Jornal da
FEBRASGO
Ano 16 – edição 104 – Maio 2009
Publicação da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia
SUS
Exames de mama
e colo de útero: nova
lei gera polêmica
Urgente
Anticoncepcionais orais
para mulheres jovens:
a posição da Febrasgo
530 CBGO
Abertas as inscrições
para envio de
trabalhos científicos
Síf ilis congênita: um grave problema de saúde pública
editorial
Notícias boas e
velhos dilemas
Febrasgo – Federação
Brasileira das Associações
de Ginecologia e Obstetrícia
www.febrasgo.org.br
[email protected]
(11) 5573-4919
Presidente:
Nilson Roberto de Melo
Secretário executivo
Francisco Eduardo Prota
Secretária executiva adjunta
Vera Lúcia Mota da Fonseca
Tesoureiro
Ricardo José de Oliveira e Silva
Tesoureira adjunta
Mariângela Badalotti
Vice-presidente da Região Norte
Pedro Celeste Noleto e Silva
Vice-presidente da Região Nordeste
Francisco Edson de Lucena Feitosa
Vice-presidente da Região Centro-Oeste
Hitomi Miura Nakagava
Vice-presidente da Região Sudeste
Cláudia Navarro Duarte Lemos
Vice-presidente da Região Sul
Almir Antonio Urbanetz
Assessor da Presidência
Etelvino de Souza Trindade
Jornal da Febrasgo
Editor: Nicolau D’Amico Filho
Jornalista responsável: Chico Damaso
– MTB: 17.358/SP - Redação: acontece@
acontecenoticias.com.br - Impressão:
Zeppelini Editorial - zeppelini@zeppelini.
com.br - Tel.: (11) 2978-6686
ÍndIce
Polêmica sobre Lei da Mamografia.............3
Anticoncepcionais orais e
câncer de mama............................................4
U
ma boa notícia desta edição do Jornal da FEBRASGO é a nossa recondução ao Conselho Deliberativo da
Associação Médica Brasileira por mais
dois anos. Recentemente a FEBRASGO
foi eleita, ao lado de 13 outras especialidades, para representar as demais 56
sociedades filiadas à AMB, defendendo
seus interesses no Conselho Científico.
Trazemos também nova reportagem
sobre o 53º Congresso Brasileiro de Ginecologia – CBGO, desta vez destacando
o regulamento e os prazos para submissão de trabalhos científicos. Este, aliás, é
um privilegiado canal para quem tem um
importante estudo a ser divulgado e a todos os congressistas interessados em se
manter por dentro das novidades da área.
Outras questões relevantes tratadas
neste número dizem respeito à constante
ação da FEBRASGO para oferecer medicina de qualidade às nossas pacientes e
um ambiente mais seguro e digno para a
prática médica. Colocamos em discussão
‘‘
A nova lei
sobre prevenção ao
câncer de mama é
Gestação e transtornos mentais..............6
mais uma tentativa
53º CBGO: Inscrições para
trabalhos científicos.....................................7
de melhorar a triste
Direto da fonte...............................................8
estatística de cerca de
Sífilis congênita..............................................9
Pílula do Dia Seguinte............................... 11
Federadas: SOGOES................................... 12
Coluna da AMB............................................ 13
Giro pelos Estados: MS............................. 14
Homenagem........................................ 15
fórum do associado
35% de mulheres com
mais de 50 anos que
nunca realizaram uma
’’
mamografia
a real eficácia da lei que garante a efetivação das ações de prevenção, detecção
e tratamento dos cânceres de colo do
útero e de mama. Vista com otimismo,
mas também com ressalva, é mais uma
tentativa de melhorar a triste estatística
de cerca de 35% de mulheres com mais
de 50 anos que nunca realizaram uma
mamografia. Mas necessita de financiamento adequado para vingar.
A reunião da Comissão do Parto
Normal do Conselho Federal de Medicina para debater o funcionamento das Casas de Parto é mais um tema que merece
sua especial atenção. Hoje, no país, já são
11 os estabelecimentos, sendo cinco isolados, oferecendo partos sem assistência
adequada, supervisão médica ou preparo
suficiente para atuar satisfatoriamente em
caso de emergência médica. Temos de nos
posicionar firmemente neste caso.
Por fim, abordamos a triste realidade
de o Brasil conviver com um grave problema de saúde pública, a sífilis, mesmo após
meio século da descoberta do tratamento.
Conclamo aos colegas a, juntos, lutarmos
pela redução das atuais 50 mil gestantes
infectadas e 12 mil notificações anuais.
Nilson Roberto de Melo - Presidente
O Jornal da Febrasgo mantém um espaço para interlocução permanente com os leitores: o Fórum do Associado. Ficaremos muito
honrados em tê-lo como colaborador. Ajudar a enriquecer nossa publicação é importante e simples: basta enviar suas impressões
e sugestões para o e-mail [email protected] ou por carta para a rua Cotoxó, 303, conjunto 82, Perdizes, São Paulo,
SP, CEP 05021-000, aos cuidados da Comunicação. Desde já, agradecemos o seu apoio.
Jornal da FEBRASGO – Maio 2009
mama e de colo uterino pelo SUS
Teoricamente, a nova legislação assegura
a efetivação das ações de prevenção,
detecção e cuidados. Mas não há verbas
suficientes alocadas, segundo especialistas
E
stá em vigor desde 29 de abril de
2009 a Lei Federal 11.664, que,
ao menos teoricamente, garante
a efetivação das ações de prevenção,
detecção e tratamento dos cânceres
de colo do útero e de mama estabelecidas pela Política Nacional de
Atenção Oncológica e pelo Programa Nacional de controle da doença.
A partir de agora, portanto, todas as mulheres com mais de 40
anos de idade têm o direito de fazer mamografia gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Além da
mamografia, a lei prevê a realização
de exame citopatológico de colo
uterino a todas aquelas que já te-
nham iniciado sua vida sexual, independentemente da idade.
Mesmo vista com otimismo no
meio médico, há ressalvas quanto
à capacidade de realização destes
exames com os recursos pré-estabelecidos na legislação. “Embora tenhamos mamógrafos em quantidade
suficiente para atender à demanda
do país, o custeio para os exames é
insuficiente. Essa falta de recursos
impossibilita a utilização da capacidade plena dos aparelhos”, argumenta José Luiz Gomes do Amaral,
presidente da Associação Médica
Brasileira. “O Ministério da Saúde
anunciou a liberação de R$ 85 mi-
Brasília urgente
Dúvidas sobre a ef icácia da lei que garante
diagnóstico e tratamento dos cânceres de
lhões para mamografias nos próximos três anos. Mas para que todas
as mulheres de 40 a 70 anos realizem
o exame são necessários R$ 675 milhões. É um dinheiro que ultrapassa em muito o disponibilizado para
materializar a lei.”
