Controle Microbiológico nas Usinas de açúcar e álcool Prof.ª Drª Dejanira de Franceschi de Angelis 1. OBJETIVO O controle do crescimento da população microbiana dentro de um complexo industrial de açúcar e álcool objetiva essencialmente a diminuição das perdas de matéria-prima e, conseqüentemente, alcançar melhores rendimentos econômicos. 2. Pontos de Amostragem Água de lavagem da cana Caldo primário Caldo misto Análises que podem ser realizadas • nºbactérias/mL • Redução de resazurina • Plaqueamento (contagem geral) • nºbactérias/mL • Plaqueamento para produtores de goma e ácido • nºbactérias/mL • Plaqueamento para produtores de goma e ácido Caldo antes da sulfitação • nºbactérias/mL ou calagem • Plaqueamento para produtores de goma e ácido Caldo decantado • nºbactérias/mL • Plaqueamento para produtores de goma e ácido • Redução de resazurina • nºbactérias/mL Mosto e Mel • Redução de resazurina Xarope, água de diluição, caldo cru • Plaqueamento para produtores de goma e ácido Mosto antes e após os • Redução de resazurina trocadores de calor • Plaqueamento para produtores de goma e ácido Início de alimentação da dorna Final da alimentação • nºbactérias/mL • nº de células vivas/mL • % de viabilidade • % de brotamento • % de brotos vivos • Plaqueamento Leite de leveduras ou cubas • nºbactérias/mL • % de células vivas • % de brotamento • % de brotos vivos • plaqueamento 3. COLETA DE AMOSTRAS As amostras devem ser coletadas com muito cuidado, sempre da mesma forma e por pessoas de alta responsabilidade. Da coleta correta das amostras, acoplado com o bom desenvolvimento laboratorial, depende o resultado de uma empresa. O ideal é que as coletas sejam feitas em frascos inquebráveis, autoclaváveis e transparentes. Existem frascos especiais de coleta, que podem ser autoclavados. Quando as análises são para microbiologia, os frascos são de 200, 300 a 500 mL. As amostras preferencialmente devem ser amostras mistas ou compostas. Uma vez coletadas as amostras, os frascos devem ser fechados e guardados sob refrigeração de 5 ± 2ºC, pelo menor tempo possível. Dependendo da amostra é conveniente anotar no momento da coleta a temperatura e o pH. 4. AVALIAÇÃO DO NÚMERO DE BACTÉRIAS A avaliação pode ser feita pelos seguintes métodos principais: MICROSCÓPICA PLAQUEAMENTO FISIOLÓGICA MICROSCÓPICA A análise por contagem microscópica é importante pois permite relacionar possíveis aumentos das bactérias no mosto proveniente das diferentes etapas do processo. Para contagem pode-se empregar várias técnicas, entretanto a câmara de Neubauer é simples e confiável. PLAQUEAMENTO O plaqueamento embora não forneça o resultado imediato pode garantir a viabilidade dos microrganismos presentes além de poder avaliar a presença de microrganismos em volumes maiores. FISIOLÓGICA O método de resazurina permite avaliar de forma relativa a presença de atividade microbiana em função da mudança de cor no corante. A produção de ácido pode ser avaliada e comprovada mediante medida do pH, ou com aplicação de corantes como indicadores. Quanto à produção de goma, que é o resultado da polimerização de açúcares simples glicose e frutose que formam respectivamente dextrana e levana. 5. MATERIAL E MÉTODOS 5.1. Teste da Resazurina 9 Preparar uma solução de NaCl 9 g/L, ajustar o pH a 7,0 com solução de NaOH. 9 Solução de resazurina a 10 mg/L de solução de NaCl 9 g/L. A solução não deve ser estocada por muito tempo (10 dias), e deve ser protegida da luz e de altas temperaturas. 