Jornal da FEBRASGO Ano 16 – edição 104 – Maio 2009 Publicação da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia SUS Exames de mama e colo de útero: nova lei gera polêmica Urgente Anticoncepcionais orais para mulheres jovens: a posição da Febrasgo 530 CBGO Abertas as inscrições para envio de trabalhos científicos Síf ilis congênita: um grave problema de saúde pública editorial Notícias boas e velhos dilemas Febrasgo – Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia www.febrasgo.org.br [email protected] (11) 5573-4919 Presidente: Nilson Roberto de Melo Secretário executivo Francisco Eduardo Prota Secretária executiva adjunta Vera Lúcia Mota da Fonseca Tesoureiro Ricardo José de Oliveira e Silva Tesoureira adjunta Mariângela Badalotti Vice-presidente da Região Norte Pedro Celeste Noleto e Silva Vice-presidente da Região Nordeste Francisco Edson de Lucena Feitosa Vice-presidente da Região Centro-Oeste Hitomi Miura Nakagava Vice-presidente da Região Sudeste Cláudia Navarro Duarte Lemos Vice-presidente da Região Sul Almir Antonio Urbanetz Assessor da Presidência Etelvino de Souza Trindade Jornal da Febrasgo Editor: Nicolau D’Amico Filho Jornalista responsável: Chico Damaso – MTB: 17.358/SP - Redação: acontece@ acontecenoticias.com.br - Impressão: Zeppelini Editorial - zeppelini@zeppelini. com.br - Tel.: (11) 2978-6686 ÍndIce Polêmica sobre Lei da Mamografia.............3 Anticoncepcionais orais e câncer de mama............................................4 U ma boa notícia desta edição do Jornal da FEBRASGO é a nossa recondução ao Conselho Deliberativo da Associação Médica Brasileira por mais dois anos. Recentemente a FEBRASGO foi eleita, ao lado de 13 outras especialidades, para representar as demais 56 sociedades filiadas à AMB, defendendo seus interesses no Conselho Científico. Trazemos também nova reportagem sobre o 53º Congresso Brasileiro de Ginecologia – CBGO, desta vez destacando o regulamento e os prazos para submissão de trabalhos científicos. Este, aliás, é um privilegiado canal para quem tem um importante estudo a ser divulgado e a todos os congressistas interessados em se manter por dentro das novidades da área. Outras questões relevantes tratadas neste número dizem respeito à constante ação da FEBRASGO para oferecer medicina de qualidade às nossas pacientes e um ambiente mais seguro e digno para a prática médica. Colocamos em discussão ‘‘ A nova lei sobre prevenção ao câncer de mama é Gestação e transtornos mentais..............6 mais uma tentativa 53º CBGO: Inscrições para trabalhos científicos.....................................7 de melhorar a triste Direto da fonte...............................................8 estatística de cerca de Sífilis congênita..............................................9 Pílula do Dia Seguinte............................... 11 Federadas: SOGOES................................... 12 Coluna da AMB............................................ 13 Giro pelos Estados: MS............................. 14 Homenagem........................................ 15 fórum do associado 35% de mulheres com mais de 50 anos que nunca realizaram uma ’’ mamografia a real eficácia da lei que garante a efetivação das ações de prevenção, detecção e tratamento dos cânceres de colo do útero e de mama. Vista com otimismo, mas também com ressalva, é mais uma tentativa de melhorar a triste estatística de cerca de 35% de mulheres com mais de 50 anos que nunca realizaram uma mamografia. Mas necessita de financiamento adequado para vingar. A reunião da Comissão do Parto Normal do Conselho Federal de Medicina para debater o funcionamento das Casas de Parto é mais um tema que merece sua especial atenção. Hoje, no país, já são 11 os estabelecimentos, sendo cinco isolados, oferecendo partos sem assistência adequada, supervisão médica ou preparo suficiente para atuar satisfatoriamente em caso de emergência médica. Temos de nos posicionar firmemente neste caso. Por fim, abordamos a triste realidade de o Brasil conviver com um grave problema de saúde pública, a sífilis, mesmo após meio século da descoberta do tratamento. Conclamo aos colegas a, juntos, lutarmos pela redução das atuais 50 mil gestantes infectadas e 12 mil notificações anuais. Nilson Roberto de Melo - Presidente O Jornal da Febrasgo mantém um espaço para interlocução permanente com os leitores: o Fórum do Associado. Ficaremos muito honrados em tê-lo como colaborador. Ajudar a enriquecer nossa publicação é importante e simples: basta enviar suas impressões e sugestões para o e-mail [email protected] ou por carta para a rua Cotoxó, 303, conjunto 82, Perdizes, São Paulo, SP, CEP 05021-000, aos cuidados da Comunicação. Desde já, agradecemos o seu apoio. Jornal da FEBRASGO – Maio 2009 mama e de colo uterino pelo SUS Teoricamente, a nova legislação assegura a efetivação das ações de prevenção, detecção e cuidados. Mas não há verbas suficientes alocadas, segundo especialistas E stá em vigor desde 29 de abril de 2009 a Lei Federal 11.664, que, ao menos teoricamente, garante a efetivação das ações de prevenção, detecção e tratamento dos cânceres de colo do útero e de mama estabelecidas pela Política Nacional de Atenção Oncológica e pelo Programa Nacional de controle da doença. A partir de agora, portanto, todas as mulheres com mais de 40 anos de idade têm o direito de fazer mamografia gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Além da mamografia, a lei prevê a realização de exame citopatológico de colo uterino a todas aquelas que já te- nham iniciado sua vida sexual, independentemente da idade. Mesmo vista com otimismo no meio médico, há ressalvas quanto à capacidade de realização destes exames com os recursos pré-estabelecidos na legislação. “Embora tenhamos mamógrafos em quantidade suficiente para atender à demanda do país, o custeio para os exames é insuficiente. Essa falta de recursos impossibilita a utilização da capacidade plena dos aparelhos”, argumenta José Luiz Gomes do Amaral, presidente da Associação Médica Brasileira. “O Ministério da Saúde anunciou a liberação de R$ 85 mi- Brasília urgente Dúvidas sobre