CONSTRUÇÃO DE UM CONTROLADOR DIGITAL DE PROCESSOS
DINÂMICOS: possibilidades para educação tecnológica
CAMARGO, José Tarcísio Franco de
Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM)
Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal (CREUPI)
Centro Guaçuano de Educação Profissional “Gov. Mário Covas”
[email protected]
BARROS FILHO, Jomar
Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM)
[email protected]
BORTOLOTI, João Alexandre
Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM)
[email protected]
VERASZTO, Estéfano Vizconde
Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM)
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Instituição de Ensino São Francisco (IESF)
[email protected]
MAIA, Daltamir Justino
Faculdade Comunitária de Campinas (FAC)
[email protected]
RESUMO: Este projeto apresenta um controlador programável flexível, eficiente e de baixo custo,
construído com o propósito de fornecer um instrumento alternativo para o controle digital de processos
dinâmicos. Dentro deste escopo, apresentamos a sua concepção eletrônica, sua proposta para programação, alguns módulos de interfaceamento e possíveis aplicações para o mesmo. Particularmente,
esta proposta se direciona ao desenvolvimento de trabalhos de iniciação científica com características
interdiciplinares, envolvendo o curso de Ciência da Computação, permitindo que os alunos de graduação revejam e implementem boa parte dos conceitos teóricos já estudados, ao mesmo tempo em que
proporciona aos alunos uma visão mais ampla das implicações sociais do uso da tecnologia na qual
estão envolvidos.
PALAVRAS-CHAVE: controle, automação, informática, eletrônica.
ABSTRACT: This project presents a flexible programmable controller, efficient and with low cost, built to
provide an alternative instrument to digitally control a dynamical process. Within this scope, we present
the electronic conception, its programming paradigm, some interface modules and possible applications
for the device. In particular, this proposal is driven to the development of scientific works with interdisciplinary characteristics, involving the Course of Computer Science, allowing the under graduation students to review and implement a large range of theoretical concepts already studied, at the same time it
offers to the students a wider view of the social impacts of the use of the technology they are involved.
KEYWORDS: control, automation, informatics, electronics.
Interciência
& Sociedade
57
CAMARGO, J. T. F. de; BARROS FILHO, J.; BORTOLOTI, J. A.; VERASZTO, E. V.; MAIA,
D. J.
1. INTRODUÇÃO
O custo relativamente alto de um
controlador lógico programável (CLP) muitas vezes torna o seu uso proibitivo para
determinadas aplicações, tornando-o basicamente um elemento presente apenas
em empresas de médio ou grande porte
que necessitam do controle automático de
seus processos. Assim, uma grande classe
de potenciais usuários torna-se excluída do
uso desta tecnologia, se levados em consideração os seus custos.
Além disso, os CLPs oferecem aos
alunos dos cursos das áreas ligadas à Ciência da Computação a oportunidade de
desenvolvimento de diversos trabalhos com
características mais interdisicplinares, através de tecnologias capazes de trabalhar na
interface de várias disciplinas dos cursos de
graduação promovendo assim uma primeira oportunidade de integração.
Ressalta-se que os custos não se
encontram, necessariamente, no hardware
do dispositivo, mas inclusive no software
que gerencia o mesmo, o qual muitas vezes
apresenta um custo bastante superior ao do
hardware.
Neste sentido, torna-se bastante
atraente a ideia de se desenvolver um controlador que seja, simultaneamente, acessível em termos de seus custos e flexível
em termos de suas aplicações. Para se alcançar este objetivo, é interessante adotar
como modelo uma estrutura modular, onde
a um bloco fundamental (o controlador em
si) são adicionados módulos com funções
específicas conforme a necessidade do
processo a ser controlado. Por exemplo,
para o controle de um servomotor poderá
ser utilizado um módulo diferente daquele
que seria utilizado para o controle de um
aquecedor. Assim, a necessidade de um
determinado módulo não implica na aquisição compulsória de outros.
A possibilidade de o sistema cole-
58
tar dados e, baseando-se nestas informações, tomar decisões de controle gera um
processo automatizado muito mais sofisticado que um mero sistema mecanizado
cujo objetivo é realizar uma série de ações
por repetidas vezes.
Sob o ponto de vista do software,
pode-se adotar postura semelhante, considerando-se que rotinas específicas podem
ser desenvolvidas para aplicações específicas. Esta postura certamente contribui para
a redução do custo do software, pois:
•
atende apenas às particularidades de uma determinada necessidade de controle;
•
reduz a probabilidade de
ocorrência de bugs no software desenvolvido;
•
reduz o tempo de criação do
software e
•
contribui para a facilitar o
aprendizado do uso do sistema de
controle.