Segundo um estudo encomendado pela Federação Brasileira de
Instituições Filantrópicas de Apoio
à Saúde da Mama (Femama) ao Datafolha no fim de 2008, no Brasil,
35% das mulheres acima de 50 anos
nunca realizaram uma mamografia.
“A justificativa delas é a de que não
sentem nada ou ainda alegam dificuldade de marcar o exame”, comenta a
presidente da Femama, Maira Caleffi,
coordenadora do núcleo mama do
Hospital Moinhos de Vento (RS).
Maira Caleffi, no entanto, considera que já é um bom começo garantir o rastreamento mamográfico anual pelo menos em mulheres
de 50 a 69 anos. Mas salienta que é
necessário buscar respostas quanto à situação atual para a faixa dos
40 a 49 anos, em que a mortalidade
por doença em estágio avançado
vem aumentando.
rastreamento e câncer de mama
“O câncer de mama é um problema de saúde básico, que começa
com o treinamento da enfermeira e
do médico comunitário, envolve o
ginecologista e precisa ter a garantia
de que os prestadores de serviços do
SUS farão o mais rápido possível, e
com qualidade, tanto os exames por
imagem como biópsia e tratamento.”
Segundo o Instituto Nacional de
Câncer (INCA), o câncer de mama
Jornal da FEBRASGO – Maio 2009
Brasília urgente
‘‘
O câncer de mama é
um problema de saúde
básico, que começa
com o treinamento da
enfermeira e do médico
comunitário para um
’’
bom atendimento
Maira Caleffi
é o segundo tipo mais frequente no
mundo e o mais comum entre as
mulheres. A cada ano, cerca de 22%
dos novos casos de câncer em mulheres são os de mama.
Serão cerca de 50 mil novos casos no Brasil em 2009, com risco
estimado de 50,71 ocorrências para
cada 100 mil mulheres. Os dados
mais recentes de mortalidade, de
2006, indicam 10.950 óbitos decorrentes da doença naquele ano.
Considerado um câncer de relativo
bom prognóstico, as taxas de mortalidade por câncer de mama continuam
elevadas no Brasil, muito provavelmente porque o diagnóstico é comumente feito já em estágio avançado.
Em se tratando de câncer de colo
de útero, são aproximadamente 500
mil casos novos por ano no mundo,
fazendo da doença o segundo tipo de
‘‘
Para que todas as
mulheres realizem o
exame são necessários
R$ 675 milhões.
É um dinheiro que
ultrapassa em muito
’’
o disponibilizado
José Luiz Gomes do Amaral
Jornal da FEBRASGO – Maio 2009
câncer mais comum entre as mulheres. Leva a óbito aproximadamente
230 mil mulheres anualmente.
Estima-se que cerca de 80% da
mortalidade por esse mal possa ser evitada por meio de rastreamento de mulheres na faixa etária de 25 a 65 anos e
tratamento das lesões precursoras com
alto potencial de malignidade.
Mamografia em números
Há no Brasil 25 milhões de mulheres na faixa etária entre 40 a 70
anos (Censo IBGE 2000) e 3.659
mamógrafos em uso (CNEs). O
Ministério da Saúde anunciou a
verba de R$ 85 milhões destinada
à realização de mamografia nos
próximos três anos. Sendo R$ 45 o
valor pago por mamografia, seriam
necessários R$ 675 milhões para o
Ã
exame em todas as mulheres.
Anticoncep
orais e cân
posição da
R
ecentemente publicada no jornal O
Estado de S.Paulo, a reportagem Médicos são Contra Pílula Anticoncepcional
Antes dos 18 motivou uma nota oficial
da FEBRASGO. O objetivo foi alertar
a população e profissionais de medicina
sobre a correta recomendação da Federação para esse caso específico.
Segundo o comunicado, mais de 1
milhão de mulheres por ano se envolvem
em situação de abortamento inseguro no
Brasil. São ocasiões em que as complicações podem ser graves, tais como hemorragias, infecções, perfuração uterina,
esterilidade e até a morte.
O aborto inseguro, é imperativo
ressaltar, configura-se como uma das
principais causas evitáveis de morte
materna. É um dos responsáveis pelos
altos índices apresentados no país: 64
mortes por 100 mil nascidos vivos. “O
principal meio de reverter esta realidade é a redução das gestações não desejadas”, afirma Nilson Roberto de Melo,
presidente da FEBRASGO.
Hoje, em nosso país, a fecundidade
de mulheres entre 15 e 19 anos representa 23% da taxa total. Cerca de 33% das
meninas com até 15 anos já tiveram relações sexuais. “Não é possível descartar
nenhum método anticoncepcional, ainda que outros, como a camisinha, sejam
mais indicados por inúmeras razões, uma
delas a prevenção às doenças sexualmente transmissíveis”, pondera Nilson.
Conforme a Pesquisa Nacional de
Demografia e Saúde da Criança e da Mulher, das jovens sexualmente ativas, entre 15 e 19 anos, 66% já usaram algum
método contraceptivo. Mais de um terço,
27%, optou pela pílula.
POLÊMICA
pcionais
ncer: a
FEBRASGO
“Sem a opção do anticoncepcional
oral, é impossível dizer se estas jovens
teriam utilizado outro método, ou se estariam, hoje, somadas às estatísticas de
gestações indesejadas, abortos inseguros
ou de mortalidade materna”, conclui o
presidente da FEBRASGO.
Apoio da mastologia
A posição da FEBRASGO teve o
pronto apoio da Sociedade Brasileira de
Mastologia. Existe concordância de que
até o momento não há dados consistentes sobre os riscos do uso prolongado da
pílula anticoncepcional.
De acordo com Marcelino E. H. Poli,
presidente da Comissão Nacional de Anticoncepção da FEBRASGO, a promoção da anticoncepção entre adolescentes
é uma obrigação de saúde pública. Ele
frisa, aliás, que, por todos os benefícios
advindos do uso dos contraceptivos
orais, deve ser incentivada e patrocinada
pelos responsáveis pela saúde pública.
“Vivemos uma época de verdadeira
explosão sexual, em que a precocidade do
A polêmica começou após uma
reportagem de O Estado de S.Paulo
relacionamento sexual é incentivada por
todos os meios, o erotismo é exagerado e
a gravidez na adolescência uma epidemia,
com consequências muito sérias.”
Anticoncepção na adolescência
O problema da anticoncepção na
adolescência é delicado, pois envolve
um ser biologicamente adulto, com
capacidade procriativa, mas emocionalmente imaturo.
