Reitora Vice-Reitor Nádina Aparecida Moreno Berenice Quinzani Jordão Editora da Universidade Estadual de Londrina Diretora Conselho Editorial Maria Helena de Moura Arias Abdallah Achour Junior Edison Archela Efraim Rodrigues José Fernando Mangili Júnior Marcia Regina Gabardo Camara Marcos Hirata Soares Maria Helena de Moura Arias (Presidente) Otávio Goes de Andrade Renata Grossi Rosane Fonseca de Freitas Martins (Orgs.) Catalogação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos daBiblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina.Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) C257 Características e potencialidades das aglomerações de software no Paraná [livro eletrônico] / Márcia Regina Gabardo da Camara, Maria de Fátima Sales de Souza Campos, Vanderlei José Sereia (orgs.). – Londrina : Eduel, 2013. 1 Livro digital. Inclui bibliografia. Disponível em : http://www.uel.br/editora/portal/pages/ livros-digitais-gratuítos.php ISBN 978-85-7216-691-1 1. Tecnologia da informação. 2. Arranjos produtivos locais. 3. Sistemas de informação gerencial. 4. Indústria de software – Paraná. I. Camara, Márcia Regina Gabardo da. II. Campos, Maria de Fátima Sales de Souza. III. Sereia, Vanderlei José. CDU 658.012.2 Direitos reservados à Editora da Universidade Estadual de Londrina Campus Universitário Caixa Postal 6001 Fone/Fax: (43) 3371-4674 86051-990 Londrina – PR E-mail: [email protected] www.uel.br/editora Impresso no Brasil / Printed in Brazil Depósito Legal na Biblioteca Nacional 2013 O desenvolvimento do segmento de software é considerado estratégico e tem recebido recursos públicos federais e governamentais do estado do Paraná, para identificar os pontos fortes e as barreiras ao seu desenvolvimento. O modelo brasileiro de desenvolvimento de software desenvolve-se a partir dos anos 1990, focado no mercado interno, mas apresenta-se com condições de conquistar o mercado externo, além de contribuir para o desenvolvimento regional. O mercado de software é dinâmico, diversificado, cresce focado em serviços e em menor intensidade em produtos e requer mão-de-obra qualificada. É uma atividade de natureza inovadora intensiva em tecnologia, conhecimento e mão-de-obra qualificada. A presença de ativos institucionais universidades, institutos de pesquisa e órgãos governamentais e privados - pode favorecer a concentração espacial da atividade e induzir o desenvolvimento das empresas. Neste contexto, destaca-se o papel das políticas públicas para o seu crescimento. A atividade pode se caracterizar por formas coletivas de aprendizado (redes de interações) e apresentar, cumulatividade, elementos críticos da competitividade e da organização espacial das atividades econômicas. Adicionalmente, caracteriza-se pela terceirização, serviços de outsourcing e de participação em várias cadeias produtivas. As raízes da atividade de software, no Paraná encontram-se nos anos 1970, com o surgimento das atividades de tecnologia de informação e de comunicação em Curitiba, Londrina e Maringá. Contudo, seu desenvolvimento acentua-se nos anos 1980 - com a política nacional de informática focada no hardware, mas com impactos no software; e nos anos 1990, com o surgimento do SOFTEX Excellence in Software. Há unanimidade entre os autores que pesquisam o setor no sentido de que as atividades de software, em Curitiba, Londrina, Maringá e no Sudoeste do Estado, foram beneficiadas pelas políticas públicas de fomento (Programa de Informática Industrial, Lei de Informática, SOFTEX e W-Class). A Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) do governo Lula, de 2003, considerou o setor de software prioritário, dada a sua natureza inovadora e a capilaridade, porque permitiria a ampliação da produtividade das empresas em diferentes cadeias produtivas. Com a crescente entrada de empresas de capital estrangeiro para atuar no desenvolvimento e no fornecimento de tecnologias de informação e comunicação, muitas ix Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná empresas nacionais têm realizado fusões e aquisições no mercado nacional para enfrentar a concorrência, ampliando a exploração de economias de escala e o escopo na exploração de serviços, desenvolvimento de sistemas, entre outras atividades. Isto é, o setor está sofrendo grandes transformações. Em maio de 2008, o governo federal renovou o estímulo ao desenvolvimento do software para exportação, em sua política de desenvolvimento industrial. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Software - informação disponível em sua página institucional na internet - o Brasil alcançou a 12ª posição no mercado mundial, movimentado mais de US$ 11 bilhões de dólares, equivalentes a 0,86% do PIB em 2007; US$4,19 bilhões em software, 1,6% do mercado mundial; e US$ 6,93 bilhões em serviços. O crescimento médio do setor no período 2008/2010 é estimado em 10% ao ano. Em 2007, a participação de programas de computador desenvolvidos no país atingiu 33,6 % do total do mercado brasileiro de software. O mercado é composto por 7.937 empresas, que desenvolvem, produzem e distribuem softwares, além da prestação de serviços. O desenvolvimento e a produção de software é dominado por micro e pequenas empresas (94% das firmas). O livro reúne uma coletânea de artigos científicos desenvolvidos, direta ou indiretamente, a partir da análise de resultados do projeto de pesquisa fomentado pela SETI/Governo do Estado do Paraná Fundo Paraná e pelos Arranjos Produtivos Locais - Projeto APL - Identificação, Caracterização, Construção de Tipologia e Apoio na Formulação de Políticas para os Arranjos Produtivos Locais do Paraná. As pesquisas de campo foram desenvolvidas em Londrina, Maringá, Curitiba e Sudoeste do Paraná, ao longo do período de 2006 e 2007. São discutidas as experiências das aglomerações de software, com ênfase na inovação e no fortalecimento da governança e as redes existentes em tais aglomerações. É válido destacar que a problemática envolta na discussão refere-se à necessidade de incrementar, via políticas públicas e privadas, o desenvolvimento setorial, dada a sua capilaridade no tecido produtivo e a sua capacidade de ampliar a produtividade, reduzir os custos de produção e contribuir para a geração de divisas, mediante o incremento das exportações intensivas em tecnologia e mão-de-obra qualificada. O capítulo um analisa as características complexas do setor de tecnologias de informação e comunicação no qual está inserido o software. O artigo, desenvolvido por Kleber Angeli, Álvaro Periotto e Marcia Regina Gabardo da Camara, discute, teoricamente, sob a luz da teoria da complexidade e da teoria das organizações, a Tecnologia da Informação (TI) como elemento condutor de inovação para aglomerações produtivas. As vertentes conceituais sobre os sistemas adaptativos complexos e as aglomerações produtivas norteiam o arcabouço teórico discutido do artigo, tendo como fator de ligação a aprendizagem e a mudança, em prol de um ambiente inovador, proporcionado pela TI. x Apresentação O capítulo dois apresenta um diagnóstico da aglomeração produtiva de software de Londrina e propõe medidas de políticas públicas para o desenvolvimento local, o incremento da produção e da inovação nas empresas, no período que antecede a articulação formal do Arranjo Produtivo de Tecnologias de Informação de Londrina e Região. Marcia Regina Gabardo da Camara, Maria de Fátima Sales de Souza Campos, Vanderlei José Sereia e Luis Gustavo Antonio da Silva realizam o diagnóstico da capacidade produtiva e inovativa do arranjo produtivo de Software de Londrina e a sugestão de políticas públicas para o aprofundamento das relações entre os agentes e a promoção do desenvolvimento do APL. Foi possível obter resultados a partir da realização de entrevistas com as instituições locais Universidades, SEBRAE, CODEL, INTUEL, SERCOMTEL e da aplicação de questionário desenvolvido pela Rede Arranjos Produtivos Locais dos agentes produtivos. A análise dos resultados da pesquisa de campo em 25 empresas, no ano de 2006, permitiu concluir que a aglomeração de software de Londrina possui um elevado potencial inovativo, que pode ser reforçado pelas ações de políticas públicas focadas na produção e no incremento da inovação local e no fortalecimento da governançal. O capítulo três realiza o diagnóstico dos determinantes da inovação e do aprendizado após a constituição e a ação da governança local, permitindo verificar mudanças no comportamento dos agentes, no sentido de incrementar a inovação produtiva e os processos de aprendizado identificados nas empresas de software de Londrina e região, no ano de 2007. Fernanda Tsujiguchi e Marcia Regina Gabardo da Camara verificam que o conhecimento tem sido considerado o critério fundamental para a performance econômica nos últimos anos. A geração, a difusão e a aquisição de conhecimentos nas empresas de software requer que tais organizações desenvolvam processos de aprendizado que aglutinem competências e habilidades, elevando sua capacidade produtiva e inovativa. O artigo descreve os processos de aprendizado e as inovações existentes na rede de micro e pequenas empresas de software da cidade de Londrina. Verifica-se elevado grau de introdução de inovações, porém, eles estão restritos ao campo das inovações incrementais, pois boa parte das empresas pesquisadas desenvolvem softwares sob encomenda, ou seja, adaptando produtos e serviços de acordo com as necessidades dos clientes. O capítulo quatro apresenta a importância da rede de empresas e de instituições formais e informais no desenvolvimento setorial das empresas de software de Londrina e região. Fernanda Tsujiguchi e Marcia Regina Gabardo da Camara analisam os impactos de ações de cooperação, parcerias e alianças estratégicas na competitividade da rede de empresas de software de Londrina, setor de grande representatividade para o estado do Paraná. A análise dos resultados permite identificar os tipos de atividades desenvolvidas, a intensidade xi Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná da interação com outras empresas, os agentes e os impactos econômicos das ações cooperadas. Os resultados revelam maior cooperação em nível local (Londrina) em atividades de desenvolvimento e comercialização em software, apresentando retorno econômico positivo de projetos cooperados. A análise dos resultados permite concluir que a rede está mais voltada para produzir e comercializar, visando à redução de custos e à eficiência operacional. O capítulo cinco apresenta o diagnóstico das características da aglomeração de software de Maringá e as barreiras verificadas para o seu desenvolvimento. Neio Lúcio Peres Gualda, Antonio Carlos de Campos e Jaime Graciano Trintin analisam a estrutura técnicoprodutiva da atividade de software do município de Maringá à luz do conceito de Arranjos Produtivos Locais (APL). Discute-se a crescente importância atribuída pela literatura à tecnologia da informação, especialmente quanto às atividades inovativas, dado sua capacidade de alavancagem e transbordamento para os diversos setores da economia. A metodologia utilizada baseou-se na identificação e na caracterização dos APL´s, a partir de informações estatísticas e de pesquisa de campo. Os resultados encontrados revelam elevada participação de micros e pequenas empresas, gerenciadas por jovens empreendedores com elevada escolaridade, capacidade de inovação e diferencial competitivo. Os autores identificam desafios, fragilidades e potencialidades, com destaque para a crescente consciência de alguns empresários quanto à necessidade de organização e articulação entre os agentes do setor e a disposição das empresas para empreender ações visando à cooperação e às ações conjuntas. O capítulo seis analisa a dinâmica recente da indústria de software na cidade de Maringá, após a constituição da governança do APL de Software de Maringá. Kleber Angeli e Marcia Regina Gabardo da Camara apresentam um panorama do setor de software no período recente. Para caracterizar adequadamente a indústria de software de Maringá Paraná, os autores realizam uma pesquisa empírica sobre a evolução e a formação do APL de Software. O estudo analisa os condicionantes do relacionamento interorganizacional e o processo de institucionalização do APL embrionário de software. A análise dos resultados destaca que entre os condicionantes: Necessidade legal (interação não voluntária); Assimetria, Reciprocidade, Eficiência, Estabilidade e Legitimidade (interação voluntária), mas a Necessidade Legal e a Eficiência são os mais importantes. Para a instituição e o sucesso da governança, a necessidade legal é importante devido às ações formais entre as empresas para atender normatizações, regulamentações de órgãos fiscalizadores e agências governamentais, ganhando capacidade de negociação política, favorecendo a busca de recursos para o setor. A análise da ação dos agentes integrantes do APL embrionário de software de Maringá e das demais empresas que podem ser beneficiadas revela que ele encontra-se na fase de objetivação da institucionalização. xii Apresentação O capítulo sete analisa o desenvolvimento de políticas locais e setoriais para o setor de software no Paraná Curitiba e Sudoeste do Paraná - sob o enfoque da geografia da inovação, referencial teórico que os autores Sérgio Sampaio e Fabio Ono consideram apropriado à investigação sobre o fenômeno da aglomeração de empresas de software e, consequentemente, para a proposição de políticas públicas. Para estes dois autores, o espaço é lócus do desenvolvimento econômico endógeno, constituindo-se no conjunto de recursos característicos relativamente imóveis e, até mesmo, intangíveis de uma região ou local. Após discutir as bases de conhecimento local, as habilidades da mão-de-obra, as instituições e as infraestruturas tecnológicas e organizacionais das empresas aglomeradas em Curitiba e Pato Branco, os autores concluem que as políticas locais de apoio ao desenvolvimento de software, nos moldes das políticas de apoio do APL, são viáveis. Entretanto, sob a perspectiva do aumento da competitividade das empresas brasileiras nos mercados internacionais de software, por meio do desenvolvimento de soluções inovadoras, o impacto de ações locais pode ser relativamente exíguo, caso não sejam associadas a políticas setoriais mais amplas. O capítulo oito investiga os resultados de um amplo projeto de pesquisa, no qual estavam inseridas as aglomerações de software de Londrina, Maringá e sudoeste do Paraná, coordenado pelos autores Wilson Suzigan, João Furtado e Renato Garcia, com o propósito de mapear e estudar arranjos produtivos locais do estado de Paraná e propor políticas estaduais e ações institucionais de apoio no biênio 2005-2006. Os autores realizam a discussão dos fundamentos analíticos e dos aspectos metodológicos da pesquisa em uma unidade da federação e as políticas propostas referem-se, especificamente, às políticas públicas estaduais. O referencial analítico de apoio é a discussão de sistemas locais de produção (SLP), porém há menções às aglomerações territoriais de empresas como um estágio preliminar do método utilizado, quando ainda não é possível caracterizar tais aglomerações como SLP. O capítulo finaliza com a sugestão de políticas em consonância com esse referencial e que foram acolhidas pelo estudo que, originalmente, incluiu indústrias extrativas, de transformação e de atividades de software. A análise conjunta das experiências das aglomerações de software do estado do Paraná sinaliza a importância de políticas locais articuladas com as políticas regionais. A criação de condições adequadas ao desenvolvimento da infraestrutura em sentido amplo da mão-de-obra, formação e desenvolvimento das redes, do aprendizado e da inovação, da produção, da governança e dos relacionamentos interorganizacionais requer a ação articulada dos agentes nas diferentes esferas: universidades, empresas, governo e instituições não governamentais. Na visão dos organizadores, a disseminação dos resultados das pesquisas realizadas com o apoio da SETI e do governo do estado do Paraná, via Fundo Paraná, xiii Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná contribuirá para o aprofundamento do debate em setores de base tecnológica, estimulando novas investigações e a aceleração do desenvolvimento regional. Marcia Regina Gabardo da Camara Maria de Fátima Sales de Souza Campos Vanderlei José Sereia xiv A tecnologia da informação como condutora de inovação em aglomerações produtivas INTRODUÇÃO As organizações passam por transformações, especialmente na época em que as inovações nas tecnologias da informação são propagadas rapidamente em diversas economias e diferentes países. Os novos processos e produtos permitem a exploração de economias de escala e de escopo. Nesta dinâmica que contempla oportunidades e ameaças, as organizações em redes apresentam-se como uma alternativa. As mudanças induzidas pelas inovações incitam a busca do conhecimento novo. Segundo Khun (2000), a ciência constrói-se somente pela instituição de novos paradigmas, em detrimento de paradigmas anteriores. Ainda sobre a ótica socioeconômica, Marx afirmava que o capitalismo e a burguesia nutriam-se do novo, eliminando o antigo antes que se depreciasse e se tornasse obsoleto. As mudanças geram, direta ou indiretamente, resistência dos atores envolvidos no processo, os quais buscam postergar a introdução do novo. A Tecnologia da Informação é uma referência para as organizações contemporâneas; pode-se perceber que por meio dela, a exposição dos limites do conhecimento se faz necessária para que o novo ocupe o seu espaço. Face às exigências mercadológicas, a velocidade das mudanças nas empresas de base tecnológica - software, biotecnologia, mecânica fina, microeletrônica, entre outras - faz com que a estrutura destas organizações torne-se mais flexível na busca de inovações. Percebe-se, também, como característica da grande maioria das empresas de base tecnológica o fato de serem pequenas ou microempresas com sutis peculiaridades ligadas a aspectos regionais. Dessa forma, a cooperação, pelas redes interorganizacionais, revela-se uma solução adotada por muitas delas. Uma corrente científica que permite interpretar a evolução das aglomerações fundamenta-se na teoria da complexidade, que busca o entendimento de como certas coisas células, um bando de pássaros, cidades, civilizações, organizações conseguem manter uma coerência em situações de contínua mudança, sem que haja necessariamente um controle hierárquico e um planejamento central. (NOBREGA, 1996). 3 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Fundamentado no marco teórico que sustenta o tema e com a finalidade de desvendar o problema exposto, elaborou-se uma pergunta cuja resposta ajudará a alcançar o objetivo deste estudo: a Tecnologia da Informação pode prover a aprendizagem organizacional, propiciando um ambiente inovativo e favorável a mudanças, dentro de redes interorganizacionais complexas, como os arranjos produtivos locais, os sistemas produtivos e aglomerações produtivas? Os procedimentos metodológicos envolvem a revisão crítica da literatura sobre os temas abordados. O capítulo está estruturado em 6 partes, incluindo esta introdução. A seguir, apresentam-se: a complexidade e a aprendizagem organizacional; as redes interorganizacionais; a tecnologia de informação nas estruturas organizacionais complexas; as aglomerações e os arranjos produtivos locais; e as conclusões do capítulo. COMPLEXIDADE E APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL De acordo com Morin (1986), a complexidade está presente onde quer que se produza um conjunto de ações, interações e de retroações. Assim, a complexidade significa a multiplicidade, o entrelaçamento e a contínua interação da infinidade de sistemas e fenômenos que compõem o mundo natural. Uma das principais características desses fenômenos são as qualidades emergentes, que surgem, resultantes da interação de partes ou de indivíduos movidos segundo algumas poucas e simples regras locais. Assim, uma vez que certas condições estejam presentes, a ordem pode surgir de situações aparentemente caóticas. (AGOSTINHO, 2003). Segundo Morin (1977), os sistemas vivem em constante oscilação dentro do anel tetralógico de ordem/desordem/interação/organização, conforme verifica-se na Figura 1: 4 A tecnologia da informação como condutora de inovação em aglomerações produtivas FIGURA 1 - O anel tetralógico Fonte: Adaptado de Morin (1977) Nesse anel tetralógico, a partir de um momento de desordem, os indivíduos, por intermédio das interações, provocam uma nova ordem da organização e assim sucessivamente. Os conceitos de ordem e de organização só se desenvolvem em função um do outro. Quanto mais a ordem e a organização se desenvolvem, mais se tornam complexas, mais toleram, mais utilizam e necessitam até da desordem. (MORIN, 1977). Nesse contexto, cabe considerar os Sistemas Adaptativos Complexos (SACs), que existem na dialógica entre a ordem e a desordem. Esses sistemas aprendem e evoluem de maneira adaptativa, ou seja, registram informações para extrair regularidades, inserindoas dentro de esquemas que são continuamente mudados à luz da experiência. (STACEY,1996). Conforme afirma Klement (2000, p.6), [...] ordem, desordem e organização não são lineares, nem mutuamente excludentes. Estas noções interagem dialogicamente, isto é, se relativizam continuamente, mantendo o sistema em atividade. Sob o ponto de vista da complexidade, as organizações podem ser vistas como um fenômeno que emerge da ação e da interação dos agentes componentes de um sistema. Perceber estas organizações como SACs favorece a busca de soluções para os problemas advindos da crescente complexidade do cenário mundial contemporâneo. Abandona-se, assim, a linearidade herdada do modelo mecanicista, que enfatiza a subdivisão do sistema em suas partes, em favor de uma visão mais integrada, em que a solução vem da dinâmica do sistema como um todo e emerge daí, não da soma das ações isoladas das partes. (NOBREGA, 1996). 