liberdade sem dogma Liberdade sem Dogma Testemunhos e Estudos sobre Sottomayor Cardia Organização de Carlos Leone Manuela Rêgo lisboa: tinta‑da‑china MMVII © 2007, Carlos Leone, Manuela Rêgo e Edições tinta‑da‑china, Lda. Rua João de Freitas Branco, 35A 1500‑627 Lisboa Tels: 21 726 90 28/9 | Fax: 21 726 90 30 E‑mail: [email protected] www.tintadachina.pt Título: Liberdade sem Dogma. Testemunhos e Estudos sobre Sottomayor Cardia Organização: Carlos Leone e Manuela Rêgo Revisão: Tinta‑da‑china Design e Composição: Vera Tavares 1.ª edição: Novembro 2007 isbn 978‑972‑8955‑47‑2 Depósito Legal n.º 266976/07 Índice Introdução Carlos Leone Mário Sottomayor Cardia e os seus combates 9 Testemunhos Mário Cláudio Da extrema juventude 29 José de Vargas dos Santos Pecegueiro Mário Sottomayor Cardia 33 Gastão Cruz Lembrança de Mário Sottomayor Cardia 35 Vasco Vieira de Almeida Lembrando Mário Sottomayor Cardia 39 António Reis Sottomayor Cardia e a Seara Nova 47 L.A. Costa Dias Generoso impulsionador de conhecimento 51 Jorge Miranda Mário Sottomayor Cardia 53 Maria Emília Melo O amigo 57 Mário Soares Memória de Cardia 61 José Medeiros Ferreira Conhecer Sottomayor Cardia 65 Cristina Lisboa Ético, político, professor e ensaísta 71 Estudos Daniel Melo O percurso associativo e cívico de Mário Sottomayor Cardia 79 Miguel Real Sottomayor Cardia versus António José Saraiva 105 Manuel Filipe Canaveira A Antologia da Seara Nova 119 José Castelo Cardia, Ministro da Educação 135 João Miguel Almeida Abril revisto por um socialista sem dogma 143 José Leitão Mário Sottomayor Cardia. A coragem de pensar e agir livremente 155 António Braz Teixeira A ética neo‑utilitarista de Mário Sottomayor Cardia 165 Bibliografia de Mário Sottomayor Cardia por Manuela Rêgo 179 introdução mário sottomayor cardia e os seus combates Carlos Leone E ste livro resulta de um infortúnio. Esperada, pelos mais próximos, há algum tempo, a morte de Mário Sottomayor Cardia foi, para a maioria de nós, uma surpresa. Muitos já não se lembravam da figura política e, ainda, académica, que desde há mais de uma década saíra da atenção do público, mas o choque maior foi sobretudo para quem, como eu, não só guardava dele boas memó‑ rias como tinha mantido um contacto mais ou menos regular com o homem que tinha sido meu professor. Necessariamente, esta não é uma introdução aos nossos sentimentos nem às nossas memórias, mas foi de uns e de outras que este livro surgiu; não há como des‑ trinçar, agora, a origem e o resultado final. Quando soube da morte de Sottomayor Cardia encontrava‑me em Inglaterra em trabalho, sem possibilidade de voltar a Portugal para o funeral nem de saber grandes pormenores (que, realmente, nem procurei). A última vez que estivera com ele, em Fevereiro de 2006, já me tinha sentido um pouco constrangido. Não estava bem, o que não sendo novidade era, ainda assim, mais notório. Isso não me fizera alterar nada, falávamos intermitentemente e sempre com prazer, era mesmo uma das raríssimas pessoas com quem falar era sempre um prazer. Em Fevereiro de 2006, quando o visitei em sua casa, trabalhava nas suas memórias, agastado pelo tratamen‑ to que o actual presidente da República lhe reservara nas memó‑ rias que publicara, mas mantendo um sentido de humor soberbo. Estava no entanto extremamente cansado e agitado, optimista mas demasiado disperso. Como numa hipertrofia daquele Mário [��� 11] liberdade sem dogma Sottomayor Cardia que sempre conheci. Exceptuando breves con‑ versas telefónicas posteriores, não voltámos a falar. A sua morte, por isso e pela distância, foi para mim um acontecimento entriste‑ cedor a vários títulos. A juntar a tudo, uma sensação de distracção, por não ter previsto que «aquilo» poderia estar para acontecer. Este livro é a tentativa de converter esse infortúnio irremediável em algo menos pesado. Já em Lisboa, poucos dias antes do Natal de 2006, a viúva, Dr.ª Luísa Ducla Soares, recebeu‑me e teve toda a disponibilidade para se interessar por uma das ideias em que tinha estado a pensar desde que soubera da notícia: um volume de estudos em homenagem a Sottomayor Cardia — fiquei aliás a saber que essa era a homena‑ gem que o próprio entendia ser a mais apropriada para intelectuais e homens públicos, justamente como ele sempre fora. Nessa altura, já alguma coisa tinha sido feita: buscas nas edições electrónicas dos jornais e em blogues, relativas a Sottomayor Cardia, com a atenta ajuda de Miss Pearls, também conhecida como Isabel Goulão; uma entrada biográfica escrita para o sítio na internet do Instituto Camões, que Luísa Ducla Soares me fez o favor de ler e corrigir antes de eu a entregar; e, particularmente importante aten‑ dendo ao facto de