ENTREVISTA: MARIA HELENA GUIMARÃES Ensino passa na prova dos NÚMEROS Vários indicadores mostram que a situação melhorou, diz Maria Helena Guimarães, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Inep, que coordena os principais mecanismos de avaliação do sistema de ensino. P elo Brasil afora, existem milhares de pais que acham melhor o filho repetir de ano porque está fraco em alguma área. É comum também o professor bater o olho num aluno, achar que não vai dar certo e ele ser reprovado no final do ano. Para Maria Helena Guimarães, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – Inep, isso caracteriza uma cultura da repetência, principal responsável pela enorme distorção idade/série verificada no ensino brasileiro. E quanto 32 maior a distorção, maior a probabilidade de o aluno ser reprovado novamente, diz Maria Helena, citando o resultado de outra avaliação. Pesquisa e avaliação de resultados são especialidades dessa paulista de Presidente Prudente, criada na cidade de São Paulo, e que começou seus estudos universitários na Universidade de Campinas – Unicamp, em 1977, aos 31 anos, já mãe de três filhos. Com graduação em Ciências Sociais e mestrado e doutorado em Ciências Políticas, Maria Helena foi diretora adjunta do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas – Nepp, da Unicamp, e secretária de Educação de Campinas, de onde saiu em 1995 para integrar a equipe do ministro da Educação, Paulo Renato Souza. O Inep coordena os principais instrumentos de avaliação do sistema educacional. Maria Helena dispõe, portanto, de muitos dados para fundamentar o que diz, como neste diagnóstico do ensino no Brasil, feito em entrevista aos jornalistas Ana Lagôa, do caderno de “Educação, Trabalho e Empregos” do Jornal do Brasil ; Luci Ayala, do Klick Educação (portal de educação na Internet); e Claudio Pucci, editor da revista TV ESCOLA. TVE SCOLA Luci Ayala: Existem dados confiáveis sobre a educação brasileira? M a r i a H e l e n a G u i m a r ã e s : Graças ao Censo Escolar, hoje podemos contar com indicadores fundamentais: reprovação, aprovação, número médio de alunos por turma, qualificação dos professores, número de turnos escolares, proporção de matrícula nos cursos noturnos, idade dos alunos, distorção idade/série. Essas informações não existiam antes. Hoje, os Estados e municípios apóiam-se nos dados do Censo Escolar para fazer seu planejamento anual. Fotos: Norberto Avelaneda Ana Lagôa: Como o Censo é feito? nome do professor etc., estão disponíveis em cada Estado. Se o professor não tiver acesso à Internet, pode solicitar informações sobre o Censo ao Centro de Informações do Inep. Pode também obter dados sobre a escola onde atua e seu município. Desde 1998, toda escola com mais de 100 alunos recebe um boletim com seus resultados: alunos matriculados por turno, os professores e sua qualificação, a taxa de promoção e a de reprovação do ano anterior por série, a distorção idade/série e a posição da escola em relação ao seu município, ao Estado e ao Brasil. pela tradicional prática do clientelismo. Hoje é pelo número de alunos na rede de ensino. Luci: A imprensa tem noticiado que alguns municípios falsificam os dados para ganhar mais verbas do Fundef. M a r i a H e l e n a : Para controlar esse tipo de coisa temos uma pesquisa por amostragem de controle de qualidade do Censo – a última foi feita em 2000 municípios, nas 27 unidades da Federação, com escolas de diferentes tipos. Checamos a consistência dos dados do município. Por exemplo: se a proporção de matrículas de ensino fundamental de 7 a 14 anos não bate com o total da população do município nessa faixa, o município é visitado e passa por uma auditoria. M a r i a H e l e n a : As 27 secretarias estaduais de Educação foram informatizadas, e já estamos iniciando os módulos regionais informatizados. AjudaAna: O que esses damos a montar a infrados informam sobre a estrutura e a treinar qualidade do ensino? as equipes de planejaM a r i a H e l e n a : Analimento e avaliação nos Estados. Temos uma sando o fluxo dos intranet, uma rede alunos no sistema, o computadorizada, lipesquisador Sérgio gando todas as secreCosta Ribeiro e sua tarias estaduais. Uma equipe concluíram vez por ano, os quesque o grande protionários do Censo “Graças ao Censo Escolar, contamos com indicadores fundamentais.” blema do ensino não Escolar vão direto era a evasão escopara as escolas. Elas preenchem o for- Claudio: Vocês têm informações sobre l a r , m a s s i m a r e p e t ê n c i a . I s s o e m mulário e mandam para os municípios, o uso desses dados nas escolas? 