ENSINO-APRENDIZAGEM DE ALUNOS ESPECIAIS DA EJA NO MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA SCOS, Josemary1 - UEPG SCHULMEISTER, Juliana2 - UEPG SABCHUK, Ana Paula Fernandes 3 - UEPG Grupo de trabalho – Diversidade e Inclusão Agência Financiadora: Fundação Araucária Resumo O presente trabalho teve como objetivo geral analisar como ocorre o processo de ensino e de aprendizagem de alunos especiais da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no município de Ponta Grossa. Essa pesquisa reflete sobre a educação inclusiva e seus desafios, pois a educação tem um papel fundamental para essas pessoas que muitas vezes são marginalizadas pela sociedade. Sendo assim, a pesquisa teve como objetivo específico identificar o perfil dos professores e dos alunos desse segmento, verificar os aspectos positivos e negativos da inclusão na EJA para esses alunos. Apesar de todas as dificuldades enfrentadas por esses alunos, podem-se evidenciar as expectativas que eles têm acerca dos estudos. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica, como instrumentos foram utilizados questionários e observações, conforme a necessidade do sujeito. Muitos registros foram realizados por meio de observações, foi possível identificar a necessidade de mais recursos físicos e pedagógicos para os alunos e também cursos de aperfeiçoamento para ao professores, Ficou clara a preocupação das professoras com o currículo, pois o mesmo precisaria ter como objetivo respeitar e proporcionar mais acesso as particularidades de cada aluno. Dentro desse contexto escolar contávamos com um cadeirante, três com síndrome de down, um deficiente físico e intelectual, três deficientes intelectual, um autista, mas nesse contexto há quatro alunos sem necessidades especiais. Por essas características já se pode ver as dificuldades enfrentadas pelas professoras e pelos alunos da comunidade que estão inseridos no mesmo espaço físico. A sala conta com duas professoras para atender doze alunos. Sendo que ambas professoras possuem especialização e mestrado e se identificam com o seu trabalho, apesar de todas as dificuldades relatadas por elas. 1 Acadêmica do curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Estadual de Ponta Grossa e Bolsista de Iniciação Científica (PIBIC). Estagiária voluntaria do Projeto de Extensão’’A dimensão didática do trabalho docente: relações entre ensinar e aprender, pesquisar e avaliar’’. E-mail: [email protected]. 2 Acadêmica do curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Estadual de Ponta e.estagiária voluntaria do Projeto de Extensão’’A dimensão didática do trabalho docente: relações entre ensinar e aprender, pesquisar e avaliar’’. E-mail: [email protected] 3 Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail:[email protected] 20456 Palavras-chave: Eja.alunos. Professores. Introdução Ao se falar em Educação de Jovens e Adultos podemos iniciar contextualizando que essa modalidade de ensino iniciou-se com a catequização e alfabetização dos índios pelos jesuítas, mas ao longo dos anos registram-se inúmeras contribuições e mudanças. Mas somente no final da ditadura militar que a mesma passou a ganhar novos olhares, pois nesta mesma época houve a criação da UNESCO, dirigida pelo professor Lourenço Filho. Este iniciou a primeira campanha em favor da Alfabetização de Jovens e Adultos, utilizando nessa alfabetização o método de Frank Charles Laubach educador norte- americano. Não podemos esquecer-nos da colaboração de Paulo Freire com a chamada Educação Popular. Surge em 1967 o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), criado pelo governo, a Declaração de Salamanca 1994, a Constituição Federal da Educação Brasileira (1988), a LDBEN 9394/96 e a Declaração de Hamburgo (1997). Podemos perceber que essa modalidade de educação passou por inúmeras rupturas e modificações, é uma educação que precisa ser reavaliada e repensada pelas políticas públicas, pois ainda existem várias lacunas em sua real função. A EJA enquanto modalidade da educação não pode ser vista como um meio de integrar um ser a uma sociedade, mas sim como uma linearidade para melhoria de vida do educador deficiente, e também do aluno/trabalhador que está inserido nesse mesmo contexto. A educação de jovens e adultos, segundo a Declaração de Hamburgo (1997) [...] é a chave para o século XXI; é tanto conseqüência do exercício da cidadania como condição para uma plena participação na sociedade. Além do mais, é um poderoso argumento em favor do desenvolvimento ecológico sustentável, da democracia, da justiça, da igualdade entre os sexos, do desenvolvimento socioeconômico e científico, além de um requisito fundamental para a construção de um mundo onde a violência cede lugar ao diálogo e a cultura de paz baseada na justiça. (Declaração de Hamburgo, 1997). A Educação de Jovens e Adultos na cidade de Ponta Grossa está em processo de construção contínua, pois apesar de ter se configurado na cidade há alguns anos ainda conta com limitações. A educação na EJA tem como objetivo