“Na adolescência, os contraceptivos
orais combinados gozam de vantagem
sobre os demais métodos, tornando-os
preferenciais especialmente por proporcionarem benefícios extracontraceptivos,
que devem ser enfatizados, facilitando a
escolha”, argumenta Poli.
Entre os benefícios, ele destaca a diminuição do risco de cistos funcionais; regulação do ciclo menstrual, possibilitando a
previsibilidade das menstruações; redução
da duração e do volume do fluxo menstrual, bem como da dismenorréia; e proteção
contra doença inflamatória pélvica.
Contraindicações
A despeito de todos os benefícios
para a grande maioria dos casos, há exceções em que a pílula anticoncepcional
‘‘
não é indicada. Mas essa é uma constatação que deve ser verificada individualmente pelo médico. Por isso, o uso de
anticoncepcionais, assim como acontece
com qualquer medicamento, só deve ser
feito sob prescrição e orientação de profissionais de medicina.
De acordo com o presidente da
Sociedade Brasileira de Mastologia,
Carlos Ricardo Chagas, as contraindicações não estão relacionadas aos
estudos sobre o uso da pílula e a incidência de câncer.
“Embora algumas pesquisas mostrem uma probabilidade maior na incidência – a maioria baseadas em doses e
substâncias antigas – o risco encontrado
ainda é muito pequeno. Ou seja, a pílula
continua fazendo mais bem do que mal
para as mulheres”, defende.
O especialista lembra que os trabalhos mais recentes, que incluem novas
formulações, com doses mais baixas, não
têm observado aumento de risco.
“A pílula é um método seguro, conveniente e bem tolerado em um alto número
de pacientes. Com a grande variedade de
formulações disponíveis atualmente, pode
ser feita uma escolha individualizada para
Ã
cada paciente”, conclui Chagas.
Sem a opção do anticoncepcional oral, é
impossível dizer se estas jovens teriam utilizado
outro método, ou se estariam, hoje, somadas às
estatísticas de gestações indesejadas, abortos
Marcelino E. H. Poli
’’
inseguros ou de mortalidade materna
Jornal da FEBRASGO – Maio 2009
MULTIDISCIPLINAR
Gestação e transtornos mentais:
com a palavra, o psiquiatra
A
gestação é fator de risco para a recaída de uma condição psiquiátrica préexistente ou para o início de um novo
transtorno mental. Prova disso é a alta prevalência de transtornos de ansiedade e de
humor em gestantes. Segundo Joel Rennó
Júnior, diretor do Programa de Atenção à
Saúde Mental da Mulher (ProMulher) do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, um dos motivos que favorece tais recaídas é o aconselhamento, por
parte de alguns obstetras, de descontinuar o
uso de psicotrópicos antes da concepção.
“Mulheres com depressão crônica, mantidas com antidepressivo mas aconselhadas a
descontinuá-los durante a gravidez têm chance de recaída elevada, em torno de 75%.”
Dependendo do diagnóstico psiquiátrico
e do nível de gravidade dos sintomas, a falta
de tratamento específico ou o abandono da
medicação na gestação pode prejudicar o desenvolvimento do feto.
“Além de menor aderência ao pré-natal, essas mulheres podem tender a se alimentar de forma inadequada e apresentam
maior risco para algumas doenças clínicas,
como o diabetes gestacional. Uma pesquisa da Universidade Harvard, publicada no
JAMA em março de 2009, aponta que o
diabetes gestacional aumenta em duas vezes o risco de depressão pós-parto.”
Os transtornos de ansiedade e depressão
na gestação, explica o psiquiatra Rennó Júnior, estão entre os principais fatores de risco
para depressão pós-parto, enquanto a ansiedade crônica não tratada na gestação pode
levar a parto prematuro, baixo peso ao nascer
e até ao abortamento espontâneo.
A falta de tratamento adequado da mãe,
após o parto, também é prejudicial ao desenvolvimento dos filhos.
“Mulheres com depressão pós-parto
não tratadas adequadamente podem levar
a prejuízos do desenvolvimento cognitivo
e de linguagem após o nascimento. Muitas crianças com transtornos depressivos
têm esse histórico. Psicoses no pós-parto
com alterações de juízo e crítica, delírios
e alucinações favorecem a autoagressividade, suicídio e infanticídio.”
De acordo com Rennó Júnior, investi-
Jornal da FEBRASGO – Maio 2009
a importância de um trabalho em conjunto com o psiquiatra especializado em saúde
mental da mulher, a fim de que não haja subdiagnóstico ou diagnósticos excessivos.”
Tratamento
gar o início e o curso de doença psiquiátrica materna na gestação tem de ser uma
prioridade de todo obstetra. “O tratamento farmacológico de tais pacientes requer
ampla discussão, em conjunto com o psiquiatra, dos riscos e benefícios de quaisquer psicotrópicos utilizados.”
Diagnóstico
Um grande estudo de coorte, desenvolvido por Evans e cols, em 2001, com
14.000 mulheres, sugere que a depressão
pode ser até mais comum na gestação do
que no pós-parto. “Cerca de um terço tem
o primeiro episódio depressivo na gestação, apesar de sabermos que a história
pessoal de doença afetiva aumenta o risco
de depressão gestacional. Entre os fatores
de risco, destaco a insatisfação pessoal, suporte psicossocial inadequado, eventos de
vida adversos, baixo status socioeconômico e gravidez indesejada.”
O especialista frisa que muitos sinais
e sintomas neurovegetativos durante a
gravidez, que ocorrem em mulheres não
deprimidas, podem ser confundidos com
sintomas depressivos característicos, como
distúrbios do sono e apetite, diminuição
da libido e baixa energia.
“Na gravidez, casos de anemia, diabetes
gestacional e disfunção tireoidiana podem
ser associados a sintomas depressivos. Aspectos clínicos que podem dar suporte ao
diagnóstico de depressão na gestação incluem anedonia, sentimentos de culpa e
desesperança e pensamentos suicidas. Daí
Os tratamentos dependem do diagnóstico específico, da gravidade dos sintomas, do histórico pessoal de transtorno
mental e do curso da doença, explica Rennó Júnior. “Geralmente, há três períodos:
fase aguda, até melhora total dos sintomas
psíquicos; fase de continuação, para evitar
recaída, que tem média de 4 a 9 meses; e
fase de manutenção, para prevenir novo
episódio, que dura ao menos um ano.”
