BREILA MARIA ROCHA DE OLIVEIRA UM RESGATE HISTÓRICO DOS JORNAIS DE GUARIBA (SP) MARÍLIA 2011 BREILA MARIA ROCHA DE OLIVEIRA UM RESGATE HISTÓRICO DOS JORNAIS DE GUARIBA (SP) Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Comunicação da Universidade de Marília (Unimar) como requisito para obtenção do Título de Mestre em Comunicação. Orientadora: Profª. Dra. Rosangela Marçolla MARÍLIA 2011 FOLHA DE APROVAÇÃO REITOR MÁRCIO MESQUITA SERVA PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROFA. DRA. SUELY FADUL VILLIBOR FLORY PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO COORDENADORA: PROF° DRA. ROSANGELA MARÇOLLA UM RESGATE DOS JORNAIS IMPRESSOS DE GUARIBA (SP) Breila Maria Rocha de Oliveira Orientadora: Profª Dra. Rosangela Marçolla Data da Defesa: 13 de Dezembro de 2011. Banca Examinadora Prof. Dr. Avaliação: _______________________ Assinatura: ______________ Prof. Dr. Avaliação: _______________________ Assinatura: ______________ Prof. Dr. Avaliação: _______________________ Assinatura: ______________ Dedicatória Dedico este trabalho aos meus pais, Domingos e Noranei, avó Eugenia e irmã Brenda Liz, pela paciência, esforço, confiança e pelo amor incondicional a mim prestado, em mais essa etapa da minha vida. AGRADECIMENTO Agradeço primeiramente a Deus, que nos momentos mais difíceis deste trabalho, esteve presente em meu coração e na minha mente, segurando firme em minhas mãos para que tudo corresse da melhor maneira possível, e que deu realidade a mais um de meus sonhos. Agradeço a minha orientadora, Dra. Rosangela Marçolla, também coordenadora do curso, pelo apoio, tolerância e paciência e que sempre me concedeu. Aos professores do curso, de um modo especial ao Dr. Roberto Reis pela estimável contribuição. Aos meus amigos e familiares, pela companhia, preocupação e principalmente, pelo desejo e interesse que eu me saísse bem na realização desta, de um modo especial, as minhas primas, Ana Lúcia Oliveira de Castro, Ana Cláudia dos Santos e Silmara Gouveia de Lima de Marco. Aos entrevistados e proprietários dos jornais, pela colaboração dedicada, especialmente ao Sr. Gercino Grieco, Luiz Barrichello Netto e Roodney das Graças Marques e Beto Estevam. Aos meus pais Domingos e Noranei, inseparáveis de minha existência, com todo amor e pelo esforço e persistência dispensada a mim. Minha querida e inesquecível avó Eugenia e irmã Brenda Liz, que sempre me apoiaram e estiveram ao meu lado durante a elaboração deste estudo. Enfim, todas as pessoas que acreditaram em mim e direta ou indiretamente contribuíram para a conclusão desta pesquisa. RESUMO Esta pesquisa tem o propósito de estudar os jornais impresso que circularam na cidade de Guariba (SP), entre os anos de 1902 a 2010, através de um resgate histórico e entender por qual motivo encerraram suas atividades, bem como, sua importância como mídia local no cenário nacional. Optou-se pela realização de pesquisa bibliográfica, documental e empírica em acervos de jornais que circularam no município, se apoiando na história oral. Na coleta de dados empíricos, utilizamos entrevistas e questionários abertos com proprietários de jornais da cidade e jornalistas. Sendo assim, o estudo também é fundamentado no conhecimento da história da cidade pelo fato de a pesquisadora ser guaribense e jornalista responsável pelo jornal atual, o Guariba Notícias. A relevância desta pesquisa é apresentar especificamente a história e trajetória desses veículos guaribenses, mostrando suas características e tendências. O registro desta história da mídia impressa poderá contribuir para a construção de uma fonte de pesquisa na qual se possa conhecer os jornais locais, contando com relatos sobre sua origem e atuação. Esta dissertação pretende fomentar discussões e contribuir para a história da mídia impressa, de um modo específico na questão local. PALAVRAS-CHAVE: Comunicação. História da mídia impressa. Jornalismo local. ABSTRACT This research aims to study the newspapers that circulated in the city of Guariba (SP) between the years 1902 to 2010, through a historical and understand what reason out of business, as well as its importance as local media on the national scene. It was chosen to carry out bibliographical research, documental and empirical collections of newspapers circulated in the city, relying on oral history. In the collection of empirical data, we use openended questionnaires and interviews with owners of newspapers and journalists of the city. Thus, the study is based on knowledge of the history of the city because the researcher and journalist guaribense be responsible for the current newspaper, the News Guariba. The relevance of this research is to show specifically the history and trajectory of these vehicles guaribenses, showing its characteristics and trends. The record of this history of print media can contribute to the construction of a research source in which to meet the local newspapers, with stories about its origin and operation. This thesis aims to intend discussion and contribute to the history of print media in a specific location in question Key Words: Communication. History of print media. Local journalism. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS COPLANA - Cooperativa dos Plantadores de Cana da Zona de Guariba .... 117 DIP - Departamento de Imprensa e Propaganda ............................................ 19 FETAESP - Federação da Agricultura do Estado de São Paulo .................. 124 IAA - Instituto do Açúcar e do Álcool ............................................................... 51 IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ..................................... 54 OPEP - Organização dos Países Exportadores do Petróleo ........................... 54 PROÁLCOOL - Programa Nacional do Álcool ................................................ 54 PTB – Partido Trabalhista Brasileiro ................................................................ 53 SABESP – Cia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo ................... 65 SOCICANA - Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba ............... 114 SEADE - Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados ......................... 69 LISTAS DE FIGURAS Foto 1 - (Exemplar do jornal Gazeta de Guariba) ............................................ 18 Foto 2 - (Otávio Rangel, jornalista e teatrólogo) .............................................. 20 Foto 3 - (Francisco Grieco)............................................................................... 21 Foto 4 - (Exemplar do jornal “O Guaribense” de 14/01/76).............................. 25 Foto 5: (Exemplar do jornal “A Comarca de Guariba”) .................................... 27 Foto 6: (Exemplar do jornal “Folha da Região”) ............................................... 29 Foto 7: (1º exemplar do “Guariba Notícias”) .................................................... 31 Foto 8: (Exemplar do jornal “Guariba Notícias)” - tabloide .............................. 33 Foto 9: (Exemplar do jornal “Guariba Notícias)” – germânico ......................... 35 Foto 10: (Exemplar do jornal “Guariba Notícias”) - standart – PB ................... 38 Foto 11: (Exemplar do jornal Guariba Notícias”) - standart – Color ................. 39 Foto 12: (Exemplar do jornal Guariba Notícias”) - berliner- Color ................... 40 Foto 13: (Mapa da Região) .............................................................................. 42 Foto 14: Estação da cidade no ano de 1915 .................................................... 44 Foto 15: Estação da cidade no ano de 1918 ................................................... 44 Foto 16: Estação da cidade no ano de 1930 ................................................... 44 Foto 17: Estação da cidade em 2011 .............................................................. 45 Foto 18: Antiga igreja Matriz da cidade ........................................................... 46 Foto 19: (Atual igreja Matriz de São Mateus) .................................................. 47 Foto 20: (Município de Guariba no ano de 1939) ............................................ 51 Foto 21: (Município de Guariba no ano de 2010 ............................................. 56 Foto 22: (Boias-frias nos canaviais de Guariba) .............................................. 61 Foto 23: (Trabalhadores nos canaviais de Guariba no dia da greve) .............. 63 Foto 24: (Amaral Vaz Melone, morto na porta do estádio) .............................. 66 Foto 25: (Capa da Folha de S. Paulo de 16/05/84) ......................................... 74 Foto 26: (Capa da Resvista Veja) .................................................................... 75 Foto 27: (Revista Veja). ................................................................................... 76 Foto 28: (Revista Veja). ................................................................................... 77 Foto 29: (Revista Veja). ................................................................................... 78 Foto 30: (Revista Veja). ................................................................................... 79 Foto 30: (Revista Veja). ................................................................................... 79 Foto 31: (Revista Veja). ................................................................................... 80 Foto 32: (Capa da Revista Veja). ..................................................................... 81 Foto 33: (Revista Veja). ................................................................................... 82 Foto 34: (Revista Veja). ................................................................................... 83 Foto 35: (Revista Veja). ................................................................................... 84 Foto 36: (Exemplar do jornal local “A Comarca de Guariba”) .......................... 85 Foto 37: (Exemplar do O Estado de S. Paulo de 16/05/84.) ............................ 87 Foto 38: (Exemplar da Folha de S. Paulo de 12/01/85.) .................................. 88 Foto 39: (Exemplar do O Estado de S. Paulo de 12/01/85.) ............................ 89 Foto 40: (Exemplar do Guariba Notícias de 2004.) ......................................... 90 Foto 41: (P. 2 do jornal “Guariba Notícias” de 2004) ....................................... 91 Foto 42: (Exemplar do Guariba Notícias de 2005) .......................................... 92 Foto 43: (Exemplar do Guariba Notícias de 2005, p.7) ................................... 93 Foto 44: (Exemplar do Guariba Notícias de 2009) .......................................... 94 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................. 14 CAPÍTULO 1 – Resgate da mídia impressa em Guariba ................................ 16 1.1 - Jornais impressos na cidade: de 1902 a 1995 ................... 16 1.2 – O “Guariba Notícias”: de 1995 a 2011................................ 30 CAPÍTULO 2 – Mídia local: conceitos e características .................................. 42 2.1 – Guariba: a cidade ............................................................... 42 2.2 - “Guariba Notícias”: características de mídia local .............. 57 CAPÍTULO 3 – Mídia local na pauta da mídia nacional .................................. 61 3.1 - A “Saga dos Boias-Frias” – 1984: o ano que não quer acabar.................................................................................. 61 3.2 - Repercussão da saga na imprensa: 27 anos de história ........................................................................................ 71 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 96 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 98 JORNAIS CONSULTADOS ........................................................................... 104 ANEXOS ........................................................................................................ 107 INTRODUÇÃO Resgatar a história, o desenvolvimento da imprensa escrita e características da mídia local em Guariba (SP) se revestem de significativa importância para a população guaribense. Neste sentido, aborda-se no estudo a evolução dos jornais impressos locais por meio de documentos históricos, acervos de exemplares antigos, depoimentos de moradores e pessoas que trabalharam em veículos de comunicação, visando recuperar o processo e transformação da produção jornalística na cidade, bem como a elaboração e aspectos relevantes que marcaram a história da mídia impressa no município. Objetivando contextualizar historicamente a imprensa guaribense, percorre-se a chegada da imprensa no Brasil, destacando suas transformações no início do século XX, quando o jornalismo surgiu na cidade, através de uma revisão bibliográfica. De acordo com Silva (2003), neste mesmo século (XX), quando surgiu o jornalismo impresso no município, paralelamente surgiram os grandes jornais diários no Brasil, como a Folha de S. Paulo (1921), Jornal do Brasil (1891), O Globo (1925) e O Estado de São Paulo (1875). Desde seu surgimento, o jornal impresso vem sofrendo diversas transformações tecnológicas. Em Guariba, não foi diferente. Desde a instalação do primeiro jornal, O Guaribense, no ano de 1902 até meados de 1992, a elaboração dos jornais era manual e a impressão tipográfica (tipo por tipo, letra por letra). No final de 1992, os veículos começaram a fazer o chamado linotipo, que são as frases inteiras, queimadas em placas de chumbo. A elaboração neste momento passa a ser computadorizada, ou seja, os jornais começam a ser diagramados no computador e a impressão acompanhou o desenvolvimento das “máquinas” e a mesma passa a ser em impressoras rotativas. ϭϰ Para Barrichello Netto (2010), em entrevista realizada para esta pesquisa, vários aspectos marcaram a história da imprensa na cidade, mais os dois maiores foram: a instalação de um jornal antes da emancipação política do município quando a comunidade tinha apenas a condição de vila, pertencente à cidade de Jaboticabal, (a vila só se tornou município no dia 10 de abril de 1918), e a greve dos cortadores de cana-de-açúcar que ocorreu na cidade no ano de 1984, onde pautou a mídia regional, nacional e internacional. Esse movimento ainda continua sendo citado nos veículos de comunicação nacional, quando as condições dos trabalhadores rurais são discutidas. Desde a fundação do Guaribense até o Guariba Notícias, todos os veículos pesquisados (Independente, Gazeta de Guariba, A Tesoura, o Binóculo, A Comarca de Guariba, A Gazeta Guaribense e Folha da Região) sobreviviam dos anúncios e assinaturas, mas a principal e maior fonte de renda era e continua sendo, a ajuda dos órgãos públicos, que é uma espécie de “financiamento”, ou seja, a relação entre a imprensa e poder político. Este contato com os órgãos públicos requer que o veículo defenda direta ou indiretamente o governo local vigente e por esse motivo, os veículos possuíam uma linha editorial tendenciosa a estes órgãos. Todos eles, exceto o atual que ainda está em circulação, encerraram suas atividades por questões financeiras, ou seja, por falta de recursos necessários para sobrevivência. O trabalho é constituído por três capítulos. O capítulo 1 discorre sobre a mídia impressa em Guariba (SP), resgatando a história, características e tendências dos jornais que passaram pela cidade entre os anos de 1902, quando foi fundado o primeiro jornal (O Guaribense), até meados de 1995 com o encerramento de (A Folha da Região). Conta-se também a história, o processo de transformação e evolução do jornal atual, Guariba Notícias, através de entrevista com o proprietário, Domingos Aparecido Rodrigues de Oliveira. Fundado no dia 12 de agosto de 1995, mantém sua circulação regular até os dias atuais. No Capítulo 2 os conceitos de mídia local, suas características e tendências são discutidas com base nos autores: Dornelles, Peruzzo e Garcia, que possuem uma abrangente fundamentação teórica sobre o assunto, focando suas definições. Nele, apresenta-se a cidade de Guariba (SP) desde sua fundação, acontecimentos relevantes que marcaram a história da mídia ϭϱ guaribense, através de pesquisa bibliográfica, realização de entrevistas e consulta em acervos dos jornais que circularam no município. É um capítulo bem ilustrado com imagens que marcaram a história da cidade e da imprensa guaribense. Já o capítulo 3, trata-se a questão da mídia local pautar a nacional. Encontra-se nele detalhadamente o conflito de trabalhadores rurais que ficou conhecido internacionalmente através da mídia impressa e televisiva como a “Saga dos Boias-Frias”, ocorrido em 1984 na cidade. Neste ano (1984), o jornal que estava em circulação era A Comarca de Guariba. A cidade foi palco de uma violenta greve que, apesar da repressão policial, foi vitoriosa. O conflito virou notícia em todo o país, o que estimulou muitas outras lutas de trabalhadores rurais em busca dos mesmos direitos conquistados no município. O movimento pautou a mídia nacional e internacional. Este capítulo finaliza o trabalho com a repercussão da greve na imprensa local e nacional, bem como o registro de duas décadas da mesma. Guariba, nos dias atuais, possui um único jornal que foi fundado no dia 12 de agosto de 1995 e tem por título Guariba Notícias. Observa-se que este semanário circula regularmente há mais de dezesseis anos, mas não conseguiu manter a linha editorial proposta no início de sua fundação. Depois de alguns anos de existência, e devido a um “contrato” firmado junto à Prefeitura Municipal para publicação de leis e decretos oficiais, o jornal começa a noticiar com mais ênfase o trabalho do prefeito e de suas secretarias. Mesmo assim, de acordo com Oliveira (2011), o semanário possui uma ótima aceitação por parte dos seus leitores, com base em uma pesquisa de aceitação popular realizada com alguns moradores do município. Para a realização desta pesquisa, oito pessoas foram entrevistadas, entre elas, proprietários de jornais locais, jornalista, líderes sindicais e autoridades, que descreveram as informações necessárias para a realização e conteúdo deste estudo que discorre sobre a história da mídia impressa na cidade de Guariba (SP). ϭϲ 1 - RESGATE DA MÍDIA IMPRESSA EM GUARIBA 1.1 - Jornais impressos na cidade: 1902 a 1995 Sabemos que a Imprensa Régia foi fundada no Rio de Janeiro em 1808, e através dela deu-se início à imprensa escrita no país. Segundo Carvalho (1996), o primeiro periódico brasileiro, A Gazeta do Rio de Janeiro, tinha a função de divulgar toda a informação oficial emanada do Poder Real. Os periódicos produzidos pela iniciativa privada apareceram mais tarde. “A Idade d’Ouro do Brasil”, publicado em 1811 na Bahia, pela tipografia de Manuel Antonio da Silva Serva, foi o primeiro periódico produzido pela iniciativa privada de circulação regular no país.” Com o atraso relativamente tardio se comparado aos demais países, o advento da imprensa escrita se dá no momento de transição da colônia para sede do poder real. Caracterizada como uma chegada tardia, para MARQUES DE MELO, a imprensa não se instalou antes no Brasil porque não se fazia necessária. O país mantinha-se, até aquela época, em situação de atraso, não preenchendo os requisitos mínimos para abrigar o Príncipe Regente e seus nobres