1989, no governo Sarney. Na época, que por sua vez mandam para os Estao MEC pagou a pesquisa, mas não dos. Cada Estado processa seus da- M a r i a H e l e n a : No ano passado, mui- q u i s d i v u l g a r s e u s r e s u l t a d o s . D e dos e os resultados são enviados ao t a s e s c o l a s u t i l i z a r a m e s s e b o l e t i m p o i s , o g o v e r n o C o l l o r t a m b é m n ã o Inep. Atualmente, os dados são coleta- n o s e u p l a n e j a m e n t o p e d a g ó g i c o . q u i s . E n f r e n t a r a q u e s t ã o d a r e p e dos e divulgados no mesmo ano. Só Queremos quantificar esse uso. Jun- t ê n c i a e x i g i r i a u m a p o l í t i c a e d u c a c i existem três países no mundo que t o c o m o q u e s t i o n á r i o d o C e n s o E s - onal que eles não tinham. O primeiro conseguem fazer isso: França, Estados c o l a r , e s t a m o s m a n d a n d o u m a m a l a g o v e r n o q u e e n f r e n t o u a q u e s t ã o d a Unidos e Brasil. p o s t a l p a r a o d i r e t o r d a e s c o l a r e s - repetência foi o atual. ponder se o boletim está sendo usaClaudio Pucci: Como o professor pode do, se é divulgado para a comunida- Claudio: Por que tanta repetência? ter acesso a esses dados? de, para os pais dos alunos. O Cens o d á a s b a s e s p a r a a d i s t r i b u i ç ã o M a r i a H e l e n a : Entre outros motivos, M a r i a H e l e n a : O s d a d o s g e r a i s e s - d o s r e c u r s o s d o M E C – R $ 1 5 b i - porque existe uma cultura da repetênt ã o n a I n t e r n e t , n o s i t e d o I n e p l h õ e s d o F u n d e f e R $ 3 b i l h õ e s d o cia. É uma cultura muito disseminada. ( w w w . i n e p . g o v . b r ) . O s d a d o s m a i s F N D E . A t é h á b e m p o u c o t e m p o , o Existem milhares de pais que, em alc o m p l e t o s , e s c o l a p o r e s c o l a , c o m dinheiro da educação era distribuído gum momento, acharam melhor o filho TVE SCOLA 33 ENTREVISTA FUNÇÃO ESTRATÉGICA Criado em 1937 por Gustavo Capanema, ministro da Educação do Estado Novo, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – Inep representou um passo importante na construção de um sistema nacional de ensino público. No entanto, a idéia de ter um órgão de pesquisa e informações educacionais que contribuísse para a formulação de políticas para a Educação remonta ao início da década de 1930. De 1952 a 1964, foi dirigido por Anísio Teixeira (leia reportagem Um mestre do progresso, nas páginas 38 e 39). No regime militar, passou por um longo processo de perda de prestígio, chegando ao final dos anos 1980 praticamente sem orçamento e sem funções claramente definidas. Formalmente extinto no governo Collor, foi mantido nominalmente pela comunidade acadêmica, com apoio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC, da Academia Brasileira de Ciências e de outras entidades afins. Em 1994, no governo de Fernando Henrique Cardoso, o Ministério da Educação define uma política em que a informação e a avaliação educacionais são consideradas estratégicas. O Inep é recuperado e totalmente reestruturado, sob a direção de Maria Helena Guimarães. De lá para cá, o instituto participou intensamente do processo de implantação da TV Escola, reestruturou o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) e o Censo Escolar – os dados mais recentes disponíveis no Ministério eram de 1989 –, e criou e implantou o Enem e o Provão, exames nacionais que avaliam, respectivamente, o ensino médio e o superior. O Inep também dá apoio técnico a países vizinhos, como Argentina, Colômbia e Peru, e a vários países africanos de língua portuguesa, sendo reconhecido internacionalmente pelo padrão de excelência de suas pesquisas. 34 repetir de ano porque “estava fraco” em alguma matéria. Na sala de aula, o professor é soberano. Sei que os alunos não são anjos, mas as pesquisas demonstram que um dos fatores que mais contribuem para a repetência é a atitude do professor diante dos alunos. Além disso, nossa cultura social é muito discriminatória. As crianças mais pobres, moradores em favelas, de famílias menos estruturadas, já chegam à escola em desvantagem. No primeiro dia de aula, muito professor bate o olho e fala: “Aquele ali não vai dar certo...” Claudio: O aluno reprovado pode perder a auto-estima. M a r i a H e l e n a : E a probabilidade de voltar a ser reprovado é muito maior. Reprovar um aluno e mantê-lo na mesma classe, com o mesmo professor, o mesmo livro didático, é