nem na morte as polémicas (sobretudo à esquer‑ da) sossegarem, um trabalho próprio de memória, separando tanto quanto possível o meu antigo professor de Filosofia Social e Política na Universidade Nova de Lisboa, e meu posterior amigo de tantas conversas e leituras filosóficas e políticas, do Mário Sottomayor Cardia histórico, afinal o homenageado neste livro. Com Manue‑ la Rêgo a aceitar co‑organizar esta colectânea, ocupando‑se de um levantamento bibliográfico indispensável e exigente, faltava ter a homenagem pronta a tempo do primeiro aniversário da morte. Encontra‑se na secção Figuras da Cultura Portuguesa (http://www.instituto‑camoes.pt/ cvc/figuras/mariosottomayorcardia.html). [��� 12] introdução O início de 2007, após dois contactos infrutíferos, trouxe para o projecto a tinta-da-china, na pessoa de Bárbara Bulhosa, que não só se interessou de imediato por ele, sem o subordinar à tradicional obtenção prévia de subsídios, como ainda se empenhou em todo o trabalho de contactos, habitualmente o mais cansativo neste género de iniciativas. Os convites, em número muito grande e dirigidos a um conjunto de pessoas muito diverso, obedeceram a um plano previsto para o livro, o qual reunia numa estrutura quadripartida as sucessivas fases da vida de Cardia e a sua relação com a história de Portugal: juventude e Oposição (década de 1960); liberdade e Revolução (déca‑ da de 1970); tensões no PS e política parlamentar (década de 1980); isolamento e trabalho universitário (desde a década de 1990). Quase todos os convidados responderam e quase todos, apesar dos atrasos costumeiros, cumpriram. Dos restantes não há por que falar. Não obstante, o mais breve contacto com este livro permite perce‑ ber como o plano inicial se alterou muito. Na verdade, a sucessão de fases da vida e sua relação com acontecimentos sociais mantém‑se, mas implícita; atendendo às colaborações entregues, a alteração da estrutura prevista fez‑se no sentido da simplificação do índice. «Testemunhos» são os textos, geralmente breves, que dão conta de encontros e experiências pessoais, e por vezes também institu‑ cionais, de Sottomayor Cardia com vários dos participantes nesta homenagem. Apesar de conterem informações mais do que estri‑ tamente pessoais, são regra geral marcados por um relato memoria‑ lístico, o mais das vezes feito na primeira pessoa e sem pretensões científicas, mas sim com riqueza documental e também afectiva. «Estudos» são ensaios por norma mais longos, também eles conhecendo diferenças formais apreciáveis, mas em todo o caso pensados e escritos como peças de análise e discussão da Obra de Sottomayor Cardia, tanto teórica como política. Neste grupo de contribuições, incluem‑se textos de vários investigadores, a maioria [��� 13] liberdade sem dogma dos quais jovem, que não conheceram pessoalmente Sottomayor Cardia nem com ele partilhavam opções políticas, ou outras, mas que, por nos últimos anos terem dado várias provas da valia do seu trabalho de investigação, foram convidados a participar e, é justo e gratificante acrescentar, não só aceitaram como cumpriram. Alguns destes textos conheceram já publicação, pelo que é justo agradecer aos editores a permissão para a sua inclusão aqui. Sobre a alteração da estrutura inicialmente prevista, cremos que os par‑ ticipantes não saem prejudicados, até por ter sido uma bem‑vinda imposição dos seus textos aos organizadores. Queremos, acima de tudo, que o homenageado seja o verdadeiro beneficiado. É frequente associar a proeminência de Cardia à juventude, pelo episódio da sua expulsão do liceu por apoiar a ocupação pela União Indiana do que restava, no século xx, da Índia portuguesa. Isto, claro está, não é errado nem injusto. Mas quem teve oportunidade de ler o esboço, nunca concluído, das suas memórias, sabe bem que o próprio detectava as suas ousadias ainda antes da adolescência . Disso mesmo dão conta os testemunhos, neste livro, de José Pece‑ gueiro, seu professor, e Mário Cláudio, seu colega de escola. São, até pela sua concisão, textos de clareza e afectividade invulgares. Ainda sobre um período juvenil, mas reflectindo já actividades bem adul‑ tas, o testemunho de António Reis dá boa conta do relevo que Car‑ dia rapidamente ganhou em meios académicos, editoriais e associa‑ tivos, em Lisboa e não só. Tendo terminado o liceu no Porto, a tempo de acompanhar a campanha de Delgado, Sottomayor Cardia chega a Lisboa em 1958 Sem edição possível, a nosso ver, pela sua extrema incompletude, as páginas de memórias merecem contudo ser conhecidas, pelo menos aquelas que mais próximas ficaram de uma redacção definitiva. Entre essas, encontram‑se várias relativas à infância. Sobre esse acervo inédito, que