acompanhantes, acostumados aos progressos de uma capital européia. (MARQUES DE MELO, 2003, p.11). Desde seu surgimento, a maior dificuldade dos jornais periódicos era conciliar a confecção gráfica com a rapidez da notícia. Uma vez redigidas, as opiniões e informações, para chegar às mãos dos leitores, tinham que passar por um complicado e demorado processo de produção de páginas-matrizes e impressão. Até o final do século XIX, a maioria dos jornais era um trabalho praticamente artesanal, feito por uma única pessoa. Atualmente, essa questão ϭϳ de “manual” e dependência dos órgãos públicos em relação à imprensa local têm outras formas de pensar. Para Ortet (1998): o fato de o periódico regional manter atrasos tecnológicos de impressão em relação ao da capital não o torna artesanal. Mesmo porque é notável a evolução dos jornais locais nos últimos 30 anos. Quanto à dependência da prefeitura, alega-se que o órgão seria como qualquer outro cliente, que não tem direito de interferir na produção e na linha editorial do periódico. Diante de suas limitações, o jornal do interior é considerado um fiscalizador dos poderes político e administrativo. (ORTET, 1998, p.26) Segundo Rangel (1929, p.90), a história da imprensa na cidade de Guariba (SP) começou com duas tentativas para a fundação de um jornal, em datas imprecisas, mas ambas fracassaram. O município com 35.486 habitantes, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010), não possui um histórico cultural que possa equipará-lo a outras cidades onde os níveis de cultura são constantes e tradicionais, mas a imprensa escrita local tem tradição com papel relevante nos acontecimentos históricos de Guariba, em qualquer segmento comunitário. De fato, os jornais editados na cidade ao longo dos anos sempre exerceram papel importante nos fatos que contribuíram à história guaribense. No período que antecedeu à emancipação política do município, e quando a comunidade tinha apenas a condição de vila pertencente ao município de Jaboticabal, cogitou-se, por duas vezes, a publicação de um jornal, que, entretanto, teve vida curta, sem destaque maior. Segundo Martins (1996, p.61), o primeiro jornal, O Guaribense, apareceu na cidade no ano de 1902 e tinha como redator Edmundo de Camillis. Sobreviveu apenas dois meses e acabou desaparecendo com a mudança de domicílio de seu redator e proprietário para a capital. Neste mesmo ano, a Imprensa Nacional instalou a primeira rotativa no país cinco anos antes do primeiro jornal a introduzir cores em suas edições, que foi a Gazeta Carioca. ϭϴ Em seguida, a população população guaribense teve a notícia da fundação de um novo órgão com o título de O Independente, de propriedade do farmacêutico João Batista Grossi. De acordo com Martins (1996, p.62), o jornal surgiu com ótimos artigos e notícias, notícias sendo suas edições muito disputadas, sputadas, mas como o Guaribense, teve eve também suas edições provisórias. Seu redator mudou-se mudou para Araraquara (SP), onde foi assassinado por motivos desconhecidos. desconhecidos Houve ainda outras tentativas de implantação de outros out veículos de comunicação, municação, mas foi em vão vã devido à falta de recursos financeiros e de colaboradores que pudessem ajudar na elaboração dos mesmos. Foi então no dia 1º de janeiro de 1918, que surgiu a Gazeta de Guariba. Foto 1: Exemplar do jornal “Gazeta de Guariba”.. Fonte: Arquivo Pessoal ϭϵ Segundo Grieco (2011), foram seus fundadores, Domingos Braga, que assumiu o cargo de redator chefe, e Alberto Capovilla, guaribense, ocupou o cargo de secretário. Este veículo, em princípio independente, filiou-se mais tarde ao Partido Republicano. Todas as suas notícias e informações eram voltadas a este partido político; com isso, possuía uma linha editorial direcionada/pautada, que atendia somente às necessidades das autoridades e não da população local. Na realidade, era porta-voz do partido. Cabe ressaltar aqui a frase que consta na apresentação do livro Imprensa e Poder: "Não há poder sem imprensa nem imprensa sem poder". A questão da “vinculação do poder” com a mídia é muito discutida. Essa relação faz com que esse tipo de imprensa jogue fora a ética e ignore o verdadeiro sentido do que é liberdade de expressão pelos privilégios que recebe em troca dos partidos e poderes a ela relacionados. Essa característica acontece desde o surgimento da imprensa no Brasil. Pode-se perceber que a Imprensa brasileira funcionou muito tempo sob pressão e censura em vários períodos, desde os primeiros generais da República, passando pela Era Vargas com o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), desaguando nos absurdos da ditadura militar. ARAÚJO (2004). Segundo Martins (1996, p.26), na 12ª edição da Gazeta de Guariba, Domingos Braga passou o cargo de chefe de redação ao seu companheiro Alberto Capovilla. No dia 7 de março de 1918, tomou posse como chefe de redação, convidando para substituí-lo na secretaria o jovem Celso Ferras. Capovilla manteve-se, com um bom desempenho no seu posto até 5 de maio de 1919, quando foi substituído pelo jornalista carioca, então secretário da Câmara Municipal, Octávio Rangel, que por sua vez, convidou para redator secretário, o professor Luís de Souza. Para Rangel (1929, p.91), neste período, o jornal vivenciou uma inesquecível e violenta luta política, quando Octávio Rangel (redator chefe no período), foi vítima de duas agressões físicas. Em 1920, Joaquim Umbelino ϮϬ Montemór assumiu a propriedade do semanário. Como redator estava o professor Gabriel Pereira Filho, sucedido por Theodoro Carlos de Magalhães. Foto 2: Otávio Rangel, jornalista que morou na cidade. Fonte: “Guariba 100 Anos” De acordo com Grieco (2011), no dia 3 de dezembro de 1922, Antonio Capovilla, irmão mais velho de Alberto Capovilla, e Odilon de Araújo compraram a propriedade do semanário. Ambos escreveram no jornal durante muito tempo, vendendo mais tarde o primeiro ao segundo sua parte e desligando-se do mesmo. Após dois anos de propriedade do semanário, Odilon de Araújo vendeu a Gazeta de Guariba para Laurindo de Oliveira, que em 1927 abriu mão para Francisco Grieco, quando o jornal tem início a uma nova fase. Segundo Grieco, o jornal progrediu com seu empenho em uma fase difícil, de Ϯϭ material limitado e máquina impressora manual. Imprimiu também A Gazeta, A Tesoura e o Binóculo, contando com a ajuda de colaboradores talentosos como Octávio Rangel, Luiz de Souza, Jorge Bilac Teixeira e Gabriel Pereira Filho. Foto 3: Francisco Grieco (proprietário da “Gazeta de Guariba”. Fonte: Família Grieco Ao lado do jornal, a família tinha uma livraria e papelaria conhecida por “Bazar da Gazeta”. Em sua edição do mês de agosto, registrava, a desígnio da Revolução de 1924: ϮϮ Nós pequenos da imprensa, queremos contribuir para a divulgação de um ato, pelo menos, passado nesta pequena cidade: o sacrifício voluntário de cidadãos que, em longas vigílias, passaram noites de armas ao ombro, nas estradas, nas ruas, na guarda dos edifícios públicos da cidade e da família guaribense. Constituída a Guarda Municipal, a ela se filiaram espontaneamente (...) os seguintes distintos cidadãos: Tenente farmacêutico Antonio Capovilla, Presidente da Junta Militar de Guariba, farmacêutico Francisco P. Faro, Juiz de Paz, cirugião dentista Agenor C. Kamla, Benedito P. Barbosa, Escrivão de Coletoria Estadual, Francisco de Barros Carvalhaes, comerciante, Franklin A. da Silva, 1 º suplente do Juiz Federal, Sebastião Teixeira Braga, Secretário da Câmara Municipal, Richiero B. Werneck, escrivão da Polícia, José Tobias P. da Cunha, carcereiro da cadeia local, Benedito Claro, fiscal municipal, cabo Joaquim Augusto Severino, da força Pública do Estado, soldado Bernardino da Silva, do destacamento local. (RANGEL, 1930, p. 65). O jornal teve sua circulação em duas fases: a primeira de 1918 até meados de 1930 e a segunda fase de 1949 a 1962. De acordo com Grieco (2010), em entrevista realizada para esta pesquisa, a situação a partir da segunda metade dos anos 30 foi dramática, marcada internamente pelos tempos ditatoriais do Estado Novo (1937 – 1945) e no plano externo, pelo desenrolar da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945). As dificuldades impostas pelo Estado Novo foram vividas na cidade. Até as sessões da Câmara Municipal foram suspensas. Em 1942, o jornal Gazeta de Guariba também é fechado. Segundo Martins (1996, p.130), após telegrama do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda)1, ao tempo do prefeito Bento Carlos Botelho do Amaral, o veículo é fechado em obediência às leis do país, por motivos ignorados. Para Grieco (2010), o encerramento parcial do jornal aconteceu devido à perseguição política da época, pois o jornal era vinculado ao PR (Partido Republicano). 1 Com o objetivo de aperfeiçoar e ampliar as atividades do Departamento Nacional de Propaganda, Vargas criou, em dezembro de 1939, o Departamento de Imprensa e Propaganda, extinguindo, através do mesmo decreto, o DNP. A direção geral do novo departamento permaneceu nas mãos de Lourival Fontes, diretor do antigo órgão. A partir da criação do DIP, todos os serviços de propaganda e publicidade dos ministérios, departamentos e estabelecimentos da administração pública federal e entidades autárquicas passaram a ser executados com exclusividade pelo órgão, que também organizava e dirigia as homenagens a Vargas, constituindo o grande instrumento de promoção pessoal do chefe do governo, de sua família e das autoridades em geral. O DIP tornou-se o órgão coercitivo máximo da liberdade de pensamento e expressão durante o Estado Novo e o porta-voz autorizado do regime. Ϯϯ O semanário retomou suas atividades em 1° de janeiro de 1949 inaugurando a segunda fase. À frente do tradicional periódico, seus antigos proprietários. Empenhados em dar continuidade ao trabalho e servir a cidade, nesta última fase, a equipe do jornal era composta da seguinte forma: proprietário – Francisco Grieco e redator chefe: Gercino Grieco. Neste momento, o processo de elaboração das páginas a serem impressas era montados com tipos móveis, composto letra por letra. A impressão era feita em máquina manual, e quem a manuseava era Aurélio Cristhóforo2. As edições tinham início, no começo da semana, com matérias copiadas dos grandes jornais de São Paulo e do Rio de Janeiro e, nos finais de semana, faziam-se os últimos retoques com matérias locais. A circulação acontecia aos domingos, e na maioria das vezes, trabalhavam até a madrugada para que estivesse tudo pronto de manhã para ser distribuído. De acordo com Grieco (2010), a Gazeta de Guariba, bem como os jornais anteriores, também dependiam do apoio da prefeitura. Segundo ele, naquela época, era um valor fixo que o veículo recebia “subvenção”, diferentemente de hoje que o valor pago é através das publicações por cm x col (centímetro de coluna) 3. Atualmente, essa questão de “manual” em relação à imprensa local e dependência do faturamento da prefeitura têm outras formas de pensar. Essa questão é tratada por Ortret. O fato de o periódico regional manter atrasos tecnológicos de impressão em relação ao da capital não o torna artesanal. Mesmo porque é notável a evolução dos jornais locais nos últimos 30 anos. Quanto à dependência da prefeitura, alega-se que o órgão seria como qualquer outro cliente, que não tem direito de interferir na produção e na linha editorial do periódico. Diante de suas limitações, o jornal do interior é considerado um fiscalizador dos poderes político e administrativo. (ORTET, 1998, p.126). 2 3 Funcionário e tipógrafo da gráfica e responsável pela impressão do jornal. Jornais são diagramados em colunas, sendo que a quantidade de colunas (e medidas) pode variar de acordo com o formato do jornal (Standard, Tabloide, Berliner, etc.). Na parte de conteúdo editorial alguns jornais trabalham com 5 outros com 6 colunas, sendo que classificados podem ter de 8 a 10 colunas. Ϯϰ As despesas eram pagas pelo próprio proprietário que não obtinha lucro na elaboração do semanário. Suas edições eram elaboradas no tamanho standard4. Em pesquisas realizadas em alguns exemplares, graficamente falando, o jornal não era bem elaborado; as informações eram “jogadas”, ou seja, mal distribuídas internamente, e na capa, acontecia o acúmulo de matérias. As ilustrações e as fotos não eram aproveitadas nas suas edições. Em virtude desse problema, a leitura do mesmo tornava-se um pouco cansativa. No ano de 1962, a Gazeta de Guariba anuncia o encerramento de suas atividades. O alto custo do material, número insuficiente de anúncios e o preço elevado da mão de obra, são as justificativas apresentadas por Martins (1996, p.178). Para Grieco (2010), a maior contribuição para o término de suas atividades, foi falta de apoio da Administração Municipal da época. No dia 27 de outubro de 1974, outro veículo de comunicação chega a Guariba. Com o mesmo nome do primeiro jornal local, O Guaribense tinha como diretor Habd Gabriel e redatores Luiz Passarini e Paulo Sérgio Gabriel. Elaborado na cidade de Matão (SP), servia simplesmente para publicação de atos oficiais do município. Por tanto, não foi possível conseguir maiores detalhes e informações do mesmo, somente a capa abaixo (foto 4). O jornal sobreviveu até o final de 1976, de acordo com Barrichello Netto (2010), em entrevista anexa. No ano seguinte, atendendo à necessidade de um veículo de informação na cidade, registrava-se em 1977 a fundação do jornal A Comarca de Guariba, propriedade de Roodney das Graças Marques e Luiz Barrichello Netto, que passou a circular regularmente a partir de 1978. 4 Medida largamente utilizada pelos jornais de maior circulação nacional, em função do aproveitamento máximo da área de chapa das offset . Nesse formato, a mancha gráfica da página mede 52,5 por 29,7 centímetros. A área total de papel depois de impresso é de 56 por 32 centímetros. Para a confecção, é necessário equipamento de impressão rotativo, disponível em grande editora e parque gráfico de jornais diários e periódicos de grande circulação. O formato Standard assim como o tablóide segue a diagramação modular que mescla a distribuição vertical com a distribuição horizontal das matérias em busca de um layout de página dinâmico e atraente para o leitor. Ϯϱ Foto 4: Exemplar do jornal “O Guaribense” de 14/01/76. Fonte: Arquivo Pessoal O objetivo principal deste jornal, segundo Marques (2010), em entrevista em anexo, era ter edições de duração permanente e uma linha editorial completamente independente de órgãos públicos. A Comarca de Guariba, não conseguiu ter suas edições permanentes, mas manteve a proposta inicial de possuir uma linha editorial diferenciada de jornais anteriores, ou seja, sem vínculos políticos. Ϯϲ A distribuição era semanal, feita aos domingos, e seu formato era germânico5. Diferentemente do jornal anterior, o veículo terceirizava a impressão em uma gráfica na cidade de Ribeirão Preto (SP), o que era comum até o final dos anos 80. No dia 15 de maio de 1984, a cidade foi palco da greve dos boias - frias, (que veremos detalhadamente o que foi este conflito social, causas e conseqüências, no Capítulo 3 no item 3.1). O jornal que estava em circulação era exatamente a Comarca de Guariba. Mesmo estando prestes a encerrar suas atividades, não deixou de registrar e informar a população em geral, daquele acontecimento que marcou a história do município e dos trabalhadores rurais. Em consulta no exemplar que divulgou o conflito, pode-se perceber que o jornal local não “destacou” a notícia com tanta ênfase e importância como os veículos nacionais e internacionais noticiaram o acontecimento. A repercussão deste conflito social local nos meios de comunicação regional, nacional e internacional foi grandiosa. Diversos jornais, TVs, rádios e revistas semanais estiveram na cidade para “cobrir” a greve, e até hoje o movimento é lembrado quando a questão do trabalhador rural é discutida. No dia 30 de julho de 1984, o jornal A Comarca de Guariba, declara seu encerramento pelo mesmo motivo que o anterior encerrou suas atividades: falta de recursos financeiros necessários para a sobrevivência. Para Marques (2010), em todos estes anos de garra, na elaboração deste semanário, o idealismo era muito presente. “Não tínhamos lucro algum através do jornal, foi na base de muita garra, que eu e Barrichello conseguimos ficar sete anos no mercado. Não existia lucro nenhum, a não ser o nosso próprio esforço”. Pode-se analisar neste momento, que mais uma vez, a falta de recursos financeiros estava presente nos jornais locais e contribuiu para o encerramento do mesmo. 5 Um pouco mais alto que o tablóide, sua utilização vem crescendo em meio a outros formatos, é uma opção interessante, por ser um formato de baixo custo e grande aproveitamento de área de impressão em equipamentos offset plana. A mancha gráfica é de 43 por 29,7 centímetros, e a área total de papel de cada página fica com 46 por 32 centímetros de largura. A mancha gráfica ainda pode ocupar todo o papel, sem prejudicar a impressão. Ϯϳ Foto 5: Exemplar do jornal “A Comarca de Guariba”. Fonte: Gráfica Grieco Ltda O município contou ainda com outro jornal, A Folha da Região, fundado no dia 21 de abril de 1989, pelo guaribense Odilon Miguel Pacífico. Seu redator foi Roodney das Graças Marques, (proprietário do jornal anterior), e a jornalista Ϯϴ responsável era Ana Lúcia Castro, substituída em 1994 por Farias Brasil, morador da vizinha cidade de Jaboticabal (SP). Mesmo estando no final da década de 80, a elaboração de suas páginas também era manual. Neste período, o jornal não contava ainda com computadores e programas gráficos para a diagramação, em compensação, a situação começava a modificar em favor desse e demais veículos de cidades pequenas, pois o jornal possuía o seu próprio parque gráfico, acelerando o processo de elaboração do tabloide6. Hoje, a imprensa do interior tem como características fundamentais o esforço pela introdução de maior velocidade, refletido na substituição rápida de tipos e linotipos por sistemas de impressão em rotativas e offset, na introdução acelerada da informática, tecnologia que, além de aumentar a rapidez, impulsiona a melhoria da qualidade estética e gráfica dos jornais. (ORTET, 1998, p.125) Em pesquisa nas edições de 1992, percebe-se o acúmulo de textos e poucas imagens. Meses depois, notam-se mudanças consideráveis em suas páginas, com edições bem diagramadas, e com diversidade de fotos. Em entrevista realizada para este estudo, Castro (2011), diretora de redação na época, afirma que a estética e qualidade do jornal melhorou devido à aquisição de computadores para elaboração do mesmo, “realçando que com novas tecnologias tudo ficou mais prático e ágil”. Durante os quatro anos seguintes, A Folha da Região foi dirigida pela família Pacífico. Possuía alguns colaboradores que escreviam para o jornal e a diagramação era feita por uma funcionária da gráfica. Com circulação aos sábados, o jornal continuou no formato tabloide. Segundo Castro (2011), para sobreviver, o veículo contava com a venda de assinaturas, publicidade paga (anúncios), que eram poucos, e também, 6 O termo designa um formato de jornal surgido em meados do século XX, no qual cada página mede aproximadamente a metade do tamanho de um jornal convencional (ou seja, cerca de 37,5 cm x 60 cm), Standard, as notícias são tratadas num formato mais curto e o número de ilustrações costuma ser maior do que o dos diários de formato tradicional. Ϯϵ como em alguns jornais anteriores, publicavam atos oficiais. Mesmo não sendo essa a sua proposta, o jornal acabava tendo uma linha editorial voltada para esses poderes públicos. Além disso, o proprietário possuía uma gráfica que fazia outros serviços e ajudava nas despesas do semanário. Foto 6: Exemplar do jornal “A Folha da Região”. Fonte: Arquivo Pessoal Em janeiro de 1997, o proprietário Odilon Miguel Pacífico sofreu um infarto e faleceu. A cidade ficou chocada com a notícia, por ser um homem conhecido e filho de Guariba. A esposa Sonia deu continuidade com o jornal até o final do ano de 1997, mas pelos mesmos motivos dos demais veículos de comunicação do município, acabou por encerrar suas atividades no dia 20 de dezembro de 1997. No período relatado acima, passaram pela cidade oito jornais com tamanhos e formatos diferenciados, diversos proprietários, que se adequaram às transformações e avanços tecnológicos exigidos pelo mercado, mas ϯϬ fecharam suas portas pelo mesmo motivo: falta de recursos financeiros. Dentre eles, três foram apenas citados por Grieco (2010) em entrevista: A Tesoura, O Binóculo e O Independente, sem maiores detalhes. No tópico abaixo, 1.2, conheceremos a história do jornal atual e um dos objetos de estudo desta pesquisa. Trata-se do Guariba Notícias, fundado no dia 12 de agosto de 1995 por Domingos Aparecido Rodrigues de Oliveira e Ana Lúcia Castro. 