O psiquiatra é o melhor profissional
para elaborar um tratamento individualizado, com avaliação apurada de todos os riscos
e benefícios. Rennó Júnior comenta que a
depressão unipolar, a mais comum, é tratada
com antidepressivos. A bipolar requer estabilizadores de humor e não são recomendados antidepressivos, pois podem até piorar
o curso e provocar uma virada para o polo
ou fase de mania. Transtornos de ansiedade,
por sua vez, devem ser tratados, prioritariamente, com antidepressivos, enquanto os
quadros de psicose com antipsicóticos.
Riscos
Todo médico deve estar ciente de que
não existe medicamento psicotrópico sem
riscos. É possível, no entanto, basear-se em
evidências científicas e experiência clínica
para avaliação adequada. “O trabalho interdisciplinar é importante. Já recebi pacientes
de obstetras bem abertos a tais questões.
Infelizmente, contudo, há profissionais radicais que contraindicam antidepressivos e
outros psicotrópicos em qualquer gestação,
sem avaliar, à luz da ciência, todos os fatores envolvidos. Involuntariamente, isso
pode causar sérios prejuízos à mulher e ao
bebê. Extremismos e irredutibilidade deÃ
vem ser evitados a todo custo.”
Joel Rennó Júnior, diretor do Programa de Atenção à
Saúde Mental da Mulher (ProMulher) do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, é
autor do livro Mentes Femininas, da Ediouro.
Abertas as inscrições para
envio de trabalhos científ icos
A
FEBRASGO já está recebendo
trabalhos científicos sob a forma
de pôsteres para apresentação no
530 Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia por meio do site www.
febrasgo.org.br/53cbgo. As inscrições se
encerram em 10 de agosto.
São aceitas criações originais ou já
aprovadas para veiculação em qualquer
periódico. Estão liberados apenas os casos de publicação de notas prévias, com
resultados parciais de pesquisa, desde
que estes resumos não tenham sido apresentados em congressos de ginecologia e
obstetrícia anteriores.
Os trabalhos, em língua portuguesa,
serão classificados em uma das mais de 20
áreas disponíveis, tais como medicina fetal, climatério, anticoncepção ou mastologia, e serão analisados por uma comissão
específica. Cada autor poderá inscrever
no máximo cinco obras, sendo que nenhuma pode ultrapassar o limite de cinco
coautores. Um desses participantes precisa possuir TEGO ou título de especialista
relacionado ao tema a ser apresentado,
devendo estar inscrito no congresso até a
o
data do envio dos trabalhos. A participação como coautor é ilimitada.
O regulamento completo está disponível no portal da FEBRASGO. Em caso
de dificuldades ou dúvidas, entre em contato pelo e-mail [email protected].
br ou pelo telefone: (31) 3261-3873.
Julgamento
Os autores serão informados até
30 de setembro da decisão da Comissão de Temas Livres quanto à aceitação ou não do trabalho. Todas as produções aprovadas serão publicadas
O QUE VEM POR AÍ
530 CBGO
nos anais do congresso. Os melhores
temas livres em ginecologia e em obstetrícia serão premiados. Também serão destacados com menções honrosas outros dois de cada área.
530 CBGO
O 530 Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia será realizado de 14
a 17 de novembro de 2009, no moderno
Expominas Belo Horizonte. Serão 15
mil metros quadrados de auditórios com
capacidade para até 1.300 pessoas; salas
para aulas práticas; e uma ampla área
para a feira de exposição.
A escolha de Minas Gerais como
a sede deste ano é muito oportuna. A
FEBRASGO nasceu justamente na capital, Belo Horizonte, há cinquenta anos.
Aliás, é a primeira vez que o maior evento da GO do país acontece por lá.
A expectativa da FEBRASGO
é manter o ritmo de crescimento de
seus congressos nacionais, superando
a marca dos quase 7.800 participantes
do anterior, que aconteceu em 2007,
Ã
em Fortaleza, Ceará.
A Comissão Organizadora do
530 CBGO, presidida pelo médico João
Pedro Junqueira Caetano, se reuniu
com o vice-governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia, na quarta-feira,
6 de maio, para apresentar e mostrar a
importância do evento que trará para
a capital mineira pela primeira vez. A
expectativa da organização do evento é
receber mais de 8 mil profissionais – entre ginecologistas, obstetras, estudantes,
representantes da indústria farmacêutica e de órgãos de classe - de diversas
regiões brasileiras e do exterior.
Gustavo Roscoe
VICE-GOVERNADOR DE MG SE REÚNE COM COMISSÃO DO CBGO
Da esquerda para a direita, Fátima Cabral, diretora de negócios da Suporte
Eventos; João Henrique Penna Reis, integrante da diretoria do 53º CBGO; João
Pedro Junqueira Caetano, presidente do 53º CBGO; Roberto Porto da Fonseca,
diretor da Oncomed; e Antônio Anastasia, vice-governador de Minas Gerais
Jornal da FEBRASGO – Maio 2009
Direto da fonte
Comissão do Parto Normal G.O. integra o Conselho
O trabalho do grupo frente ao
permanente aumento de cesáreas
nos hospitais privados
A Comissão de Parto Normal do Conselho Federal de Medicina tem se reunido periodicamente para discutir diversos assuntos relacionados não apenas ao parto normal, mas também à assistência à mulher durante a gravidez e puerpério. Os encontros
buscam soluções para o permanente aumento de cesáreas na
rede privada, que hoje ultrapassam 80%, afirma Lucila Nagata,
uma das representantes da FEBRASGO na Comissão.
No último encontro do grupo, em 14 de maio, participaram,
além de Lucila, Helvio Bertolozzi Soares, também representando a FEBRASGO; José Luis Telles, diretor do Departamento
de Ações Programáticas Estratégicas (DAPE), do Ministério da
Saúde; Lena Peres, coordenadora da Área Técnica de Saúde
da Mulher do Ministério da Saúde; José Fernando Vinagre e
Aloísio Tibiriçá, do CFM; Krikor Boyaciyan, representando a Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo
(SOGESP) e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São
Paulo (CREMESP); Vera Fonseca, da Sociedade de Ginecologia e
Obstetrícia do Rio de Janeiro (SGORJ) e do Conselho Regional
de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (CREMERJ); e Paulo
Nader, da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Entre os temas abordados, a qualificação da assistência ao
parto e a necessidade do parto seguro. Além da reunião, na sede
do CFM, em Brasília, o grupo esteve no Ministério da Saúde para
tratar da modificação da Portaria nº 985, que cria o Centro de
Parto Normal no âmbito do SUS, e reuniu-se com Maria Ângela
da Paz, representante da Anvisa, sobre a revisão da RDC nº 36,
de 2008, que dispõe sobre regulamento técnico para funcionamento dos serviços de atenção obstétrica e neonatal.
