator determinante para a sua aprovação de postulante à terra; b) Os três primeiros anos-agrícolas coincidiram com longas estiagens pluviométricas; c) Os auxílios financeiros chegaram após um cenário de calamidade já se ter consumado; d) diante dessas circunstâncias havia uma crucial decisão a ser tomada – empregar 51 os recursos na terra como o previsto, ou pagar os credores que haviam fornecido alimentos, principalmente. Numa segunda etapa constatou-se o seguinte: e) os assentados “não oriundos da lavoura” ao receberem os auxílios financeiros, via de regra, trataram de fazer transações ilícitas das terras e evadiram-se do assentamento; f) a concessão dos financiamentos de cunho coletivo- consórcio- ficou altamente, prejudicada pelas deserções dos “não oriundos da terra” g) aquelas pessoas que lá permanecem, encontram-se inviabilizados de acessar novos financiamentos para exercerem suas atividades econômicas; h) o sistema financeiro é inflexível, deseja restituir seus haveres, com todas as cláusulas de mora etc. previstas nos contratos. Outro fator que implica a efetiva inserção desta classe de produtores no cenário sócio-econômico do município é a cultura criada; de que as autoridades governamentais são as únicas responsáveis por todas as mazelas reinantes no seu meio. Disso resulta, entre estes produtores, um comportamento de acomodação que não os leva à atitudes pró-ativas no sentido de solucionar seus problemas, pelas suas próprias forças. No entanto, é um exercício utópico pensar que a agricultura familiar, como um segmento da economia, seja capaz de conseguir um nível de renda satisfatório para a sua manutenção sem a intervenção do Estado, através de políticas públicas. Pois, o agricultor familiar não exerce nenhum poder de barganha quando da venda de seus produtos ou, da compra de outros bens e serviços oriundos de outros setores. Ficando assim, a mercê das agruras e oscilações do mercado Então, isso sugere uma política de redistribuição, através de subsídios. Pois a agricultura vai além das questões da segurança alimentar, ela é um fator de segurança nacional. (SUCH, 2010, p. 65) No campo administrativo, também, constata-se a carência de uma sequência lógica, nas tomadas de decisões. E isto fica evidenciado quando decidem pela cultura da soja, possuindo apenas, no máximo, 19 ha de terra, quando é sabido (BRUM 2008 p.53) que são necessárias em torno de 100 ha, no mínimo, para que se obtenha um nível de reprodução social digno com este tipo de cultura. Como se isto não bastasse, não consideram as variações de preço, no mercado, e nem observam a maior ou menor oferta do produto, num cenário global. Quanto ao controle de 52 produção, lucros, perdas e despesas, suas informações são aleatórias, na maioria das vezes. Também no caso leite, não possuem nenhum tipo de informação quanto à tendência de mercado. Pois produzem – no, de forma intuitiva, sem saber até quando isto lhe é conveniente. Neste caso, existe um processo de disputa de modelo agrícola nos assentamentos. De um lado o governo defendendo a produção de alimentos e, de outro, agentes econômicos, como a Coopatrigo, induzindo a produção da soja. Isto acontece, de forma indireta, nos assentamentos; ao passo que a Coopatrigo e os agentes financeiros facilitam a atividade econômica dos grandes produtores, estes investem sobre as pequenas propriedades, dos assentamentos, arrendando-os, em face da descapitalização dos seus ocupantes. Neste caso fica evidente a omissão do Estado como agente fomentador, do desenvolvimento, entre os pequenos produtores, deixando-os ao rigor das imposições do mercado. Apesar de vários assentados afirmarem serem favoráveis a permanência de seus filhos, no meio rural, a realidade indica para outro rumo. O meio urbano é, sem dúvida, o destino da juventude rural. O Exército, a Brigada Militar, as empresas de segurança são as organizações preferenciais para procurar emprego pelos jovens do sexo masculino. Pelo lado feminino a preferência recai sobre as lojas comerciais, padarias, hospitais, restaurantes, etc. Dessa forma, a sucessão rural, nos assentamentos, encontra-se na eminência de não possuir quem assuma a continuidade das atividades, no longo prazo. Para um entrevistado, agente do INCRA, a inserção das famílias assentadas nos espaços produtivos locais e suas relações com os espaços sociais são complexas e compreende uma série de acontecimentos que articulados determinam um maior ou menor grau de aceitação nesta relação. A origem do agricultor assentado determina uma maior ou menor reação com a realidade local e a sua interação pode-se dar de forma positiva ou ser rejeitada pelos espaços locais, por não dominar ou não conhecer as práticas produtivas e as relações existentes no espaço das áreas reformadas. O grau de organização das famílias e seus laços de confiança determinam a forma pela qual são traçados as estratégias de sobrevivência e reprodução social das famílias, assim como é um aspecto determinante no processo de 53 desenvolvimento dos assentamentos como um todo. Isso requer uma análise mais atenta de como se dá a formação dos grupos, desde os períodos de acampamento. Constata-se que grupos que estabeleceram um elevado grau de convivência no período de acampamento, desenvolvem um senso de comprometimento e solidariedade capaz de superar as dificuldades iniciais no processo de assentamento. A ineficiência das atividades disponíveis em gestar e operar as políticas públicas direcionadas à questão agrária influência, de forma contundente, no processo de consolidação das famílias assentadas. À medida que, invariavelmente, as políticas complementares ao acesso à terra, chegam com muito atraso, expõe as famílias assentadas a um penoso período de sobrevivência, que muitas vezes determina o abandono dos lotes, ou um maior grau de adesão ao processo produtivo local, dominado pelos grandes produtores e pela lógica do agronegócio. A relação que as famílias assentadas têm com a terra, muitas vezes, é simbólica, representando o rompimento com o processo opressor e dominante das oligarquias rurais. A questão agrícola da reforma agrária muitas vezes assume um segundo plano no processo. A lógica camponesa precisa ser mais bem compreendida para que possamos entender as diferenças entre o processo produtivo das famílias assentadas em relação à lógica do capital que move grande parte do setor rural. Para um agente da EMATER; a sociedade são-luizense não conhece a sua realidade rural, perfeitamente. Em face disso, não reconhece a importância dos pequenos produtores como agentes efetivos na dinâmica econômica do Município. Apesar de capilarizarem a economia local com os recursos auferidos pelos seus trabalhos, isto não é suficiente para que deixem de ser estigmatizados como componentes de uma economia marginal. O paradigma dominante na sociedade local resume-se a uma apoteose ao grande produtor que não contribui tanto quanto poderia, caso suprisse, do comércio local, as suas necessidades inerentes as suas atividades agrícolas. E isto fica evidenciado quando se constatam que os grandes produtores, sistematicamente, adquirem insumos, equipamentos, máquinas em outros estabelecimentos, fora do 54 Município. Desta forma reduzem, significativamente, o retorno econômico para comunidade. Quanto aos assentados existem vários fatores que interferem, negativamente, na sua inserção integral na economia municipal. O MST ao agir, isoladamente, no que se refere à organização de associações e geração de políticas públicas de interesse geral dos pequenos produtores, contribui para o distanciamento, entre estes, assim como dificulta a criação de um arranjo institucional fortalecido, capaz de dar suporte às estratégias e medidas administrativas que venham ao encontro dos interesses dos pequenos produtores. Não existe uma iniciativa de assentados, no sentido de criar uma relação, mais profunda com outros segmentos sociais, fora dos ditames ideológicos dos MST. E isto se reflete, negativamente, na sua inserção no cenário municipal. Para mitigar essa situação foram criadas no conselho Municipal de Desenvolvimento Rural, quatro cadeiras a serem ocupadas por agentes de assentamentos. Também contribuem para este estado de coisas o trabalho das equipes de assistência técnica, que no decorrer dos anos não conseguiram imprimir um trabalho eficiente capaz de reverter às situações de má gestão, inobservância de técnicas adequadas e resistência à atuação coletiva em associações, grupos de trabalho etc. Finalmente, observa que os principais agentes financeiros não estão interessados em financiar os pequenos produtores assentados. Pois a lógica do capital aponta para nichos, supostamente, mais interessantes que este. Para o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Luiz Gonzaga, a chegada das famílias assentadas, no Município, é fator importante, pois significa mais pessoas produzindo, principalmente, alimentos. Pois são pessoas participativas e cooperam com o sindicato naquilo que lhes é solicitado. Também se valem dos benefícios que a instituição lhes oferece. Trocam experiências com os demais agricultores, fortalecendo, com isso, o sistema de informação dos pequenos agricultores. Caso houvesse mais assentamentos, melhor seria para o Município. Pois os produtores gastam suas rendas no comércio local, e isso significa dar vida para a economia da cidade. É mais dinheiro que entra nas agropecuárias, supermercados, farmácias etc. 55 A inserção dos assentados depende de vários fatores. No entanto, o comportamento omisso do INCRA, não assistindo às famílias assentadas, na maior parte das suas necessidades, é um dos motivos que leva os assentados às situações de dificuldades. Através de políticas públicas, autoridades executivas e legislativas devem formular e efetivar ações que contemplem, de maneira eficiente, a resolução dos entraves socioeconômico que os assentados enfrentam. O Sindicato não condena a prática do arrendamento, realizada por agricultores assentados, desde que sirva para angariar recursos financeiros para plantar no próximo ano. No campo das conquistas a luta do Movimento dos Trabalhadores sem Terra parece interminável. Cansados de esperar que o governo atenda às suas reivindicações e desiludidos com as soluções oferecidas para as questões de terras localizadas e principalmente para as demandas nacionais, os sem terra entendem que a ocupação é a sua forma de luta mais importante. De modo geral é a partir de sua efetivação que as demais formas de lutas são definidas e utilizadas. Dentre tais pode-se citar; acampamentos provisórios, acampamentos permanentes, marchas pelas rodovias etc. Estas servem para criar fatos políticos e com isso pressionar as autoridades e chamar atenção da sociedade no afã de arregimentar simpatizantes às suas causas. (MITSUE, 2001, p.199/200) Em São Luiz Gonzaga, interdição à entrada de agências bancárias, ocupação do prédio da prefeitura , assim como, interrupção de rodovias já foram instrumentos usados pelo MST, visando alcançar seus objetivos. Em decorrência de suas atividades reivindicatórias o movimento conquistou certos pleitos em prol da sua causa: entre os quais se menciona a concessão da terra por 10 anos, com alternativa de continuar, indefinidamente, de pai para filho, ou comprar a terra do INCRA; PRONAF A com um bônus em torno de 45% do valor do empréstimo conseguido; empréstimo habitação para recuperação de casas e compra de material de construção, pintura etc.. O PRONAF atua, ainda, com linhas de crédito rural, infra-estrutura e serviços aos municípios, assistência técnica e extensão rural, capacitação e pesquisa. As linhas de crédito rural são diferenciadas em custeio e investimentos para a os agricultores familiares classificados em quatro grupos, conforme a renda bruta anual. Através da linha infra-estrutura, o PRONAF financia recursos para recuperação de estradas, aquisição de veículos de transporte da produção, 56 construção de pequenas unidades para armazenamento e comercialização, instalação de unidades comunitárias de agregação de valor à produção, construção de centros comunitários e melhorias no abastecimento de água. Na linha de capacitação existe um programa com 11 temas prioritários (cooperativas de crédito, experiências inovadoras de assistência técnica, uso de tecnologias alternativas, mulheres rurais, escolas com regime de alternância, agroecologia, agências regionais de comercialização, agroindústria familiar rural onde organizações governamentais e não governamentais podem apresentar projetos. (Agroecologia e Desenvolvimento Rural, P. Alegre, v.2, nº3, jul/set. 2001) No entanto, tornam-se intrigante, apesar de haver tantas linhas de políticas públicas à disposição dos pequenos agricultores assentados, estes não acessam, sistematicamente, tais linhas, enquanto a necessidade de recursos está estampada no cenário socioeconômico de cada propriedade. Uma pesquisa aprofundada sobre o tema se faz necessário para esclarecer e extinguir estes entraves. 