5 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Uma das formas de verificação da complexidade nas organizações pode advir do fato de quando que as atividades que não estavam na rotina de trabalho vêm à tona e forçam os seus integrantes a buscarem uma solução. As pessoas detectam a não-linearidade e trabalham, por meio de interações, em busca de uma solução. Nesse contexto, verifica-se que as organizações são capazes de se estruturarem, característica esta fortemente atribuída aos SACs. Para Agostinho (2003, p.6): A possibilidade de auto-organização surge uma vez que os numerosos agentes que compõem o sistema são elementos vivos. Eles têm autonomia para orientarem suas ações de acordo com o que apreendem de sua interação com o ambiente. Stacey (1996) já considerava tais aspectos ao destacar um SAC como um sistema que consiste de um grande número de componentes ou agentes, os quais se comportam de acordo com seus próprios princípios de interação local, num processo de auto-organização. Uma das características principais de um SAC é o fato de ser um sistema aberto, uma vez que há um contínuo fluxo de entrada e saída (seja de matéria, energia ou informação) entre o ambiente e o sistema. Stacey (1996) argumenta que os sistemas abertos necessitam de uma forma de aprendizagem diferente daquelas encontradas em sistemas fechados e que o caos e a instabilidade dentro dos sistemas podem colaborar no desenvolvimento de insights na resolução dos problemas. Usando esquema representativo de suas ideias, Argyris e Schon (1978) afirmam que uma das barreiras à frente da aprendizagem é a tendência do sistema de focar o aprendizado no circuito simples (single-loop) ao invés do circuito duplo (double-loop), como mostra a figura 2. FIGURA 2 - Circuito simples e circuito duplo de aprendizado Fonte: Adaptado do modelo apresentado por Argyris e Schon (1978) Recorrendo ao esquema representativo de Argyris e Schon (1978), considera-se que, no circuito simples, as estratégias são definidas de acordo com o modelo mental do sistema, não se criando dessa maneira inovação, uma vez que apenas repetem-se práticas 6 A tecnologia da informação como condutora de inovação em aglomerações produtivas consideradas adequadas. Para Argyris e Schon (1978), a saída é a utilização de outra forma de aprender que conduz à inovação daquilo que está sendo sistematicamente praticado. No circuito duplo ocorre um processo de reflexão sobre a alteração do modelo mental que impele o primeiro circuito, e, desta maneira, as variáveis do paradigma vigente são questionadas. Já Stacey (1996) acredita que o conhecimento obtido com a experiência é reproduzido pelo agente e por aqueles que aderem à experiência. Complementando, adverte que a aprendizagem em circuito simples é apropriada para lidar com situações previsíveis bem definidas, mas é necessária a aprendizagem em circuito duplo nas situações ambíguas e imprevisíveis das quais emergem as inovações. Nobrega (1996) também corrobora tais ideias e acrescenta que os sistemas complexos aprendem, se auto-organizam e evoluem pela habilidade de processar a informação que chega de fora. Agostinho (2003) identifica a adaptação como sendo a propriedade básica dos SACs, no sentido de que o sistema é capaz de ajustar seu comportamento a partir do que consegue perceber sobre as condições do seu meio ambiente e desempenho: São organizações em rede formadas por inúmeros agentes, os quais são elementos ativos e autônomos, cujo comportamento é determinado por um conjunto de regras e pelas informações a respeito de seu desempenho e das condições do ambiente imediato [...] O comportamento global do sistema emerge, então, como efeito da combinação das interações (não-lineares) entre os diversos componentes. (AGOSTINHO, 2003, p.29) Para Agostinho (2003, p.9), a aprendizagem ocorre a partir do momento em que o indivíduo é capaz de [...] observar as conseqüências do seu comportamento e ajustar seus atos para atingir os propósitos desejados. A capacidade de aprendizado pode resultar da existência de canais de comunicação eficientes concomitante à capacidade de prever teoricamente as consequências de suas ações, sem que haja uma experiência empírica. No entanto, salienta-se que o potencial de aprendizagem só é desenvolvido quando o indivíduo tem autonomia para colocar seu julgamento em ação. Tomando por base o funcionamento dos SACs, Agostinho (2003) elege quatro conceitos-chave que definem a abordagem das organizações, que são: autonomia, cooperação, agregação e auto-organização. São conceitos fortemente entrelaçados que indicam como a ordem no sistema pode emergir por meio das ações de suas partes, relacionando-se da seguinte maneira: 7 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Indivíduos autônomos, capazes de aprender e de se adaptarem, cooperam entre si obtendo vantagens adaptativas. Tal comportamento tende a ser selecionado e reproduzido, chegando ao ponto em que estes indivíduos cooperativos se unem formando um agregado que também passa a comportarse como um indivíduo e assim por diante. Diz-se, então, que o sistema resultante se auto-organiza, fazendo emergir um comportamento global cujo desempenho também é avaliado por pressões de seleção presentes no ambiente (externo e interno). (AGOSTINHO, 2003, p.36) A autonomia é definida como [...] a faculdade do indivíduo orientar sua ação com base em sua própria capacidade de julgamento. (AGOSTINHO, 2003, p.9). A autonomia dos componentes faz com que o sistema seja extremamente flexível e robusto em relação às perturbações externas. Por intermédio de princípios autônomos, as ações dos colaboradores que interagem no sistema agem como estímulo e restrição mútuos, ocasionando influências nos processos decisórios. A autonomia, por si só, não garante um bom desempenho do sistema. Conforme Agostinho (2003, p.65): É necessário que haja cooperação mútua e coordenação para que seja possível que o conjunto de ações de vários indivíduos autônomos convirja para o benefício do sistema. Agostinho (2003), acrescenta, ainda, que, além da cooperação, existe a necessidade de coordenação. O autor observa que a coordenação consiste em um processo de informar cada indivíduo acerca do comportamento planejado dos outros. Tal afirmação remete a uma das premissas básicas necessárias à evolução da cooperação: a capacidade de reconhecimento das estratégias dos demais indivíduos. Cabe também salientar que um dos pilares da cooperação é a reciprocidade. Para Agostinho (2003, p.64), esta só irá ocorrer caso [...] cada indivíduo seja capaz de reconhecer o outro das interações passadas e lembrar como este se comportou. A autonomia garante aos indivíduos o poder de julgar as ações como forma de conduzir seus atos. A cooperação estabelece relações entre os indivíduos que proporcionam benefícios por intermédio da ajuda mútua. Sendo assim, a agregação surge como forma de tornar um sistema mais representativo do que um conjunto de partes e uma equipe mais do que um amontoado de pessoas. Agostinho (2003) afirma que, por intermédio de uma espécie de rotulagem, um indivíduo é capaz de reconhecer com quem ele poderá obter benefícios mútuos, selecionando as interações úteis. Contudo, existe um aspecto muito interessante que diferencia as organizações sociais humanas dos demais sistemas complexos adaptativos, que é a consciência humana. O ser humano usufrui da racionalidade que o torna capaz de utilizar 8 A tecnologia da informação como condutora de inovação em aglomerações produtivas maiores ou menores poderes de influência. Desta maneira, os indivíduos são capazes de reconhecer as conexões em que ocorrem os fluxos mais relevantes, bem como identificar os pontos com maior ou menor efeito multiplicador. Ao atuarem desta forma, os gestores fazem emergir condições iniciais que ocasionam o sistema auto-organizante. Agostinho (2003) elucida que o ser humano, ao receber sinais e informações do ambiente, identifica determinados padrões de forma, sistematizando um modelo que o proporciona a previsão das consequências, caso um padrão semelhante ocorra novamente. Neste sentido, quando há a eminência de uma nova situação, os indivíduos realizam uma combinação de experiências testadas em momentos anteriores para modelar a situação em que se encontra de uma maneira que sugere ações apropriadas bem como suas consequências. REDES INTERORGANIZACIONAIS O estudo de Redes Interorganizacionais tem despertado interesse crescente dos mais diversos campos de conhecimento, como Economia, Sociologia, Ciência Política e Empreendedorismo. Três razões são apontadas para este aumento: emergência da nova competição; surgimento das tecnologias de informação e de comunicação; e análise de redes como disciplina acadêmica. As redes também promovem ambiente favorável ao compartilhamento de informações, de conhecimentos, de habilidades e de recursos essenciais para processos de inovação. Originalmente, o termo rede refere-se a um pequeno filet, para pegar pássaros ou caça miúda. A partir do século XVI, designa, de maneira mais ampla, uma peça em forma de rede com malhas mais ou menos largas e, por analogia, um tecido formado de pequenas malhas chamado, mais tarde, de arrastão. Paralelamente, o sentido figurado da palavra rede afirma-se a partir do século XVII como um conjunto de coisas abstratas que prendem o indivíduo pouco a pouco. (MARCON; MOINET, 2001). Se a noção dinâmica não fica clara no francês, filet, ela o é em inglês, visto que rede traduz-se por network. A rede é, literalmente, uma rede que trabalha, a net that works. Em alemão, das Netz significa igualmente rede e redes, o sentido dependerá do contexto. Na segunda metade do século XIX, aplica-se este conceito a um conjunto de pessoas ligadas entre si, direta ou indiretamente. Nas ciências sociais aplicadas e nas ciências humanas, rede ou network designa um conjunto de pontos comunicantes entre si. (MARCON; MOINET, 2001). A ideia é abstrata no campo organizacional e compõe-se por recursos e informações. Nota-se esta percepção 9 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná em diversas relações empresariais como joint-ventures, alianças estratégicas, relações de terceirização e subcontratação, distritos industriais, consórcios, redes sociais, redes de cooperação e subcontratação entre pequenas e médias empresas, entre outras. (POWELL, 1987; OLIVER, 1990; GRANDORI; SODA, 1995). As bases teóricas que norteiam os estudos de redes e aglomerados produtivos são multidiscipinares: Economia Industrial, Estratégias Interorganizacionais, Dependência de Recursos (Tangíveis e Intangíveis), Redes Sociais (social networks), Custos de Transação, Teoria Institucional e Teorias Críticas e Radicais. Logo, os estudos realizados são complementares. Tipologia de Redes Interorganizacionais Partindo da ambiguidade no entendimento do termo redes interorganizacionais, Caltells (1999) analisou este ter mo com base no argumento de que as redes interorganizacionais aparecem de diversas formas, em diferentes contextos e a partir de expressões culturais diversas. Com o objetivo de oferecer melhor compreensão da diversidade de tipologias, detalhamos as principais tipologias apontadas nos mais variados estudos sobre o tema: Redes verticais e horizontais: as redes verticais são aquelas nas quais os processos são realizados por empresas distintas, em uma dimensão de hierarquia. Ex: grandes redes de distribuição integradas, distribuição alimentar e bancos. As redes horizontais são aquelas estabelecidas entre empresas que se comprometem em termos de produtos e/ou mercados em uma dimensão de cooperação. (MARCON; MOINET, 2001). Ex. consórcio de compra, associações profissionais, redes de lobbyng e alianças tecnológicas. Redes dispersas ou aglomeradas: as redes dispersas interagem por meio de um processo de logística avançado que permite superar distâncias. As aglomeradas caracterizam-se pelo fato de manterem relações que, muitas vezes, se estendem além daquelas puramente comerciais, tendo suporte de universidades, centros de tecnologia, e instituições governamentais. Redes formais e informais: são redes tornam-se formais a partir de joint-venture ou de franchising, termo que Williamson (1985) chama de comportamentos oportunistas em uma dimensão contratual. Complementarmente, são informais quando estabelecidas em função da confiança gerada, conforme Granovetter (1985), quando diz que as relações econômicas estão misturadas com as sociais, em uma dimensão de conivência. Ex. Encontro entre atores econômicos buscando cooperação: empresas, organizações profissionais, instituições, universidades, associações, etc. 10 A tecnologia da informação como condutora de inovação em aglomerações produtivas Redes orbitais e não orbitais: a rede orbital possui um centro de poder no qual, ao redor, as demais empresas circulam; e a não orbital é aquela em que cada parte tem a mesma capacidade de tomada de decisão. Com base nessas visões sobre as redes interorganizacionais, é possível mapear sua tipologia, conforme sintetizado no quadro 1: Indicadores Direcionalidade Localização Formalização Poder Tipologia Vertical Horizontal Dispersa Aglomerada Base contratual formal Base não contratual Orbital Não orbital Quadro 1: Características e tipologia de redes Fonte: adaptado de Hoffmann (2005). Marcon e Moinet (2001) consideram alguns atributos associados às redes que possibilitam as configurações mais adequadas para determinados objetivos organizacionais estratégicos. São eles: a) Fluidez: capacidade e flexibilidade de adaptação às redes (espaço, tempo, social e organizacional); b) Finalidade: razão de ser da rede (política, religiosa, filosófica, científica, econômica, cultural e/ou social); c) Economias Relacionais: dispersão de esforços e ganho de tempo; e d) Capacidade de aprendizagem: aprendizagem coletiva, cada um evolui em função do outro. Cabe notar que a grande maioria das pesquisas, principalmente as realizadas por autores anglo-saxões, privilegiou arranjos como joint-ventures e alianças estratégicas entre grandes empresas, já redes horizontais de Pequenas e Médias Empresas (PME´s) tiveram pouco espaço para reflexão nos estudos sobre redes interorganizacionais. Redes de Pequenas e Médias Empresas As justificativas apresentadas para o estudo de redes em PME´s , segundo Souza (1995), são: o estímulo à ação empreendedora, a geração de emprego e renda, a maximização da atividade econômica regional, o fortalecimento de alguns setores em determinadas regiões e a geração de novas tecnologias de produto e processos. 11 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná A dimensão da confiança e da cooperação possivelmente representam papel central no sucesso alcançado pelas redes de PME´s que as diferencia das Joint-Ventures e Alianças estratégicas. Algumas características observadas em redes de PME´s que geram este ambiente profícuo de confiança são: similaridade das firmas (tamanho, processos, técnicas, posição estratégica); compartilham informações (mercados, tecnologias e lucratividade); relações de longo prazo; rotatividade de lideranças; recompensas financeiras (firmas e empregados) e vantagens econômicas (experiência coletiva). Redes PME´s Independência Relações Informais de Inputs e Outputs Proximidade Geográfica Joint-Ventures e Alianças Estratégicas Dependência Relações Formais de Inputs e Outputs Não proximidade Geográfica Quadro 2: Diferenças Redes de PME´s e Joint-Ventures e Alianças Estratégicas. Fonte: Elaboração própria com base no marco teórico e estudos empíricos. Williamson (1985) considera que os custos de transação são minimizados interfirmas, possibilitando uma vantagem competitiva entre as firmas participantes da rede. A confiança entre os atores é destacada por Jarrillo (1988) como uma forma que promove esta redução e torna a existência das redes economicamente viáveis. Quanto à inovação, Rothwell (1995) considera que deva resultar de uma ação conjunta e cooperada dos diversos atores internos e externos da organização - empresas, fornecedores, clientes, além de outras instituições de caráter privado - e sobre este ambiente a rede se viabiliza por possibilitar a troca de tecnologia, know how, habilidades que favorecem o processo inovativo, proporcionado por um ambiente institucional apropriado para contar com incentivos de governos locais e regionais, serviços educacionais, associações comerciais, treinamento, entre outros. TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO NAS ESTRUTURAS INTERORGANIZACIONAIS COMPLEXAS A Tecnologia da Informação (TI) utilizada nos diferentes tipos de organização é suportada por uma diversidade de tipos de hardware e software que se alastram velozmente, e tem a capacidade de coletar, armazenar, processar e acessar números e imagens, para controle de processos de trabalho, conectando pessoas entre as organizações. 12 A tecnologia da informação como condutora de inovação em aglomerações produtivas Na produção industrial, essa tecnologia incorpora equipamentos que auxiliam a produção automatizada, como robôs, sensores e dispositivos que alimentam os sistemas de informações para subsidiar processos decisórios, elaboração de desenhos de engenharia, planejamento e seus processos de gestão. Uma vasta gama de fomentadores da TI também se apresentam nos escritórios, compreendendo os diversos recursos de processamento eletrônico, vídeo-conferência, e sistemas de suporte e de gestão. (WALTON, 1993). Em busca de eficácia, uma organização deve se inserir e realizar trocas de informações com o ambiente (sistema aberto), mantendo-se atenta aos fatores ambientais presentes, como a iniciativa dos competidores, mudanças estruturais da indústria e descobertas e inovações técnicas. Intrinsecamente, tais fatores envolvem tecnologia e estratégias de negócio para sua aplicação, relacionando-se, conforme verifica-se na Figura 3. Considerando estes fatores, Walton (1993) enfatiza o comprometimento como fator chave para a eficácia organizacional e interorganizacional, especialmente em ambientes de TI avançados. Adicionalmente, Lastres e Cassiolato (2004) concordam e consideram que somente com cooperação e comprometimento é possível criar um ambiente de aprendizagem que favoreça a inovação, amparado por especialidades de TI. Ambiente Externo Desenho Organizacional* Aspectos Críticos do Comportamento Organizacional: Alinhamento Resultados Resultado para Negócios Comportamento/ Aceitação Visão Estratégica Competência/ Domínio Bem-estar Das Pessoas FIGURA 3 Fatores para o desenvolvimento de organizações eficazes. *Inclui o desenho de estruturas interorganizacionais e de sistemas de TI interorganizacionais, por exemplo, alocação de funções entre fabricantes e seus fornecedores e arranjos produtivos locais. Fonte: Adaptado de Walton (1993) Walton (1993) enumera três premissas sobre a TI e as organizações, para que se obtenha comprometimento e possam gerar aprendizagem organizacional, voltada para um 13 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná ambiente inovativo: a primeira premissa destaca que a TI e as organizações interajam a fim de encaminhar o sucesso de um sistema de TI; a segunda enfatiza que a TI avançada faz com que estas interações aumentem a complexidade de forma mútua, gerando mudanças ao longo do tempo; e a terceira premissa salienta que os planejadores, sobre os efeitos organizacionais, cada vez mais, direcionam os planos e desenhos dos sistemas de TI. Sobre estas evidências, Walton (1993) exemplifica, com base nas observações realizadas por pesquisadores associados ao Massachusetts Institute of Technology (MIT) em cinco empresas montadoras de veículos norte-americanas, que a organização tradicional não permite a plena realização de tecnologias avançadas de manufatura, pois o comprometimento deste tipo de organização está sobre sua estrutura hierárquica e sua divisão rígida de trabalho. As novas tecnologias necessitam de maior flexibilidade, maior aprendizagem contínua e por interação do que os sistemas tradicionais oferecem. Isto enfatiza que as empresas que têm maior mobilidade e flexibilidade estão mais aptas a receber tal suporte de TI. As PME´s apresentam essa característica e, quando aglomeradas produtivamente em uma atividade específica, tendem a favorecem esta aplicação. Porém, é notório que oficialmente as empresas não apresentam gasto com P&D - Pesquisa e Desenvolvimento. (COSINEXP, 1998). Harrison e Hart (1987) consideram que a aquisição de P&D é fundamental, visto que as empresas necessitam de um rigor tecnológico mínimo para o desenvolvimento e para a agregação de valor a produtos, serviços e processos em um contexto mercadológico, gerando inovação baseada em tecnologia. AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS E EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA Os aglomerados produtivos têm se tornado objeto de pesquisa, em vários campos científicos; porém, destacam-se as contribuições na area de economia, da administração e da geografia. No mundo globalizado, tais modelos, segundo Porter (2001), possibilitam que as cadeias produtivas obtenham tecnologia e aporte financeiro em qualquer lugar do mundo, favorecendo a instalação de plataformas produtivas onde os custos de produção são menores. Segundo Lastres e Cassiolato (2004), os APLs desenvolvem-se quando organizações aglomeradas em um determinado espaço constituem vínculos duradouros e solidários de interação, cooperação e aprendizagem, com possibilidade de geração de inovações para melhoria da competitividade e do desenvolvimento local. 