Era uma vez uma velha rabugenta que vivia no Vale do Meio Riko.
Chamava-se Joaquina Oliveira e era dona de um orfanato.
Certo dia, estava ela sentada no sofá a ver televisão, muito descansada,
quando ouviu um ruído vindo do quarto das crianças. Como era muito desconfiada,
foi muito sorrateiramente até ao quarto deles, para descobrir o que se passava.
Qual não é o seu espanto, quando repara num rapaz desconhecido com um saco
enorme às costas a fugir apressadamente pela janela. Ainda deu um grito… mas o
rapaz nem para traz olhou.
A maldosa Joaquina soltou os cães de guarda e mandou um dos seus
empregados procurar o rapaz.”Isto não fica assim”, pensou ela. Felizmente o
rapaz era muito rápido e, por isso, não o conseguiram apanhar.
O guarda, porém não podia voltar sem ele. A bruxa malvada teria um
castigo pronto para as crianças e para ele. Enquanto percorria as ruas, reparou
na belíssima paisagem que o rodeava: os pinheiros cheios de neve, os telhados
das casas cobertos com aquele branco do Natal e crianças divertidas e felizes.
Lembrou-se, então, das crianças daquele orfanato tristes e sempre fechadas
entre quatro paredes, sem o amor e carinho de uma família para os aconchegar.
Não comemoravam o Natal, nem podiam brincar porque aparecia sempre a bruxa
para os impedir.
A noite caiu e nada do rapaz de saco às costas. Teria de voltar e aceitar
as consequências.
No dia de Natal, à noitinha, o misterioso rapaz voltou ao orfanato, para
grande alegria dos pequenos. Então o Joãozinho perguntou-lhe:
-Para que é esse saco?
-Este saco tem dentro brinquedos para vocês - disse o Mike, assim se
chamava o enigmático rapaz.
E exclamou o Miguel a explodir de curiosidade:
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-Boa, boa, boa! Estou mortinho para ver o meu brinquedo.
De olhos brilhantes e sorrisos rasgados, as crianças não cabiam em si de
contentes. Estavam muito gratas. De repente, ouviram-se os passos da cruel
governanta. Rapidamente se enfiaram nas camas e fingiram que estavam a
dormir. O jovem Mike escondeu-se atrás da porta. Quando ela entrou no quarto,
todos fingiram estar a dormir. Como não viu nada, voltou para a sala e chamou o
seu ajudante Manuel para o informar de que ia sair.
As crianças ouviram aquilo e levantaram-se imediatamente da cama,
festejando em grande algazarra:
-O Manuel está sozinho connosco, o Manuel está sozinho connosco. Viva!
Viva!
Felizes, mostraram-lhe os presentes que receberam e apresentara-lhe
Mike.
Entretanto o Mike e Manuel disseram:
-Meninos, venham connosco, vamos bater às portas das pessoas e cantar
canções.
-Não pode ser, a nossa directora não deixa! – disseram eles numa voz
triste.
Mas o mais velho como era teimoso e mais rebelde disse:
-Vamos aceitar esse desafio, se a velhota nos descobrir, paciência!
E lá foram eles.
Pelo caminho, divertiram-se cantando e dançando e recebendo guloseimas
dos mais simpáticos. Maravilhados e com tanta alegria parecia que contagiavam
todo o vale.
De repente, chegaram a uma casa grande, com um jardim enorme, toda
enfeitada e iluminada. Era fantástica. Mas mais fantástico foi quando apareceu
um casal que lhes deu as boas vindas e os convidou a entrar, chamando-os pelos
seus nomes.
-Que mistério era este!? – exclamaram as crianças em coro.
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Entretanto, disse o Mike:
- Boa noite papá e mamã. Estavam à nossa espera, não é verdade?
- Estávamos. Nunca mais chegavam!!!
- Não foi fácil tirá-los de casa com a velha rezingona por perto. Mas
agora é de vez, não os deixaremos voltar. Não permitirei uma coisa dessas –
disse Mike.
-A velha é que não vai gostar nada de saber. Nem quero estar por perto acrescentou o Manuel.