a ef icácia da lei que garante diagnóstico e tratamento dos cânceres de lhões para mamografias nos próximos três anos. Mas para que todas as mulheres de 40 a 70 anos realizem o exame são necessários R$ 675 milhões. É um dinheiro que ultrapassa em muito o disponibilizado para materializar a lei.” Segundo um estudo encomendado pela Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama) ao Datafolha no fim de 2008, no Brasil, 35% das mulheres acima de 50 anos nunca realizaram uma mamografia. “A justificativa delas é a de que não sentem nada ou ainda alegam dificuldade de marcar o exame”, comenta a presidente da Femama, Maira Caleffi, coordenadora do núcleo mama do Hospital Moinhos de Vento (RS). Maira Caleffi, no entanto, considera que já é um bom começo garantir o rastreamento mamográfico anual pelo menos em mulheres de 50 a 69 anos. Mas salienta que é necessário buscar respostas quanto à situação atual para a faixa dos 40 a 49 anos, em que a mortalidade por doença em estágio avançado vem aumentando. rastreamento e câncer de mama “O câncer de mama é um problema de saúde básico, que começa com o treinamento da enfermeira e do médico comunitário, envolve o ginecologista e precisa ter a garantia de que os prestadores de serviços do SUS farão o mais rápido possível, e com qualidade, tanto os exames por imagem como biópsia e tratamento.” Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de mama Jornal da FEBRASGO – Maio 2009 Brasília urgente ‘‘ O câncer de mama é um problema de saúde básico, que começa com o treinamento da enfermeira e do médico comunitário para um ’’ bom atendimento Maira Caleffi é o segundo tipo mais frequente no mundo e o mais comum entre as mulheres. A cada ano, cerca de 22% dos novos casos de câncer em mulheres são os de mama. Serão cerca de 50 mil novos casos no Brasil em 2009, com risco estimado de 50,71 ocorrências para cada 100 mil mulheres. Os dados mais recentes de mortalidade, de 2006, indicam 10.950 óbitos decorrentes da doença naquele ano. Considerado um câncer de relativo bom prognóstico, as taxas de mortalidade por câncer de mama continuam elevadas no Brasil, muito provavelmente porque o diagnóstico é comumente feito já em estágio avançado. Em se tratando de câncer de colo de útero, são aproximadamente 500 mil casos novos por ano no mundo, fazendo da doença o segundo tipo de ‘‘ Para que todas as mulheres realizem o exame são necessários R$ 675 milhões. É um dinheiro que ultrapassa em muito ’’ o disponibilizado José Luiz Gomes do Amaral Jornal da FEBRASGO – Maio 2009 câncer mais comum entre as mulheres. Leva a óbito aproximadamente 230 mil mulheres anualmente. Estima-se que cerca de 80% da mortalidade por esse mal possa ser evitada por meio de rastreamento de mulheres na faixa etária de 25 a 65 anos e tratamento das lesões precursoras com alto potencial de malignidade. Mamografia em números Há no Brasil 25 milhões de mulheres na faixa etária entre 40 a 70 anos (Censo IBGE 2000) e 3.659 mamógrafos em uso (CNEs). O Ministério da Saúde anunciou a verba de R$ 85 milhões destinada à realização de mamografia nos próximos três anos. Sendo R$ 45 o valor pago por mamografia, seriam necessários R$ 675 milhões para o à exame em todas as mulheres. Anticoncep orais e cân posição da R ecentemente publicada no jornal O Estado de S.Paulo, a reportagem Médicos são Contra Pílula Anticoncepcional Antes dos 18 motivou uma nota oficial da FEBRASGO. O objetivo foi alertar a população e profissionais de medicina sobre a correta recomendação da Federação para esse caso específico. Segundo o comunicado, mais de 1 milhão de mulheres por ano se envolvem em situação de abortamento inseguro no Brasil. São ocasiões em que as complicações podem ser graves, tais como hemorragias, infecções, perfuração uterina, esterilidade e até a morte. O aborto inseguro, é imperativo ressaltar, configura-se como uma das principais causas evitáveis de morte materna. É um dos responsáveis pelos altos índices apresentados no país: 64 mortes por 100 mil nascidos vivos. “O principal meio de reverter esta realidade é a redução das gestações não desejadas”, afirma Nilson Roberto de Melo, presidente da FEBRASGO. Hoje, em nosso país, a fecundidade de mulheres entre 15 e 19 anos representa 23% da taxa total. Cerca de 33% das meninas com até 15 anos já tiveram relações sexuais. “Não é possível descartar nenhum método anticoncepcional, ainda que outros, como a camisinha, sejam mais indicados por inúmeras razões, uma delas a prevenção às doenças sexualmente transmissíveis”, pondera Nilson. Conforme a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher, das jovens sexualmente ativas, entre 15 e 19 anos, 66% já usaram algum método contraceptivo. Mais de um terço, 27%, optou pela pílula. POLÊMICA pcionais ncer: a FEBRASGO “Sem a opção do anticoncepcional oral, é impossível dizer se estas jovens teriam utilizado outro método, ou se estariam, hoje, somadas às estatísticas de gestações indesejadas, abortos inseguros ou de mortalidade materna”, conclui o presidente da FEBRASGO. Apoio da mastologia A posição da FEBRASGO teve o pronto apoio da Sociedade Brasileira de Mastologia. Existe concordância de que até o momento não há dados consistentes sobre os riscos do uso prolongado da pílula anticoncepcional. De acordo com Marcelino E. H. Poli, presidente da Comissão Nacional de Anticoncepção da FEBRASGO, a promoção da anticoncepção entre adolescentes é uma obrigação de saúde pública. Ele frisa, aliás, que, por todos os benefícios advindos do uso dos contraceptivos orais, deve ser incentivada e patrocinada pelos responsáveis pela saúde pública. “Vivemos uma época de verdadeira explosão sexual, em que a precocidade do A polêmica começou após uma reportagem de O Estado de S.Paulo relacionamento sexual é incentivada por todos os meios, o erotismo é exagerado e a gravidez na adolescência uma epidemia, com consequências muito sérias.” Anticoncepção na adolescência O problema da anticoncepção na adolescência é delicado, pois envolve um ser biologicamente adulto, com capacidade procriativa, mas emocionalmente imaturo. “Na adolescência, os