levá-lo a nova reprovação. A repetência é responsável pela grande distorção idade/série existente na educação brasileira. E o Saeb (veja o box Instrumentos de avaliação) mostra que, quanto maior essa distorção, pior é o rendimento do aluno. É um círculo vicioso: a taxa média de repetência na primeira série do ensino fundamental é de 39,8% no Brasil, e hoje há mais 8,5 milhões de alunos com idade superior a 15 anos no ensino fundamental. Claudio: Mas por que o professor age assim? Ele acha que isso é ser bom professor? M a r i a H e l e n a : Alfabetizar uma criança é muito mais difícil do que orientar uma tese de doutorado. Muitos professores não estão preparados para essa tarefa. Em geral, os encarregados da alfabetização têm apenas o nível médio e são os mais novos da escola, os menos experientes. No entanto, essa deveria ser uma tarefa dos mais experientes e capacitados. A escola deveria ter um projeto pedagógico que tratasse o processo de alfabetização como um ciclo de aprendizagem. O objetivo seria, ao final desse ciclo, conse- guir que a maior parte das crianças daquela faixa etária atingisse determinados patamares. O ciclo inicial de aprendizagem deve englobar pelo menos as séries iniciais da alfabetização da criança, talvez as quatro primeiras séries. É muito difícil medir a evolução de uma criança na metade da primeira série. Luci: Como os instrumentos de avaliação podem ajudar a mudar essa realidade? M a r i a H e l e n a : Quando o Censo começou a mostrar a distorção idade/ série e as taxas de reprovação, e, ao mesmo tempo, o Saeb demonstrava que o aluno mais velho do que o recomendado para a série tinha um rendimento pior, imediatamente iniciou-se ALFABETIZAR UMA CRIANÇA É MUITO MAIS DIFÍCIL DO QUE ORIENTAR UMA TESE DE DOUTORADO “ ” no Brasil um grande movimento para reduzir a distorção idade/série, instituindo-se as classes de aceleração. Claudio: A senhora é favorável à promoção automática? Maria Helena: Não. Eu defendo a progressão continuada, a idéia de ciclos de aprendizagem em que o aluno é avaliado ao longo do processo. A escola tem de ter a clareza pedagógica sobre os conteúdos daquele ciclo de TVE SCOLA aprendizagem, e sobre as competências e habilidades que o aluno deve desenvolver durante o ciclo. A escola tem, também, de oferecer aos alunos a chance de recuperar conteúdos ao longo do ano e criar classes de aceleração para quem estiver atrasado na relação idade/série. Os alunos que vão mal têm de ter acesso a um reforço paralelo às aulas comuns – como ocorre nas escolas particulares. Os professores devem ter condições de trabalho e remuneração adequadas para dar o reforço fora do horário de sala de aula. Devemos avaliar, também, a possibilidade de o aluno ser promovido com dependência de uma matéria. Ana: Qual a dimensão da distorção idade/série? M a r i a H e l e n a : Atualmente, temos 16 milhões de alunos no ensino fundamental com dois anos ou mais de atraso com relação ao indicado para sua faixa etária, e 1,2 milhão de alunos em classes de aceleração. Luci: Como funcionam as classes de aceleração? Maria Helena: As classes de aceleração já estão implantadas em vários Estados, como São Paulo, Maranhão, Bahia, Pernambuco, Goiás, Espírito Santo e Paraná. Podem ter no máximo 15 alunos, o professor é treinado para essa atividade, tem uma remuneração adequada e conta com materiais pedagógicos específicos. O aluno que não consegue acompanhar o ritmo da classe é atendido pelo professor fora da sala de aula. Os resultados, avaliados pela Fundação Carlos Chagas, mostram que o desempenho dos alunos é basicamente o mesmo dos que estão no curso regular. das secretarias de Educação – embora haja uma tendência de ampliar a autonomia da escola e o estímulo para que cada uma construa seu projeto pedagógico de acordo com as características da sua equipe e da comunidade. O Fundef vem reforçando essa tendência, ao promover um aumento de salários real, nos municípios em que os professores ganhavam muito pouco. Claudio: O ministro considera o Fundef o melhor programa de sua gestão. M a r i a H e l e n a : Acho que o Fundef representa a política mais importante implantada no sistema educacional brasileiro desde a década de 1930, quando começou o sistema público de ensino com a escola primária gratuita. Com o Fundef, a matrícula cresceu. Em 1994, tínhamos 89% das crianças de 7 a 14 no ensino fundamental; hoje são 96%. Mais alunos concluem o ensino fundamental e ingressam no ensino médio, que passou dos 3,5 milhões de alunos em 1994 