9 Preparar tubos com 9 mL de solução de resazurina, tampar com algodão, autoclavar 10 minutos a 121ºC. 9 Nos tubos com resazurina, adicionar 1 mL da amostra. Incubar em estufa ou banho-maria a 37ºC. 9 Anotar as mudanças de cor a cada 30 minutos (violeta-róseo-incolor), estão em relação direta com a atividade microbiana. Modificação da cor (horas) violeta róseo Avaliação da infecção Tratamento incolor - 0,5 3,0 alta imediato 0,5 2,0 4,0 alta imediato 1,0 4,0 6,0 média imediato 3,0 5,0 7,0 fraca normal 3,0 5,0 - desprezível preventivo 5.2. Plaqueamento Para este teste deve-se dispor dos seguintes materiais: autoclave; bico de bunsen; estufa de incubação; algodão placas de petri; reagentes: meios cultura que podem adquiridos prontos preparados à partir seus componentes tubos para diluição; pipetas; de ser ou de Preparo do Material: Placas de petri e pipetas devem ser esterilizadas embrulhadas em papel ou em recipientes próprios. A solução salina (NaCl a 0,85%) é colocada no volume de 9 mL em tubos. A seguir tampa-se com algodão e esteriliza-se em autoclave. Os meios de cultura quando preparados devem ser autoclavados para esterilização durante 15 minutos a 121ºC. A amostra a ser analisada deve ser representativa do ponto selecionado. Das amostras são feitas diluições decimais utilizando-se soluções contidas nos tubos. Deve-se diluir a amostra para se atingir entre 30 e 300 UFC (Unidades Formadoras de Colônias) por placa. Feitas as diluições, seleciona-se as que serão processadas. A seguir, retira-se 0,1 mL do tubo da diluição selecionada e transfere-se para a placa que conterá ou não o meio de cultura, depende da técnica a ser aplicada. Caso a placa não contenha o meio, este deverá ser colocado posteriormente, já liquefeito e a uma temperatura (± 50ºC), vertendo-o sobre a amostra, fazendo-se movimentos em forma de oito para homogeneizá-la no meio antes da solidificação. Caso o meio já tenha sido colocado na placa, este deve estar frio e solidificado ao se colocar a amostra na superfície. Neste caso a amostra é espalhada com auxílio de uma espátula de Drigalsky. Marcar na placa a amostra, a diluição, o volume de amostra e a data do experimento. Após estarem solidificadas, as placas são incubadas a 36ºC (bactérias) ou 28ºC (leveduras). Pode-se aplicar também uma temperatura de 30ºC para bactérias e leveduras. A incubação deve ser de 24 a 48 horas e a seguir as colônias são contadas. O experimento deve sempre ser feito em placas com duplicatas. Ex. de contagem na diluição a 10-3, plaqueando-se 0,1 mL Placa 1: 110 colônias Placa 2: 130 colônias Média: 120 colônias 120 x 103 x 0,1 = 1,2 x 104/0,1 mL 120 x 103 x (0,1 x 10) = 1,2 x 105 UFC/mL 5.3. Produção de ácido Amostras de caldo são coletadas nos diferentes pontos do processo em frascos, tubos ou recipientes esterilizados. A seguir são colocadas em uma solução contendo indicador com faixa de variação curta (ex. púrpura de bromocresol ou verde de bromocresol). Ajustar o pH das amostras a pH 6,8 para púrpura de bromocresol e pH 5,0 para verde de bromocresol. Os tubos são incubados a 30ºC e observados de hora em hora. Descartar após 12 ou 24 horas. Quando ocorrer predominância de bactérias ácidas as alterações ocorrem aproximadamente após 3 horas. 5.4. Produção de goma Amostras devem ser coletadas como no caso anterior e colocadas diretamente na estufa, caso a presença de goma seja numerosa o meio mostrase em 12 horas turvo e viscoso. Para acelerar a reação é conveniente acrescentar para cada 10 mL de amostra 2 mL de solução esterilizada de extrato de levedura a 20%. O número das bactérias formadoras de goma pode ser determinado pelo meio de Mayeux & Colmer ou ainda pelo meio CSN. As UFC aparecem convexas ou espalhadas, podem ser leitosas ou límpidas. 