1 ÍNDICE PREÂMBULO 3 INTRODUÇÃO 4 CARACTERIZAÇÃO DAS ESCOLAS MÉDICAS EVOLUÇÃO DO NUMERUS CLAUSUS NAS PORTUGUESAS EVOLUÇÃO 6 ESCOLAS MÉDICAS 12 DO NÚMERO DE ESTUDANTES NAS MÉDICAS PORTUGUESAS ESCOLAS 16 CAPACIDADES DOS ANFITEATROS E LABORATÓRIOS 19 RÁCIOS TUTOR/ESTUDANTE 25 CONSIDERAÇÕES FINAIS 30 CONCLUSÃO 33 BIBLIOGRAFIA 34 2 PREÂMBULO O aumento exponencial do número de estudantes que ingressam nas Escolas Médicas portuguesas ao longo dos últimos quinze anos tem levado a que estes se interroguem sobre os efeitos que este fenómeno acarreta no seu processo de formação. Dado que os recursos, tanto humanos como físicos são limitados, é fundamental analisar a realidade das escolas médicas portuguesas no momento actual. Com o objectivo de analisar a evolução do número de estudantes, a Associação Nacional de Estudantes de Medicina procedeu, através do seu Grupo de Trabalho de Educação Médica, a uma recolha e análise dos dados relativos à evolução do número de estudantes das diferentes Escolas Médicas e às condições pedagógicas das mesmas. Este documento pretende contribuir para uma reflexão sobre a forma como o aumento do numerus clausus tem afectado a qualidade do Ensino Médico em Portugal. Não é objectivo do documento valorizar as condições específicas de cada escola. A sua função essencial é espelhar as condições de ensino médico que existem no país neste momento. 3 INTRODUÇÃO Para cumprir os objectivos a que se propõe, este documento foi estruturado em duas partes, que se seguem a uma pequena caracterização de cada uma das Escolas. A primeira parte mostra a evolução de dois parâmetros que visam quantificar o problema que tem sido colocado às Escolas Médicas: o numerus clausus e o número de estudantes inscritos no primeiro ano em cada uma das Escolas Médicas. Estes parâmetros são ambos analisados ao longo do documento uma vez que o numerus clausus não inclui todos os estudantes que integram o primeiro ano do curso de Medicina. É considerado para ambos os parâmetros um período de cerca de catorze anos. A segunda parte visa demonstrar as condições pedagógicas das diferentes Escolas, tendo para este efeito sido destacados três parâmetros: as capacidades dos anfiteatros/salas de aula, que se entende ser o melhor parâmetro para avaliar as condições físicas das Escolas para albergar os estudantes nos anos básicos (de forma geral do 1º ao 3º ano) e os rácios tutor/estudante, que visam avaliar a disponibilidade de docentes nas áreas clínicas (sobretudo entre o 4º e o 6º ano), essenciais para assegurar a qualidade da formação Médica. Nesta parte inclui-se ainda o resultado de inquéritos pedagógicos que foram disponibilizados a todos os estudantes de Medicina no ano lectivo de 2010/2011. No final, apontam-se as principais conclusões dos dados apresentados. 4 De salientar ainda que a maioria dos dados apresentados neste documento foram obtidos a partir dos serviços académicos das próprias Escolas pelo que, nesses casos, apenas se encontram omissos os dados que ainda não foram disponibilizados pelos mesmos. Exceptuam-se desta situação os dados referentes ao numerus clausus, obtidos directamente do sítio do Ministério da Ciência, Tecnologia tutor/estudantes, e Ensino obtidos Superior, por e os rácios intermédio das Associações/Núcleos de Estudantes de cada uma das Escolas Médicas. 5 CARACTERIZAÇÃO DAS DAS ESCOLAS MÉDICAS Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa A Faculdade de Medicina tem as suas origens na Real Escola de Cirurgia, criada no Hospital de São José, em 1825, tomando a designação de Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa em 1836 e, finalmente, em 1911, a de Faculdade de Medicina de Lisboa. O Mestrado Integrado em Medicina é leccionado em colaboração com o Hospital de Santa Maria, Hospital Pulido Valente, Hospital Curry Cabral, Hospital Garcia de Orta e Hospital Fernando da Fonseca. Actualmente, a Faculdade de Medicina de Lisboa tem como formações pré-graduadas além do Mestrado Integrado em Medicina, a licenciatura de Microbiologia e a licenciatura de Dietética e Nutrição, bem como cursos de Mestrado, Pósgraduação e programas de Doutoramento. Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa A Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (FCMUNL), funciona desde 15 de Novembro de 1977 como Unidade Orgânica da Universidade Nova de Lisboa. O ensino clínico do Mestrado Integrado em Medicina decorre em várias Instituições de Saúde articuladas com a Faculdade, nomeadamente: Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE (que engloba os Hospitais de D. Estefânia, St.º António dos Capuchos, 6 Stª Marta, S. José e Desterro), Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE (que engloba os Hospitais de Egas Moniz, S. Francisco Xavier, e Santa Cruz), Hospital de Curry Cabral, Centro Hospital Lisboa Norte EPE, Instituto Português de Oncologia Centro Regional de Oncologia de Lisboa EPE, Hospital Fernando Fonseca, Maternidade Dr. Alfredo da Costa, Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo e Administração Regional de Saúde do Alentejo. A Faculdade disponibiliza ainda diversos cursos de Mestrado, Pós-graduação e programas de Doutoramento. Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra A Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra foi fundada a um de Março de 1290. Lecciona o Mestrado Integrado em Medicina em colaboração com os Hospitais da Universidade de Coimbra. Colabora ainda nesta leccionação o Centro Hospitalar de Coimbra, nomeadamente através do Hospital Pediátrico de Coimbra, Maternidade Bissaya Barreto e Hospital dos Covões. Além do Mestrado Integrado em Medicina, tem também o Mestrado Integrado em Medicina Dentária bem como cursos de Mestrado, Pós-graduação e programas de Doutoramento. 7 Faculdade de Medicina da Universidade do Porto A Faculdade de Medicina do Porto (FMUP), criada em 1911, sucedeu à Escola Médico-Cirúrgica do Porto e à Régia Escola de Cirurgia, fundadas respectivamente em 1836 e 1825, sendo a segunda mais antiga Faculdade da Universidade do Porto. O Mestrado Integrado em Medicina é leccionado em colaboração estreita com o Hospital de São João, tendo, no entanto, unidades curriculares que podem ser frequentadas noutras unidades de saúde, como o Hospital Pedro Hispano (Matosinhos), Centro Hospitalar de Gaia, Hospital de Penafiel ou Hospital de Bragança, entre outros. Esta Faculdade disponibiliza também cursos Mestrado, Pósgraduação e programas de Doutoramento. Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar – Universidade do Porto O Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) foi criado em 1975 como unidade orgânica da Universidade do Porto. Lecciona o Mestrado Integrado em Medicina em colaboração com o Centro Hospitalar do Porto – Hospital de Santo António, Maternidade Júlio Dinis e Hospital Pediátrico Maria Pia, tendo ainda protocoladas colaborações com o Hospital de Magalhães Lemos, Hospital Joaquim Urbano, Instituto Português de Oncologia do Porto e Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia. 8 Além de Medicina, o ICBAS lecciona o Mestrado Integrado em Medicina Veterinária, a Licenciatura em Ciências do Meio Aquático, o Mestrado Integrado em Bioengenharia (em colaboração com a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto) e a Licenciatura em Bioquímica (em colaboração com a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto). São ainda disponibilizados outros cursos de Mestrado, Pós-graduação e programas de Doutoramento. Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho A Escola de Ciências da Saúde é uma unidade orgânica recente da Universidade do Minho, criada em 2001 para assegurar o ensino graduado, o ensino pós-graduado, a investigação e outros serviços especializados no âmbito das Ciências da Saúde. É de salientar o currículo inovador que visa a criação de médicos não só com capacidades científicas, mas também capacidades humanas. O Mestrado Integrado em Medicina da Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho é leccionado em colaboração com o Hospital de Braga, o Centro Hospital do Alto Ave e a Unidade Local de Saúde do Alto Minho, entre outras. São ainda disponibilizados outros cursos de Mestrado, Pósgraduação e programas de Doutoramento. 9 Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior A Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior foi criada em 2001 com o intuito de leccionar Medicina e outros cursos na área das ciências da Saúde. O Mestrado Integrado em Medicina é leccionado em colaboração com o centro Hospitalar da Cova da Beira, com a Unidade Local de Saúde de Castelo Branco, com a Unidade Local de Saúde da Guarda e com os Centros de Saúde da Covilhã e de Belmonte. Além da Medicina, que lecciona desde 2001, tem também o Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas e as Licenciaturas em Ciências Biomédicas e em Optometria – Ciências da Visão como ciclos de estudos pré-graduados. Ministra também os ciclos de estudos conducentes ao grau de Mestre em Optometria – Ciências da Visão, ao grau de Mestre em Ciências Biomédicas, ao grau de Doutor em Medicina e ao grau de Doutor em Biomedicina. Departamento de Ciências Biomédicas e Medicina da Universidade do Algarve O curso de Medicina da Universidade do Algarve foi criado em 2009, está directamente dependente da Reitoria da Universidade do Algarve, durante uma fase de instalação prévia à constituição de uma futura Faculdade na área da Medicina e Ciências Biomédicas da Universidade do Algarve. As suas actividades de ensino compreendem a licenciatura em Ciências Biomédicas, o 10 Mestrado Integrado em Ciências Biomédicas e Mestrado Integrado em Medicina. O Mestrado Integrado em Medicina apresenta uma metodologia de ensino baseado em Problemas e numa articulação com os cuidados de saúde primários desde o 1º ano do curso. Está direccionada exclusivamente para estudantes já com licenciatura prévia na área das Ciências exactas, com um processo de selecção próprio. Além dos diversos Centros de Saúde da região do Algarve, o MIM é leccionado em pareceria com o Hospital Central de Faro, Hospital do Barlavento Algarvio, Hospital do Litoral Alentejano e em colaboração com outras instituições hospitalares da Grande Lisboa. 11 EVOLUÇÃO DO NUMERUS CLAUSUS NAS ESCOLAS MÉDICAS PORTUGUESAS Gráfico 1 Evolução do numerus clausus nas Escolas Médicas Portuguesas entre os anos lectivos 1999/2000 e os anos 2009/2010, acessíveis pelo concurso geral. Fonte: DGES, 2010 No gráfico 1 verifica-se que todas as Escolas Médicas sofreram incrementos significativos nos seus numeri clausi, sendo que aquelas que mais contribuíram para o aumento total foram a FML e a FMUC. Os estudantes do Mestrado Integrado em Medicina da Universidade do Algarve não estão representados no gráfico uma vez que o curso teve início em 2009/2010. 12 Gráfico 2 Evolução do número estudantes de Medicina que ingressam nas Escolas Médicas Portuguesas entre os anos lectivos 1997/1998 e os anos 2010/2011. Fonte: Dados obtidos a partir das secretarias das escolas médicas O gráfico 2 revela um aumento do número total de estudantes entre os anos lectivos de 1999/2000 e de 2010/2011 de 566 para 1729 correspondendo a um aumento de mais de 200% em 14 anos. A linha vermelha do gráfico assinala o limite de 1175 vagas apontado em 2001 pelo estudo do Grupo de Missão para a Saúde, constituído pelo XIII Governo Constitucional1, como necessário para suprir as necessidades de médicos da população portuguesa. Este limite foi ultrapassado já no ano de 2004/2005, tendo-se contudo continuado a registar o aumento dos numeri clausi, que excede já aquele valor em mais de 550 estudantes. 