contraceptivos orais combinados gozam de vantagem sobre os demais métodos, tornando-os preferenciais especialmente por proporcionarem benefícios extracontraceptivos, que devem ser enfatizados, facilitando a escolha”, argumenta Poli. Entre os benefícios, ele destaca a diminuição do risco de cistos funcionais; regulação do ciclo menstrual, possibilitando a previsibilidade das menstruações; redução da duração e do volume do fluxo menstrual, bem como da dismenorréia; e proteção contra doença inflamatória pélvica. Contraindicações A despeito de todos os benefícios para a grande maioria dos casos, há exceções em que a pílula anticoncepcional ‘‘ não é indicada. Mas essa é uma constatação que deve ser verificada individualmente pelo médico. Por isso, o uso de anticoncepcionais, assim como acontece com qualquer medicamento, só deve ser feito sob prescrição e orientação de profissionais de medicina. De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, Carlos Ricardo Chagas, as contraindicações não estão relacionadas aos estudos sobre o uso da pílula e a incidência de câncer. “Embora algumas pesquisas mostrem uma probabilidade maior na incidência – a maioria baseadas em doses e substâncias antigas – o risco encontrado ainda é muito pequeno. Ou seja, a pílula continua fazendo mais bem do que mal para as mulheres”, defende. O especialista lembra que os trabalhos mais recentes, que incluem novas formulações, com doses mais baixas, não têm observado aumento de risco. “A pílula é um método seguro, conveniente e bem tolerado em um alto número de pacientes. Com a grande variedade de formulações disponíveis atualmente, pode ser feita uma escolha individualizada para à cada paciente”, conclui Chagas. Sem a opção do anticoncepcional oral, é impossível dizer se estas jovens teriam utilizado outro método, ou se estariam, hoje, somadas às estatísticas de gestações indesejadas, abortos Marcelino E. H. Poli ’’ inseguros ou de mortalidade materna Jornal da FEBRASGO – Maio 2009 MULTIDISCIPLINAR Gestação e transtornos mentais: com a palavra, o psiquiatra A gestação é fator de risco para a recaída de uma condição psiquiátrica préexistente ou para o início de um novo transtorno mental. Prova disso é a alta prevalência de transtornos de ansiedade e de humor em gestantes. Segundo Joel Rennó Júnior, diretor do Programa de Atenção à Saúde Mental da Mulher (ProMulher) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, um dos motivos que favorece tais recaídas é o aconselhamento, por parte de alguns obstetras, de descontinuar o uso de psicotrópicos antes da concepção. “Mulheres com depressão crônica, mantidas com antidepressivo mas aconselhadas a descontinuá-los durante a gravidez têm chance de recaída elevada, em torno de 75%.” Dependendo do diagnóstico psiquiátrico e do nível de gravidade dos sintomas, a falta de tratamento específico ou o abandono da medicação na gestação pode prejudicar o desenvolvimento do feto. “Além de menor aderência ao pré-natal, essas mulheres podem tender a se alimentar de forma inadequada e apresentam maior risco para algumas doenças clínicas, como o diabetes gestacional. Uma pesquisa da Universidade Harvard, publicada no JAMA em março de 2009, aponta que o diabetes gestacional aumenta em duas vezes o risco de depressão pós-parto.” Os transtornos de ansiedade e depressão na gestação, explica o psiquiatra Rennó Júnior, estão entre os principais fatores de risco para depressão pós-parto, enquanto a ansiedade crônica não tratada na gestação pode levar a parto prematuro, baixo peso ao nascer e até ao abortamento espontâneo. A falta de tratamento adequado da mãe, após o parto, também é prejudicial ao desenvolvimento dos filhos. “Mulheres com depressão pós-parto não tratadas adequadamente podem levar a prejuízos do desenvolvimento cognitivo e de linguagem após o nascimento. Muitas crianças com transtornos depressivos têm esse histórico. Psicoses no pós-parto com alterações de juízo e crítica, delírios e alucinações favorecem a autoagressividade, suicídio e infanticídio.” De acordo com Rennó Júnior, investi- Jornal da FEBRASGO – Maio 2009 a importância de um trabalho em conjunto com o psiquiatra especializado em saúde mental da mulher, a fim de que não haja subdiagnóstico ou diagnósticos excessivos.” Tratamento gar o início e o curso de doença psiquiátrica materna na gestação tem de ser uma prioridade de todo obstetra. “O tratamento farmacológico de tais pacientes requer ampla discussão, em conjunto com o psiquiatra, dos riscos e benefícios de quaisquer psicotrópicos utilizados.” Diagnóstico Um grande estudo de coorte, desenvolvido por Evans e cols, em 2001, com 14.000 mulheres, sugere que a depressão pode ser até mais comum na gestação do que no pós-parto. “Cerca de um terço tem o primeiro episódio depressivo na gestação, apesar de sabermos que a história pessoal de doença afetiva aumenta o risco de depressão gestacional. Entre os fatores de risco, destaco a insatisfação pessoal, suporte psicossocial inadequado, eventos de vida adversos, baixo status socioeconômico e gravidez indesejada.” O especialista frisa que muitos sinais e sintomas neurovegetativos durante a gravidez, que ocorrem em mulheres não deprimidas, podem ser confundidos com sintomas depressivos característicos, como distúrbios do sono e apetite, diminuição da libido e baixa energia. “Na gravidez, casos de anemia, diabetes gestacional e disfunção tireoidiana podem ser associados a sintomas depressivos. Aspectos clínicos que podem dar suporte ao diagnóstico de depressão na gestação incluem anedonia, sentimentos de culpa e desesperança e pensamentos suicidas. Daí Os tratamentos dependem do diagnóstico específico, da gravidade dos sintomas, do histórico pessoal de transtorno mental e do curso da doença, explica Rennó Júnior. “Geralmente, há três períodos: fase aguda, até melhora total dos sintomas psíquicos; fase de continuação, para evitar recaída, que tem média de 4 a 9 meses; e fase de manutenção, para prevenir novo episódio, que dura ao menos um ano.” O psiquiatra é o melhor profissional para elaborar um tratamento individualizado, com