para os atuais 7 milhões. Em 1994, apenas 16% dos alunos do ensino médio tinham de 15 a 17 anos – a faixa etária correta. Hoje são 32% nessa faixa etária. Claudio: É a isso que o ministro se refere quando diz que a situação do ensino está “longe de onde gostaríamos de estar, mas muito melhor do que estávamos”? Maria Helena: Vários indicadores mostram que a situação melhorou. Em 1994, os alunos levavam, em média, 12 anos para concluir as oito séries. Hoje, a média é de 10 anos. Em 1991, de cada 100 alunos que ingressavam no ensino fundamental, apenas 38 concluíam a 8ª série. Hoje, de cada 100 que ingressam, 65 concluem. A repetência na primeira série do ensino fundamental, que é o grande gargalo da educação brasileira, passou de 52% em 1994, para os atuais 39,8%. Ainda é muito alta, mas é um avanço. A maioria termina a 8ª série acima da idade; outros param. A taxa média de repetência em todo o ensino fundamental, que era de 33%, caiu para 28%. O número de formandos na 8ª série cresceu mais de 50%. Os formandos do ensino médio, que eram 660 mil alunos em 1991, hoje são 1,5 milhão. Por fim, a taxa de distorção idade/série, que era de 62% em 1994, está em 48%. Luci: A escola é que decide se implanta as classes de aceleração? E de onde vêm os recursos para o pagamento dos professores? M a r i a H e l e n a : Nesse ponto, as escolas dependem das diretrizes políticas TVE SCOLA “A repetência na 1ª série do ensino fundamental caiu de 52% para 39,8%.” 35 Luci: Como diminuir essa diferença entre escolas melhores e piores? As escolas não deveriam ter um currículo único? “O Fundef promove aumento real de salários nos municípios em que os professores ganhavam muito pouco.” Claudio: A mudança nos índices é expressiva. Mas não dá para andar mais rápido? ENTREVISTA Maria Helena: Em educação, tudo é a médio e longo prazo. Temos 36 milhões de alunos no ensino fundamental, um contingente igual à população da Argentina. O País é muito grande, com grandes diferenças regionais. Enquanto em alguns Estados do Sul e Sudeste nós já tínhamos o ciclo básico antes de 1994 – como em São Paulo –, no Nordeste, o desafio foi extinguir as classes de alfabetização e garantir o direito constitucional de ingresso do aluno na primeira série do ensino fundamental, ao final da préescola. Os Estados do Nordeste tiveram os piores desempenhos no Saeb / 95, mas também foram os que mais melhoraram nesses últimos cinco anos. Os que tiveram melhor desempenho em 1995 mantiveram-se no mesmo patamar. Luci: Todo ano as famílias precisam enfrentar filas para matricular seus filhos na escola pública. Por que não se resolve esse problema? Maria Helena: Não há falta de escola. As classes médias começaram a trocar a escola particular pela pública e 36 todos querem colocar os filhos nas melhores escolas, com boas equipes de professores, próximas de suas casas. O resultado são as filas. Essa é uma questão local, não há como o MEC entrar nisso. SÓ TEREMOS PROFESSORES MELHORES QUANDO INSTITUIRMOS A PROMOÇÃO POR MÉRITO E NÃO POR TEMPO DE SERVIÇO “ Maria Helena: As provas do Saeb mostram que o currículo proposto não é o currículo efetivamente realizado. Os professores que respondem aos questionários do Saeb dizem que não conseguem cumprir nem 70% do currículo proposto para aquele ano. Em média, os alunos ficam 4 horas diárias na escola, o que significa, descontando os intervalos, 3h15min por dia, em um ano letivo de 207 dias. É pouco tempo. A falta de equipes estáveis nas escolas dificulta a consolidação das estratégias e recursos pedagógicos. A forma como as carreiras de professores estão organizadas no Brasil não cria equipes estáveis. Ana: E o que está sendo pensado em termos de carreira para o professor? M a r i a H e l e n a : Só teremos professores melhores quando instituirmos a promoção por mérito e não por tempo de serviço. O desempenho do professor precisa ser avaliado. O bom professor tem de ser estimulado e recompensado em sua carreira. Cabe ao Conselho Nacional de Educação e ao MEC definir os grandes referenciais para a avaliação dos professores, e aos Estados cabe estabelecer critérios e método para essa avaliação. Luci: O PCN em Ação é o eixo central da proposta de formação de professores do MEC? Maria Helena: O MEC ainda tem muita coisa a fazer nesta área. Ainda estamos engatinhando. Já foi aprovada a criação dos Institutos Superiores de Educação (curso normal nível superior), mas ainda não temos as diretrizes curriculares para essas instituições. No caso da formação continuada, é