Ainda neste encontro, explica Lucila, a Comissão iniciou a elaboração de um projeto de metas a médio e longo prazos, com
foco na redução do índice de cesáreas na instituição privada.
febrasgo_210x90.pdf 5/8/aaaa 12:00:51
Deliberativo da AMB
por mais dois anos
Em 19 de março, a Federação Brasileira das Associações
de Ginecologia e Obstetrícia foi eleita novamente para integrar o Conselho Deliberativo da Associação Médica Brasileira (AMB). Assim, ao lado de 13 outras sociedades de especialidades, volta a integrar o Conselho Científico da AMB.
As sociedades de especialidades eleitas na ocasião
serão representadas no Conselho Deliberativo por seus
respectivos presidentes em um mandato de dois anos.
Na FEBRASGO, portanto, o cargo será exercido por
Nilson Roberto de Melo, tendo como substituto Almir
Antonio Urbanetz.
As 14 sociedades de especialidade eleitas terão a responsabilidade de representar as outras 56 instituições filiadas à AMB, defendendo seus interesses no Conselho Científico. São 7 vagas para as especialidades cirúrgicas, 5 para
as clínicas e 2 para a área de diagnóstico.
Estarão ao lado da FEBRASGO as Sociedades de
Anestesiologia, Cardiologia, Cirurgia Geral, Clínica Médica, Coloproctologia, Infectologia, Ortopedia e Traumatologia, Otorrinolaringologia, Oftalmologia, Patologia Clínica,
Patologia, Pediatria e Reumatologia.
Segundo o diretor científico da AMB e ex-presidente da
FEBRASGO, Edmund Chada Baracat, é muito importante
que os eleitos participem ativamente das reuniões do deliberativo, que é o conselho mais importante da AMB.
Aliás, vale o registro de que o Conselho Deliberativo
da AMB reúne-se a cada seis meses e é formado pelo presidente da AMB, secretário da AMB, presidentes de federadas, um representante indicado pelo Conselho Federal de
Medicina e pelos membros do Conselho Científico.
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Cartões de Crédito:
Jornal da FEBRASGO – Maio 2009
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International
H ipe r ard
®
A u ra
Cheques:
Temos cerca de 50 mil gestantes infectadas
e 12 mil casos notif icados ao ano
E
m 1905, os microbiologistas alemães
Fritz Richard Schaudinn e Paul Erich Hoffmann descreveram o Treponema pallidum como o agente causador
da sífilis. No ano seguinte, outro bacteriologista alemão, August Paul von Wassermann, desenvolveu a primeira sorologia para sífilis ou sorologia para Lues.
Mais de um século se passou. De lá
para cá, a medicina evoluiu e, com ela,
o tratamento da sífilis, que é uma realidade há mais de 60 anos. Ainda assim, a
doença representa um sério problema de
saúde pública em todo o mundo, especialmente nos países subdesenvolvidos
ou em desenvolvimento.
A sífilis é passível de transmissão vertical, além de determinante de graves sequelas e até mesmo de morte fetal e neonatal.
Hoje a situação é preocupante no Brasil, a
despeito de o agente causal ser conhecido
e do tratamento estar disponível para a população na rede pública. Temos cerca de 50
mil gestantes infectadas e 12 mil casos de
sífilis congênita notificados ao ano.
Na região Sudeste, segundo o Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (Sinan) do Ministério da
Saúde, concentram-se 51,2% dos casos
ocorridos entre 1998 e 2006, seguida
da Nordeste (27,9%), Centro-Oeste
(7,4%), Sul (6,7%) e Norte (6,80%).
“Infelizmente a sífilis não é discutida como deveria”, adverte Mauro Passos, presidente da comissão nacional
especializada em doença infecto-contagiosa da FEBRASGO e professor
associado chefe do Setor de DST da
Universidade Federal Fluminense.
A crítica procede. Pesquisa finalizada em 2008 pelo Programa Nacional
de DST/Aids revela dados assustadores.
Realizada em seis capitais brasileiras, traz
Mauro Passos
‘‘
Não podemos
esperar um prognóstico
“Não podemos esperar um prognóstico diferente em um país em que
apenas uma parte das gestantes vai ao
serviço público para o pré-natal. Ainda
assim, nem todas realizam os exames
solicitados, ou os fazem tarde demais,
diversas vezes dando à luz antes mesmo
de os resultados saírem.”
Esse quadro é a maior prova da necessidade de união de médicos, demais
profissionais da saúde, governantes e sociedade para enfrentar o problema da sífilis, especialmente porque a falta de tratamento adequado da doença recente na
gestação evolui, em 40% dos casos, para
sérios transtornos, como abortamento,
Ã
óbito fetal ou óbito neonatal.
Sífilis em números
• 54% das mães de crianças infectadas
em que apenas
têm entre 20 e 29 anos de idade, sendo que 75,8% fizeram pré-natal. Mais
da metade não havia tido o diagnóstico de sífilis até o momento do parto.
uma parte das
• Apenas 16,6% dos parceiros são trata-
diferente em um país
gestantes vai ao
serviço público para
’’
o pré-natal
a constatação de enorme incidência de
males facilmente preveníveis e tratáveis,
como a sífilis, em gestantes. Ao menos
42% das mulheres avaliadas tinham uma
ou mais doenças sexualmente transmissíveis. A sífilis esteve presente em 2,6%
delas, número muito superior ao 1% já
considerado preocupante para a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Passos observa que estes 2,6% são
uma média. Em algumas localidades os
índices são ainda mais alarmantes. É o
caso de Manaus, com 3,2%; Porto Alegre,
com 2,8%; ou Rio de Janeiro, com 4,4%.
SOCIEDADE
Síf ilis congênita: um grave
problema de saúde pública
dos, o que se reflete na manutenção das
altas taxas de incidência da doença fetal.
• De 1996 a 2005 foram notificados 1.009
óbitos por sífilis congênita, sendo 3,3%
na região Centro-Oeste; 8,8% na Norte;
10,2% Sul; 32,6% Nordeste e 45,1% na
Sudeste. Quantos terão sido os casos que
nem sequer foram diagnosticados?
• De 2000 a 2006, 28.569 crianças fo-
ram internadas para tratamento da
sífilis congênita, representando um
dispêndio de R$ 11,5 milhões somente em internação hospitalar. Qual será
o custo para acompanhamento, para
tratamento das sequelas orgânicas e
socioemocionais das famílias?
• Enquanto a porcentagem de trans-
missão vertical (TV) do HIV em gestantes sem qualquer tipo de acompanhamento não atinge 30%, a da sífilis
congênita é superior a 95%.