alfabetizar a todos possibilitando ser cidadãos, sendo assim a prefeitura do município abriu suas portas para que isso acontecesse, e junto com esse novo desafio também ampliou essa modalidade de educação para aqueles que 20457 de alguma maneira estavam esquecidos pela sociedade, ampliando os espaços escolares para pessoas com necessidade especiais. A Escola Municipal Humberto Cordeiro Martins tem realizado esse trabalho com pessoas com necessidade especiais, com muito esforço e humanização porque ainda estamos muito distante de uma educação democrática e igualitária, mas é nesse contexto que buscamos visualizar que é preciso que todos observem a necessidade que essas pessoas encontram quando decidem voltar aos bancos escolares, pois eles também querem se alfabetizar para fazer parte da evolução da sociedade e viverem em harmonia. Apesar das limitações dos alunos é possível perceber que a escola é um espaço de interação e ao mesmo tempo diversão, pois a escola proporciona para os alunos atividades que faz com que eles se sintam importantes e integrantes neste contexto. Como esclarece Pacheco (2007). Não se trata de encaixar um “deficiente”, em cada turma para reduzir o número de alunos dessa turma, ou para produzir caricaturas de inclusão [...] Deficientes são as práticas escolares que se baseiam no pressuposto de que somos todos iguais [...] A forma como se organizam muitas escolas não permite, efetivamente, dar resposta aos diferentes. A pesquisa detém-se em mostrar a realidade da escola e a inclusão de pessoas com deficiências. Para isto é preciso repensar o currículo escolar, o projeto político da escola, que deveria ser voltado para atender as necessidades desses educandos, faz-se necessário uma gestão escolar mais autônoma para que ela possa tomar as decisões que são viáveis ao seu espaço de trabalho, deixando assim de cumprir apenas as regras instituídas e que possa abranger a todos os segmentos, que muitas vezes passam despercebidos aos olhos da sociedade educacional. Como esclarece Ferreira e Guimarães (2003, p. 19) “somente a partir de uma nova visão paradigmática de educação, de escola, de currículo, de sujeito, haverá condições de se estabelecer um debate sobre a “educação de qualidade para TODOS” nas escolas regulares. É preciso que toda a sociedade educacional amplie os seus espaços, para que a educação possa estar presente em todas as escolas, apoiando e incentivando a relação do portador de deficiência com os alunos tidos como “normais”. A área de educação ainda conta com muitas falhas quando falamos sobre a inclusão de pessoas com necessidades especiais, pois as escolas ainda não estão preparadas com recursos físicos e nem pedagógicos para acolher esses alunos, e isso faz com que muitas vezes eles fiquem marginalizados pelo sistema. E, ao chegarem as escolas encontram tantas dificuldades que acabam sofrendo 20458 preconceitos e até mesmo bulling por parte dos próprios alunos e funcionários, isso quando conseguem chegar dignamente a sala de aula, pois muitas vezes as instituições contam com rampas apenas na entrada da escola,e os cadeirantes ao se depararem com a sala percebem que há um degrau, e precisam de ajuda para conseguir chegar até o seu lugar. Durante essa pesquisa fizemos observações sobre vários espaços escolares e pudemos perceber que as acessibilidades só se constituíram na lei porque nas escolas ainda há inúmeras reformas para serem feitas, seja nas salas, nos banheiros, nas quadras que muitas vezes tem enormes escadas para acesso, ou até mesmo nas entradas e descidas de ônibus que ficam em frente as escolas. Materiais e métodos Na pesquisa de campo foram utilizados instrumentos de coleta como, entrevistas e questionários, apenas os professores responderam os questionários, os alunos com necessidades especiais não foi possível aplicar esse instrumento. Segundo a professora os alunos não iriam conseguir responder, sendo assim os dados foram coletados através de observações, Com os outros quatro alunos da comunidade não foi possível entrevistar todos, contamos apenas com a participação de uma senhora que respondeu as perguntas gentilmente. A realização da pesquisa na Escola Humberto Cordeiro, foi visando detectar o perfil dos alunos e professores nesta modalidade de ensino. Também houve a utilização de revisão bibliográfica sobre o tema, leitura de artigo e livros para identificar e ajudar a entender melhor o contexto educacional Resultados e Discussões Para entender melhor o que acontece no ensino – aprendizagem dos alunos da Educação de Jovens e Adultos com necessidades especiais e identificar o perfil dos profissionais envolvidos, foram utilizados como instrumento para coleta de dados questionários para os professores, e realizada observações sobre os alunos, pois como exposta acima, eles não teriam condições de responder os questionários ou qualquer outro tipo de material. Com isso na analise dos dados podemos se perceber que ainda é precária a educação desses alunos, a sociedade está bem distante de uma educação plural, com direitos e acesso a todos. 