arbon Tracker
Initiative
Curvas de custo da oferta de
carbono: Avaliação do risco
financeiro das despesas de
capital em carvão
Acerca da Carbon Tracker
Agradecimentos
Exoneração de responsabilidade
A Carbon Tracker Initiative (CTI) é uma equipa composta por
especialistas financeiros que tornam real o risco climático
nos mercados financeiros atuais.
O presente trabalho constitui uma síntese baseada na
investigação levada a cabo em parceria com a Energy
Transition Advisors, ETA, e o Institute of Energy Economics
and Financial Analysis, IEEFA. Os documentos de apoio
completos relativos à investigação elaborados pela ETA
encontram-se disponíveis no nosso sítio Web. A ETA é
liderada por Mark Fulton, que trabalhou com Tim Buckley
do IEEFA e Clyde Henderson da Energy Economics. James
Leaton, Luke Sussams, Andrew Grant, Reid Capalino e
Margherita Gagliardi contribuíram da parte da CTI. A análise
da procura aplicada nos trabalhos relativos à investigação foi
desenvolvida pelo IEEFA.
A CTI é uma empresa sem fins lucrativos criada para
elaborar novas reflexões sobre o risco climático. A CTI
publica a sua investigação para o bem público em
conformidade com os objetivos sem fins lucrativos
da CTI. A sua investigação é fornecida gratuitamente
e a CTI não procura qualquer tipo de compensação
financeira direta ou indireta pela mesma. A organização
é financiada por um conjunto de fundações
europeias e americanas. A CTI não é uma consultora
de investimento e não faz quaisquer declarações
relativamente à conveniência de investir em qualquer
empresa, fundo de investimento ou outro veículo
específico. A decisão de investir em tal fundo de
investimento ou outra entidade não deve ser feita com
base em nenhuma das declarações apresentadas nesta
publicação. A CTI encomendou à Energy Transition
Advisors (ETA) a realização dos aspetos-chave desta
investigação. A investigação é exclusivamente
fornecida para a CTI servir os seus objetivos sem fins
lucrativos. A ETA não está autorizada a utilizar esta
investigação para garantir qualquer compensação
financeira direta ou indireta. As informações e análise
da ETA contidas no presente relatório de investigação
não constituem uma proposta para vender valores
mobiliários ou uma solicitação de oferta de compra,
ou uma recomendação de investimento em quaisquer
valores mobiliários nos Estado Unidos ou em qualquer
outra jurisdição. As informações não pretendem ser
aconselhamento financeiro. O presente relatório de
investigação apenas fornece informações de caráter
geral. As informações e opiniões constituem uma
apreciação à data indicada e estão sujeitas a alterações
sem aviso prévio. Por conseguinte, as informações
poderão não ser exatas ou atuais. As informações
e opiniões contidas no presente relatório foram
compiladas ou provenientes de fontes que foram de
boa-fé consideradas fiáveis, mas não é feita qualquer
declaração ou garantia, expressa ou implícita, pela CTI
ou a ETA quanto à exatidão, completude ou correção.
Tanto a CTI quanto a ETA não garantem que as
informações estejam atualizadas.
A investigação levada a cabo até à data sobre o carbono
incombustível e os ativos improdutivos iniciou um novo
debate sobre como
alinhar o sistema financeiro com a transição energética
para um futuro hipocarbónico.
Esta última série de investigação pretende explorar mais
pormenorizadamente os planos de despesas de capital dos
setores do carvão, petróleo e gás.
Contacto
James Leaton
Diretor de Investigação
[email protected]
www.carbontracker.org
twitter: @carbonbubble
A análise subjacente contida no presente relatório,
preparada pela CTI-ETA, tem por base os dados licenciados
do custo de abastecimento do Modelo Económico Global
da Wood Mackenzie Limited. A Wood Mackenzie é um
líder mundial de informações comerciais respeitantes
à energia, aos metais e indústrias extrativas. Fornecem
uma análise objetiva sobre os ativos, as empresas e os
mercados, facultando aos clientes os conhecimentos de que
necessitam para tomarem melhores decisões estratégicas. A
análise apresentada e as opiniões manifestadas no presente
relatório são exclusivamente as da CTI-ETA.