avaliação apurada de todos os riscos e benefícios. Rennó Júnior comenta que a depressão unipolar, a mais comum, é tratada com antidepressivos. A bipolar requer estabilizadores de humor e não são recomendados antidepressivos, pois podem até piorar o curso e provocar uma virada para o polo ou fase de mania. Transtornos de ansiedade, por sua vez, devem ser tratados, prioritariamente, com antidepressivos, enquanto os quadros de psicose com antipsicóticos. Riscos Todo médico deve estar ciente de que não existe medicamento psicotrópico sem riscos. É possível, no entanto, basear-se em evidências científicas e experiência clínica para avaliação adequada. “O trabalho interdisciplinar é importante. Já recebi pacientes de obstetras bem abertos a tais questões. Infelizmente, contudo, há profissionais radicais que contraindicam antidepressivos e outros psicotrópicos em qualquer gestação, sem avaliar, à luz da ciência, todos os fatores envolvidos. Involuntariamente, isso pode causar sérios prejuízos à mulher e ao bebê. Extremismos e irredutibilidade deà vem ser evitados a todo custo.” Joel Rennó Júnior, diretor do Programa de Atenção à Saúde Mental da Mulher (ProMulher) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, é autor do livro Mentes Femininas, da Ediouro. Abertas as inscrições para envio de trabalhos científ icos A FEBRASGO já está recebendo trabalhos científicos sob a forma de pôsteres para apresentação no 530 Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia por meio do site www. febrasgo.org.br/53cbgo. As inscrições se encerram em 10 de agosto. São aceitas criações originais ou já aprovadas para veiculação em qualquer periódico. Estão liberados apenas os casos de publicação de notas prévias, com resultados parciais de pesquisa, desde que estes resumos não tenham sido apresentados em congressos de ginecologia e obstetrícia anteriores. Os trabalhos, em língua portuguesa, serão classificados em uma das mais de 20 áreas disponíveis, tais como medicina fetal, climatério, anticoncepção ou mastologia, e serão analisados por uma comissão específica. Cada autor poderá inscrever no máximo cinco obras, sendo que nenhuma pode ultrapassar o limite de cinco coautores. Um desses participantes precisa possuir TEGO ou título de especialista relacionado ao tema a ser apresentado, devendo estar inscrito no congresso até a o data do envio dos trabalhos. A participação como coautor é ilimitada. O regulamento completo está disponível no portal da FEBRASGO. Em caso de dificuldades ou dúvidas, entre em contato pelo e-mail [email protected]. br ou pelo telefone: (31) 3261-3873. Julgamento Os autores serão informados até 30 de setembro da decisão da Comissão de Temas Livres quanto à aceitação ou não do trabalho. Todas as produções aprovadas serão publicadas O QUE VEM POR AÍ 530 CBGO nos anais do congresso. Os melhores temas livres em ginecologia e em obstetrícia serão premiados. Também serão destacados com menções honrosas outros dois de cada área. 530 CBGO O 530 Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia será realizado de 14 a 17 de novembro de 2009, no moderno Expominas Belo Horizonte. Serão 15 mil metros quadrados de auditórios com capacidade para até 1.300 pessoas; salas para aulas práticas; e uma ampla área para a feira de exposição. A escolha de Minas Gerais como a sede deste ano é muito oportuna. A FEBRASGO nasceu justamente na capital, Belo Horizonte, há cinquenta anos. Aliás, é a primeira vez que o maior evento da GO do país acontece por lá. A expectativa da FEBRASGO é manter o ritmo de crescimento de seus congressos nacionais, superando a marca dos quase 7.800 participantes do anterior, que aconteceu em 2007, à em Fortaleza, Ceará. A Comissão Organizadora do 530 CBGO, presidida pelo médico João Pedro Junqueira Caetano, se reuniu com o vice-governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia, na quarta-feira, 6 de maio, para apresentar e mostrar a importância do evento que trará para a capital mineira pela primeira vez. A expectativa da organização do evento é receber mais de 8 mil profissionais – entre ginecologistas, obstetras, estudantes, representantes da indústria farmacêutica e de órgãos de classe - de diversas regiões brasileiras e do exterior. Gustavo Roscoe VICE-GOVERNADOR DE MG SE REÚNE COM COMISSÃO DO CBGO Da esquerda para a direita, Fátima Cabral, diretora de negócios da Suporte Eventos; João Henrique Penna Reis, integrante da diretoria do 53º CBGO; João Pedro Junqueira Caetano, presidente do 53º CBGO; Roberto Porto da Fonseca, diretor da Oncomed; e Antônio Anastasia, vice-governador de Minas Gerais Jornal da FEBRASGO – Maio 2009 Direto da fonte Comissão do Parto Normal G.O. integra o Conselho O trabalho do grupo frente ao permanente aumento de cesáreas nos hospitais privados A Comissão de Parto Normal do Conselho Federal de Medicina tem se reunido periodicamente para discutir diversos assuntos relacionados não apenas ao parto normal, mas também à assistência à mulher durante a gravidez e puerpério. Os encontros buscam soluções para o permanente aumento de cesáreas na rede privada, que hoje ultrapassam 80%, afirma Lucila Nagata, uma das representantes da FEBRASGO na Comissão. No último encontro do grupo, em 14 de maio, participaram, além de Lucila, Helvio Bertolozzi Soares, também representando a FEBRASGO; José Luis Telles, diretor do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas (DAPE), do Ministério da Saúde; Lena Peres, coordenadora da Área Técnica de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde; José Fernando Vinagre e Aloísio Tibiriçá, do CFM; Krikor Boyaciyan, representando a Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP) e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP); Vera Fonseca, da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro (SGORJ) e do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (CREMERJ); e Paulo Nader, da Sociedade Brasileira de Pediatria. Entre os temas abordados, a qualificação da assistência ao parto e a necessidade do parto seguro. Além da reunião, na sede do CFM, em Brasília, o grupo esteve no