3 AS CONDIÇÕES DE REPRODUÇÃO DE FAMÍLIAS DO ASSENTAMENTO NOVA PALMA DE SÃO LUIZ GONZAGA Este capítulo aborda as condições que as famílias assentadas enfrentam para conseguirem se reproduzir no interior de uma agricultura que apresenta características socioeconômicas e agroecológicas distintas das suas regiões de origem. Para viabilizar uma compreensão aprofundada da realidade dessas famílias delimitou-se a pesquisa a um dos oito assentamentos localizados no município de São Luiz Gonzaga, o Assentamento Nova Palma, ou Palma, como é popularmente conhecido na região. O procedimento privilegiado para compreender a situação vivenciada pelas famílias foi à observação do pesquisador diretamente no espaço territorial ocupado pelo assentamento, bem como a realização de entrevistas com todas as famílias desse assentamento. O resultado das observações e das entrevistas são reproduzidos a seguir, começando com a caracterização do assentamento e das famílias, dos sistemas de produção que desenvolvem e, por fim, das condições de reprodução das famílias e do assentamento a partir do sistema sócio-produtivo interno e das suas relações no interior da vida socioeconômica do município. 3.1 CARACTERIZAÇÃO DO ASSENTAMENTO NOVA PALMA O assentamento Nova Palma de São Luiz Gonzaga é fruto do Decreto de Desapropriação de 9/12/1999, sob o código SIPRA; RS 0084000. Dista 11,7 Km da Sede Municipal, setor Norte do Município. Possui uma área total de 209,7 hectares que é dividida entre 12 famílias. As famílias constituintes do Assentamento Nova Palma são oriundas dos municípios de Palmeira das Missões, Herval Seco, Três Passos e Trindade do Sul. Todos pequenos agricultores na sua região de origem, filhos de pequenos agricultores, exercendo a atividade de meeiros, proprietários, arrendatários, onde plantavam culturas convencionais, criavam animais de pequeno, médio porte e gado leiteiro. Desde 1999 estas famílias encontram-se assentadas na região, onde 58 tentam, obstinadamente, a inserção integral no meio socioeconômico são-luisense (PDAs- 2001- EMATER). Originárias da região Alto Uruguai, caracterizada por terras dobradas e predomínio de uma agricultura de base familiar, estas famílias assentadas sofreram um impacto cultural no que diz respeito às técnicas de plantação, época de plantio e colheita, novas espécies de cultura, clima, etc. As diferenças também se refletiram nas relações interpessoais daquelas pessoas recém chegadas com aquelas já ha tempos residentes na região. E isto se evidenciou nas dificuldades que as pessoas tinham em desenvolver uma relação espontânea, sem prevenções, em face do estigma “sem-terra” trazidas pelos novos moradores da região. Atualmente as pessoas convivem num ambiente concorde e com relativa solidariedade entre as famílias; participando de cultos religiosos, conselho de pais e mestres, comércio de carreiras, bailes, rodeios etc. As pessoas assentadas, quando interpeladas sobre o desejo de regressarem à terra de origem, são unânimes em responder negativamente, com argumentos do tipo: “agora somos donos da terra”, “somos cidadãos”, “podemos fazer planos de melhores dias”. No Conselho Municipal de Agricultura foram criadas duas cadeiras destinadas aos assentados de reforma agrária, para que façam parte das tomadas de decisões sobre assuntos atinentes ao setor agrícola, mas até o momento não foi logrado êxito quanto às suas participações. 3.2 O PLANO DE DESENVOLVIMENTO PARA O ASSENTAMENTO NOVA PALMA O documento intitulado “Plano de Desenvolvimento Sustentável do Assentamento Palma – 2001”, exarado pela EMATER em 26 de março de 2001, constitui-se no referencial “marco zero” das atividades a serem implementadas nesse assentamento, com finalidade de torná-lo viável, de modo a proporcionar um Nível de Reprodução Social (NRS) às pessoas nele envolvidas. Para tanto foi elaborado um conjunto de ações no propósito de atingir as metas estabelecidas a partir da realização de um diagnóstico situacional da área 59 com a finalidade de verificar as condições ambientais e socioeconômicas para futuras intervenções através de políticas públicas. Para fins desse estudo o diagnóstico situacional foi desdobrado em dois grandes focos: as questões relacionadas ao meio (agroecossistema) e as questões relacionadas à vida socioeconômica (sistema social produtivo) do Assentamento Nova Palma. 3.3 O AGROECOSSISTEMA NO ASSENTAMENTO NOVA PALMA O cenário físico-geográfico do PA Nova Palma é constituído por vários mosaicos de ordem ecológico-ambiental, cujo aproveitamento em termos culturais, deixa transparecer o uso inadequado da terra em várias propriedades. Em vários locais do PA Nova Palma observam-se terras impróprias para uso com lavouras anuais sendo utilizadas para este fim. Associado a práticas de manejo inadequadas, como o cultivo convencional, a implantação de lavouras em áreas impróprias contribui para a intensificação dos processos erosivos aos qual o solo da região já é naturalmente frágil (PRA – PALMA – 2009, COPTEC) A conservação do solo deve ser integral e, para isso, deve haver uma visão bastante ampla ou global das leis e princípios da natureza, para permitir que esta cumpra seus ciclos vitais e se perpetue através das gerações, pois, considerando que o solo é um dos mais importantes componentes do meio ambiente, este faz parte do grande conjunto biológico interdependente (NOLLA, 1982, p. 15) O relevo da área correspondente ao Assentamento Nova Palma é predominantemente plano. As altitudes variam aproximadamente entre 140 e 220 metros, sendo que em apenas 20% da área total a altitude é superior a 200 metros, em locais constituídos de topos de coxilhas. As declividades se distribuem de forma relativamente homogênea pela área do PA Nova Palma, com a predominância de inclinações planas. A maior parte da área apresenta inclinações inferiores a 5%, constituindo pendentes suaves que totalizam 180,5 hectares ou 83% da área total. O restante da área (17% da superfície total) possui inclinação superior a 5%, constituindo-se de áreas com relevo suave ondulado a forte ondulado (PRA- PALMA-2009, COPTEC). 60 Segundo Motta (1950), o clima na região é o Cfa II 2 a, clima subtropical com chuvas todos os meses, planície do vale Uruguai/planalto basáltico inferior (altitudes abaixo de 600 m), temperatura média anual entre 1800 a 1900 mm, com 0 a 50 mm de deficiência de umidade, geadas frequentes no outono/ inverno, podendo ocorrer estiagens na primavera/verão. Estas características climáticas tornam a área preferencial para o cultivo e produção de milho, sorgo, trigo, alfafa, arroz irrigado, cana de açúcar, laranjeira, bergamoteira, forrageiras de clima temperado, bem como também é considerada uma região tolerada para o cultivo de cebola, soja, alho e limoeiro (PDAs – 2001, EMATER) A vegetação dominante é a de campos antrópicos, sendo formados predominante por paspalum notattum (grama forquilha), Aristida pallens (barba de bode) e outras gramíneas secundárias, além da presença de Eryingium sp (caraguatá), Senecio sp (maria-mole) e Baccharis sp (carqueja). Também se observa a presença de matas ciliares ou de galeria formando cordão estreito ao longo dos cursos d’água ou de áreas alagadiças, formadas por várias espécies arbóreas e arbustivas, como: corticeira, maricás, branquilho e angico, conformando as áreas de preservação permanente (PDAs – 2001 – EMATER). A vegetação campestre do PA Nova Palma encontra-se impactada principalmente pela implantação de lavouras. Esta prática implica na supressão permanente de muitas espécies nativas, muitas delas com boa qualidade forrageira. As espécies nativas encontram-se basicamente em beira de estradas e lavouras ou próximo às drenagens. Uma grande ameaça neste PA é a infestação por capimannoni (Eragrostis plana), presente nas estradas, o que facilita sua dispersão. Áreas de regeneração da vegetação campestre também se apresentam super pastejadas, prejudicando o crescimento das plantas, a cobertura do solo e a diversidade florística (PRA-PALMA- 2009, COPTEC). As figuras apresentadas na sequência dão uma idéia do relevo e da vegetação no interior da área do Assentamento Nova Palma em São Luiz Gonzaga. 61 Figura 3: Área de pastagem nativa em regeneração, super-pastejada, em campo úmido PA Palma Fonte: INCRA 2009 Figura 4: Vegetação campestre em drenagem do PA Palma Fonte: INCRA, 2009. De acordo com o Relatório Ambiental do PA Palma (INCRA, 2009), este é um pequeno PA, porém possui interessantes fragmentos florestais que, embora impactados, ainda guardam alguns remanescentes de florestas primárias e no geral encontra-se em estágio avançado de sucessão. É o caso de um fragmento amostrado, no qual existem algumas grandes árvores no sub-boque, como: timbaúva (Enterolobium contortisiliquum), ipê roxo (Tabebuia heptaphylla), canelaamarela (Nectandra lanceolata), canela fedorenta (Nectandra megapotamica), louropardo (Cordia trichotoma) e catiguá vermelho (Trichilia claussenii). Além destas 62 ainda se encontra alguns indivíduos, de menor porte, de espécies já não muito comuns na região devido à sua intensa exploração, como o cedro (Cedrela fissilis). O PA Nova Palma não possui área destinada para Reserva Legal. Para atender ao que determina a legislação vigente deveria ser destinado uma área equivalente a 20% da área total do PA, o que corresponderia aproximadamente 42 hectares, para este fim (PRA- PALMA- 2009, COPTEC). A figura abaixo mostra um fragmento florestal do interior do assentamento. Figura 5: Fragmento florestal em estágio avançado de sucessão em topo de coxilha do PA Palma, município de São Luiz Gonzaga. Fonte: INCRA, 2009 A fauna da região inclui exemplares de lebre, tatu, ema, porco espinho, raposa, graxaim, zorrilho, corujas, gaviões, caturritas, urubus, nutria, pombas saleiras e outras (PDAs – 2001, EMATER). De acordo com o Relatório Ambiental do PA Palma (INCRA, 2009), o aparecimento de espécies de animais é esporádico e passageiro e isso se deve ao fato de o Assentamento não possuir área de reserva legal que possa servir de habitat para os animais silvestres os remanescentes florestais isolados que existem estão localizados próximo às casas (PRA- PALMA – 2009, COPTEC). A área do assentamento é servida por pequenos cursos d’água, formados por nascentes localizadas no seu interior, mas o assentamento no geral é bastante limitado em disponibilidade hídrica (PDAs – 2001, EMATER). A rede de drenagem 63 do PA Nova Palma é formada por vários pequenos cursos d’água que fluem para a sanga da Laranjeira e para o arroio da Palma. Este último margeia a porção norte do PA e encontra o arroio Piraju cerca de 4 km a leste, já fora dos limites do Assentamento. Analisando-se a rede de drenagem do PA, observa-se que todos os cursos d’água apresentam comportamento intermitente, ou seja, sofrem a influência de períodos de estiagem e frequentemente ficam secos. Comportamento idêntico a esse se verifica também com as três nascentes situadas dentro do PA (PRA-PALMA – 2009, COPTEC). 