A CTI e a ETA gostariam de agradecer os contributos
daqueles que fizeram a revisão dos projetos de documentos:
Anthony Hobley, Mark Campanale, Jeremy Leggett, Nick
Robins e Tom Sanzillo.
Conceção e composição da Soapbox,
www.soapbox.co.uk
© Carbon Tracker Initiative Setembro de 2014
Sumário executivo
Curvas de custo da oferta de carbono
Principais conclusões
A investigação da CTI foi concebida com vista a estimular
novas ideias sobre o futuro da energia e do clima para
a comunidade de investidores. O presente relatório, o
segundo de uma série de vários, resulta de uma colaboração
entre a CTI e a Energy Transition Advisors (ETA) em que
se conjugaram, pela primeira vez e na forma de uma curva
de custo, estimativas quanto à procura e oferta de carvão
no futuro, retiradas das principais fontes da indústria e da
economia. A presente análise disponibiliza uma valiosa
ferramenta para a avaliação do impacto no mundo real e
no mercado de diferentes cenários de procura de energia
e de emissões de carbono ao longo do tempo. Entre
outros, o resumo da investigação que agora apresentamos
disponibiliza uma poderosa metodologia de análise de
risco que poderá ajudar a maioria dos investidores que não
conseguem simplesmente abandonar todo um setor e que
precisam de compreender e de ajustar ao mundo atual a sua
exposição ao risco relativamente ao carvão. Os investidores
podem determinar, com algum grau de confiança, e
especificar de que forma pretendem redirecionar capital de
projetos hipercarbónicos de custo elevado para alternativas
mais sustentáveis de um ponto de vista económico e
ambiental.
A nossa investigação consiste num conjunto de análises
detalhadas de tendências financeiras e de procura e oferta de
carvão, que se encontram resumidas no presente documento.
Salientam-se os temas seguintes:
• Despesas de capital adicionais em produção de
custo elevado consistem numa medida arriscada,
especialmente no caso de minas novas, que
normalmente requerem infraestruturas de caminhos de
ferros e instalações portuárias dispendiosas para que o
carvão chegue ao mercado.
• No mercado atual, já é difícil obter lucros com o carvão
térmico. As empresas de carvão enfrentam cada vez
mais dificuldades, com a crescente eficiência energética,
as alternativas mais baratas e os novos regulamentos
antipoluição a fazerem decrescer a procura.
• A procura e os níveis de preços no futuro poderão não
corresponder às expectativas atuais da indústria. Os
produtores de carvão de custo elevado estão a apostar na
sobrevivência, na esperança de que os preços recuperem
de alguma forma.
US/t ao preço FOB
• O auge da procura de carvão térmico na China pode estar
iminente. A procura na OCDE já se encontra em queda. O
consequente excesso de oferta poderá saturar o mercado,
fazendo com que os preços e os valores dos ativos baixem
ainda mais.
Produção térmica potencial em milhares de toneladas por ano (média de 2013-2014)
Preço de equilíbrio do carvão (PEC) normalizado
(é necessário o preço equivalente da avaliação
de preços do carvão FOB Newcastle)
Custo direto (C1+ direitos de exploração) ajustado
para 6000 NAR
Carbon Tracker 2014: Relatório sobre carbono | 1
Expectativas de procura goradas
A procura de carvão é uma maré em mudança
Será o carvão um navio a afundar-se?
A procura global de carvão está em queda devido a vários
fatores e tendências: eficiência energética, melhorias na
eficiência da rede, descentralização e diversificação. Os
custos das energias renováveis continuam a descer mais
rapidamente do que se havia previsto, fazendo com que
as alternativas renováveis ao carvão sejam já competitivas
em alguns mercados. Para além disso, os governos estão
a introduzir cada vez mais medidas que visam controlar
a qualidade do ar e as emissões de carbono, o que
desestabiliza ainda mais a procura de carvão.