1.2 - O “Guariba Notícias”: de 1995 a 2011 Hoje, o município possui um único jornal, que circula com regularidade há 16 anos, e tem por título Guariba Notícias, onde chamaremos aqui de G.N. Fundado no dia 12 de agosto de 1995 por Domingos Aparecido Rodrigues de Oliveira e Ana Lúcia Castro, o objetivo do semanário era contribuir e fazer parte da história da cidade através de notícias sem vínculo político, e a princípio propunha uma linha editorial própria. Quando Oliveira resolveu fundar o semanário, a cidade já possuía um jornal - A Folha da Região. Para ele, a instalação de mais um veículo de comunicação poderia contribuir com o desenvolvimento cultural da cidade e agregar valores na história da mídia local, e assim, seus sonhos e ideologias seriam alcançados. Dois anos após o nascimento do G.N, A Folha da Região encerrou suas atividades devido à morte de seu fundador, Odilon Pacífico. Esse motivo foi apontado por Castro (2011), bem como os elevados custos de materiais e falta de recursos financeiros necessários para a sobrevivência da empresa jornalística. Nos primórdios do G.N, o processo de elaboração do semanário era realizado na residência do proprietário, pois o mesmo não possuía recursos para montar um escritório que abrigaria o tão sonhado veículo de comunicação. As fotos eram feitas por ele mesmo e depois de reveladas, (filmes), eram ϯϭ encaminhadas para a jornalista elaborar o boneco7. A diagramação e impressão aconteciam em uma gráfica terceirizada. Foto 7: 1º exemplar do “Guariba Notícias”. Fonte: Arquivo Pessoal Em entrevista realizada para este estudo, Oliveira (2010) afirma, que este momento foi um dos mais difíceis do G.N, pois ele levava o jornal para ser diagramado em uma gráfica de Araraquara (SP) e esperava no local a 7 Um desenho de como seria a diagramação do jornal. ϯϮ impressão até amanhecer. Além de cansativo, era perigoso, pois vinha com sono na estrada e muitas vezes aconteciam atrasos na impressão. O G.N começou a ser elaborado em formato tabloide8, com tiragem inicial de 1000 exemplares. Sua distribuição, que no primeiro mês foi gratuita, acontecia aos sábados. Devido à enorme procura, de acordo com Oliveira (2010), ocorreu um aumento significante de assinantes9 - em três meses, o “Guariba Notícias” começou a circular através de assinaturas e também com venda em banca de jornal. Para nós, a aceitação ao nosso trabalho, foi de extrema importância e com certeza serviu de estímulo para continuarmos aquele sonho que parecia impossível, por termos conhecimento da história de outros jornais locais que não conseguiram sobreviver. OLIVEIRA, (2011). Por esse motivo, no mês de novembro de 1995, no mesmo ano da fundação, foi montado um escritório para a comercialização e elaboração do semanário no centro da cidade, onde se encontra até hoje. No local, havia apenas uma máquina de escrever, uma escrivaninha e um telefone (Oliveira, 2010). Durante dois anos, o formato do GN permaneceu tabloide e não existia dependência de nenhum órgão público, diferente da realidade de muitos jornais que passaram pela cidade, que desde a fundação, necessitavam desse tipo de “parceria”. Os recursos do jornal neste período eram obtidos através das assinaturas e publicidades pagas. Para Oliveira (2010), sua garra e intenção de possuir a tão sonhada liberdade de expressão, faziam com que ele mesmo saísse à procura de “recursos” para sua empresa. Vendia assinaturas e anúncios de porta em porta. Este formato é resultado da divisão do formato standard em duas partes, ou seja, é a metade do formato. Cada página possui uma mancha gráfica de 26,5 centímetros horizontais por 29,7 centímetros verticais. , embora, encontrarmos algumas variações de formato como: 28 X 38 cm, 29 x 40 cm O papel total de duas páginas impressas é de 56 por 32 centímetros, o mesmo que uma única página standard impressa. O formato assume um aspecto cômodo, inclusive para encartes especiais ou cadernos suplementares de um formato standard, pelo encaixe perfeito entre os cadernos principais do jornal. 8 9 Foram 500 assinantes em apenas três meses de circulação. ϯϯ Foto 8: Exemplar do “Guariba Notícias” (tabloide). Fonte: Arquivo Pessoal Dois anos se passaram e o formato do semanário passa a ser germânico. Até este período, podemos notar através de pesquisa e análise em suas edições, que o G.N mantinha a linha editorial proposta na fundação e não existia dependência total de órgãos públicos. Neste momento, a estrutura da empresa jornalística era regular, possuía um computador, que servia simplesmente para digitação de textos, mas continuava com o “arcaico” processo de elaboração manual, chamado de past-up (manual). ϯϰ Acompanhando os padrões dos jornais da época e a aceitação do semanário na cidade, no ano de 1999, o veículo muda novamente de formato, passou a ser standart em PB (preto e branco). A partir deste ano, o número de funcionários aumentou devido ao crescimento e evolução do veículo. De uma secretária que exercia também a função de telefonista e vendia anúncios, montou-se uma equipe de cinco vendedores que trabalhava na cidade em busca de novos assinantes. As fotos que até o momento eram tiradas pelo proprietário, passaram a ser feitas por um fotógrafo profissional. Duas pessoas que exerciam a função de vendedoras de assinaturas foram contratadas para a diagramação, anteriormente manual e realizada pela jornalista. Novos computadores foram adquiridos, e assim, ampliou-se a redação. A partir daqui, o G.N começa a contar com uma equipe de redação: jornalista, fotógrafo e diagramador. Por conseqüência de todo processo de transformação e dos avanços tecnológicos vivenciados, nesta fase, as edições eram encaminhadas para a gráfica completamente diagramada, somente para ser impressa. Nota-se neste momento que o G.N acompanhou o processo de inovações e transformações de sua redação, como vinha acontecendo na grande imprensa. Em pesquisas realizadas nas coleções do Guariba Notícias desde sua fundação, percebem-se nitidamente as mudanças gradativas que o jornal alcançou, sendo possível conferir e comparar através da diagramação dos exemplares (fotos 7, 8 e 9), com os das páginas 38 e 39. Mas nem tudo ocorreu de acordo com os ideais mencionados em relação à dependência. Como toda ação gera uma reação, nesta nova fase de mudança e crescimento constante, é possível relatar o contrário do que foi visto anteriormente. O jornal passa a realizar com mais freqüência, publicações da Administração e Câmara do Município, pois a partir daqui existiu um “contrato” firmado por intermédio de uma licitação, onde o veículo “ganhou” o direito de publicar os atos oficiais desses órgãos públicos. ϯϱ Foto 9: Exemplar do “Guariba Notícias” (germânico). Fonte: Arquivo Pessoal Neste momento, o jornal começa a passar por “adequações” tangíveis, como o aumentou do número de matérias direcionadas a “mostrar” de forma satisfatória o trabalho desses poderes políticos local. Mesmo tentando manter a linha editorial proposta na fundação, não é exatamente o que acontece deste período até os dias atuais. Existem notícias que criticam o atual governo, mas as que “divulgam” o trabalho do mesmo se sobressaem. Aqui, constata-se o início da dependência financeira, e “troca de ϯϲ favores” perante esses órgãos públicos, como aconteceu em quase todos os jornais pesquisados que circularam no município. Segundo Oliveira (2010), essa dependência que existe dos poderes públicos sempre existiu e continuará acontecendo nos jornais do interior, considerados de porte pequeno. Segundo ele, os jornais, não conseguem sobreviver somente das assinaturas e anúncios, mesmo porque os comerciantes, como é o caso de Guariba, não compreendem a importância em divulgar seus produtos, ao contrário das capitais, onde o fluxo publicitário é gigantesco. “Infelizmente, temos que nos submeter a essa dependência, mas deixando claro o verdadeiro significado da imprensa, bem como, o da liberdade de expressão, que consiste em divulgar as notícias, independentemente do conteúdo e das opiniões”. (OLIVEIRA, 2010). A cor chegou ao GN em 2001 (página 39). O multicolorido das imagens e alguns outros recursos visuais são inovações perceptíveis. O semanário que começou sendo distribuído gratuitamente e elaborado no tamanho tabloide, superou as expectativas de seu fundador. Em entrevista, Oliveira (2010) relatou que as mudanças foram realizadas para aumentar a credibilidade e acompanhar a necessidade do mercado atual que é totalmente voltado para a inovação, principalmente devido à chegada das novas mídias, que são: sites, blogs, e agora também as redes sociais que estão sendo usadas para noticiar fatos e acontecimentos com mais agilidade, como é o caso do facebook10. 10 É uma rede social. O Facebook tem mais de 19 milhões de usuários registrados, em 47 mil redes regionais, de trabalho, universitários ou colegiais. A popularidade do site está vinculada ao controle dos usuários sobre o que os outros membros podem ver. A rede social Facebook era voltada somente para estudantes e professores cujo acesso só era permitido se a instituição de ensino fosse cadastrada. Mas agora você também já pode se cadastrar e usufruir de seus serviços. O Facebook, bastante respaldado por publicidade, ganhou um impulso significativo no ano passado. Desde que o site abriu para o público não estudante há oito meses, o número de membros duplicou para 24 milhões, de acordo com a empresa de pesquisa ComScore. Os usuários agora passam, em média, 14 minutos no site por acesso em relação aos oito minutos registrados no último mês de setembro, segundo o Hitwise, um serviço de medição de tráfego de rede. Inicialmente, usuários intermediários, que já estão acostumados a lidar com o Orkut, por exemplo, não terão dificuldades em utilizar o sistema. Com design clean e bastante intuitivo, o Facebook disponibiliza basicamente tudo que uma rede social pode oferecer. ϯϳ Após essas mudanças (formato e cores), o jornal começou a vender mais anúncios e assinaturas. Sua tiragem alcançou 3000 exemplares. Segundo o proprietário, todas essas mudanças e inovações contribuíram com o setor comercial da empresa e no aumento das vendas nas bancas. Hoje, esse departamento possui duas pessoas que vendem assinaturas, anúncios e classificados. Dentre elas, uma acumula função de secretária e gerente comercial. Até o final do ano de 2003, o semanário possuía apenas uma jornalista, Ana Lúcia Oliveira de Castro, que já tinha sido diretora de redação da Folha da Região. No início de 2004, o G.N conta com mais uma, a autora deste trabalho. Várias pessoas escreveram e algumas continuam colaborando com artigos semanais para o jornal, dentre eles, Gercino Grieco, Netto Barichello (in memorian), Roseli Siqueira, Ramez Atique, Edevaldo Costa Lemos, Ginaldo Chiquitto, Maria Cidale, João Jorge Alves Ferreira, Edno Maltoni, Silas Sgarbosa, Plínio Varela, Dr. Luiz Roberto Felix, Osvaldo Chiquiteli, entre outros. No ano de 2008, o Guariba Notícias passa a ser elaborado no formato berliner11 (foto 12) e mantém as cores na capa e contracapa como no formato standard, mas devido à necessidade e procura de anunciantes, agora é possível verificar a existência de mais páginas coloridas internamente. Hoje (2011), a equipe de redação é formada por três pessoas. Todos diagramam suas páginas e o trabalho do fotógrafo tornou-se mais rápido, devido à tecnologia da câmera digital, que tem facilitado o trabalho. A internet também colaborou na elaboração do semanário, pois as matérias e informações que, antes era necessário estar a campo para escrevê-las, hoje é possível através de e-mail adquirir informações diversificadas e até elaborar entrevistas. As jornalistas que são responsáveis pelo semanário também fazem o trabalho de diagramação e fotografia, quando necessário. 11 Berlinense, também conhecido como Berliner ou midi, é um formato de jornal com páginas que normalmente medem 470 × 315 milímetros, ou seja, ligeiramente maior do que o formato tabloide/compacto. Esse formato é usado em vários diários europeus, incluindo o Le Monde, na França, e o La Repubblica, na Itália. O jornal The Guardian, do Reino Unido, adotou esse formato em Setembro de 2005. ϯϴ , Foto 10: Exemplar do “Guariba Notícias” (Standart - PB). Arquivo Pessoal ϯϵ Foto 11: Exemplar do “Guariba Notícias” (Standart – Color). Arquivo Pessoal ϰϬ Foto 12: Exemplar do “Guariba Notícias” (Berliner). Arquivo Pessoal Segundo Oliveira (2010), suas edições foram regulares desde a fundação, ou seja, não deixou de circular nenhuma nas datas programas, nesses 16 anos. Pode-se perceber neste capítulo, que a cidade de Guariba (SP) possui uma relevante história sobre a mídia impressa. Os jornais que circularam na cidade contribuíram para as necessidades de expressão da população, mas de ϰϭ um modo especial, atendeu as necessidades dos governos políticos, que aproveitaram essa “ligação” necessária com os veículos, e a fragilidade financeira dos mesmos, e acabaram “pautando” muitas notícias que são veiculadas. Os jornais locais, de um modo especial, o Guariba Notícias, que foi possível fazer uma pesquisa mais ampla e concreta, tornaram possível as necessidades de seus “parceiros”. Percebem-se ainda, que os jornais locais assumiram um papel de auxiliar na formação da população guaribense, principalmente devido os seus registros históricos. Por este motivo, foi feito este resgate do “percurso” e transformações tecnológicas que os veículos de comunicação percorreram. No próximo capítulo, conheceremos a história da cidade de Guariba (SP) através de um resgate histórico da mesma, e os conceitos, características e tendências de mídia local. ϰϮ 2 – MÍDIA LOCAL: CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS 1. Guariba: a cidade Foto 13: Mapa da Região. Fonte: Site oficial do município A cidade de Guariba está localizada na região nordeste do Estado de São Paulo, a 64 km de Ribeirão Preto. De acordo com Martins (1995, p.10), pertencia a uma sesmaria, denominada “Sobra de Pintos”, que era da família de João Pinto Ferreira que, em 1828, cedeu terras para demarcação do futuro município de Jaboticabal, área que ainda não servia para ser habitada e com isso surgiria Guariba, em princípio como distrito de Jaboticabal. ϰϯ Segundo Martins, (1995, p.11), antigamente a região era habitada pela grande família do grupo indígena Gês, que foi descoberta nos séculos XVII e XVIII por Bandeirantes que demandavam o ouro de Mato Grosso e Goiás, momento de destruição e expulsão daquela população indígena. No começo do século XIX, já configurado o declínio do ouro nas Minas Gerais, registrou-se na área a permissão de terras para cultivos agrícolas, através de doação de sesmarias. Famílias mineiras ocuparam em grande parte essas sesmarias. Na parte chamada “Sobra de Pintos” encontrava-se a fazenda Macaúbas, de propriedade de Antônio Paes, adquirida posteriormente por Constância Delphina da Conceição, primitiva moradora que tem seu nome ligado à origem da cidade e também de sua história. Na fazenda Macaúbas foi instalada a Estação Ferroviária, denominada “Estação Guariba”, pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro. A cidade surgiu no conjunto do avanço do café e da via férrea, especialmente no momento em que uma companhia inglesa obtinha a concessão governamental para expansão da linha. Sua localização foi presidida pelo avanço dos trilhos, rumo ao noroeste. A estação intensificava a entrada de imigrantes, trabalhadores livres, representando a nova força de trabalho, substituindo o trabalho escravo. De acordo com Barrichello Neto (2006, p. 15), a Estação de Guariba, que seria a origem da futura cidade, surgiu no conjunto do avanço do café e da via férrea, especialmente no momento em que uma companhia inglesa obtinha a concessão governamental para expansão da linha. Sua localização foi presidida pelo avanço dos trilhos, rumo a noroeste. De Araraquara a Jaboticabal sucederam-se as estações de Rincão, Timbira, Motuca, Joá, Hammond e, finalmente, Guariba. Segundo Barrichello Neto (2006, p.16), dessas pequenas estações, Guariba foi a que mais se destacou, transformando-se rapidamente. A movimentação e as perspectivas geradas ao redor da Estação de Guariba eram estimulantes. Ali, a leva imigrante que demandou a área, retomou os sonhos de prosperidade e reordenou os projetos de vencer na nova terra, ou seja, de reconstruir suas vidas. A construção da futura Estação de Guariba foi pensada para ocupar as áreas que pertenciam à Constância Delphina da Conceição, membro marcante na cidade pelos bens que possuía. A localidade era conhecida pela presença, ϰϰ sempre em bandos, de macacos de espécie guariba. Esses guaribas passaram a ser referência do local, acabando por dar nome a um córrego que passa no meio da cidade, e também à Estação. Para construí-la, no mesmo local onde hoje se acha a extinta Estação Ferroviária da cidade, chegaram à região, no ano de 1891, grandes turmas do município de São Paulo, que assentaram os trilhos e improvisaram uma plataforma para mercadorias. Tudo era improvisado e um simples barracão permaneceu durante anos como a Estação de Guariba. Como forma de ilustrar a história da cidade e a evolução da antiga estrada de ferro, registram-se nas duas páginas seguintes, diversas imagens de diferentes períodos da Estação de Guariba e que hoje se encontra a Rodoviária. Foto 14: Estação da cidade no ano de 1915. Fonte:“Guariba Notícias” Foto 15: Estação da cidade no ano de 1918. Fonte:“Guariba Notícias” Foto 16: Estação da cidade no ano de 1930. Fonte:“Guariba Notícias” ϰϱ Foto 17: Estação da cidade em 2011. Fonte: Arquivo pessoal No seu livro histórico sobre a cidade, Octavio Rangel (1930, p.14), jornalista carioca que residiu em