ID: 43302983
16-08-2012
Tiragem: 46144
Pág: 2
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 27,21 x 30,48 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 3
ENSINO SUPERIOR
Privados perdem peso no ensino superior
Alunos matriculados no ensino superior
350.000
Evolução em algumas universidades privadas (total de alunos e incritos no primeiro ano pela primeira vez)
Privado
Público
U. Lusófona Humanidades e Tec.
307.978
300.000
Caloiros
Total de alunos
250.000
Universidade Lusófona do Porto
U. Autónoma Luís de Camões
Lisboa + pólo das Caldas
11.998
9465
9015
200.000
2762
2071
852
n.d. n.d.
100.000
88.290
50.000
1995/96
2000/01
2010/11
U. Portucalense Infante D. Henrique
0
100.000
222
2000/01
2528
1662
763
2010/11
Alunos no privado por cada 100
no público desde 1990/91
1995/96
1066
2000/01
713
2010/11
Universidade Fernando Pessoa
50
Alunos matriculados pela 1.ª vez no ensino superior
Privado
1995/96
2087
1953
60
2000/01 01/02 02/03 03/04 04/05 05/06 06/07 07/08 08/09 09/10 10/11
120.000
5494
4203
150.000
40
Público
4842
3644
102.895
996
1995/96
80.000
1799
580
2000/01
2010/11
Universidade Lusíada Lisboa
40.000
28,7
20
1990/91
2010/11
n.d. n.d.
1995/96
1084
600
2000/01
2010/11
Universidade Lusíada Porto
Universidade Lusíada
Vila Nova de Famalicão
60.000
3866
3575
30
690
10.992
28.613
7580
20.000
5561
1079
2000/01 01/02 02/03 03/04 04/05 05/06 06/07 07/08 08/09 09/10 10/11
Nota: inclui os diferentes níveis de formação, excepto Cursos de Especialização Tecnológica
1995/96
4942
3863
2611
0
2000/01
1022
2010/11
1385
375
1995/96
1259
202
2000/01
1129
258
2010/11
1327
1995/96
2487
913
2000/01
713
2010/11
Fonte: cálculos do PÚBLICO a partir do Inquérito ao Registo de Alunos Inscritos e Diplomados do Ensino Superior, MEC; Pordata.
Ensino superior
privado perdeu 26 mil A
alunos desde 2000/01
Andreia Sanches
Algumas universidades privadas apostam em publicidade
e descontos. Outras reforçam presença nas redes sociais.
O contacto com as escolas secundárias aumenta. São as
estratégias em tempos de crise
Universidade Autónoma
de Lisboa (UAL) anda pelos céus das praias portuguesas. Por estes dias, uma
avioneta puxa uma tarja onde se anuncia uma “campanha de Verão”: “Oferta de Matrícula
Licenciaturas — 2012/2013”. Num
site onde se vendem “momentos de
sonho” e “experiências extraordinárias”, não há só massagens e viagens
inesquecíveis em promoção. Até ontem, pelo menos, era possível adquirir uma pós-graduação com 41% de
desconto na Universidade Lusófona
de Humanidades e Tecnologias, em
Lisboa, em áreas como Avaliação
Imobiliária ou Escrita Criativa.
São dois exemplos. A aposta na
comunicação e na publicidade é
uma das armas de algumas instituições de ensino superior privadas, num cenário que as estatísti-
cas ilustram bem: o sector perdeu
25.883 alunos desde 2000/2001.
Segundo os dados do Ministério
da Educação, universidades e politécnicos privados tinham, nesse ano,
114.173 estudantes matriculados; em
2010/11, último para o qual há números, estavam reduzidos a 88.290,
contando com licenciaturas, mestrados e doutoramentos. Já no ensino
público, a evolução revela oscilações,
mas no fim o resultado é este: quase
308 mil inscritos, contra 273.530 em
2000/01 — mais 34.448.
Os rácios calculados na Base de
Dados Portugal Contemporâneo,
da Fundação Francisco Manuel dos
Santos, também são ilustrativos: em
1980, por cada cem estudantes inscritos no ensino superior público, havia
9,5 alunos no privado. Nos anos que
se seguiram, nasceram novos projectos, num contexto de explosão
da procura (basta dizer que o número de matriculados no superior
praticamente duplicaria na década
ID: 43302983
16-08-2012
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4000 53% 88
Número de cursos registados
no ensino superior público e
privado
das vagas nos cursos de
formação inicial oferecidos pelo
ensino privado foram ocupadas
no ano lectivo 2010/11
Número de candidatos está a baixar
Responsáveis universitários defendem que é necessário atribuir mais bolsas
O
número de jovens
candidatos ao ensino
superior recomeçou a cair
em 2011. Na 1.ª fase do
concurso nacional de acesso,
candidataram-se menos 55.054
alunos do que em 2010. Este
ano, o número de candidatos
ainda conseguiu ser inferior ao
de 2011: 45.383, menos 1295
do que na 1.ª fase de 2011. Nas
universidades espera-se que o
número ainda a venha a subir
na 2.ª fase, como geralmente
tem acontecido, mas não
subsistem dúvidas de que, no
final, existirão menos novos
alunos inscritos no 1.º ano das
licenciaturas.