As seções seguintes apresentam detalhes sobre a proposta deste artigo.
2. Definição do modelo para o controlador
Conforme indicado pela Figura 1,
este controlador atua sobre um processo
em regime de malha fechada. De acordo
com esta Figura, o controlador pode atuar
em modo “autônomo”, quando todo o processo de controle é realizado pelo mesmo,
ou em modo “supervisionado”, quando o
controle do processo é dividido entre o controlador e um computador.
Como pode ser observado através
da Figura 1, o controlador é capaz de coletar informações (dados) provenientes das
“variáveis de estado” do processo sob controle e atuar sobre este processo mediante
a análise das instâncias destas variáveis.
Interciência
& Sociedade
Construção de um controlador digital de processos dinâmicos: possibilidades para educação
tecnológica
Nesta arquitetura, os módulos auxiliares são os elementos que efetivamente
coletam informações e atuam sobre o sistema. O módulo de controle, por sua vez, é
capaz de receber informações dos módulos
auxiliares de entrada, processá-las internamente e acionar os devidos módulos auxiliares de saída, atuando diretamente sobre
o controle do processo, caso este se encontre em modo “autônomo”. Caso o controlador encontre-se em modo “supervisionado”,
este deverá repassar informações sobre o
estado do processo para um computador
externo, aguardando comandos deste computador para o acionamento dos módulos
auxiliares adequados.
A correta seleção entre os modos de
operação “autônomo” ou “supervisionado”
para o controle do processo é importante
pois, considerando-se a relativa simplicidade do controlador, em determinados casos
o módulo de controle será incapaz de processar em tempo hábil um certo volume de
informações de entrada. Neste caso, torna-se imprescindível a utilização de um computador externo de forma a não ser comprometido o desempenho do processo a ser
controlado.
Figura 1. Representação do modo de atuação
do controlador (elaborado pelos autores).
Tendo por base a proposta de utilização de uma estrutura modular, a arquitetura do controlador pode ser esboçada de
acordo com a Figura 2.
3. Implementação do hardware do controlador
Figura 2. Estrutura modular proposta para o
controlador (elaborado pelos autores).
Seguindo a linha da flexibilidade desejada para o controlador, pode-se propor
ao menos duas soluções simples, eficientes
e de baixo custo para o Módulo de Controle. Caso o processo a ser controlado admita
apenas variáveis digitais, ou caso a atuação
sobre este necessite apenas de um controle
por PWM (Pulse Width Modulation), um microcontrolador apenas com entradas e saídas digitais pode ser suficiente. A Figura 3
apresenta esta versão mais simples para o
Módulo de Controle.
Interciência
& Sociedade
59
CAMARGO, J. T. F. de; BARROS FILHO, J.; BORTOLOTI, J. A.; VERASZTO, E. V.; MAIA,
D. J.
Figura 3. Módulo de controle exclusivamente digital (elaborado pelos autores).
Este circuito tem como elemento
principal um microcontrolador PIC 16F628A
(MICROCHIP TECHNOLOGY, 2009) com
duas portas, sendo que a “Porta A”, de 5
bits, é utilizada como canal de comunicação
entre este microcontrolador e um computador, e a “Porta B”, de 8 bits, é utilizada como
canal (digital) de comunicação entre o microcontrolador e os módulos auxiliares.
A “Porta A” não se comunica diretamente
com um computador externo. Esta comunicação é realizada através de um circuito integrado MAX232 (TEXAS INSTRUMENTS,
2002), o qual se conecta a uma porta serial
padrão RS-232 do computador, tal que a
comunicação microcontrolador / microprocessador possa ser efetivamente realizada.
60
Por sua vez, a “Porta B” do microcontrolador pode ser diretamente conectada
a linhas digitais convencionais, importando
ou exportando dados para os módulos auxiliares. Na implementação apresentada, a
“Porta B” encontra-se preparada para também atuar como geradora de sinais PWM
para o acionamento de servomotores adequados.
Conforme mencionado previamente,
esta implementação não prevê o controle
de sinais analógicos, o que a torna significativamente limitada. De forma a compensar
esta limitação, a Figura 4 apresenta uma
implementação que prevê a utilização de
sinais analógicos e digitais.