inclui ainda projectos de obras teóricas, há que dizer pelo menos duas coisas: está disponível para consulta no Arquivo da Fundação Mário Soares, em Lisboa; será objecto de estudo no nosso O Essencial sobre Mário Sottomayor Cardia com publicação prevista para Novembro de 2007 pela INCM, Lisboa. [��� 14] introdução para cursar Direito. Este facto é pouco conhecido por, ao fim de um ano, a sua opção ter sido transferir‑se para Filosofia, onde veio a for‑ mar-se depois de ter sido obrigado, por motivos políticos, a fazer parte do curso em Coimbra. Este período foi decisivo, tanto a nível pessoal como intelectual, e ainda em termos da sua imagem e activi‑ dade pública como intelectual. Sem verdadeira convicção marxista, pois o seu conhecimento dos textos de Marx sempre foi temperado por um racionalismo quase neopositivista (que com o tempo, aliás, evoluiu para áreas teóricas bem diversas), o jovem Cardia aderiu em 1962 ao PCP, por simpatia pela luta contra o regime, pouco depois de ter estado envolvido nas greves académicas de 1962. A mudança académica, a influência marcante de Francisco Vieira de Almeida, a actividade política, o protagonismo estudantil, a intervenção oral e escrita distintiva, o encontro com Luísa Ducla Soares, a actividade editorial e associativa, tudo na primeira metade da década de 1960, constituem um conjunto de acontecimentos de importância difi‑ cilmente igualável. Não espanta, portanto, que vários testemunhos dêem conta deles, como sucede nos textos de Vasco Vieira de Almei‑ da e de Gastão Cruz; também vários dos estudos remetem para esta época, como o de Daniel Melo. A segunda metade da década de 1960, e também os primeiros três anos da década seguinte, são ainda de juventude, embora a influên‑ cia que Mário Sottomayor Cardia já havia adquirido tornasse isso um aspecto menor. Redactor e, depois, chefe de redacção da Seara Nova no período de maior expansão desta, não por acaso um período crítico, em rigor derradeiro, do Estado Novo, intelectual prestigiado na Oposição com contacto directo com os líderes políticos mais relevantes (como Álvaro Cunhal), Cardia manteve‑se sempre como um intelectual na política. É nestes anos que começa a produzir algo a que pode chamar a sua Obra: depois de um ensaio filosófico (prefaciado por [��� 15] liberdade sem dogma Vieira de Almeida) que nunca chega a colocar no mercado por desin‑ teligências com o editor, é responsável pela organização e introdu‑ ção ao volume colectivo intitulado O Progresso, que reúne ensaios sobre este tema de autores tão diversos como Teilhard de Chardin e Raúl Proença, para citar apenas dois nomes. No seu ensaio intro‑ dutório, escrito dentro de uma perspectiva marxista, notam‑se já as principais características da escrita de Cardia: elegância, sentido de humor discreto, clareza exemplar, dureza bem calculada. Notam‑se igualmente marcas de polémicas que as páginas da Seara neste período irão acolher (sobre o «Ulianovismo», prova cabal da sua hetero‑ doxia aos olhos dos verdadeiros leninistas ortodoxos), bem como de várias das «Notas Soltas» e de algum «Noticiário Crítico» que, com o seu nome ou através de pseudónimos, Cardia assinou durante anos na revista. Não há como sobrestimar a relevância do trabalho constante na Seara na produção teórica de Cardia. Ela origina livros, quer de análise, como O Dilema da Política Portuguesa (Prelo, Lisboa, 1971), contemporâneo da célebre antologia da Seara Nova que Cardia orga‑ niza e prefacia, quer de polémica com António José Saraiva a pro‑ pósito de Maio e a crise da civilização burguesa, a que Cardia res‑ ponde com o seu ensaio «Sobre o antimarxismo contestatário — ou as infelicidades de um jdanovista ofuscado pelo neocapitalismo» (1972), quer ainda esboços de projectos para o futuro, como «Por Uma Democracia Anticapitalista» (1973), todos eles publicados pela Seara Nova. No termo deste processo, está já em ruptura com o PCP (iniciada em 1968) e adere ao PS ainda em 1973. Por tudo isto, e além de testemunhos e estudos que já mencionámos, encontram‑se neste volume vários textos relativos a este período e suas consequências Racionalismo, Consciência Metodológica, assinado simplesmente Sottomayor Cardia (como sempre sucederá) e previsto ser o n.