Jornal da FEBRASGO – Maio 2009
XIX Congresso Mundial
de
Ginecologia e Obstetrícia
XIX Congresso Mundial
de
Ginecologia e Obstetrícia
04 a 09 de Outubro / 2009
Cape Town - África do Sul
04 a 09 de Outubro / 2009
15-06-09
Cape
Town
- África do Sul
4X
MINAS GERAIS
BRASÍLIA
61 3321 2050
[email protected] [email protected] [email protected] [email protected]
MINAS GERAIS
BRASÍLIA
[email protected]
61 3321 2050
macsp@m
[email protected] [email protected] [email protected]
macsp@m
[email protected]
[email protected]
[email protected]
macsp@m
Algumas considerações importantes
sobre o contraceptivo de emergência
M
ais conhecido entre a população
como pílula do dia seguinte, o anticoncepcional de emergência (AE)
é hoje uma maneira de se evitar a gravidez
indesejada em situações isoladas e urgentes,
como o rompimento da camisinha durante
o ato sexual, o estupro ou uma relação desprotegida. Infelizmente, por falta de informação, muitas jovens vêm usando o medicamento continuamente, em substituição
aos anticoncepcionais orais regulares.
Em reportagem publicada recentemente
no jornal Folha de S.Paulo, um alerta importante é revelado por estudo em andamento na
Faculdade de Saúde Pública da USP. De 300
adolescentes paulistas ouvidas, entre 12 e 20
anos, e 60 profissionais da saúde, concluiuse que 8,3% dos profissionais entrevistados
acreditam que a pílula sirva como abortivo.
Segundo os coordenadores do estudo, muitos são contra porque desconhecem que ela não provoca aborto. Entre
as pacientes, apenas 13,36% sabiam que
o uso deve ser feito exclusivamente em
situações de emergência.
Há ainda grande quantidade de mulheres que, na impossibilidade de consultar
um ginecologista no prazo máximo de 72
horas para a ingestão da pílula, recorrem às
farmácias em busca do medicamento, seguindo as recomendações de balconistas.
Este estudo mostra a importância da
educação continuada de médicos e profissionais de saúde.
Indicações e contraindicações do AE
devem ser fornecidas permanentemente
por profissionais capacitados e por meio
de campanhas oficiais, tanto nos serviços
de saúde como nas escolas, disseminando a
informação correta a fim de evitar mau uso
e consequências indesejadas.
Antigamente preconizava-se que não ultrapassasse 72 horas. Mas hoje a Organização Mundial da Saúde avalia que possa
ser tomado até 5 dias, ou 120 horas, após
uma relação desprotegida.
É evidente que à medida que o tempo
passa, a eficácia diminui. Para ter uma ideia,
a eficiência é de 95% nas primeiras 24 horas.
Entre 25 e 48 horas é reduzida para 87%;
e entre de 48 h e 72 h para 58%. Passadas
72 horas e até 100 horas depois, a eficácia
cai para em torno de 30% a 35%. Ou seja,
quanto mais próximo da relação desprotegida, maior a eficiência. O ideal, apontam estudos mais atuais, é que seja ingerido o mais
precocemente possível, sem nenhuma postergação após a relação desprotegida em um
prazo de até 12 horas. Com este objetivo,
muitos países já aboliram a obrigatoriedade
da prescrição médica para se dispensar o AE
em situações especiais, onde não haja facilidade de uma consulta com um médico que
o prescreva, para não ocorrer adiamento do
acesso ao medicamento.
Apresentação
As embalagens atuais trazem um
único comprimido contendo 1,5 mg de
levonorgestrel. Pesquisas recentes mostram que a eficácia é melhor se a dose é
usada de uma única vez e não fracionada
em duas doses, com intervalo de 12 horas, como se fazia antigamente.
opinião
Pílula do dia seguinte
Efeitos colaterais
Em geral são baixos: 20% reclamam
de náuseas e 5% das usuárias relatam
vômitos, ambos contornáveis com tratamento. Quando ocorre o vômito dentro
das primeiras duas horas após tomar o
AE, recomenda-se repetir a dose ou usálo via vaginal, que tem boa eficácia.
Mecanismo de ação
O AE produz uma alteração na liberação do Hormônio Luteinizante – o LH,
provocando uma depressão em seu pico,
evidenciando que o principal efeito é o de
inibir ou bloquear a ovulação. Pode também causar uma disovulia, atrasando a liberação do óvulo e, portanto, não permitindo
o encontro dos gametas e a fecundação.
Também altera a motilidade tubárea e
o movimento ciliar nas tubas, retardando
a chegada do óvulo no terço proximal da
trompa onde normalmente se encontra
com os espermatozóides.
Há, ainda, uma modificação do muco
cervical e do processo de capacitação
espermática, diminuindo a capacidade
fecundante dos espermatozóides, entre
outras modificações.
Como não há evidências que comprovem que um óvulo já fecundado e
implantado no útero seja perturbado
pelo AE, este medicamento não é conÃ
siderado abortivo.
Cristião Fernando Rosas, presidente da Comissão Nacional de Violência Sexual e Interrupção da Gestação Prevista por Lei da Federação
Brasileira das Associações de Ginecologia e
Obstetrícia - FEBRASGO
Eficácia x tempo
Um ponto importante é a relação
da eficácia do AE e o tempo decorrido
entre a relação sexual e sua ingestão.
Jornal da FEBRASGO – Maio 2009
11
federadas
SOGOES: foco na atualização
científ ica e defesa prof issional
F
undada em junho de 1965, a Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Espírito Santo, a SOGOES,
começou a escrever sua história com
apenas 19 médicos. Hoje tem mais de
500 sócios e é um exemplo de força.
Realiza anualmente um congresso estadual e, bimestralmente, jornadas ou
simpósios que chegam a reunir mais de
300 especialistas. Também apoia eventos promovidos por hospitais, como a
Jornada da Santa Casa, entre outros.
Patologia cervical, mastologia, climatério e anticoncepção são os principais temas abordados nos encontros,
porém os direitos da profissão sempre
têm espaço garantido nas discussões.
“Além de manter a educação continuada, conseguimos aproximar a classe médica, discutir questões não só
de saúde, mas de defesa da categoria,
como a valorização profissional”, afirma a presidente da SOGOES, Neide
Aparecida Tosato Boldrini.
Na área de obstetrícia, por exemplo, já foram detectados problemas que
transformaram-se em reivindicações importantes, como os honorários, tanto dos
plantões quanto dos valores de parto.
