Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216
INADEQUAÇÕES EM TEXTOS PUBLICADOS EM JORNAL: A
INCOMPREENSÃO DO RECEPTOR
James Rios de Oliveira Santos
Luciano Lima Costa.
Marco Antonio Rosi
Tiago Angelo
Vivian Fernandes Silva
(G – CLCA – UENP/CJ)
Luiz Antonio Xavier Dias
(Orientador – CLCA – UENP/CJ)
Considerações Iniciais
“O primeiro dever do jornalista é conhecer as regras gramaticais,
a fim de que seus textos não apresentem erros graves”.
Mário L. Erbolato
Antes de qualquer pontuação, é importante elucidar alguns equívocos que podem
surgir quando o assunto é jornalismo. Entendendo-se que o teor de uma palavra pode alterar
completamente o significado de um conteúdo, faz-se necessário sublinhar que este artigo
analisa textos publicados em jornal e não textos jornalísticos para os quais se demandariam
uma série de contribuições de ordem técnica da área que foge aos limites desta pesquisa.
Sendo dessa forma, o artigo não se preocupa com o formato do texto analisado que pode ou
não estar de acordo com as regras e normas estabelecidas para o formato do texto jornalístico,
nem se o material é produzido por um jornalista formado ou não.
Ainda assim, pela
necessidade de contextualização, a pesquisa traz alguns dados sobre esta prática social, essa
atividade de comunicação que tem, no tato com a notícia, sua forma de existir.
A informação,
matéria-prima do
jornalismo,
é imprescindível
ao
mundo
contemporâneo, isso é dado irrefutável também compreendido pelo escritor Rui Barbosa que
salientou: “a imprensa é a vista da Nação. Através dela a sociedade acompanha o que se
passa, devassa o que é ocultado, percebe as tramas que se desenvolvem e se acautela contra o
que a ameaça” (BARBOSA apud PERREIRA JR, 2000, p. 53).
Percebendo-se a importância do jornalismo para a conservação de um estado
democrático e sua contribuição para esfera social e para a sociedade que busca, por meio do
suporte impresso, sua informação cotidiana, este artigo analisa textos publicados em dois
jornais impressos do Norte Pioneiro do Paraná: Folha de Andirá, da cidade de Andirá, e
Jornal Semanário de Santo Antonio da Platina, com o intuito de observar que, muitas vezes, o
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erro na utilização da Língua Portuguesa pode comprometer o entendimento da informação e
difundir uma equivocada compreensão do sistema gramatical vigente.
Feito esse breve percurso e já acentuadas as delimitações desse trabalho, o artigo se
dirige a pontuações mais específicas. Em sua primeira seção, o estudo apresenta algumas
contribuições sobre jornalismo e jornal impresso. Na sequência, traz algumas conceituações
de gramática feita por teóricos da área. E na terceira seção, é feita a análise de algumas
edições dos jornais relacionados.
Jornalismo e jornal impresso: breve percurso
Entre os diversos conceitos e definições de jornalismo, encontra-se o trabalho com a
notícia. Entre outros, pode-se defini-lo como a arte de informar, de dar assistência à sociedade
e de intermediar os factuais acontecimentos (ERBOLATO, 2002, p.53).
Rossi (1986, p.7) revela formas sutis em uma introdução à prática do jornalismo e
define: “Jornalismo, independente de qualquer definição acadêmica, é uma fascinante batalha
pela conquista das mentes e corações de seus alvos: leitores, telespectadores ou ouvintes”.
O jornalista Juarez Bahia explica:
A palavra jornalismo quer dizer apurar, reunir, selecionar e difundir notícias, idéias,
acontecimentos e informações gerais com veracidade, exatidão, clareza, de modo a conjugar
pensamento e ação [...] o jornalismo é uma arte, uma ciência, uma técnica”. (BAHIA apud
PEREIRA JR, 2000, p.68).
O jornalismo é a forma pela qual algumas sociedades têm a oportunidade de se
informarem. Tendo essa importante missão de fazer com que uma população conheça os
fatos, os acontecimentos de sua cidade, de seu país e do mundo, é fundamental à vida de uma
nação.
Compreendendo-se essa importância da mídia e a parte preponderante que ocupa o
jornal impresso nessa dimensão, o artigo se atenta para este produto.
O jornal impresso, desconsiderando algumas controvérsias de datas, surgiu em 1606
em Bremem na Alemanha e chegou ao Brasil com a Família Real em 1808. Nesse primeiro
momento, os conteúdos eram basicamente constituídos de atas, editais, decretos e assuntos da
corte. O jornal, entretanto, era impresso em Londres, levado por Hipólito da Costa,
considerado o pai do jornalismo no Brasil.