Ministério da Saúde para tratar da modificação da Portaria nº 985, que cria o Centro de Parto Normal no âmbito do SUS, e reuniu-se com Maria Ângela da Paz, representante da Anvisa, sobre a revisão da RDC nº 36, de 2008, que dispõe sobre regulamento técnico para funcionamento dos serviços de atenção obstétrica e neonatal. Ainda neste encontro, explica Lucila, a Comissão iniciou a elaboração de um projeto de metas a médio e longo prazos, com foco na redução do índice de cesáreas na instituição privada. febrasgo_210x90.pdf 5/8/aaaa 12:00:51 Deliberativo da AMB por mais dois anos Em 19 de março, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia foi eleita novamente para integrar o Conselho Deliberativo da Associação Médica Brasileira (AMB). Assim, ao lado de 13 outras sociedades de especialidades, volta a integrar o Conselho Científico da AMB. As sociedades de especialidades eleitas na ocasião serão representadas no Conselho Deliberativo por seus respectivos presidentes em um mandato de dois anos. Na FEBRASGO, portanto, o cargo será exercido por Nilson Roberto de Melo, tendo como substituto Almir Antonio Urbanetz. As 14 sociedades de especialidade eleitas terão a responsabilidade de representar as outras 56 instituições filiadas à AMB, defendendo seus interesses no Conselho Científico. São 7 vagas para as especialidades cirúrgicas, 5 para as clínicas e 2 para a área de diagnóstico. Estarão ao lado da FEBRASGO as Sociedades de Anestesiologia, Cardiologia, Cirurgia Geral, Clínica Médica, Coloproctologia, Infectologia, Ortopedia e Traumatologia, Otorrinolaringologia, Oftalmologia, Patologia Clínica, Patologia, Pediatria e Reumatologia. Segundo o diretor científico da AMB e ex-presidente da FEBRASGO, Edmund Chada Baracat, é muito importante que os eleitos participem ativamente das reuniões do deliberativo, que é o conselho mais importante da AMB. Aliás, vale o registro de que o Conselho Deliberativo da AMB reúne-se a cada seis meses e é formado pelo presidente da AMB, secretário da AMB, presidentes de federadas, um representante indicado pelo Conselho Federal de Medicina e pelos membros do Conselho Científico. Não seja o último médico a aceitar cartão de crédito em seu consultório. Conheça a plataforma de pagamento Saúde Service. os A melhor e mais econômica opção para dentistas e médicos Aceite todos ,90 receberem com cartão de crédito sem alugar as máquinas e nsais r me o p s e cartõ R$ com a mesma segurança em seu consultório. s a n e ap 0 por operação + taxasras e R$ 1,0 tivas das operado tra adminis de 2,5 a 4,5%. 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A sífilis é passível de transmissão vertical, além de determinante de graves sequelas e até mesmo de morte fetal e neonatal. Hoje a situação é preocupante no Brasil, a despeito de o agente causal ser conhecido e do tratamento estar disponível para a população na rede pública. Temos cerca de 50 mil gestantes infectadas e 12 mil casos de sífilis congênita notificados ao ano. Na região Sudeste, segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde, concentram-se 51,2% dos casos ocorridos entre 1998 e 2006, seguida da Nordeste (27,9%), Centro-Oeste (7,4%), Sul (6,7%) e Norte (6,80%). “Infelizmente a sífilis não é discutida como deveria”, adverte Mauro Passos, presidente da comissão nacional especializada em doença infecto-contagiosa da FEBRASGO e professor associado chefe do Setor de DST da Universidade Federal Fluminense. A crítica procede. Pesquisa finalizada em 2008 pelo Programa Nacional de DST/Aids revela dados assustadores. Realizada em seis capitais brasileiras, traz Mauro Passos ‘‘ Não podemos esperar um prognóstico “Não podemos esperar um prognóstico diferente em um país em que apenas uma parte das gestantes vai ao serviço público para o pré-natal. Ainda assim, nem todas realizam os exames solicitados, ou os fazem tarde demais, diversas vezes dando à luz antes mesmo de os resultados saírem.” Esse quadro é a maior prova da necessidade de união de médicos, demais profissionais da saúde, governantes e sociedade para enfrentar o problema da sífilis, especialmente porque a falta de tratamento adequado da doença recente na gestação evolui, em 40% dos casos, para sérios transtornos, como abortamento, à óbito fetal ou óbito neonatal. Sífilis em números • 54% das mães de crianças infectadas em que apenas têm entre 20 e 29 anos de idade, sendo que 75,8% fizeram pré-natal. Mais da metade não havia tido o diagnóstico de sífilis até o momento do parto. uma parte das • Apenas 16,6% dos parceiros são trata- diferente em um país gestantes vai ao serviço público para ’’ o pré-natal a constatação de enorme incidência de males facilmente preveníveis e tratáveis, como a sífilis, em gestantes. Ao menos 42% das mulheres avaliadas tinham uma ou mais doenças sexualmente transmissíveis. A sífilis esteve presente em 2,6% delas, número muito superior ao 1% já considerado preocupante para a Organização Mundial da Saúde (OMS). Passos observa que estes 2,6% são uma média. Em algumas localidades os índices são ainda mais alarmantes. É o caso de Manaus, com 3,2%; Porto Alegre, com 2,8%; ou Rio de Janeiro, com 4,4%. SOCIEDADE Síf ilis congênita: um grave problema de saúde pública dos, o que se reflete na manutenção das altas taxas de incidência da doença fetal. • De 1996 a 2005 foram notificados 1.009 óbitos por sífilis congênita, sendo 3,3% na região Centro-Oeste; 8,8% na Norte; 10,2% Sul; 32,6% Nordeste e 45,1% na Sudeste. Quantos terão sido os casos que nem sequer foram diagnosticados? • De 2000 a 2006, 28.569 crianças fo- ram internadas para tratamento da sífilis congênita, representando um dispêndio de R$ 11,5 milhões somente em internação hospitalar. Qual será o custo para acompanhamento, para tratamento das sequelas orgânicas e socioemocionais das famílias? • Enquanto a porcentagem de trans- missão vertical (TV) do HIV em gestantes sem qualquer tipo de acompanhamento não atinge 30%, a da sífilis congênita é superior a 95%. Jornal da FEBRASGO – Maio 2009 XIX Congresso Mundial de Ginecologia e Obstetrícia XIX Congresso Mundial de Ginecologia e