º78 da Biblioteca Arcádia de Bolso (Arcádia, Lisboa, 1963). À data em que escrevo, prevê‑se a sua publicação em 2007, acompanhada de estudo introdutório de António Braz Teixeira, pela INCM, Lisboa. O volume, em que Cardia surge designado como Sotto Mayor Cardia, foi publicado em Lisboa, pela Editorial Presença (com o responsável da qual, Francisco Espadinha, Cardia veio a manter uma longa relação não só editorial mas de amizade) em 1965. [��� 16] introdução para o futuro: o relato desapaixonado e crítico da polémica com Saraiva escrito por Miguel Real; a reflexão sobre a relação do pen‑ samento político de Cardia com o espírito seareiro dos primórdios que antologiou, por Manuel Filipe Canaveira; os desenvolvimentos posteriores das posições políticas de Cardia neste período, por João Miguel Almeida. Como os leitores da Seara facilmente percebiam, o materialis‑ mo de Cardia era cada vez mais anti‑dialéctico; e o afastamento do PCP foi lógico, tal como a adesão ao PS ainda antes do 25 de Abril. O rótulo anti‑fascista aplica‑se‑lhe particularmente bem, tendo-se o próprio regime encarregado de o legitimar com sucessivas prisões e um espancamento famoso pela sua brutalidade, que o privou de visão durante dois meses. A censura estava atenta, como anotou no projecto autobiográfico Combates Passados: Em nota interna dos serviços de censura consta: «Não se trata de um livro, trata‑se de um panfleto político, talvez o mais violento que aparece de há muito tempo para cá. O tema é a luta entre o fascismo e a democracia. Conclui‑se pela inviabilidade da evolução pacífica do actual regime político para o regime socialista desejado pelo autor. Analisam‑se as principais reformas anunciadas ou efectuadas pelo Governo, classificadas como meras concessões às necessidades da evo‑ lução do capitalismo, dizendo que estas em nada alteram a substância dos sistemas vigentes, nem permitem a sua evolução. Em muitos pontos ridiculariza‑se a actuação do Sr. Presidente do Conselho, que em outros momentos é acusado de duplicidade. O problema do Ultramar é tratado de “problema colonial”. »O autor tem uma certa lucidez na análise da situação política portu‑ guesa. Por outro lado, a linguagem acessível do livro e o seu baixo preço garantem‑lhe uma larga audiência. As afirmações de que não é possível uma evolução pacífica do regime, e o que melhor se pode fazer pelo socialismo é a consciencialização das massas trabalhadoras do papel que podem desempenhar numa futura mudança violenta, transformam este [��� 17] liberdade sem dogma panfleto num apelo à revolta. Concluindo: sou do parecer que seja proi‑ bido de circular o livro O Dilema da Política Portuguesa de Sottomayor Cardia.» Citado por Cândido de Azevedo, Mutiladas e Proibidas, Lisboa, Cami‑ nho, 1997, p. 145. Combates Passados, p. 45 Eurocomunista antes do seu tempo, «eurosocialista» antes do 25 de Abril de 1974, a revolução surgiu quando o seu aggiornamento parti‑ dário (não intelectual, de que não estava muito carecido) estava já feito. A partir daqui, é de um período de maturidade, grande matu‑ ridade, que se trata. O período 1974‑1978 é talvez o que melhor se pode comparar aos anos do primeiro lustro da década de 1960. Primeiro como ideólogo do PS, depois como deputado à Assembleia Constituinte, por fim como ministro da Educação dos dois primeiros governos constitucionais, sob a liderança de Mário Soares, a sua notoriedade pública e a qualidade teórica e prática da sua intervenção política foi constante e distinta. Como José Leitão documenta no seu texto, esta influência de Sottomayor Cardia no Partido Socialista explica‑se pelo seu passa‑ do oposicionista, tanto enquanto experimentado redactor agora ao serviço do Portugal Socialista, como pela sua longa prática de diálogo com interlocutores estranhos às grandes famílias da Esquerda (maxi‑ me, católicos). Igualmente fruto desse passado, a fina percepção das tácticas comunistas de tipo frentista, que o levaram a propor com sucesso posições quanto ao espectro político então em formação, que até hoje são relevantes (e que motivaram, imediatamente após a sua morte, as polémicas à esquerda a que acima se fez referência). Por últi‑ mo, esse mesmo passado de voluntária dissidência predispunha‑o às rupturas, mesmo as dolorosas, que se iniciaram na década de 1980 (o significativo caso da votação da lei de segurança interna narrado por José Leitão não foi o único, nem o primeiro, episódio desse processo). [��� 18] introdução Atento ao seu tempo, Cardia foi também fruto dele e das suas cir‑ cunstâncias. Quem o conheceu na Faculdade e o reencontrou na Constituinte, como se lê no testemunho de Jorge Miranda, recorda um deputado à Assembleia Constituinte da maior envergadura — numa assembleia já de si notável. Nas lutas pela liberdade de expres‑ são, ao lado de Mário Mesquita, enquanto a bancada comunista ten‑ tava abafar o som das suas intervenções aos gritos de «renegado»; nas lutas contra a unicidade sindical, ao lado de Soares e Zenha; no episódio simbólico do cerco à Assembleia, em que uma das imagens marcantes é a da sua saída do edifício, de cabeça erguida no meio dos manifestantes; enfim, Cardia