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A partir de então, o jornal passou a ocupar preponderante espaço na sociedade. A
“grande imprensa” integrante dos grandes oligopólios da comunicação consegue atingir o
grande público, enquanto outros veículos de menor envergadura trabalham a realidade
regional e local.
O jornal impresso, assim como os outros suportes de comunicação como rádio e
televisão, tem seu estilo jornalístico, algumas especificidades para sua redação. No entanto,
maiores detalhes sobre esta forma de escrever escapa aos limites e propósitos deste artigo.
Há de se acentuar um detalhe, o uso dos dois jornais mencionados não tem a intenção
de macular a imagem dos respectivos veículos de comunicação. Com o propósito básico de
apontar os desvios conferidos nas edições pesquisadas, o trabalho tem a importância de alertar
os jornais da região para um cuidado maior no uso da Língua Portuguesa, instrumento de
trabalho do jornalista. O estudo, no próximo item, relaciona alguns tipos de gramática para
um melhor entendimento do contexto a partir do qual se analisam os erros verificados nos
jornais.
Tipos de gramáticas e concepções de erro
Para se compreender a estrutura que viabiliza apontar como erro a grafia de uma
palavra ou mesmo a incoerência de um texto é importante relacionar as concepções de
gramáticas mais recorrentes quando o assunto é incorreção em Língua Portuguesa.
A Gramática Normativa, conjunto de regras que prescreve o uso correto da linguagem
em sua norma padrão, valorizada por professores e gramáticos para o ensino da língua
portuguesa, é a que fonte da qual se deve retirar a normas para a constituição de um bem
escrito. Para essa gramática, tudo que é desviante da norma padrão é considerado erro.
Já na Gramática Descritiva a concepção de erro é substituída por diferença, ou seja,
estuda todas as variedades linguísticas, descrevendo sua ocorrência sem ditar normas. Nessa
forma, o erro é concebido somente quando um texto se apresenta agramatical. Essa gramática
orienta linguistas no estudo descritivo da estrutura e funcionamento da língua por meio de
códigos teóricos e metodológicos. Entendido essas concepções de gramática, o artigo passa a
considerações mais específicas sobre os erros no jornalismo e suas consequências.
Erros gramaticais: causas e consequências nos textos publicados em jornal
Os avanços tecnológicos do século XXI permitem que o acesso à informação aconteça
de maneira cada vez mais rápida, mas esse atributo da contemporaneidade gera alguns
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problemas para os meios de comunicação quanto ao tempo disponível para releitura do texto
produzido como acentua Bacocina (2005): “a sede por informações está cada vez maior e,
com isso, os jornalistas precisam ir atrás da notícia, apurá-la e transmitir aos leitores de
maneira muito rápida, o que dificulta o ato de reler tudo o que é digitado e corrigir os erros
existentes”.
Considerando o movimento nas salas de edições jornalísticas devido ao número de
notícias que são produzidas, compreende-se que a pressa é um dos principais fatores que
induzem os jornalistas ao erro. Bacocina (2005) pontua: “A pressa é um dos principais fatores
que levam os jornalistas a errar, pois as matérias têm um tempo curto para serem escritas
(...)”. Machado (2001) parte do mesmo pressuposto: “Muitos dos erros e empastelamentos de
textos de jornais decorrem da pressa com que os textos são escritos e ‘revistos’”.
Vale ainda ressaltar, segundo Bacocina (2005), que a deficiência na formação inicial
de acadêmicos e a baixa carga horária destinada à Língua Portuguesa no curso de jornalismo,
contribuem para o agravamento da situação dos alunos quanto a sua formação,
posteriormente, a capacidade de desenvolver as atividades de escrita de forma coerente e
eficaz.
Rossi (2000, p.67) reconhece que: "Há muitos alunos das faculdades de jornalismo que
não conseguem escrever corretamente uma única frase, por mais curta que seja. E,
obviamente, não será a escola de jornalismo que irá corrigir esse defeito estrutural".
Cientes de que as normas gramaticais sejam relevadas a um segundo plano por alguns
profissionais da imprensa, é importante ressaltar que a incorreção de um texto poderá alterar o
sentido da uma matéria. Nesse sentido, o uso excessivo da vírgula assim como também a
ausência dela, resultará numa alteração de sentido, ou mesmo, “demonstra que a mensagem
não está sendo transmitida com clareza” (BACOCINA, 2005, p. 1).