14 A tecnologia da informação como condutora de inovação em aglomerações produtivas Os Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (SPIL´s) são uma alternativa para organizações de países em desenvolvimento e que buscam competitividade global. Lastres e Cassiolatto (2004, p.3) definem os SPIL´s como sendo [...] aglomerados de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, com foco em um conjunto específico de atividades econômicas e que apresentam vínculos expressivos de interação, cooperação e aprendizagem. Partindo deste pressuposto, os autores preferem utilizar o termo Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (SPILs) para definir aqueles [...] arranjos em que interdependência, articulação e vínculos consistentes resultam ações interativas, cooperativas e de aprendizagem, com potencial de gerar incremento da capacidade inovativa endógena, contribuindo para a competitividade e o desenvolvimento local. (LASTRES; CASSIOLATO, 2004, p. 4). Casarotto Filho e Pires (2001, p. 87) abordam e definem os arranjos produtivos como Sistemas Produtivos Locais (SPLs) ou Sistemas Econômicos Locais (SELs). Segundo estes autores, esta tipologia define uma [...] região fortemente estruturada, contendo um ou mais cluster de pequenas e médias empresas com um planejamento territorial com alta interação público-privada, com respeito à cultura e com o objetivo de assegurar a qualidade de vida dos habitantes, existindo, imprescindivelmente, uma interação entre as empresas e o ambiente sociocultural local. Comparando Sistemas Produtivos Locais com clusters, os autores afirmam que a diferença básica está na palavra solidariedade, visto que os SPLs devem ser caracterizados por ativa solidariedade entre os vários atores. São as preocupações sociais e culturais e o ambiente de solidariedade dos SPLs que levam ao objetivo-fim qualidade de vida e a um ambiente altamente inovativo e empreendedor. Desta forma, o redirecionamento de políticas públicas focadas no desenvolvimento social, cultural, na melhoria de qualidade de vida da população deve contemplar incisivamente os aglomerados regionais. Outro fator a se considerar é a proximidade física e geográfica que favorece esse tipo de sistema produtivo. Inseridos neste contexto, os aglomerados produtivos esforçamse para buscar maior competitividade, em que as relações tendem a se estreitar dentro do setor. Essa troca de informações e de experiências credencia as empresas partícipes desse aglomerado a desenvolver ativos com base no conhecimento, conforme postula Porter (2001): Um aglomerado é um agrupamento geograficamente concentrado de empresas inter-relacionadas e instituições correlatas numa determinada área, vinculadas por elementos comuns e complementares. O espaço geográfico varia de uma 15 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná única cidade ou estado para todo um país ou mesmo uma rede de países vizinhos. Os aglomerados assumem diversas formas, dependendo de sua profundidade e sofisticação, mas a maioria inclui empresas de produtos ou serviços finais, fornecedores de insumos especializados, componentes, equipamentos e serviços, instituições financeiras e empresas em setores correlatos. Os aglomerados geralmente também incluem empresas em setores à juzante, ou seja, distribuidores ou clientes, fabricantes de produtos complementares, fornecedores de infra-estrutura especializada, instituições, etc. (PORTER, 2001, p.3). Estas características são observadas nos parques de ciência e de tecnologia que estão em expansão no mundo, fundamentados, principalmente, por configurações como a observada no Vale do Silício, na Califórnia, e na Rota 128, em Massachusetts - EUA, onde a grande empresa age como articuladora de uma rede de pequenas empresas e outros aglomerados produtivos, como os distritos industriais italianos, conhecidos como Terceira Itália, constituídos pelas regiões de Emilia-Romana, Tuscany, Umbria, Marche e Veneto no Norte da Itália, eles são constituídos com base na pequena empresa, sem a existência de grandes empresas como âncora, em uma relação de cooperação horizontal. Nesse contexto, observa-se a relevância dos estudos focando custos de transação e aprendizado organizacional, proporcionados pela interação entre organizações para formação de sistemas de inovação, impulsionados pelo papel fundamental da TI. Embora em países em desenvolvimento isso exista em uma escala menor, estes arranjos produtivos locais ajudam a potencializar o valor dos produtos de uma determinada estrutura econômica regional, gerando autossustentabilidade de determinados setores. (DESCHAMPS; REIS, 2001). No Brasil, o tratamento sobre o termo pólo tecnológico limitou-se ao fenômeno do surgimento de arranjos produtivos de empresas de base tecnológicas impulsionadas por incubadoras de empresas em determinadas regiões do país e, segundo Medeiros e Atas (1994), pode ser definido como um conjunto que possui os seguintes componentes: instituições de ensino e pesquisa que se especializaram em pelo menos uma das novas tecnologias; aglomeração de empresas envolvidas nesses desenvolvimentos; projetos de inovação tecnológica conjuntos (empresa-universidade), usualmente estimulados pelo governo, dado o caráter estratégico das novas tecnologias; e estrutura organizacional apropriada. Os objetivos dos polos tecnológicos podem ser caracterizados em: 16 A tecnologia da informação como condutora de inovação em aglomerações produtivas promover a criação e consolidação de empresas de base tecnológica; fornecer suporte gerencial por meio de consultoria e cursos nas áreas de gestão tecnológica e gestão empresarial às empresas e ao setor acadêmico; facilitar a interação sistemática entre as empresas e instituições de ensino epesquisa, possibilitando o uso de recursos humanos, equipamentos e laboratórios, inclusive de forma compartilhada e, viabilizar o envolvimento de instituições financeiras (capital de risco) e governamentais, enfatizando a participação dos governos federal, estadual e municipal. A literatura consultada não é unânime ao conceituar empresas de base tecnológica, porém, como referência, pode-se considerar a definição do OTA - Office of Technology Assesment - do congresso norte-americano, para empresas de alta tecnologia, combinada com a definição do SEBRAE (s.d), para micro e pequenas empresas: Micro e pequenas empresas de base tecnológica são empresas industriais com menos de 100 empregados, ou empresas de serviço com menos de 50 empregados, que estão comprometidas com o projeto, desenvolvimento e produção de novos produtos e/ou processos, caracterizando-se, ainda, pela aplicação sistemática de conhecimento técnico-científico. Estas empresas usam tecnologias inovadoras, têm uma alta proporção de gastos com P&D, empregam uma alta proporção de pessoal técnico-científico e de engenharia e servem a mercados pequenos e específicos. Partindo deste conceito de empresas de base tecnológica podemos perceber que as incubadoras de empresas são agentes fundamentais de apoio a este tipo de empresa. As incubadoras de empresas são apontadas pela literatura contemporânea como uma ação institucional que favorece o empreendedorismo e compartilha conhecimento com organizações, como universidades, associações comerciais e industriais, setores da indústria, entre outros. Outro tipo de entidade de suporte ao aperfeiçoamento tecnológico no Brasil são os CIN - Centros de Inovação e Negócios - que utilizam recursos do FINEP e SEBRAE, beneficiando empresas de base tecnológica. Esses espaços são caracterizados por serem um nascedouro de inovação e desenvolvimento profissional. Dessa forma, o principal fator que diferencia as empresas de base tecnológica de outras é o forte caráter inovativo, principalmente em pequenas empresas de base tecnológica, devido a sua flexibilidade e baixa hierarquização. Entretanto, os investimentos em P&D normalmente têm um caráter informal, sendo pouco sistematizados e planejados. 17 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base no marco teórico e na análise estabelecida nesse estudo, verificou-se que os Sistemas Adaptativos Complexos organizam-se por meio da interação de seus componentes ou agentes, evoluindo de maneira adaptativa e contínua, mudando à luz da experiência. Isso sugere um sistema aberto com um fluxo contínuo de entradas e saídas de informação entre o ambiente e o sistema. Esse contexto favorece a aprendizagem. Também se verificou que as tecnologias da Informação possibilitam a disseminação dos conceitos advindos desta aprendizagem, possibilitando uma estabilidade institucional que favorece todo o sistema e contribuem para a redução dos custos e a melhoria do desempenho dos processos produtivos e sistemas produtivos e inovativos locais. Uma vez que estes agentes ou organizações pertencem a um Arranjo Produtivo Local, compartilham de uma política de governança que orienta ações do grupo e favorecem a interação com o meio, há ganhos e vantagens competitivas adicionais com as informações advindas desse próprio meio, favorecendo todos os participantes dos APLs e SPILs e potencializando o processo de aprendizagem. Considerando a automatização dos processos das indústrias fabris e de gestão empresarial, o condutor principal que fomenta o processo de aprendizagem é a Tecnologia da Informação, principalmente em Arranjos Produtivos Locais e Sistemas Produtivos e Inovativos locais de empresas de base tecnológica, na qual a velocidade da trocas de informações com o ambiente é perceptivelmente maior, comparativamente com outros setores. Neste contexto, o trabalho teórico evidenciou a cooperação e o comprometimento como fatores fundamentais para a eficácia organizacional e interorganizacional, especialmente em ambientes de TI avançados, para que, efetivamente, se crie um ambiente de aprendizagem que favoreça a inovação. Estabelecida uma tipologia de referência, percebeu-se que estes ambientes caracterizam-se como uma rede de empresas horizontais e, portanto, estabelecida entre empresas que se comprometem em termos de produtos e/ou mercados em uma dimensão de cooperação mútua. Quando constituídas por PME´s, mais flexíveis e pouco hierarquizadas, a TI ocupa um papel preponderante para que se origine o aprendizado e, consequentemente, a inovação. Dadas as dificuldades inerentes às PME´s para investirem em P&D, a criação de um ambiente inovativo nestas organizações permite a evolução da aglomeração. Para pesquisa futuras, recomenda-se a verificação da utilização da Tecnologia da Informação pelas lideranças criativas em sistemas adaptativos complexos, com o intuito de esclarecer os efeitos das ações dessas lideranças, quanto à aprendizagem e à competitividade dos atores participantes do sistema. 18 A tecnologia da informação como condutora de inovação em aglomerações produtivas A Tecnologia da Informação apresenta muitos recursos e infraestrutura indispensáveis para a produção e a gestão dessas organizações participantes de sistemas adaptativos complexos e pode simultaneamente, estabelecer também, os meios necessários ao aprendizado organizacional e o estabelecimento de um ambiente inovativo, fatores essenciais para as empresas do setor de base tecnológica. REFERÊNCIAS AGOSTINHO, M.C.E. Complexidade e organizações: em busca da gestão autônoma. São Paulo: Atlas, 2003. ARGYRIS, C.; SCHON, D. Organizational learning: A theory of action perspective. 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New York: The Free Press, 1985. 20 O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina INTRODUÇÃO O desenvolvimento das indústrias de software, de eletrônica e de telecomunicações pode contribuir para ampliar não só a competividade e a produtividade setorial, como a indústria de transformação em geral, ao fornecer serviços e produtos intensivos em tecnologia e capital humano, proporcionando melhor qualidade do produto a menores custos. A indústria de software brasileira está voltada para o mercado interno, com forte presença de micro e pequenas empresas. Seu desenvolvimento tem sido marcado pela colaboração de políticas públicas de fomento e de redes de apoio às empresas. Diante da sua importância, o artigo procura responder às seguintes questões: quais as características da indústria de software de Londrina? Qual o grau de desenvolvimento da aglomeração de empresas? Como ocorrem os processos de inovação e aprendizado pelas empresas do setor de software do município de Londrina? Há relações de cooperação e interação entre as empresas do setor e outras instituições locais? O ambiente estrutural, institucional e relacional local é propicio ao desenvolvimento de uma aglomeração produtiva inovativa de software? O desenvolvimento e a institucionalização do APL de software poderão contribuir para o desenvolvimento econômico regional? A partir dessas questões, o objetivo do artigo é identificar as características do arranjo produtivo de software de Londrina e delinear políticas públicas para o incremento da produção e da inovação em software. Procura-se caracterizar as empresas, as atividades produtivas e inovativas. Busca, também, verificar a existência de elos horizontais, verticais e multilaterais, e identificar os gargalos produtivos e tecnológicos, de maneira a transformálo em um sistema local de inovações em software e polo exportador, a médio prazo. As informações foram coletadas mediante entrevista pessoal com os sócios proprietários e atores envolvidos com o APL. A análise dos resultados da pesquisa permite identificar o grau de amadurecimento da aglomeração produtiva e propor políticas públicas para acelerar seu desenvolvimento. Este estudo desenvolve-se em 5 seções: introdução; fundamentação teórica; metodologia adotada; análise dos resultados da pesquisa de campo sobre o APL de software 23 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná de Londrina e discussão de políticas públicas para o APL e, na última seção, as considerações finais. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A indústria de software, a eletrônica e as telecomunicações constituem o setor de Tecnologia de Informação (TI) por estarem associadas às tecnologias de informação. Segundo Gutierrez e Alexandre (2004, p.5), software é um conjunto de instruções e dados que permitem a um computador a realização de tarefas previamente programadas, seja por uma máquina (hardware) ou outros softwares. Conforme Sommerville (2004, p.5), [...] software não é apenas o programa, mas toda a documentação associada e os dados de configuração necessários para fazer com que esses programas operem corretamente. O software integra várias cadeias produtivas e é um requisito necessário para o comando de equipamentos informatizados. O software é um insumo importante para o desenvolvimento da indústria eletroeletrônica, mecânica, química, de telecomunicações e para indústrias tradicionais que informatizam seus equipamentos (móveis, têxteis, etc.). Segundo Gutierrez e Alexandre (2004), há várias formas de classificar o software, além da classificação tradicional baseada no modelo de negócios, subdivididos em três categorias: produtos, serviços e embarcados. Os produtos de software podem ser divididos em três categorias: infraestrutura; ferramentas e aplicativos (classificação técnica). Também podem ser classificados quanto à: i) inserção no mercado: horizontal, quando destinado a qualquer tipo de usuário; e vertical, quando é destinado a uma atividade ou usuário específico; também podem se caracterizar como produtos de massa e corporativos; e ii) formas de comercialização: pacote, produtos padronizados, produtos customizados e sob encomenda. Gutierrez e Alexandre (2004, p.14) destacam que os serviços profissionais de Tecnologia da Informação (TI) compreendem: [...] consultoria, desenvolvimento de aplicativos (software sob encomenda), integração, treinamento, suporte técnico e manutenção, entre outros. Eles podem ser classificados pelo método de compra: serviços discretos (de curto prazo) e outsourcing, que apresenta relações contratuais de longo prazo, metas de desempenho e requerem troca de informações, coordenação e confiança entre as partes. (KUBOTA, 2005). Finalmente, a última tipologia classifica os softwares como embarcados, pois está integrado a uma máquina, equipamento ou bem de consumo. Para Roselino (2006) e Sampaio (2006), a indústria de software nacional e internacional apresentam características que permitem classificá-las como extremamente dinâmicas e heterogêneas. 24 O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina Segundo a ABES (Associação Brasileira de Empresas de Software , 2008), o [...] mercado brasileiro de software e serviços ocupou em 2007 a 12ª posição no mercado mundial, tendo movimentado aproximadamente 11,12 bilhões de dólares, equivalente a 0,86% do PIB brasileiro daquele ano. Deste total, foram movimentados 4,19 bilhões em software, o que representou perto de 1,6% do mercado mundial. Os restantes 6,93 bilhões foram movimentados em serviços relacionados. Estudos apontam para um crescimento médio anual superior a 10% até 2010. Em 2007, a participação de programas de computador desenvolvidos no país atingiu 33,6 % do total do mercado brasileiro de software, confirmando a importante tendência de crescimento que vinha sendo apontada desde 2004, quando a participação era de 27%, e que poderá superar os 40% até o final da década. Este mercado é alimentado por 7.937 empresas, dedicadas ao desenvolvimento, produção e distribuição de software e de prestação de serviços. Daquelas que atuam no desenvolvimento e produção de software, 94% são classificadas como micro e pequenas empresas. A relevância dos estudos de aglomerações, clusters ou arranjos produtivos locais (APL), no Brasil, tem ganhado fôlego a partir dos estudos de economias industrializadas e economias em desenvolvimento que superaram barreiras porque criaram movimentos internos de aglomerações espaciais de indústrias com ligações entre si. Albagli e Maciel (2002), Brito (1999, 2001, 2002) e Cassiolato e Lastres (2003) convergem na definição de clusters ou arranjos produtivos locais, como sendo aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais, cujo foco encontra-se em um conjunto específico de atividades econômicas que podem apresentar vínculos, mesmo que sejam incipientes. Os APLs podem ser analisados sob vários aspectos do ponto de vista teórico e empírico, mas inserem-se no contexto de aglomerações territoriais. As principais abordagens da literatura sobre aglomerações são apresentadas a seguir. A nova geografia econômica destaca que a aglomeração pode emergir de um acidente histórico e da presença de economias externas acidentais e incidentais. (KRUGMAN, 1998). A economia dos negócios enfatiza a importância da concentração das habilidades locais para as inovações comerciais e tecnológicas, incrementando a competitividade das firmas. (PORTER, 1998). A economia regional aborda a tendência do capitalismo a organizar-se em clusters e a presença do governo pode criar fortes vantagens competitivas regionais (MARKUSEN,1996; PYKE; SENGENBERGER, 1992; STORPER, 1995). A economia da inovação destaca que a concentração geográfica das firmas aumenta suas capacidades de avanço tecnológico por criar um ambiente propício para a geração de conhecimento, por existirem várias pessoas com mútuo interesse num dado local, além do conhecimento tácito gerado pelo setor. (LUNDVALL,1993; EDQUIST, 1997; FREEMAN, 1994). 