é ainda hoje recordado por seus cole‑ gas tão insuspeitos, como Marcelo Rebelo de Sousa, como um dos, se não o, mais brilhante orador daquela Assembleia Constituinte. Após a eleição de 1976, e até 1978, ocupará um dos cargos de maior atrito público e partidário no governo, o de ministro da Edu‑ cação. A sua importância no cargo é comparável à que o cargo teve nele (numerosas páginas das suas projectadas memórias atestam ‑no). Usando da mesma firmeza, mesmo dureza, que empregara na chefia da redacção da Seara, afastou das posições de influência todos os que durante o PREC haviam contribuído para tornar ingoverná‑ vel o sistema de ensino. Indiferente às pressões da rua e aos slogans do «Cardia que ardeu», nessas lutas fez algumas das suas melhores intervenções, como o discurso justificativo do encerramento da Universidade de Coimbra durante seis semanas, e fez questão de se deslocar à baixa da cidade para demonstrar a sua capacidade de ini‑ ciativa. Criou o ano propedêutico (hoje 12.º ano), institucionalizou as ciências sociais na Universidade portuguesa e contribuiu decisiva‑ mente para a criação das chamadas «universidades novas». No meio de toda esta actividade e tensão, a sua figura frágil com óculos Diários da Assembleia Constituinte — 2 de Junho de 1975 a 2 de Abril de 1976, 4 vols., ed. As‑ sembleia da República, Lisboa, 1995. A que se refere brevemente em Salazar, Abril e O Presente, opúsculo de cariz histórico, de 1985, significativamente publicado pela UGT. Neste sentido, veja‑se o que recorda Marcelo Rebelo de Sousa nos dois volumes (em espe‑ cial o segundo) A Revolução e o nascimento do PPD (Bertrand Editora, Lisboa, 2000). [��� 19] liberdade sem dogma imensos, a permanente atenção aos pormenores (até à pontuação nos textos dos decretos‑lei) entraram para o anedotário nacional numa forma invulgar mas apropriada: a da curiosidade pelo raro. Jorge Miranda refere a sua importância, igualmente comentada por José Castelo, e o testemunho de Maria Emília Melo articula expres‑ sivamente essa sua actividade no Ministério com a sua personalida‑ de e restante acção política. A década de 1980 foi marcada por um maior equilíbrio entre as acti‑ vidades políticas e as teóricas. Uma sua proposta de revisão dos estatutos do PS, no sentido de abolir a referência ao marxismo, foi recusada em 1980 — mas o tempo dar‑lhe‑ia razão (aliás, já tinha dado). Em 1982 publica Socia‑ lismo Sem Dogma (texto escrito e revisto desde o final da década ante‑ rior). Livro sem par na teoria política portuguesa, como nota Mário Soares num prefácio bem pensado e melhor escrito, a sua elabora‑ ção conceptual e clareza de exposição são do melhor que Cardia escreveu, combinando ainda, por força do carácter ainda recente da sua actividade governamental, numerosas observações de natureza político‑partidária. Quem comparar este pequeno volume com as divagações dos grandes nomes da Geração de 70 sobre o Socialismo verá a diferença entre os letrados amadores e o teórico experimen‑ tado politicamente. Necessariamente polémico à época, rompendo com o colectivismo (comunismo) em nome do socialismo de distri‑ buição (assimilado à social democracia nórdica, que não a portugue‑ sa), a sua recepção foi ainda assim positiva. Pena é que tenha caído no olvido, embora não seja de espantar, dado o percurso do autor para fora da vida política, o desamor português (e não só dos «políticos») por coisas de pensamento, e o destino comum a este tipo de obras (pense‑se num dos melhores livros de Eduardo Lourenço, O Fascismo Nunca Existiu). Quem foi aluno de Cardia, como é o meu caso, sabe bem que ele nunca falava do seu trabalho, mas pelo menos neste caso [��� 20] introdução deveria ter aberto uma excepção. Raros livros sobre o socialismo e a Esquerda democrática de há um quarto de século são mais actuais hoje do que este, e pena é que o próprio Sottomayor Cardia não o tenha revisitado quando se impacientou definitivamente com o PS (impaciência que nunca o impediu de manter regular convívio com o «seu» meio, do qual nunca se auto‑excluiu tão bruscamente como sucedeu com Salgado Zenha). Se algo há a lamentar neste volume é a ausência de um contributo específico sobre esta obra e as suas relações com a Obra e o seu autor, mas de certo modo não surpreen‑ de. Pelo menos no trabalho monográfico já referido acima (nota 2), Socialismo Sem Dogma será objecto de um comentário mais desenvol‑ vido. Sobre o tema há, no entanto, uma anotação nas memórias em que trabalhava, sob o título Combates Passados, que merece ser citada (apesar de Sottomayor Cardia ainda a pretender rever): Também ponderou o seguinte. Definia e define socialismo como uma ideologia socioeconómica