A desconsideração dos erros gramaticais afeta de maneira direta a credibilidade dos
profissionais atuantes nessa área. Nas palavras de Bacocina (2005), o erro: “afeta a
credibilidade de jornalistas e jornais desta área e é responsável, até mesmo, pela demissão de
profissionais de imprensa”.
Um texto bem elaborado, mesmo que fora das exigências da linguagem jornalística,
segundo Bacocina (2005), além de agregar maior credibilidade ao jornal, assume também um
compromisso com o leitor que, ao ler os textos com frases curtas, palavras adequadas e grafia
correta, sairá satisfeito.
Controlando os erros
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Eliminar todo tipo de erro nos textos publicados em jornais de pequeno porte parece
ser uma prática impossível diante, muitas vezes, das dificuldades financeiras encontradas por
tais veículos em contratar profissionais capacitados para a realização do trabalho. Desta forma
alguns jornais chegam a apresentar erros grotescos como o exemplo a seguir.
No recorte acima, retirado do jornal Folha de Andirá, de 16 de agosto de 2011, da
edição nº518, ocorreu um grave equívoco na grafia do adjetivo “impune”, escrito
possivelmente pela associação com a forma verbal punir. Esse erro demonstra
despreocupação com o uso correto da sua língua nativa pelo editor do texto ou mesmo que o
redator não tem o conhecimento da forma correta de se grafar a palavra.
Fragmento 2
Fragmento 3
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No fragmento dois, também do jornal Folha de Andirá, da mesma edição, pode-se
observar a falta de acentuação gráfica na palavra “denúncias”, por duas vezes; e no segundo
nome do ex-governador do Estado do Paraná, Roberto Requião, a falta do acento fonético til
sobre a letra “a”. Outro erro está na forma “a quantas anda este processo”. Nesse trecho, há
erro de concordância verbal, pois “anda” deve concordar com termo a que se refere.
Já no jornal Semanário do Paraná, edição nº593, página dois, relacionado no
fragmento três, é possível observar no trecho sublinhado a falta do artigo “a” antes da palavra
violência, uma falha, possivelmente, de digitação, e, na sequência: “... o vereador quer se
aparecer mais do galinha de viúva e não faltaram comentários favoráveis”, não há qualquer
coerência no texto escrito.
Considerações finais
O estudo para a realização deste artigo proporcionou conhecer uma forma prática do
uso Língua Portuguesa no cotidiano. Reconhecer os desvios correntes nos textos analisados e
buscar a solução para as faltas, possibilitou um novo olhar para o texto publicado nos mais
diversos suportes.
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A partir do que se observa nos muitos erros relacionados e vislumbrados durante o
percurso do estudo, aumenta substancialmente a preocupação com o que é produzido pelos
acadêmicos, pois, como anotado, qualquer erro pode comprometer a mensagem e até mesmo
se fixar no acervo linguístico do leitor de forma equivocada.
Referências
BACOCINA, Ana Maria Os erros de português nos jornais, 2005. Limeira- São Paulo,
2005.Disponível em: http://www.iscafaculdades.com.br/nucom/artigo_39.htm. Acesso em 2
setembro de 2011.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática da Língua Portuguesa. 37 ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2009.
CHRISTOFOLETT, Rogério, PRADO Raffael Oliveira do, 2005. Erros nos jornais: aspecto
ético e fator de comprometimento de qualidade técnica1. Trabalho apresentado ao NP 02 –
Jornalismo, do V Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom.
ERBOLATO, Mário L. Técnicas de codificação em jornalismo: redação, captação e edição
no jornal diário. São Paulo: Ática, 2002.
PEREIRA JR., Alfredo Eurico Vizeu. Decidindo o que é notícia: os bastidores do
telejornalismo. Porto Alegre: Edipucrs, 2000.
ROSSI, Clovis. O que é Jornalismo. São Paulo: Brasiliense, 1986. Erros nos jornais: aspecto
ético e fator de comprometimento de qualidade técnica.
Para citar este artigo:
SANTOS, James Rios de Oliveira et al. Inadequações em textos publicados em jornal: a
incompreensão do receptor. In: VIII SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA
SÓLETRAS - Estudos Linguísticos e Literários. 2011. Anais... UENP – Universidade
Estadual do Norte do Paraná – Centro de Letras, Comunicação e Artes. Jacarezinho, 2011.
ISSN – 18089216. p. 396 – 402.
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James Rios dos Santos Oliveira