Obstetrícia 04 a 09 de Outubro / 2009 Cape Town - África do Sul 04 a 09 de Outubro / 2009 15-06-09 Cape Town - África do Sul 4X MINAS GERAIS BRASÍLIA 61 3321 2050 [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] MINAS GERAIS BRASÍLIA [email protected] 61 3321 2050 macsp@m [email protected] [email protected] [email protected] macsp@m [email protected] [email protected] [email protected] macsp@m Algumas considerações importantes sobre o contraceptivo de emergência M ais conhecido entre a população como pílula do dia seguinte, o anticoncepcional de emergência (AE) é hoje uma maneira de se evitar a gravidez indesejada em situações isoladas e urgentes, como o rompimento da camisinha durante o ato sexual, o estupro ou uma relação desprotegida. Infelizmente, por falta de informação, muitas jovens vêm usando o medicamento continuamente, em substituição aos anticoncepcionais orais regulares. Em reportagem publicada recentemente no jornal Folha de S.Paulo, um alerta importante é revelado por estudo em andamento na Faculdade de Saúde Pública da USP. De 300 adolescentes paulistas ouvidas, entre 12 e 20 anos, e 60 profissionais da saúde, concluiuse que 8,3% dos profissionais entrevistados acreditam que a pílula sirva como abortivo. Segundo os coordenadores do estudo, muitos são contra porque desconhecem que ela não provoca aborto. Entre as pacientes, apenas 13,36% sabiam que o uso deve ser feito exclusivamente em situações de emergência. Há ainda grande quantidade de mulheres que, na impossibilidade de consultar um ginecologista no prazo máximo de 72 horas para a ingestão da pílula, recorrem às farmácias em busca do medicamento, seguindo as recomendações de balconistas. Este estudo mostra a importância da educação continuada de médicos e profissionais de saúde. Indicações e contraindicações do AE devem ser fornecidas permanentemente por profissionais capacitados e por meio de campanhas oficiais, tanto nos serviços de saúde como nas escolas, disseminando a informação correta a fim de evitar mau uso e consequências indesejadas. Antigamente preconizava-se que não ultrapassasse 72 horas. Mas hoje a Organização Mundial da Saúde avalia que possa ser tomado até 5 dias, ou 120 horas, após uma relação desprotegida. É evidente que à medida que o tempo passa, a eficácia diminui. Para ter uma ideia, a eficiência é de 95% nas primeiras 24 horas. Entre 25 e 48 horas é reduzida para 87%; e entre de 48 h e 72 h para 58%. Passadas 72 horas e até 100 horas depois, a eficácia cai para em torno de 30% a 35%. Ou seja, quanto mais próximo da relação desprotegida, maior a eficiência. O ideal, apontam estudos mais atuais, é que seja ingerido o mais precocemente possível, sem nenhuma postergação após a relação desprotegida em um prazo de até 12 horas. Com este objetivo, muitos países já aboliram a obrigatoriedade da prescrição médica para se dispensar o AE em situações especiais, onde não haja facilidade de uma consulta com um médico que o prescreva, para não ocorrer adiamento do acesso ao medicamento. Apresentação As embalagens atuais trazem um único comprimido contendo 1,5 mg de levonorgestrel. Pesquisas recentes mostram que a eficácia é melhor se a dose é usada de uma única vez e não fracionada em duas doses, com intervalo de 12 horas, como se fazia antigamente. opinião Pílula do dia seguinte Efeitos colaterais Em geral são baixos: 20% reclamam de náuseas e 5% das usuárias relatam vômitos, ambos contornáveis com tratamento. Quando ocorre o vômito dentro das primeiras duas horas após tomar o AE, recomenda-se repetir a dose ou usálo via vaginal, que tem boa eficácia. Mecanismo de ação O AE produz uma alteração na liberação do Hormônio Luteinizante – o LH, provocando uma depressão em seu pico, evidenciando que o principal efeito é o de inibir ou bloquear a ovulação. Pode também causar uma disovulia, atrasando a liberação do óvulo e, portanto, não permitindo o encontro dos gametas e a fecundação. Também altera a motilidade tubárea e o movimento ciliar nas tubas, retardando a chegada do óvulo no terço proximal da trompa onde normalmente se encontra com os espermatozóides. Há, ainda, uma modificação do muco cervical e do processo de capacitação espermática, diminuindo a capacidade fecundante dos espermatozóides, entre outras modificações. Como não há evidências que comprovem que um óvulo já fecundado e implantado no útero seja perturbado pelo AE, este medicamento não é conà siderado abortivo. Cristião Fernando Rosas, presidente da Comissão Nacional de Violência Sexual e Interrupção da Gestação Prevista por Lei da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia - FEBRASGO Eficácia x tempo Um ponto importante é a relação da eficácia do AE e o tempo decorrido entre a relação sexual e sua ingestão. Jornal da FEBRASGO – Maio 2009 11 federadas SOGOES: foco na atualização científ ica e defesa prof issional F undada em junho de 1965, a Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Espírito Santo, a SOGOES, começou a escrever sua história com apenas 19 médicos. Hoje tem mais de 500 sócios e é um exemplo de força. Realiza anualmente um congresso estadual e, bimestralmente, jornadas ou simpósios que chegam a reunir mais de 300 especialistas. Também apoia eventos promovidos por hospitais, como a Jornada da Santa Casa, entre outros. Patologia cervical, mastologia, climatério e anticoncepção são os principais temas abordados nos encontros, porém os direitos da profissão sempre têm espaço garantido nas discussões. “Além de manter a educação continuada, conseguimos aproximar a classe médica, discutir questões não só de saúde, mas de defesa da categoria, como a valorização profissional”, afirma a presidente da SOGOES, Neide Aparecida Tosato Boldrini. Na área de obstetrícia, por exemplo, já foram detectados problemas que transformaram-se em reivindicações importantes, como os honorários, tanto dos plantões quanto dos valores de parto. “Nos debates, visamos a conscien- Neide Aparecida Tosato Boldrini, presidente tizar o médico para a necessidade de se levantar essas bandeiras. Tentamos unir a categoria a fim de alcançar um resultado mais