A China é a força motriz do mercado global do carvão,
sendo que o auge da procura de carvão térmico na China
poderá ser atingido já em 2014.
Nos últimos três anos, o Índice Bloomberg para o
Património Global de Carvão (Bloomberg Global Coal
Equity Index) perdeu metade do valor, ao mesmo tempo
que índices de mercado mais abrangentes cresceram mais
de 30%. No setor do carvão puro, a tendência é unicamente
descendente. Os preços do carvão, os lucros e os preços
das ações desceram. Alguns analistas já se referem a um
declínio estrutural no mercado marítimo do carvão térmico.
Excesso de carbono
A nossa análise observa separadamente os dados dos custos
da oferta Wood MacKenzie para os mercados domésticos
regionais mais importantes e para o mercado de exportação
marítima. Pusemos de lado o cenário de baixa procura
criado pelo Instituto para a Análise Económica e Financeira
da Energia (IEEFA), por forma a compreender o que isto
significa para minas de carvão específicas que tenham de
cobrir os respetivos custos. Torna-se claro que a oferta de
carvão potencial excede um orçamento de carbono de 2
°C, criando um enorme excesso de carbono. No entanto, os
preços atuais do carvão só são compatíveis com um cenário
de redução da procura em que não seja necessário utilizar
toda a produção potencial de carvão até 2035.
Todos cobiçam os mesmos mercados
Mercados nacionais e regionais que outrora eram alvo de
segregação estão cada vez mais conectados. Os mercados
da OCDE continuam a ter excesso de oferta; com a quebra
na procura, o excesso de oferta é direcionado para o
mercado marítimo, o que significa que os produtores de
carvão estão a apostar cada vez mais no novo crescimento
dos mercados asiáticos.
.
2 | Carbon Tracker 2014: Relatório sobre carbono
Se a importação de carvão na China diminuir, o mercado
marítimo de carvão vai enfraquecer ainda mais. O cenário
de baixa procura da IEEFA com o auge da procura na
China a ser atingido em 2016, indica que a China poderia
transformar-se num exportador oportunista nos próximos
anos. Entretanto, o cenário da procura global tornar-se-á
ainda pior se a Índia não conseguir a infraestrutura e o
suporte financeiro necessário para aumentar as importações.
Para além disso, as últimas medidas regulatórias da Agência
para a Proteção Ambiental dos EUA podem indicar um
ritmo acelerado da desativação de fábricas de carvão, o que
implica uma procura ainda menor nos países da OCDE.
Planeamento da rutura
A escala da redução do uso de carvão necessária para
prevenir níveis perigosos de alteração climática não
deverá ser desvalorizada. Para conseguir este nível de
redução, serão necessárias algumas tecnologias de rutura
para reduzir ainda mais o custo das energias renováveis
e para desenvolver formas sólidas de armazenamento de
energia. A intervenção governamental será igualmente
importante, verificando-se já sinais de movimentação dos
atores principais: a China e os EUA. Fatores imprevisíveis
como episódios climáticos extremos em cidades
importantes poderão igualmente acelerar as alterações da
regulamentação. No geral, a incerteza da regulamentação
pode fazer aumentar as hipóteses de ativos improdutivos,
especialmente se as correções forem implementadas com
rapidez.
Os preços poderão não voltar a subir
A nossa análise de custo indica que, para cerca de metade
da produção potencial de 2014 de carvão térmico para
exportação, os preços atuais não cobrem sequer os custos
diretos (ou seja, os custos variáveis). Os produtores de
carvão aguardam uma recuperação dos preços do carvão.
No entanto, a procura teria de crescer significativamente
(e consequentemente as emissões) para que os preços
voltassem a estar acima de 100$/t.