Interciência
& Sociedade
Construção de um controlador digital de processos dinâmicos: possibilidades para educação
tecnológica
Figura 4. Módulo de controle com capacidade analógica (elaborado pelos autores).
Esta implementação se fundamenta
na utilização de um microcontrolador PIC
16F877A (MICROCHIP TECHNOLOGY,
2002), dotado de cinco portas, com capacidade de tratamento de sinais digitais e
analógicos. Nesta arquitetura, além do microcontrolador em si, há basicamente um
circuito integrado MAX232, responsável
pela comunicação do controlador com um
computador externo, além de dois circuitos
integrados reguladores de tensão.
A “Porta A” do microcontrolador
pode ser utilizada como via de entrada e
saída digital, além de entrada analógica de
dados. A “Porta B” foi concebida para fornecer sinais PWM para servo-motores eventualmente conectados ao controlador. Esta
configuração pode ser revertida para o uso
de sinais digitais ordinários sem necessidade de alteração no hardware da placa. A
“Porta C” concentra o canal de comunicação do controlador com o computador externo, através da interface RS-232. A “Porta D” foi concebida para operar em modo
puramente digital, podendo ser acionada de
forma “bit-a-bit” ou como uma porta paralela de oito bits. Finalmente a “Porta E” pode
operar como entrada/saída digital, entrada
de controle digital ou entrada analógica.
3.1. Módulos auxiliares
Conforme mencionado anteriormente, os módulos auxiliares são constituídos
pelos elementos eletrônicos adicionais necessários para que o módulo de controle possa interagir adequadamente com o
processo sob controle do mesmo. Dada a
proposta de arquitetura flexível, não há um
número fixo e previsível de módulos para
este projeto. Assim, os módulos devem ser
criados em função das necessidades de
controle de cada processo.
A Figura 5 ilustra um possível módulo auxiliar de entrada, que pode ser utilizado como parte do mecanismo de monitoramento da temperatura de um processo, por
exemplo.
Interciência
& Sociedade
61
CAMARGO, J. T. F. de; BARROS FILHO, J.; BORTOLOTI, J. A.; VERASZTO, E. V.; MAIA,
D. J.
Figura 5. Módulo auxiliar de entrada para
verificação de temperatura (elaborado pelos
autores).
Trata-se de um módulo bastante
simples, baseado em um sensor de temperatura LM35 (NATIONAL SEMICONDUCTOR, 2000), acoplado a um amplificador
operacional que promove um ganho no sinal proveniente deste sensor e o entrega a
uma das entradas analógicas do microcontrolador.
Como exemplo de um módulo auxiliar de saída, podemos ter um driver de
motor de passo, conforme apresentado na
Figura 6.
Este módulo é composto exclusivamente por um circuito integrado ULN2003
(ST MICROELECTRONICS, 2007) que
funciona como um driver para o motor de
passo. O sinal digital proveniente do microcontrolador é amplificado pelo driver, sendo
posteriormente entregue ao motor de passo. O controle da sequência de acionamento do motor (full step / half step) é gerado
previamente pelo microcontrolador.
Alguns dispositivos não necessitam
de interfaces ou módulos auxiliares para serem acionados pelo controlador. É o caso,
por exemplo, de pequenos servomotores,
acionados por PWM, que podem ser conectados diretamente no módulo de controle.
Neste caso, o acionamento de um ou mais
servo motores exigirá que o microcontrolador seja devidamente programado e, também, que o módulo de controle opere em
“modo supervisionado”.
Em várias engenharias como de produção e química estes processos são largamente empregados. O interfaceamento está
presente no controle de reatores, linhas de
alimentação, monitoramento, controladores
de pressão, amostradores e linhas de descarte.
Algumas outras implementações
interessantes para este tipo de controlador
podem ser observadas em (IOVINE, 2004).
A seção seguinte descreve como os elementos de software se encaixam no contexto deste controlador.
4. O software do controlador
O software do controlador pode ser dividido
em duas partes:
Figura 6. Módulo auxiliar de saída para acionamento de um motor de passo (elaborado pelos
autores).
62
1. um firmware, interno ao microcontrolador, que efetivamente
receberá e enviará comandos
aos módulos auxiliares, além de
efetuar o controle do fluxo de informações entre o próprio controlador e um microcomputador e
2. uma “interface com o usuário”,
caso o controlador venha a atuar
em modo “supervisionado”, através da qual um “operador” desta interface poderá efetivamenInterciência
& Sociedade
Construção de um controlador digital de processos dinâmicos: possibilidades para educação
tecnológica
te atuar sobre o processo a ser
controlado.