positivo frente às discussões da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos e a outras questões do tipo, inclusive de cunho legal”, afirma Neide. Os profissionais do interior também são preocupação da federada do Espírito Santo, que promove educação continuada não só na capital, Vitória, mas por todo o estado. É o caso da Jornada de Colatina, realizada uma vez Ipas Brasil http://www.ipas.org.br/pesquisas.html O Ipas é uma organização não governamental internacional que trabalha há três décadas pela redução de mortes e danos físicos associados a abortamentos, pelos direitos de natureza sexual e reprodutiva da mulher e por melhores condições de acesso a serviços de saúde associados à reprodução, inclusive ao aborto seguro. Recentemente, a organização apresentou os resultados de uma pesquisa realizada em parceria com Instituto de Medicina Social da UERJ intitulada Magnitude do Aborto no Brasil: Aspectos Epidemiológicos e Sócioculturais. Por meio dessas informações, o Ministério da Saúde chegou à estimativa do número de abortos realizados no Brasil: cerca de 1.054.243, a maioria em condições de insegurança e com risco de sequelas e mortes para as mulheres. No site, além dos resultados, estão disponíveis documentos e artigos gerados a partir da pesquisa. 12 Jornal da FEBRASGO – Maio 2009 por ano, que atrai cerca de 100 médicos, além de estudantes. A conscientização do público leigo para os cuidados ginecológicos também faz parte das nossas metas. “No Dia Internacional da Mulher fazemos panfletos visando à prevenção de doenças. Esporadicamente somos convidados a dar conferências e palestras em instituições voltadas ao público, o que ajuda a promover maior entendimento da população sobre as questões da già necologia.” Diretoria 2008/2009 Presidente Neide Aparecida Tosato Boldrini Vice-presidente Luiz Alberto Sobral Vieira Junior Tesoureiro-geral Coridon Franco da Costa Tesoureiro adjunto Henrique Zacharias Borges Filho Secretário-geral Ricardo Cristiano Leal da Rocha Secretário adjunto Márcio de Oliveira Almeida Diretor científico Fábio Leal Laignier Borges 530 CBGO http://www.febrasgo.org.br/53cbgo/ Já está no ar o site do Congresso Brasileiro de Ginecologia de 2009, previsto para 14 a 17 de novembro, em Belo Horizonte. No endereço eletrônico oficial do evento, além da programação científica, informações sobre os convidados internacionais, programação social, pacotes de hospedagem, há ainda o regulamento e acesso para submissão de trabalhos científicos. Pelo site é possível também fazer a inscrição para o evento com toda a comodidade e segurança. A partir de 2009 o Título de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia – TEGO terá um novo formato. As provas de 2009 serão realizadas somente em Belo Horizonte, nos dias anteriores ao 530 Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia, a se realizar de 14 a 17 de novembro de 2009. O exame constará de duas provas: uma escrita de múltipla escolha com nota de corte previamente estabelecida em edital. A segunda será oral com banca examinadora avaliando raciocínio de casos clínicos completos, apenas com os candidatos aprovados na primeira etapa. As inscrições serão feitas diretamente no portal da Febrasgo. Fique atento para a divulgação do período de inscrição! AMB e CBI divulgam documento sobre a gripe A A AMB e a Sociedade Brasileira de Infectologia divulgaram, em 8 de maio, dois documentos contendo orientações sobre a gripe influenza A (H1N1) destinados à comunidade médica e à população. O material foi produzido por profissionais que integram a equipe técnica do Comitê Científico de Influenza/Gripe da SBI, da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Sociedade Brasileira de Medicina dos Viajantes, Associação Brasileira de Infecções Hospitalares e a Associação Pan-Americana de Infectologia. Orienta a prática eficaz para o diagnóstico, acompanhamento e tratamento de pacientes, além de prevenção. Para acessar os documentos entre no site da AMB www.amb.org.br e clique no ícone H1N1. note e anote Mudanças para obtenção do Título de Especialista – TEGO GIRO PELOS ESTADOS Mato Grosso do Sul A excelência da ginecologia do Hospital Regional Rosa Pedrossian U m hospital do Mato Grosso do Sul passa atualmente por um importante processo de modernização e adaptação. Uma reforma financiada pelo governo estadual prepara o Hospital Regional Rosa Pedrossian para ser referência obrigatória nas áreas de gestação de alto risco, UTI neonatal e cirurgia ginecológica. Aliás, a excelência da instituição é reconhecida faz tempo. Tanto que já atende a mulheres de outros municípios e estados próximos. “Agora, o serviço quadruplicará as vagas de UTI neonatal. É uma prioridade, pois atendemos pacientes em estado grave que precisam de suporte de qualidade”, argumenta Eliana Patrícia S. Maldonado Pires, responsável pelo Serviço de Ginecologia do Hospital. Ainda de acordo com Eliana, são realizados em torno de 200 partos por mês, dos quais cerca de 50% correspondem a cesarianas. Por ser uma instituição direcionada à assistência de alto risco, recebe doentes em situação grave, como portadoras de diabetes descompensada, lúpus, doença de Chagas, hepatite C, soropositivos para HIV, etc. 14 Jornal da FEBRASGO – Maio 2009 “Apesar das inúmeras intercorrências graves, o índice de partos normais tem aumentado consideravelmente nos últimos dois meses, após a instituição de novos protocolos sugeridos pela Unifesp. Em abril, tivemos 60% e o intuito é que este percentual cresça”, afirma Eliana. Um relevante diferencial é a disponibilidade de cirurgia videolaparoscópica, que possibilita a utilização de equipamentos modernos por vias laparoscópicas para procedimentos ginecológicos de pequeno e grande porte, como a remoção de cistos do ovário e miomas uterinos, entre outros. “Somos o único hospital público do estado que tem esse equipamento funcionando. É uma técnica menos invasiva, que proporciona uma recuperação mais rápida.” O Serviço de Ginecologia pretende também ser referência para o atendimento primário a vítimas de violência sexual. Segundo Eliana, o