25 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná O conceito de eficiência coletiva parte do princípio de que as economias externas marshallianas são necessárias, mas não suficientes, para explicar o desenvolvimento e a competitividade de empresas aglomeradas. O conceito de eficiência coletiva extrapola a esfera produtiva em sentido estrito, pois a cooperação entre firmas ou as ações de políticas públicas podem realizar-se no âmbito tecnológico ou inovativo, ilustrado pela formação de consórcios de exportação, ações de marketing, compras conjuntas, entre outros. (SCHMITZ, 1997). O surgimento do novo padrão pós-fordista implica a mudança e a substituição dos padrões produtivos, calcados no conhecimento e na inovação, redundando na geração e na disseminação de novas práticas de produção, comercialização e lançamento de novos produtos e serviços para o mercado consumidor. (CASSIOLATO; LASTRES, 2003). A concentração geográfica e setorial de firmas de pequeno e médio porte, em aglomerações produtivas, pode permitir ganhos de escala, efeitos sinergéticos e competitividade. Segundo Lastres e Cassiolato (2003, p.11), os arranjos produtivos locais: [...] são aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais com foco em um conjunto específico de atividades econômicas que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Em geral, envolvem a participação e a interação de empresas como prestadoras de serviços, produtoras de bens e serviços finais, fornecedoras de insumos e equipamentos, entre outras. Incluem instituições públicas e privadas que formam a capacitação de recursos humanos (escolas técnicas e universidades), pesquisa, desenvolvimento e engenharia, política, promoção e financiamento. Para gerar inovações é necessária a aquisição e a difusão de conhecimentos. Foray e Lundvall (1996) salientam que há duas perspectivas na economia baseada no conhecimento, que não são mutuamente exclusivas. A primeira refere-se a identificar um setor separado que produz novos conhecimentos ou distribui informações. Na segunda perspectiva, devese considerar a criação e a difusão de conhecimento, emanadas de atividades rotineiras na vida econômica e que toma a forma do aprendendo-fazendo, aprendendo-usando e aprendendo-interagindo. Know-how e competências têm sido desenvolvidos interativamente e partilhados em redes. Edquist (2001) aponta as principais funções de um Sistema de Inovações (SI), que são, em primeiro lugar, produzir, difundir e usar inovações; e podem ser supranacional, nacional e subnacional (regional, local); podendo, ainda, ser setoriais, dentro dessas demarcações geográficas. As organizações e as instituições são os componentes principais de um sistema de inovação, porém, a especificação desses componentes varia entre os sistemas. Organizações são estruturas formais com um objetivo explícito e são criadas 26 O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina conscientemente. Instituições são conjuntos de hábitos comuns, rotinas, práticas estabelecidas, regras, ou leis que regulam as relações e inter-relações entre indivíduos e organizações. As organizações1 e as instituições2 são os componentes principais de um sistema de inovação, porém, a especificação desses componentes varia entre os sistemas. Segundo Pyke (1992), o sistema de cooperação ocorre entre empresas, normalmente pequenas e independentes, organizado em uma região como base, pertencendo ao mesmo setor industrial. As empresas individuais especializam-se em uma fase, em particular, do processo produtivo, e a organização conjunta permite dar voz às instituições locais, por meio de relacionamentos de competição e de cooperação. A cooperação colabora para o atendimento de inúmeras necessidades das empresas pertencentes ao mesmo conglomerado, as quais não seriam atendidas se as empresas atuassem isoladamente. Em muitos casos, as firmas podem atuar em redes. Segundo Britto (2001), as redes de firmas assumem um papel importante porque auxiliam na codificação de conhecimentos, envolvendo aprendizado e conhecimentos técnico-científicos distintos e complementares. Segundo Britto (2001) o aprendizado pode ocorrer de maneira formal e informal e contribuir para a competitividade empresarial. IPARDES (2005a; 2005b; 2005c) realizou um estudo exploratório para identificar, a partir de dados secundários, as aglomerações industriais e de software existentes no Paraná e selecionar os estudos de caso; para validar os resultados identificados no levantamento de dados secundários, realizou visita a 35 cidades e contatou 131 empresas e 117 instituições. O APL de software de Londrina foi classificado pelo IPARDES (2005a; 2005c), a partir da metodologia de Suzigan et al. (2003, 2004a e 2004b), como vetor avançado, por reunir elementos que permitiram a caracterização estrutural preliminar como um arranjo produtivo local: as iniciativas dos próprios protagonistas, do agente Softex local ADETEC e dos elos multilaterais e horizontais identificados. Segundo o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social IPARDES (2005a) e a Associação de Desenvolvimento Tecnológico de Londrina - ADETEC (2005), Curitiba, Londrina, Maringá e Pato Branco apresentam excelentes perspectivas para o desenvolvimento desse segmento no estado do Paraná. Londrina, em particular, destacase no panorama nacional como importante produtora nacional de bens e serviços de Tecnologia de Informação. Organizações são estruturas formais com um objetivo explícito e são criadas conscientemente. Instituições são conjuntos de hábitos comuns, rotinas, práticas estabelecidas, regras, ou leis que regulam as relações e interrelações entre indivíduos e organizações. 1 2 27 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A literatura de metodologia destaca a existência de vários métodos para coletar e analisar a evidência dos dados empíricos e cada um deles, como surveys, estudos de caso e experimentos, apresenta vantagens e desvantagens. Tendo em vista a especificidade do tema desta pesquisa, o método escolhido foi o survey, permitindo descrever o processo de obtenção de dados e informações sobre características, ações ou opiniões de determinado grupo de pessoas, indicado como representante de uma população-alvo, por meio de um instrumento de pesquisa, um questionário. Segundo Cooper e Schindler (2003), há três abordagens de comunicação que podem ser utilizadas na aplicação da survey: entrevista pessoal, entrevista telefônica e surveys autoadministradas por correspondência. A presente pesquisa adotou a entrevista pessoal, configurando-se como pesquisa de campo presencial. A pesquisa é de natureza exploratória, transversal e formal e visa caracterizar o arranjo produtivo de software de Londrina, identificado anteriormente por IPARDES (2005c) como vetor avançado. Para identificar a importância do setor de informática e de software de Londrina em relação ao Brasil, procurou-se levantar informações sobre o número de estabelecimentos e empregos nos setores ligados à informática. Utilizando a metodologia de quociente locacional, verificou-se que a importância dos diferentes segmentos é crescente, em particular no segmento de software. A fórmula proposta pelo IEDI (2002) para calcular o quociente locacional, para emprego ou estabelecimentos, é apresentada a seguir: E ij QL ij = E j• E• j = Quociente Locional do setor i na região j E• • Eij = emprego/estabelecime to no setor i da região j E• j = ∑ Eij = emprego/estabelecime to em todos os setores da região j i E j• = ∑ Eij = emprego/estabelecime nto no setor i de todas as regiões j E•• = ∑ ∑ Eij = emprego/estabelecime nto em todos setores de todas as regiões i j 28 O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais RAIS -, em 2004 havia 149 empresas operando em diferentes segmentos da informática em Londrina e 826 empregados atuavam nas empresas de informática de Londrina. O cadastro de Informática da Prefeitura Municipal de Londrina, em 2005, permitiu identificar o universo da pesquisa a partir das empresas selecionadas para a amostra: análise de sistemas, programação, elaboração de programas de computadores e jogos eletrônicos, assessoria e consultoria financeira. As empresas associadas ao Núcleo Softex Norte do Paraná também estão cadastradas na PML (2005). ANÁLISE DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE SOFTWARE DE LONDRINA A cidade de Londrina localiza-se no norte do Paraná e sua população, segundo o Censo Demográfico de 2000 do IBGE, totalizou 447.065 habitantes. A população foi estimada em 480.822 habitantes, em 2004 pelo IBGE. A densidade demográfica de Londrina foi calculada em 259,21 hab/Km² (IBGE Censo Demográfico 2000) e estimada em 291,26 hab/Km² (IBGE Estimativa da População 2004). Segundo o SINE, os empregos estimados no Setor Formal totalizaram 103.227 (MTPS/SINE - 2003) e o PIB per capita alcançou R$ 7.624,00, segundo dados IBGE - 2002 (PML, 2006). Segundo o Censo Agropecuário de 1995/1996 havia no município de Londrina 3.119 estabelecimentos agropecuários, com área de 183.093 ha, que ocupavam 12.203 pessoas na atividade agropecuária. Os principais produtos agropecuários são: milho, soja, trigo, cana-de-açúcar, café, mandioca, arroz, tomate, feijão e algodão. As atividades industriais, comerciais e de serviços são intensas e diversificadas. Em 2003, eram 1.847 estabelecimentos industriais, os estabelecimentos comerciais totalizavam 7.874 e os serviços 8.460 estabelecimentos (PML, 2006). No ramo industrial, destacaram-se na pesquisa do IBGE em 2003: metalurgia (9,75%), vestuário, calçados e artefatos de tecidos (15,54%), produtos alimentares (11,97%), construção civil e empreiteiras (20,14%), editorial e gráficas (6,71%). Esses segmentos industriais foram responsáveis pela geração de 25% dos empregos no ano de 2003; e os estabelecimentos de serviços: de ensino (6,5%), serviços médico-hospitalares (6,2%), transportes (6,2%), comunicações (6,1%) na geração de empregos, entre outros. O setor serviços é responsável por uma parcela crescente do número de estabelecimentos, do emprego e da geração de impostos, por exemplo: o ICMS arrecadado pelas atividades agropecuárias foram 8,5%, as atividades industriais 17%, o comércio 35% e outras atividades 29 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná 39%. O software auxilia na melhoria do desempenho econômico das atividades listadas. O levantamento preliminar na base de dados da RAIS permitiu verificar que, em 2004, havia 10 empresas que atuavam no desenvolvimento de software, 11 em consultoria de hardware, 2 em atividades de banco de dados, segundo a Tabela 1. A produção de softwares concentravase em microempresas e pequenas empresas. Tabela 1 - Estabelecimentos com atividades de Informática na cidade de Londrina -2004 (CNAE 72). Atividade Micro Pequena Média Grande Total Consultoria em hardware Desenvolvimento e edição de softwares prontos para uso Desenvolvimento de softwares sob encomenda e outras consultorias Processamento de dados Atividades de banco de dados e distribuição on line de conteúdo eletrônico Manutenção e reparação de maquinas de escritório e de informática Outras atividades de Informática 10 1 0 0 11 2 1 0 0 3 5 2 0 0 7 75 7 1 0 83 2 0 0 0 2 12 2 0 0 14 26 2 1 0 29 Total de empresas que operam em informática 132 15 2 0 149 Fonte: RAIS (2005). No levantamento de campo efetuado pela ADETEC (2005), é apresentado um quadro diferenciado do APL de software e seu entorno, envolvendo todos os elos da cadeia de software, que é ilustrado na Tabela 2. 30 O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina Tabela 2 - Número de empresas - Setor de Informática - Londrina e região 2005. Atividade Artigos, Equipamentos e Suprimentos Auditoria CD-ROM Consultoria Cursos e Treinamento Equipamentos- Fabricação e Vendas Periféricos Processamento de dados Projetos e Instalações Redes Software -Aplicativos e Sistemas Software- Desenvolvimento Londrina 43 2 6 29 29 39 12 12 5 12 34 21 Londrina e região - total 53 2 6 32 73 50 12 20 7 14 40 21 Fonte: ADETEC (2005). 31 32 Tabela 3 - Quociente Locacional de estabelecimento por classe de atividade (CNAE -1995) em Londrina: 1995 a 2004. Setor Código 72109 72214 72290 72303 72508 72907 Consultoria em hardware; desenvolvimento e edição de softwares prontos para uso; desenvolvimento de softwares sob encomenda e outros consumos; processamento de dados; atividade de banco de dados e distribuição on-line de conteúdo eletrônico; manutenção e reparação de maquinas de escritório e de informática; outras atividades de informática, não especificadas anteriormente. Total Fonte: RAIS (2006). 1995 1996 1997 1998 1999 2000 0,617 1,162 1,560 1,161 0,954 0,80 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,00 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,00 0,969 0,866 0,730 1,489 1,588 1,96 2,701 3,713 2,022 1,962 2,655 2,27 1,343 1,359 1,265 0,850 0,453 0,74 1,557 1,731 1,397 1,302 1,162 1,32 1,288 1,423 1,228 1,265 1,144 1,31 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná 72400 Descrição Quociente Locacio O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina A Tabela 3 apresenta a evolução setorial do quociente locacional de estabelecimentos de informática, (como um todo apresentou QL >1) e permite verificar que o segmento de software, em geral e sob encomenda, começa a adquirir importância regional a partir de 2002. A Tabela 4 apresenta o quociente locacional de cidades selecionadas no Paraná e permite verificar que. em relação ao Brasil, a aglomeração de software de Londrina é representativa, particularmente levando-se em consideração a diversidade de atividades realizadas na região.Também se verifica o incremento dos valores dos quocientes locacionais, entre 1995 e 2005, para a cidade em estudo. A análise da Tabela 4 também permite inferir que as cidades paranaenses de Curitiba, Maringá, Pato Branco, Cascavel são importantes pólos de software. Segundo a recomendação da nota metodológica, as empresas entrevistadas deveriam ser representativas. Foram selecionadas 60 empresas a partir do cadastro das prefeituras, empresas da PLATIN (Plataforma Tecnológica de Informação) e empresas incubadas na INTUEL (Incubadora Tecnológica da UEL). As dificuldades enfrentadas cadastro desatualizado, inexistência/fechamento da empresa, mudança de atividade e anuência do proprietário da firma para a participação na pesquisa - permitiram a realização da pesquisa com 25 empresas, na amostra, que afirmaram desenvolver atividades de software e concordaram em participar na pesquisa. Tabela 4 - Quociente Locacional de estabelecimento por classe de atividade (CNAE 1995) Municípios do Paraná selecionados - 2005. MUNICÍPIOS DO PARANÁ CLASSE 72109 CONSULTORIA EM HARDWARE APUCARANA CAMPO MOURÃO CASCAVEL CURITIBA FOZ DO IGUAÇU LONDRINA MARINGÁ PATO BRANCO PINHAIS PONTA GROSSA SÃO JOSÉ DOS PINHAIS TOLEDO 0,000 0,842 0,273 2,704 1,785 1,325 1,058 2,482 1,627 0,290 0,464 0,624 CLASSE 72214 DESENVOLV. E EDIÇÃO DE SOFTWARES PRONTOS PARA USO 1,211 1,657 2,147 2,052 0,000 1,564 1,785 3,255 3,200 0,570 0,913 0,000 CLASSE 72290 DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARES SOB ENCOMENDA 0,901 0,000 1,597 2,205 1,568 1,164 1,328 3,633 3,571 0,000 0,679 3,653 Fonte: RAIS (2006) As visitas às empresas ocorreram em 2006. Foram entrevistadas 25 empresas que concordaram com a realização de entrevista presencial com os sócios proprietários. A idade 33 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná média das empresas é de aproximadamente 10 anos, a empresa mais antiga realizava, inicialmente, processamento de dados e foi fundada em 1970, tendo migrado nos anos 1980 para o desenvolvimento de software (Exactus). No entanto, verificou-se que 14 foram fundadas a partir de 2000. Entre as principais características das empresas apresentadas no quadro 1 destacam-se a sociedade limitada (88%) e o fato de serem empresas 100% nacionais. A atividade na área de desenvolvimento de software requer mão-de-obra qualificada, elemento confirmado pela amostra de 25 empresas, pois, em sua maioria, os sócios na atualidade possuem diploma de curso superior (21). A forma de gestão que predomina entre as empresas é a condução pelo sócio majoritário e a gestão profissional. As empresas têm, em média, 3 sócios, embora o comum sejam 2 sócios. Há uma empresa na qual a sociedade é individual e uma outra, composta por 10 sócios, é gerenciada por um conselho de sócios. A análise da autoclassificação do faturamento permite verificar que há 13 microempresas, 10 pequenas empresas e 2 empresas não informaram o faturamento. A escolaridade dos sócios, quando houve a criação da empresa, era elevada e predominavam os sócios com graduação e pós-graduação Mestrado Acadêmico em Administração e Computação. A pesquisa também revelou que 60% das empresas amostradas eram pequenas e 40% caracterizavam-se como microempresas. (Quadro 1). 34 O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina CARACTERÍSTICA NÚMERO ABSOLUTO IDADE MÉDIA TIPO DE SOCIEDADE 9,9 21 Sociedade Anônima: 2 Franquia: 1 Sociedade Individual: 1 Ensino Médio Completo: Técnico de Nível Médio ou Pós-médio: ESCOLARIDADE ATUAL DO SÓCIO-PROPRIETÁRIO Superior Incompleto: 25 100 % nacional 2 1 2 Superior Completo: 12 Pós-Graduado: 8 Dirigida pelo Sócio majoritário: 12 Profissional: 7 Familiar: 3 Conselho de sócios: 3 NÚMERO MÉDIO DE SÓCIOS 3 sócios MICRO FATURAMENTO ANUAL DA EMPRESA* (R$ 1000) 14 empresas fundadas após 2000 Sociedade Limitada: PROPRIEDADE DO CAPITAL Empresas de capital nacional: TIPO DE GESTÃO OBSERVAÇÕES PEQUENA 1. Até 108 9 2. De 108, 001 até 216 4 3. De 216,001 até 576 1 4. De 576,001 até 1.200 3 5. De 1.200,001 até 1.440 6 13 microempresas 10 pequenas empresas Quadro 1 - Características das empresas. Fonte: Pesquisa de campo, 2006. * 2 empresas sem informação. A escolaridade dos sócios, em 2006, sinalizava elevada qualificação formal dos proprietários de empresas que atuam no desenvolvimento de softwares em Londrina: 53% apresentavam ensino superior completo e 27 realizaram estudos de pós-graduação. A análise do Quadro 2, que apresenta o perfil do sociofundador, sinaliza a predominância do gênero masculino, pois 88% dos sócios são homens e apenas 12% são mulheres. Esta tendência também era verificada no curso de graduação em computação, na qual se constatou a presença exígua de mulheres, ao contrário dos demais cursos de graduação (Administração, Engenharia, Direito, Economia, Contabilidade). A média de idade dos sócios 35 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná CARACTERÍSTICA NÚMERO ABSOLUTO Masculino: Feminino: 20 até 29 anos: 30 até 39 anos: Mais de 40: Não informaram: Ensino Médio Completo: 22 3 14 5 1 5 2 Masculino: 88% Feminino: 12% ESCOLARIDADE DO SÓCIO FUNDADOR CRIAÇÃO DA EMPRESA Técnico de Nível Médio ou Pós-médio: 1 Superior Incompleto: Superior Completo: Pós-Graduado: Ensino Médio Completo: 5 12 5 2 Mestrado: Administração, Computação ESCOLARIDADE DO SÓCIO FUNDADOR ATUALIDADE Técnico de Nível Médio ou Pós-médio: 1 Superior Incompleto: Superior Completo: Pós-Graduado: Dirigida pelo Sócio majoritário: Profissional: Familiar: Conselho de sócios: Empresários: Sim: Outras Atividades: Não: Estudante: Universitário: Empregado de empresa local: Atividade no APL: Outra atividade: Empregado de empresa de fora do APL: 2 12 8 9 7 3 3 SEXO IDADE DO SÓCIO PRINCIPAL NA FUNDAÇÃO DA EMPRESA TIPO DE GESTÃO SITUAÇÃO DOS PAIS DOS SÓCIOS FUNDADORES OCUPAÇÃO PRINCIPAL DO SÓCIO FUNDADOR AO CRIAR A EMPRESA • Fonte: Pesquisa de campo, 2006 Idade Média: 29 anos Mestrado: Administração, Computação 7 18 6 9 2 Funcionário de Instituição Local (Pública e Privada) PLATIN: • Empresários de outras atividades • Outros é 29 anos Quadro 2 - Perfil do principal sócio fundador. 36 OBSERVAÇÕES Construção Civil: AutônomoInformática: Não informaram: 1 2 2 2 O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina O crescimento e o grau de inovação das empresas repousam na criatividade e no desenvolvimento de competências. Com este objetivo, as firmas procuram capacitar e atualizar as pessoas da organização. O Gráfico 1 destaca as principais formas utilizadas pelas empresas. Destacam-se o treinamento interno, a absorção de universitários e a aquisição de publicações e periódicos especializados. Capacitaçao outras instituições Certificação Educação à distância Absorção de Formandos de Cursos Técnicos da região APL Absorção de Formandos Universitários da região APL Contratação de técnicos/engenheiros de outras empresas Treinamentos em outras empresas/clientes Treinamento interno Incentivo à Publicação de Trabalhos Técnicos e Participação Congressos Incentivo à Graduação e Pós-Graduação Aquisição de Publicações e Peródicos Especializados Acesso irrestrito Internet (exceto Orkut e MSN-2) Não adota 0 5 10 15 20 25 Gráfico 1 - Formas utilizadas para promover a capacitação e a atualização de pessoas na organização - Software em Londrina- 2005. Fonte: Pesquisa de campo, 2006. Segundo a Tabela 5, as fontes mais frequentes de inovação tecnológica são: catálogos, revistas e sítios especializados (80%), especificações de clientes (80%), vendedores (40%), benchmark de serviços e produtos existentes (36%) e universidades e centros de pesquisa (28%). Entre as fontes ocasionais, destacam-se as visitas às feiras em outras regiões do país (60%), às feiras na região (60%), aos funcionários que trabalharam em outras empresas 37 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná (60%) e às ocasiões sociais (56%). Tabela 5 - Utilização das Fontes de informação para Inovação de processo e produto/ serviço em valores absolutos e relativos para o APL de software de Londrina Número de Fontes de Informação empresas que (%) utilizam Frequentes Catálogos, revistas e sítios especializados 20 80 Especificações de clientes 20 80 Vendedores 10 40 Benchmarking de produtos/serviços existentes 9 36 Universidades/centros de pesquisa 7 28 Ocasiões sociais 6 24 Ocasionais Visitas a feiras em outras regiões do país 15 60 Visitas a feiras da região 15 60 Ocasiões sociais 15 60 Funcionários que trabalharam em outras empresas 14 56 Visitas a outras empresas da região 12 48 Consultores especializados da região 12 48 Workshops de produtores 11 44 Fonte: Pesquisa de campo, 2006. A Tabela 6 apresenta as inovações adotadas pelas empresas no período 2003/ 2005. A maioria das empresas lançou novos produtos e serviços no período entre 2003 e 2005 e verificou a sua importância em diferentes indicadores de desempenho. Em 88% dos casos, os produtos ou serviços novos lançados pelas empresas já existiam no mercado. Em 44% dos casos analisados, os produtos e serviços eram novos no mercado nacional e, em 7 casos, caracterizavam-se como novos no mercado internacional. Em 16 empresas, os processos adotados eram novos para a empresa, mas já existiam no mercado e em 11 houve adoção de processos inovadores para o setor. Os indicadores de produtividade, qualidade, diferenciação, participação de mercado das firmas foram melhorados pela adoção de novos processos e por lançamento de novos produtos e serviços nos mercados regional, nacional e internacional. A maior importância foi verificada na ampliação da qualidade dos produtos/serviços e seis empresas destacaram a participação em programas de qualidade e certificação para credenciarem-se no mercado internacional. A importância no aumento de produtividade é alta para 13 empresas e entre alta 38 O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina e média para 20 empresas e, também, permitiu ampliar a gama de produtos e serviços, o aumento de participação no mercado interno e a abertura de novos mercados para as empresas. O único indicador que apresentou desempenho ruim foi o aumento de participação no mercado externo, pois, para 21 empresas, a importância das inovações foi baixa ou nula. Tabela 6 Inovações praticadas pelas empresas do APL de software de Londrina em produtos/ serviços e processos entre 2003 e 2005. 