5.5. Técnica de contagem de células ou partículas Rotineiramente emprega-se em Microbiologia a Câmara de Neubauer, considerada como precisa e de leitura rápida para quantificar células de leveduras, esporos, bactérias e outras partículas. A câmara de Neubauer é conhecida por “lâmina hematimétrica”. Presta-se à contagem de células ou partículas visíveis ao microscópio ótico. As câmaras podem ser simples ou duplas, atualmente apresentam-se espelhadas para realçar a matéria a ser contada. De uma maneira geral tem: 1mm x 1mm x 0,1mm E esta área está dividida em 16 ou 25 quadrados. ¾ Quando estiver dividido em 25, cada quadrado terá 0,2mm. ¾ Quando estiver dividido em 16, cada quadrado terá 0,25mm. Assim o volume útil de cada quadrado médio é: 0,2mm x 0,2mm x 0,1mm = 0,004mm3 25 quadrados: 25 x 0,004 = 0,1 mm3 0,25mm x 0,25mm x 0,1mm = 0,00625mm3 16 quadrados: 16 x 0,00625 = 0,1mm3 RECORDANDO Considerando a profundidade da Câmara (1/10mm) e que as contagens são anotadas em cm3 (1 cm3 = 1 mL) o volume de um quadrado grande é: 1mm x 1mm x 0,1mm = 1/10 cm x 1/10 cm x 1/100 cm = = 1/10 000 cm3 ou 0,0001 cm3 REGRAS DE CONTAGEM 1) Conte as células usando o quadrado grande do centro. 2) Conte as células dos quadrados médios e as células que estiverem tocando as linhas superior e as linhas à direita. 3) Conte cerca de 200 a 250 células antes de determinar o número por cm3. Nos 25 ou 16 quadrados podem surgir 4 situações: A. Coincidir de haver 200 a 250 células, neste caso conte as mesmas e multiplique por 104 para obter o nº de células por cm3 Ex: 200 células 2 x 102 x 104 = 2 x 106 B. Pode haver menos de 200 células por quadrado grande, neste caso será necessário a contagem de células de alguns quadrados grandes laterais para atingir cerca de 200. Divida o nº de células pelo nº de quadrados grandes e multiplique por 104 para achar o nº de células por mL ou cm3. C. Pode haver mais de 200 células por quadrado grande, neste caso conte as células dos quadrados médios até haver contado cerca de 200. Determine o nº de células de um dos quadrados médios. Multiplique a média por 25 para obter as células por quadrado grande. Este nº x 104 fornece o número de células por cm3. Ex: 210 células em 3 quadrados médios (cada um medindo 0,2 x 0,2mm). Quantas células há por cm3 ? 210/3 = 70 células por quadrado médio 70 x 25 = 1750 em 0,1mm3 (1750 células por quadrado grande) 1750 x 104 = 17.500.000 ou 1,75 x 107 cels/cm3 D. O número de células é muito grande para ser contado. Neste caso a suspensão precisa ser diluída. 1 mL diluído em 9 mL de água ou solução salina é uma diluição de 1:10 ou 1/10, neste caso o nº de células contadas deve ser multiplicado por 10. Cálculos de Porcentagem de células de Leveduras % Viabilidade = vivas x 100 vivas + mortas % Brotamento = brotos x 100 vivas + mortas % Viabilidade dos Brotos = brotos x 100 Br. Vivos + Br. Mortos Flocos por campo (mL) = Flocos nº de quadrados Soluções usadas na Contagem de Leveduras Sol. A – Solução de Sulfato Azul de Nilo 20 g de sulfato azul de Nilo em 100 mL de água destilada. Sol. B – Solução de Azul de Metileno 0,2 g de azul de metileno em 100 mL de água destilada. USO: solução A + solução B em partes iguais Eritrosina 1 g de eritrosina em 100 mL de água destilada. Diluir 1 mL desta solução em 50 mL de solução tampão (partes iguais de 0,2 M de Na2HPO4 e 0,2 M de NH2PO4); ficando solução de corante 1:5000. Guardar em refrigerador. 1 mL (suspensão de células) + 1 mL solução corante BIBLIOGRAFIA LIMA, A. O.; SOARES, J.B.; GRECO, J.B.; GRAUZZI, J.E.; CANÇADO,J.R. – Métodos de laboratório aplicados a Clínica – 5ª edição – pg 403 – 411 SHARF, J.M. – Métodos recomendados para o exame microbiológico de alimentos – Ed. Polígono – 1972 – pg 239 SUSSMAN, A.S. – Microrganismos, Crescimento; Nutrição e Interação – Edart – SP, 1975 – pg 56 – 58