projeto já foi aceito pelo hospital e apenas falta completar a equipe multidisciplinar. “Já somos uma referência na região, mas agora trabalhamos em um cronograma para implementação desse projeto”, explica Eliana Pires. Equipe e Residência Médica No Hospital Regional Rosa Pedrossian, o ambulatório presta atendimentos de patologia cervical, gestação de alto risco, ginecologia geral, mastologia e prénatal. Recebe em média 80 pacientes por semana. A equipe médica conta com 16 profissionais, divididos entre plantão, ambulatório e visitas às enfermarias. A residência é coordenada por Maurício Paniago e terá sua primeira turma formada no final deste ano. Seis preceptores trabalham com oito residentes. “É uma residência que iniciou suas atividades recentemente, mas que já compete com outras renomadas. Os preceptores são bastante comprometidos com o Programa de Residência Médica, observando os protocolos instituídos pela FEBRASGO. Em relação aos estudantes, a maioria vem de fora, como do Rio Grande do Sul e de São Paulo.” à homenagem ADEUS AO AMIGO Colega de trabalho por mais de 30 anos, Marilza Vieira Cunha Rudge lembra as virtudes do saudoso Laurival Antonio de Luca A morte do professor Laurival Antonio de Luca significou uma grande perda para a nossa especialidade. Convivi com ele no Departamento de Ginecologia e Obstetrícia (DGO) da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB) por mais de 30 anos, admirando sua visão de mestre e idealizador. Sua passagem por este mundo foi marcante. Foi assistente na Ginecologia do professor Octaviano Alves de Lima, em sua querida Escola Paulista de Medicina (EPM), e frequentou com assiduidade as reuniões de estudo na casa do professor Deláscio. Movido por um sonho, abandonou a docência na EPM, em 1970, para criar a Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu (FCMBB), hoje Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP. Trazia em seu currículo um pós-doc na Universidade de Maryland, em Baltimore, nos Estados Unidos, algo pouco comum entre os especialistas da área naquela época. Menos de dois anos após sua contratação defendeu duas teses de livre-docência: uma em Ginecologia na FCMBB (1971) e outra em Obstetrícia na EPM (1974). Poucos docentes da nossa especialidade são livre-docentes nas duas áreas. Levou consigo a vontade e a determinação de conceber um departamento sólido, vigoroso e competitivo. Implantou a graduação em ginecologia e obstetrícia, o internato no quinto e sexto anos e a residência médica em GO de três anos. Participou da instalação das enfermarias de Ginecologia e de Obstetrícia e do Centro Obstétrico; criou o Laboratório de Pesquisa em GO e elaborou a proposta de criação do Programa de Pós-Graduação em GO, em 1995. Também adicionou a mastologia como área no DGO e criou o Centro de Avaliação em Mastologia, em 1997. Nos últimos anos de sua vida profissional, passou a atuar na mastologia, incorporada em sua pós-graduação após fazer, em 1986, seu segundo pós-doc em Milão, Itá- 2009 lia, como investigador sênior com bolsa do CNPq. Com essa atitude, nos ensinou que a melhor forma de entrar em uma nova subárea é adquirir competência. Participou ativamente da formação acadêmica e profissional dos docentes do DGO. Foi co-orientador da minha tese de doutorado e obrigou-me a largar a linha de pesquisa de Ginecologia Infanto-puberal, o que na época muito me aborreceu, e assumir a Obstetrícia. Obrigada Lauri, por sua visão, o meu caminho não era aquele! Ensinou a cada um de nós a ministrar aulas com didática, a se atualizar no uso dos métodos de divulgação, a redigir artigo científico, a manter o conhecimento atualizado, a se apresentar em público. Professor Emérito da FMB/Unesp, em 1993, permaneceu no DGO por mais 10 anos após sua aposentadoria. Em 2005, a enfermaria de Ginecologia do HC-FMB passou a se chamar Laurival Antonio de Luca, homenagem mais que merecida. Enfim, plantou várias árvores. Mas quem conviveu com Lauri sabe que era controverso, irriquieto, teimoso, rude, doce, com ideias brilhantes e arrojadas, mas muitas vezes de difícil relacionamento. Acreditou e desacreditou em Deus: esse era o Lauri: uma mente em constante ebulição. Tinha mania das cartas confidenciais para dizer o que pensava e sentia. Trocamos muitas correspondências duras, mas na última que me enviou, ao se despedir, foi doce: “Olhe pela minha filha no DGO como se fosse sua filha”. Foi pai devotado, marido querido, avô que curtia os netos, sogro atento, sempre cuidadoso com os pais e irmã, amigo pronto, palmeirense fervoroso, motoqueiro, tenista, escritor e membro da Academia Botucatuense de Letras. Teve total lucidez da sua doença e sentia o tumor crescer, a ascite aumentar e se preocupava com a chegada do coma hepático. Teve suporte muito grande da família e se orgulhou disso. Muitos amigos o visitaram, o que lhe deu muito prazer. Alguns não conseguiram desculpá-lo e, sem vê-lo, perderam a oportunidade de ouvir um pedido de perdão. Eu ouvi. Em seus dias finais ele entendeu a importância do perdão como uma forma maravilhosa de demonstrar amor. Nos últimos meses da sua vida resgatamos o respeito e o carinho. Uniunos o cumprimento da minha maior missão, como Ministra da Eucaristia, de lhe levar a Eucaristia. Em sua derradeira semana entre nós, viajei para Washington, Estados Unidos, para o Congresso de Hipertensão e Gravidez. Apenas me disse: “Vou esperar você voltar”. Mas não esperou. Ainda sem saber da morte do Lauri, naquele dia todo o grupo do DGO/Botucatu que estava em Washington se encontrou casualmente no Arlington Cemetery, onde está o túmulo do presidente Kennedy. Sempre atenta às coincidências que Carl Jung chama de sincronicidade, acho que estamos, meu caro Lauri, ligados para sempre: não vou esquecê-lo. Beijo suas mãos, Lauri, que trouxeram meus filhos ao mundo. Que Deus o receba na sua Glória, lhe perdoe os erros e o recompense pelo amor ao próximo que sempre demonstrou. Vá à em paz, meu amigo... Marilza Vieira Cunha Rudge, Professora Titular de Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Botucatu-UNESP Jornal da FEBRASGO – Maio 2009 15