3.4 O CONTEXTO SOCIAL PRODUTIVO NO ASSENTAMENTO NOVA PALMA Em virtude da escassez de recursos o Assentamento Nova Palma vale-se de exíguas instalações para realizações de eventos religiosos e sócio-culturais, configurando-se um quadro que impõe dificuldades para a integração entre os assentados e desses com comunidades vizinhas. Entre as famílias do Assentamento existem membros das comunidades: Católica e Evangélicas (sem sede). As pessoas se unem para lazer, onde todos participam do grupo de bolãozinho, baile, festividades, jogam cartas, snooker e fazem rodeios. Ha necessidade de recursos para ampliar a sede (o terreno doado por um assentado), quadra e/ou ginásio de esportes, praça infantil. No entanto, nenhum movimento no sentido de solucionar ou mitigar esse problema foi realizado, exceto a doação do terreno (PRA-PALMA – 2009, COPTEC). A água consumida pelas pessoas do Assentamento é oriunda de poço artesiano, não sofrendo tratamento antes do consumo, embora seja, aparentemente, de boa qualidade. Existem caixas d’água em todos os lotes, mas como não ha um serviço de assistência sanitária regular, são obrigados consumir a água tal como ela se apresenta, sem levar em consideração os possíveis riscos para a saúde advindos dessa situação. Esta situação perdura até os dias atuais. Soma-se a isto a necessidade de solucionar a visita da unidade móvel de saúde e da viatura do lixo, de forma mais frequente, com a finalidade de atender as demandas do assentamento. 64 Ainda no campo das carências do Assentamento identifica-se a necessidade de prover um conjunto de máquinas e equipamentos, com uso de cunho social, para assistir aos assentados, a implantação de estruturas produtivas e econômicas de caráter coletivo, a conscientização quanto às vantagens do plantio direto e das desvantagens do convencional em relação à conservação do solo e produtividade. Tais carências teriam que ser supridas com o aporte de políticas públicas, gestadas em consonância com os interesses do Estado e do assentamento, contando com a participação de lideranças locais e agentes de instituições oficiais, como INCRA, MDA, EMATER, etc. O diagnóstico em termos das atividades desenvolvidas no Assentamento Nova Palma ressaltou os baixos rendimentos da atividade leiteira, considerada uma das mais importantes fontes de renda para as famílias assentadas. Essa baixa produtividade decorreria, segundo o diagnóstico, da alimentação deficiente, da falta de prevenção e controle sanitário, do mau manejo da criação e do baixo nível genético das matrizes. A meta de produtividade previa passar dos pouco mais de 1.000 litros/ano/vaca para 3.500 litros/ano/vaca/lactação. Para a obtenção das metas almejadas e a desobstrução dos gargalos existentes, considerava-se imprescindível a participação do Estado, por meio de políticas públicas contemplando recursos para a melhoria da matriz genética do rebanho leiteiro, obtenção de pastagens, reservatórios de água, melhorias de solos, assistência sanitária animal, bem como a formação profissional atinente à produção e manejo do leite, assim como o seu processamento e industrialização dos seus derivados. No entanto, esses gargalos perduram tendo em vista não haver uma mobilização persistente, por parte dos assentados e nem interesse por parte do poder executivo em solucionar tais óbices. Pois, sistemática e historicamente, os assentados são relegados, pelo poder público municipal, quando se trata de atender seus interesses. Isso é claramente perceptível quando se agendam reuniões entre ambas as partes e quando, por ocasião da realização do ato, geralmente ha uma justificativa por parte do executivo para não se fazer presente. E isto, só contribui para o tensionamento das relações. Se os assentados não se virem como sujeitos políticos, não tomarem consciência de sua força por meio de movimentos populares emancipatórios, os 65 grupos hegemônicos minoritários ditarão as regras de construção do espaço públicoestatal em seu próprio benefício (CORRÊA, 2002). Brose também chama atenção de que o desenvolvimento local, baseado na agricultura familiar, depende fundamentalmente da intervenção estatal, regulando as assimetrias do mercado. Se deixada à própria sorte frente às forças do mercado, a agricultura familiar se transforma em alvo fácil de monopólios e intermediários que se apropriam do valor agregado da produção (2002, p. 58). 3.5 ANÁLISE TÉCNICA E ECONÔMICA DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO NO ASSENTAMENTO NOVA PALMA DE SÃO LUIZ GONZAGA As 12 unidades de produção do Assentamento Nova Palma pertencem a uma única categoria social de agricultores familiares, cada uma com pequena quantidade de terras, num contexto de amplo domínio da grande propriedade, bem como acesso limitado a meios de produção. Por essas características poderiam ser enquadrados como agricultores familiares descapitalizados, muito próximos da condição de minifundiários. Mesmo assim estas famílias desenvolvem sistemas de produção bastante variados. A produção agrícola contempla o cultivo de grãos, principalmente soja, milho, feijão, além de mandioca. A produção animal abrange a criação de gado de leite conduzida sobre pastagem cultivada (alfafa, aveia, azevém, milheto e tifton). Ha ainda a produção em pequena escala de outras culturas como hortaliças e frutas, bem como a criação de pequenos animais, como aves, suínos e ovinos, além de gado de corte, em sua maioria destinados para o consumo da própria família. A criação de cavalos é feita para transporte e trabalho. O sistema de cultivo do solo é o convencional, que promove o revolvimento do solo para a implantação das lavouras. O plantio direto é utilizado principalmente para o cultivo da soja. Como os assentados não dispõem de máquinas e equipamentos, o serviço envolvendo preparo de solo, plantio, tratamentos e colheita é praticamente todo contratado de outros agricultores de fora do assentamento. Quanto aos insumos, são utilizadas sementes comuns nas pastagens e sementes melhoradas no cultivo da soja. Quanto à preferência das técnicas 66 utilizadas o plantio direto representa 10% das áreas cultivadas, enquanto o convencional 90% (PRA-2009- Palma, Coptec). 3.5.1 Tipos de Sistemas de Produção no Assentamento Nova Palma Diferentes combinações de atividades, dando origem a sistemas de produção distintos, podem gerar um processo de diferenciação social entre agricultores de uma mesma categoria social. Segundo Mazoyer e Roudart (2001), o desenvolvimento de um sistema agrário resulta da dinâmica das suas unidades de Produção. Segundo esses autores, ha desenvolvimento geral quando todos os tipos de explorações progridem, adquirindo novos meios de produção, desenvolvendo suas atividades, aumentando suas dimensões econômicas e os seus produtos. O desenvolvimento é desigual, quando algumas unidades progridem mais depressa do que as outras. O processo de desenvolvimento também pode ser contraditório, e isso ocorre quando algumas unidades progridem enquanto outras unidades estão em crise e regridem. A crise de um sistema agrário é geral quando todos os tipos de unidades de produção regridem e tendem desaparecer. A diferenciação social entre os agricultores de uma região decorre principalmente da variação agroecológica existente no interior da mesma região e da situação socioeconômica diferenciada entre seus componentes. Os estágios evolutivos em que se encontram os agricultores resultam de uma série de fatores influentes que vão desde o acesso à terra, aos recursos naturais, à informação, aos serviços públicos, ao mercado, ao crédito e à mão-de-obra disponível. A capacidade dos diferentes tipos de agricultores em otimizar os recursos disponíveis fazem surgir os diferentes sistemas de produção. Segundo Garcia Filho (1999), em estabelecimentos capitalistas se busca otimizar a taxa de lucro do capital investido, já nas unidades familiares, os agricultores buscam otimizar a renda agrícola, remunerando a mão-de-obra por ativo familiar. O modo de exploração do agroecosistema a ser adotado na unidade de produção, por sua vez, depende também da disponibilidade dos meios de produção. Se o recurso mais limitante for à mão-de-obra, muito provavelmente os agricultores adotarão sistemas de produção mais extensivos. Ao contrário, se o fator limitante for área disponível, os agricultores 67 tenderão a adotar sistemas de produção mais intensivos, os quais geralmente exigem maior uso de mão-de-obra. Por outro lado, quando as limitações vão além dos meios de produção disponíveis, em situações muito adversas, os agricultores procuram priorizar a produção para garantir o autoconsumo da família. No interior do Assentamento Palma são perceptíveis certos aspectos comuns entre todos os agentes: a totalidade dos assentados são agricultores familiares, consequentemente, possuem pouca terra para produção, são carentes em termos de recursos financeiros para a implantação de novas culturas, novas práticas de produção e meio de transporte, etc. O que os diferenciam são, basicamente, seus sistemas de produção. O sistema social produtivo, segundo Mazoyer e Roudart (2001), é composto por meios humanos (força de trabalho, saber e saber fazer), por meios inertes (instrumentos e equipamentos produtivos) de que a população agrícola dispõe para desenvolver as atividades de renovação e de exploração da fertilidade do ecossistema cultivado, a fim da satisfazer diretamente (por autoconsumo) ou indiretamente (pelas trocas) as suas próprias necessidades. Para avaliar a capacidade de reprodução dos sistemas de produção e dos agricultores que os desenvolvem é fundamental que se tenham informações sobre o seu desempenho econômico. Por maior que seja a relação de amor pela terra, as pessoas precisam retirar dela os recursos materiais que possam satisfazer suas necessidades e, com isso, poderem permanecer no campo. A análise econômica dos sistemas de produção, de acordo com Silva Neto e Basso (2005), é realizada por meio da modelagem do valor agregado e da renda. O objetivo da análise, segundo os autores, é avaliar a capacidade de geração de riquezas para a sociedade (medida pelo Valor Agregado) e pela capacidade de reprodução social dos agricultores (medida pela Renda) de cada sistema de produção. O valor agregado de um sistema de produção é definido como: VA = PB – CI – D Onde: VA = valor agregado PB = valor da produção (produção bruta) 68 CI = custo intermediário (consumo de bens e serviços durante a produção) D = depreciação de equipamentos e instalações A partir da distribuição do valor agregado pode-se calcular, para cada sistema de produção, a remuneração dos diferentes agentes que participaram da produção, incluindo a renda dos agricultores que é definida como: RA = VA – J – S – T – I Onde RA = renda do agricultor VA = valor agregado J= Juros pagos aos bancos (ou outro agente financeiro) S= salários pagos a trabalhadores eventuais ou permanentes T= arrendamentos pagos aos proprietários da terra I= impostos taxas pagas ao Estado A partir do VA e da RA produzidos em cada sistema de produção são elaborados modelos lineares que descrevem a variação do resultado econômico (valor agregado ou renda) global dos sistemas de produção em relação à superfície agrícola útil (SAU) da unidade de produção. A partir dos modelos de renda pode-se facilmente deduzir a superfície agrícola útil mínima para que a unidade de produção possa manter as atividades agropecuárias, assegurando a reprodução social (NRS) do tipo de agricultor em questão. Tal superfície depende dos coeficientes de inclinação da reta (“a”) e da sua intercepção