Guariba na década 20, priorizou a construção de uma Capela, pois na localidade já havia significativa população, que necessitava de um lugar para as práticas religiosas. No dia 17 de setembro de 1894, obteve-se a autorização do Bispado de São Paulo. Um ano depois, no dia 21 de setembro de 1895, aconteceu a inauguração do improvisado templo. Em 15 de outubro de 1900, foi criada, efetivamente, a Paróquia de São Mateus, por ato do Cônego Julio Vicente da Silva, de São Paulo, que foi nomeado pelo pároco Vicente Fazio. Construía-se agora uma paróquia, passo importante na evolução daquele “assentamento”, configurando a caminhada para a autonomia administrativa. De acordo com relatado, estava prestes a surgir mais uma cidade do café. ϰϲ Foto 18: Antiga igreja Matriz da cidade. Fonte: Livro: Guariba 100 Anos Para Rangel (1930, p.11), são considerados fundadores da cidade: Evaristo Vaz de Arruda, proprietário da Fazenda Bacuri, onde se idealizou a fundação da cidade, Joaquim Mateus Corrêa, Raphael Corrêa da Silva e também Constância Delphina da Conceição, proprietária das terras onde se assentou o povoado. Tem seu nome ligado à fundação o fazendeiro Joaquim ϰϳ de Abreu Sampaio, que doou as terras para a construção do cemitério local. Entre 1890 e 1910, o número de pés de café no Estado de São Paulo mais que triplicou, configurando nas terras paulistas o maior foco da produção cafeeira do país. Foto 19: Atual Igreja Matriz de São Mateus. Fonte: Arquivo Pessoal Na década de 1890, o Brasil produzia cerca de 70% do café mundial, o que lhe permitia exercer uma influência poderosa na oferta. O produto sustentava a economia brasileira, representando mais de 3/5 de suas fontes de divisas. (ARINOS, 1967, p. 45). A monocultura do café, não diferente do país, também trouxe para a cidade um grande impulso para o progresso. A criação do povoado de Guariba em 1917 se dá no momento em que o Brasil passa a dominar o mercado mundial do café. A cidade, implantada no meio da terra roxa, acabou por ϰϴ reproduzir uma trajetória singular da corrida cafeeira. A tradicional seqüência: café, surgimento da vila e a chegada dos trilhos, alteram-se nessa boca de sertão. Do cafezal surge a Estação: dela advém a religião, a freguesia, o distrito, a futura cidade. De acordo com Cenni (1958, p.34), a entrada de imigrantes no país era maciça; a maioria deles eram italianos. A criação de uma nova área cafeicultora repercutia imediatamente entre os imigrados, pois as contratações, e também os salários, eram vantajosos. Em Guariba, as contradições, disputas e violências típicas das frentes pioneiras também se reproduziram. As relações no início foram difíceis, principalmente pela falta de força policial legal. A autoridade do proprietário da fazenda era a maior. Segundo Rangel (1930, p.23), a instalação do Distrito Policial da cidade aconteceu em 12 de abril de 1897, mas a ordem, porém, era difícil de ser mantida pelo agravar da situação, não só local, mas extensiva a toda nova área cafeicultora, marcada pela tensão, característica de zonas pioneiras. Entre 1886 e 1895, a agitação da repentina subida de preços do café, calhou numa crise do setor. Fazendeiros entraram em desespero, pois não podiam manter o ritmo da produção devido à baixa cotação do produto, e assim, ficavam impossibilitados de saldar suas dívidas através de empréstimos. A dramática situação da cidade virou notícia veiculada pelo jornal O Estado de S. Paulo: “Em Guariba continua a seca, depois da geada não tem chovido, de sorte que os cafezaes, ressentidos ainda, não podem florescer” (04/08/1898). Em 1902, a criação do jornal O Guaribense, dava voz, em letra impressa, àquela sociedade que nascia configurando a vida comunitária local. Segundo Martins (1995, p.20), as perspectivas auspiciosas da cidade foram decisivas para sua transformação de simples povoado em Distrito de Paz, que ocorreu no dia 13 de agosto de 1904. Com essa criação, os negócios eram legalizados na cidade, e não mais, no município de Jaboticabal. Criou-se a Sub Prefeitura no ano de 1906, cabendo a cidade nomear um Sub Prefeito, que estaria sempre ligado à prefeitura de Jaboticabal. Então, esta autoridade respondeu pelo governo local por dez anos até a transformação de Guariba em município independente, em 1917. De acordo com Barrichello Neto (2006, p. ϰϵ 20), neste ano, a cidade tinha uma população de aproximadamente 14.000 habitantes. O movimento emancipativo contou com apoio do Senador Lacerda Franco e do Deputado Plínio de Godoy, visto com bons olhos pelo então presidente do Estado Dr. Altino Arantes. O governo acabou por sancionar a lei nº 1562, decretada pelo Congresso Legislativo e promulgada em 6 de novembro de 1917, criando o município de Guariba, desmembrado de Jaboticabal. (BARRICHELLO NETTO, 2006, p.20). Em 10 de abril de 1918, o município era instalado. Este ano ficou marcado com: o fim da Guerra, da Gripe Espanhola, da Geada, das nuvens de Gafanhotos e das Greves operárias na capital. Em 1922, aconteceu a liquidação definitiva da dívida para com Jaboticabal, coincidindo com os festejos do Centenário da Independência. Segundo Martins (1995, p.23), ainda esse ano, foi possível lembrar a situação favorável que o município derivava, em parte, da alta do preço do café, após a geada de 1918, mas, sobretudo, porque a localidade beneficiava-se do contrato direto com São Paulo e o Porto de Santos, através da ferrovia, possuindo então duas estações da Companhia Paulista: uma na cidade, outra em um núcleo agrícola. Ainda neste mesmo ano, inicia-se a construção da Santa Casa de Misericórdia existente até nos dias atuais. Diversos armazéns, padarias, lojas de armarinhos, atendiam, além da população local, moradores das fazendas da região que se instalaram em Guariba. Além disso, foi instalada na cidade, nesta mesma época, pela família Baldan, uma indústria, que ainda hoje continua no mesmo local onde nasceu, atual Rua 9 de Julho, que é, com certeza referência para os moradores, cujo cotidiano, inclusive, é pautado pelo soar de uma sirene – o apito da fábrica que baliza o despertar, a hora do almoço e às 17h00 - quando seus funcionários encerram suas atividades, assim, configura-se como o fim do expediente para muitos. De acordo com Rangel (1929, p.29), Guariba vivenciava tempos difíceis no ano de 1929. A queda da bolsa de Nova York e a depressão econômica, ϱϬ advinda dela, refletiu-se de forma dramática no Brasil e na cidade, afinal, o país tinha na exportação de café quase três quartos de sua receita externa. Para piorar ainda mais, o aumento do plantio na década de vinte, estimado pelo governo, acabou por causar ofertas excessivas, acrescidas ainda das colheitas excepcionais, resultado de condições climáticas adequadas de anos anteriores. Soluções imediatas não existiam, sobretudo, para áreas monocultoras, como a de Guariba. A cidade vivia em função do café, embora já se percebesse alguma diversificação por parte de certos agricultores que estavam cientes dos riscos de reinvestir em um só produto. No geral, eram homens da lavoura, e dela dependiam completamente; e por este motivo, no ano de 1929, “quebraram” irremediavelmente. É sabido que esse fracionamento transferiu as terras para a propriedade dos ex-colonos, que adotaram a policultura e deram início, pioneiramente, à cultura da cana-de-açúcar. A saída encontrada na diversificação da lavoura foi provisória. Alguns Ofícios da Correspondência da Câmara dão conta da solicitação dos agricultores ao Governo do Estado. Como foi descrito por Martins (1995, p.27), a cidade, que vivia a euforia da produção cafeeira, se transformou. As fazendas perderam sua grandeza, a população empobreceu. A contenção econômica deu-se especialmente nos serviços públicos. Os problemas econômicos somaram-se aos políticos. Guariba, comprometida com a agricultura, ligada ao poder oligárquico paulista, depositou em Julio Prestes, que era a oposição, os 512 votos da cidade. Com a oposição no poder, não havia muito que fazer. Os reflexos do momento político vividos em 1930 são imediatamente sentidos na cidade. Após dois anos, a cidade sofria novo choque: era a Revolução Paulista de 32. De acordo com Barrichello Neto (2006, p.21), nesse embate, o envolvimento do município foi comovente. Nessa década, a cidade, em meio à grande recessão, viveu sob rígido plano para normalização de sua economia, evitando despesas extraordinárias. A base econômica ainda era o café em 1930. Além disso, alguns pequenos agricultores, que moravam nas fazendas, cultivaram algodão, milho, mamona e amendoim. Ainda nesta década de 30, a Igreja Católica constituía-se em centro, não só da vida espiritual de seus ϱϭ habitantes, mas também dos encontros sociais. A vida religiosa dos moradores da cidade e das fazendas acontecia na Igreja Matriz de São Mateus. Segundo Brandão (1985, p.201), até a Segunda Guerra o cultivo da cana no Estado de São Paulo não fora incentivado pelo governo federal, restringindo-se a lavoura canavieira aos tradicionais fornecedores do produto, os usineiros, especialmente de Pernambuco e Alagoas. A intervenção estatal na economia da cana de açúcar teve início após 1933, com Getúlio Vargas, quando foi criado o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA). A nova instituição visava equilibrar a produção, dependendo de sua autorização tanto o consumo como a instalação de novas usinas. Esse controle exacerbou-se a partir de 1934, através do Decreto nº 24.749 que vedava não somente a instalação de novas fábricas, mas também a transferência parcial ou total de engenhos de um Estado para o outro (BRANDÃO, 1985, p.201). Foto 20: Município no ano de 1939. Fonte: Prefeitura Municipal de Guariba Para Sousa (1978, p.47), o Estatuto da Lavoura Canavieira, assinado em 21 de novembro de 1941, diminuiu ainda mais a possibilidade de instalação ϱϮ de usinas em São Paulo, ao definir para isso a capacidade de 3.000 sacas de 60 quilos de açúcar por safra como capacidade mínima de produção. No município de Guariba, muitos ex-colonos de café passaram para a cultura de cana em pequena escala, montando alambiques e produzindo aguardente, ao lado da pequena produção de açúcar. Esses foram os pioneiros da indústria açucareira na região de Guariba. (SOUSA, 1978, p. 47). Nos limites permitidos pela política econômica da época, há registro de produção do açúcar mascavo, produzido pelos Irmãos Atique e Irmãos Caporusso, que eram de famílias tradicionais da cidade. Durante a Segunda Guerra (1939-1945), e por causa dela, as advertências da produção açucareira com relação a São Paulo foram reativadas. Para Gordinho (1993, p.25), a presença de submarinos alemães em águas brasileiras impedia a chegada do açúcar nordestino ao porto de Santos, sendo necessário liberar a produção do Centro-Sul. Em 1946, o governo federal ampliou a quota nacional de produção, determinando que o IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool), através do Decreto nº 9827, desse aos estados da região Centro - Oeste as quotas de produção necessárias ao seu próprio abastecimento. Este ato foi decisivo para o aumento de quotas de São Paulo, propiciando a transformação dos engenhos turbinadores em usinas. Resultado: entre 1951 e 1952, a produção paulista superava a pernambucana, exigindo que os produtores reorganizassem a comercialização do produto, dada a perda de referência do preço do açúcar nordestino. (GORDINHO, 1993, p. 25). Martins (1995, p.142), afirma ainda que nesse surto açucareiro paulista, a contribuição dos canaviais de Guariba foi significativa. Novamente, o esforço de novos pioneiros foi decisivo para as transformações das terras, desvalorizadas pelo atraso do café, em produtivos campos verdes pontilhados por usinas e chaminés fumegantes, marco de um novo tempo histórico. ϱϯ Foi no ano de 1948, com a chegada dos canaviais através das usinas de açúcar e álcool, integrou a cidade à economia do país, transformando-a em epicentro polarizador de parte significativa da produção açucareira do país. Nesse ano, a usina chega a Guariba. São duas histórias que totalizam uma só, relatada por quem as viveu: a da Usina São Martinho e da Usina Bonfim, ambas naquela altura partes integrantes do município de Guariba. Foi conseqüência natural deste novo momento econômico o despovoamento das fazendas, deslocando-se para a periferia da cidade, que fez surgir às primeiras vilas. Enquanto a Usina São Martinho, em 1959, foi desmembrada quando da elevação da cidade de Pradópolis (SP) a município, a Usina Bonfim até o presente momento faz parte efetiva de Guariba, mas com nome e proprietários diferentes: Grupo Cosan S.A, recentemente comprada pelo grupo RAÍZEN12. Segundo Martins (1996, p.150), a cidade reviveu com o açúcar. Com a cana, veio o progresso. Em tempos eufóricos de pós-guerra, de industrialização e de cinema, a cidade até então pacata entrou em ritmo de empreendimentos, vivendo com esforço renovado a década de 50. No ano de 1951, à frente da Prefeitura, estava Antônio José Rodrigues Filho, (pai do ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues), eleito prefeito de Guariba no ano de 1951 pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro). De acordo com Martins (1995, p. 153), sua administração, ligada com o governo do Estado Lucas Nogueira Garcez, reordenou a cidade. Através de empréstimo na Caixa Econômica Federal, reformou a rede de água da cidade e a rede de luz foi ampliada. Reunindo os proprietários, obteve contribuição para a reforma do calçamento com paralelepípedos; iniciou o processo de instalação do Ginásio Estadual de Guariba e mais um Grupo Escolar. As ruas, antes tão quietas, domínio de pedestres, foram calçadas para receber os automóveis da indústria nacional. Guariba, contudo, ainda de aspecto ingênuo, não se desprendeu de seus hábitos tradicionais. 12 Raízen é uma empresa brasileira joint-venture do ramo de biocombustíveis oriunda da fusão da Cosan e Shell. É a quinta maior empresa brasileira em faturamento e terceira maior distribuidora de combustíveis. Seu nome provém das palavras raíz e energia. ϱϰ Para Barrichello Neto (2006, p.25), nesses bons momentos que Guariba passava, a cidade teve duas perdas. O jornal A Gazeta de Guariba, que era o segundo jornal implantado no município, anunciava o encerramento de suas atividades. E também a Companhia Paulista de Estradas de Ferro tem seus dias contados. Começam as tentativas para a sua estatização. É a véspera do fim. A estrada de ferro que deu origem à cidade foi extinta em 1968. Desde o fim da Segunda Guerra, o desenvolvimento do Brasil foi construído à base do petróleo, particularmente, da gasolina, seu principal derivado. A partir de 1973, a OPEP (Organização dos Países Exportadores do Petróleo), ciente de seu poder de barganha, passou a reivindicar aumentos crescentes que culminaram em 1973 com a elevação dos preços em 75% e a redução da produção em 25%. No Brasil, duas providências foram tomadas para abafar a crise: em 1975 o Estado criou o Programa Nacional do Álcool, o Próalcool; em 1979, por intermédio de iniciativa privada, foi assinado o Protocolo das Indústrias de Carro a álcool, documento que possibilitou o surgimento e confirmação da indústria de carros a álcool. (MARTINS, 1995, p. 180). Segundo Martins (1995, p.180), neste período, a produção das usinas deslanchou na cidade. Mais terras foram ocupadas, mais trabalhadores chegaram e o verde era imenso. Se em 1975 o IBGE estimava a população em 12.684 habitantes, em 1980 o Censo Demográfico registrava 18.896, sendo 16.336 na área urbana e 2.560 na rural. (MARTINS, 1995, p. 180). Como foi descrito por Martins (1995, p.182), corriam os anos do milagre econômico, e os hábitos e a paisagem urbana local mudaram radicalmente. Novas levas de trabalhadores alcançaram a cidade para dar continuidade à produção açucareira do campo, em ritmo de expansão cada vez maior. Ao longo dos anos, estava confirmada que a cidade, por intermédio da população que vinha de fora, era voltada para o trabalho rural e foi responsável pela produção de ϱϱ parte significativa da produção açucareira nacional. O município, principalmente zona urbana, dobrou sua população de 1970 para 1980, como conseqüência do fluxo migratório. (MARTINS, 1995, p.183). Para Martins (1995, p.184), a inauguração do Conjunto Residencial Aparecida Biccio do Amaral, no dia 24 de junho de 1981, viabilizou a construção de 496 casas populares COHAB I, (ainda bairro da cidade), atestava os novos tempos de aumento demográfico. Aumento da população recém chegada que vinha buscar na cidade possibilidades de trabalho inexistentes em seus Estados de origem: Alagoas e Minas Gerais. Guariba agora maior com a vinda de novos habitantes para o corte da cana de açúcar viveu momentos difíceis no exercício do papel único que lhe cabia, ou seja, responsável pela qualidade de vida de segmento expressivo da população representada pelo fluxo de migrantes. (MARTINS, 1996, p.184). Dos episódios deste convívio, que exigiu adaptações de parte a parte, merece relato à histórica greve de 1984, que ficou conhecida como “A Saga dos Boias-Frias”, marco decisivo na transformação das condições de trabalho do homem do campo do país, noticiada internacionalmente, a qual veremos no Capítulo 3 desta pesquisa. Segundo Barrichello Neto (2006, p. 35), na década de 80, Guariba já não era a mesma. “Uma população de 28.911 habitantes ilustrava o desempenho da cidade, que crescera repentinamente, exigindo o planejamento urbano compatível com a nova realidade da população trabalhadora”. De duas décadas para cá, mais precisamente a partir do ano 2000, os antigos armazéns, com enfoque para a alimentação, deram lugar aos supermercados. Surgiram neste período casas de móveis, eletrodomésticos, artigos diversificados, que são compatíveis com os padrões de compra da maioria da população. Um fato curioso, que convém ser registrado aqui, é a expansão dos estabelecimentos comerciais para a periferia, principalmente os de pequeno porte, na categoria de micro empresa. A continuação de modelos residenciais, restante da cidade do café – chalets e casas – confere à cidade, ϱϲ hoje de perfil moderno, um significado muito especial na paisagem urbana. São símbolos do passado, ilustrativos da evolução urbana da cidade, que se constituem em marcos históricos de um tempo que não volta mais. Em pesquisa nos arquivos do jornal Guariba Notícias e folhetim político do atual prefeito Hermínio de Laurentiz Neto, no final dos anos 90, foi criado na cidade durante a gestão de (1997-2000 e 2001-2004), por meio de sua Secretaria da Indústria e Comércio, uma área industrial. Com isso, as oportunidades de empregos cresceram gradativamente, pois diversos empresários montaram e ainda hoje, continuam investindo com suas indústrias no local e, assim, oferecendo cerca de 50% a mais de empregos à população guaribense, do que quatro anos atrás. Guariba, que divide sua fundação com o começo da primavera comemorou neste ano de 2011, 116 anos. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a população hoje, é de 34.508 habitantes. Foto 21: Município no ano de 2010. Fonte: Prefeitura Municipal de Guariba Segundo Barrichello Neto (2006, p.38), a história da cidade é lembrada por dois momentos econômicos expressivos. Conheceu o auge e a decadência do café, entre os rigores da geada de 1918, declinando após a crise de 1929 com a queda da Bolsa de Nova York. Depois da crise, Guariba sobreviveu com ϱϳ as plantações de algodão, milho e da pastagem e, mais ainda, com as plantações de cana-de-açúcar, por intermédio das usinas açucareiras que rodeiam a cidade. Atualmente são quatro usinas que oferecem empregos à população da cidade: Usina Santa Adélia S.A, e Coinbra, pertencentes à cidade de Jaboticabal (SP), Usina São Martinho S.A, da cidade vizinha de Pradópolis (SP), e Grupo Cosan (antiga Açucareira Corona – Bonfim), que pertence à Guariba. Diversas empresas instalaram-se na cidade, oferecendo oportunidades de emprego à população guaribense. Indústrias, caldeirarias, comércio em geral, bem como as oportunidades de empregos que são oferecidas pela Secretaria Municipal de Trabalho e Emprego, que faz parte do governo atual, através do prefeito Hermínio de Laurentiz Neto – que está em seu terceiro mandato sendo esta gestão de 2009-2012. O próximo tópico limita-se à apresentação de um dos conceitos teóricos necessários ao desenvolvimento deste trabalho, porém o não mais importante, a mídia local, e alguns conceitos com base em autores que retratam a questão do jornalismo local, ente eles, Peruzzo, que possui conhecimento e grandes discussões sobre o assunto. 2. “Guariba Notícias”: características de mídia local Como visto no Capítulo 1, a cidade de Guariba possui uma vasta e considerável história sobre o jornalismo impresso local. Desde o ano de 1902, quando a imprensa surgiu na cidade, até os dias atuais, a cidade sempre contou com a existência de um veículo de comunicação. Agora que já se conhece a história dos jornais que passaram pela cidade e suas características, é hora de relacioná-los com os conceitos propostos neste tópico, já que os mesmos estão ligados a questões culturais e políticas do município. Quando se fala de local, o assunto é abrangente. De acordo com Peruzzo (2003, p.68), ele não é facilmente demarcável. Segundo a autora: ϱϴ não dá para definir um objeto local e principalmente darlhe um contorno territorial preciso. Segundo o autor (2001), a questão local se define como de relação e de inter-relação entre diferentes setores da vida em sociedade, como o econômico, o político, o jurídico e de convivência social. (PERUZZO, 2003, p.68 apud (BOURDIN, 2001, p.53). Peruzzo (2003) reafirma a importância e o seu significado: a mídia local tende a reproduzir a lógica dos grandes meios de comunicação, principalmente no que se refere ao sistema de gestão e aos interesses em jogo. Porém, diferencia-se quanto ao conteúdo ao prestar mais atenção às especificidades de cada região, enquanto a grande mídia utiliza como um dos critérios na seleção de conteúdos, aqueles assuntos que interessam a um maior número de pessoas possível, o que a conduz para temas de interesse nacional e internacional. (PERUZZO, 2003, p. 11). Para a autora, a tendência é que esses jornais locais divulguem assuntos mais gerais como: vias públicas, violência, drogas, problemas da cidade, e principalmente, a política local. Nos jornais locais da cidade essa característica é notada bem como no atual, o Guariba Notícias. Para muitos autores e pesquisadores, como Ortiz, Peruzzo, Dornelles, e Garcia, o surgimento da mídia local se deu pela necessidade das pessoas que vivem no lugar têm em buscar/ler informações próximas a sua realidade. No que se refere a isso, Camponez (2002) afirma que: O valor da proximidade local e ideológica dos acontecimentos jornalísticos pode inferir-se dos diferentes critérios atrás discutidos. A proximidade ideológica resulta dos critérios geras de consonância. A proximidade local incluiu a pressuposição de conhecimentos adquirirdos, bem como o da relevância: sabemos mais sobre a nossa própria aldeia, cidade, país, continente, em parte nossa experiência directa e pelas ϱϵ comunicações informais das experiências de outros que conhecemos. (CAMPONEZ, 2002, p.116). Como é possível observar através de pesquisas e estudos de diversos autores sobre mídia local, a definição da mesma é denotada como uma comunicação baseada em informação de proximidade. Essa informação consiste em um âmbito regional, mas devido aos vínculos políticos e interesses econômicos, o jornalismo local acaba por “menosprezar” as notícias do lugar, comprometendo a qualidade da sua informação e reproduzindo a mídia nacional. É o que acontece também na cidade de Guariba. Verifica-se nos acervos dos jornais locais, a cópia dos grandes periódicos, principalmente das notícias sobre política, entretenimento e esportes. As matérias locais são minoria, exceto quando são tratadas como comércio. Por outro lado, a mídia local na cidade revela algumas tendências. Uma delas é a questão do jornal atual, o Guariba Notícias, estar ligado mesmo que indiretamente, aos poderes locais, tanto no executivo como no legislativo. Nele percebe-se a inserção de matérias jornalísticas favorecendo os poderes políticos, publicação de atos oficiais e editais que acabam por ocupar grande parte nas páginas do semanário. Essa tendência é vista claramente nas páginas do Guariba Notícias e em todos os veículos que passaram pelo município. Eles omitem possíveis negligências da administração pública, mesmo não concordando com esse pensamento. No Guariba Notícias, percebe-se logo de capa, matérias destacando os trabalhos realizados pela Administração Municipal e nas páginas internas, encontram-se poucas notícias que não estejam ligadas a ela. Essa característica é considerada comum em jornais locais. Ao abordar essa questão na imprensa local, é possível retratar novamente o pensamento de Camponez em relação à questão da proximidade. De acordo com Ribeiro (2004), ela não pode ser relacionada somente com a definição do público alvo: ϲϬ A proximidade tem a ver com as realidades sociais que nos rodeiam, os serviços de que dispomos na nossa vila ou aldeia. E essa realidade só pode ser apreendida pela imprensa local e por uma abordagem bastante segmentada do público (CAMPONEZ, 2002, p.119 apud RIBEIRO, 2004, p.8). Cecília Peruzzo (2003) faz questão de ressaltar a importância da mídia local e regional quando diz: no contexto da acelerada globalização das comunicações, o mundo assiste à revitalização das mídias locais e regionais. É uma forma de explicar que os cidadãos reivindicam o direito à diferença. Apreciam as vantagens da globalização, mas também querem ver as coisas do seu lugar, da sua história e da sua cultura expressas nos meios de comunicação ao seu alcance (PERUZZO, 2003, p. 67). Muitos pesquisadores acreditam que o jornalismo local nunca irá morrer, pois sempre alguém irá se identificar com a mídia de sua cidade ou região pela questão da identidade e comunidade. Em Guariba esse pensamento é comprovado através deste estudo, desde o ano de 1902 até os dias atuais, a cidade sempre contou com um jornal. Neles, realmente, muitas matérias são reproduzidas dos grandes meios de comunicação, como por exemplo: esporte, saúde, política, etc, porém é possível visualizar também muitas matérias relacionadas à cidade e comunidade em geral. A questão da proximidade também é nítida, muitas pessoas que moravam na cidade acabam assinando o jornal para receber onde quer que esteja um exemplar e assim ficar informado dos fatos que acontecem na sua cidade Natal. ϲϭ 3 - MÍDIA LOCAL NA PAUTA DA MÍDIA NACIONAL 3.1 - A “Saga dos Boias-Frias” – 1984: o ano que não quer acabar Neste capítulo, relata-se a greve de trabalhadores rurais ocorrida na cidade, no ano de 1984, quando estava em circulação o jornal A Comarca de Guariba. O movimento que ficou conhecido como “Saga dos Boias – Frias” foi um marco para os trabalhadores rurais da cidade e região, bem como de todo o país. Resgatar este momento dos mais agudos na história social recente do país – e, mais especificamente, do estado de São Paulo, é de grande relevância nesta pesquisa. Foto 22: Boias-frias nos canaviais de Guariba. Fonte: “Guariba Notícias” Para que se entenda melhor a explosão da greve na cidade, deve-se destacar fatores como a transição da economia cafeeira para a açucareira e as ϲϮ condições de vida dos trabalhadores rurais nessa época. Também é preciso considerar o avanço da tecnologia no campo como um dos fatores que viriam a agravar o problema da mão-de-obra que ocorre a partir da década de 1980, uma vez que Guariba sempre foi uma cidade impulsionada economicamente pela grande lavoura. Para um melhor escoamento da produção cafeeira para o litoral, em 1892 começaram a rodar os trens da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Guariba surge em 1895 pelos interesses econômicos de alguns fazendeiros da região, ao redor da estação construída, facilitando o escoamento da produção cafeeira da região. A formação do povoado representava um excelente negócio, uma vez que o café estava em expansão. (MARTINS, 1995, p.10). Silva (2001) afirma que a motivação para o estudo das raízes da nossa história era a compreensão do momento presente. Buscar no passado histórico os elementos que lançassem luz sobre os dilemas contemporâneos, uma vez que a sua sombra se projetava ainda sobre o presente. Ao lado desta motivação primordial, afinado com a moderna historiografia, considerava que a vivência dos problemas da sociedade brasileira da sua época levaria a reavaliar e aprofundar a compreensão do passado. Não pode surpreender, afirma, “que uma fase de profundas alterações encontre reflexos em todos os domínios, e que demande, inclusive, uma revisão histórica. (SODRÉ, 1999, p.2). Em Guariba, o número de migrantes cresce quando começa a safra nas usinas de açúcar e álcool da região, normalmente de maio a novembro, devido ao intenso trabalho nas lavouras de cana-de-açúcar. Atualmente, grandes números dos trabalhadores são migrantes, vindos de vários Estados, principalmente da Bahia, de Minas Gerais (Vale do Jequitinhonha) e a grande maioria vem do Maranhão. ϲϯ O termo “boia-fria” era comumente utilizado na região pelo fato de os trabalhadores rurais comerem a comida (“bóia” no linguajar popular) fria. Foto 23: Trabalhadores nos canaviais no dia da greve. Fonte: “Guariba Notícias” De acordo com José de Fátima Soares, que era presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade na época, em entrevista realizada para esta pesquisa, o “levante de 1984”, como ficou conhecido, ocorreu porque as usinas da região tentaram promover um aumento de produtividade no corte de cana, sem reajuste da remuneração. Ao mesmo tempo em que aumentava a carga de trabalho, houve um reajuste acentuado nas contas de água da cidade. Esse reajuste foi a “gota d’água” para as insatisfações, agregando diversos fatores, entre eles, o valor do salário, falta de registro em carteira, horário de trabalho, entre outros. Segundo Alves (2003), o processo de trabalho no corte de cana na década de 1980 consistia em cortar retângulos com 6 metros de largura, em 5 ϲϰ ruas (linhas em que são plantadas a cana), por um comprimento que variava por trabalhador, que era determinado pelo que ele conseguia cortar em um dia de trabalho. Este retângulo é chamado pelos trabalhadores de eito, e seu comprimento varia de trabalhador para trabalhador, pois depende do ritmo de trabalho e da resistência física de cada um. Para Alves (2003), é possível medir o que o trabalhador produziu em um dia de trabalho de duas formas distintas: pelo comprimento do eito, ou pela quantidade de cana cortada. Se a opção for pelo comprimento, a medida do que ele produziu é o metro linear ou o metro quadrado, caso a opção seja pela quantidade de cana cortada no eito, só é possível medir o trabalho pesando-se a cana cortada. De acordo com Soares (2011), um dos principais motivos da revolta foi a alteração deste sistema de corte de cana de cinco para sete ruas, decidido pelos usineiros, que reduziria drasticamente o salário desses cortadores de cana. Além disso, havia a falta de segurança no trabalho e inexistência de direitos trabalhistas; muitos trabalhadores passavam fome. Segundo Alves (2003), é mantido o corte em 5 ruas, embora algumas usinas burlem essa determinação, que foi resultado de um acordo feito entre os trabalhadores e as usinas para acabar com a greve em 1984. Essa greve ocorreu, entre outras coisas, por causa da mudança do tamanho do eito, determinada pelas usinas: 7 ruas de cana (ou 7 linhas). Com eito de 7 ruas sua largura aumenta de 6 para 9 metros. Com uma área maior, o dispêndio de energia do trabalhador também é maior, porém o ganho não aumenta na mesma proporção. Em função da greve, que, apesar da forte repressão policial, durou 12 dias e se estendeu para outras regiões e estados brasileiros, os trabalhadores conseguiram realizar um acordo direto com as usinas e conquistaram a volta do corte em 5 ruas, que está mantido até hoje. De acordo com matéria publicada no jornal Folha de S. Paulo (1984): dali eles seguiram para a estação de tratamento de água, distante três quarteirões, localizada na Avenida Ernesto Bucchi, e lá também tudo foi destruído, inclusive a bomba dosadora de cloro. Arrastaram um caminhão e uma caminhonete para fora da garagem e incendiaram-nos. No tumulto, um litro de inseticida caiu no reservatório de água e, segundo um ex-boia-fria que não quis se ϲϱ identificar teria sido um acidente, uma vez que “os trabalhadores não ia jogar veneno na água que ia beber” (sic), disse o trabalhador. Isso fez com que o abastecimento de água fosse cortado. (Folha de S. Paulo, 16/05/1984, p.18). Para Mello (1976, p.46) tudo isso somado se convertia em uma equação cujo resultado era conhecido e cruel – justamente ainda mais cruel por já ser bem conhecido: os boias-frias chegavam ao fim do mês como devedores do supermercado e da Sabesp, já que o salário não era suficiente para cobrir tais necessidades básicas de sobrevivência. De acordo com Mello (1976, p.46), carros virados, vidros quebrados, a revolta atinge seu auge. É quando entra em ação a Tropa de Choque de Franco Montoro, governador de São Paulo à época, com ordens expressas de encerrar as manifestações e a greve, a qualquer custo. Pessoas são tiradas de dentro das casas e dos alojamentos; algumas nem chegam a ser levadas para fora, sendo agredidas em suas próprias residências. Todos apanham: crianças, mulheres, velhos, e até padres da Pastoral da Terra, que procuravam uma saída negociada. O jornal O Estado de S. Paulo (1984), também destacou o conflito: A tropa de choque da Polícia Militar só chegou por volta das dez horas e trinta minutos, com cerca de 200 homens, cães e bombas de gás lacrimogêneo, e só então a revolta foi dominada. Agrupados junto à Igreja Matriz, os policiais começaram a reprimir os trabalhadores com as bombas, e poucos minutos depois, eram ouvidos disparos e começaram a aparecer os primeiros feridos. (O Estado de S. Paulo, 16/05/1984, p. 38). Com uma bala na cabeça, o trabalhador e morador da cidade Amaral Meloni, foi morto na porta do Estádio Municipal “Domingos Baldan”, onde as negociações eram conduzidas. Assombro, indignação, revolta. A brutalidade injustificável da Polícia Militar ficou registrada nas imagens das TVs. ϲϲ Foto 24: Amaral Vaz Meloni, morto durante o movimento. Fonte: “Guariba Notícias” À época da greve (1984), o país passava por uma grave crise econômica e por um momento de transição entre o regime militar e o democrático, que seria novamente instalado pouco tempo depois. No entanto, o período ainda era de repressão. No dia 18, a greve já havia se encerrado e pairava uma calmaria na cidade que fora palco de tumultos e violentas repressões. Os trabalhadores voltaram aos canaviais e um acordo foi feito com os usineiros em que quase todas as reivindicações dos trabalhadores teriam sido atendidas, como reajuste salarial, 13º salário, folga semanal remunerada e equipamentos de trabalho e segurança, e voltava a vigorar o sistema de corte de cinco ruas. Essas e outras reivindicações, que só seriam atendidas posteriormente, fizeram parte de um ϲϳ acordo que ficou conhecido como “Acordo de Guariba13”. Os resultados não foram imediatos, mas serviu para mostrar a força do trabalhador que se une em busca de melhores condições de trabalho e sobrevivência para mostrar a dura realidade da população migrante e, sobretudo, para fazer valer seus direitos. A reportagem da Folha de S. Paulo de 16/05/1984 previa que Guariba ficaria na história da luta dos trabalhadores rurais como um marco de conquistas, e também em outras cidades da região, como Santa Rosa de Viterbo, Monte Azul Paulista, Barretos e Bebedouro, cujos trabalhadores da lavoura da laranja seguiram o exemplo de Guariba e aderiram à onda de manifestações, exigindo seus direitos. Também fora noticiado que o “Acordo de Guariba” passaria a vigorar para todo o Estado. De acordo com Goulart (2005, p.13) o prefeito da época, Evandro Vitorino, falou ao jornal O Estado de S. Paulo de 10/07/1984, e atribuiu à revolta a fome dos cortadores de cana, e três meses após o conflito o prefeito queria romper o contrato com a SABESP, alegando que novos incidentes poderiam ocorrer devido à revolta dos trabalhadores. A intenção do prefeito era passar o comando de fornecimento de água e esgoto para a Prefeitura, mas isso não aconteceu. Vitorino também acusou o governo de não tentar evitar o conflito tomando providências, pois a cerca de um ano vinha alertando o governo da situação vivida pelos trabalhadores e do que poderia ocorrer. Foram feitas muitas reivindicações, mas de imediato os trabalhadores só foram atendidos quanto à volta do corte de cana no sistema de cinco ruas. Por este motivo, no dia 16, entretanto, a tensão continuava na cidade e os boiasfrias incendiaram um canavial da Usina São Carlos, prometendo incendiar outros se as reivindicações não fossem atendidas, pressionando, assim, os patrões para uma rápida solução. Ferrante (1992), em seu estudo sobre as resistências dos trabalhadores rurais paulistas, relata que os boias-frias, de sujeitos excluídos, passaram à cena política como atores sociais, com potencial de incendiar os canaviais e se revoltarem, buscando perspectivas concretas de enfrentamento às regras e domínios das leis do patrão. 