Análise ergonômica de mesas e cadeiras em instituições de educação
infantil na cidade de Viçosa - MG
Amanda P. Coelho Gomes
Estudante do curso de Educação Infantil - (UFV) – [email protected]
Heidyara Ferreira SantÁnna
Estudante do curso de Educação Infantil - (UFV) - [email protected]
Marina terumi
Estudante do curso de Economia Doméstica - (UFV) - [email protected]
Simone Caldas Tavares Mafra, Dra. Engenharia
Professora Associada do Departamento de Economia Doméstica - (UFV) – [email protected]
Vania Eugênia da Silva
M. S. Economia Doméstica. Pesquisadora vinculada ao ERGOPLAN – (UFV) – [email protected]
Resumo: O mobiliário escolar é sem dúvida um elemento essencial e de suma importância no
processo educacional. Assim sendo, o presente trabalho teve como objetivo realizar uma
avaliação ergonômica de conjunto de mesas e cadeiras escolares na cidade de Viçosa, Minas
Gerais, para estudantes da educação infantil. O estudo foi desenvolvido em quatro
instituições de educação infantil, sendo duas escolas da rede pública e duas particulares.
Utilizou-se o método da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) e estabelecendo relações
entre o material coletado e as referências bibliográficas encontradas. As análises
evidenciaram que as mesas e cadeiras escolares utilizadas nas escolas visitadas possuem
uma qualidade ergonômica ruim, pois em sua maioria não atendem às recomendações
existentes não atendendo às necessidades de seus usuários em sua totalidade. O estudo
realizado auxilia no processo de definição de critérios para padronização do mobiliário
escolar.
Palavras-chave: Análise Ergonômica do Trabalho; Mobiliário escolar infantil.
1. Introdução
O mobiliário escolar, juntamente com outros fatores físicos, é notadamente um
elemento da sala de aula que influi circunstancialmente no desempenho, segurança, conforto e
em diversos comportamentos dos alunos. O mobiliário, em função dos requisitos da tarefa,
determina a configuração postural dos usuários e define os esforços, dispêndios e
constrangimentos estabelecidos numa jornada de trabalho em sala de aula, além de manter
vínculo restrito com a absorção do conhecimento.
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Com a soma desses fatores, observa-se que as carteiras escolares existentes, muitas
vezes, não atendem às necessidades de seus usuários, causando cansaço, estresse, problemas
musculares e, acima de tudo dificultando a aprendizagem.
Segundo Moro (2005), no ambiente escolar tem-se observado uma grande lacuna de
aplicações e adequações ergonômicas. A atividade escolar por não tratar-se de uma situação
de trabalho, muitas vezes fica a mercê da "causalidade". No Brasil, existem poucas
publicações relacionadas ao mobiliário escolar. A mais importante delas, elaborada pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, é a NBR 14006/2003 - “Móveis
escolares: assentos e mesas para conjunto aluno em instituições educacionais”. Esta norma
estabelece os requisitos mínimos de mesas e cadeiras para instituições de ensino, nos aspectos
ergonômicos.
A postura, ou o posicionamento na cadeira é determinante para a concentração e o
aprendizado e muito depende do alinhamento do corpo e sua estabilidade. Todo o aluno que
fica, por exemplo, com os pés sem apoio se distrai, perdendo grande quantidade de energia,
necessária à concentração. Esta situação é por sinal encontrado com frequência nas salas de
aula. Assim, o mobiliário, muitas vezes, apresenta-se inadequado para algumas crianças.
Por esta razão, o mobiliário escolar é sem dúvida um elemento essencial e de suma
importância no processo educacional, pois é o responsável pelo conforto físico e psicológico
do aluno, favorecendo ou prejudicando seu aprendizado. Antes de tudo, o mobiliário deve ser
confortável, seguro, saudável, adequado ao uso e ao conteúdo pedagógico da escola.
O presente trabalho teve como objetivo geral realizar uma avaliação ergonômica de
conjunto de mesas e cadeiras escolares na cidade de Viçosa, Minas Gerais, para estudantes da
educação infantil, com a finalidade de observar e apontar as características das mesmas.
Especificamente, buscou-se:
a) Realizar uma observação comportamental das crianças durante as aulas;
b) Avaliar o mobiliário existente nas escolas;
c) Identificar os principais tipos de mobiliários nessas instituições.