1. 2. 3. 4. 5. 6. Inovações Produtos/ serviços Inovações de produtos/serviços Produto novo para empresa, mas existente no mercado Processos tecnológicos novos para a empresa, mas já existente no setor Produto novo para o mercado nacional Processos tecnológicos novos para o setor Produto novo para o mercado internacional IMPORTÂNCIA 1. Ampliação da qualidade dos produtos/serviços 2. Permitiu manter participação nos mercados de atuação Aumento de produtividade Ampliação da gama de produtos/serviços Permissão para que a empresa abrisse novos mercados Aumento de participação no mercado interno Aumento de participação no mercado externo 3. 4. 5. 6. 7. Realiza Inovações Número (%) 23 92 20 80 18 72 11 11 7 ALTA MÉDIA 44 44 28 BAIXA NULA 18 4 1 2 14 13 12 7 7 8 1 1 2 3 4 3 10 9 0 5 12 4 2 1 2 8 2 19 Fonte: Pesquisa de campo, 2006. A Tabela 7 apresenta as inovações organizacionais das empresas, no período 2003/ 2005, e sua importância no crescimento das empresas. Verifica-se que a maioria das empresas não adotou inovações organizacionais. No entanto, as empresas que as introduziram ressaltaram que houve mudanças significativas nos conceitos e/ou nas práticas de comercialização. Entre as inovações organizacionais também se destacam a implementação de significativas mudanças nos conceitos ou práticas de marketing, de mudanças na estrutura organizacional, implementação de técnicas avançadas de gestão e programas de qualidade e certificação - CMM - Capability Maturity Model (2), MPS.BR- Melhoria do Processo do Software 39 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Brasileiro (4), ISO- International Organization for Standardization (1). Tais mudanças tiveram alta importância e contribuíram para a melhoria da qualidade dos produtos e dos serviços comercializados para 13 empresas entrevistadas. A contribuição é de média importância para o aumento da produtividade, para a manutenção ou o aumento das parcelas de mercado interno das firmas. A maioria das firmas destacou que inovações organizacionais não contribuem para a ampliação da gama de serviços e produtos ofertados, para a abertura de novos mercados ou para o aumento da participação no mercado interno e externo. O impacto das inovações no lucro, na participação do mercado e na receita foi relevante para a maioria das empresas. Apenas uma empresa relatou que não houve nenhum impacto no lucro e nas receitas da empresa. Três destacaram que as inovações foram fundamentais para a sobrevivência e a manutenção da parcela de mercado, mas sem mudanças nas receitas. Duas destacaram um incremento no valor da renda entre 1% e 9%. Seis identificaram incremento entre 10% e 19%, cinco entre 20% e 49% e, em oito empresas, o impacto permitiu superar o valor das receitas em mais de 50%. Para identificar a importância das instituições foram somadas as respostas assinaladas como de alta e média importância, cujo total deveria superar 45%. As empresas destacaram por ordem de importância: i) apresentação de reivindicações comuns; ii) criação de fóruns e ambientes adequados à discussão; iii) organização de eventos técnicos e comerciais; iv) estímulo ao desenvolvimento do ensino e da pesquisa; v) estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino e pesquisa local; vi) identificação das formas e fontes de financiamento; vii) definição de objetivos comuns do APL; e viii) auxílio na definição de ações estratégicas. 40 O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina Tabela 7 Inovações organizacionais praticadas pelas empresas do APL de software de Realiza Inovações Número (%) Inovações Organizacionais 1. 2. 3. Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de comercialização Implementação de significativas mudanças na estrutura organizacional Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de marketing 4. Implementação de técnicas avançadas de gestão 5. Processos tecnológicos novos para o setor Importância Ampliação da qualidade dos produtos/serviços Permissão para manter participação nos mercados de atuação Aumento de produtividade Ampliação da gama de produtos serviços Permissão para que a empresa abrisse novos mercados Aumento de participação no mercado interno Aumento de participação no mercado externo 12 48 11 44 11 44 10 8 40 32 Alta Média Baixa Nula 13 4 1 7 7 5 5 9 11 6 2 1 5 7 8 9 5 4 3 13 4 10 2 9 1 2 3 19 Londrina entre 2003 e 2005. Fonte: Pesquisa de campo, 2006. Entre os principais problemas identificados e destacados pelas empresas de software na Tabela 8, destacam-se a existência de elevada carga tributária, a necessidade de qualificação de mãode-obra especializada para a promoção de eventos e congressos, o estímulo à cooperação entre as pequenas empresas, a necessidade de linhas de crédito. 41 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Tabela 8 - Sugestões das empresas para compor as políticas governamentais Ordem Sugestões das Empresas 1. Estímulos à cooperação com ações voltadas para pequenas empresas. 2. Necessidade de linhas de créditos, juros mais baixos, prazos maiores e capital de giro. 3. Integração de empresas e entre pólos e recursos para a realização de workshops para a troca de experiências 4. Cultura das empresas da cidade no que se refere aos produtos, informação e divulgação. 5. Carga tributária, ausência de incentivos fiscais e incentivos governamentais de uma maneira geral. 6. Qualificação de mão-de-obra e promoção de eventos, tais como congressos. 7. Necessidade de estimular a entrada de grandes empresas na cidade para alavancar o mercado. Número 9 9 6 5 17 11 1 Fonte: Pesquisa de campo, 2006. O Gráfico 2 apresenta as relações de parceiras das empresas que desenvolvem software em Londrina. Aproximadamente, 70% das parcerias aprimoram-se internamente. Entre o conjunto de empresas na região e uma parcela pequena é observada, no estado do Paraná, no país ou no exterior, na forma de subcontratantes ou subcontratadas ou via outsourcing. Mas, verifica-se falta de comunicação e transparência nas relações de parcerias, que acabaram por gerar resultados não muito satisfatórios nas atividades de outsourcing, desenvolvimento e comercialização no mercado externo. No entanto, as empresas têm se organizado satisfatoriamente para obter certificação e qualificação de mão de obra. A certificação é essencial para conquistar os mercados brasileiro e internacional. 42 O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina ComercializaçãoExterior 1% Qualificação MDO 2% Certificação 3% Comercialização-BR 6% Desenvolvimento 34% Outsourcing 54% Gráfico 2 - Relações de parcerias realizadas pelas empresas para o desenvolvimento de produtos/serviços. Fonte: Pesquisa de campo, 2006 No que tange às relações interempresariais e de cooperação, as empresas de software de Londrina estabelecem formas de comunicação no âmbito técnico, ao trocarem ideias sobre as dificuldades ocasionais (60%), apenas 20% delas estabelecem contatos com frequência, e, em ambos os casos, o contato desenvolve-se em torno de questões de mercado e novas tecnologias. Na esfera social, observou-se que existe interação de grande parte das empresas (21 casos), propiciada por instituições de caráter associativo (ADETEC) e representativo na localidade (SEBRAE). Além disso, o estudo identificou que as empresas da rede recorrem, além dos recursos financeiros próprios (80%), a outras fontes de financiamento, tais como bancos públicos, agências de fomentos e programas governamentais e de caráter misto, para expansão ou modernização da empresa. A análise dos resultados da pesquisa de campo sinalizou a importância de implementar políticas públicas em cinco esferas: governança, recursos financeiros, gestão e certificação e infraestrutura, conforme apresentado no Quadro 3. 43 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná PROBLEMAS IMPORTÂNCIA 1.Governança alta 2. Recursos financeiros alta • • • • 3. Gestão e certificação: formação e especialização da mão-de-obra alta • • • • • 4. Infra-estrutura alta • • POLÍTICAS PÚBLICAS SUGERIDAS Apoio na forma de suporte financeiro e mão-de-obra qualificada para a articulação e integração dos atores de forma a ampliar e reforçar o nível de auto-organização e comando compartilhado, pautado em um plano de desenvolvimento Editais disponibilizando recursos para a melhoria das instalações, aquisição de equipamentos e softwares das empresas para microempresas e pequenas empresas Recursos para a realização de pesquisas de prospecção de mercado Recursos com taxas atrativas para capital de giro e investimento em geral, das micro e pequenas empresas Suporte para exportação Realização continuada de cursos de gestão de empresas de base tecnológica, cursos de capacitação e especialização para formar mão-de-obra de alto nível - dado o dinamismo da área - e cursos de formação de agentes de certificação de softwares. Formação continuada de pessoal de nível técnico e superior de alta qualidade Capacitação para a exportação Recursos para a promoção de eventos regionais e nacionais de software Editais para a instalação e ampliação física e de redes tecnológicas e aquisição e atualização de máquinas com o uso de internet de altíssima velocidade e tecnologias bluetooth e Wi-Fi. O público alvo seriam as incubadoras, as instituições de ensino superior estaduais, os parques tecnológicos, os condomínios e hotéis tecnológicos que hospedem empresas d e software. Recursos para a instalação de centros de referência em desenvolvimento de software, com instalações físicas, equipamentos e a promoção de cursos sob a responsabilidade das IEES Quadro 4 - Principais problemas e sugestões de políticas para o vetor avançado de software de Londrina Fonte: Pesquisa de campo, 2006 CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa identificou o potencial inovador e a diversidade das atividades desenvolvidas pelas empresas e agentes locais, dificultando a governança local do APL de software de Londrina. Do lado das empresas, há dois grupos distintos: i) empresas que defrontam com problemas de sobrevivência, cujas demandas envolvem aspectos financeiros; e ii) empresas dinâmicas, cujas demandas apresentam outra natureza. Identificam-se, também, as demandas das instituições de ensino responsáveis pela formação da mão-de-obra de alta qualidade e as das demais instituições. As sugestões dos atores em prol da aglomeração de 44 O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina software, são fundamentais para a definição das ações de políticas públicas. A abertura de editais governamentais para ampliar e atualizar os laboratórios de pesquisa das IES e das incubadoras requer, para superar as principais deficiências, espaço físico (construção), ampliação e atualização do parque de computadores. Verifica-se a necessidade de incentivos para o crescimento do mercado restrito de software no Paraná, como por exemplo, software para o agronegócio e segmentos industriais (pacote e embarcado), games etc.. Os estímulos financeiros devem ser incrementados no município e no estado para a instalação e funcionamento de empresas de software, com redução do ISS e as taxas dos juros para a atualização do parque de máquinas das empresas. Também há necessidade de uma ampla divulgação das linhas de crédito específicas para o setor de software e da assessoria na elaboração dos projetos, bem como ampliação do alcance do PROGEX e outros incentivos para incrementar as exportações. Verifica-se a necessidade de estruturação de uma rede paranaense de alta velocidade para os institutos de pesquisa para a UEL internet de altíssima velocidade e para os estabelecimento de redes virtuais wirelless, que beneficiariam as IEEs públicas e não somente o segmento de software. Um fator catalizador das atividades de software seria a realização de eventos e wokshops no sentido de promover a qualidade do software e a qualificação das empresas de software paranaense, viabilizando recursos para o financiamento para certificação MPS-Br. Uma vez que o setor é intensivo em mão-de-obra qualificada, uma política contínua de qualificação dos docentes das universidades públicas e privadas é necessária. É preciso criar mecanismos efetivamente atrativos para a concretização de parcerias entre as universidades e empresas, tendo em vista o desenvolvimento tecnológico nas diversas áreas da tecnologia da informação (TI), notadamente os diversos setores de telecomunicações: software e hardware, camada física e superiores, protocolos, entre outros. Uma redução na carga tributária das empresas e nos encargos sociais sobre a mão-de-obra especializada, muito utilizada pelas empresas que desenvolvem novos conceitos, processos e produtos tecnológicos em países líderes neste setor, estimularia a contratação de mão-de-obra qualificada. Finalmente, o investimento em cultura empresarial também é necessário, para que as empresas londrinenses busquem, efetivamente, o desenvolvimento tecnológico e invistam nos talentos e competências técnicas nacionais, possibilitando, em um cenário de médio prazo, que a região torne-se um grande centro de desenvolvimento de conhecimento nas áreas de software e de telecomunicação. A adoção das políticas recomendadas e o fortalecimento da governança do APL, que foi constituída em fins de 2006, têm permitido ao APL de software de Londrina ampliar 45 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná seu potencial exportador e inovador e contribuir para o desenvolvimento regional. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE SOFTWARE - ABES -. O Mercado Brasileiro de software 2008. Capturado em: <http://www.abes.org.br/templ3.aspx?id=306&sub=401> Acesso em: 10 out/2008 às 18:00 horas. ADETEC. APL de software de Londrina e região. Londrina: ADETEC, 2005. 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Porto Seguro: ANPEC, 2003. 48 Aprendizado e inovação na rede de micro e pequenas empresas de software de Londrina INTRODUÇÃO O acirramento da concorrência, a crescente internacionalização da economia, a busca pela manutenção e sobrevivência face às incertezas e à complexidade ambiental têm conduzido empresas e organizações a uma constante revisão e reestruturação das suas formas de atuação para se adequar à nova realidade de mercado. Neste contexto, Lemos (2001) reconhece a inovação como sendo uma das forças dinâmicas que elevam a capacidade competitiva das empresas. A inovação é uma ação conjunta e cooperada de diversos atores internos e externos à organização. (RICHARDSON, 1972). O processo inovativo não acontece isoladamente, ou seja, na busca por inovações, as firmas procuram estabelecer relações e interagir com outras organizações, pois podem utilizar informações e conhecimentos que se localizam também fora de seu ambiente. O processo de inovação é, portanto, um processo interativo, realizado com a contribuição de variados agentes sócioeconômicos que possuem diferentes tipos de informações e conhecimentos e que possibilitam novos ganhos. (LEMOS, 2001). Britto (2002) afirma que a análise das variadas formas de cooperação produtiva e tecnológica entre empresas tem propiciado uma maior compreensão de como se pode alcançar um melhor desempenho competitivo centrado, não na empresa individual, mas, principalmente, na investigação das relações entre as empresas e as demais instituições. O objetivo do capítulo é descrever e discutir os processos de aprendizado e as inovações existentes na rede de micro e pequenas empresas de software da cidade de Londrina. Inicialmente, realiza-se uma apresentação das principais abordagens sobre o processo de aprendizado e os tipos de inovações, segundo a perspectiva evolucionária da economia, dentro do contexto da rede de empresas de software de Londrina, reconhecendo-se que o aprendizado concretiza-se pela interação com outras empresas e organizações e o processo inovativo é resultado dessa interação. Posteriormente, apresentam-se a metodologia do estudo, os resultados obtidos com as empresas de software de Londrina e as conclusões do trabalho. 51 # Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná PROCESSOS DE APRENDIZADO O conceito de aprendizado refere-se a um processo acumulativo em que organizações adquirem e ampliam o estoque de conhecimentos e buscam o aprimoramento de suas habilidades, a fim de desenvolver, produzir e comercializar bens e serviços. (REDESIST, 2005). Malerba (1992) destaca quatro características para analisar o fenômeno do aprendizado tecnológico: i) o aprendizado é um processo orientado realizado no interior da firma, que envolve um custo específico e orienta a capacitação dos agentes; ii) o aprendizado constitui-se por intermédio de fontes internas e externas às firmas; iii) é considerado um processo cumulativo de conhecimentos e intertemporal, o que significa que a firma constantemente amplia suas capacitações distintamente de outros agentes e; iv) o aprendizado produz não somente inovações incrementais por meio da eficiência produtiva de processos, mas também possibilita a identificação de oportunidades produtivas e tecnológicas como as inovações radicais e a expansão para novos mercados. O aprendizado é um processo de constituição de novas competências e de obtenção de vantagens competitivas, o qual, pela repetição, experimentação, busca manter novas fontes de informação, capacita tecnologicamente as firmas e incrementa as atividades produtivas e inovativas. (CAMPOS; et al, 2002). Torres et al (2004) afirmam que a forma pela qual cada agente econômico adquire conhecimento é baseada na cooperação que acontece sob distintas formas de interação. Para Torres et al. (2004) e Britto (1999) existem os processos de aprendizado em que há: o acúmulo de conhecimentos, experiências e práticas acumuladas que circunscrevem diretamente as atividades de produção (learning by doing); a exploração do uso de determinado produto ou serviço, sendo este e o primeiro, processos que ocorrem no interior das firmas e relacionados à eficiência produtiva (learning by using) e; a interação de outros agentes, como fornecedores, clientes, entre outros; acontece externamente à firma o chamado learning by interacting que favorece novas possibilidades tecnológicas e eleva o potencial inovativo. Segundo Villaschi e Campos (1995), o learning by doing e learning by using concentram suas análises nos processos internos de aprendizado das firmas, enquanto que a abordagem learning by interacting tem o foco nos processos entre firmas e entre estas e outras organizações. Nonaka e Tekeuchi (1997) reconhecem que as organizações, ao intentar resolver problemas, inovar e responder aos estímulos do ambiente precisam de informações que venham de fora para dentro. Desta maneira, estão mais habilitadas a criar novos conhecimentos de dentro para fora e nesse processo recriar seu meio. Segundo a visão evolucionária, no processo 52 Aprendizado e inovação na rede de micro e pequenas empresas de software de Londrina de aprendizado, o feedback, para indivíduos e organizações, pode servir como um poderoso meio ao se desempenhar desafios mais complexos. No caso do aprendizado por interação, este se vincula a três aspectos importantes: i) devido ao contato sistemático e o intercâmbio de informações, é possível conhecer as necessidades dos clientes; ii) com o conhecimento das competências dos fornecedores e consequente combinação de tecnologias, pode-se melhor atender às necessidades dos clientes e; iii) os feedbacks dos clientes/usuários, pelo uso de produtos e serviços, favorecem a identificação de lacunas e a resolução de problemas. Isto se dá em uma rede de interação, envolvendo a agregação de aprendizado de cada agente individual, um pool de conhecimentos (gerenciais, comerciais, mercadológicos, tecnológicos, entre outros), possibilitando uma aglutinação de competências. (BRITTO, 2001). Essas possibilidades de conhecimento não só aumentam a eficiência produtiva (inovações incrementais), mas colaboram para a ampliação da variedade de novos produtos, processos e serviços (inovações radicais) e até a geração de novos setores e demandas. Segundo Cassiolato e Lastres (2004), os modelos organizacionais que contemplam a interação e a atuação conjunta dos mais variados agentes, como as redes de empresas, arranjos e sistemas produtivos, estão se tornando os mais adequados para promover a aquisição, a geração e a difusão de conhecimentos e inovações. Britto (2001) destaca dois tipos de aprendizado na de rede de firmas que afetam e impactam a competitividade dos agentes. Um deles é o aprendizado do tipo informal, em que há o intercâmbio sistemático de informações e conhecimentos e a transferência de tecnologias entre os integrantes da rede possibilita diminuir as lacunas do processo inovativo. O grau de interação entre os agentes ultrapassa as relações bilaterais, pois possibilita a socialização do processo de aprendizado em diferentes níveis hierárquicos (learning by doing e learning by using) afetando diretamente o nível de capacitação dos agentes. No aprendizado do tipo formal, observa-se a criação intencional de conhecimento tecnológico, compreendendo esforços deliberados de P&D em que os agentes se unem para criar novas tecnologias. São constituídos de projetos particulares, com responsabilidades definidas de cada agente, contemplam uma certa divisão do trabalho quanto às atividades de P&D, possibilitando a divisão de resultados e elevando o potencial inovativo. Quanto aos impactos relativos aos mecanismos informais e formais de aprendizado, os processos informais promovem um equilíbrio nos padrões técnicos produtivos dos agentes ligados à rede, principalmente quanto à capacitação dos recursos humanos; possibilita a troca de informações relativas aos processos operacionais e produtivos, devido ao intercâmbio de modernas técnicas organizacionais; e colabora com a definição de padrões de controle de qualidade e normas técnicas. (BRITTO, 2001). 