fundamental articular o PCN em Ação com a TV Escola. Se isso ocorrer teremos uma TVE SCOLA reformulação curricular nacional, o que é muito necessária. Temos atualmente 700 mil professores nas redes públicas, lecionando nas primeiras séries do ensino fundamental. Pela LDB, eles deverão ter nível superior até 2007. Está mais do que na hora de oferecermos uma proposta concreta e substantiva de formação de professores em serviço. Ana: Por que que as faculdades de Pedagogia não foram aproveitadas como base para os Institutos Superiores de Educação? M a r i a H e l e n a : Elas podem ser aproveitadas, desde que se habilitem para isso. Uma Faculdade de Pedagogia deve estar centrada nas diferentes abordagens pedagógicas do processo de aprendizagem. Pretender que ela forme o professor polivalente, regente de classe de primeira a quarta série, está errado. Claudio: E como a senhora avalia os mecanismos de educação à distância, como a TV Escola e o ProInfo? Maria Helena: Acho a TV Escola de enorme utilidade, principalmente para os municípios pequenos e para as regiões mais pobres. Seu impacto é muito grande. O material da TV Escola é de excelente qualidade. Muitas escolas, porém, enfrentam dificuldades para acompanhar a programação: ou porque só têm uma “ televisão na escola – o ideal seria uma por sala de aula –, ou porque não têm uma videoteca organizada, não há quem grave a programação. A recepção da TV Escola é mais organizada exatamente nos municípios mais pobres, mais carentes, onde não há nada além do livro didático, do quadro-negro, da lousa e do giz. Falta avaliar como os professores estão efetivamente utilizando esse recurso e como os alunos estão aprendendo, se os conteúdos são adequados, se é preciso fazer algum ajuste. Claudio: Há quem diga que a televisão é menos eficaz que o computador, como recurso pedagógico. O que a senhora acha? Maria Helena: Acho que existe um conjunto de tecnologias disponíveis na escola, das quais os professores devem saber tirar partido. Com a Internet, a tendência é o computador tornar-se progressivamente a peça central. Mas isso não exclui outros recursos. A televisão é importante como auxílio ao professor e oferece excelentes subsídios para produzir boas aulas. Ele também tem de ter acesso a jornal, revistas... Precisa ter tempo, fora do horário de sala de aula, para assistir à programação, gravar o que acha essencial, selecionar o que pode utilizar em suas diferentes turmas e depois preparar a aula. OS PROFESSORES DEVEM TIRAR PARTIDO DAS TECNOLOGIAS DISPONÍVEIS NA ESCOLA TVE SCOLA MEIOS DE AVALIAÇÃO O Inep centraliza e coordena os principais mecanismos de avaliação da Educação brasileira: Censo Escolar – Levantamento feito anualmente em 250 mil escolas da rede pública e particular, distribuídas por 5.500 municípios, abrangendo cerca de 47 milhões de alunos. Um questionáriopadrão é respondido pelas escolas, com informações sobre matrícula e rendimento dos alunos, turnos, turmas, séries e períodos, condições físicas das escolas e de seus equipamentos e os profissionais envolvidos. O Censo Escolar, mais o Censo do Ensino Superior e o Censo Sobre o Financiamento da Educação, também coordenados pelo Inep, constituem o Censo Educacional Brasileiro. Os dados obtidos servem de base para o planejamento e gestão da Educação. Saeb – O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica é realizado a cada dois anos, por amostragem. As provas envolvem cerca de 700 municípios, 3 mil escolas públicas e privadas, 25 mil professores, 3 mil diretores e cerca de 220 mil alunos da 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e 3ª série do ensino médio, nas disciplinas de Língua Portuguesa, Matemática, Ciências e, a partir de 1999, História e Geografia. Enem – O Exame Nacional do Ensino Médio é uma prova de conhecimentos da qual participam apenas os interessados, mediante inscrição prévia. Muitas universidades brasileiras já aceitam as notas do Enem como parte do processo de seleção de candidatos, ao lado do vestibular. Provão – O Exame Nacional de Cursos, ou Provão, como ficou conhecido, é realizado anualmente entre os estudantes que estão concluindo os cursos de graduação, e é obrigatório para a obtenção do registro do diploma. Seu objetivo, porém, é avaliar o desempenho dos cursos universitários e não os estudantes. Começou a ser implantado em 1996, em apenas três cursos (Administração, Direito e Engenharia Civil) e vem, gradativamente, estendendo-se aos demais. No ano 2000, 18 cursos de graduação serão avaliados. 37