2. Revisão de Literatura
Os objetivos gerais da ergonomia estiveram sempre presentes na evolução do homem.
A ergonomia é a aplicação de conhecimentos científicos relativos ao Homem para
conceber objetos, sistemas e envolvimentos adequados. Sistemas de trabalho, de desporto, de
lazer, ou outros, devem incluir princípios ergonômicos na sua concepção, visando de forma
integrada a saúde, a segurança e o bem-estar do indivíduo, bem como a eficácia dos sistemas.
A Ergonomia está presente em tudo o que envolve as pessoas (O QUE È ..., 2007).
É também uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre
os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e
métodos a projetos a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema.
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Atualmente, a ergonomia possui por objetivo prático assegurar a proteção, a satisfação
e o bem-estar dos trabalhadores, gerando maior harmonia entre estes e seus sistemas
produtivos. Ergonomia é a ciência que lida com o estudo das características dos trabalhadores
para adaptar as condições de trabalho a essas características. O objetivo da ergonomia é
investigar aspectos do trabalho que possam causar desconforto aos trabalhadores e propor
modificações nas condições de trabalho para torná-las confortáveis e saudáveis (IIDA, 1998).
Para o autor, em uma situação ideal, a ergonomia deve ser aplicada desde etapas
iniciais do projeto de uma máquina, ambiente ou local de trabalho. Estas devem sempre
incluir o ser humano como um de seus componentes, prevenindo a ocorrência de futuras
complicações osteomioarticulares.
A ergonomia objetiva humanizar o trabalho defendendo a premissa de que este deve
ser adaptado às características das pessoas em articulação com as exigências sócio-técnicas
das tarefas, aos objetivos a serem compridos e as condições de trabalho efetivas que lhes são
dadas. Desta forma, trabalhando em uma perspectiva antropocêntrica, a ergonomia, além de
aumentar a produtividade, contribui para uma redução da carga de trabalho em seu
componente psíquico, que determina as vivências de prazer da pessoa; em seu componente
físico, minimizando os esforços biomecânicos e em seu componente cognitivo, diminuindo
suas exigências, como a memória, resolução de problemas, tratamento de informações, dentre
outros.
No estudo sobre mobiliário escolar infantil alguns fatores devem ser observados, pois
as crianças permanecem sentadas uma grande parte do tempo. Podendo assim entender
melhor as necessidades das crianças nessa posição.
A incompatibilidade existente entre o ser humano e a postura sentada, somada à
inadequação do mobiliário escolar, favorece o aparecimento de várias patologias músculoesqueléticas. As consequências a curto e médio prazo, segundo médicos e fisioterapeutas, são
dores, tendinites e até hérnias discais (BISPO, 2001 apud PEREZ, 2002).
A Norma Brasileira (NBR 140006/1997) prevê esses problemas, dividindo a carteira
escolar em sete classes de medidas de tamanho para mesas e assentos em todas as instituições
educacionais, onde deverão ser observadas as variáveis antropométricas de cada aluno.
Porém, na prática, essa norma não é obedecida, na maioria das vezes (MORO, 2005).
A norma NBR 14006 apresenta uma série de critérios de uma boa postura, os quais
uma cadeira deve favorecer aos seus usuários escolares: o aluno deve se sentar ereto; a altura
do assento deve permitir que os pés, calçados, apóiem integralmente no chão; não deve haver
pressão do assento sobre os músculos posteriores das coxas; deve haver espaço livre entre
coxas e parte inferior da mesa para permitir liberdade de movimento; a altura da mesa deve
ser selecionada de modo que os cotovelos fiquem aproximadamente no mesmo nível da
superfície da mesa, ou ligeiramente inferiores; o encosto deve permitir o encosto firme às
costas, na região lombar e região dorsal baixa entre a vértebra dorsal T10 e lombar; deve
existir espaço livre entre a parte posterior da perna e a parte frontal do assento; deve haver
espaço livre entre o apoio lombar e a superfície do assento, para acomodar a região glútea.
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Para Silva Filho (1995), a correspondência entre produtividade e qualidade de vida é
biunívoca e diretamente proporcional; isto é, qualidade de vida alta, valores de produtividade
também altos; baixa qualidade de vida provocará baixos índices de produtividade.