53 #! Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Os principais impactos dos processos formais de aprendizado são: redução dos riscos relativos à atividade inovativa; interação sistemática, possibilitando a melhor identificação de áreas tecnológicas mais promissoras. Consequentemente, elevam-se os níveis de produtividade das atividades de P&D e amplia-se a especialização do arranjo. O aprendizado, enquanto um processo, permite, por meio da repetição e da experimentação, o desempenho mais ágil das tarefas, uma vez que as firmas conseguem se desenvolver melhor e mais rápido. (TEECE, 2005; TEECE; PISANO, 1994). Dessa forma, possibilitase o surgimento de novas oportunidades de produção. No aprendizado, as habilidades organizacionais e individuais são criadas a partir de um processo coletivo e social e envolvem a existência de códigos de comunicação compartilhados e de busca coordenada. (TEECE, 2005). O conhecimento organizacional, gerado a partir de uma atividade, pode ter origem em rotinas ou em uma nova lógica da organização, para resolução de problemas mais complexos. A cooperação e as parcerias servem de caminho para a criação de conhecimento organizacional, possibilitando visualizar desvios, ajustando processos e necessidades. O aprendizado tem a tendência de ser local, pois está ligado ao que está presente na vizinhança, tendo, desta maneira, oportunidades específicas de aprendizado quanto às transações e à produção. (TEECE, 1988). Para Torres et al. (2004), os processos de aprendizado perpassam as ações de cooperação e a interação, resultando na constituição de um espaço econômico próprio. A complexidade das relações e o grau de cooperação entre os agentes, bem como os vínculos com outras organizações e empresas, assumem um caráter local e um papel relevante na análise do fenômeno do aprendizado. Esses espaços com um aparato institucional particular condicionam a forma como se dá a geração de conhecimentos tácitos e codificados. São processos de aprendizagem por meio de intensas interações mediatizadas por instituições. CONHECIMENTO TÁCITO E CODIFICADO EM REDES DE EMPRESAS Os estudos das características do processo de aprendizado contemplam, ainda, a natureza tácita e codificada do conhecimento. Para Polanyi (1966), o conhecimento tácito está atrelado à expertise quanto à realização de determinada atividade. A codificação desse conhecimento torna-se complexa quando o interlocutor não é conhecido. O conhecimento tácito é de alto valor para a organização: é dinâmico, interdependente e reside na cabeça das 54 Aprendizado e inovação na rede de micro e pequenas empresas de software de Londrina pessoas, portanto, dificilmente poderá ser formulado e comunicado. (NONAKA et al, 2002; BALESTRIN; FAYARD, 2003). Pode ser compreendido somente por pessoas que vivenciam as mesmas experiências de vida, em outras palavras, é facilitado num ambiente em que indivíduos possuem um grau de ligações sociais e culturais bastante representativos. Desta forma, as aglomerações ou a rede de empresas compreendem locais propícios à geração do conhecimento tácito. (HANSEN, 2003). As redes de firmas assumem um papel importante, pois facilitam a codificação de conhecimentos relativos a quadros cognitivos e a campos técnico-científicos distintos. Em muitos casos, os fluxos informacionais estão atrelados aos relacionamentos interpessoais entre indivíduos e grupos, possibilitando transmitir, com maior efetividade, conhecimentos tácitos que são codificados no âmbito da rede. (BRITTO, 2002). No caso da transferência de conhecimento tácito, o contexto social determina que isto aconteça, permitindo o contato face-a-face e o compartilhamento de códigos comuns de comunicação e de convenções e normas. (CAMPOS et al, 2002). Paralelo ao conhecimento tácito, há o conhecimento codificado (ou explícito), conhecido, também como, o conhecimento transmissível em linguagem formal e sistemática que pode ser expresso por meio de palavras e números e, portanto, comunicado e compartilhado na forma de dados, fórmulas científicas, procedimentos codificados ou princípios universais. (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p.65). A diferença entre o conhecimento tácito e o codificado é que o segundo não demanda que os agentes envolvidos façam parte de um quadro social comum, o que facilita sua disseminação. O conhecimento tácito é pessoal e específico ao local, o que dificulta sua disseminação e comunicação para fora de seu contexto. Quanto mais tácito for o conhecimento para desencadear o processo inovativo, maior será a necessidade de criação de canais de comunicação que favorecem o intercâmbio sistemático de informações e de conhecimentos entre os membros da rede. (BRITTO, 2002). Ambas as formas de conhecimento (tácito e codificado) são importantes para o desenvolvimento local. (HANSEN, 2003). Uma vez que o conhecimento codificado (obtido pelas pesquisas cientificas, por exemplo) é adicionado ao conhecimento tácito (obtido localmente por meio da experiência, observação ou conversas informais), as possibilidades de que as informações compartilhadas localmente sejam reutilizadas de forma diferenciada ampliam-se. Entretanto, para que o conhecimento tácito seja comunicado e compartilhado numa empresa ou região, é necessária a conversão deste em palavras ou números, de forma que as pessoas possam compreender. É precisamente durante esse tempo de conversão passagem do conhecimento codificado para tácito e sua re-codificação que de acordo com Nonaka e Takeuchi (1997), 55 ## Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná o conhecimento organizacional é criado. [...] a codificação é, portanto, uma condição para a produção e acumulação de conhecimento como também para a geração de novas oportunidades cognitivas. (HANSEN, 2003, p.19). Para Lastres e Cassiolato (2004), são considerados conhecimentos tácitos: i) saberes sobre o processo produtivo que não estão disponíveis em manuais; ii) saberes gerais e comportamentais; iii) capacidade para resolução de problemas não codificados; e iv) capacidade para estabelecer vínculos entre situações e interagir com outros recursos humanos. O aprendizado interativo é a principal forma de transmissão de conhecimento tácito. Para a Redesist (2005), o conhecimento codificado compreende um conjunto de conhecimentos que podem ser transmitidos pela comunicação formal entre os atores, mas cuja decodificação requer conhecimentos tácitos prévios. Nas redes de empresas, em aglomerações de empresas e em arranjos e sistemas produtivos e inovativos, geralmente verificam-se processos de geração, compartilhamento e socialização de conhecimentos, por parte de empresas, organizações e indivíduos, particularmente de conhecimentos tácitos, ou seja, aqueles que não estão codificados, mas que estão implícitos e incorporados em indivíduos, organizações e até regiões. A caracterização e a avaliação dos fluxos de conhecimento e dos processos de cooperação tornam possível um aprofundamento do aprendizado interativo (learning by interacting) e no fortalecimento da capacitação produtiva e inovativa. (BRITTO, 2004). Os processos interativos de aprendizado, voltados à inovação, concretizam-se em diferentes graus e partem de diferentes fontes de conhecimento (fontes internas e externas). De um lado, os agentes econômicos e sociais participam mais com o conhecimento tácito, enquanto que outros contribuem com o conhecimento codificado. Aprender para inovar engloba práticas interativas com diversas dimensões e diferentes tipos de instituições e agentes, envolvendo conhecimentos de natureza distintas e cujo objeto (a própria inovação) também é um condicionante dessas práticas. (VILASCHI; CAMPOS, 1995). Por fim, conforme Lastres e Cassiolato (2004), o programa teórico evolucionário tem como base: i) o conhecimento que é a base do processo inovativo e sua criação, uso e difusão alimentam a mudança econômica, constituindo-se em importante fonte de competitividade; ii) o aprendizado é o mecanismo chave no processo de acumulação de conhecimentos; iii) a empresa é considerada o ponto mais importante neste processo; porém o processo de inovação é geralmente interativo, contando com a contribuição de vários agentes que são dotados de diferentes tipos de informações e conhecimentos, dentro e fora da empresa; iv) os processos de aprendizado, capacitação e inovação são influenciados e influenciam os ambientes sócioeconômico-políticos no qual se realizam. 56 Aprendizado e inovação na rede de micro e pequenas empresas de software de Londrina Em suma, os estudos empíricos evolucionários, voltados ao sucesso ou insucesso da inovação, evidenciaram o papel acumulativo da atividade inovativa, ao demonstrar a relevância das inovações incrementais e radicais a serem realizadas a partir de processos de aprendizado, que se desenvolveram por inputs provenientes de várias fontes internas e externas à firma, bem como da sua difusão dentro e fora de alguns países. (FREEMAN, 1994). Portanto, é essencial uma compreensão dos fatores determinantes, bem como o reconhecimento do papel do aprendizado sobre o processo inovativo ao reconhecer a interação, as trocas de conhecimentos e sua colaboração para o desenvolvimento deste artigo. INOVAÇÃO A Era do Conhecimento evidencia o papel da inovação como recurso imprescindível e força dinâmica na definição de parâmetros de mudanças tecnológicas e organizacionais na corrida competitiva (LEMOS, 2001; CASTELLS, 1999). Na concepção schumpeteriana, a invenção é vista como uma ideia para ser incorporada a um produto, processo ou um sistema aperfeiçoado, o que não necessariamente leva às inovações técnicas. Uma inovação, no sentido econômico, apenas se caracteriza com a primeira transação comercial. (FREEMAN, 1974). As inovações realizadas por firmas ou indivíduos são novas criações com significado econômico (EDQUIST, 2001). As inovações abrangem produtos físicos, serviços e processos tecnológicos ou organizacionais; apenas produtos e processos tecnológicos são considerados inovações materiais, enquanto os serviços e processos organizacionais são tidos como bens intangíveis. (EDQUIST, 2001). As inovações são apresentadas na figura 1. A Taxonomia das Inovações INOVAÇÕES Tecnológico #% PRODUTO PROCESSO Organizacional Mercadoria Serviços Figura 1 Taxonomia das Inovações Fonte: Edquist (2001). 57 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná As inovações tecnológicas (produtos e processos) emergem de processos complexos, cuja emergência, difusão e translação de conhecimentos científicos e tecnológicos se voltam para a criação de novos produtos e processos produtivos (EDQUIST, 1997). A inovação tecnológica de produto e processo significa que a utilização do conhecimento sobre novas formas de produzir e comercializar bens e serviços e a inovação organizacional estão relacionadas à introdução de novos meios de organizar a produção, a distribuição e a comercialização de bens e serviços. (CASSIOLATO; LASTRES, 2004). Há duas teorias que discutem os fatores que impulsionam a inovação: o modelo linear e o interativo; exemplos do modelo linear são: a teoria da indução pela demanda (demand pull), em que são as forças de mercado que determinam a mudança técnica, a teoria do impulso pela ciência (science push) e a teoria do impulso pela tecnologia (technology push). (DOSI, 2005). Na teoria da indução pela demanda, o processo inovativo é conduzido pela demanda de mercado, onde as inovações são induzidas ou desencadeadas em respostas às necessidades dos consumidores, definindo uma relação sistemática entre preços e quantidades. (ROSENBERG; MOWERY, 2005). Existem as necessidades dos consumidores, já satisfeitas, acerca de determinados bens de consumo e bens intermediários presentes, onde cada nova necessidade surgirá a partir de uma já satisfeita. (DOSI, 2005). É por intermédio dos consumidores que se obtém o padrão de demanda, ou seja, preferências por determinados tipos de bens que atendam à função de utilidade e na possibilidade orçamentária que esses mesmos consumidores possuem. É a partir deste ponto que se inicia o processo de inovação. Nessa linha de raciocínio, pode-se considerar as inovações incrementais cujo processo contínuo acontece em qualquer atividade industrial ou de serviços e é dependente de pressões de demanda, influências sócioculturais, oportunidades e trajetórias tecnológicas. Costumam ser iniciadas por invenções e sugestões de engenheiros (learning by doing), e outros diretamente comprometidos com o processo produtivo, e pelas iniciativas e propostas de usuários (learning by using). (FREEMAN; PEREZ, 1988). As inovações incrementais compreendem: o melhoramento de um processo produtivo por meio da organização, da modificação nos inputs usados e modificações na escala; a diferenciação de produto no nível horizontal, como mudanças nas características do produto para conquista de um novo segmento de mercado; e no nível vertical, melhoramento da qualidade por meio da mudança física das propriedades do produto ou incremento da sua confiabilidade, desempenho ou integração. (MALERBA, 1992). Os impactos econômicos das inovações incrementais levam à expansão da demanda existente e ao aumento do valor agregado (FREEMAN; PEREZ, 1988). Contribuem para a utilização 58 Aprendizado e inovação na rede de micro e pequenas empresas de software de Londrina mais eficiente de fatores de produção, mas geralmente não refletem esforços deliberados de P&D. A inovação incremental pode significar ainda a introdução de qualquer tipo de mudança ou a melhoria realizada em um produto, processo ou tipo de organização da produção dentro de uma empresa. (LEMOS, 2001). Para a autora, muitas das inovações incrementais são imperceptíveis para o consumidor, mas podem promover um aumento da eficiência técnica e da produtividade, redução de custos, aumento de qualidade e mudanças que possibilitem a ampliação das aplicações de um produto ou processo. Contrária à visão da indução pela demanda, a teoria do impulso pela tecnologia (technology push) reconhece a incerteza inerente à inovação associada à mudança e à complexidade ambiental, o que significa dizer que há um movimento dinâmico de realimentação entre o ambiente econômico e as mudanças tecnológicas. (DOSI, 2005). Os fatores condicionantes do impulso pela tecnologia que influem no processo de inovação são: i) o crescente aprimoramento dos insumos científicos (equipamentos, máquinas, capital, matéria-prima, mão-de-obra) no processo de inovação; ii) complexas atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) vistas como atividades de longo prazo; iii) intermediação das atividades de patenteamento; iv) surgimento de inovações e aperfeiçoamentos por meio do aprendizado tecnológico; v) formalização institucional das atividades inovativas; vi) a complexidade intrínseca ao processo de mudança técnica que é inerente ao estado-da-arte das tecnologias em uso e a correlação direta com os avanços tecnológicos; e vii) a possibilidade de se conhecer trajetórias de mudanças tecnológicas e econômicas com base em algumas regularidades presentes na evolução das tecnologias. (DOSI, 2005). Nessa situação, encontram-se as inovações radicais. (FREEMAN; PEREZ, 1988). Estas compreendem empreendimentos que surgem da pesquisa deliberada e de atividades de desenvolvimento realizadas em universidades e laboratórios governamentais, caracterizados por movimentos descontínuos. São novas linhas de produção e de modificações na estrutura industrial e criação de novos tipos de demanda. Esse tipo de inovação implica um processo que conta com mecanismos complexos de feedback e de relações interativas entre ciência, tecnologia, aprendizado, produção, política e demanda (learning by interacting). (EDQUIST, 1997). As inovações tecnológicas ou organizacionais podem, também, corresponder à combinação de elementos existentes. (EDQUIST, 1997). As mudanças de sistemas tecnológicos provocam impactos de longo alcance e abarcam desde inovações incrementais e radicais, a inovações organizacionais e gerenciais, atingindo mais do que uma firma e, até 59 #' Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná mesmo, influindo nas várias esferas da economia, dando impulso à geração de novos setores. (FREEMAN; PEREZ, 1988). O modelo interativo de Kline Rosemberg destaca que processo de inovação mescla interações no interior da firma, entre diferentes firmas e o sistema C & T (ciência e tecnologia) e a importância do feed-back (HASENCEEVER; TIGRE, 2002) Dessa forma, a inovação é considerada um processo não linear que pode envolver, simultaneamente, conhecimentos resultantes da contratação de recursos humanos; da realização de atividades de treinamento e de pesquisa e desenvolvimento (P&D); das demais atividades e experiências acumuladas pela empresa, a partir de sua própria atuação; da interação com outros agentes e com o ambiente que a cerca (LASTRES; CASSIOLATO, 2004). METODOLOGIA Para a consecução do objetivo desse trabalho, foi pesquisada a rede de empresas de software de Londrina. Empregou-se um questionário baseado no modelo de questionário da Redesist (2003) e de Camara et al, (2006) que têm dedicado esforços para estudos relativos ao aprendizado e à inovação em aglomerações produtivas localizadas. O instrumento foi aplicado pelo contato direto (RICHARDSON, 1999) nas empresas de software e dirigido aos sócios proprietários das empresas. No caso de ausência destes, foi direcionado aos responsáveis pela área de projetos cooperados. A pesquisa de corte transversal foi realizada em julho e agosto de 2007. Considerou-se uma amostra por julgamento (HAIR, 2005). Pelo fato da indústria de software ser bastante dinâmica, heterogênea e oferecer diferentes tipologias distintas (ROSELINO, 2006), a seleção das 26 empresas foi realizada tendo como base as seguintes características em comum: i) empresas que afirmaram serem especializadas em desenvolvimento de softwares e prestação de serviços de consultorias; ii) empresas cadastradas na Prefeitura de Londrina; iii) vínculos com a Plataforma de Tecnologia da Informação PLATIN/ADETEC e associados Softex (entidades de representação do setor); iv) participação nas atividades do aglomerado de empresas de software de Londrina; v) membros de centros de tecnologia como a Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Estadual de Londrina INTUEL e do Centro Tecnológico de Londrina CTEC; e vi) a aceitação para participar da pesquisa. Para descrever o processo de aprendizado da rede, o questionário compreendeu 60 Aprendizado e inovação na rede de micro e pequenas empresas de software de Londrina uma escala ordinal que indicasse o grau de importância da fonte de informação, se o mecanismo de aprendizado é formal ou informal e a localização da fonte, se em nível local da cidade de Londrina, estado do Paraná, outros estados do país