que, inserida em tradição ou tradições auto ‑identificadoras, sustenta que o Estado ou outra entidade pública deve ter intervenção directa na tutela de actividades económicas, ou outras consideradas do ponto de vista do respectivo custo económico, por razões de justiça social (e não apenas de eficácia económica). Designa‑ damente, em regime capitalista, através de redistribuições da riqueza que permitam prestações favoráveis aos mais fracos. Ora acontecia que vários partidos socialistas no poder tinham enveredado triunfantemente pela via de catadupas de privatizações. Como pode alguém credenciado explicar credivelmente, a jovens que no máximo viveram meia dúzia de anos de tempo político, que o socialismo consiste afinal naquilo mesmo que estava a ser aceleradamente destruído quase tanto por socialistas como por anti‑socialistas? Em todo o caso, o autor de Socialismo sem Dogma teve uma «vitória» em que não se reconheceu suficientemente, sobretudo a partir dos anos 90. O socialismo «de distribuição» foi mal e excessivamente aplicado por tan‑ tos dos que, na década anterior, mais dissentiram da descolectivização [��� 21] liberdade sem dogma e da crítica do marxismo. Rodaram cento e oitenta graus, quando era razoável que tivessem mudado cento e vinte. Não quero correr o risco de contribuir para que inestimáveis glórias do pensamento nacional venham a receber na história do seu valoroso e copioso labor, um ou outro piedoso ou apologético salpico infra‑heróico. (Combates Passados, p. 110) Em matérias mais filosóficas, Cardia trabalhava no seu doutoramen‑ to, projectado inicialmente como um estudo sobre o pensamento filosófico de António Sérgio. Apesar de abandonado, por uma certa resignação à falta de propriedade do tema para um trabalho como o doutoramento, deu origem ao que permanece até hoje o melhor estudo sobre o pensamento filosófico do jovem Sérgio. Na mesma década, integrado no congresso comemorativo do primeiro cente‑ nário do nascimento de Vieira de Almeida, elabora sobre o seu mes‑ tre o importante estudo «Vieira de Almeida e a Atitude perante a Metafísica». Cruzando a cultura portuguesa e a cultura filosófica no espírito comum a Sérgio e a Vieira de Almeida, permanecia contudo atento ao seu tempo. Deputado à Assembleia da República, de 1983 a 1991, e manten‑ do actividade como autor, em que articulava a política do presente com a história de Portugal (o já referido Salazar, Abril e o Presente), torna‑se pouco a pouco mais distante do PS. Momento simbólico desse distanciamento é a votação da Lei de Segurança Interna duran‑ te o governo do Bloco Central, que, no seu contributo neste volu‑ me, José Leitão (outro dos envolvidos) recorda 10. Mas é só depois Trata‑se de «O Pensamento Filosófico do Jovem Sérgio», publicado na revista Cultura, vol. I, Lisboa, UNL — CHC, 1982. Cardia, contudo, nunca se desinteressou de Sérgio, um dos seus mestres (juntamente com Vieira de Almeida e Edmundo Curvelo), sendo um dos seus últimos ensaios publicados «António Sérgio ou o Mentalismo Relacional», comunicação apresentada ao congresso comemorativo de Sérgio «António Sérgio: Pensamento e Acção», realizado no Porto em 2003 (cf. vol. I das Actas, Lisboa UCP — Centro Regional do Por‑ to — INCM, 2004). Posteriormente publicado em Vieira de Almeida — Actas do Colóquio do Centenário, Lisboa, Faculdade de Letras, 1991. 10 Para uma visão, em tempo real, do próprio Cardia, cf. o seu volume de colectânea de arti‑ gos Prosas Sem Importância, Editorial Presença, Lisboa, 1985. [��� 22] introdução da liderança de Mário Soares, que neste volume contribui com um testemunho rico e sentido, e do breve período de Almeida Santos como secretário‑geral do Partido Socialista, que as tensões se agra‑ vam, durante o mandato de Constâncio e sobretudo com a eleição de Jorge Sampaio. Foi uma evolução no PS que significava uma der‑ rota para um certo PS («o nosso PS», como dizia Jaime Gama em campanha contra Sampaio), derrota que, somada à trajectória já de si singular do próprio Cardia, o afastou da vida partidária e, em 1991, das listas de candidatos a deputados do PS. Dificilmente um volume de homenagem seria adequado para fazer a história desse processo. Aliás, tirando o desgosto de sempre pelos membros do grupo do MES, que é público e de que as projecta‑ das memórias dão boa conta, é o tipo de processos de longa duração, muito atrito e numerosos equívocos causados por interpretações muitas vezes em causa própria, o tipo de coisas de que não haverá nunca história possível. O sentimento geral é expresso pela fórmula «o Sottomayor Cardia foi maltratado pelo partido», dizendo‑se com isto que a dissidência maior, no final da década de 1980, durante