com a ordenada (“b”), ou seja: RA/ UTf = NRS = a. SAU/UTf – b SAU/UTf = ( NRS + b)/a Assim, quanto maior o capital fixo por pessoa necessário para implantar o sistema de produção (coeficiente b) e menor a contribuição marginal em relação à área (coeficiente a), maior será a superfície agrícola por pessoa para que cada 69 trabalhador da família possa receber uma renda suficiente para a sua manutenção na atividade agropecuária. A observação feita no Assentamento Nova Palma e as entrevistas com as 12 famílias permitiram a identificação de quatro formas de combinação de atividades e estruturação do sistema de Leite/Grãos/Feira/Subsistência; produção Tipo dos assentados, a saber: Grãos/Mandioca/Subsistência; Tipo Tipo Grãos/Leite/Subsistência e Tipo Grãos/Leite/Suínos/Subsistência. a) Tipo Leite/Grãos/Feira/Subsistência Este tipo de agricultor assentado possui uma área total de aproximadamente 15 hectares, praticamente toda ela utilizada para atividades produtivas. Dispõe em torno de 2,2 unidades de trabalho de membros da própria família e os meios de produção envolvem um conjunto de instalações que inclui 1 galpão de alvenaria 12m x 8m, 1 galinheiro de madeira 6m x5m, 1 sala de ordenha 5m x 5m, 1 pocilga de madeira 4m x 5m. Para o transporte atinente às atividades, especialmente relacionadas à feira, vale-se de 1 caminhonete Belina e 1 carroça de tração bovina. Não possui equipamentos próprios e as operações de preparo da terra, plantio, tratamentos culturais e colheita são feitas por contratação de serviços de trator, máquina de pulverizar e colheitadeira de visinhos. O sistema de produção é organizado em função do uso da terra no período de verão e de inverno. No verão são plantados 10 ha de soja, 2 ha de milho e o restante da área é destinado para potreiro. A produção de soja (320 sacas) é vendida na cooperativa. A produção anual de milho é 180 sacas, das quais uma parte é comercializada (90 sacas) e outra é destinada ao consumo ao familiar (6 sacas) e para consumo dos animais (84 sacas). A produção de leite acontece ao longo de todo o ano e para a alimentação dos animais os 12 hectares cultivados com grãos no verão são cultivados com pastagens no período de inverno. Um rebanho de 12 vacas adultas (2 holandesas, 4 jerseys e 6 mistas) gera uma produção anual de leite de aproximadamente 35.800 litros, dos quais em torno de 30.000 são vendidos na cooperativa, 2.560 litros são vendidos in natura na feira, 2.150 litros são transformados em queijo os quais também são vendidos na feira e cerca de 1.000 litros são destinados à subsistência da família. Na feira ainda são 70 comercializados anualmente em torno de 185 dúzias de ovos, 185 kg de queijo, 630 kg de carne suína, 390 kg de carne de galinha e 230 kg de panificação (pães, cucas e bolachas). Além do leite a produção para subsistência envolve ainda 72 dúzias de ovos, 25 kg de queijo, 80 kg de carne de galinha, 70 kg de carne suína e 135 kg de produtos de panificação. Este sistema de produção gera uma renda anual de aproximadamente R$ 11.250,00 para cada membro da família que trabalha no assentamento, o que corresponde a 1,5 salários mínimos nacionais por mês, mais o 13o salário. O cálculo econômico completo deste tipo de sistema de produção presente no Assentamento Palma de São Luiz Gonzaga pode ser conferido no Anexo 1 no final do trabalho. A contribuição de cada atividade na formação da renda de cada unidade de trabalho familiar deste tipo pode ser observada na figura a seguir. Figura 6. Contribuição das atividades para a formação da renda do Tipo de Sistema de produção Leite/Grãos/Feira/Subsistência – Assentamento Nova Palma, São Luiz Gonzaga – 2010/2011. Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa. Considerou-se que o Nível de Reprodução Social (NRS) para os trabalhadores familiares assentados seria equivalente ao salário mínimo nacional, supondo que se o sistema de produção no assentamento gerasse uma renda anual inferior a R$ 7.085,00 (13 salários mínimos no ano) haveria a probabilidade de pelo menos parte dessa força de trabalho buscar outras fontes de renda fora do assentamento e, possivelmente, fora da agricultura. No caso, a renda conseguida é 71 maior que o NRS e isso seria um indicativo de que esse sistema de produção poderia garantir a reprodução do trabalho familiar envolvido. Trata-se de um sistema bastante diversificado e vem das atividades diversificadas, considerando-se a especialização da agricultura são-luizense na produção de grãos, a maior contribuição de geração de renda por unidade de área, começando pela atividade Feira, altamente intensiva em trabalho, mas pouco exigente em área de terra e meios de produção, passando pela produção de Subsistência e de Leite. A produção comercial de grãos agrega menos renda por área e, dentre esses, a soja é que apresenta a menor contribuição. b) Tipo Grãos/Leite/Suínos/Ovos/Subsistência Este tipo de sistema de produção igualmente se desenvolve em estabelecimentos com aproximadamente 15 hectares. A mão de obra é totalmente familiar e é constituída pelo casal, já que os filhos são ainda muito pequenos. As instalações incluem um galpão e estábulo de madeira de 5m x 8m, um galinheiro de madeira de 3m x 11m e uma pocilga de madeira de 4m x 5m. Os instrumentos de trabalho incluem 1 arado de tração animal e uma máquina de plantar manual. O sistema de produção inclui o cultivo de milho para venda (5 hectares). As atividades animais são as mais representativas deste sistema de produção, sendo destinados 8,9 hectares para a atividade leite, 0,6 hectares de milho para a atividade suínos, além de 0,5 hectares para atividades de subsistência que inclui uma importante produção de ovos, cujos excedentes não consumidos pela família são vendidos complementando a renda em dinheiro do sistema de produção. Neste sistema de produção o preparo do solo é feito com a utilização de arado tração animal, para o que dispõe de uma junta de bois. O rebanho: bovino de leite é constituído de 1 vaca holandesa, 5 vacas jersey, 3 vacas mistas. Como subproduto da produção de leite este sistema inclui a engorda de terneiros que são transformados em carne para autoconsumo e também para venda de acordo com as necessidades de injetar recursos para a manutenção da unidade de produção. A atividade suinocultura inclui 2 matrizes da raça duroc, com uma média de 9 suínos terminados/ano. Para a produção de ovos o sistema de produção conta com aproximadamente 80 galinhas. A superfície agrícola útil é de 15 hectares, dos quais 9 são de uso permanente (6 ha de potreiro e 2,5 ha de cana-de-açúcar, ambas destinadas para a 72 bovinocultura de leite, e 0,5 ha destinados para culturas de subsistência). Os 6 hectares restantes são cultivados com milho no verão (5 ha destinados para a venda, 0,4 ha para o rebanho leiteiro e 0,6 ha para os suínos). No inverno essa mesma área é cultivada com pastagem para o rebanho leiteiro. A produção anual destinada ao comércio envolve 250 sacas de milho em grão, 13.500 litros de leite, 1.500 kg de carne suína e 470 dúzias de ovos. A produção destinada à subsistência da família inclui 765 litros de leite, 380 kg de carne suína, 85 kg de carne de galinha, 120 kg de carne bovina e 85 dúzias de ovos. Este sistema de produção gera uma renda líquida média anual de R$ 9.380,00 para cada membro da família que trabalha na unidade de produção, renda esta que corresponde a aproximadamente 1,3 salários mínimos nacionais ao longo dos 12 meses mais o 13o salário. O cálculo econômico completo deste tipo de sistema de produção presente no Assentamento Palma de São Luiz Gonzaga pode ser conferido no Anexo 2 no final do trabalho. A contribuição de cada atividade na formação da renda de cada unidade de trabalho familiar deste tipo pode ser observada na figura a seguir. Figura 7. Contribuição das atividades para a formação da renda do Tipo de Sistema de produção Grãos/Leite/Suínos/Ovos/Subsistência – Assentamento Nova Palma, São Luiz Gonzaga – 2010/2011. Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa. Como se pode observar na figura, trata-se de um sistema de produção bastante diversificado que têm nas produções animais as maiores margens de contribuição de geração de renda por unidade de área, com destaque para suínos e 73 ovos, além da subsistência. A bovinocultura de leite neste sistema de produção é pouco intensiva, com rendimentos médios de 5 litros diários por animal, desenvolvendo-se basicamente a partir de campo nativo (potreiro) e pasto permanente (cana). A atividade milho comercial é a que menos agrega renda por unidade de área. No geral, entretanto, este sistema de produção produz uma renda um pouco superior a um salário mínimo, tomado como referência do Nível de Reprodução Social para os tipos de agricultores assentados nesta região de São Luiz Gonzaga. c) Tipo Grãos/Mandioca/Subsistência Este é um sistema de produção desenvolvido por famílias assentadas que, como as demais, também possuem entre 15 e 17 hectares de área total. Diferente das demais famílias, no entanto, estas não incluem produções animais para fins comerciais, o que faz com que a sua área útil de exploração seja, em média, menor que nos demais sistemas de produção, pois a parte não apropriada para culturas anuais que, nos demais sistemas, são naturalmente destinados para potreiro, neste sistema de produção permanece como área inaproveitável para fins produtivos (área de mato, capão, banhado). Este sistema de produção baseia-se na agricultura dominante da região centrado na produção de grãos para comércio, com a diferença de ser desenvolvido em escala muito menor e por agricultores com muito pouca disponibilidade de meios de produção. De uma maneira geral as unidades de produção contam com a disponibilidade de mão-de-obra de 2 pessoas adultas. As instalações incluem um galpão de madeira de 10m x 8 m e 1 galpão de alvenaria de 9m x 8m. Estes agricultores também não possuem máquinas e equipamentos para a mecanização, dependendo da contratação de serviços de agricultores da vizinhança para preparar o solo, plantar, fazer os tratamentos culturais e colher as culturas de soja e milho. O trabalho familiar é mais intenso nas atividades de subsistência que apresenta um grande destaque na composição do sistema de produção, com destaque para a criação de animais para consumo (suínos, bovinos para leire e carne), bem como para pomar, horta e uma significativa produção de mandioca, parte da qual é comercializada. As produções anuais envolvem apenas culturas de verão, com destaque para a soja (7 ha) e milho para venda (1 ha). Um hectare de milho é cultivado para o 74 consumo dos animais que fornecem produtos de subsistência para a família. A área de subsistência inclui mais 3 hectares, dos quais uma parte é destinada para o cultivo da mandioca (0,5 ha), parte considerável dela destinada para a venda e o restante é consumida pelos animais e pela própria família.. As vendas incluem em torno de 200 sacas de soja, 40 sacas de milho e 25.000 kg de mandioca. A produção destinada à subsistência da família é farta e inclui 1.400 litros de leite, 500 kg de mandioca, 500 kg de carne bovina, 500 kg de carne suína, além de frutas e verduras. Este sistema de produção gera uma renda líquida média anual de R$ 7.130,00 para cada membro da família que trabalha na unidade de produção, renda esta que corresponde a aproximadamente um salário mínimo nacional ao longo dos 12 meses mais o 13o salário. O cálculo econômico completo deste tipo de sistema de produção presente no Assentamento Palma de São Luiz Gonzaga pode ser conferido no Anexo 3 no final do trabalho. A contribuição de cada atividade na formação da renda de cada unidade de trabalho familiar deste tipo pode ser observada na figura a seguir. Figura 8. Contribuição das atividades para a formação da renda do Tipo de Sistema de produção Grãos/Mandioca/Subsistência – Assentamento Nova Palma, São Luiz Gonzaga – 2010/2011. Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa. Pode-se observar na figura a baixa capacidade de agregação de renda por unidade de área do principal subsistema de produção que envolve a produção de grãos (soja e milho) para comércio, enquanto que as atividades marginais (mandioca 75 para venda e subsistência) apresentam uma grande contribuição de renda, apesar da pequena área que ocupam no sistema de produção. No geral o sistema de produção garante uma renda aproximada de um salário mínimo para cada unidade de trabalho familiar envolvida com as atividades. d) Tipo Leite/ Grãos/Subsistência Este sistema de produção tem o leite como principal atividade produtiva aliada a uma produção comercial de milho, além da subsistência. De uma área útil de 15,5 hectares, 9,5 são destinados para a pecuária de leite, 5,5 são cultivados com milho para comércio e 0,5 são utilizados para produções destinadas à subsistência da família. O rebanho leiteiro é constituído por 8 vacas mistas, 1 novilha, 6 terneiras, 1 touro e 1 terneiro. Dos 9,5 hectares destinados ao gado de leite, 6,5 ha são potreiro, 2 ha são cultivados com milho para as vacas e 1 ha é cultivado mandioca para os animais. No período de inverno 5,5 ha são plantados com azevém. A produção de subsistência envolve leite, suínos, ovos, galinhas, frutas e hortaliças diversas. As instalações utilizadas pelo sistema de produção envolvem 1 galpão de madeira 6m x 7m. As máquinas e equipamentos incluem 1 trilhadeira com motor, 1 carroça e 1 arado de tração animal. Para a tração da carroça e do arado conta com uma junta de bois. Para dar conta das atividades desenvolvidas o sistema de produção conta com 2 unidades de trabalho familiar. A produção média comercializada inclui 275 sacas de milho grão e cerca de 21.600 litros de leite. A produção para a subsistência inclui 600 litros de leite, 80 dúzias de ovos, 500 kg de mandioca, 30 kg de carne de galinha, 230 kg de carne suína, mais frutas e hortaliças. Este sistema de produção gera uma renda líquida média anual de R$ 6.000,00 para cada membro da família que trabalha na unidade de produção, renda esta que corresponde a pouco menos (0,85) de um salário mínimo nacional ao longo dos 12 meses mais o 13o salário. O cálculo econômico completo deste tipo de sistema de produção presente no Assentamento Palma de São Luiz Gonzaga pode ser conferido no Anexo 4 no final do trabalho. A contribuição de cada atividade na formação da renda de cada unidade de trabalho familiar deste tipo pode ser observada na figura a seguir. 76 Figura 9. Contribuição das atividades para a formação da renda do Tipo de Sistema de produção Grãos/Leite/Subsistência – Assentamento Nova Palma, São Luiz Gonzaga – 2010/2011. Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa. Além da subsistência, que apresenta a maior contribuição para a geração de renda por unidade de área, a produção de leite é a atividade mais importante do sistema de produção. A composição do rebanho já evidencia a possibilidade de aumentar o número de vacas em produção, sem necessidade de aquisição de novos animais. Em um ou dois anos o rebanho pode chegar a 12 vacas pela simples incorporação de novilhas. Mesmo que para isso haja a necessidade de ampliar a produção de milho para o consumo animal, com a consequente diminuição da área destinada para a produção de milho comercial, essa possível alteração no sistema de produção poderia elevar a renda média por pessoa há algo muito próximo de um salário mínimo, sem necessidade de grandes investimentos. O desempenho econômico dos quatro sistemas de produção mais representativos das doze famílias do Assentamento Palma pode ser visualizado na figura a seguir. 77 Figura 10. Capacidade de geração de renda por unidade de trabalho familiar dos quatro principais sistemas de produção desenvolvidos pelas famílias do Assentamento Nova Palma, São Luiz Gonzaga – 2010/2011. Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa. O gráfico representado na figura acima evidencia muito da dinâmica socioeconômica presente no Assentamento Palma de São Luiz Gonzaga. A primeira constatação é de que a reprodução social dos sistemas produtivos e das famílias que os desenvolvem não parece ameaçada, apesar da hostilidade do contexto ambiental, social, político e econômico do seu entorno em que estão inseridos. Outra questão que se observa da figura é que a maioria das famílias desenvolve sistemas produtivos contando com uma superfície agrícola útil que fica próxima de 15 hectares, contando praticamente com a força de trabalho do casal e, em raras ocasiões, com o trabalho parcial de um filho. A maioria dos filhos desses casais são ainda crianças. Por consequência, a área média disponível por unidade de trabalho fica entre 6 a 8 hectares. 78 Uma questão que igualmente aproxima muito os sistemas de produção relaciona-se o baixo nível de capitalização das famílias, principalmente em relação ao acesso a máquinas e equipamentos. Isso pode ser observado no gráfico pelo baixo valor dos gastos de estrutura fixa (coeficiente b que cruza o eixo y). Para a produção de grãos para o comércio praticamente todos contratam serviços de máquinas de agricultores vizinhos, o que significa que uma parte do excedente produzido no assentamento é transferida para outros agricultores mais capitalizados da região. Para produzir atividades que agreguem mais renda por área os assentados contam basicamente com a própria força de trabalho, que em média pode chegar a mais de 10 horas por dia, e alguns contam com alguns instrumentos de tração animal para o preparo do solo. No quadro da agricultura regional muito provavelmente a realidade do Assentamento deve ser vista como um bolsão de pobreza rural. A possibilidade de gerar uma renda próxima ou até mesmo superior a um salário mínimo e, o que é mais importante, em terra própria, confrontada com a situação da maioria dessas famílias em passado recente, deve representar algo a ser comemorado pelos integrantes do assentamento. 3.6 FATORES DECISIVOS PARA O ATUAL ESTADO DO ASSENTAMENTO NOVA PALMA Em primeira instância, houve um conjunto de intenções a ser implementado com a finalidade de, efetivamente, alcançar as metas acordadas, entre, assentados e a equipe técnica de assistência; o qual no decurso da história do assentamento foi, substancialmente, modificado em função das condições climáticas do local e dos resultados obtidos pelos produtores já instalados, na região. Recaindo, com isso, a preferência pelas culturas praticadas por latifundiários regionais (soja, trigo, etc.). A falta de lideranças capazes de compreenderem com profundidade as reais proposições e finalidades do processo de assentamentos, o desvio de recursos alocados e, empregados em atividades e ou finalidades para as quais não se destinam, são realmente, questões a serem resolvidas, e isto requer providências urgentes, por mais que os resultados só aparecerão no médio e longo prazo. 79 Isso sugere uma rígida fiscalização quanto ao destino dos recursos alocados, assim como um programa de esclarecimento das finalidades do processo de assentamentos e, por fim; o desenvolvimento do capital social embasado na ética, na lealdade, no espírito cooperativo, no desprendimento e honestidade. James Coleman entende o capital social como a possibilidade de facilitar a ação de diferentes tipos de atores sociais: Assim como outras formas de capital, o capital social é produtivo, possibilitando a realização de certos objetivos que seriam inalcançáveis se ele não existisse [...]. Por exemplo, um grupo cujos membros demonstrem confiabilidade e que depositem ampla confiança uns nos outros é capaz de realizar muito mais do que outro grupo que careça de confiabilidade e confiança [...]. Numa comunidade rural [...] onde um agricultor ajuda o outro a enfardar o seu feno e onde os implementos agrícolas são reciprocamente emprestados, o capital social permite a cada agricultor realizar o seu trabalho com menos capital físico sob a forma de utensílios e equipamento. (COLEMAN, 1990, p. 302, 304, 307, apud PUTNAN, 2000ª, p.177; BAQUERO et al, p. 40, 2008) A maioria dos assentados são oriundos de relações patrões / empregados e ao se depararem com a oportunidade de decidir seus destinos, encontram dificuldades para assumir sua própria história. Uma política de assistência, mais efetiva, deve ser desencadeada com o fito de dar-lhes suporte no sentido de superar tais dificuldades. A ligação entre liberdade individual e realização de desenvolvimento social vai muito além da relação constitutiva – por mais importante que ela seja. O que as pessoas conseguem positivamente realizar é influenciado por oportunidades econômicas, liberdades políticas, poderes sociais e por condições habilitadoras como boa saúde, educação básica e incentivo e aperfeiçoamento de iniciativas. (SEN, 2004, p. 52) As disposições institucionais que proporcionam essas oportunidades são ainda influenciadas pelo exercício das liberdades das pessoas, mediante a liberdade para participar da escolha social e da tomadas de decisões públicas que impelem o progresso dessas oportunidades. (Idem) A política partidária dos latifundiários exerce forte influência sobre o comportamento dos assentados, quanto à escolha dos representantes de seus 80 interesses na Câmara Municipal. Isto se deve ao abandono dos assentados, por parte do MST, que os deixou a mercê dos interesses dos latifundiários, após assentá-los. E nisso existe um forte paradoxo; quando necessário o MST recruta elementos do assentamento Nova Palma para enfrentar o latifúndio em outras regiões do estado, mas estes produtores na suas regiões de assentamentos são eleitores de candidatos que defendem os interesses do latifúndio. Por outro lado, os latifundiários, sistematicamente, declaram-se e, efetivamente são, frontalmente, contra os assentados e os seus interesses, mas não existam em procurá-los por ocasião das campanhas eleitorais, cooptando-os a votarem em candidatos comprometidos com o latifúndio. Uma vez eleitos, sabidamente, jamais defenderão os interesses dos assentados. Desta forma os produtores assentados servem de suporte eleitoral para uma política antagônica aos seus interesses. Apesar de haver um consenso aparente, não se cumpre os compromissos acordados entre produtores familiares / assistência técnica, por parte dos produtores. Há falta de observação no que diz respeito aos conteúdos dos planejamentos. A partir de 2003, não houve mais a elaboração de cronogramas de atividades, que propiciassem a continuidade das ações capazes de levar a bom termo a consecução das metas estabelecidas. As entrevistas realizadas com os agricultores assentados permitem verificar o estado de satisfação em que se encontram. Confrontando as situações socioeconômicas anteriores e as atuais, nas quais foram ou estão envolvidos, afirmam haver uma melhoria substancial nos seus padrões de vida. Em suas projeções em relação à realidade atual, a permanência no meio rural, é uma manifestação constante. No entanto, advertem; que as políticas públicas do modo como estão sendo propostas e elaboradas, atualmente, mais prejudicam, do que beneficiam. Seriam necessárias, segundo eles, medidas mais ágeis e específicas que atendessem seus interesses, precisamente, quando por ocasião de crises atinentes ao mercado ou, calamidades de ordem climática. Com essas medidas, segundo suas compreensões, o desenvolvimento, no meio rural, assumiria um ritmo mais acelerado, no assentamento. 