1 Plano estratégico para a formação nas áreas da Saúde, Grupo de Missão (Resolução do Conselho de Ministros n.º 140/98, de 4 de Dezembro), Dezembro/2001 13 Importa realçar que os dados fornecidos pela DGES, correspondentes ao número de vagas, são inferiores aos dados obtidos nas secretarias das faculdades em relação ao número de estudantes que ingressam pela primeira vez em cada uma das Escolas Médicas. Esta diferença deve-se à não contabilização por parte da DGES das vagas atribuídas aos concursos especiais. Quadro 1 Projecção de necessidades de médicos no SNS 2008-2020 (Continente) (Santana, 2009) 14 Mais recentemente, foi apresentado um estudo que versa sobre as “Necessidades Previsionais de Recursos Humanos em Saúde”2. Analisaram-se as projecções de necessidades de médicos no SNS até 2020 segundo dois modelos diferentes – Cenário da Manutenção (pressupõe a manutenção dos actuais rácios de cobertura populacional – 2.43 médicos/1.000 habitantes) e Cenário da EU a 15 (prevê um aumento da capacidade formativa para que se atinja o rácio equivalente à média da Eurpa a 153 3,4o médicos/1.000 habitantes). O Quadro 1 atesta que as necessidades de médicos segundo ambos os modelos serão supridas até 2020, sendo que no caso do Cenário de Manutenção, estas necessidades estarão mesmo ultrapassadas a partir de 2009. De referir que ambos os modelos prevêem um excedente cumulativo de médicos, relativamente às reais necessidades do SNS até 2020, com implicações na qualidade da formação e um possível e paradoxal aumento dos custos com os cuidados de saúde4. 2 Estudo de Necessidades Provisionais de Recursos Humanos em Saúde. Paula Santana e tal. Abril 2009 Integram a “Europa a 15” os seguintes países – Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Espanha, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Portugal, Suécia e Reino Unido 4 O Mercado de Cuidados de Saúde. Álvaro Matias. Associação Portuguesa de Economia de Saúde. Novembro 1995 3 15 EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE ESTUDANTES NAS ESCOLAS MÉDICAS PORTUGUESAS Gráfico 3 Evolução do número de estudantes inscritos no 1º ano nas Escolas Médicas Portuguesas entre os anos lectivos 1997/1998 e 2010/2011. Fonte: Dados obtidos a partir das secretarias das escolas médicas A análise da evolução do número de estudantes inscritos nas escolas médicas entre 1997/1998 e 2010/2011 torna mais evidente a problemática apresentada anteriormente. O número de estudantes inscritos no primeiro ano na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra subiu, de 102 para 275, o que corresponde a um aumento de 169,6%. Em igual período, na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa ocorreu um aumento de 150 para 256 estudantes, 16 significando um aumento de 70,6% num período de tempo de 14 anos. Na Faculdade de Medicina de Lisboa, registou-se um aumento de 228,8% no número de alunos inscritos no primeiro ano da faculdade, tendo aumentado de 111 em 1997/1998 para 365 em 2010/2011. A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto teve um incremento no número de estudantes inscritos no primeiro ano de 105 para 260, o que equivale a um aumento de 147,6%. No Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, o aumento do número de inscritos no 1º ano foi de 63 para 181, o que perfaz um aumento de 187,3%. Em 2001/2002 tiveram início os cursos da Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho e Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior. Desde o seu início até 2010/2011, a Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho passou de 62 inscritos no seu não inaugural, para 128 em 2010/2011 o que corresponde a um aumento de 106,5%. Quanto à Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior, passou de 63 inscritos para 153 inscritos, revelando um aumento de 142,9% no número de inscritos no primeiro ano do curso. Os ciclos básicos dos Açores e Madeira tiverem início em 2004/2005. No seu primeiro ano de funcionamento, o ciclo básico dos Açores teve 20 estudantes inscritos, tendo este número aumentado para 39 em 2010/2011, o que corresponde a um aumento de 95%. O ciclo básico da Madeira contou com 35 17 estudantes inscritos no primeiro ano, aumentando para 40 em 2010/2011, o que perfaz um aumento de 14,3%. O curso de Medicina da Universidade do Algarve, que teve início em 2009/2010 com 32 estudantes inscritos, manteve o número de inscritos no primeiro ano em 2010/2011. 18 CAPACIDADE DOS Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa ANFITEATROS E No edifício Egas Moniz, onde tem lugar a maioria das aulas do LABORATÓRIOS ciclo básico e pré-clínico, existe o grande auditório com capacidade para 300 pessoas e 2 anfiteatros mais pequenos para 200 pessoas cada um. No edifício do Hospital de Santa Maria existem ainda 5 anfiteatros, tendo cada um destes capacidade para cerca de 180 estudantes. Apenas o maior dos auditórios permite acomodar o número de estudantes inscrito num ano curricular. As salas de aulas práticas e laboratórios são em número suficiente para o número de turmas existente e para o número de estudantes em cada turma. Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa A FCMUNL dispõe de três anfiteatros, sendo utilizado preferencialmente o maior, com capacidade para 250 estudantes, tendo sido recentemente remodelado para permitir a frequência dos estudantes que ingressaram este ano nesta Faculdade. No que se refere às salas/laboratórios das aulas práticas, a maioria tem capacidade para 1 ou 2 turmas. No entanto, por vezes há um número de turmas superior a este, o que torna os espaços utilizados desadequados para o número de estudantes presente. 19 Faculdade de Medicina da Universidade do Porto A FMUP dispõe de quatro anfiteatros de 110 lugares, dois anfiteatros de aproximadamente 130 lugares, dois anfiteatros de cerca de 170 lugares e um anfiteatro de 207 lugares. Actualmente, nenhum dos anfiteatros possui capacidade para albergar todos os estudantes de um ano curricular, situação que não será resolvida com a transferência para o novo edifício da FMUP (a inaugurar em 2012), já subdimensionado para o actual numerus clausus. A capacidade das salas para as aulas práticas dos anos básicos é globalmente adequada, excepto nas Unidades Curriculares de Fisiologia I e II e Neuroanatomia em que é manifestamente insuficiente. No que aos laboratórios diz respeito, a FMUP tem 2 laboratórios com 15 microscópios por sala para as Unidades Curriculares de Biologia Celular e Molecular I e II e 2 laboratórios com 18 microscópios por sala para as Unidades Curriculares de Histologia I e II. Nestas últimas a capacidade é também insuficiente como atesta o número de estudantes por turma no 2º ano - 20 estudantes, superior ao número de microscópios disponíveis. Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra O edifício principal da Faculdade, vulgo Pólo I, está progressivamente a ser abandonado com a transferência da maioria das aulas para o novo pólo III, junto aos Hospitais da Universidade de Coimbra (H.U.C.). 20 No Pólo I, o maior anfiteatro tem uma capacidade de cerca de 200 lugares sentados, claramente insuficiente para o número de estudantes que integram actualmente o primeiro ano. Neste momento, no Pólo III, existe já um Auditório com capacidade para acolher todos os alunos de um ano curricular, uma vez que ronda os 300 lugares sentados. Existem também mais 3 anfiteatros (um na Unidade Central e dois na SubUnidade 1), cuja capacidade é manifestamente insuficiente para o número de alunos a que se destinam. Nos anos clínicos, a maioria das aulas teóricas continua a ser leccionada nos anfiteatros dos Hospitais, com capacidade para acolher apenas cerca de metade dos estudantes de cada ano. As aulas práticas, com a construção do novo Pólo, passaram a ter lugar em laboratórios com melhores condições mas com dimensões mais reduzidas, o que entra em conflito com o aumento gradual do número de estudantes por turma, que se verifica todos os anos. Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar – Universidade do Porto O ICBAS-UP dispõe de 6 anfiteatros, sendo que o maior tem 120 lugares. Os restantes têm todos que menos do que 100 lugares, o que é claramente insuficiente para os mais de 160 estudantes de medicina que entram actualmente no ICBAS por ano. 21 Nas instalações do ICBAS também se leccionam os cursos do Mestrado Integrado em Medicina Veterinária, Mestrado Integrado em Bioengenharia, Licenciatura em Bioquímica e Licenciatura em Ciências do Meio Aquático, sendo que os auditórios se encontram muitas vezes ocupados para aulas destes cursos. Os laboratórios e salas de aulas práticas têm, na sua maioria, capacidades compreendidas entre os 20 e os 30 estudantes. Nos três primeiros anos do curso, as turmas têm mais de 20 estudantes, ou seja, um número superior ao suportado por alguns laboratórios utilizados para o ensino. Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho A Escola de Ciências da Saúde dispõe de três auditórios, tendo o maior capacidade para 264 estudantes. Porém, a maioria das aulas processa-se nos dois auditórios mais pequenos, que têm uma capacidade de 140 lugares, suficiente para os 128 estudantes que entram anualmente. De referir ainda a existência de mais 4 salas de seminários, com capacidades para 60 a 90 estudantes. No que se refere aos laboratórios para a componente prática dos primeiros três anos do curso, a Escola de Ciências da Saúde dispõe de 9 laboratórios, que começam a ser escassos para o aumento crescente do número de estudantes nos primeiros anos do curso. 22 De salientar ainda a existência de 12 salas tutoriais onde se processa a maioria do ensino durante os primeiros anos de curso, com uma capacidade para 45 estudantes cada. Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior A FCS-UBI dispõe de dois anfiteatros com capacidade para 110 alunos e de um terceiro com capacidade para 80 alunos. Existe ainda um Grande Auditório, com lotação de 477 pessoas, que é, actualmente, o único onde é possível acomodar a totalidade dos alunos do 1º,2º e 3º ano. Na FCS-UBI existem 19 salas de tutoria, cada uma originalmente projectada para albergar 4 grupos de 6 alunos. Actualmente houve necessidade de acrescentar um grupo de trabalho a cada sala, dado que a sua capacidade se tinha tornado insuficiente para o número de alunos. Também têm sido utilizadas salas de estudo da biblioteca para ministrar tutorias, apesar de estas não estarem preparadas para tal. Será importante referir ainda o facto de as instalações serem usadas não só pelos alunos de Medicina mas também pelos alunos dos restantes cursos leccionados na FCSUBI. 23 Departamento de Ciências Biomédicas e Medicina da Universidade do Algarve O DCBM tem estrutura própria onde funcionam as 4 salas de Ensino Baseado em Problemas e 2 salas Polivalentes onde decorrem a maioria dos laboratórios. Existe ainda um complexo pedagógico na Universidade do Algarve, com diversas salas de aulas, disponível para os diferentes cursos existentes na Universidade. Existem também diversos anfiteatros capazes de suportar os alunos a frequentar o Mestrado Integrado em Medicina. Verifica-se que para o aumento do numerus clausus, será necessária a criação de novas salas para o Ensino Baseado em Problemas. 