Introdução Muito mais difícil do que ampliar o acesso à escola, processo no qual alcançamos inegáveis avanços, notadamente no que se refere ao ensino fundamental, é promover a melhoria da qualidade da educação, objetivo em relação ao qual continuamos patinando, praticamente sem sair do lugar. Construir prédios, universalizando a frequência escolar, é apenas o primeiro passo, o ponto de partida, que compete aos poderes públicos. O grande desafio está não só em viabilizar a permanência de crianças e jovens na escola – que ainda estamos longe de concretizar, de modo especial nos níveis infantil e médio –, mas, principalmente, em fazer com que eles aprendam o que lhes é ensinado. Ou seja, realizem os objetivos que a nossa Constituição atribui à educação escolar: o seu pleno desenvolvimento, o seu preparo para o exercício da cidadania e a sua qualificação para o trabalho. E essa tarefa não cabe apenas aos poderes públicos, e, sim, à sociedade como um todo, em particular aos mais diretamente envolvidos no trabalho escolar, professores e alunos, que, juntos, 10 Psicologia da aprendizagem poderão tornar os processos de ensino e aprendizagem mais significativos e realizadores. Estamos convencidos, porém, de que a aprendizagem não decorre automaticamente do ensino. O professor pode planejar e executar uma ótima aula, com os recursos mais atualizados, as tecnologias mais avançadas, e a aprendizagem simplesmente não ocorrer. Claro que são inúmeros os fatores que levam ao fracasso do ensino, do contexto socioeconômico-cultural à história individual e familiar de professores e alunos. Avultam, no entanto, no âmbito especificamente escolar, a inadequação e a falta de articulação entre os processos de ensino e de aprendizagem. Ou, por outra, no planejamento das atividades de ensino, não levar em conta as características do aprendiz e a dinâmica do processo de aprendizagem, pode inviabilizar a concretização dos objetivos estabelecidos. Não se ensina no vazio, a alunos abstratos. Por isso, com este pequeno, mas substancial volume, pretendemos contribuir para que professores e futuros professores aprimorem a sua compreensão da dinâmica do processo de aprendizagem; e estimular a reflexão sobre quem são os alunos das nossas escolas, como se desenvolvem, mas, principalmente, como aprendem e como podemos favorecer a sua aprendizagem e o seu engajamento no trabalho cotidiano escolar. A única certeza é que todos têm capacidade para aprender. Entretanto, há diversas concepções sobre o processo de aprendizagem. E cada um aprende sob determinadas condições e de acordo com o próprio ritmo. Aqui oferecemos um panorama dessas concepções, no intuito de subsidiar professores e futuros professores na escolha do caminho que mais condiz com a sua maneira de pensar e sentir, as características dos seus alunos e a realidade em que atuam. Assim sendo, nosso principal objetivo é evidenciar as contribuições específicas da Psicologia à compreensão do processo de aprendizagem e à busca da eficácia da educação escolar. Refletimos sobre diversas teorias psicológicas, seus conceitos e métodos, sua Introdução 11 compreensão de homem e de educação, de modo especial nos aspectos que interessam aos processos de ensino e aprendizagem. Destacamos em cada uma dessas teorias aqueles elementos mais diretamente vinculados ao trabalho escolar, que possam servir de apoio efetivo ao educador em seu quefazer cotidiano na sala de aula; sem, contudo, pretender transmitir “receitas”, esquemas prontos, ao contrário, procuramos discutir possibilidades e limites, estimulando os profissionais de educação a fazerem suas próprias escolhas em função da realidade em que realizam o seu trabalho. Assim, apresentamos teorias psicológicas que enfatizam os fatores externos, as forças ambientais, como o behaviorismo ou comportamentalismo, que concebe a aprendizagem como mudança de comportamento resultante de um processo de condicionamento (capítulo “Skinner: condicionamento e aprendizagem”). Outras teorias, como a Gestalt, atribuem maior ênfase a fatores internos – percepção, intuição, compreensão – como decisivos na efetivação da aprendizagem (capítulo “Teoria da Gestalt: percepção e aprendizagem”). Também defensora da influência decisiva de fatores internos, só que representados pela estrutura da personalidade, com ênfase no inconsciente, é a Psicanálise (capítulo “Freud: inconsciente e aprendizagem”). Já a psicogenética advoga em prol do chamado interacionismo, ou seja, que a aprendizagem decorre de fatores internos ou inatos e externos ou ambientais, que interagem no processo de desenvolvimento (capítulo “Piaget: desenvolvimento cognitivo e aprendizagem”). A essas quatro teorias, consideradas clássicas, podemos acrescentar outras quatro, caudatárias das primeiras em menor ou maior grau: Vigotski (capítulo “Vigotski: desenvolvimento cultural e aprendizagem”) enfatiza o vínculo entre a aprendizagem escolar e a cultura constituída historicamente; Wallon (capítulo “Wallon: desenvolvimento integral e aprendizagem”), para quem no processo de ensino e aprendizagem deve-se levar em conta o desenvolvimento integral do indivíduo, em suas dimensões afetivas, 12 Psicologia da aprendizagem intelectuais, motoras e sociais; Rogers (capítulo “Rogers: humanismo e aprendizagem”) considera que a aprendizagem só ocorrerá e será duradoura na medida em que resultar do engajamento livre do indivíduo, trabalhando coletivamente em relações caracterizadas pela empatia e pelo respeito mútuo; e Emilia Ferreiro (capítulo “Emilia Ferreiro: construtivismo e alfabetização”), que se refere a uma mudança radical na concepção da alfabetização, a partir da própria criança, que vai dirigindo o processo e construindo o próprio conhecimento. Finalmente, no capítulo “A motivação e os processos de ensino e aprendizagem”, refletimos sobre a importante questão da motivação, discutindo as diversas interpretações, mas enfatizando o seu papel decisivo na promoção da aprendizagem. Convidamos professores e futuros professores a caminharem conosco na busca de uma educação de melhor qualidade, convictos de que, nas palavras de Mario Quintana, “são os passos que abrem os caminhos”.