81 Apesar da alegada falta de assistência dos órgãos oficiais, são unânimes em afirmar que o processo de assentamento não deve ser interrompido. Mas pelo contrário, deve ser aprimorado e aprofundado. Se para isto forem necessárias as suas participações, bastará uma simples ordem de convocação e a classe estará mobilizada. Pois a mobilização faz parte das suas vidas de luta, assim como o convencimento dos filhos permanecerem, no campo, através de assentamentos. Entendem que a maneira como foram realizadas as ações deixaram a desejar no que tange a articulação, entre as instituições envolvidas, prejudicando assim a sequência racional dos procedimentos operacionais, invertendo, retardando ou suprimindo etapas do projeto, acarretando com isso prejuízos de ordem técnica ou financeira para os produtores assentados Finalmente, ao se confrontar os PDA’s – 2001 – EMATER e o PRA- Nova Palma – 2009 – COPTEC, junto às informações obtidas dos assentados conclui-se que houve uma gama de realizações que contribuem para a melhoria das condições de vida destas pessoas. Dentre tais realizações cita-se a oportunidade de geração de renda e, em função deste fato a “inclusão” das pessoas envolvidas no processo econômico local, ao passo que também se tornam produtores e também consumidores de bens de consumo, contribuindo de forma efetiva para o processo de desenvolvimento da sociedade local. Causando, assim, uma melhora da auto-estima, das pessoas que até então eram, simplesmente, excluídas. Embora o projeto de assentamento no PA Nova Palma não tenha alcançado, plenamente, os objetivos, originalmente, propostos pelos motivos, anteriormente, assinalados, ele se reveste de uma importância considerável. Pois, ao reter, no meio rural, 12 famílias, presta uma contribuição ao campo social de valor inestimável. E, isso diz respeito ao fato de salvaguardar as pessoas envolvidas no projeto, de se tornarem presas das mazelas sociais, tais como; miséria absoluta, prostituição e outros tipos de delinquência existentes, principalmente, no meio urbano. Ao optar por cultivar o solo de suas propriedades nos moldes dos grandes produtores, da região, os pequenos produtores, assentados, perdem as suas características peculiares. E, ao passo que isto acontece, observa-se o retrocesso de um modelo que bem poderia dinamizar, mais vigorosamente, a produção de 82 alimentos, de forma mais diversificada, para a sociedade. E, também, assegurar para esse tipo de produtores condições dignas de vida. Mas, com isso configura-se a absorção gradual, do sistema de produção, pequena propriedade, pela atividade latifundiária, dominante na região. No entanto, são muitas os fatores que compelem os assentados a essa tomada de decisão. Segundo Denardi et al. (2002); nas últimas décadas só foram criadas políticas agrícolas, pois, a política agrária foi sempre marginal ou inexistente. Quanto às políticas agrícolas três pontos devem ser destacados: a) a política agrícola brasileira, sempre foi decidida conforme os interesses dos empresários do agribusiness; b) nos anos 80 e 90, as políticas setoriais, inclusive a política agrícola, perderam importância e cederam espaço para as políticas macroeconômicas; c) nos anos 90, passou-se a atribuir novos papéis para a agricultura e o meio rural, com destaque para a geração de emprego e a preservação ambiental. Consequentemente, em face dos fatos acima mencionados observa-se a implantação de um processo de urbanização, do meio rural, criando oportunidades de emprego e o aumento das agroindústrias, agregação de valores aos produtos, que também abrangem o espaço da agricultura patronal. Na agricultura regional/local, porém, esse procedimento, ainda, não se faz sentir e, consequentemente, no Assentamento Nova Palma, não se pratica algo nesse sentido. (ib idem) Outro aspecto a ser considerado em relação à tomada de decisão dos pequenos produtores, e, em especial os assentados, é a falta de organização e força para influenciar as instituições governamentais que formulam e efetivam as políticas agrícolas, a ponto de atender os pleitos relativos aos seus interesses. E, isto fica evidenciado na queda de braço travada entre órgãos governamentais, responsáveis pela formulação de políticas públicas para os pequenos produtores familiares, mas que ainda não conseguiram resolver essa questão. (ib idem) Segundo Denardi et al, se de um lado, o Ministério do Desenvolvimento Agrário, setores do BNDES e do IPEA, pretendem consagrar o PRONAF como uma efetiva política de desenvolvimento rural, dando-lhe importância e magnitude que o caso requer, do outro; O Ministério da Fazenda e da Agricultura vêem o PRONAF como uma simples política social, que visa, tão somente, mitigar os efeitos 83 avassaladores da marginalização e exclusão dos pequenos agricultores sem condições reais de inclusão e competição nos mercados globalizados. Não resta a menor dúvida de que o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) é a primeira política pública formulada, especialmente, em favor dos pequenos produtores familiares. Apesar de já ter, desde sua implantação, proporcionado o acesso ao crédito de custeio a um número expressivo de pequenos agricultores familiares, ainda não atingiu o cerne da questão. Pois, financia-se o custeio de produtos, sistemas e pacotes tecnológicos tradicionais. No entanto, faltam créditos para investimentos nas mudanças de sistemas de produção, para reconversão produtiva e para atividades não agrícolas no meio rural. Não obstantes os gargalos já mencionados, a estrutura bancária, dificilmente, financia sistemas de produção diversificados e sustentáveis ou produtos orgânicos diferenciados. Desta forma, enquanto os agricultores familiares estiverem à mercê da estrutura bancária, tal como ela se comporta diante dos pequenos produtores, pouco se avançará em termos de crédito para esse segmento de produtores. Reportando-se, novamente, ao caso regional/local, e especialmente ao Assentamento Nova Palma, pode-se constatar que a rigidez do sistema bancário, as limitações das políticas públicas, em termos da abrangência e as dissonâncias, entre o que pensam as autoridades de Brasília e o que realmente acontece na agricultura brasileira, criam um cenário com características latifundiárias, extremamente, prejudicial ao assentamento. Diante da realidade estabelecida por essa gama de externalidades negativas, existem várias barreiras que precisam ser rompidas, para que haja uma reversão neste estado de coisas. Políticas públicas são necessárias, no sentido de mudar, por parte da rede bancária oficial, o tratamento dispensado aos pequenos produtores familiares. E, isto sugere a tentativa de modificar o crédito rural, qualificando-o, contando para isso com o concurso de instituições de pesquisa, universidades, extensão rural, assistência técnica e outras organizações afins. Também se fazem necessários a difusão e implementação de experiências de microcrédito e crédito solidário, entre os 84 produtores, para que estes consigam realizar operações financeiras com custos menores. Um esforço concentrado deve ser realizado com a finalidade de proporcionar aos pequenos produtores o aprendizado dos princípios agroecológicos, as conveniências da diversificação das suas produções, de maneira sustentável, o aproveitamento de nichos de comercialização surgidos das exigências dos consumidores. Para isto, é necessário contar com a participação de serviços de pesquisa, assistência técnica e extensão rural compostos por profissionais com perfis que vão além da capacidade de difundir tecnologias para produção de culturas tradicionais. E, isto implica formação de agentes do desenvolvimento com atuação e habilidades mais amplas. A instituição de um arranjo institucional, composto por agentes da sociedade civil, poder público, mercado e os produtores familiares significa a criação de um instrumento capaz de auxiliar na solução dos problemas enfrentados pelos pequenos produtores. É fundamental que desta relação surjam, deliberações, propostas e acordos que no médio ou longo prazo criem as condições, através do potencial produtivo, para a solução dos gargalos existentes entre os pequenos produtores. CONSIDERAÇÕES FINAIS Na realização deste trabalho de pesquisa, tendo como foco a inserção dos assentados do Assentamento Nova Palma, na dinâmica da agricultura do município de são Luiz Gonzaga, adotou-se a metodologia “análise diagnóstico dos sistemas agrários” por entender sê-lo a forma mais adequada para os estudos dos problemas das situações agrárias. É importante mencionar que a metodologia aplicada, associada a entrevistas, possibilitou evidenciar várias situações socioeconômicas vividas pelos agricultores assentados, quer sejam, no tempo e no espaço. É notório, em primeiro plano, as dificuldades encontradas pelos agricultores assentados, em se tornarem agentes da sua própria história, carecendo, via de regra, de iniciativas governamentais ou de organizações da sociedade civil “ONGs”, para a solução de seus problemas. Com isso deixam de desenvolver o espírito de cidadania, tornando-se meros “beneficiários” de ações assistencialistas, clientelistas, paternalistas, etc. Também apresentam pouca disposição para engajamento em formas de cooperação voluntária para resolver problemas de seus interesses, assim como, local e, nenhuma vocação para o envolvimento em projetos comunitários. Com isto evidencia-se o baixo nível de capital social dos assentados. O contexto histórico permite identificar os fatores que influenciaram, definitivamente, na formação do sistema agrário são-luisense , assim como, nas formas de exploração dos agroecossistemas, nos modos socioeconômicos de ocupação da terra e a formação das categorias de produtores rurais e seus sistemas de produção. 86 Com isso, efetivamente, plasmou-se um paradigma de cunho, eminentemente, latifundiário do qual se criaram dogmas que norteiam a vida socioeconômica do município. E isto, por si só, explica parte das dificuldades enfrentadas pelos pequenos produtores rurais, entre os quais, especialmente, os assentados da reforma agrária. Para que sejam, imediatamente, aplicadas por um número maior de pequenos agricultores familiares, as técnicas que se deseja difundir em benefício da maioria devem ser adaptadas à realidade do grande grupo. Ao Estado cabe a tarefa de despertar nos agricultores o interesse pela adoção de novas práticas de cultivo, assim como, os meios para aplicá-las. Se faz necessário que os pequenos agricultores assentados, sejam convencidos e estimulados a colocar em prática as novas técnicas. É preciso convencê-los das vantagens e que sejam preparados para a referida adoção. Para tanto, é preciso que o corpo de extensionistas seja, ao mesmo tempo, formado por técnicos experientes e pedagogos por excelência. Caso contrário, conflitos existirão, pois a credibilidade dos técnicos junto aos agricultores se torna, inevitavelmente, abalada e os desentendimentos, entre agricultores e os prestadores de serviços de extensão persistirão, assim como, se multiplicarão pela falta de sincronismo entre ambos. Os pequenos agricultores familiares, especialmente os assentados, precisam conscientizar-se da necessidade de agregar aos seus saberes; aspectos gerenciais, ambientais, sociais e tecnológicos, par com isso produzir melhor e auferir maiores lucros. Mas para isto deverá usar tecnologias de baixo custo e com o menor grau de dependência do setor externo, em especial dos produtos químicos, que agridem a saúde das pessoas e o meio ambiente. A juventude precisa frequentar cursos de formação básica e agrícola, aprender novas práticas, dedicar-se se ao trabalho, respeitando o seu semelhante, preservando a natureza, resgatando o processo de ajuda e de solidariedade, enfim, agindo com responsabilidade. Assim, estará atuando em prol da transformação das relações entre as famílias e a comunidade, superando as barreiras do individualismo e fomentando a socialização dos conhecimentos. A Prefeitura Municipal deve assegurar assistência médica de forma eficiente e eficaz para as famílias assentadas, assim como, proporcionar ambiente educacional condizente com o modo de vida daquelas pessoas. Precisa tratar os assentados 87 como verdadeiros cidadãos são-luizenses, sem estigmatizá-los através de cores partidárias e, viés ideológico. As famílias assentadas precisam assumir comportamentos mais pró-ativos, tomando a iniciativa de ações que lhes digam respeito. Nesse sentido sugere-se um comportamento mais receptivo em relação à participação em instituições cooperativistas, movimentos sociais, ambientais etc. Será interessante que cada instituição, dentro das suas esferas de atribuições, sejam mais eficientes no que diz respeito atingir metas. A equipe de assistência técnica precisa desenvolver trabalhos de tal modo a deixar marcas de sua atuação, o que no momento não acontece; isso fica evidenciado ao se observar a maneira inadequada dos produtores manipularem os produtos derivados do leite e assim como, no preparo dos solos e manuseio com defensivos, etc. REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, Ricardo. Paradigmas do Capitalismo Agrário em Questão. 