“Nos debates, visamos a conscien-
Neide Aparecida Tosato
Boldrini, presidente
tizar o médico para a necessidade de
se levantar essas bandeiras. Tentamos
unir a categoria a fim de alcançar um
resultado mais positivo frente às discussões da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos
e a outras questões do tipo, inclusive
de cunho legal”, afirma Neide.
Os profissionais do interior também são preocupação da federada do
Espírito Santo, que promove educação
continuada não só na capital, Vitória,
mas por todo o estado. É o caso da
Jornada de Colatina, realizada uma vez
Ipas Brasil
http://www.ipas.org.br/pesquisas.html
O Ipas é uma organização não governamental internacional que trabalha
há três décadas pela redução de mortes e
danos físicos associados a abortamentos,
pelos direitos de natureza sexual e reprodutiva da mulher e por melhores
condições de acesso a serviços de saúde associados à reprodução, inclusive
ao aborto seguro. Recentemente, a organização apresentou os resultados
de uma pesquisa realizada em parceria com Instituto de Medicina Social da
UERJ intitulada Magnitude do Aborto no Brasil: Aspectos Epidemiológicos e Sócioculturais. Por meio dessas informações, o Ministério da Saúde
chegou à estimativa do número de abortos realizados no Brasil: cerca de
1.054.243, a maioria em condições de insegurança e com risco de sequelas
e mortes para as mulheres. No site, além dos resultados, estão disponíveis
documentos e artigos gerados a partir da pesquisa.
12
Jornal da FEBRASGO – Maio 2009
por ano, que atrai cerca de 100 médicos, além de estudantes.
A conscientização do público leigo
para os cuidados ginecológicos também faz parte das nossas metas. “No
Dia Internacional da Mulher fazemos
panfletos visando à prevenção de doenças. Esporadicamente somos convidados a dar conferências e palestras em
instituições voltadas ao público, o que
ajuda a promover maior entendimento
da população sobre as questões da giÃ
necologia.”
Diretoria 2008/2009
Presidente
Neide Aparecida Tosato Boldrini
Vice-presidente
Luiz Alberto Sobral Vieira Junior
Tesoureiro-geral
Coridon Franco da Costa
Tesoureiro adjunto
Henrique Zacharias Borges Filho
Secretário-geral
Ricardo Cristiano Leal da Rocha
Secretário adjunto
Márcio de Oliveira Almeida
Diretor científico
Fábio Leal Laignier Borges
530 CBGO
http://www.febrasgo.org.br/53cbgo/
Já está no ar o
site do Congresso
Brasileiro de Ginecologia de 2009,
previsto para 14 a
17 de novembro,
em Belo Horizonte.
No endereço eletrônico oficial do evento, além
da programação científica, informações sobre os
convidados internacionais, programação social,
pacotes de hospedagem, há ainda o regulamento
e acesso para submissão de trabalhos científicos.
Pelo site é possível também fazer a inscrição para
o evento com toda a comodidade e segurança.
A partir de 2009 o Título de Especialista em
Ginecologia e Obstetrícia – TEGO terá um novo
formato. As provas de 2009 serão realizadas somente
em Belo Horizonte, nos dias anteriores ao 530
Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia,
a se realizar de 14 a 17 de novembro de 2009. O
exame constará de duas provas: uma escrita de
múltipla escolha com nota de corte previamente
estabelecida em edital. A segunda será oral com
banca examinadora avaliando raciocínio de casos
clínicos completos, apenas com os candidatos
aprovados na primeira
etapa. As inscrições serão feitas diretamente
no portal da Febrasgo.
Fique atento para a
divulgação do período
de inscrição!
AMB e CBI divulgam
documento sobre a gripe A
A AMB e a Sociedade Brasileira de Infectologia divulgaram, em 8 de maio, dois documentos contendo orientações sobre a gripe
influenza A (H1N1) destinados à comunidade
médica e à população.
O material foi produzido por profissionais que integram a equipe técnica do Comitê Científico de Influenza/Gripe da SBI, da
Sociedade Brasileira de Medicina Tropical,
da Secretaria de Estado da Saúde de São
Paulo, Sociedade Brasileira de Medicina dos
Viajantes, Associação Brasileira de Infecções
Hospitalares e a Associação Pan-Americana
de Infectologia. Orienta a prática eficaz para
o diagnóstico, acompanhamento e tratamento de pacientes, além de prevenção.
Para acessar os documentos entre no site da
AMB www.amb.org.br e clique no ícone H1N1.
note e anote
Mudanças para obtenção do
Título de Especialista – TEGO
GIRO PELOS ESTADOS
Mato Grosso do Sul
A excelência da ginecologia do
Hospital Regional Rosa Pedrossian
U
m hospital do Mato Grosso do Sul
passa atualmente por um importante
processo de modernização e adaptação. Uma reforma financiada pelo governo
estadual prepara o Hospital Regional Rosa
Pedrossian para ser referência obrigatória
nas áreas de gestação de alto risco, UTI
neonatal e cirurgia ginecológica. Aliás, a
excelência da instituição é reconhecida faz
tempo. Tanto que já atende a mulheres de
outros municípios e estados próximos.
“Agora, o serviço quadruplicará as
vagas de UTI neonatal. É uma prioridade, pois atendemos pacientes em estado
grave que precisam de suporte de qualidade”, argumenta Eliana Patrícia S. Maldonado Pires, responsável pelo Serviço
de Ginecologia do Hospital.
Ainda de acordo com Eliana, são realizados em torno de 200 partos por mês, dos
quais cerca de 50% correspondem a cesarianas. Por ser uma instituição direcionada à
assistência de alto risco, recebe doentes em
situação grave, como portadoras de diabetes
descompensada, lúpus, doença de Chagas,
hepatite C, soropositivos para HIV, etc.
14
Jornal da FEBRASGO – Maio 2009
“Apesar das inúmeras intercorrências
graves, o índice de partos normais tem
aumentado consideravelmente nos últimos dois meses, após a instituição de novos protocolos sugeridos pela Unifesp.
Em abril, tivemos 60% e o intuito é que
este percentual cresça”, afirma Eliana.
Um relevante diferencial é a disponibilidade de cirurgia videolaparoscópica,
que possibilita a utilização de equipamentos modernos por vias laparoscópicas para procedimentos ginecológicos
de pequeno e grande porte, como a
remoção de cistos do ovário e miomas
uterinos, entre outros. “Somos o único
hospital público do estado que tem esse
equipamento funcionando. É uma técnica menos invasiva, que proporciona uma
recuperação mais rápida.”
O Serviço de Ginecologia pretende também ser referência para o atendimento primário a vítimas de violência sexual. Segundo Eliana, o projeto
já foi aceito pelo hospital e apenas falta completar a equipe multidisciplinar.