24 RATIO ALUNO/TUTOR Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa No quarto ano, os rácios variam entre os 8 e 13 estudantes por tutor, enquanto no quinto ano a proporção é, na maioria das valências, de 6:1 a 12:1, com duas excepções: pediatria (15:1) e ortopedia (22:1). No 6º ano, os rácios verificados são de 1:1 em todas as unidades curriculares. Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa No quarto ano, o número de estudantes por tutor varia entre os 2:1 e os 6:1. No quinto ano, este número varia entre os 1 e os 4 estudantes. Já no 6º ano, o rácio é de 1 estudante por tutor, com excepção da unidade curricular de Saúde Pública em que o rácio é de 6 estudantes por tutor. Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra Nos anos clínicos, cada turma tem um número médio de 24 estudantes, sendo normalmente atribuídos 2 assistentes a cada turma (rácio 12:1), sendo frequente existir apenas 1 (rácio 24:1). A excepção a este panorama é o 6º ano, em que o rácio é de um tutor para cada 3 estudantes, sendo que, nos casos das valências de Oncologia e de Clínica Geral o rácio na prática é de 1:1. 25 Faculdade de Medicina da Universidade do Porto No quarto e quintos anos a proporção é de 4:1 a 8:1, respectivamente, podendo existir algumas Unidades Curriculares que alcançam rácios de aluno/tutor de 10:1 a 14:1. No sexto ano o rácio é de um estudante por tutor. Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar – Universidade do Porto No ICBAS-UP tem-se verificado um aumento progressivo do número de estudantes por tutor, sendo actualmente de 9-12 estudantes/tutor no 3º e 4º ano, 7-8:1 no 5º ano e 2-3:1 no 6º ano. Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho A média de estudantes por tutor nas áreas clínicas é de 3,5, sendo nos melhores casos de 1-2:1 e nos piores de 4-5:1. No 6º ano o rácio tutor/aluno é de 1:1. Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior No terceiro ano o rácio de tutor/aluno varia de 1:1 a 10:1, quarto ano o rácio varia entre 1:1 a 1:8, no quinto ano varia de 1:1 a 15:1 e no sexto ano o rácio é sempre de 1:1. 26 Departamento de Ciências Biomédicas e Medicina da Universidade do Algarve Nas práticas clínicas do 1º e 2º ano em MGF, o rácio aluno/tutor é de 1/1. FMUL 3ª ano 1:1 a 3:1 4º ano 5º ano 6º ano 8:1 a 13:1 6:1 a 12:1 01:01 FCMUNL 7:1 2:1 a 6:1 1:1 a 4:1 01:01 FMUC FMUP ICBAS 12:1 a 24:1 12:1 a 24:1 12:1 a 24:1 8:1 a 12:1 4:1 a 14:1 6:1 a 14:1 9:1 a 12:1 9:1 a 12:1 03:01 01:01 ECSUM 4:1 1:1 a 5:1 7:1 a 8:1 1:1 a 5:1 1:1 a 3:1 01:01 FCSUBI 1:1 a 10:1 1:1 a 1o:1 1:1 a 15:1 DCBMUalg 1:1 01:01 Quadro 2 Rácios aluno:tutor nos anos clínicos (4º-6º anos) das Escolas Médicas portuguesas 27 INQUÉRITOS PEDAGÓGICOS Foi realizado um inquérito em 2010 que esteve disponível para todos os estudantes de Medicina de Portugal, em 2010, no qual estavam incluídas as questões que apresentamos, tendo sido obtidos os seguintes resultados de um universo de 530 respostas. 28 29 Quando analisada a tendência de resposta por faculdade, verificase que esta vai de encontro aos resultados globais já apresentados, verificando-se no entanto que: Apenas as 2 escolas de criação mais recente: ECS-UM e FCSUBI têm resultados positivos relativamente à adequação das infra-estruturas; Em todas as Faculdades se considera que o aumento do nº de estudantes verificado afecta a qualidade do ensino. 30 CONSIDERAÇÕES FINAIS Através da análise dos dados apresentados neste documento, podemos concluir que: Nos últimos 14 anos, o número de vagas para acesso a Medicina aumentou mais de 200% ultrapassando em cerca de 550 vagas o número considerado suficiente para assegurar as necessidades do País apresentadas no estudo do Grupo Missão para a Saúde5. Estes dados vêm de encontro àqueles apresentados no recente estudo de 2009 da Administração Central de Serviços de Saúde (ACSS)6 que refere um acréscimo superior a 190% nos numeri clausi de entrada para os cursos superiores de formação inicial em Medicina durante o período de 1997 a 2007. Durante este período, é também apresentado um aumento de 95% no número de diplomados. As projecções apontadas para os próximos 10 anos prevêem um excedente de médicos, relativamente às reais necessidades do Sistema Nacional de Saúde3 5 Plano estratégico para a formação nas áreas da Saúde, Grupo de Missão (Resolução do Conselho de Ministros n.