As subseções seguintes apresentam mais detalhes sobre o firmware e sobre
a interface com o usuário.
4.1. O firmware do microcontrolador
O firmware que ficará embutido no
microcontrolador deverá ser implementado
de acordo com o modo de operação em
que se pretende utilizar o controlador. Caso
este deva funcionar em modo “autônomo”,
todas as rotinas de tratamento do processo sob controle deverão ser previstas neste
firmware, tornando o controlador independente de um computador externo. Ao contrário, caso o controlador venha a atuar em
modo “supervisionado”, o firmware deverá
ser implementado de forma a encaminhar
ao computador externo as devidas instâncias das variáveis de controle do processo,
recebendo deste os comandos exatos para
a atuação sobre o processo, acionando os
módulos auxiliares adequados.
Como exemplo ilustrativo, considere o controlador apresentado na Figura 3,
operando em modo supervisionado, sendo
utilizado para controlar simultaneamente a
posição de oito servomotores.
Neste caso, o firmware deverá ser
desenvolvido de forma a receber “comandos” provenientes da interface com o usuário, os quais indicarão as ações a serem
executadas pelos servomotores acoplados
ao controlador. Para tanto, o microcontrolador da interface de controle foi configurado
tal que sua “Porta A” seja utilizada para a
comunicação serial entre este e um microcomputador e sua “Porta B” seja utilizada
para o acionamento dos servos.
As instruções de comando deverão
ser descritas sob a forma de um ou dois
bytes, dependendo da ação a ser realizada. Normalmente, em uma instrução de
dois bytes o primeiro indicará a ação a ser
executada (“byte de comando”) e o segundo será o parâmetro deste comando (por
exemplo, o ângulo de rotação do servomotor). Um “byte de comando” é dividido em
dois nibbles, sendo que os quatro bits mais
significativos indicam o comando propriamente dito e os quatro bits menos signifi-
cativos indicam o “canal” (servomotor) a ser
acionado. O firmware reconhece os seguintes tipos de instrução:
•
Reinicialização do dispositivo:
todas as saídas são desligadas e os servos são desabilitados (um byte).
•
Habilitação de servomotor: torna um determinado servomotor apto a
receber comandos de posicionamento.
O microcontrolador começa a gerar pulsos para um dado servomotor (um byte).
•
Desabilitação de servomotor:
torna um determinado servomotor incapaz de receber comandos de posicionamento. O microcontrolador pára de gerar
pulsos para um dado servomotos (um
byte).
•
Ajuste de centro (offset) de servomotor: determina a posição central
de um determinado servomotor. A partir
desta posição o servomotor poderá se
deslocar de 45o para a direita ou para a
esquerda (dois bytes).
•
Ajuste de posição de servomotor: determina a orientação do eixo do
servomotor a partir do “ponto de offset”
previamente ajustado (dois bytes).
O fluxograma seguinte indica o
funcionamento básico do firmware do controlador nesta situação.
1. Desabilita todas as interrupções do microcontrolador.
2. Configura “Porta A” do microcontrolador como
porta de I/O serial.
3. Configura a “Porta B” do microcontrolador como
porta de saída para os servomotores.
4. Desabilita a recepção de dados mantendo a via
CTS em nível alto.
5. Transmite mensagem de “power on” para a interface com o usuário.
6. Inicializa os servomotores.
7. Habilita a interrupção de “Timer 0” do microcontrolador.
8. Inicializa o “timer” de 20ms (ciclo dos servomotores).
9. Habilita a recepção de dados mantendo a via CTS
em nível baixo.
10. Captura um comando através da porta serial.
11. Desabilita a recepção de dados e mantendo a via
CTS em nível alto.
12. Processa o comando recebido e atualiza o estado dos servomotores se necesário.
13. Aguarda a conclusão do ciclo de 20ms e retorna
a (8.).
Interciência
& Sociedade
63
CAMARGO, J. T. F. de; BARROS FILHO, J.; BORTOLOTI, J. A.; VERASZTO, E. V.; MAIA,
D. J.
Pode ser notado que, além dos parâmetros de configuração do sistema, o firmware consiste em uma rotina que, a cada
20 ms (período de trabalho dos servomotores), faz uma leitura da porta serial em busca de um comando e, com este, efetua, se
necessário, a atualização dos servomotores
conectados ao controlador.
A programação e a verificação do firmware do microcontrolador poderá ser realizada através de um sotware fornecido pelo
próprio fabricante (MICROCHIP TECHNOLOGY, 2009).