2 Ed, Campinas, São Paulo: Editora da UNICAMP, 1998. BATALHA, Mário Otávio. Gestão Agroindustrial. Vol 1, 2.ed., São Paulo: Atlas, 2001. BROSE, Markus. 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ANEXOS 91 Anexo 1: Questionários QUESTIONÁRIO/dissertação 1) Verificar se existe uma interação entre assentados e os demais pequenos produtores rurais, no sentido de troca de conhecimentos. 2) Verificar com a Coptec e a Emater o que os orientam para a formulação de projetos produtivos para os pequenos agricultores. 3) Entender como eles, pequenos proprietários, sentem-se diante do latifúndio. 4) O que fazem para atenuar os efeitos do latifúndio sobre suas atividades? 5) Como usam a terra para produzir? Novas tecnologias ou manutenção de velhas práticas? 6) Como se organizam para resolver problemas atinentes as suas dificuldades no que tange as ações do mercado e políticas públicas de seus interesses? 7) O que implica o latifúndio em suas vidas? 8) O que pensavam sobre a vida de pequeno produtor, antes de assumi- 9) O que pensam, agora, sobre esta situação? 10) Suas origens? la ? 92 11) O que aconteceu desde o inicio de suas atividades, no meio rural, em termos de ascensão social? 12) O que pretendem para suas vidas a partir de agora? 13) Procurar constatar o que aconteceu e o que está acontecendo, no meio rural, em termos de permanência do homem no campo? 14) Como encaram a questão ecológica (meio ambiente), em suas atividades agrícolas, atualmente? 15) Acesso a terra 16) Área 17) Tipos de semente usadas em suas plantações. 18) Familiares economicamente ativos, quantos? 19) Descrição de equipamentos 20) Descrição de ferramentas 21) Culturas. O que produzem e como fazem isto? 22) Atividade principal, qual? 23) Atividades complementares, quais? 24) Excedentes para venda? Quais ? 25) Insumos 93 26) Tem dedicação exclusiva na propriedade? 27) São endividados com sistema financeiro? 28) Qual a relação com o sindicato dos trabalhadores rurais? 29) O que pensam do sindicato? 30) Praticam algum tipo de industrialização? 31) O que pensam das cooperativas? 32) Transporte 33) Mercado 34) Quantidade da produção? 35) O que esperam do governo para mudar esta situação atual? 36. O que não voltaria fazer na atividade econômica que exerce? 94 Anexo 2: Cálculo econômico TIPO DE SISTEMA DE PRODUÇÃO LEITE/GRÃOS/FEIRA/SUBSISTÊNCIA ASSENTAMENTO PALMA DE SÃO LUIZ GONZAGA/RS 1 - SISTEMA DE PRODUÇÃO: Leite/Grãos/Feira/Subsistência SAU 15,1 UTF 2,2 Atividades área Nº vacas Leite produtividade 12 9 lt/vc/dia 0,50 1 90sc/ha 21,00 10 32sc/ha 40,00 1 90sc/ha 21,00 Milho consumo Potreiro 2,5 Pastagem inverno 12 Soja Milho venda Subsistência - horta, pomar, mandioca, ... preço 0,6 TOTAL 15,1 2 - PRODUTO BRUTO Atividade área/cbs produtividade produção total valor unit valor total Leite 3,50 9,0 29.840,0 0,50 14.920,00 Soja 10,0 32,0 320,0 40,00 12.800,00 1,0 90,0 90,0 21,00 1.890,00 Ovos 195,0 2,50 487,50 Leite 2.560,0 1,00 2.560,00 Queijo 185,0 10,00 1.850,00 Frangos 390,0 3,75 1.462,50 Farináceos 230,0 5,00 1.150,00 Carne suína 630,0 5,80 3.654,00 Milho venda Feira Subsistência 0,60 2.790,20 TOTAL 15,1 43.564,20 3 - CONSUMO INTERMEDIÁRIO Atividade: Itens (Insumos) Soja área (ha) Quant./ha Unidade Quant.total 10,0 Preço Valor Total Adubo 4,0 sc 40,0 42,00 1.680,00 Dessecante 2,5 lts 25,0 8,00 200,00 40,0 kg 400,0 1,00 400,00 lts - 2,5 lts 25,0 8,00 200,00 Sementes Inset. trat. semente Herbicida Inseticida lagarta 2X - 0,2 lts 2,0 57,00 114,00 0,75 lts 7,5 16,00 120,00 Fungicida 2 aplic 1,0 lts 10,0 74,00 740,00 Plantio 1,0 operação 10,0 60,00 600,00 Inseticida percevejo 95 Pulverizações 5X 5,0 Colheita e frete 13% operação 50,0 20,00 1.000,00 % 320,0 40,00 1.664,00 Subtotal C I soja 6.718,00 CI/ha Atividade: Milho venda Itens (Insumos) área (ha) 1 Quant./ha Unidade Semente 1,0 sc 1,0 70,00 70,00 Adubo 4,0 sc 4,0 42,00 168,00 Uréia 1,0 sc 1,0 48,00 48,00 Dessecante 3,0 lts 3,0 8,00 24,00 Herbicida 5,0 lts 5,0 9,00 45,00 Inset. lagarta cart 0,3 lts 0,3 27,00 8,10 Plantio 1,0 operações 1,0 60,00 60,00 Pulverizações 3X 3,0 operações 3,0 20,00 60,00 13,00% % 90,0 21,00 245,70 Colheita e frete Quant.total 671,80 Preço Subtotal C I milho 728,80 CI/ha Atividade: leite área (ha) Milho consumo Itens (Insumos) Valor Total Quant./ha ÁREA (ha): Unidade Quant.total 728,80 3,5 1,0 Preço Valor Total Semente 1,0 sc 1,0 68,00 68,00 Adubo 4,0 sc 4,0 46,00 184,00 Uréia 1,0 sc 1,0 48,00 48,00 Dessecante 2,5 lts 2,5 8,00 20,00 lts - 9,00 - Herbicida Inset. lagarta cart 0,3 lts 0,3 27,00 8,10 Plantio 1,0 operações 1,0 60,00 60,00 2,0 operações 2,0 20,00 40,00 13,00% % 90,0 21,00 245,70 Pulverizações 3X Colheita e frete - - Subtotal C I leite 673,80 CI/ha Pastagem inverno Itens (Insumos) ÁREA (ha): Quant.total 673,80 12,0 Quant./ha Unidade Preço Valor Total Adubo 4,0 sc 48,0 45,00 2.160,00 Dessecante 3,0 sc 36,0 8,00 288,00 Semente 70,0 kg 840,0 0,50 420,00 Uréia 1,0 sc 12,0 48,00 576,00 Plantio 1,0 operação 12,0 50,00 600,00 Pulverização lts óleo diesel - - Aplicação uréia 2X lts óleo diesel - - 96 Subtotal C I leite 4.044,00 CI/ha 337,00 Outros insumos Itens (Insumos) Quantidade Unidade Quant.total Preço Valor Total Medicamentos 1 trat/vaca/ano 12,0 20,00 240,00 Sal comum 1 Kg/Vaca/mes 12,0 0,30 3,60 Sal mineral 0,5 Kg/Vaca/mes 6,0 3,00 18,00 Farelos Kg/Vaca/dia - 0,65 - Inseminação ds/sêm/vaca - 30,00 - KWh/mês - Energia elétrica - Carrapaticida 2 trat/vaca/ano 24,0 6,00 144,00 Bernes Manut ordenhadeira 2 trat/vaca/ano 24,0 6,00 144,00 Manut resfriador Arame cerca elét Subtotal C I leite 549,60 TOTAL C I leite 5.267,40 Subsistência - horta, pomar, mandioca, ... Insumos horta 60,00 Insumos pomar 30,00 Insumos demais culturas 200,00 Subtotal C I subsistência 290,00 TOTAL CONSUMO INTERMEDIÁRIO 17.304,20 CI feira 4.300,00 4 - DEPRECIAÇÃO ( D ) 4.1 INSTALAÇÕES Descrição (tipo e uso) Galpão alvenaria 96 m² Valor Total (R$) Vida útil (anos) Valor Resid. % Dep. Anual 10.000,00 50 10% 180,00 Aviário madeira 30 m² 800,00 30 10% 24,00 Sala ordenha madeira 25 m² 800,00 20 10% 36,00 Pocilga 20 m² 500,00 20 10% 22,50 262,50 TOTAL 4.2 - MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS Descrição (tipo e uso) Valor Total (R$) Vida útil (anos) Valor Resid. % Dep. Anual Carroça 400,00 10 20% 32,00 Veículo 3.000,00 8 20% 300,00 97 Ferramentas manuais 200,00 10 20% 16,00 348,00 TOTAL 610,50 5 - DISTRIBUIÇÃO DO VALOR AGREGADO INSS soja 2,3% 12.800,00 294,40 INSS leite 2,3% 14.920,00 343,16 INSS milho 2,3% 1.890,00 43,47 Anuidade sindicato 216,00 897,03 TOTAL 6 - SÍNTESE DOS RESULTADOS ECONÔMICOS POR ATIVIDADE - VAB/ha ATIVIDADES ÁREA (ha) PB CI VAB Total Leite 3,5 14.920,00 5.267,40 9.652,60 Soja VAB/ha 2.757,89 10 12.800,00 6.718,00 6.082,00 608,20 Milho venda 1 1.890,00 728,80 1.161,20 1.161,20 Feira 0 11.164,00 4.300,00 6.864,00 3.120,00 0,6 2.790,20 290,00 2.500,20 4.167,00 15,1 43.564,20 17.304,20 15.734,60 1.042,03 Gastos prop. "a" renda Subsistência TOTAL 7 - SÍNTESE DOS RESULTADOS ECONÔMICOS POR ATIVIDADE - RA/ha ATIVIDADES ÁREA (ha) PB CI Leite 3,50 14.920,00 5.267,40 294,40 2.673,77 Soja 10,00 12.800,00 6.718,00 343,16 573,88 1,00 1.890,00 728,80 43,47 1.117,73 Milho venda Feira Subsistência TOTAL 11.164,00 4.300,00 3.120,00 0,60 2.790,20 290,00 4.167,00 15,10 43.564,20 17.304,20 637,56 1.696,85 25.011,94 8 - SÍNTESE DOS RESULTADOS ECONÔMICOS GLOBAIS ITENS Produto Bruto Consumo Intermediário Valor Agregado Bruto Depreciação Total Valor Agregado Liquido Distribuição do Valor Agregado TOTAL ha (%) 43.564,20 2.885,05 100,00% 7.304,20 1.145,97 39,72% 26.260,00 1.739,07 60,28% 610,50 40,43 1,40% 25.649,50 1.698,64 58,88% 59,41 2,06% 897,03 Renda Agrícola 24.752,47 Produtividade do Trabalho 11.658,86 1.639,24 56,82% Salários mínimos/mês (13 meses) Remuneração do Trabalho Familiar 11.251,12 1,59 98 TIPO DE SISTEMA DE PRODUÇÃO GRÃOS/ LEITE/SUÍNOS/OVOS/SUBSISTÊNCIA ASSENTAMENTO PALMA DE SÃO LUIZ GONZAGA/RS 1 - SISTEMA DE PRODUÇÃO: Grãos/Leite/Suínos/Ovos/Subsistência SAU 15 UTF 2 Atividades área produtividade Nº vacas Leite 9 Cana-de-açúcar 2,5 Milho consumo 0,4 preço 5,00 lt/vc/dia 0,45 50sc/ha Aveia Milho consumo suínos 0,6 Milho comércio 5 Suínos (cb) 9 Ovos (dz) 470 Subsistência - horta, pomar, mandioca, ... 0,5 Potreiro 6 TOTAL 15 2 - PRODUTO BRUTO Atividade área/cbs Leite produtividade produção total 50sc/ha valor unit 21,00 valor total 8,90 5,00 13.500,0 0,45 6.075,00 Milho comércio 5,0 50,0 250,0 21,00 5.250,00 Suínos 9,0 168,0 1.512,0 5,50 8.316,00 470,0 2,00 940,00 Ovos Subsistência 0,50 3.459,25 TOTAL 15,0 24.040,25 3 - CONSUMO INTERMEDIÁRIO Atividade: leite área (ha) Cana-de-açúcar Itens (Insumos) Adubação ÁREA (ha): Quant./ha Unidade 3,0 sc 8,90 2,5 Quant.total Preço 7,5 48,00 Subtotal C I cana de açúcar 360,00 360,00 CI/ha Milho consumo Itens (Insumos) Valor Total ÁREA (ha): Quant.total 144,00 0,4 Quant./ha Unidade Preço Valor Total Semente 1,0 sc 0,4 68,00 27,20 Adubo 4,0 sc 1,6 46,00 73,60 Uréia 1,0 sc 0,4 48,00 19,20 Dessecante 2,5 lts 1,0 8,00 8,00 Inset. lagarta cart 0,3 lts 0,1 27,00 3,24 Plantio 1,0 operações 0,4 60,00 24,00 Pulverizações 3X 2,0 operações 0,8 20,00 16,00 99 Colheita e frete 13,00% % 20,0 21,00 54,60 Subtotal C I leite 225,84 CI/ha 564,60 Outros insumos Itens (Insumos) Quantidade Medicamentos Unidade Quant.total Preço Valor Total 1 trat/vaca/ano 2,5 20,00 Sal comum 1 Kg/Vaca/mes 30,0 0,30 9,00 Sal mineral 0,5 Kg/Vaca/mes 15,0 3,00 45,00 Farelos Kg/Vaca/dia - 0,65 - Inseminação ds/sêm/vaca - 30,00 - KWh/mês - Energia elétrica 50,00 - Carrapaticida 2 trat/vaca/ano 5,0 6,00 30,00 Bernes Manut ordenhadeira 2 trat/vaca/ano 5,0 6,00 30,00 Manut resfriador Arame cerca elét Subtotal C I leite 164,00 TOTAL C I leite 749,84 Milho consumo suínos Itens (Insumos) ÁREA (ha): Quant.total 0,6 Quant./ha Unidade Preço Valor Total Semente 1,0 sc 0,6 68,00 40,80 Adubo 4,0 sc 2,4 46,00 110,40 Uréia 1,0 sc 0,6 48,00 28,80 Dessecante 2,5 lts 1,5 8,00 12,00 Inset. lagarta cart 0,3 lts 0,2 27,00 4,86 Plantio 1,0 operações 0,6 60,00 36,00 Pulverizações 3X 2,0 operações 1,2 20,00 24,00 13,00% % 30,0 21,00 81,90 Colheita e frete Subtotal C I Suínos 338,76 CI/ha Atividade: Itens (Insumos) Milho comércio área (ha) 5,0 Quant./ha Unidade Semente 1,0 sc 5,0 68,00 340,00 Adubo 4,0 sc 20,0 46,00 920,00 Uréia 1,0 sc 5,0 48,00 240,00 Dessecante 2,5 lts 12,5 8,00 100,00 Herbicida 5,0 lts 25,0 9,00 225,00 Inset. lagarta cart 0,3 lts 1,5 27,00 40,50 Plantio 1,0 operações 5,0 60,00 300,00 3,0 operações 15,0 20,00 300,00 13,00% % 250,0 21,00 682,50 Pulverizações 3X Colheita e frete Quant.total 564,60 Preço Subtotal C I Milho comércio Valor Total 3.148,00 CI/ha 629,60 100 Subsistência - horta, pomar, mandioca, ... Insumos horta 60,00 Insumos pomar 30,00 Insumos demais culturas 200,00 Subtotal C I subsistência 290,00 Consumo intermediário produção de ovos 50,00 4.576,60 TOTAL CONSUMO INTERMEDIÁRIO 4 - DEPRECIAÇÃO ( D ) 4.1 - INSTALAÇÕES Valor Total (R$) Descrição (tipo e uso) Vida útil (anos) Valor Resid. % Dep. Anual Galpão madeira 40 m² 3.000,00 30 10% 90,00 Aviário madeira 33 m² 2.000,00 30 10% 60,00 Pocilga madeira 20m² 1.500,00 30 10% 45,00 195,00 TOTAL 4.2 - MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS Descrição (tipo e uso) Valor Total (R$) 400,00 Arado 200,00 Ferramentas manuais Vida útil (anos) Valor Resid. % 10 20% 32,00 10 20% 16,00 Dep. Anual 32,00 TOTAL 5 - DISTRIBUIÇÃO DO VALOR AGREGADO INSS leite 2,3% 6.075,00 139,73 INSS milho 2,3% 5.250,00 120,75 Anuidade sindicato 216,00 476,48 TOTAL 6 - SÍNTESE DOS RESULTADOS ECONÔMICOS POR ATIVIDADE - VAB/ha ATIVIDADES Leite ÁREA (ha) TOTAL VAB Total VAB/ha 6.075,00 749,84 5.325,16 5 5.250,00 3.148,00 2.102,00 420,40 0,6 8.316,00 338,76 7.977,24 7.977,24 940,00 50,00 890,00 890,00 0,5 3.459,25 290,00 3.169,25 6.338,50 15,0 24.040,25 4.576,60 7.427,16 495,14 Ovos Subsistência CI 8,90 Milho comércio Suínos PB 598,33 7 - SÍNTESE DOS RESULTADOS ECONÔMICOS POR ATIVIDADE - RA/ha ATIVIDADES ÁREA (ha) PB CI Gastos prop. "a" renda Leite 8,90 6.075,00 749,84 139,73 582,63 Milho comércio 5,00 5.250,00 3.148,00 120,75 396,25 Suínos 0,60 8.316,00 338,76 3.988,62 101 Ovos Subsistência TOTAL - 940,00 50,00 445,00 0,50 3.459,25 290,00 6.338,50 15,00 24.040,25 4.576,60 260,48 1.280,21 8 - SÍNTESE DOS RESULTADOS ECONÔMICOS GLOBAIS ITENS Produto Bruto Consumo Intermediário Valor Agregado Bruto Depreciação Total Valor Agregado Liquido Distribuição do Valor Agregado Renda Agrícola TOTAL ha (%) 24.040,25 1.550,98 100,00% 4.576,60 295,26 19,04% 19.463,65 1.255,72 80,96% 227,00 14,65 0,94% 19.236,65 1.241,07 80,02% 476,48 30,74 1,98% 18.760,18 Produtividade do Trabalho 9.618,33 Remuneração do Trabalho Familiar 9.380,09 1.210,33 78,04% Salários mínimos/mês (13 meses) 1,32 9 - MODELO GLOBAL DA COMPOSIÇÃO DA RENDA/UTF x NRS Y = A.X - b - B Atividades Leite Milho comércio Suínos Ovos Subsistência Total a=(pb-ci-dva prop)/área x = área/utf = RA/UTF A.X 9.380,09 b=dep esp./utf 582,63 4,45 396,25 2,50 990,63 3.988,62 0,30 3.988,62 22,50 445,00 30,00 445,00 6.338,50 2.592,72 0,25 1.584,63 7,50 9.601,59 B geral (dep np+dva np)/utf y = ax-b-B 169,00 9.380,09 102 CÁLCULO ECONÔMICO TIPO DE SISTEMA DE PRODUÇÃO GRÃOS/MANDIOCA/SUBSISTÊNCIA ASSENTAMENTO PALMA DE SÃO LUIZ GONZAGA/RS 1 - SISTEMA DE PRODUÇÃO: Grãos/Mandioca/Subsistência SAU 17 UTF 2 Atividades área produtividade preço 0,25 25000kg/ha 1,00 Milho comércio 1 40sc/ha 21,00 Soja 7 28sc/ha 40,00 Milho subsistência 1 Mandioca Subsistência - horta, pomar, mandioca, abóbora 2,75 Inaproveitável (capão, banhado, ...) 5 TOTAL 17 2 - PRODUTO BRUTO Atividade área/cbs Mandioca produtividade 0,25 25.000,0 Milho comércio 1,0 Soja 7,0 produção total valor unit valor total 6.250,0 1,00 6.250,00 40,0 40,0 21,00 840,00 28,0 196,0 40,00 7.840,00 Subsistência 3,75 6.700,00 TOTAL 12,0 21.630,00 3 - CONSUMO INTERMEDIÁRIO Atividade: Itens (Insumos) Mandioca área (ha) Quant./ha Unidade Quant.total Preparo do solo 3,0 hora máquina Colheita e frete 1% % 0,25 Preço Valor Total 0,75 80,00 60,00 6.250,00 0,05 312,50 Subtotal C I mandioca Atividade: Itens (Insumos) 372,50 CI/ha área (ha) Milho comércio Quant.total Preço 1.490,00 1 Quant./ha Unidade Semente 1,0 sc 1,0 70,00 Valor Total 70,00 Adubo 4,0 sc 4,0 42,00 168,00 Uréia 1,0 sc 1,0 48,00 48,00 Dessecante 3,0 lts 3,0 8,00 24,00 Herbicida Inset. lagarta cart 5,0 lts 5,0 9,00 45,00 0,3 lts 0,3 27,00 8,10 Plantio 1,0 operações 1,0 60,00 60,00 Pulverizações 3,0 operações 3,0 20,00 60,00 103 3X Colheita e frete 13,00% % 40,0 21,00 109,20 Subtotal C I milho Atividade: 592,30 CI/ha área (ha) Soja Itens (Insumos) Quant./ha Adubo Unidade 4,0 Dessecante Sementes Inset. trat. semente Fung. trat. semente sc Quant.total Preço 592,30 7,0 Valor Total 28,0 42,00 1.176,00 2,5 lts 17,5 8,00 140,00 40,0 kg 280,0 1,00 280,00 lts - - lts - - 2,5 lts 17,5 8,00 140,00 Herbicida Inseticida lagarta 2x Inseticida percevejo 0,2 lts 1,4 57,00 79,80 0,75 lts 5,3 16,00 84,00 Fungicida 2 aplic 1,0 lts 7,0 74,00 518,00 Plantio 1,0 operação 7,0 60,00 420,00 Pulverizações 5X 5,0 operação 35,0 20,00 700,00 7.840,0 13% 1.019,20 Colheita e frete % Subtotal C I soja 4.557,00 CI/ha Atividade: Itens (Insumos) Milho subsistência área 1 Quant.total 651,00 milho Quant./ha Unidade Preço Valor Total Semente milho 1,0 sc 1,0 68,00 68,00 Adubo milho 4,0 sc 4,0 40,00 160,00 Uréia milho Dessecante milho 1,0 sc 1,0 38,00 38,00 2,5 lts 2,5 8,00 20,00 Herbicida milho Inset. lagarta cart 5,0 lts 5,0 11,00 55,00 0,3 lts 0,3 27,00 8,10 Plantio milho Pulverizações 3X 2 ha 2,0 70,00 140,00 3 ha 3,0 20,00 60,00 Colheita e frete 10% sacas 40,0 21,00 84,00 Subtotal milho subsistência 633,10 Subsistência - horta, pomar, mandioca, abóbora Insumos horta 50,00 Insumos pomar 50,00 Insumos demais culturas 50,00 TOTAL TOTAL CONSUMO INTERMEDIÁRIO 783,10 6.304,90 104 4 - DEPRECIAÇÃO ( D ) 4.1 - INSTALAÇÕES Valor Total (R$) Descrição (tipo e uso) Vida útil (anos) Valor Resid. % Dep. Anual Galpão madeira 80 m² (geral) 8.000,00 30 10% 240,00 Galpão alvenaria 56 m² (geral) 12.000,00 50 10% 216,00 456,00 TOTAL 4.2 - MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS Valor Total (R$) Descrição (tipo e uso) Ferramentas manuais 250,00 Vida útil (anos) Valor Resid. % 10 20% Dep. Anual 20,00 20,00 TOTAL 5 - DISTRIBUIÇÃO DO VALOR AGREGADO INSS soja 2,3% 7.840,00 180,32 Juros custeio soja - Taxa proagro soja - Royaltes soja INSS milho 2% 7.840,00 156,80 2,3% 840,00 19,32 Anuidade sindicato 218,00 TOTAL 574,44 6 - SÍNTESE DOS RESULTADOS ECONÔMICOS POR ATIVIDADE - VAB/ha ATIVIDADES ÁREA (ha) Mandioca PB CI VAB Total VAB/ha 0,25 6.250,00 372,50 5.877,50 23.510,00 Milho comércio 1 840,00 592,30 247,70 247,70 Soja 7 7.840,00 4.557,00 3.283,00 469,00 Subsistência 3,75 6.700,00 783,10 5.916,90 1.577,84 TOTAL 12,0 21.630,00 6.304,90 9.408,20 784,02 7 - SÍNTESE DOS RESULTADOS ECONÔMICOS POR ATIVIDADE - RA/ha ATIVIDADES ÁREA (ha) PB CI Gastos prop. "a" renda Mandioca 0,25 6.250,00 372,50 Milho comércio 1,00 840,00 592,30 19,32 228,38 Soja 7,00 7.840,00 4.557,00 337,12 420,84 Subsistência 3,75 6.700,00 783,10 12,00 21.630,00 6.304,90 TOTAL 23.510,00 1.577,84 356,44 1.247,39 ha (%) 8 - SÍNTESE DOS RESULTADOS ECONÔMICOS GLOBAIS ITENS Produto Bruto Consumo Intermediário Valor Agregado Bruto Depreciação Total Valor Agregado Liquido Distribuição do Valor Agregado TOTAL 21.630,00 1.272,35 100,00% 6.304,90 370,88 29,15% 15.325,10 901,48 70,85% 476,00 28,00 2,20% 14.849,10 873,48 68,65% 574,44 33,79 2,66% 105 Renda Agrícola 14.274,66 Produtividade do Trabalho 7.424,55 839,69 65,99% Salários mínimos/mês (13 m) Remuneração do Trabalho Familiar 7.137,33 1,01 9 - MODELO GLOBAL DA COMPOSIÇÃO DA RENDA/UTF X NRS = Y = A.X - b - B RA/UTF a=(pb-ci-dep prop-dva Atividades prop)/área x = área/utf A.X Mandioca 7.137,33 b=dep esp./utf 23.510,00 0,13 2.938,75 Milho comércio 228,38 0,50 114,19 Soja 420,84 3,50 1.472,94 1.577,84 1,88 2.958,45 Subsistência Total 6,00 7.484,33 B geral (dep np+dva np)/utf y = ax-bB 347,00 7.137,33 CÁLCULO ECONÔMICO TIPO DE SISTEMA DE PRODUÇÃO LEITE/GRÃOS/SUBSISTÊNCIA ASSENTAMENTO PALMA DE SÃO LUIZ GONZAGA/RS 1 - SISTEMA DE PRODUÇÃO: Leite/Grãos/Subsistência SAU 15,5 UTF 2 Atividades Leite área produtividade Nº vacas 8 9 lt/vc/dia Mandioca (leite) 1 20000kg/ha Milho consumo 2 50sc/ha preço 0,50 Pastagem verão Azevém 5,5 Milho comércio 5,5 Subsistência - horta, pomar, mandioca, ... 0,5 Potreiro 6,5 TOTAL 15,5 2 - PRODUTO BRUTO Atividade área/cbs Leite produtividade produção total 50sc/ha valor unit 21,00 valor total 9,50 9,0 21.600,0 0,50 10.800,00 5,5 50,0 275,0 21,00 5.775,00 Milho comércio Subsistência 0,50 2.499,00 TOTAL 15,5 19.074,00 3 - CONSUMO INTERMEDIÁRIO Atividade: leite área (ha) Mandioca (leite) Itens (Insumos) Quant./ha ÁREA (ha): Unidade Quant.total 9,5 1,0 Preço Valor Total 106 Preparo do solo 3,0 tração animal - 80,00 Subtotal C I leite CI/ha Milho consumo Itens (Insumos) Semente - ÁREA (ha): Quant./ha Unidade 1,0 sc - 2,0 Quant.total Preço Valor Total 2,0 68,00 136,00 Adubo 2,0 sc 4,0 46,00 184,00 Uréia 1,0 sc 2,0 48,00 96,00 Dessecante 2,5 lts 5,0 8,00 40,00 lts - 9,00 - 0,6 27,00 16,20 - 60,00 - 4,0 20,00 80,00 Herbicida Inset. lagarta cart 0,3 lts Plantio 1,0 trção animal Pulverizações 3X 2,0 operações trilhadeira % Colheita e frete Subtotal C I leite 552,20 CI/ha Azevém ÁREA (ha): 5,5 Itens (Insumos) Quant./ha Unidade Semente azevém 25,0 kg 137,5 1,50 206,25 dessecante 2,5 lts 13,8 8,00 110,00 adubo 2,0 sc 11,0 42,00 462,00 uréia 2,0 sc 11,0 46,00 506,00 Plantio 1,0 operação 5,5 50,00 275,00 Pulverização Aplicação uréia 2X Quant.total 276,10 Preço Valor Total lts óleo diesel - - lts óleo diesel - - Subtotal C I leite 1.559,25 CI/ha 283,50 Outros insumos Itens (Insumos) Quantidade Unidade Quant.total Preço Valor Total Medicamentos 1 trat/vaca/ano 1,0 20,00 20,00 Sal comum 1 Kg/Vaca/mes 12,0 0,30 3,60 Sal mineral 0,5 Kg/Vaca/mes 6,0 3,00 18,00 Farelos Kg/Vaca/dia - 0,65 - Inseminação ds/sêm/vaca - 30,00 - KWh/mês - Energia elétrica - Carrapaticida 2 trat/vaca/ano 2,0 6,00 12,00 Bernes 2 trat/vaca/ano 2,0 6,00 12,00 Subtotal C I leite 65,60 TOTAL C I leite Atividade: Itens (Insumos) Semente 2.177,05 Milho comércio área (ha) Quant.total Preço 5,5 Quant./ha Unidade Valor Total 1,0 sc 5,5 68,00 374,00 Adubo 3,0 sc 16,5 46,00 759,00 Uréia 1,0 sc 5,5 48,00 264,00 107 Dessecante 2,5 lts 13,8 8,00 110,00 Herbicida 5,0 lts 27,5 9,00 247,50 Inset. lagarta cart 0,3 lts 1,7 27,00 44,55 Plantio 1,0 operações 5,5 60,00 330,00 Pulverizações 3X 3,0 operações 16,5 20,00 330,00 13,00% % 275,0 21,00 750,75 Colheita e frete Subtotal C I Milho safrinha 3.209,80 CI/ha 583,60 Subsistência - horta, pomar, mandioca, ... Insumos horta 60,00 Insumos pomar 30,00 Insumos demais culturas 200,00 Subtotal C I subsistência TOTAL CONSUMO INTERMEDIÁRIO 290,00 5.676,85 4 - DEPRECIAÇÃO ( D ) 4.1 INSTALAÇÕES Valor Total (R$) Descrição (tipo e uso) Galpão madeira 42 m² (geral) Vida útil (anos) 4.000,00 Valor Resid. % 30 10% Dep. Anual 120,00 120,00 TOTAL 4.2 - MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS Valor Total (R$) Vida útil (anos) Valor Resid. % 5.000,00 20 20% 200,00 Trilhadeira com motor 12.000,00 20 20% 480,00 Ferramentas manuais 200,00 10 20% 16,00 Descrição (tipo e uso) Carroça Dep. Anual 696,00 TOTAL 5 - DISTRIBUIÇÃO DO VALOR AGREGADO INSS leite 2,3% 10.800,00 248,40 INSS milho 2,3% 5.775,00 132,83 Anuidade sindicato 216,00 TOTAL 597,23 6 - SÍNTESE DOS RESULTADOS ECONÔMICOS POR ATIVIDADE - VAB/ha ATIVIDADES ÁREA (ha) PB CI VAB Total VAB/ha Leite 9,5 10.800,00 2.177,05 8.622,95 907,68 Milho comércio 5,5 5.775,00 3.209,80 2.565,20 466,40 Subsistência 0,5 2.499,00 290,00 2.209,00 4.418,00 15,5 19.074,00 5.676,85 11.188,15 721,82 TOTAL 7 - SÍNTESE DOS RESULTADOS ECONÔMICOS POR ATIVIDADE - RA/ha ATIVIDADES ÁREA (ha) PB CI Gastos prop. "a" renda Leite 9,50 10.800,00 2.177,05 248,40 881,53 Milho comércio 5,50 5.775,00 3.209,80 132,83 442,25 Subsistência 0,50 2.499,00 290,00 19.074,00 5.676,85 TOTAL 4.418,00 381,23 839,74 108 15,50 8 - SÍNTESE DOS RESULTADOS ECONÔMICOS GLOBAIS ITENS TOTAL Produto Bruto Consumo Intermediário Valor Agregado Bruto Depreciação Total Valor Agregado Liquido Distribuição do Valor Agregado Renda Agrícola ha (%) 19.074,00 1.230,58 100,00% 5.676,85 366,25 29,76% 13.397,15 864,33 70,24% 816,00 52,65 4,28% 12.581,15 811,69 65,96% 597,23 38,53 3,13% 11.983,93 Produtividade do Trabalho 6.290,58 Remuneração do Trabalho Familiar 5.991,96 773,16 62,83% Salários mínimos/mês (13 meses) 0,85 9 - MODELO GLOBAL DA COMPOSIÇÃO DA RENDA/UTF x NRS Y = A.X - b - B Atividades a=(pb-ci-dep prop-dva prop)/área x = área/utf = RA/UTF A.X Leite 881,53 4,75 4.187,28 Milho comércio 442,25 2,75 1.216,19 Subsistência 4.418,00 0,25 1.104,50 7,75 6.507,96 Total B geral (dep np+dva np)/utf y = ax-b-B 5.991,96 b=dep esp./utf 516,00 5.991,96