Torna-se necessário criar condições adequadas para que as pessoas possam
desenvolver a sua criatividade e evitar aquelas que possa gerar uma má qualidade de vida e
stress no trabalho. E isso passa pelas contribuições da ergonomia e Qualidade de Vida no
Trabalho (QVT).
A QVT pode ser entendida como um bem-estar relacionado ao trabalho do indivíduo e
a extensão em que sua experiência de trabalho é compensadora, satisfatória e despojada de
stress e outras consequências negativas.
O espaço escolar, que compreende inclusive o mobiliário, deve ser preparado de forma
a receber todo e qualquer aluno, oferecendo condições propícias para o aprendizado, troca e
interação das pessoas, futuros cidadãos. É fundamental pensar este espaço de maneira que
permita a inclusão, viabilizando a recepção e acolhimento dos alunos e suas diferentes formas
físicas, ou de expressão, de comunicação, de aprendizado. Enfim, tratando todos igualmente
em suas singularidades, com respeito e dignidade, como prevê a legislação.
Por esta razão, o mobiliário escolar é sem dúvida um elemento essencial e de suma
importância no processo educacional, pois é o responsável pelo conforto físico e psicológico
do aluno, favorecendo ou prejudicando seu aprendizado. Antes de tudo, o mobiliário deve ser
confortável, seguro, saudável, adequado ao uso e ao conteúdo pedagógico da escola.
3. Procedimentos Metodológicos
A presente pesquisa foi realizada na cidade de Viçosa, que fica localizada na Zona da
Mata, do estado de Minas Gerias.
Foram observados e analisados o mobiliário e o comportamento dos alunos em quatro
instituições de educação infantil, sendo duas escolas da rede pública e duas da rede privada.
Para realizar o presente trabalho utilizou-se o método da Análise Ergonômica do
Trabalho (AET), o qual é composto por três etapas, a saber:
- Análise da demanda: etapa que resguarda o momento da definição do problema, que
é conduzida a partir de hipóteses, de dados concretos fornecidos pelo trabalhador;
- Análise da tarefa: neste momento é feito um levantamento das condições de trabalho,
baseando-se nas hipóteses, e dados obtidos a campo (etapa anterior);
- Análise das atividades: levantamento e análise das condições operativas, também
conduzido a partir das hipóteses e dados já conhecidos.
Com os dados obtidos em todas as etapas se torna possível obter resultados que
permitirão análises que viabilizarão diagnósticos e recomendações ergonômicas, que
objetivam adequar o trabalho ao homem.
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A NBR 14006 foi utilizada como condutora de uma abordagem, devido à sua
abrangência em relação ao mobiliário escolar.
4. Resultados e Discussões
A partir dos resultados obtidos através de observações e dos questionários aplicados a
quatro professoras sendo uma de cada escola observada, pôde-se notar que são várias as
inadequações existentes.
A maioria das professoras entrevistadas disse que as carteiras não atendem às
necessidades de todos os alunos, pois o mobiliário causa fadiga muscular, assim como,
prejudica a atenção das crianças durante as atividades que são realizadas por períodos
prolongados, isso se deve ao fato das crianças apresentarem estaturas diferentes e pelo
mobiliário ser inadequado.
Em uma das escolas visitadas, a professora relatou que as crianças não demonstram
satisfação com o mobiliário da instituição, pois causam acidentes frequentemente,
principalmente com as crianças menores. Nas outras escolas visitadas as professoras relataram
que as crianças demonstram satisfação com o mobiliário.
As crianças observadas, na maioria das vezes, apresentavam-se inquietas e desatentas
nas atividades. O fator inquietação e falta de atenção nas atividades pode ser um dado
importante no que se refere aos aspectos ergonômicos das mesas e cadeiras.
Com os resultados obtidos, foi possível classificar a qualidade ergonômica das mesas e
cadeiras, como ruins. Algumas crianças não conseguem ficar sentados, apoiando as costas no
encosto da cadeira e com os pés no chão ao mesmo tempo. Indicando que a altura das cadeiras
está acima do ideal.
Foi verificado que as crianças com menor estatura movimentam mais as pernas,
provavelmente por que a altura da cadeira é elevada para esses alunos. Já nas crianças com
maior estatura há uma diminuição do número de movimentos com as pernas, sugerindo que as
cadeiras são mais confortáveis para os alunos de maior estatura.
As pessoas, em ambientes ergonomicamente ruins, tendem a realizar o trabalho de
forma menos eficaz, sendo mais susceptíveis a erros e, no caso apresentando, falta de atenção
e inquietação nas atividades.