º 140/98, de 4 de Dezembro), Dezembro/2001 6 Estudo de Necessidades Provisionais de Recursos Humanos em Saúde. Paula Santana e tal. Abril 2009 31 As Escolas Médicas existentes antes de 2009 sofreram, no período de 1997/1998 a 2010/2011, incrementos no número total de estudantes inscritos no primeiro ano de Medicina até 187,3%. Nenhuma das Escolas Médicas, exceptuando as de criação recente, possui actualmente anfiteatros que permitam leccionar as aulas ao número de estudantes inscritos num ano curricular. No que concerne a laboratórios/salas de aula práticas a situação está a agravar-se, sendo já preocupante em algumas escolas médicas. O rácio aluno:tutor nos anos clínicos é, na generalidade das Escolas Médicas, superior ao desejado para um ensino de qualidade. Nestes casos, o elevado número de estudantes a cargo de cada tutor compromete o ensino da prática clínica em ambiente de consulta ou de enfermaria, sendo muitas vezes reduzido o tempo para aprendizagem prática, ou chegando mesmo este a ser substituído por aulas teóricas. Esta situação tem ainda implicações éticas evidentes e inaceitáveis para os utentes dos serviços responsáveis pela formação, dado que o número excessivo de estudantes em 32 ambiente de consulta se torna constrangedor para os pacientes, assim como a repetida realização de técnicas médicas nos mesmos doentes. Na sua maioria, os estudantes reconhecem, que as instalações das Escolas Médicas não são adequadas para o número de estudantes que albergam. O condicionamento de espaço provocado pela desadequação das infra-estruturas existentes é denunciado pelos estudantes na resposta aos inquéritos, considerando estes que essa situação prejudica o seu processo formativo. Além disso, os próprios estudantes consideram que o rácio aluno/tutor das suas escolas influencia negativamente a qualidade do ensino ministrado. Na generalidade das escolas médicas, apenas no último ano do curso se verificam rácios tutor: alunos que se coadunam com um ensino tutorizado de elevado rendimento. 33 CONCLUSÃO A ANEM conclui que o actual aumento do número de estudantes já prejudica seriamente a qualidade do Ensino Médico, situação que se agravará se o actual quadro não for imediatamente alterado. Acresce ainda que o actual número de estudantes já excede as mais recentes projecções das necessidades de médicos para a população portuguesa, sendo assim urgente ajustar a oferta formativa em Medicina. A adopção de uma política que permita às Escolas Médicas, numa perspectiva de médio/longo prazo, adaptar as suas condições pedagógicas ao volume de estudantes com o qual terão de lidar, é fundamental para que seja assegurada a excelência na formação de novos médicos. A ANEM mostra-se disponível para dialogar com o Governo no sentido de encontrar soluções que resolvam esta problemática, assim como informar, debater e agir com o intuito de promover as melhores condições para o ensino da Medicina em Portugal. 34 BIBLIOGRAFIA DGES. (2010). Nº vagas para acesso ao curso de Medicina em Portugal. MCTES. Matias, Á. (1995). O Mercado de Cuidados de Saúde. Associação Portuguesa de Economia de Saúde. Médicas, E. (2010). nº alunos inscritos no 1º ano durante período 1997/1998 e 2010/2011. Missão, G. d. (2001). Plano estratégico para a formação nas áreas da Saúde. Resolução do Conselho de Ministros n.º 140/98. Santana, P. (2009). Estudo de necessidades Previsionais de Recursos Humanos em Saúde. Administração Central de Serviços de Saúde. 35