4.2. A interface com o usuário
Conforme mencionado, a interface
com o usuário só tem sentido se o controlador atuar em modo “supervisionado”. Neste
caso, de acordo com o exemplo inicialmente apresentado na seção anterior, a interface com o usuário tem por finalidade obter
do “usuário” parâmetros para o devido posicionamento de cada um dos servomotores
conectados ao controlador. Através da inter-
face o usuário pode:
• Configurar a porta de comunicação serial onde está conectado o
controlador.
• Habilitar ou desabilitar cada um
dos servomotores conectados
aos controlador.
• Ajustar a posição central (offset)
de cada servomotor.
• Ajustar a posição de cada servomotor.
• Memorizar as posições do conjunto de servomotores (em arquivo).
• Executar “roteiros” que descrevem um conjunto de “posições-alvo” para cada um dos servos.
• Ajustar a velocidade de transição
de posições dos servomotores
durante a execução de um roteiro.
A Figura 7 apresenta o aspecto da interface
com o usuário.
Figura 7. Aspecto da interface com o usuário (elaborado pelos autores).
64
Interciência
& Sociedade
Construção de um controlador digital de processos dinâmicos: possibilidades para educação
tecnológica
Após carregar a interface o usuário
deve, inicialmente, estabelecer a conexão
da mesma com a placa de controle. Para
tanto, ele deve ajustar os devidos parâmetros da porta serial de conexão: número da
porta, velocidade de transmissão / recepção, paridade, número de bits de dados e
número de bits de parada. Após o ajuste
desta configuração, pode-se iniciar a comunicação entre a interface e o controlador. O
indicador “Connected” mostra que a conexão foi estabelecida com sucesso. Tendo
sido estabelecida a conexão com a placa
de controle, a partir deste ponto o usuário
poderá ajustar e gravar a posição de cada
um dos servomotores, criar um “roteiro” de
movimento dos servos ou mesmo executar
(“play” ou “soft play”) um roteiro previamente armazenado. Como pode ser observado,
o ajuste dos servomotores pode ser realizado individualmente. Previamente à execução de um roteiro de posicionamento dos
servos, o parâmetro “Resolution” deve ser
ajustado para que o movimento dos servos
ocorra da forma desejada.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este texto apresentou uma proposta para implementação de um controlador
programável, flexível e de baixo custo, que
pode ser facilmente adaptado para o controle de diversos tipos de processos. O protótipo mostrado na Figura 8 consiste em uma
implementação de baixíssimo custo (inferior
a U$30.00) do circuito apresentado na Figura 3, sendo capaz de controlar de forma eficiente oito servomotores simultaneamente.
5. O controlador e suas possibilidades
educativas
No âmbito de um curso de graduação em Ciência da Computação, este
controlador permite o desenvolvimento de
trabalhos de iniciação científica com características interdiciplinares. Por exemplo,
a partir dos circuitos apresentados, pode-se projetar uma estação meteorológica de
baixo custo que permita realizar o monitoramento de variáveis ambientais tais como
temperatura, pressão atmosférica, humidade relativa do ar, etc. Ou ainda medidas
de parâmetros indicativos da qualidade da
água em rios como o pH e intensidade da
radiação ultravioleta solar. Tais dados podem ser tomados diariamente ao longo de
um semestre inteiro gerando um banco de
dados que, por exemplo, pode ser usado
nas aulas de estatística do curso de engenharia ambiental e mesmo, disponibilizados
para as escolas que estão na mesma região
geográfica da faculdade.
Figura 8: Foto de uma placa de controle (elaborado pelos autores).
A arquitetura modular permite que
sejam implementados apenas os módulos
realmente necessários para o controle de
determinados sistemas, o que pode vir a
reduzir significativamente os custos e o próprio tempo de desenvolvimento do controlador, tanto no nível do hardware, quanto do
software. Da mesma forma, a possibilidade
de operação nos modos “autônomo” ou “supervisionado” contribui para a simplificação
e flexibilização do seu uso.
Um ponto a ser atacado futuramente, na sequência deste projeto, consiste
na necessidade de tornar este controlador
operável de forma remota, por exemplo,
através de uma conexão por rádio-frequência ou mesmo através do acionamento via
internet.