É uma tendência que,
devido à “conjugação de uma
série de factores”, se arrisca
a estar para durar, avisam,
em declarações ao PÚBLICO,
Luísa Cerdeira, pró-reitora da
Universidade de Lisboa (UL),
e João Gabriel Silva, reitor da
Universidade de Coimbra (UC).
Para contrariar esta tendência,
ambos defendem que é preciso
fazer o contrário do que tem
sido feito nos últimos dois anos
e em particular no último. Em
seguinte). Em 1991, o rácio era já de
38 alunos no privado por cada cem
no público; em 2001, atingia os 41,7.
Em 2011, baixava para 28,7.
O sector está a perder peso (ainda
que no ano passado tenha registado
um ligeiro aumento no número de
inscritos pela 1.ª vez), e o país está
em crise. Numa altura em que muitos
alunos estão a preparar as candidaturas à 2.ª fase do concurso nacional ao
ensino público, e em que decorrem
as candidaturas nas privadas, o que
estas para atrair estudantes?
Reginaldo de Almeida, director da
administração escolar da UAL, lembra que até já as universidades públicas fazem marketing, com iniciativas
como os open days, ou “cientistas por
um dia”, dirigidas aos estudantes do
secundário. A UAL também faz.
A campanha “Oferta de Matrícula Licenciaturas” é apenas um dos
elementos de uma estratégia de comunicação dirigida a quem acabou o
12.º ano e está “a pensar no futuro”:
vez de se restringir o acesso às
bolsas de estudo e pôr assim em
causa a acessibilidade a este nível
de ensino, devem ser “criadas
condições de apoio a todos
os jovens que têm condições
cognitivas” para prosseguir
estudos no superior, defende
Luísa Cerdeira. Em 2009, havia
74.935 bolseiros. Este ano,
baixaram para cerca de 50 mil.
“É preciso quase estar na
miséria para se conseguir ter
acesso a uma bolsa”, critica
Gabriel Silva. O reitor da UC
defende que a atribuição de
bolsas deve ter em conta o
desempenho académico,
como agora, mas considera
que, “apesar das dificuldades
económicas do país, e
precisamente até por causa
delas”, o Governo devia
aumentar as dotações e alargar
o número de escalões para
acesso a bolsas de estudo.
Luísa Cerdeira alerta que se
está a desenhar uma tendência
de “estrangulamento sério”
no acesso ao superior à qual
“todos os responsáveis deviam
estar atentos”. “O défice de
qualificações é muito mais grave
Não cremos que o
ensino superior seja
uma área adequada
para ‘promoções’
Salvato Trigo
reitor da Universidade Fernando
Pessoa
do que o défice financeiro”,
alerta.
Ambos referem, aliás,
que, devido ao aumento do
desemprego entre os licenciados,
estará a nascer a ideia de que “o
investimento na educação pode
não ser rentável”. “É dramático
que isso aconteça”, frisa a próreitora da UL.
O número de inscritos no
ensino superior público conheceu
um boom nos primeiros sete
anos da década de 90 do século
passado. Em 1995, candidataramse ao ensino superior 80 mil
os alunos que quiserem inscrever-se
pela primeira vez ficam isentos dos
180 euros da matrícula.
Patrocinar atletas de alta competição, como Marco Fortes, é outra
forma de ganhar visibilidade. Tal
como ter uma política de descontos:
“Temos assinado protocolos com instituições públicas e privadas, como
sindicatos, que permitem que os associados tenham descontos na inscrição e nas propinas” — de 10% a 15%,
na generalidade dos casos, diz Reginaldo de Almeida. Para além disso,
alunos que tenham tido mais de 16 de
média no secundário, podem ter redução de propinas em alguns cursos.
Patrocinar atletas
Mas as campanhas especiais não
são vistas com bons olhos por toda
a gente. “Não cremos que o ensino
superior seja uma área adequada para ‘promoções’”, diz o reitor da Universidade Fernando Pessoa (UFP).
Em resposta por email, Salvato Tri-
alunos, um recorde que não
voltou a ser repetido, em parte
devido à introdução dos exames
nacionais no ensino secundário e
à fixação de notas mínimas para o
acesso aos cursos superiores.