a revisão constitucional negociada entre PS e PSD, foi usada como pretexto para levar a um afastamento que, tomado por si, não seria justificável (leia‑se por exemplo o testemunho de Medeiros Fer‑ reira neste livro). Seja ou não assim, certo é que a década seguinte veio confirmar esse afastamento, ainda que matizado pela contínua participação de Cardia em convívios tradicionais do PS: afastou‑se do PS em 1997, desapontado com a recusa de Guterres em levar à Assembleia da República um projecto de despenalização do abor‑ to preparado pela JS (de passagem: os textos de jornal de Cardia sobre o tema são do melhor que se publicou em Portugal). No fim dessa década, início da actual, chegou a participar em acções do BE e afirmou não saber o que era agora, politicamente, o PS. De novo, uma revisão do Socialismo Sem Dogma teria sido muito útil. Mas a história, teórica e pessoal, bem como as homenagens, não se faz no condicional. [��� 23] liberdade sem dogma Professor do departamento de Filosofia da Universidade Nova de Lis‑ boa, Cardia defende em 1992 a sua tese de doutoramento, publicada no ano seguinte sob o título Ética I (a numeração devia‑se ao projecto de escrita de um conjunto de obras, de tipo sistemático, relacionando a ética com a política, a linguagem e a sociedade, projecto nunca con‑ cretizado — embora o Socialismo Sem Dogma possa ombrear com a dis‑ sertação e fazer o papel de tomo relativo à política). Trata‑se do mais elaborado trabalho académico sobre a estrutura da moralidade até hoje feito em Portugal e mereceu boa recepção, quer nas provas de douto‑ ramento quer quando foi publicado. A sua extrema complexidade é, neste volume, exemplarmente explicada por António Braz Teixeira. Embora a sua experiência docente tenha sido infeliz, vítima de um progressivo agravamento do seu estado de saúde, aqueles que buscavam num professor não só conhecimento (imenso), honestida‑ de intelectual (consumada) e disponibilidade (completa), mas ainda liberdade, nunca o esquecerão. É por isso com particular agrado que, além das minhas linhas a este respeito, esta homenagem dá ao público o testemunho de outra sua aluna dos tempos de licenciatura em Filosofia, Cristina Lisboa. O ambiente a nível de departamento era, contudo, mau e Cardia, sobretudo após uma falhada candidatu‑ ra à presidência da República (em 1994, a que se seguiu um período de baixa por motivos de saúde), foi activamente hostilizado. Como vários dos melhores docentes e autores do departamento, preferiu sair, sendo então acolhido no recém‑criado Departamento de Estu‑ dos Políticos da UNL, onde leccionou, com crescentes dificuldades, até pouco antes de falecer. Hoje, a sua imensa biblioteca particu‑ lar (era uma das maiores de Portugal) encontra‑se na FCSH, onde merecerá tratamento de algum destaque. O testemunho de L. A. Costa Dias dá, aqui, alguma medida dessa sua faceta bibliófila. A sua morte originou um conjunto de manifestações de pesar mais ou menos públicas e de evocações de tempos mais combativos da [��� 24] introdução política portuguesa. Acessoriamente, um reconhecimento, escasso dada a ignorância de tantos, da Obra de um dos filósofos mais inte‑ ressantes do século xx português. Como é sabido, em Portugal os mortos são sempre mais apreciados do que os vivos e, pelo menos se os seus escritos inéditos permanecerem nesse estado, Sottomayor Cardia não será excepção. Uma homenagem por ocasião do primeiro ano da sua morte, mais a mais colectiva, não pode nem deve pretender ser uma cor‑ recção dos males do mundo nem nada de definitivo. O importante, no seu caso como no de todos os pensadores e homens públicos da sua envergadura, é conhecer o que fizeram e pensar consequente‑ mente. Nada fácil, mas muito apetecível. Esta homenagem ambi‑ ciona, sim, fazer justiça a um homem, a uma acção e a uma obra filosófico‑política por uma vez merecedores do termo notável: lem‑ brar os combates de Mário Augusto Sottomayor Leal Cardia. Ajuda, Agosto‑Setembro de 2007 [��� 25] Índice Onomástico Abelaira, Augusto: 47-49, 88 Alegre, Manuel: 97, 160-1 Almeida, João Miguel: 17, 143 Almeida, José Lopes: 95 Almeida, Pedro Ramos de: 49, 87 Almeida, Vasco Vieira de: 15, 39 Almeida, Vieira de: 15, 22, 39-42, 165 Amado, Fernando: 95 Andresen, Sofia de Melo Breyner: 95 Antunes, Ernesto Melo: 145, 149 Antunes, Manuel: 156 Arnault, António: 92 Aron, Raymond: 128 Barreto, António: 67 Barros, Henrique de: 92 Bentham, Jeremy: 174 Brandão, Fiama Hasse Pais: 35, 65, 97 Brandão, Raul: 87 Brandt, Willy (pseud.): 130 Brecht, Bertolt: 163 Cabeçadas, Rui: 47 Caetano, Marcelo: 49, 91, 122, 133 Calvão, Alpoim: 149 Canaveira, Manuel Filipe: 17, 119 Cardoso, António Lopes: 47 Cardoso, António