Compreender a exposição nas curvas de custos
Nos países para os quais analisámos os dados de custo da
oferta, poderiam ser gastos 488 mil milhões de dólares na
produção de carvão até 2025. Desse valor, 220 mil milhões
dizem respeito a minas já existentes e podem contribuir
em cerca de 5700 milhões de toneladas por ano (mtpa) de
produção até 2035. Esta estimativa é mais do que suficiente
para atingir o nosso cenário de baixa procura. A parcela
maior de 268 mil milhões de dólares está relacionada com
novas minas, podendo corresponder a uma produção de
2300 mtpa até 2035.
Capex (despesas de capital) questionável
Existem 112 mil milhões de dólares de capex potencial
até 2025 que, à exceção da China, excedem os preços de
equilíbrio do nosso cenário de baixa procura. Esta situação
corresponde a mais de 1000 mtpa da produção de carvão
estimada até 2035 ou a uma previsão de 42Gt CO2. Uma
percentagem de 61% das minas em terreno inexplorado
(ou seja, novas) encontra-se acima dos limiares do nosso
cenário de baixa procura/preço, em comparação com 30%
da expansão das minas existentes.
As novas minas excedem os requisitos
A nossa análise demonstra o quanto as novas minas são mais
caras e mais exigentes em termos de capital, em muitos
casos mesmo antes de o custo de novas infraestruturas, tais
como portos e caminhos de ferros ser tido em consideração.
Os nossos preços de equilíbrio para baixa procura são
semelhantes aos preços atuais, que não comportam muitas
das novas minas propostas. Quando o custo de capital das
infraestruturas é tido em consideração, os investimentos em
terrenos inexplorados tornam-se uma proposta ainda menos
atraente. A economia do carvão não está nos seus melhores
dias e os investidores deverão examinar com especial
cuidado a economia de novas minas.
Os exploradores mineiros diversificados têm mais
opções
As grandes empresas ocidentais de exploração de minas
diversificadas têm a opção de canalizar capital para outras
mercadorias. Algumas já decidiram vender os ativos de
carvão e parar com o capex em novas minas. Com fluxos de
caixa positivos cada vez mais difíceis de atingir, os outros
minérios oferecem melhores perspetivas.
Os modelos de negócio das empresas de carvão puro
podem contribuir positivamente?
Alguns produtores tentaram mudar a produção para o
mercado marítimo ou diversificaram geograficamente.
Num cenário de baixa procura, o contributo pode não ser
relevante, uma vez que um mercado marítimo com excesso
crónico de oferta atrai baixa procura e é provável que se
mantenha estagnado, muito abaixo das atuais expectativas
da indústria. Continuar a gastar capex em nova produção na
atual situação de incerteza quanto à procura e aos preços é
de facto arriscado.
Recomendações para os investidores
Os detentores de ativos e gestores deverão tomar os
seguintes aspetos em consideração:
1. Compreender a exposição da carteira/fundos no
ponto ascendente da curva de custo do carbono e
articular de que forma o risco está a ser gerido.
2. Identificar as empresas em que a maioria do capex
se destina a projetos de custo elevado.
3. Concentrar esforços em projetos de exportação
que requeiram 75$/t ou mais (o equivalente a
Newcastle 6000 kcal FOB) como ponto de partida.
Analisar limiares equivalentes de preço com baixa
procura para a produção doméstica.
4. Definir limiares de exposição para projetos
no limite superior da curva de custo para as
sociedades gestoras de carteiras.
5. Comunicar à direção que se pretende valor e não
volume.
6. Garantir que a política de remuneração nas
empresas é consistente com os objetivos de
retorno dos acionistas, não se limitando a premiar
os níveis de produção ou os gastos de capital.
7. Exigir uma melhor divulgação das expectativas de
preços e de procura subjacentes à estratégia de
capex e aos modelos de negócio.
8. Apoiar a transparência da exposição da empresa
à curva de custo e dos pontos críticos de prejuízo,
por ex., através da publicação anual de análises
de sensibilidade/testes de esforço aos preços do
carvão.
Carbon Tracker 2014: Relatório sobre carbono | 3
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