Surpreendidas e boquiabertas não sabiam o que dizer. Uma família tão
unida, simpática e acolhedora à espera deles, na noite de Natal! Que outras
surpresas se avizinhavam? Por que dizia Mike que não os deixaria voltar ao
orfanato? E a velha, o que faria? Era muita novidade só para uma noite.
-Está frio. Entrem, entrem, vamos beber um chocolate quente. Aquece o
corpo e a alma – disse a mãe de Mike.
A Raquel como era curiosa pergunta:
-Que horas são Mike?
O Mike dirigiu-se ao relógio da sala e disse:
-São sete horas.
-Eh! Se fosse no orfanato já estávamos a ir para a cama dormir - diz a
Luísa indignada.
A nova família ficou
reunida
e
a conversar, durante a noite. A certa
altura a Mariana e a Beatriz bocejam e Catarina, mãe de Mike, diz:
-É melhor irem para a cama, já está a ficar tarde
e depois não
conseguem brincar de manhã.
Os meninos dormiram que nem patinhos, já não tinham a velha rabugenta a
ressonar alto e as camas eram muito confortáveis.
De manhã cedinho a Mariana acorda e vai despertar o seu irmão mais
velho.
-Miguel, Miguel, acorda, já é de manhã!
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-Deixa-me dormir, deixa-me dormir - diz ele ainda muito ensonado.
A Raquel ficou farta e tentou outra vez, mas agora tinha trocado de alvo.
Desta vez o massacrado foi o Ricardo, mas estava a dormir tão bem que nem lhe
respondeu. Farta daquilo desceu as escadas lentamente para não acordar
ninguém, só que no sofá estava sentado o Sr.António, o pai de Mike.
-O que fazes acordada tão cedo, cachopa ?- pergunta ele.
-Queria vir cá para baixo, só que o Miguel não acordou e o Ricardo nem me
falou. - responde ela com ar de assustada.
Mais tarde, estavam todos à mesa do pequeno-almoço quando se ouviu
bater à
porta:“Truz…truz…truz…”
O Sr. António vai abrir. Quem havia de ser naquela manhã tão fria?
Adivinhem! Era a velha que trouxe os cães para encontrar as crianças. E assim
sucedeu, eles fizeram a sua tarefa.
As crianças esconderam-se atrás da Catarina para não as deixar ir.
-As nossas crianças não vão a lado nenhum - diz Catarina.
A velha insistiu:
- Esses fedelhos e fedelhas vêm todas para o orfanato.
- Não, não vão. Eles estão muito bem connosco aqui, neste novo lar. afirmou Catarina um pouco irritada.
-Ou vem comigo, ou tenho de tomar medidas drásticas.- resmungou a velha
raivosa.
“Velha casmurra não tem emenda!”- pensa a mãe Catarina. E numa voz
firme diz;
- Eu já lhe disse que eles não vão a lado nenhum.
Nesse mesmo momento, passa uma estrela cadente e o Joãozinho pede um
desejo:”Desejo que a velha bruxa se transforme em avó perfeita.”E, num abrir e
fechar de olhos, a velha vai ter com as crianças e abraça-as como se fosse avó
perfeita pedida pelo menino.
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Era verdade, o
desejo do João tinha se realizado. A bruxa, madrasta e
velha, tornou-se numa avó perfeita e carinhosa.
As crianças estavam muito
felizes e espantadas
com
tantos
mudanças nas
suas vidas e de uma só vez.
Todos
viveram
um
Natal
muito
feliz:
conversaram,
conheceram-se,
brincaram no jardim e deliciaram-se com petiscos saborosos da mãe Catarina.
À noite, foram
descansar daquele dia tão surpreendente
e emocionante.
As crianças dormiam como anjos!
E assim terminou o conto da bruxa velha que, afinal, teve emenda.
Sofia Pinto Fernandes, A Bruxa que não Tinha Emenda, dezembro de 2010
Sofia Pinto Fernandes - n.º21, 6.º ano, turma C
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BRUXA VELHA QUE NÇO TINHA EMENDA