Interciência
& Sociedade
65
CAMARGO, J. T. F. de; BARROS FILHO, J.; BORTOLOTI, J. A.; VERASZTO, E. V.; MAIA,
D. J.
Tomando como norte estas diretrizes e pensando na utilização deste controlador em atividades práticas de ensino, o
desenvolvimento de um projeto deste tipo,
além de permitir que os alunos de graduação revejam e implementem uma boa parte
dos conceitos teóricos de algumas disciplinas específicas do curso de Ciência da
Computação, também permite que estes
estudantes formem uma visão mais ampla
das implicações sociais a respeito do uso
da tecnologia na qual estão envolvidos.
Vale também notar que com o domínio da tecnologia e sua aplicação naturalmente cria-se a expectativa do aperfeiçoamento dos modelos empregados e a
geração de novas linhas de pesquisa. Esta
conseqüência é importante, pois permite
que empresas da região automatizem seus
processos e que novos canais com o meio
acadêmico sejam gerados para o desenvolvimento de novas tecnologias.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
IOVINE, J. PIC Robotics: A Beginner’s Guide to Robotics Projects Using the PICmicro. Mc-Graw-Hill,
2004. ISBN: 0-07-139455-9.
MICROCHIP TECHNOLOGY INC.; PIC 16F87XA
Data Sheet; 2002.
MICROCHIP TECHNOLOGY INC.; MPLAB IDE Quick Start Guide; 2007.
MICROCHIP
TECHNOLOGY
INC.;
16F627A/628A/648A Data Sheet; 2009.
PIC
NATIONAL SEMICONDUCTOR INC.; Precision Centigrade Temperature Sensors; 2000.
ST MICROELECTRONICS GROUP; Seven Darlington Array; 2007.
TEXAS INSTRUMENTS INC.; Dual EIA-232 Drivers/
Receivers; 2002.
José Tarcísio Franco de Camargo é graduado em Engenharia Elétrica (UNICAMP – 1989), possui mestrado em
Engenharia Elétrica na área de Eletrônica e Telecomunicações (UNICAMP – 1992) e doutorado em Engenharia
Elétrica na área de Computação e Automação (UNICAMP – 1995). Atua como professor universitário desde 1990,
sendo atualmente professor e coordenador de cursos na Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro” (Mogi
Guaçu – SP) e no Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal (Espírito Santo do Pinhal – SP). Seus
interesses de pesquisa abrangem as áreas de controle e automação e computação gráfica, aplicados ao ensino
de engenharia.
Jomar Barros Filho é graduado em Física (Unicamp – 1997), mestre em Educação na área de Metodologia de
Ensino (Unicamp – 1999) e doutor em Educação na área de Educação, Ciência e Tecnologia (Unicamp - 2002).
Professor universitário desde 2001, ministra disciplinas das áeras de física e matemática em cursos de engenharia. Como pesquisador publica nas áreas de ensino de engenharia e de tecnologia, avaliação da aprendizagem e
formação de professores.
João Alexandre Bortoloti é graduado em Química (Unicamp – 1998), Mestre em Físico-Química (Unicamp –
2001) e Doutorado em Ciências (Unicamp – 2006). Atua como professor universitário desde 2002 em disciplinas
da área de Química, Estatística e Matemática em cursos de engenharia. Como pesquisador publica nas áreas de
Química Analítica, Quimiometria, ensino de Engenharia e Tecnologia.
Estéfano Vizconde Veraszto possui graduação em Física pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e
é Mestre e Doutor em Educação, Ciência e Tecnologia pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP). Possui estágio doutoral no exterior na Facultada de Ciencias de la Información da Universidad Complutense de Madrid (UCM). Atualmente é diretor e professor da Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro”, pesquisador do Laboratório de Novas Tecnologias Aplicadas na Educação, da Faculdade de Educação da
Universidade Estadual de Campinas, pesquisador colaborador da Universidad Nacional de Educación a Distáncia
(UNED/España), pesquisador colaborador da Facultad de Ciencias de la Información da Universidad Complutense
de Madrid e docente da Instituição de Ensino São Francisco (IESF).
Daltamir Justino Maia é graduado em Química (Unicamp – 1991), Mestre em Química Inorgânica (Unicamp –
1993) e Doutorado em Ciências (Unicamp – 1999). Atua como professor Titular na Faculdade Comunitária de
Campinas (FAC III), lecionando as disciplinas Química Geral e de Materiais metálicos para Engenharia. Além disso, é autor de livros didáticos na área de Química: Livro texto aprovado no PNLEM 2008 – Universo da Química.
66
Interciência
& Sociedade
Download

CONSTRUÇÃO DE UM CONTROLADOR DIGITAL DE