13 Íntegra do Acordo em anexo. ϲϴ O exemplo de Guariba inspira ainda trabalhadores rurais do Brasil inteiro, que passam a exigir o cumprimento da “carta de Guariba”, dos “direitos de Guariba”, das “condições de Guariba”. A cidade torna-se conhecida nacionalmente, graças às conquistas de seus trabalhadores do campo. Mas, como “punição” aos trabalhadores da cidade, vitoriosos em 1984, os usineiros passaram então a trazer boias-frias de outros Estados, como Bahia e Maranhão. Isso criou uma espécie de tabu, uma lei do silêncio não revogada até hoje. Some-se a ela o desemprego que resulta da mecanização da lavoura e tem-se uma situação de medo, na qual se impõe o esquecimento de um fato histórico significativo, que ganhou cores de vergonhoso com as tintas impingidas pelos políticos e coronéis-usineiros locais. A crua verdade é que o desemprego trazido pela modernização fez recuar muitas daquelas conquistas de 1984. (D’INCAO, 1985, p. 210). Depois da greve, usinas e empresas da região deixaram de contratar mão-de-obra local. De acordo com Barros (2005): Quem tinha migrado definitivamente para Guariba não teve mais chance de trabalho. As vagas eram preenchidas por novos grupos de trabalhadores temporários. Gente que vinha apenas para a safra voltava para sua terra e custava menos ao empregador. Forçadas após o confronto a assinar carteira, e pela primeira vez negociar com sindicatos o pagamento do bóia-fria, as usinas de cana buscavam saídas. Além de novos grupos migrantes, cresceram os investimentos em mecanização. Por quase duas décadas, os trabalhadores rurais foram marginalizados pelo embate trabalhista. (BARROS, 1995). Segundo Alves (1996), há inúmeros casos de desavenças entre trabalhadores e usinas derivados desta conversão de toneladas de cana em metro. Estas desavenças foram responsáveis, inclusive, pela deflagração de uma greve em 1986, que começou nas cidades de Leme, no Estado de São Paulo e de lá se alastrou para outras cidades e regiões canavieiras do Estado e do país. Para Santos (2002), novas técnicas e barateamento das máquinas foram eliminando vagas e contribuindo para a criação de bolsões de miséria em torno ϲϵ da cidade. Para cada máquina colhedora de cana que cada usina comprou, 40 trabalhadores deixaram de ser contratados. Segundo a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), no ano de 2002, nove mil dos 30 mil habitantes da cidade estavam empregados, 70% deles nas áreas industrial e agrícola das usinas. A prefeitura estimava que 10 mil estivessem sem emprego. Mesmo assim, as usinas continuaram importando trabalhadores de outros estados. A estimativa era de que pelo menos três mil pessoas viriam para a cidade anualmente para o corte de cana. (SANTOS, 2002). Na década de 1980, um trabalhador cortava em média de cinco a oito toneladas de cana por dia. Na década de 1990, a média passou a ser de oito a dez toneladas. De acordo com Moraes Silva, citado por Miguel (2005): a partir de 2000, a exigência é que cada cortador produza diariamente 12 toneladas em média, “se não atingir a meta, é despedido no final do mês. Isso é uma exploração absurda. É por isso que exigem trabalhadores cada vez mais jovens. Acho temerário dizer que a situação dos cortadores melhorou desde os anos 80. Todos os itens do Acordo de Guariba são grandemente descumpridos de forma geral. Ferrante (1992, p.223), afirma que no passado, sob diferentes formas, vivendo em espaços vigiados, os boias-frias empreenderam ações de resistência. Mas, a partir do movimento de Guariba, houve uma mudança no comportamento político dos assalariados temporários paulistas, que tomaram consciência de sua força coletiva, e tornaram-se sujeitos da própria história. Alguns autores consideram o movimento de Guariba como sendo exclusivamente social e não como movimento sindical. Os jornais da época, bem como alguns analistas, consideram Guariba como um movimento social espontâneo, posteriormente capturado pelo movimento sindical. Apontaram como elementos deflagradores a fome e a miséria, as péssimas condições de vida e trabalho, que são indiscutivelmente elementos ϳϬ importantes para a violência do movimento. Porém o movimento sindical já percebia essas condições e tinha propostas, inclusive para a necessidade de organização e de luta dos trabalhadores assalariados, só não tinha liderança efetiva do movimento, não conseguindo passar da intenção do gesto. (ALVES, 1991, p.101). É certo que o conflito social de Guariba tornou-se um marco e referência na luta dos assalariados rurais de toda a região, Estado e país, o que poderia ser um motivo de orgulho para os trabalhadores da região. Mas o que se percebe, hoje, é certa vergonha por parte desses trabalhadores, pois Guariba ficou conhecida apenas pelas depredações e violências ocorridas e não pela importância do movimento. Na época, os trabalhadores se calaram pelo medo de não conseguirem emprego nas usinas da região, uma vez que o cortador de cana de Guariba, a partir da greve, era visto apenas como vândalo. Uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo de 09/05/2004, com o título “Guariba ignora o levante dos boias-frias”, deixa claro que o povo e as autoridades guaribenses preferem esquecer o episódio. Em entrevista ao jornal, Maria Aparecida de Moraes Silva14 diz que o silêncio em Guariba é explicável, pois: o levante foi reprimido com violência pela polícia local e estadual, por isso os trabalhadores rurais não gostam de comentar. Os trabalhadores silenciaram por medo porque foram preteridos pelas empresas e tiveram dificuldades em conseguir emprego depois disso. (Folha de S. Paulo, 09/05/2004). Até hoje, Guariba está muda. Os mais jovens “ouviram falar de algo”, ao passo em que os mais velhos simplesmente não querem falar; ou melhor, seria dizer que eles não podem falar? Os moradores não gostam da imagem que a greve deixou da cidade para o estado, o país e o mundo. Várias pessoas foram machucadas e feridas por tiros: a cidade foi destruída a pauladas e todo o comércio fechou suas portas devido à revolta dos grevistas, e até hoje a população guaribense tenta 14 Professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). ϳϭ apagar da memória este fato que é considerado triste e que marcou de forma negativa a história da cidade. A greve, bem como, a situação de sobrevivência dos trabalhadores rurais é pesquisada por vários professores e alunos de inúmeras universidades do país, e também já foi citada em diversas teses e estudos que relatam a história e as condições de sobrevivência do trabalhador rural. Sem dúvida, esses depoimentos são muito importantes, pois cada um tem presente na memória diferentes fatos. Por este motivo, além das fontes pesquisadas como livros, jornais e revistas da época, pretendeu-se ouvir os testemunhos das pessoas que presenciaram e viveram o conflito na cidade, sendo sem dúvida de grande valor, pois trata-se de uma história viva. Essa revolta se destacou por seu caráter espontâneo, uma vez que não foi comandada por um sindicato ou partido político, como normalmente ocorre. Será que foi isto o que aconteceu realmente, ou existem outras verdades, que não foram ditas? Durante oito anos pesquisou-se sobre “A Greve de Guariba”. Foi possível observar que muitos autores dedicaram-se ao estudo do boia-fria, antes e após a greve de 1984, e há trabalhos que tentam estabelecer ligações entre os movimentos de Guariba de 1984 e 1985 e o surgimento de assentamentos. De maneira geral, há um consenso de que o levante ocorreu de maneira espontânea, sem a coordenação de uma pessoa ou entidade, e foi fruto de uma situação de miséria, opressão e exploração, e o impacto do movimento, com repercussão nacional e internacional, fez a sociedade se voltar para a dura realidade dessa classe de trabalhadores. 3.2 - Repercussão da saga na imprensa: 27 anos de história De acordo com Ferreira (2011), em artigo publicado na Revista Alterjor, o surgimento do jornalismo local para muitos pesquisadores aconteceu devido à necessidade de uma comunidade em busca de informações próximas e ϳϮ precisas em que reivindicações e protestos sociais pudessem ser colocados e debatidos em capas de jornais locais, regionais e até nacionais. Com esse pensamento, pode-se identificar que o local em muitos casos e circunstâncias pautam a mídia nacional, que é o caso desta greve ocorrida na cidade de Guariba. Esse conflito descrito acima teve repercussão na época em diversos veículos de comunicação nacionais e internacionais, e é até hoje é lembrado em diversos veículos regionalizados e até mesmo com âmbito nacional, quando relatada a condição de trabalho dos cortadores de cana. Mas não é somente na mídia que ele é citado, mas também em livros, artigos acadêmicos e sites que tratam a questão dos trabalhadores canavieiros, como é possível verificar nas imagens que ilustrarão este tópico. Bem antes da greve, de acordo com Goulart (2006, p. 16), D’Incao (1979), já havia alertado sobre as condições de miséria dos boias-frias. Segundo a autora, em entrevista à revista Veja, analisa a situação do boia-fria após o conflito na cidade, dizendo que “o movimento de Guariba e de toda região de Ribeirão Preto representa um marco histórico para os trabalhadores rurais de São Paulo: os boias-frias tomaram conhecimento da força que têm e, a partir daí, começaram a ser atores de sua própria história, reivindicando melhores condições de vida e de trabalho”. No dia 16 de maio de 1984, a Folha de S. Paulo destacou em primeira página a revolta dos boias-frias da cidade e ao longo do mês publicou várias reportagens sobre o protesto. Podemos perceber que a reportagem dava ênfase à depredação ocorrida e à violência para contê-la. A cidade de Guariba na região de Ribeirão Preto foi transformada ontem em verdadeira praça de guerra: uma multidão de bóias-frias incendiou prédios da SABESP, ateou fogo a três veículos e saqueou um supermercado. Os trabalhadores estavam revoltados com a decisão dos usineiros de mudar o sistema do corte de cana, o que diminuiu os seus rendimentos, e com o os aumentos das taxas de água. Inicialmente o destacamento da Polícia Militar da cidade, que conta com apenas quatorze homens, limitou-se a observar os distúrbios. Com a chegada de reforços vindos de Araraquara, a PM passou a reprimir os boias-frias atacando-os a tiros e com ϳϯ bombas de gás lacrimogêneo. PAULO,16/05/1984). (FOLHA DE S. Da maneira como foi descrita, a notícia leva o leitor à idéia de que os trabalhadores foram os grandes vilões da história, exigindo, portanto, intensa repressão da Polícia Militar para a preservação da ordem na cidade. Como pode-se constatar na foto abaixo, o Sr. Amaral Vaz Meloni, morto no conflito quando passava pelo local, teve sua imagem estampada nas capas e reportagens especiais dos grandes jornais, como por exemplo, O Estado de S. Paulo e FOLHA de S. Paulo. Nesta notícia, percebe-se a pretensão ao sensacionalismo pela legenda que dizia “O metalúrgico Amaral Vaz Meloni, que assistia ao tumulto na escadaria do Estádio Municipal, foi morto com um tiro na cabeça”. Encerrando a notícia, o jornalista fala sobre os acontecimentos e compara a cidade a uma “praça de guerra”. A Revista Veja também reservou a capa para a greve e publicou uma reportagem especial com 6 páginas. Na semana seguinte, a revista volta a comentar sobre o assunto através de uma entrevista com Maria Conceição D’Incão nas páginas amarelas. ϳϰ Foto 25 : Capa da Folha de S. Paulo de 16/05/84. Fonte: Arquivo Pessoal ϳϱ A edição n° 820 da revista Veja reservou a capa e veiculou uma matéria especial com seis páginas para a “Greve de Guariba” e titulou a mesma como “ O Levante dos Boias-Frias”. Foto 26 : Capa da Revista Veja. Fonte: Beto Estevam ϳϲ Foto 27: Revista Veja. Fonte: Beto Estevam ϳϳ Foto 28: Revista Veja. Fonte: Beto Estevam ϳϴ Foto 29: Revista Veja. Fonte: Beto Estevam ϳϵ Foto 30: Revista Veja. Fonte: Beto Estevam ϴϬ Foto 31: Revista Veja. Fonte: Beto Estevam ϴϭ Por intermédio de análise realizada na reportagem especial acima, podese perceber que a questão da mídia local pautar a nacional aconteceu em Guariba. Além dos jornais que por meses divulgaram a greve, a revista de maior circulação nacional, concede ao conflito que ocorreu no município em 1984 uma reportagem especial, com fotos e ricos detalhes de informações. Na semana seguinte, a mesma revista, agora a edição nº 821, traz em suas páginas amarelas (local reservado para entrevista com especialistas no assunto que está sendo repercutido no momento), a greve de Guariba. Foto 32: Capa da Revista Veja. Fonte: Gercino Grieco ϴϮ Foto 33: Revista Veja. Fonte: Gercino Grieco ϴϯ Foto 34: Revista Veja. Fonte: Gercino Grieco ϴϰ Foto 35: Revista Veja. Fonte: Gercino Grieco ϴϱ O jornal local que estava em circulação na data do conflito, A Comarca de Guariba também trouxe a reportagem de capa, mas tratou o assunto de forma bem simples, sem muita ênfase. Isso pode ter ocorrido devido à negatividade que o mesmo poderia trazer para o governo local da época e para a cidade como visto anteriormente, pois muitos vêem de forma negativa essa luta de trabalhadores canavieiros e até chegaram a dizer que foi vandalismo dos migrantes que vinham morar na cidade em busca de emprego e sustento. Foto 36: Exemplar do jornal local “A Comarca de Guariba”. Fonte: Arquivo Pessoal Na entrevista realizada para esta pesquisa com um dos proprietários do jornal, Luiz Barrichello Netto, foi perguntado qual o motivo da notícia ser tão simples, pois se tratava de um acontecimento que deslocou inúmeros veículos impressos e TV nacionais até a cidade e que foi noticiado durante meses nos mesmos, bem como em sites e jornais internacionais. Netto (2010) desconversou e disse: “publicamos o fato como uma simples notícia, como achamos que deveria ser”. ϴϲ Diferentemente do jornal local, O Estado de S. Paulo de 16/05/1984 (foto 38) dedicou a capa toda para o acontecimento da cidade, e durante aquele mês, publicou diversos artigos e matéria sobre o assunto. Em janeiro de 1985, a Folha de S. Paulo (foto 39) volta a lembrar a “Greve de Guariba” na sua capa, quando relata outra greve na região de Ribeirão Preto, na cidade de Sertãozinho, próximo a Guariba. Mas nesse mesmo mês acontece um choque dos trabalhadores rurais com a Polícia Militar na cidade novamente, o que na época consideraram uma “mini-greve”, e muitos relembraram o confronto de 1984 e ficaram com medo. O Estado de S. Paulo (foto 40) também divulgou na mesma data esse acontecimento. No dia 9 de maio de 2004, o jornal a Folha de S. Paulo publicou uma reportagem onde relembra os 20 anos do conflito de Guariba com o seguinte título: “Guariba ignora o levante dos bóias-frias”. No início da reportagem é dito que os trabalhadores rurais preferem esquecer o que aconteceu e nessa reportagem. Nela contém entrevista com o atual prefeito Hermínio de Laurentiz Neto, que também era prefeito na época da reportagem tratando o assunto e sua opinião sobre o mesmo. Em seu terceiro mandato (2009-2012), sendo dois consecutivos, Laurentiz afirma que na época do confronto, estava terminando a faculdade de Direito. Lembrou-se do embate, das dificuldades dos trabalhadores para conseguir emprego depois disso, mas garante que, passado pouco mais de uma década, o estigma acabou se tornando "marca registrada de luta social". ϴϳ Foto 37: Exemplar do “O Estado de S. Paulo” de 16/05/84. Fonte: Beto Estevam ϴϴ Foto 38: Exemplar “Folha de S. Paulo” de 12/01/85. Fonte: Beto Estevam ϴϵ Foto 39: Exemplar do “O Estado de S. Paulo” de 12/01/85. Fonte: Beto Estevam ϵϬ Em (2004), o jornal Guariba Notícias lembrou à população os 20 anos da greve em chamada de capa e com foto (foto 41), porém porém a notícia na página 2 (foto 42) foi simplesmente uma nota. No ano seguinte, 2005, a história mudou. Como aconteceu acon no anterior, o jornal relembrou novamente novamente a greve, porém com muito mais ênfase (foto 43). 4 Em entrevista para o GN sobre a Saga dos Boias Frias, Fria agora, completando 21 anos, o prefeito na época, Mário Sérgio Sérgio Caseri afirmou que “está na hora dos usineiros e patrões olharem com um um pouco mais de carinho para os trabalhadores, seja o boia-fria boia fria ou qualquer outro trabalhador”, trabalhador” (foto 44). Foto 40:: Exemplar do “Guariba Notícias” de 2004. Fonte: Arquivo Arquivo Pessoal se neste ano (2005), que o jornal diferentemente do anterior Percebe-se reserva uma página para noticiar os 21 anos da greve com entrevista do prefeito, Mário Sérgio Caseri, o vice-prefeito vice prefeito do ano de 1984, João Evangelista Rodrigues de Oliveira, e dos presidentes do Sindicato Sindicato dos Trabalhadores ϵϭ Rurais da cidade nos anos de 1984 (José de Fátima Soares) e 2005 (Wilson Rodrigues da Silva). Na foto 45, só para registrar, a capa do jornal Guariba Notícias no ano de 2009 quando a greve completou 23 anos. Foto 41: Página 2 do “Guariba Notícias” de 2004. Fonte: Arquivo Pessoal ϵϮ Foto 42: Exemplar do “Guariba Notícias” de 2005. Fonte: Arquivo Pessoal ϵϯ Foto 43: Exemplar do “Guariba Notícias” de 2005, p. 7. Fonte: Arquivo Pessoal ϵϰ Foto 44: Exemplar do “Guariba Notícia” de 2009. Fonte: Arquivo Pessoal ϵϱ O intuito deste capítulo foi resgatar o conflito social, que completou neste ano de 2011, 27 anos e mostrar como as mídias nacionais e locais divulgaram o acontecimento. Foi também de mostrar se o que foi noticiado na imprensa em geral é verdadeiro, ou se existem alguma informação, fato ou documento que ficaram “escondidos” na época. O maior objetivo desta pesquisa é deixar um registro para a história local do município de Guariba para que possa servir de pesquisa para educadores, historiadores, discentes e demais interessados em obter informações precisas sobre um acontecimento histórico que faz parte da história social e local da da cidade. ϵϲ CONSIDERAÇÕES FINAIS Um dos principais intuitos dessa pesquisa era descrever a história da imprensa em Guariba (SP), resgatando os jornais locais e entender por qual motivo não conseguem manter a linha editorial proposta quando eles surgem na cidade. Para tanto, destacar o conceito de mídia local e sua valorização respeitando suas especificidades foi necessário. Pode-se constatar através do levantamento de dados que ela não se desassocia da história da imprensa no país. Muitas tentativas foram realizadas para promover a comunicação para a população guaribense, mas infelizmente muitas delas foram em vão. Houve crescimento e investimentos nos jornais locais estudados, que antes eram impressos manualmente, acompanharam as evoluções dos grandes jornais e informatizaram suas redações. Atualmente, suas edições são impressas em máquinas rotativas. É o que acontece no Guariba Notícias, único jornal até o momento. Esses investimentos e modernização contribuíram para a permanência do semanário há 16 anos na cidade, no aumento de assinaturas, bem como, na procura mercadológica de anúncios. A profissionalização na redação desse jornal existe. São duas jornalistas responsáveis pela elaboração do semanário. Pode-se perceber que a relação da imprensa com o poder público foi e continua sendo indispensável na mídia guaribense. Sem a colaboração financeira desses poderes, os jornais locais não sobreviveram. Percebe-se ainda, que o Guariba Notícias está em circulação, pois mantém “parceria” com a Administração Municipal desde os primeiros anos de sua fundação. Essas relações de imprensa x poder acabam sendo fontes de recursos para a permanência neste segmento editorial. (BORGES, 2009). “O alto custo operacional com funcionários, equipamentos e impressão terceirizada, não era suprido em razão da limitada receita proveniente da comercialização de espaços publicitários e vendas de assinaturas” (GUERRERO, 2005, p. 28 apud BORGES, 2009, p. 123). ϵϳ De um modo geral, o âmbito de cobertura do noticiário local diz respeito ao espaço geográfico de um município. Mas, determinados fatores podem "elevar" a importância de um fato local e fazê-lo ser destaque no noticiário nacional ou mesmo internacional — entre os fatores para que isso ocorra, está à importância desse acontecimento. É o caso da greve de trabalhadores rurais ocorrida no ano de 1984 na cidade. Este conflito pautou a mídia nacional e internacional na época e “rendeu” assunto por meses para os jornais Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo e também a revista Veja, entre outros veículos de comunicação também televisivos, como vimos no capítulo III. Esse resgate da mídia impressa local bem como a construção da memória, poderá contribuir para a preservação da mesma e ser um importante instrumento para a comunicação e para o registro dos estudos sobre mídia local. Percebe-se nesta pesquisa, que o surgimento dos veículos impressos na cidade, sempre esteve acompanhado de grandes iniciativas pessoais e repleto de idealismo. Mesmo com as dificuldades de levantamento de informações, concluímos que a história do jornalismo impresso em Guariba (SP), sempre esteve relacionada com a da imprensa do país. A prática do jornalismo aplicado na cidade é bem relacionada com as características de mídia local, ou seja, está diretamente ligada a necessidade do homem se relacionar com o lugar onde vive. ϵϴ REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, Afonso de. Manipulação editorial e produção da notícia: dois paradigmas da análise da cobertura jornalística da política. In: Pinto: Milton José Pinto (org.). Produção e recepção dos sentidos midiáticos. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1998, p. 9-27. ALVES, F. J. C. Modernização na agricultura e sindicalismo: luta dostrabalhadores rurais na região de Ribeirão Preto. Tese de Doutorado em Economia, Instituto de Economia, São Paulo, 1991. ALVES, Francisco. Políticas públicas para o desenvolvimento autosustentável da bacia hidrográfica do rio Mogi-Guaçu. São Carlos: FAPESP: DEP da UFSCar, 2003. 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Site Repórter Brasil. www.reporterbrasil.com.br. Consultado em 2010. ϭϬϳ ANEXOS ϭϬϴ ANEXO 1 ACORDO COLETIVO DE TRABALHO Aos 17 dias do mês de maio de 1984, na sede do Sindicato Rural de Jaboticabal, estando presentes 1) Almir Pazzianoto Pinto, Secretário de Relações do Trabalho do Governo do Estado de São Paulo, como mediador; 2) Benedito Vieira de Magalhães, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Jaboticabal, Taiúva, Taiaçú, Monte Alto e Guariba; 3) José Albertini, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Barrinha; 4) Antonio Crispim da Cruz, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cravinhos; 5) Emílio Bertuzzo, tesoureiro da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de São Paulo; 6) José Antônio Pancotti, advogado da mesma Federação; 7) Carlos Leopoldo Teixeira Paulino, também advogado da mesma Federação; 8) comissão de seis trabalhadores rurais de Guariba; 9) Luiz Hamilton de Moura Montans, presidente do Sindicato Rural de Jaboticabal; 10) José de Laurentiz Jr., presidente do Sindicato Rural de Guariba; 11) Roberto Rodrigues, fornecedor de cana; 12) José Roberto Bottino, advogado do Sindicato da Indústria do Açúcar do Estado de São Paulo; 13) Antonio Sérgio Ferreira, fornecedor de cana; 14) Rogério Orsi, fornecedor de cana e presidente da comissão de cana e açúcar da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo, além de testemunhas que subscrevem o presente documento; depois de prolongados debates foi celebrado o seguinte acordo: 1) para por um ponto final ao conflito de interesses que lavra na região onde têm base terrei, digo territorial os sindicatos signatários, as partes estabelecem o que se seguem; a) fica ratificado o acordo do dia 15 de maio último, segundo o qual foi restabelecido o sistema de corte de cana conhecido como “cinco ruas”, o qual volta a ser adotado para a sagra de 1984; b) a produção de cada cortador será medida por metro linear, com o emprego do compasso fixo de dois (2) metros; ϭϬϵ c) concluído o corte do Talhão de cana, o cortador recebe, em impresso próprio, fornecido pelo empregador, contendo o nome do empregado, nome ou número do empregado, número do talhão, data do término do talhão, o número de metros de cana cortada; d) a cada empregado, por ocasião do pagamento mensal, será fornecido um “envelope” ou documento circular, contendo o nome do empregador, data desse pagamento, valor do salário, descontos eventuais e acompanhado de planilha discriminativa da produção em metros e toneladas; e) para a sagra do corrente ano serão observados os seguintes preços, por tonelada de cana cortada e amontoada, conforme os costumes de região: I) cana de 18 (dezoito) meses, salário para corte Cr$ 1.500,00 (um mil e quinhentos cruzeiros); descanso semanal remunerado, Cr$ 240,00 (duzentos e quarenta cruzeiros); décimo terceiro salário, indenização e férias, à razão de Cr$ 120,00 (cento e vinte cruzeiros) cada uma dessas parcelas, perfazendo um total de Cr$ 2.100,00 (dois mil e cem cruzeiros) a tonelada; II) demais canas, salário para corte, Cr$ 1.430,00 (um mil, quatrocentos e trinta cruzeiros); descanso semanal remunerado, Cr$ 230,00 (duzentos e trinta cruzeiros); décimo terceiro salário, indenização e férias, à razão de Cr$115,00 (cento e quinze cruzeiros) cada uma dessas parcelas, perfazendo o total de Cr$ 2.005,00 (dois mil e cinco cruzeiros) a tonelada; f) as parcelas referentes a férias, décimo terceiro salário e indenização, na forma de costume, serão pagas no término do corte, na forma da lei; g) as ferramentas de trabalho, como facão ou podão, lima etc., serão fornecidos gratuitamente pelo empregador; h) o equipamento de proteção individual, como macacão de pano, luvas, tornozeleiras de couro, etc., serão fornecidos gratuitamente pelo empregador; i) a condução destinada ao transporte de trabalhadores será equipada com toldos, bancos fixos, guardas altas e grade de proteção, sendo expressamente proibido o transporte de ferramentas juntamente com os trabalhadores; j) os transportes serão gratuitos; k) todos os trabalhadores serão registrados, pagando-se os direitos trabalhistas nas rescisões sem justa causa; ϭϭϬ l) em caso de acidente de trabalho o patrão se obriga ao pagamento da complementação da diferença salarial existente entre o salário médio do trabalhador e o pago pelo sistema previdenciário; m) em caso de doença, comprovada através do atestado médico emitido por entidade oficial ou conveniada, o empregador se obriga a pagar normalmente o salário do empregado, durante o período de 30 (trinta) dias; quando o afastamento for concedido pelo médico do Sindicato dos Trabalhadores será submetido ao visto do médico do Sindicato Rural; n) os presidentes dos sindicatos de trabalhadores diligenciarão junto aos seus departamentos médicos para que os atestados médicos ou odontológicos correspondam sempre e invariavelmente às reais necessidades dos trabalhadores que porventura os solicitem; o) nos dias em que não houver trabalho por motivo de chuva, falta de cana queimada, ou outros fatores alheios à vontade do tratado de trabalhador, desde que comprovada a sua presença no “ponto” costumeiro para embarque, o empregador pagará salários integrais, calculado na média diária, digo diária da semana trabalhada; p) o empregador fica obrigado a manter nos locais de trabalho caixas de medicamentos para primeiros socorros para atendimento ao trabalhador; q) fica proibida qualquer dedução na produção do trabalhador para efeito de pagamento de descanso semanal, feriados, 13º salário, férias e indenização; r) para perfeito esclarecimento, relativo à b, fica acertado que a produção será medida por metro linear, na forma ali estabelecida, calculando-se o seu pagamento em toneladas, na forma da letra e. 2) O presente acordo será levado ao conhecimento da assembléia geral e, uma vez solenemente aprovado, determina o retorno imediato ao trabalho. 3) Outras reivindicações dos trabalhadores, porventura não atendidas integralmente ou mesmo parcialmente, serão renovadas por ocasião das negociações coletivas da categoria. ϭϭϭ 4) O teor do presente acordo será comunicado ao Exmo. Ministro do Trabalho e ao Exmo. Sr. Delegado Regional do Trabalho para os devidos e legais efeitos. 5) As partes se comprometem a respeitar o presente acordo como legítimo instrumento de pacificação das relações de trabalho e do seu indispensável aprimoramento. 6) O presente acordo será submetido a registro e arquivo perante o SubDelegado do Ministério do Trabalho em Ribeirão Preto. Jaboticabal, 17 de maio de 1984. Benedito Vieira de Magalhães Almir Pazzianoto Luiz Hamilton de Moura Montans José Hamilton de Moura Montans José de Laurentiz Junior C. F. F. Filho Carlos Leopoldo Teixeira Paulino Lindovaldo Queiróz Brito Antonio Crispim da Cruz Renato Ferrari Emílio Bertuzzo João Guilherme Souza Bueno José Albertini Antonio Carlos dos Santos Márcio Maturano Roberto Rodrigues Antonio Sérgio Ferreira José Roberto Bottino Rogério Orsi José Antonio Pancotti Fonte: Martins, 1995. ϭϭϮ ANEXO 2 Entrevista realizada com o Sr. Luiz Barichello Netto, proprietário do jornal “A Comarca de Guariba” e colaborador de diversos jornais que circulam no município, no dia 15/06/2010. Transcrição da entrevista na íntegra A Gazeta de Guariba nasceu em 1° de janeiro de 1918, antes da instalação do município de Guariba que foi 10 de abril de 1918. A primeira fase foi de 1918 a 1941 e a segunda fase, chamada de nova fase foi de 1948 a 1961. A nova fase em que me lembro bem, já na fase anterior deveria ter o mesmo sistema. Tinha alguns colaboradores, redatores, muita matéria era apanhada de jornais e revistas da capital. O processo de elaboração era composto tipo por tipo, letra por letra no início da segunda fase. Era impresso em uma máquina grande, manual que era comandada por um funcionário. O processo era todo manual. O jornal era feito no começo da semana com as matérias copiadas dos grandes veículos das capitais de SP e RJ, no final de semana fazia os últimos retoques com matérias locais. A circulação era aos domingos, e às vezes, trabalhavam até a madrugada do domingo para que de manhã já estivesse pronto para a circulação. A Gazeta tinha muitos colaboradores da cidade e o jornal funcionava com muita raça, porque até para imprimir a máquina era manual. Depois disso, o jornal parou suas atividades no ano de 1961, por questões políticas; o prefeito se desentendeu com a direção de jornal, e assim foi resolvido parar, porque não tinha condições de continuar sem o apoio da prefeitura, que resolveu não apoiar mais o jornal devido à linha editorial do mesmo. O semanário era mantido basicamente pelas assinaturas que eram muitas, mesmo a cidade sendo pequena. E tinha também uma contribuição ϭϭϯ anual da prefeitura para o jornal, que ajudava nas despesas do mesmo e, não era pago por matérias. O jornal, mesmo não apresentando resultados financeiros razoáveis, o que garantia a sua sobrevivência era a gráfica, e também um bazar que eram acoplados ao prédio do jornal, que também eram de propriedade do dono do jornal. Em 1974 a cidade conhece mais um veículo, com o mesmo nome do primeiro jornal local, O Guaribense. Esse semanário era elaborado na cidade de Matão e seus proprietários eram de lá. Circulava em Guariba devido à “necessidade” em constar as publicações dos atos oficiais da administração da época, pois no período não existia nenhum outro semanário. Fechou suas portas em 1976. Fui proprietário da Comarca de Guariba, desde o ano de 1977, ano de sua fundação até o encerramento, no ano 30 de julho de 1984. Mas no período de 1980 em diante, estava acompanhando de longe, pois estava residindo em Franca. Em 1984, apenas por coincidência, eu estava na cidade naquele dia, porque já não morava mais em Guariba, morava em Franca. E quando estava chegando na cidade, fui barrado no trevo por policiais que não permitiam que ninguém entrasse na cidade. Não acompanhei de perto, e por isso não sei como os jornais se comportavam, me informei de longe. Além de ser proprietário da comarca de Guariba, escrevi no “O Guaribense”, colaborador da “Gazeta de Guariba”, “Folha da Região” e “Guariba Notícias”. ϭϭϰ ANEXO 3 Entrevista realizada com Roodney das Graças Marques, ex-proprietário do jornal “A Comarca de Guariba”, entre outros fora da cidade, no dia 01/02/2010. 1) Como era o processo de elaboração da Comarca de Guariba? O processo de elaboração da comarca de Guariba experimentou fases distintas e bem diferenciadas, começando pelo sistema gráfico convencional e chegando a impressão em off-set. Os serviços não eram feitos por computadores e a diagramação, a princípio, quando o jornal era impresso em gráficas menores, observava o método jurássico da elaboração de “bonecos”, ou seja, a página era desenhada e concebida de modo artístico, sem nenhum respaldo técnico. Depois, a paginador se orientava pelos “bonecos” e montava as páginas de moda a ajustar os espaçamentos dos textos compostos pelo sistema de linotipia. Mais tarde, em gráficas maiores, a diagramação ficou por conta de profissional dotado de qualificação técnica que calculava milimetricamente os espaçamentos e montava a página com precisão suíça. 2) Quais os meios de arrecadação de recursos para a sobrevivência do jornal? Existia a dependência de Órgãos Públicos? Na fase inicial de sua existência, o jornal A Comarca de Guariba viveu períodos áureos diante das diversas fontes de obtenção de recursos para assegurar a sua sobrevivência. Foram tempos em que a própria economia brasileira se mostrava mais auspiciosa, pois o poder de compra do dinheiro permitia às entidades privadas maiores investimentos junto à imprensa escrita. O convênio mantido com a SOCICANA (Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba), para a divulgação de todos os seus atos de interesse dos associados era um exemplo típico de como o jornal conseguia recursos para suas despesas de custeio. A Prefeitura Municipal tinha participação pouco ϭϭϱ expressiva, pois pagava praticamente pelas matérias relacionadas com a divulgação de atos administrativos, sem nenhuma contribuição financeira para tanto. 3) Por que o jornal A Comarca de Guariba encerrou suas atividades? Os tempos foram mudando aos poucos. O próprio fechamento do IAA (Instituto de Açúcar e Álcool) teve grande influência no encerramento do convênio com a SOCICANA e no desinteresse da (Cooperativa dos Plantadores de Cana da Zona de Guariba), de prestar qualquer tipo de colaboração. Mas a decadência econômica acentuou-se demais nos anos 80, com influência direta no achatamento do poder aquisitivo da população assinante e da classe empresarial anunciante. Por conseqüência disso, as assinaturas foram diminuindo gradativamente e os anunciantes desapareceram tão rápido como apareceram. A prefeitura municipal exigia muito, mas pagava pouco, sempre preocupada com a promoção política das matérias, mas nunca valorizando o conteúdo jornalístico – informativo das mesmas. ainda mais a situação, os custos dos serviços Para piorar gráficos cresciam vertiginosamente e comprometiam, ou mesmo, impossibilitavam, quaisquer tentativas de planejamento financeiro para manter as despesas no ponto de equilíbrio exato com as receitas. O resultado de todas essas adversidades é o inevitável desânimo que se abate naturalmente sobre quem luta sozinho para sustentar a ideologia da imprensa escrita em universos tão reduzidos como o de Guariba. Não foi possível continuar, mas enquanto durou, o jornal, por causa de suas limitações técnicas e profissionais, valeu a pena ser feito a poder de empenho e arte, pois conseguiu superar todas as suas dificuldades e transformar-se num dos expoentes máximos da história do jornalismo, não só de Guariba como de toda a região. Hoje, o jornal “A Comarca de Guariba” é como uma voz perdida no passado, que faz lembrar, a toda equipe que se dedicou a fazê-lo, nunca por dinheiro, sempre por amor, de um antigo provérbio escocês: “Mais vale uma pequena chama que aquece do que um grande fogo que queima”. ϭϭϲ ANEXO 4 Entrevista realizada com Ana Lúcia Oliveira de Castro que foi editora do jornal “A Folha da Região” e uma das fundadoras do jornal “Guariba Notícias” no dia 30/05/2011. 1) Quando aconteceu a fundação do jornal Folha da Região? O jornal foi fundado no dia 21 de abril de 1989. 2) Quem foram seus fundadores? O semanário foi fundado por Odilon Pacífico (guaribense). O redator era um dos proprietários do jornal A Comarca de Guariba, Roodney das Graças Marques. O jornalista foi Farias Brasil (morador da cidade vizinha de Jaboticabal). 3) Como era o processo de elaboração da Folha da Região e a linha editorial do mesmo? O jornal era elaborado manualmente (boneco), pois neste período não possuía a vantagem dos programas para montá-lo (Page make, Corel, etc), mas em compensação tinha seu próprio parque gráfico, pois o proprietário já possuía uma gráfica. A qualidade da diagramação melhorou com a aquisição de computadores e profissionais capacitados para montar o jornal. De 1993 a 1997 o jornal foi dirigido pelo fundador Odilon e sua família. Eles tomavam contam do jornal e quem diagramava era uma funcionária da gráfica. 4) Qual o período de sobrevivência do jornal Folha da Região? Nasceu em 1989 e encerrou suas atividades em 1997, dois anos após a fundação do atual jornal Guariba Notícias. Portanto, 8 anos. ϭϭϳ • O jornal durante toda sua existência contava com as assinaturas (que não eram muitas) e a principal renda era as licitações firmadas com o Administração Municipal da época, como todos os jornais que passaram pela cidade. • Como todos os jornais locais, a Folha da Região, encerrou suas atividades em 20 de dezembro de 1997, por falta de recursos financeiros, e principalmente pela morte de seu fundador no dia 05 de janeiro de 1997. ϭϭϴ ANEXO 5 Entrevista realizada com Gercino Grieco, proprietário do jornal “A Gazeta de Guariba” e colaborador de diversos jornais locais no dia 15/06/2011. 5) Quando aconteceu a fundação do jornal Gazeta de Guariba? O jornal nasceu no ano de 1918. 6) Quem foram seus fundadores? Segundo meu pai Francisco Grieco, os fundadores do nosso jornal foram Domingos Braga e Alberto Capovilla. No ano de 1920, a propriedade do veículo foi passada para Joaquim Umbelino Montemor. Em 1922, Antonio Capovilla (irmão mais velho do fundador Capovilla) comprou o semanário, e finalmente em 1927 o meu pai (Francisco Grieco) passou a ser o novo proprietário. 7) Como era o processo de elaboração do Gazeta de Guariba e a linha editorial do mesmo? O veículo era totalmente político e quem mandava era as autoridades da época. O conteúdo do jornal os favorecia e não à população. 8) Qual o período de sobrevivência do jornal Gazeta de Guariba? O jornal teve duas fases, a primeira foi de 1918 até o meio de 1930 (12 anos) e a segunda fase de 1949 a 1962 (13 anos), totalizando 25 anos de existência. A partir dos anos 30, a situação do jornal não foi muito boa devido ao período da Ditadura e também pelo acontecimento da Segunda Guerra Mundial. A imposição deste período foi vivida na cidade. A Câmara Municipal foi obrigada ϭϭϵ a suspender as sessões e neste período, o jornal precisou parar com suas atividades. • A partir de 1962 o jornal teve uma fase promissora e imprimiu além do Gazeta de Guariba outros jornais: A Gazeta, A Tesoura e o Binóculo, porque minha família possuía uma gráfica. Neste período, meu pai havia comprado o jornal. 