Manuel Monteiro: 92 Carneiro, Francisco Sá: 158 Carvalho, Alberto Arons de: 92, 96 Carvalho, Otelo Saraiva de: 150-1 Casimiro, Augusto: 88 Castelo, José: 20, 135 Cláudio, Mário, (pseud.): 14, 29 Cintra, Luís F, Lindley: 35 Coelho, Eduardo Prado: 35 Coelho, Mário Brochado: 95 Colaço, Isabel Maria de Magalhães: 55 Correia, Fernando: 48, 88 Cortesão, Jaime: 87, 122, 128 Costa, Emílio: 87 [���� 203] liberdade sem dogma Costa, Francisco Ramos da: 63 Cruz, Gastão: 15, 35, 65, 97 Cunhal, Álvaro: 15 Curto, Marcelo: 62, 92 Curvelo, Edmundo: 165, 167 de Klerck, F. W.: 122 Delgado, Humberto: 14, 44, 71, 81 Dias, L. A. Costa: 25, 51 Dubcek, Alexandre: 130 Eanes, Ramalho: 63 Fabião, Carlos: 150 Fafe, José Fernandes: 84 Fernandes, Rogério 47, 48, 80, 88 Ferraz, Carlos Vale (pseud.): ver Gomes, Carlos Matos Ferraz, José de Freitas: 137 Ferreira, Alexandre: 97 Ferreira, José Gomes: 95 Ferreira, José Medeiros: 35, 47, 61, 65, 84, 85 Feuerbach, Ludwig: 127 Fiadeiro, Maria Antónia: 61, 80 Figueiredo, Eurico de: 47, 161 Gama, Jaime: 23, 90, 92, 157 Garaudy, Roger:110 Gedeão, António (pseud.): 37 Gil, Fernando: 165 Godinho, José Magalhães: 92 Godinho, Vitorino Magalhães: 137 Gomes, Mário de Azevedo: 61, 87 Gomes, Carlos Matos: 50 Gomes, Francisco da Costa: 148, 150 Gonçalves, Vasco: 148-9 Gorz, André: 145 Gorbachov, Mikhail: 122 Goulão, Isabel: 12 Gramsci, Antonio: 110 Grilo, Eduardo Marçal: 139 Gruppi, Luciano: 87 Guichard, Jean: 156 Gurvitch, Georges: 85 Hegel: 127 D. Henrique, Infante: 128 Herculano, Alexandre: 40, 42, 88, 125 D. João II: 128 Jorge, Luísa Neto: 35 Junqueiro, Raul: 140 Kerenski: 146 Kolakowski, Leszek: 110 Lapa, Manuel Rodrigues: 49 [���� 204] índice onomástico Leitão, José: 18, 23, 155, 160-1 Lenine, Pseud: 87 Leone, Carlos: 80 Lima, Francisco Reis: 31 Lisboa, Cristina: 24, 71 Lopes, Joana: 95 Lopes, Óscar: 108 Lourenço, Vasco: 151 Luckács, Georg: 110 Macedo, Ferreira de: 87 Magalhães, Joaquim Romero de: 139 Marques, A, H, de Oliveira: 68 Marques, Almerindo: 139 Marques, Margarida: 161 Matos, Luís Salgado de: 157 Matos, Nuno Godinho de: 80, 91-2 Melo, António: 50, 80 Melo, Daniel: 15, 79 Melo, Maria Emília: 20, 57 Menano, Horácio: 96 Mesquita, Mário: 19, 92 Mestre, Joaquim: 96 Miguéis, José Rodrigues: 87, 122 Mill, Stuart: 174 Miranda, Jorge: 19-20, 53 Monteiro, Manuel Strecht: 31 Morais, Tito: 63, 72 Moreira, Joaquim: 31 Moura, Francisco Pereira de: 157 Moura, Helena Cidade: 95 Namorado, Joaquim: 84 Nascimento, Ulpiano do: 47, 88 Newton, Isaac: 129 Oliveira, J, Tiago de: 140 Oneto, Fernando: 63 Pearls, Miss, (pseud.): ver Goulão, Isabel: Pecegueiro, José de Vargas dos Santos: 14 Pedro, Edmundo: 160-1 Pereira, Carlos Veiga: 47 Pereira, José Esteves: 68 Pereira, Nuno Teotónio: 80 Pessoa, Fernando: 37 Picchiochi, Rui Monteiro: 161 Pimentel, João Sarmento: 87 Pinochet, Augusto: 146 Portas, Nuno: 95 Proença, Rau: 16, 87-8, 122 Queirós, Eça de: 88 Quental, Antero de: 40, 42 Real, Miguel, (pseud.): 17, 105 Rego, Manuela: 12, 80 [���� 205] liberdade sem dogma Reis, António: 14, 47, 52, 62, 80, 88, 92, 95, 140, 160 Reis, Câmara: 47, 87, 122 Révah, I.S.: 107 Ribeiro, Alberto Teixeira: 82 Ribeiro, Hélder: 61 Rodrigues, João Resina: 156 Rodrigues, Urbano Tavares: 96 Rosa, Faure da: 95 Rosário, Alberto Trovão do: 140 Ruivo, Mário: 47 Sampaio, Jorge: 23, 47, 67, 85, 86, 90, 95, 96 Santos, Almeida: 23, 97 Santos, Fernando Piteira: 61 Santos, Nuno Brederode: 88 Saraiva, António José: 16, 17, 87, 105-118 Sasportes, José: 96 Schaff: 110 Sérgio, António: 22, 40-42, 87, 88, 92, 112, 122, 127, 165, 166 Serrão, Joel: 85 Sertório, Manuel: 47 Silva, Agostinho da: 112, 113 Silva, Joaquim Alberto da Cruz e: 139 Silveira, Mousinho da: 125-6 Simão, Veiga: 137 Skapinakis, Nikias: 47 Soares, Luísa Ducla: 12, 15, 20, 35, 65, 80, 81, 94, 97 Soares, Mário: 18-9, 23, 56, 59-61, 66-7, 72-3, 85-6, 90, 95-6, 98, 160 Sousa, Joaquim de: 140 Sousa, Marcelo Rebelo de: 19 Spínola, António de: 63, 148-9, Suárez, Adolfo: 122 Tavares, Francisco de Sousa: 95 Teilhard de Chardin, Pierre: 16 Teixeira, António Brás: 24, 165 Teixeira, M.J.A., (pseud): ver Almeida, Pedro Ramos de Teles, Gonçalo Ribeiro: 95 Teles, José Manuel Galvão: 95 Tengarrinha, José: 90 Valente, João Carlos Passos: 35, 37, 65 Valente, Vasco Pulido: 96 Vareda, José Henriques: 91 Verde, Cesário: 79 Vicente, Arlindo: 44 Vieira, Luandino: 94 Wengorovius, Vítor: 90 Zenha, Francisco Salgado: 18, 21, 63, 86, 90, 92, 157 [���� 206] Li b e rd a d e Se m D o g m a é u m a e d i ç ã o t i n t a- d a- c h i n a composta em caracteres hoefler text e impressa pela guide, artes g r á f i c a s , s o b r e pa p e l b e s aya d e 80 g r s . n u m a t i r a g e m d e 1 o o o exemplares, em novembro d e 2007.