A análise comportamental das crianças pode auxiliar não só no projeto de mesas e
cadeiras ergonomicamente mais eficientes, como também pode auxiliar as escolas na
formação de sua grade de ensino.
O estudo realizado auxilia no processo de definição de critérios para padronização do
mobiliário escolar. Pois apesar de se ter crianças com estaturas diferentes, as proporções
corporais não sofrem tanta variação, favorecendo o processo de criação desses critérios de
padronização.
A análise das cadeiras e mesas escolares utilizadas nas quatro escolas visitadas
mostrou que elas não atendem, na maioria das vezes, as recomendações da NBR 14006.
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Pôde-se constatar que as crianças são atualmente acomodadas em carteiras escolares
que deixam de cumprir exigências de conforto e funcionalidade, consequentemente, parte do
repertório comportamental exibido por esses usuários, na posição sentada, sugere mecanismos
pessoais compensatórios de ajustamento ao ambiente. Ao "sentar-se incorretamente" ou
sentado em um mobiliário inadequado, constitui-se em resposta compensatória associada à
ausência de conforto e consequente tentativa de melhorar a distribuição de pressão pelas áreas
corporais afetadas. Portanto, confirma-se com esses e outros resultados da pesquisa, que se
deve dispensar mais atenção para a posição horizontal do tampo da carteira e aperfeiçoar
ergonomicamente o seu design como um todo.
No mobiliário tradicional, de altura fixa, algumas crianças são forçadas a se
posicionarem nas bordas do assento, na tentativa de evitar que os pés fiquem sem o apoio do
chão e, também, diminuir a pressão excessiva na parte posterior da coxa. Portanto, as alturas
de mesas e cadeiras são geralmente impróprias para o uso, podendo originar problemas
posturais de relativa gravidade.
5. Considerações Finais
Com base nos resultados apresentados nesse trabalho, pode se concluir que o estudo
comportamental das crianças das escolas analisadas mostrou que alguns dos movimentos
realizados pelos alunos estão intimamente relacionados à ergonomia de suas mesas e cadeiras,
indicando que a fadiga muscular, além de ser prejudicial à saúde, também pode influenciar na
atenção dos mesmos.
O mobiliário escolar utilizado nas escolas analisadas nem sempre atendem as
recomendação da NBR 14006, por não se enquadrarem em algumas das dimensões
recomendadas.
Com relação às escolas observadas, ficou comprovado que, mesmo com
conhecimento, nem sempre se obedece às normas ergonômicas de trabalho. O que precisa é
dispor de mecanismos para aplicar tais conhecimentos transformando-os em ações benéficas
ao desenvolvimento da ergonomia na atividade escolar.
Uma vez que a ergonomia tem como principal campo de ação a concepção de meios
de trabalho adaptados às características fisiológicas e psicológicas do ser humano e de sua
atividade, torna-se necessário garantir boas condições de trabalho, a fim de manter e
promover a saúde, bem como obter uma produtividade desejável.
Diante destas observações realizadas neste trabalho, a ergonomia, com seus conceitos
antropocêntricos, é, portanto, a chave para as mudanças necessárias dos processos de trabalho.
Não basta que cadeiras e mesas educacionais, para serem reconhecidas como tal,
localizem-se dentro das salas de aula. Antes de qualquer coisa, essas peças de mobiliário
devem cumprir seu papel de agente físico facilitador do processo educacional.
Referências
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. Móveis escolares – Assentos e mesas para instituições
educacionais – Classes e dimensões. NBR 14006. Rio de Janeiro, Nov/1997.
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IIDA, Itiro. Ergonomia: Projeto e Produção. São Paulo: Edgard Blücher Ltda. 1998.
MORO, A. R. P. Ergonomia da sala de aula: constrangimentos posturais impostos pelo mobiliário escolar.
2005. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd85/ergon.htm>. Acesso em: 30 nov. 2007.
O QUE É ERGONOMIA? 2007. Disponível em: <http://www.fmh.utl.pt/ergonomia/>. Acesso em: 30 nov.
2007.
SILVA FILHO, J. L. F. da. Gestão participativa e produtividade: uma abordagem da ergonomia. Tese
(Doutorado em Engenharia de Produção) - Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção,
Universidade Federal de Santa Catarina, 1995.
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