20459 Podemos considerar que doze alunos participaram a pesquisa sendo duas alunas do sexo feminino, e dez alunos do sexo masculino entre os quais: uma menina autista, um cadeirante, três meninos com síndrome de down, um menino com deficiência física e intelectual, três meninos deficiência intelectual, uma senhora. Esses alunos com necessidades especiais são advindos das instituições locais como Associação de Pais e Amigos do Excepcional (APAE), também da Artesanal do Excepcional de Ponta Grossa (ASSARTE), e classes diversas da rede municipal de Ponta Grossa. A formação dos educadores é bem ampla e favorável as realidades expostas, sendo que os educados contam com duas profissionais em sala de aula, com suas formações em pedagogia. Uma delas tem vinte anos na área de educação especial, possui mestrado e duas especializações em Deficiência Intelectual e Atendimento Educacional Especializado, a outra educadora conta com mestrado, e atua na área há seis meses. As professoras demonstraram preocupação com o currículo, e com o projeto político pedagógico da escola, pois relataram que esse instrumento de trabalho poderia ser mais acessível às particularidades de cada aluno Ao perguntarmos sobre a formação continuada, ambas responderam que fazem aperfeiçoamento quando oferecido pela rede que trabalham. As observações realizadas com os alunos demonstram que eles já estão alfabetizados dentro de suas limitações, eles fazem relação da escrita através de personagens ou gravura que lhes chamem a atenção. O perfil desses alunos é de extrema dificuldade na aprendizagem. A senhora que não possui necessidade especial que está inserida nessa classe relatou que, “Voltei a estudar por que não quero mais ser passada para trás, eu trabalho e as pessoas não me pagam o certo, eu não sei o quanto vale o dinheiro, sei lê pouco, mas não sei ver número.” (RS., 59 anos). Com este trabalho podemos perceber que a educação é um paradoxo, os aspectos positivos dessa pesquisa é que os alunos estão conquistando acesso à educação. Com relação aos aspectos negativos, registramos que a acessibilidade esta distante da nossa realidade, a necessidade de cursos de aperfeiçoamento para os professores é visível, pois em várias situações as professoras demonstram insegurança em passar os conhecimentos e os conteúdos para os seus alunos, e até mesmo quando eles estão muito agitados elas não conseguem controlá-los, pois quando um se altera parece que todos ao mesmo tempo ficam muitos nervosos e agressivos com a professora. Relato de uma das profissionais; 20460 [...] Já levei um monte de mordidas dos alunos e chutes e socos, uma vez fiquei com o olho roxo e nem pude vim trabalhar, pois eles tem deficiências mas são fortes’’são homens e não criança’’. [...] Há momentos que penso em desistir dessa modalidade de ensino, mas daí vou para casa e penso assim’’ eles merecem que eu ensine eles, no fundo amo eles. Contando com inúmeras dificuldades e incertezas as professoras formadoras não momentos de si. Procurando sempre desenvolver um melhor aprendizado para os seus alunos. Considerações Finais Podemos concluir que a EJA para portadores de necessidades especiais no município de Ponta Grossa, foi de grande valia para essas pessoas que muitas vezes acabam sendo marginalizadas pela educação tradicional. Todavia, ainda é preciso políticas públicas especificas, para atender esse segmento de ensino, é necessário que todos os órgãos responsáveis pela educação se mobilize para viabilizar melhores condições, fornecendo cursos ao envolvidos nessa modalidade de ensino-aprendizagem e ampliando o material didático para esses alunos, para que os alunos possam se tornar agentes ativos na sociedade. É preciso adaptar dignamente os espaços físicos das escolas e suas adjacências, pois o aluno é um ser que tem o direito de conquistar a sua independência e criar sua identidade como ser social. Faz-se importante também formar e aperfeiçoar o professor dessa área, e estimular os mesmos a buscar novas práticas pedagógicas para suprir a necessidade de seu aluno. A formação continuada eleva o conhecimento do professor, pois ele terá a oportunidade de conhecer novas teorias metodológicas que contribuirá significativamente com sua pratica em sala, e desta forma melhorar as condições de vida e de aprendizado desse aluno carente de ‘’amor’’, reconhecimento e acolhida social. REFERÊNCIAS BRASIL.(1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988.40.ed.Atual.São Paulo;Saraiva,2007. BRASIL. Documento básico MOBRAL. Rio de Janeiro: MEC/MOBRAL, 1973 20461 BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Legislação. Brasília: Casa Civil da Presidência da República, 1996a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>.. V Conferência internacional sobre a Educação de Jovens e Adultos. Declaração de Hamburgo: agenda para o futuro. Brasília: SESI/UNESCO, 1999. Disponível em: HTTP//dominiopublico.gov.br,consulta realizada em 05 maio 2013. 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