e também do exterior. Para identificar as inovações introduzidas, foi dada a opção de introdução ou não da inovação pelas empresas (REDESIST, 2003). Acredita-se que a complexidade do conteúdo da pesquisa tornou-se um fator limitante, principalmente pela restrição cognitiva dos respondentes para compreensão total das temáticas abordadas no estudo, o que pode gerar um viés na pesquisa. RESULTADOS Apresentam-se, a seguir, os principais resultados encontrados na pesquisa de campo, bem como as respectivas análises decorrentes. Para a Redesist (2003), o aprendizado refere-se a um processo por meio do qual as empresas adquirem e desenvolvem diferentes tipos de conhecimentos, competências e habilidades, não havendo limitações quanto à localização das fontes de informação. Possibilita o aprimoramento do processo inovativo, maior capacitação produtiva, tecnológica e organizacional. As micro e pequenas empresas de software selecionadas do município de Londrina recorrem para o incremento da atividade produtiva e inovativa a fontes internas (learning by doing), indicando 93% de alta/média importância ao departamento de P&D e/ou área de produção. Esse quadro revela, segundo Torres (2004) e Britto (2001;1999), que o acúmulo de conhecimentos, práticas e experiências das empresas provem do pessoal da área de produção de software (por exemplo, engenheiros e técnicos) como fonte alimentadora para eficiência produtiva de processos e de implementação de mudanças técnicas. Os mecanismos informais do aprendizado são os que prevalecem no processo de aprendizado dentro das empresas de software selecionadas, o que indica, conforme Britto (2002), que as empresas buscam um equilíbrio nos padrões técnicos produtivos, no que se refere à capacitação dos recursos humanos, promovendo a troca de informações de processos operacionais e produtivos e de técnicas organizacionais, contribuindo com a definição de padrões de controle de qualidade e normas técnicas. No que se refere às fontes externas de informação e aprendizado, as empresas destacaram, com 100% de alta/média importância, os clientes/usuários do produto, concentrando-se com valores equivalentes em nível local, estadual e nacional. Esses dados 61 $ Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná reforçam a predominância de empresas que desenvolvem de softwares sob encomenda (16 empresas) na rede estudada. Nesse processo de produção de software há, segundo Roselino (2006), Melo e Branco (1997), intensa interação entre produtor/usuário. De acordo com Torres (2004) e Britto (2001), por intermédio do learning by using, as empresas interagem com usuários para elevar os níveis de capacitação produtiva, tecnológica e organizacional das empresas. Afirmam ainda que pelo feedback dos clientes/usuários, é possível identificar desvios, resolver problemas de produtos e processos, explorar oportunidades tecnológicas e até identificar e possibilitar a geração de novos setores. Adiciona-se à análise que outras fontes externas de aprendizado, como outras empresas de software (locais), consultores especializados (locais e no Brasil) e concorrentes, conferências, seminários, cursos, workshops, publicações especializadas, feiras, exibições e livrarias em geral tiveram papel relevante nos dois últimos anos (2005 a 2007) para elevar a capacitação produtiva e inovativa das empresas. Quanto aos mecanismos de aprendizado, observa-se, que com outras empresas de software e concorrentes, prevalecem os mecanismos informais, ou seja, voltados ao equilíbrio de padrões produtivos, enquanto que eventos e consultores especializados predominaram enquanto como mecanismos formais de aprendizado. Em relação a este último dado, isto demonstra, de acordo com Britto (2001), que as micro e pequenas empresas estão empreendendo esforços deliberados de P&D recorrendo a fontes de informação, como os clientes, consultores e eventos especializados, a fim de criar novas tecnologias. Isto pode revelar a existência de projetos particulares de P&D nas empresas com certa divisão do trabalho e divisão de resultados. De acordo com o autor, essa prática contribui para elevar o potencial inovativo do arranjo, com a melhor identificação de áreas tecnológicas mais promissoras e, consequentemente, elevar os níveis de produtividade das atividades de P&D e ampliar a especialização do arranjo. Por fim, outra fonte de informação que apresentou 89% de alta/média importância foi o uso da Internet como meio de informação, abrangendo desde a escala local até internacional (Tabela 1). Os resultados também revelam a baixa ou nenhuma importância dada às universidades (locais e nacionais), a institutos de pesquisa (IAPAR Instituto Agronômico do Paraná, Embrapa), aos centros de capacitação profissional (CIEE, Platin na promoção de treinamentos e cursos não voltados a certificação, mas que abrangem outras áreas da empresa), às instituições de testes e certificações e incubadoras locais (INTUEL), como fontes de informação para o aprendizado. A tabela 1 apresenta o que foi obtido com relação às fontes de informação recorridas pelas empresas, grau de formalização dos processos de aprendizado e localização dessas fontes. 62 Aprendizado e inovação na rede de micro e pequenas empresas de software de Londrina Conforme a tabela 2, que apresenta as inovações introduzidas pelas empresas, observa-se que a introdução de produtos/serviços novos para a empresa, mas existentes no mercado, e a introdução de produtos/serviços novos para o mercado nacional revelam o potencial inovativo das empresas de software selecionadas para a amostra, com 69% em ambos os casos. Quanto ao mercado internacional, apenas 11% das empresas afirmaram a introdução de produtos/serviços novos nos dois últimos anos (2005 a 2007). No que se refere à introdução de processos tecnológicos novos para a empresa, mas já existente no setor, as empresas apresentaram 81% esforços inovativos e 77% de introdução de processos tecnológicos novos para o setor de atuação, dados que refletem o esforço inovativo das empresas para incrementar o processo produtivo e inovativo nos anos de 2005 a 2007. Tabela 1 Fontes de Informação x Formalização x Localização (%) Descrição 1. Departamento de P&D e/ou área de produção 2. Área de vendas, marketing Fontes Externas 3. Fornecedores (equipamentos, materiais) 4. Clientes / Usuários 5. Outras empresas do setor de software 6. Concorrentes 7. Consultores especializados Universidade e Outras Instituições de Pesquisa 8. Universidades e Institutos de pesquisa 9. Incubadoras de empresas 10. Centros de capacitação profissional, de assistência técnica e de manutenção 11. Instituições de testes e certificações Outras fontes de informação 12. Licenças, registro de software, patentes 13. Conferências, seminários, cursos, workshops e publicações especializadas 14. Feiras, exibições e livrarias 15. Ocasiões sociais (clubes, restaurantes, bares etc) 16. Assoc. empresariais locais (cons. de exportação) 17. Catálogos, revistas e Sites (Internet) Grau de Importância Alta 77 38 Formalização Localização Média Baixa Nenhum Formal Misto Informal 15 8 23 27 40 27 27 8 19 27 46 R PR BR E 7 12 - 23 77 35 19 38 15 23 31 50 27 35 15 19 23 27 19 12 12 15 31 15 4 38 15 38 4 4 19 42 31 61 81 31 35 81 54 35 50 31 81 27 42 15 42 77 42 73 50 19 8 11 11 8 19 31 27 39 39 57 31 23 19 50 11 11 4 27 11 15 50 42 50 7 23 15 27 - 27 15 4 54 38 4 4 4 19 23 - 7 31 4 34 8 27 81 8 15 46 0 23 4 23 4 46 4 27 14 69 4 7 31 23 7 54 27 15 23 35 15 23 35 11 27 39 35 0 31 8 31 12 15 0 4 23 27 54 31 65 27 46 62 73 31 31 15 77 62 31 7 92 7 96 Fonte: Dados da pesquisa de campo (2007) Como base nos resultados, é possível confirmar o que a literatura da área de software apresenta como características da indústria. De acordo com Sampaio e Scatolin (2004), entre outros autores, na indústria de software, como qualquer segmento de alta tecnologia, observa-se a necessidade constante de introdução de inovações, o que exige o permanente desenvolvimento de novos produtos e serviços. Para Schumpeter (1982), as estratégias baseadas na inovação constituem-se de fonte de vantagens competitivas para as empresas de alta intensidade tecnológica. 63 $! Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná No que se refere à implementação de técnicas avançadas de gestão, 35% das empresas aplicaram alguma forma diferenciada de gestão empresarial. Esses resultados podem confirmam os estudos sobre uma das dificuldades encontradas para o crescimento da indústria de software brasileira. De acordo com Ruiz et al (2001), o alto nível de qualificação técnica dos profissionais dessa área limita-os em algumas atividades no âmbito empresarial. Dessa forma, pode-se compreender esforços de entidades do setor como o Softex, que desenvolvem ações de capacitação empresarial no âmbito dos Núcleos Softex, distribuídos pelo país e no exterior. (ARAÚJO, 2003; SOFTEX, 2007). Para implementação de mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de marketing, os resultados apresentaram 39% da amostra pesquisada e implementação de mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de comercialização com 50% do total das empresas. Esse percentual inferior, no que tange a mudanças na área de marketing e comercialização das empresas, também evidencia o que Kubota (2005) define como fatores críticos de sucesso das empresas de software, que necessitam além de um bom produto e de uma liderança empresarial capacitada a administrar uma equipe, ações de Marketing que possibilitem a manutenção e a sobrevivência das empresas no mercado. Segundo o autor, as empresas de software necessitam gerenciar o relacionamento com os clientes de forma que se faça perdurar o mais longo tempo possível, garantindo demandas. Quanto à implementação de significativas mudanças na estrutura organizacional, indicaram 58% de mudanças na estrutura das empresas, o que se reflete na afirmação de Lemos (2001) sobre as especificidades das MPMEs quanto a possuir maior capacidade de flexibilidade organizacional e estruturas menos hierárquicas e burocratizadas. Para OCDE (2000, apud LEMOS, 2001), essa flexibilidade encontrada nas micro, pequenas e médias empresas colabora com a tomada de decisões dos empresários e facilita mudanças no processo produtivo, propiciando maiores condições para a realização de atividades inovativas. No que se refere à implementação de novos métodos e gerenciamento, visando atender normas de certificação [MPS-BR (Melhoria do processo do software brasileiro) CMM (Capability maturity model), ISO (International Organization for Standardization)], obteve-se um total de 46% da amostra (12 empresas). Nesse caso, uma informação a ser relatada é que cerca de seis empresas da rede pesquisada participaram da ação coletiva para implementar o programa de certificação MPS-BR, sendo que apenas duas empresas obtiveram o certificado de MPS-BR, nível 6. A tabela 2 mostra as inovações realizadas pelas empresas nos últimos anos de 2005 a 2007. 64 Aprendizado e inovação na rede de micro e pequenas empresas de software de Londrina Tabela 2 Inovações realizadas pelas empresas de software de Londrina em produtos/ processos e inovações organizacionais. Descrição 1. Introdução de produtos/serviços novos para a empresa, mas existente no mercado 2. Introdução de produtos/serviços novos para o mercado nacional 3. Introdução de produtos/serviços novos para o mercado internacional 4. Introdução de processos tecnológicos novos para a empresa, mas já existente no setor 5. Introdução de processos tecnológicos novos para o setor de atuação 6. Implementação de técnicas avançadas de gestão 7. Implementação de significativas mudanças na estrutura organizacional 8. Implementação de mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de marketing 9. Implementação de mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de comercialização 10. Implementação de novos métodos e gerenciamento, visando atender normas de certificação (MPS-BR, CMM, ISO, etc). Inovações f % 18 69 18 3 21 69 11 81 20 9 15 10 77 35 58 39 13 50 12 46 Fonte: Pesquisa da autora (2007) CONCLUSÃO O estudo identificou a existência de significativo processo inovativo incremental, realizado no período de 2005 a 2007 nas 26 empresas estudadas da amostra. Observou-se que as empresas estão mais direcionadas a lançar produtos/serviços novos para a empresa e também para o mercado nacional. No que se refere ao potencial inovativo dessas empresas, verificou-se que as empresas introduziram mais inovações no mercado nacional do que no mercado internacional. O estudo revela altos índices de introdução de processos tecnológicos novos para a empresa, já existentes no setor, e refletem o esforço tecnológico das empresas para incrementar o processo produtivo e inovativo. Isto pode ser ratificado com, por exemplo, a compra de máquinas e equipamentos que implicaram significativas melhorias tecnológicas de produtos/processos, ou que estão associados aos novos produtos/processos nos anos de 2005 a 2007. Os resultados da pesquisa ratificam ainda as dificuldades em termos de gestão empresarial encontradas pelos empresários do setor, como a pouca implementação de técnicas avançadas de gestão, de mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de marketing e de comercialização, estando aliado aos estudos dos fatores que inibem o 65 $# Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná crescimento da indústria de software brasileira. Isso porque o alto nível de qualificação técnica dos profissionais dessa área, segundo Ruiz et al (2001), limita atividades de cunho empresarial. De acordo com Kubota (2005) uma liderança empresarial satisfatória pode melhor gerenciar uma equipe e ações de Marketing voltadas aos clientes, tendo como resultado a garantia de demandas que possibilitem a manutenção e a sobrevivência dessas empresas no mercado. A pesquisa mostrou, também, que a flexibilidade organizacional e a ausência de burocracias excessivas presentes nas MPMEs , pode estar favorecendo a implementação de significativas mudanças na estrutura organizacional dessas empresas, facilitando a tomada de decisões e alterações no processo produtivo, o que beneficia as atividades inovativas. Quanto a implementar novos métodos e gerenciamento, visando atender normas de certificação MPS-BR, CMM, ISO, etc., possibilita demonstrar a preocupação das empresas de software de Londrina em implementar programa de qualidade e de certificação. Quanto à identificação do processo de aprendizado coletivo da rede de empresas de software de Londrina, os resultados revelaram que grande parte das empresas recorrem em grau elevado às fontes internas (P&D e/ou produção) e externas (clientes) majoritariamente para elevar a capacidade produtiva e inovativa das empresas. Como boa parte das empresas focam suas atividades no desenvolvimento do software sob encomenda, acredita-se que as inovações sejam incrementais, pois as fontes de aprendizado perpassam, predominantemente, a esfera da produção e o contato com usuários do produto. No caso do pessoal de produção, os mecanismos de aprendizado predominantes são mais informais, ou seja, as empresas buscam equilibrar padrões técnicos produtivos quanto à capacitação dos recursos humanos, em que há fluxos e trocas de informações de processos operacionais e produtivos e de técnicas organizacionais, contribuindo com a definição de padrões de controle de qualidade e normas técnicas. No caso dos clientes/ usuários, prevalecem os mecanismos formais de aprendizado. Pode-se dizer que existem esforços mais estruturados por parte das empresas, no sentido de deliberar ações que promovam não só o melhoramento de produtos, processos técnicos e organizacionais, como também buscar a identificação de novas oportunidades de negócios para beneficiar seus próprios clientes. O estudo demonstrou a importância, num plano secundário, de outras fontes externas de informação, com mecanismos informais de aprendizado (na relação com outras empresas de software locais e concorrentes); em processos de aprendizado formais (com consultores especializados, não só locais, mas no país como um todo); com a participação em conferências, seminários, cursos, workshops, e e feiras e exibições (nível Brasil) para melhor 66 Aprendizado e inovação na rede de micro e pequenas empresas de software de Londrina a capacitação produtiva e inovativa das empresas. Isto demonstra que as empresas estão buscando, de forma sistemática, empreender ações intencionais de P&D para criar novas tecnologias. REFERÊNCIAS ARAÚJO, E.E.R. Oportunidades e desafios para o desenvolvimento de uma indústria de software nacional. In: Revista Ciência e Cultura, São Paulo, v.55, n.2, abr/jun/2003. BALESTRIN, A.; FAYARD, P. Redes interorganizacionais como espaço de criação de conhecimento. In: ENCONTRO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 23, 2003. Atibaia/SP. BRITTO, J. Características Estruturais e Modus Operandi das Redes de Firmas em Condições de Diversidade Tecnológica. 1999. Tese (Doutorado em economia) Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. ______, Cooperação Tecnológica e Aprendizado Coletivo em Redes de Firmas: Sistematização de Conceitos e Evidências Empíricas. ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA, Anais... 2001, Salvador. ______, Cooperação interindustrial e redes de empresas. 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Frente a essas transformações econômicas, políticas e tecnológicas, a sobrevivência das empresas, mediante a forte concorrência e ambivalências do mercado, é fator determinantes para a formação da rede (FILHO, et al, 2006). Segundo Olave e Amato (2001), essa configuração em rede se dá por meio da cooperação. As redes de empresas são formadas com o objetivo de reduzir incertezas e riscos, a partir da organização das atividades econômicas pela coordenação e cooperação (LEON, 1998). Para Britto (2002), a análise das variadas formas de cooperação produtiva e tecnológica entre empresas tem propiciado uma maior compreensão de como se pode alcançar um melhor desempenho competitivo, centrado não na empresa individual, mas, principalmente, na investigação das relações entre as empresas e as demais instituições. Do mesmo modo, as empresas de software participam de um setor dinâmico e de constantes mutações. Em setores de alta tecnologia - a indústria de software, inclusive -, a competição é acirrada (MELO; BRANCO, 1997). Mesmo com o predomínio de grandes corporações em escala mundial, as redes de empresas são reconhecidas como recurso estratégico de competitividade para que as micro, pequenas e médias empresas conjuguem esforços e possam competir de forma mais equilibrada com as grandes. (FILHO, et al, 2006). O presente artigo apresenta aspectos teóricos e conceituais sobre a temática de redes de empresas, especialmente no que tange às ações de cooperação, de parcerias e de alianças estratégicas, existentes entre as empresas de software de Londrina e com outros 73 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná agentes externos e os impactos econômicos dessas ações cooperadas. Em seguida, apresentase a metodologia empregada no estudo e os resultados obtidos com o trabalho. Por fim, seguem as conclusões no que se refere à pesquisa. REDES DE EMPRESAS Marcon e Moinet (2001) indicam que nos estudos anglo-saxões a referência à concepção de rede está muito ligada à noção de sistema, uma perspectiva dinâmica que considera uma rede que trabalha com networking. A concepção inglesa conduz à noção de projeto comum, no qual atores estão ordenadamente agrupados e trabalham em conjunto para formar um sistema, um dispositivo inteligente, em outras palavras, o todo é tido como essencialmente superior às partes. No campo organizacional, o termo rede designa um conjunto de pessoas ou organizações interligadas direta e indiretamente. (CASTELLS, 1999). Os atores sociais, enquanto nós da rede, possuem maior intensidade e interação. A participação na rede permite otimizar o uso do espaço e do tempo, à medida que essas relações forem sendo intensificadas. Para Britto (2002, p.347), o conceito de redes de empresas compreende arranjos interorganizacionais com base em vínculos sistemáticos, na maioria das vezes de caráter cooperativo, entre empresas formalmente independentes, que promovem uma forma particular de coordenação das atividades econômicas. No caso das ciências sociais, o conceito de rede oferece condições de se compreender as estruturas do sistema de relações que ligam os diferentes agentes e sua forma de operação possibilitando a reprodução, o fortalecimento e alguma transformação ao longo do tempo (BRITTO, 2002). A perspectiva de redes de empresas tem servido de recurso analítico para compreensão do complexo ordenamento das interrelações entre empresas e outras organizações, sendo alvo de crescente interesse de pesquisas em áreas como economia, sociologia e administração, demonstrando a existência de convergência entre diferentes escolas de pensamento (BRITTO, 2002). Lemos (2001) reconhece que a abordagem das redes de empresas desenvolveu-se e ganhou novas terminologias, tendo como foco principal a cooperação e a competição, não existindo uma unanimidade de conceitos. A perspectiva de rede tem se aplicado a diversas formas de relações de cooperação