9) Quando o jornal voltou com suas atividades? No ano de 1948, 18 anos após serem suspensas suas edições. O jornal inicia sua segunda fase com a minha família (Grieco). Os redatores eram Waldomiro de Oliveira, o professor Gabriel Pereira Filho e Alípio de Andrade, e o jornalista Otávio Rangel (jornalista carioca que passou por Guariba) que teve o cargo de redator chefe. • Aqui a elaboração do mesmo era feito tipo por tipo, letra por letra, a impressão manual, copiávamos matérias dos grandes jornais durante a semana toda, e nos finais de semana, a gente finalizava e entregava de domingo. Bastantes colaboradores a gente tinha na cidade, mas a única renda era dos assinantes, mas a gráfica ajudava muito. Foi com muita garra e determinação que tocamos o jornal e ele encerrou suas atividades em 1962, porém foi anunciado em 1961. Ͳ ϭϮϬ ANEXO 6 Entrevista realizada com Domingos Aparecido Rodrigues de Oliveira, proprietário do jornal “Guariba Notícias”, jornal que está atualmente em circulação cidade no dia 11/08/2011. 1) Quando aconteceu a fundação do jornal Guariba Notícias? O jornal Guariba Notícias foi fundado no dia 12 de agosto de 1995. 2) Quem foram seus fundadores? Eu mesmo, (Domingos Aparecido Rodrigues de Oliveira), um sonhador e idealista, e minha filha adotiva, a jornalista Ana Lúcia Oliveira de Castro. Quando resolvemos montar um jornal, a cidade já tinha um, a Folha da Região, mas por ser morador da cidade, nascido aqui, era possível notar que a cidade comportaria mais um veículo de comunicação e estava precisando. Infelizmente, a Folha da Região acabou encerrando suas atividades dois anos após a fundação do nosso semanário. 3) Como era o processo de elaboração do Guariba Notícias? A gente fazia o nosso jornal na cozinha de casa. As matérias eram feitas por mim e pela minha filha que montava o boneco do jornal, manualmente (boneco) e mandava para a gráfica diagramar. As fotos eu mesmo tirava, mas não existia máquina digital, então o processo era mais demorado devido à revelação das fotos. Nesse período, tínhamos apenas uma máquina de escrever; as matérias eram feita todas na máquina e mandadas para a gráfica junto com o boneco. Não tinha nem computador e nem programas para diagramar, como (Page Make, Corel, etc). Após três meses, devido à necessidade e ao aumento do número de assinantes (250 assinantes em três meses), um número considerado muito bom, montamos um escritório no centro da cidade e compramos um computador, uma mesinha, (máquina de escrever já tínhamos) e uma linha telefônica para começar o trabalho comercial. Essa aceitação ao nosso trabalho, foi de extrema importância e com certeza serviu ϭϮϭ de estímulo para continuarmos aquele sonho que parecia impossível, por termos conhecimento da história de outros jornais locais que não conseguiram sobreviver. 4) Qual era o formato do jornal? Começamos com o tabloide, (1995), após dois anos, em 1997, passou para germânico. No ano de 1999 para Standart PB e em 2001 com o mesmo formato passou a conter cores na capa e na contracapa. Em 2008, o jornal muda para o formato berliner, também com cores. A partir desse ano, mais páginas tiveram cor devido ao crescente número de anúncios coloridos, o que melhorou na qualidade do jornal. 5) Como era a linha editorial do jornal? Dependia de algum órgão público? A princípio, o objetivo do jornal era ter uma linha editorial própria, sem vínculos com política, órgãos públicos, etc. Eu vendia assinaturas e anúncios de porta em porta. Para mim, a garra e intenção de possuir a tão sonhada liberdade de expressão era tão grande que eu mesmo saia à procura de “recursos dignos” para minha empresa. Esse tipo de linha editorial própria ocorreu durante praticamente cinco anos (1995 a 2000) quando firmei um contrato para publicar as leis e decretos da prefeitura. Não tinha o que fazer: ou se submetia a “essa dependência” ou fechava as portas. Isso ocorreu com quase todos os jornais que fizeram parte da cidade de Guariba, sei disso, pois era amigo dos proprietários dos últimos três jornais que a cidade possuiu. 6) O jornal possui assinantes? Como é a distribuição do mesmo? Durante três meses após a fundação do jornal Guariba Notícias, o exemplar era distribuído gratuitamente na cidade, e a tiragem era de 1000 exemplares. Atendendo à necessidade da procura do mesmo, começamos a vender assinatura e até hoje um dos recursos financeiros do jornal são as assinaturas, anúncios, mas a maior “renda” do nosso jornal vem da publicação de atos oficiais da prefeitura e câmara do município e também dos anunciantes, que temos um número razoável. Hoje, 2011, temos um número elevado de ϭϮϮ assinantes, lembrando que ainda, por enquanto, não temos concorrência, mas isso pelo que percebo está prestes a acontecer. 7) Quantos funcionários a empresa jornalística possui no momento? Em 1995, a empresa contou apenas com uma secretária (Renata Cristina Ribeiro) que ficava no escritório no período da manhã. À tarde, a minha filha mais nova, hoje, uma das jornalistas responsáveis e autora desta pesquisa, e eu que permanecia nas ruas atrás de recursos para o crescimento do jornal (venda de assinaturas, anúncios, fotografia, etc. A jornalista responsável trabalhava na cidade vizinha de Monte Alto em um jornal e durante à noite já estava cansada. Mesmo assim durante a semana, montava o nosso jornal para levá-lo para a gráfica na sexta-feira e circular no sábado. Era uma loucura. Hoje, 2011, na redação temos duas jornalistas, um diagramador e dois fotógrafos. No departamento comercial, o semanário possui uma pessoa que vende assinaturas, faz renovações, vende anúncios e classificados, um officeboy e uma secretária, portanto sete pessoas. ϭϮϯ ANEXO 7 Entrevista realizada com José de Fátima Soares, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Guariba no ano de 1984, quando ocorreu a Greve dos Boias-Frias na cidade no dia 12/09/2011. 1) Como surgiu a greve? Em 1984, começamos a greve dos bóias-frias pela falta de atuação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Jaboticabal, que comandava Guariba, e logo em seguida a categoria sentiu a necessidade de fundar um Sindicato em Guariba. Na época, eu trabalhava na Usina São Martinho e era apenas mais um. Fomos trabalhando e amadurecendo a idéia, até que fundamos o nosso Sindicato em 29 de setembro de 1985, reconhecidos em 4 de junho de 1985. Iniciamos, aí então, o momento certo de se criar o Sindicato em Guariba, com várias conquistas. 2) – Por que a greve? A greve é um instrumento que deve ser usado como último instrumento de luta, e a gente teve que usar a greve de 1984 em virtude das 7 (sete) ruas, e já que estava parado, aconteceu o movimento, e as contas da Sabesp na época, conseqüência do pessoal já estar parado e a discussão em andamento sobre as condições de trabalho, então juntou-se as duas coisas. Em seguida, em janeiro de 1985, foi promovida uma outra greve para conseguir melhorar o salário e ter melhores condições de trabalho. Foram as duas greves mais pesadas: aquela de 1984 que teve tiroteio, saque em supermercados, derrubada da Sabesp e tudo o mais, e a de janeiro de 1985, a famosa da pancadaria, após 13 dias de greve. Essa última, como os usineiros não resolviam nada, eles mandaram reprimir e acabaram com a greve, através da pancadaria. ϭϮϰ 3) – Quanto tempo você presidiu o Sindicato? Fui presidente do Sindicato de Guariba de 1984, com mandato provisório que era fundação, à eleição de 1985 até 1988, de 1988 a 1992, e em 1992 deixei de ser presidente do Sindicato e fiquei por mais dois mandatos como tesoureiro. Deixei mesmo o Sindicato de Guariba em 1998, quando fui eleito Diretor Social da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo – FETAESP, da qual fiquei por dois anos e renunciei por não concordar com algumas medidas, acordos e outros assuntos do setor. Voltei às minhas origens onde tinha uma propriedade em Montes Claros de Minas e fui trabalhar como agricultor. Retornei para Guariba e estou até hoje como caminhoneiro, plantando cana e puxando laranja para sobreviver. 4) – Dos dois movimentos da greve, de 84 e 85, o trabalhador rural conquistou alguma coisa em benefício próprio? Com certeza, o movimento sindical conquistou muita coisa ao trabalhador, até 87. Desse ano até 90, três anos estacionados, no governo Sarney, onde deu uma parada nos movimentos, você nem perdia e nem ganhava. Com aquela “enrolação” de que o Collor falava sempre que patrão e trabalhador tinha que conversar, tinha que negociar, então começou a perda dos trabalhadores. Daí para cá só houve perda, nenhuma conquista a mais. Basta lembrar que em 98, com uma diária de trabalho se comprava 18 latas de óleo de comida. Hoje uma diária dá apenas para comprar 4 latas de óleo. 5)– Como era o contato do presidente José de Fátima com os empresários do setor? Eu acho que foi muito bom, na minha opinião, porque a gente tinha acesso a todas as empresas, sempre conversando com os empresários em busca de trabalho, de melhores salários, de melhores condições. Na minha gestão, conseguimos que a Usina Santa Adélia, hoje exemplo para o mundo, implantasse a comida quente, água gelada, e o trabalhador hoje recebe até sobremesa na roça. O transporte de ônibus era muito bom. Hoje vejo o transporte piorando, porque os ônibus que estão aí transportando pessoas, na sua maioria, não estão oferecendo segurança. Mesmo a Polícia Rodoviária ϭϮϱ tendo um trabalho bom, ainda assim o número de multas hoje é maior. Quando falamos em fiscalizar, não é no objetivo de multar, é no sentido de orientar o empresário, o proprietário do ônibus para que ele possa melhorar as condições aos trabalhadores. Acho que Guariba tinha muito mais trabalhadores do que hoje. Tínhamos sim um bom relacionamento e graças a Deus, o pessoal não tinha o desemprego que hoje se tem na cidade. 6)– Como você vê hoje, mesmo fora do meio sindical, o trabalho que está sendo desenvolvido em Guariba pela atual diretoria, e a região, chegando até as Federações? Eu diria que hoje Federação não existe mais, porque se tem uma disputa de trabalhos, digamos assim, uma achando que a outra sabe fazer melhor. Na época, representava o trabalhador rural somente a Fetaesp. Hoje se tem várias Federações que, no fundo, nenhuma está fazendo nada. O movimento sindical, que me desculpem os dirigentes sindicais do momento, mas eles não estão fazendo nada. Obrigação de fiscalizar o município, na categoria dos trabalhadores rurais, não é da Federação. Este órgão tem que fiscalizar o município que não tem Sindicato. Onde tem Sindicato é competência da diretoria. Acho que o pessoal tem que se movimentar mais, procurar conversar mesmo com o trabalhador. 7) – Você tem pretensão de voltar ao Sindicato? Não. Intenção de voltar ao Sindicato não. Acho que sou “bananeira que já deu cacho”. Estou aí todo dia levantando cedo, indo para a roça trabalhar de motorista com caminhão. Me considero que estou bem. Não pretendo voltar. Algumas pessoas, na sua maioria, querem mudanças. Mas eles não sabem como fazer, por onde começar. Acho que se tem seguir regras do Estatuto da CLT, que existe, está em vigor e tem que ser respeitada. Esta é a lei-mãe do trabalhador. 8) – Sobre o presidente Lula, o que tem a dizer? O Lula eu diria que é um dos políticos mais espertos desse país. Sempre foi meu amigo no passado, ele, o Zé Dirceu, Roberto Rodrigues, Palocci, assim que fundamos o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Guariba. O Lula fez o ϭϮϲ primeiro comício da vida dele coordenado por mim, na Rodoviária de Guariba, no dia 3 de setembro de 1984. Foi o primeiro comício dele no interior do Brasil, aqui em Guariba. Foi um batalhador no passado. Ele foi recebido em Guariba na época por várias autoridades, mas a única pessoa que “deu a cara para bater” foi o ex-vice-prefeito na época João Evangelista Rodrigues de Oliveira (Bahianinho) que chegou comigo para cumprimentá-lo. Na época todos se fizeram presentes, mas meio às escondidas. O pessoal tinha medo de se aparecer até porque naquela época era meio suspeita você aparecer em púbico, dizer que era do PT, ou mesmo amigo do Lula. Mas todos são meus amigos atualmente e estão lá encima hoje, no poder. Não me arrependo de não estar hoje lá encima porque posso andar na rua de cabeça erguida e de braços abertos, enquanto eles para andar precisam de segurança. 9) – Você tem saudade da época do meio sindical? Do meio sindical acho que se eu tivesse que começar, começaria de um jeito diferente, porque a gente vai trabalhando e errando para poder aprender e eu errei muito. Diria que aprendi hoje. Há cinco anos que saí do movimento sindical, que renunciei a Fetaesp em maio de 2000, posso te garantir que aprendi mais nesses cinco anos que estou fora do que nos 16 anos que me dediquei ao sindicalismo. Hoje sou base, estou junto do trabalhador e estou vendo o sofrimento deles na pele. 10) – Deixe uma mensagem a todos os trabalhadores rurais de Guariba e região. Que todos procurem se organizar, vão até o Sindicato e procurem melhor se informar da situação e quando for negada a informação, procure o Ministério Público, promotores das cidades, peçam até se possível uma prestação de contas (se for o caso), do que contribuem, do que arrecada, do que gasta e de seus direitos. Dê suporte ao Sindicato, cobrem dos sindicalistas para que realmente tenham mais clareza nos seus atos, melhorando cada vez mais as condições de trabalho da categoria. ϭϮϳ ANEXO 8 Entrevista realizada com Wilson Rodrigues da Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Guariba no ano de 2005 até os dias atuais, no dia 14/09/2011. 1) - Senhor Wilson Rodrigues da Silva, quais foram as conquistas da greve de 1984? Houve várias conquistas na segurança, em outras áreas de trabalhos e o respeito muito grande. Antigamente nós éramos chamados de bóias-frias e hoje somos chamados de empregados rurais nas usinas da região. A única perca que nós tivemos foi a mecanização das lavouras que surgiu de lá para cá. Infelizmente, isto vem criando muitas dificuldades em arrumar emprego não só na nossa região, mas sim em todo o país, na área rural principalmente no setor canavieiro. 2) – Há muitos trabalhadores sem registro? Infelizmente tem alguns patrões que infringem as leis e ainda utiliza mão-de-obra com falta de registro, e tanto que o sindicato vem fazendo uma fiscalização de acordo com as normas do ministério do trabalho. Temos intensificado a fiscalização através de laudos e tomando as providências necessárias para aqueles que fraudam os direitos dos trabalhadores. 3) - Quantos trabalhadores rurais há na nossa região? Na nossa região, temos uma média de 50.000 empregos e a nível de Estado, acredito, que tenhamos 200 mil trabalhadores. Em Guariba temos uma media de 40 turmas em relação às usinas, mas se colocarmos os trabalhadores que estão trabalhando nas regiões de Araraquara, Catanduva e outras localidades, através de empreiteiras com registro ou sem registro, o número ainda é maior. 4) – Existe desemprego na área rural? ϭϮϴ Eu me surpreendo quando se fala que tem desemprego na nossa cidade, porque têm empresas que nos procuram porque não estão conseguindo montar turmas para o trabalho. A prova disto é que a Usina Coinbra São Carlos recentemente, nos contactou, e foram montar turma em Pradópolis porque não conseguiram em nossa cidade por falta de trabalhadores. Agora, quero acreditar que não estão fazendo discriminação com relação à idade ou aposentados como acontece em todo país, porque a pessoa que não tem produção perde o valor, mas alguns empresários se esqueceram que quem iniciou o processo do trabalho do setor foram os baianos, mineiros, alagoanos, pernambucanos, enfim, todos os migrantes que hoje moram nas cidades constituindo suas famílias, e a gente percebe que o ganho das empresas aumentou e do trabalhador diminuiu. A defasagem dos salários não é só em Guariba, e sim, em todo o país. O que nós queremos é que o governo, que no momento divulga os usineiros no exterior, nos países como Japão, China, Oriente Médio e outros, vendendo açúcar, álcool através das exportações, olhassem para nós trabalhadores do setor e se empenhassem na intermediação com os empresários. Haja visto que a proposta de aumento deles este ano gira em torno de 5 a 6%. Infelizmente, os empresários não estão reconhecendo o valor dos trabalhadores em nível dos salários, e eles se esqueceram que nos anos 96/97 o setor passou por dificuldades, quando muitas empresas fecharam naquela ocasião, os trabalhadores entenderam e não tiveram 1 centavo de aumento, e hoje com todas as expectativas no setor é satisfatório, e contando com a ajuda do governo federal, nós poderíamos ser valorizados nas negociações. Mensagem aos Trabalhadores Eu acredito que da época da greve de 1984 até agora, nós conseguimos algumas conquistas com muita movimentação, mas só vamos conseguir um salário digno avançando nas negociações e fazendo outras movimentações e porque todas conquistas dos trabalhadores desde 1º de maio 1886 em Chicago, foram com muitas lutas e sacrifícios. O sindicato tem se empenhado pelos trabalhadores nas negociações, nas fiscalizações, nas lavouras e aproveito para parabenizar a todos o trabalhadores para que não desanimem e ϭϮϵ sempre lutem pelos seus ideais e nós estaremos sempre prontos para atender e trabalhar para todos. -Transporte gratuito até o trabalho; -Segurança no transporte, com caminhões cobertos e bancos fixos; -Fornecimento de ferramentas pelos empregadores (inclusive luvas e tornozeleiras); -Pagamento dos dias em que não trabalhassem por imprevistos (chuva, por exemplo); -13º salário e a carteira assinada; -Fiscalização do pagamento através de um comprovante que define o total cortado; -Alteração na tabela de corte, pagando-se mais a partir da dificuldade do corte; -Consequente aumento de salário. Outras conquistas após o período - Calçado de segurança, perneiras e luvas de couro, óculos de segurança, chapéu ou boné, podão, vestimenta, recipiente portátil, garrafão térmico e muitos outros. ϭϯϬ ANEXO 9 Entrevista realizada com Mário Sérgio Cazeri sobre os 21 anos da Saga dos Boias-Frias que aconteceu em maio de 1984, e possuía um bar na esquina do Estádio Domingos Baldan, onde aconteceu o início da greve. O que diz o prefeito municipal Mário Sérgio Cazeri sobre o movimento da época “No tocante a essa data marcante na história de Guariba, 21 anos agora da Greve dos Bóias-Frias que foi notícia em toda parte, no Brasil, América Latina e no mundo, até o meu conhecimento foi o primeiro levante dos trabalhadores da categoria, na América Latina e tinha que passar por Guariba. Você sabe que teve confrontos, gente que faleceu como o senhor Amaral Vaz Meloni que nada tinha a ver com o assunto e somente estava ali assistindo, foi vítima de uma bala perdida. Mas a história tem mostrado que tem que alguém perder para que alguém ganhe. Na época, presenciei o fato, pois tinha um comércio bem na esquina (ao lado do Estádio Municipal), onde tudo aconteceu e, ao longo daqueles dias, como guaribense, como munícipe, participei assiduamente do movimento. Hoje, na qualidade de prefeito, só tenho a dizer que infelizmente os ganhos estão na hora dos usineiros, patrões, pessoas, olharem com um pouco mais de carinho o nosso trabalhador e dividir com eles esse ganho porque ao longo desses anos o salário foi se achatando, e o custo de vida aumentando. Espero e gostaria que, à nível de governo federal, estadual e municipal, que os governantes desse país se juntassem e mentalizassem junto com os patrões para dar um mínimo de dignidade, um pouco mais de decência para todos os trabalhadores, seja ele um bóia-fria, ou qualquer outra atividade que exerça no Brasil”.