“Já somos uma referência na região,
mas agora trabalhamos em um cronograma para implementação desse projeto”, explica Eliana Pires.
Equipe e Residência Médica
No Hospital Regional Rosa Pedrossian, o ambulatório presta atendimentos
de patologia cervical, gestação de alto
risco, ginecologia geral, mastologia e prénatal. Recebe em média 80 pacientes por
semana. A equipe médica conta com 16
profissionais, divididos entre plantão,
ambulatório e visitas às enfermarias. A
residência é coordenada por Maurício
Paniago e terá sua primeira turma formada no final deste ano. Seis preceptores
trabalham com oito residentes.
“É uma residência que iniciou suas
atividades recentemente, mas que já
compete com outras renomadas. Os preceptores são bastante comprometidos
com o Programa de Residência Médica,
observando os protocolos instituídos
pela FEBRASGO. Em relação aos estudantes, a maioria vem de fora, como do
Rio Grande do Sul e de São Paulo.” Ã
homenagem
ADEUS AO AMIGO
Colega de trabalho por
mais de 30 anos, Marilza
Vieira Cunha Rudge lembra
as virtudes do saudoso
Laurival Antonio de Luca
A
morte do professor Laurival Antonio de Luca significou uma grande
perda para a nossa especialidade.
Convivi com ele no Departamento de
Ginecologia e Obstetrícia (DGO) da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB)
por mais de 30 anos, admirando sua visão de mestre e idealizador.
Sua passagem por este mundo foi
marcante. Foi assistente na Ginecologia do professor Octaviano Alves de
Lima, em sua querida Escola Paulista
de Medicina (EPM), e frequentou com
assiduidade as reuniões de estudo na
casa do professor Deláscio.
Movido por um sonho, abandonou
a docência na EPM, em 1970, para criar
a Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas
de Botucatu (FCMBB), hoje Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP.
Trazia em seu currículo um pós-doc na
Universidade de Maryland, em Baltimore, nos Estados Unidos, algo pouco
comum entre os especialistas da área
naquela época. Menos de dois anos
após sua contratação defendeu duas
teses de livre-docência: uma em Ginecologia na FCMBB (1971) e outra em
Obstetrícia na EPM (1974). Poucos
docentes da nossa especialidade são
livre-docentes nas duas áreas.
Levou consigo a vontade e a determinação de conceber um departamento sólido, vigoroso e competitivo. Implantou a
graduação em ginecologia e obstetrícia, o
internato no quinto e sexto anos e a residência médica em GO de três anos. Participou da instalação das enfermarias de
Ginecologia e de Obstetrícia e do Centro
Obstétrico; criou o Laboratório de Pesquisa em GO e elaborou a proposta de criação
do Programa de Pós-Graduação em GO,
em 1995. Também adicionou a mastologia
como área no DGO e criou o Centro de
Avaliação em Mastologia, em 1997.
Nos últimos anos de sua vida profissional, passou a atuar na mastologia, incorporada em sua pós-graduação após fazer, em
1986, seu segundo pós-doc em Milão, Itá-
2009
lia, como investigador sênior com bolsa do
CNPq. Com essa atitude, nos ensinou que
a melhor forma de entrar em uma nova subárea é adquirir competência.
Participou ativamente da formação
acadêmica e profissional dos docentes
do DGO. Foi co-orientador da minha
tese de doutorado e obrigou-me a largar a linha de pesquisa de Ginecologia
Infanto-puberal, o que na época muito
me aborreceu, e assumir a Obstetrícia.
Obrigada Lauri, por sua visão, o meu caminho não era aquele!
Ensinou a cada um de nós a ministrar
aulas com didática, a se atualizar no uso
dos métodos de divulgação, a redigir artigo científico, a manter o conhecimento
atualizado, a se apresentar em público.
Professor Emérito da FMB/Unesp,
em 1993, permaneceu no DGO por
mais 10 anos após sua aposentadoria.
Em 2005, a enfermaria de Ginecologia do HC-FMB passou a se chamar
Laurival Antonio de Luca, homenagem mais que merecida.
Enfim, plantou várias árvores. Mas
quem conviveu com Lauri sabe que era
controverso, irriquieto, teimoso, rude,
doce, com ideias brilhantes e arrojadas,
mas muitas vezes de difícil relacionamento. Acreditou e desacreditou em
Deus: esse era o Lauri: uma mente em
constante ebulição.
Tinha mania das cartas confidenciais
para dizer o que pensava e sentia. Trocamos muitas correspondências duras, mas
na última que me enviou, ao se despedir, foi doce: “Olhe pela minha filha no
DGO como se fosse sua filha”.
Foi pai devotado, marido querido,
avô que curtia os netos, sogro atento,
sempre cuidadoso com os pais e irmã,
amigo pronto, palmeirense fervoroso,
motoqueiro, tenista, escritor e membro
da Academia Botucatuense de Letras.
Teve total lucidez da sua doença e
sentia o tumor crescer, a ascite aumentar e se preocupava com a chegada do
coma hepático. Teve suporte muito grande da família e se orgulhou disso. Muitos
amigos o visitaram, o que lhe deu muito
prazer. Alguns não conseguiram desculpá-lo e, sem vê-lo, perderam a oportunidade de ouvir um pedido de perdão. Eu
ouvi. Em seus dias finais ele entendeu a
importância do perdão como uma forma
maravilhosa de demonstrar amor.
Nos últimos meses da sua vida resgatamos o respeito e o carinho. Uniunos o cumprimento da minha maior
missão, como Ministra da Eucaristia, de
lhe levar a Eucaristia.
Em sua derradeira semana entre nós,
viajei para Washington, Estados Unidos,
para o Congresso de Hipertensão e Gravidez. Apenas me disse: “Vou esperar
você voltar”. Mas não esperou. Ainda
sem saber da morte do Lauri, naquele dia
todo o grupo do DGO/Botucatu que
estava em Washington se encontrou casualmente no Arlington Cemetery, onde
está o túmulo do presidente Kennedy.
Sempre atenta às coincidências que Carl
Jung chama de sincronicidade, acho que
estamos, meu caro Lauri, ligados para
sempre: não vou esquecê-lo.
Beijo suas mãos, Lauri, que trouxeram meus filhos ao mundo. Que Deus
o receba na sua Glória, lhe perdoe os
erros e o recompense pelo amor ao
próximo que sempre demonstrou. Vá
Ã
em paz, meu amigo...
Marilza Vieira Cunha Rudge, Professora Titular de Obstetrícia da Faculdade de Medicina
de Botucatu-UNESP
Jornal da FEBRASGO – Maio 2009
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Exames de mama e colo de útero: nova lei gera polêmica