A tendência de diminuição no
número de jovens candidatos só
voltou a ser quebrada entre 2007
e 2010. Para voltar a afundarse nos últimos dois anos. Luísa
Cerdeira lembra que “há cada vez
mais famílias com dificuldades
em pagar os estudos” dos
seus filhos, mas frisa que esta
diminuição é reflexo também da
redução da taxa de conclusão do
ensino secundário. Com exames
mais difíceis, a percentagem de
alunos que concluiu o secundário
em 2011 desceu de 66,8% para
63,3%. Gabriel Silva aponta um
outro factor de peso, que ameaça
mudar todo o país. “Há cada vez
menos jovens, somos um país que
está a envelhecer, e não se tendo
conseguido inverter esta situação
através de fluxos de imigrantes,
é natural que o número de
estudantes diminua”. O que, aliás,
já aconteceu tanto no ensino
básico, como no secundário.
Clara Viana
go explica: “Em tempos de crise ou
fora dela, a estratégia de divulgação
da UFP quanto aos seus cursos tem
sido sempre a mesma: apostar na informação via Internet e redes sociais
e na ‘publicidade boca a boca’, designadamente em contacto directo
com a rede de escolas do ensino secundário e com públicos-alvo específicos, representados em protocolos
que subscrevemos com organizações
sócio-profissionais de diversas áreas.” A publicidade “não é, de todo,
aposta forte da UFP, tendo-o sido
ainda menos este ano”.
Para já, diz, não há sinais de que
no próximo ano lectivo haja grande
quebra de candidatos. Seja como
for, a preocupação da instituição
continuará a ser “a estabilidade do
seu corpo docente próprio, com um
rácio de doutores por aluno (>80%)
muito superior ao exigido por lei, na
inovação e na excelência”.
Também a Lusíada faz saber que
reduziu em 50% o investimento na
mil alunos estavam inscritos
no ensino privado em 2010/11,
incluindo licenciaturas,
mestrados e doutoramentos
publicidade. Ricardo Leite Pinto,
vice-presidente do conselho de administração da Fundação Minerva,
detentora da universidade, diz que o
investimento primordial é “na formação e investigação científica de qualidade”. “Temos feito inquéritos e não
mais de 5% dos alunos vêm parar à
Lusíada por terem visto publicidade
nos jornais, ou nas televisões. O mais
importante é o ‘boca-a-ouvido’, os
amigos, os pais” e uma imagem de
“prestígio que, no ensino, leva tempo
a produzir efeitos”.
Como não existe, em Portugal,
um ranking de universidades, que
compare as instituições, a Lusíada
considera ainda que ser avaliada é
o melhor que lhe pode acontecer —
“Tentamos que todas as instituições
nacionais e internacionais passem
pela nossa casa e nos avaliem.”
Não há mercado para todos
O percurso do privado não tem sido
isento de dificuldades. Pelo caminho têm ficado instituições, como a
Independente (encerrada compulsivamente em 2007 por “manifesta
degradação pedagógica”). É certo
que tem havido um aumento de outros públicos, que não os alunos que
saem do secundário — o número de
pessoas inscritas em mestrados e
doutoramentos aumentou seis vezes
numa década, o que é um mercado,
e há universidades a criar programas
para quem ainda não acabou o 12.º
poder acumular créditos em algumas
cadeiras, o que é outro nicho distinto. Mas também há novas dificuldades, como o aumento das propinas
que ficam por cobrar.
Na UAL, houve, nos últimos anos,
despedimentos e reorganização da
oferta. Na Lusófona (que não deu informações porque os responsáveis se
encontram de férias), os professores
sofreram este ano cortes salariais de
10%. Algo semelhante aconteceu na
Lusíada. Mas mesmo com estas medidas, haverá mercado para todas as
instituições? “Mercado interno certamente que não”, responde Salvato
Trigo. “Nos termos actuais, não”, diz
Reginaldo de Almeida.
“É urgente a reorganização e redimensionamento da rede de ensino
superior público e, certamente, o
ajustamento das instituições privadas a essa realidade. Na UFP, a estratégia de internacionalização em busca de mercados externos iniciou-se
em 2002”, diz Trigo. Já Reginaldo de
Almeida fala da necessidade das instituições desenvolverem projectos em
comum. “Instituições viradas para o
seu umbigo acabam na falência.”
ID: 43302983
16-08-2012
Tiragem: 46144
Pág: 1
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 18,71 x 7,94 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 3 de 3
Ensino superior privado
perdeu 26 mil alunos no
espaço de uma década
Número de alunos matriculados nas universidades e politécnicos
privados caiu de 114.173 em 2000/01 para 89.200 em 2010/11. No ensino
público registaram-se no período mais 34.448 matrículas Destaque, 2/3
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Ensino superior privado perdeu 26 mil alunos desde 2000/01