entre empresas. Dentre os casos das redes de empresas, destacam-se alianças estratégicas, 74 Relação em rede nas micro e pequenas empresas de software de Londrina relações de terceirização e subcontratação, distritos industriais, consórcios, arranjos e sistemas produtivos locais, entre outros. (CASAROTTO; PIRES, 2001; BRITTO, 2002, CASSIOLATO; LASTRES, 2004). TIPOLOGIA DE REDES DE EMPRESAS O conceito de rede, na teoria econômica, é empregado sob duas perspectivas: na primeira delas, o estudo da rede busca compreender a dinâmica de comportamento de diferentes mercados e o foco de análise está nas estruturas da rede. (BRITTO, 2002). A análise foca o surgimento de rendimentos crescentes, ao longo da trajetória de transformação dos diversos mercados em rede, e valoriza a interdependência e a interação das unidades produtivas presentes nela, como por exemplo, as indústrias em rede. A análise microeconômica concentra-se nas externalidades em rede, que são reflexos dos efeitos diretos e indiretos das decisões de agentes atuantes nesses mercados, e podem ser externalidades: 1. técnicas a interdependência entre os agentes pode levar a modificações nas características de funções de produção; 2. pecuniárias pode levar a mudanças nos preços das estruturas e de custo das empresas; 3. tecnológicas podem modificar a adoção e difusão de inovações no interior do mercado onde a rede atua; e 4. de demanda - a demanda de bens oferecidos por cada unidade é afetada por modificações na demanda de outras unidades. Esse tipo de rede configura um conjunto de unidades produtivas independentes que se complementam, usufruem de economias de escala com redução de custos devido às externalidades geradas em rede. As externalidades fortalecem a interdependência entre as diversas cadeias produtivas, existentes no arranjo produtivo que juntos buscam consolidar e fortalecer sua atuação no mercado e o potencial competitivo. Essa análise busca entender como determinada rede de relações afeta as decisões tomadas pelos agentes econômicos (produtores e consumidores) em mercados específicos e pode como configurar instituições particulares ou públicas na coordenação das atividades econômicas. As principais características desse tipo de rede de empresas são (BRITTO, 2002): a) elevado grau de compatibilidade e complementariedade técnica entre os agentes e as atividades por eles realizadas; b) elevado grau de integração das atividades produtivas da 75 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná rede, devido às externalidades técnicas, pecuniárias e de demanda e; às externalidades tecnológicas, que possibilitam ganhos relativos ao progresso técnico, devido à complementariedade de competências; e c) consolidação de uma infraestrutura particular, o que implica certa irreversibilidade quanto aos investimentos realizados por agentes a que eles se integram. O enfoque da segunda abordagem de redes recai sobre as suas características estruturais, nos processos de estruturação e na transformação, a partir de estímulos internos e externos. Essas estruturas estão associadas aos mecanismos de operação específico e são responsáveis pela geração de estímulos endógenos, indutores de processos adaptativos frente à evolução do ambiente. Pressupõe que o ambiente está institucionalmente estruturado em função da densidade de vínculos produtivos e tecnológicos, estabelecidos entre empresas e instituições. A análise contempla a dimensão social das relações entre empresas e sua influência no ambiente econômico e, também, sobre o padrão de conduta dos agentes. Privilegia um recorte mesoeconômico da dinâmica industrial, buscando compreender o papel desempenhado por subsistemas ligados à estrutura da rede. Há relativa autonomia em relação às fontes externas, certo grau de auto-organização e de capacidade endógena de autotransformação, o que lhe confere um caráter essencialmente dinâmico. Hoffmann (2005) acrescenta, também, alguns indicadores que possibilitam conhecer como as redes estão estruturadas. O primeiro indicador das redes de empresas é a direcionalidade, que define a direção das relações entre as partes. As redes podem ser verticais ou horizontais.As redes verticais são aquelas nas quais os processos são realizados por empresas distintas, em uma dimensão de hierarquia. As redes horizontais são aquelas estabelecidas entre empresas que se comprometem em termos de produtos e/ou mercados em uma dimensão de cooperação. (HOFFMANN, 2005; MARCON; MOINET, 2001). Quanto ao nível de formalização das redes, estas podem ser estruturas formalizadas ou informais. As estruturas formalizadas têm como base o escopo contratual em que há o estabelecimento de mecanismos formais para gerir regras de conduta dos agentes. As redes informais têm alicerce não contratual e, como fundamento, a confiança gerada entre os membros, empregando sanções às empresas que violam as normas do grupo. Este último tipo de configuração de rede permite encontros informais entre os atores econômicos que trocam experiências e informações, favorecendo um ambiente de cooperação e relações interempresariais mais estruturadas. (HOFFMANN, 2005, MARCON; MOINET 2001). Para Hoffmann (2005), as redes podem ser dispersas ou aglomeradas: as redes dispersas são aquelas que interagem por meio de um processo de logística avançado, permitindo superar distâncias. As redes aglomeradas caracterizam-se por manterem relações 76 Relação em rede nas micro e pequenas empresas de software de Londrina que podem estender-se além daquelas puramente comerciais, tendo suporte de universidades, centros de tecnologia e de instituições governamentais, restringindo-se a um território específico. No que se refere à decisão de poder da rede, esta pode ser definida como rede orbital, em que existe um centro de poder com empresas circundantes ao redor; e a rede não orbital, em que cada empresa tem a mesma capacidade de tomada de decisões. É possível classificar, conforme Hoffmann (2005) e Marcon e Moinet (2001), as redes como: verticais a dimensão da hierarquia; horizontais a dimensão da cooperação; formais a dimensão contratual; e informais a dimensão da conivência. REDES HORIZONTAIS A atuação conjunta e cooperada entre empresas de menor porte tem evidenciado a configuração em rede como estratégia para a eficiência produtiva e para a competitividade. No caso das redes horizontais, com predomínio de empresas de menor porte, as empresas competem em termos de produtos e/ou mercados específicos. (HOFMANN, 2005). O propósito deste tipo de configuração em rede reside nos ganhos obtidos pela união das partes. Tais redes horizontais são constituídas por empresas concorrentes que optam por cooperar dentro de certo domínio, preservando a independência ou a liberdade de algumas ações estratégicas de seus membros. (OLAVE; AMATO, 2001). Nas redes horizontais, prevalece a dimensão das relações de cooperação interfirmas, resguardando a independência de cada uma das empresas, que optam por coordenar atividades específicas de forma conjunta. Podem atender aos seguintes objetivos: criação de novos mercados, gestão de riscos e custos relativos a P&D, aprimoramento da qualidade de produtos, defesa de interesses, ações de marketing e comercialização. (MARCON; MOINET, 2001). Para Balestrin e Vargas (2004), as redes horizontais têm como características principais: a) formadas por um grupo de PMEs; b) as PMEs situam-se geograficamente próximas; c) as PMEs operam em um segmento específico de mercado; d) as relações entre as PMEs são horizontais e cooperativas, prevalecendo confiança mútua; e) a rede é formada por um indeterminado período de tempo; e g) a coordenação da rede é exercida a partir de mínimos instrumentos contratuais que garantem regras básicas de governança. A associação em forma de redes de empresas favorece a atividade de cada uma das integrantes do arranjo, sem necessariamente haver laços financeiros que as unem. 77 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná (RIBAULT, et.al, 1995). As empresas complementam-se em termos técnicos (produtivos), comerciais (redes de distribuição) e também podem se apoiar no sentido de criar uma central de compras que beneficie o arranjo. Para Marcon e Moinet (2001), essas redes constituem-se sob a dimensão da cooperação de seus membros, que escolhem a formalização flexível para melhor adaptar a natureza de suas relações. Ebers e Jarillo (1998) reforçam que, por intermédio das redes, uma empresa está apta a obter e sustentar vantagem competitiva a partir: a) do aprendizado mútuo, sustentando desenvolvimento de produtos; b) da coespecialização, em que as empresas se tornam lucrativas em novos nichos de mercado; c) da melhor fluidez informacional, favorecendo o fluxo de recursos entre empresas e reduzindo incertezas nas relações; e d) das economias de escala, como reflexo de investimentos conjuntos em P&D, desenvolvimento de produtos, entre outros. Segundo Ribault (1995), as vantagens associadas à configuração em rede compreendem: a) cada empresa pode aprofundar uma especialização, é na rede que se torna possível a perenidade de todo o know how das atividades; b) as empresas da rede são um reflexo da atividade econômica da própria rede; e c) as empresas por escolherem-se por afinidade podem se constituir de uma rede profundamente original, em relação às empresas concorrentes, conferindo a si mesmas um elevado grau de exclusividade. PARCERIAS, ALIANÇAS ESTRATÉGICAS E CONTRATOS DE COOPERAÇÃO As alianças estratégicas englobam acordos formais e informais entre empresas e permitem o intercâmbio de informações e aglutinação de competências. (BRITTO, 2002). Geralmente, são arranjos cooperativos em estágio précompetitivo que favorecem aos agentes a possibilidade de exploração de oportunidades tecnológicas e mercadológicas. Com o tempo, tendem a estabelecer relações mais estáveis como forma de aumentar a eficiência operacional. Nas alianças estratégicas, as empresas buscam dividir recursos e competências e a redução de custos operacionais. (KLOTZLE, 2002). As alianças estratégicas são acordos nos quais os parceiros se comprometem a atingir um objetivo comum pela aglutinação de capacidades e recursos sob certo grau de coordenação estratégica e operacional das atividades, compreendendo atividades de P&D conjuntas, transferência de tecnologia, concessão de direitos exclusivos de produção e vendas e acordos de cooperação em marketing. (TEECE, 1992). 78 Relação em rede nas micro e pequenas empresas de software de Londrina As alianças podem envolver empresas grandes, médias e pequenas que se unem para atuar em mercados específicos, frente à concorrência isolada. (RIBAULT, et al, 1995). Elas podem englobar: a) alianças oportunísticas ou joint ventures para constituição de um novo negócio, ou ampliar um já existente - as organizações vêem uma oportunidade para obterem algum tipo de vantagem competitiva imediata; b) e alianças de parcerias, que envolvem parceiros (stakeholders - fornecedores e funcionários e consumidores) no processo de negócios (business process) nos diferentes estágios de criação de valor. (KANTER, 1990). Neste tipo de entrelaçamento, há a divisão de recursos e competências e a redução de custos operacionais. Eiriz (2001) propõe uma tipologia de alianças estratégicas, tendo como base as atividades realizadas pelas empresas, seus principais clientes, fornecedores e empresas do mesmo setor. Identifica três tipos de cooperação: comercial, técnico ou de produção e financeiro. As alianças estratégicas, no âmbito comercial, envolvem atividades de compra, marketing, vendas e distribuição de produtos e serviços pós-venda. O quadro 1 apresenta as características de cada tipo de aliança no domínio comercial. No domínio técnico ou de produção, as alianças estão orientadas para atividades de produção, gestão de recursos humanos e pesquisa e desenvolvimento. O quadro 2 apresenta as características das alianças no âmbito técnico-produtivo. O domínio financeiro envolve alianças na esfera do capital e do grau de interação entre os parceiros (geralmente engloba participação acionária ou fusões e aquisições). 79 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Grupo de exportadores Acordo de distribuição Domínio Comercial Origina-se quando um conjunto de empresas do mesmo setor cooperam entre si para desenvolvimento dos mercados externos. A cooperação ocorre em diferentes atividades: realização de estudos nos mercados externos, participação conjunta em feiras, publicidade, entre outras. Além das economias de escala desenvolvidas, uma das suas principais vantagens é a possibilidade do grupo poder oferecer uma gama mais larga de produtos. Surge geralmente entre uma empresa produtora de bens finais e outra empresa que possui domínio ou presença nas redes de distribuição do produto ao consumidor final. Neste caso, o distribuidor acede ao produto do produtor e este acede a um ou vários canais de distribuição. Acordo de representação Ocorre entre uma empresa que se torna a representante dos produtos e das marcas da outra empresa para determinado mercado. O acordo de representação distingue-se da franquia porque envolve um menor nível de integração entre os aliados. Ou seja, ao contrário da franquia, o acordo de representação nem sempre obriga à exclusividade da marca e, por outro lado, pode incluir ou não a distribuição do produto. Central de compras Facilita o acesso das empresas participantes aos seus inputs fundamentais. Por norma, as empresas são do mesmo setor e possuem as mesmas necessidades de matérias-primas ou outras. Por meio da cooperação na compra, elas podem desenvolver economias de escala e adquirir maior poder de negócio junto dos fornecedores, com repercussões não só em termos de preços, mas também de qualidade, de condições de pagamento e de condições de entrega. Franquia Ocorre quando uma empresa (franqueador) concede a outra (franqueado) o direito de explorar uma marca, produto ou técnica de sua propriedade num determinado mercado, mediante determinadas condições contratuais. Estas condições envolvem contrapartidas financeiras e o cumprimento de procedimentos de gestão e políticas de marketing. Assistência comercial Ocorre quando uma empresa estabelece um acordo no sentido de poder externalizar a definição e, sobretudo, a implementação das suas políticas de marketing. Deste modo, a empresa concentra as suas competências em outras atividades, como, por exemplo, a inovação tecnológica dos processos de produção e o desenvolvimento de novos produtos, deixando ao parceiro a tomada de algumas decisões comerciais. Quadro 1 Tipos de alianças estratégicas do domínio comercial. Fonte: adaptado de Eiriz (2001) 80 Relação em rede nas micro e pequenas empresas de software de Londrina Domínio Técnico/Produção Estabelece-se entre duas ou mais empresas que possuem capacidades e competências susceptíveis de poderem se complementarem no desenvolvimento de um projeto técnico de grande envergadura e duração ao tempo (por exemplo, construção de uma autoestrada ou ponte). O consórcio pode ou não se manter para além da realização de um projeto. Muitas vezes, o sucesso de um projeto motiva os parceiros para novos projetos e aprofundamento da relação. Formação Ocorre com maior frequência em setores em que a base tecnológica é e/ou assistência técnica importante. Neste caso, estabelece-se um acordo entre duas ou mais empresas por meio do qual poderão ser ultrapassadas determinadas lacunas tecnológicas. Essas lacunas podem resultar da formação da mão-de-obra, que não apresenta as qualificações e competências desejáveis, ou de dificuldades de desempenho no equipamento de produção ou nos produtos. Subcontratação Surge quando uma empresa (contratante) subcontrata parte do processo de produção a outra (subcontratada). Deste modo, as operações desenvolvidas por cada um dos parceiros são diferentes. Acordo Verifica-se quando duas ou mais empresas produzem conjuntamente os mesmos de produção conjunta produtos para satisfazer necessidades de mercado, as quais não conseguiriam responder individualmente por falta de capacidade. Este tipo de aliança estratégica distingue-se da subcontratação pelo fato de as empresas desenvolverem as mesmas atividades e, por isso, estarem presente na mesma fase do sistema de negócios. As operações desenvolvidas pelos parceiros são iguais. Acordo de pesquisa e Surge em setores onde a atividade de investigação e desenvolvimento de novos desenvolvimento produtos e processos assumem um peso muito importante. Essa importância é visível na elevada percentagem de custos totais que são associados à atividade de investigação e desenvolvimento. Esses custos são, sobretudo, fixos e, por isso, as empresas desenvolvem estes tipos de alianças para poderem reparti-los. Podem desenvolver competências técnicas mais facilmente e responder ao mercado mais adequada ou rapidamente com novos produtos. Licenciamento de patentes Aliança estratégica por meio da qual uma empresa (concessionária) concede a outra (licenciada) os direitos de exploração de uma patente, produto ou processo de fabricação, mediante uma compensação geralmente de caráter financeiro. Consórcio Quadro 2 Tipos de alianças estratégicas do técnico/produção Fonte: adaptado de Eiriz (2001) Faulkner (1992) considera a aliança estratégica como uma forma de organização das atividades em um maior grau de integração do que outras formas de cooperação entre os agentes. Lorange e Ross (1996) propõem uma escala hierárquica das alianças estratégicas, como pode ser observado na figura 1: HIERARQUIA Grande Fusões e aquisições Participação societária Joint venture Empreendimento Empreendimento MERCADO cooperativo formal cooperativo informal Nenhum Grau de integração vertical Figura 1 Grau hierárquico das alianças estratégicas Fonte: Extraído de Lorange e Ross (1996, p.15) As alianças estratégicas incrementam as estratégias competitivas das empresas participantes do arranjo, por meio do intercâmbio mútuo e benéfico de tecnologias, 81 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná qualificações ou produtos. (YOSHINO; RANGAN,1997). As características principais das alianças são: a) conservação da independência das firmas depois da formação da aliança; b) compartilhamento dos benefícios e o controle do desempenho das tarefas combinadas apontado como o traço mais distintivo das alianças e complicador da gestão; e c) continuidade na contribuição por parte das firmas parceiras nas áreas estratégicas cruciais do arranjo. O caráter estratégico das ligações entre os pontos da rede em alianças estratégicas, compreendendo cooperação e competição, é o seu principal traço distintivo (NARULA; HAGESOORN, 1999). O aspecto estratégico deste tipo de arranjo cooperativo associa-se aos objetivos estratégicos das firmas envolvidas que influenciam de forma determinante a conformação da estrutura do arranjo interorganizacional e a relação deste com o ambiente em que está inserido. METODOLOGIA A pesquisa sobre a rede de empresas de software de Londrina utilizou um questionário para construir as perguntas e coletar as informações, tendo como referência Redesist (2003) e Camara, et al (2006). O instrumento foi aplicado pelo contato direto (RICHARDSON, 1999) mediante entrevistas dirigidas aos sócios proprietários das empresas e no caso de ausência destes, para os responsáveis pela área de projetos cooperados das empresas desenvolvedoras de software de Londrina. A pesquisa de corte transversal foi realizada em julho e agosto de 2007. A amostra foi classificada como amostra por julgamento, de acordo com Hair(2005), pois verificou-se que a indústria de software apresenta natureza dinâmica e heterogênea, permitindo a existência de inúmeras tipologias (ROSELINO, 2006). As 26 empresas selecionadas apresentaram as seguintes características em comum: i) empresas especializadas em desenvolvimento de softwares e prestação de serviços de consultorias; ii) empresas cadastradas na Prefeitura de Londrina; iii) vínculos com a Plataforma de Tecnologia da Informação PLATIN/ADETEC e associados Softex (entidades de representação do setor); iv) participação nas atividades do aglomerado de empresas de software de Londrina; v) membros de centros de tecnologia como a Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Estadual de Londrina INTUEL e do Centro Tecnológico de Londrina CTEC e; vi) a aceitação para participar da pesquisa. Vale ressaltar as principais limitações da pesquisa que restringiram o campo de análise. Primeiro, a existência de apenas micro e pequenas empresas que foram selecionadas para a amostra. Além disso, os cadastros disponíveis, muito dinâmicos e ao mesmo tempo 82 Relação em rede nas micro e pequenas empresas de software de Londrina confusos, impossibilitaram uma seleção de amostras mais aprimorada. Outro limitador foi o caráter mutante e a complexidade e variedade de classificações possíveis e existentes sobre o setor de software, o que dificultou análises mais apuradas, em termos de processo produtivo nas empresas. Também se destacou a rotatividade de empresas no aglomerado de software de Londrina; a pesquisa ficou limitada à medida que não foi possível generalizar os resultados para o universo total de empresas de software da cidade. Foram aplicados 26 questionários junto aos empresários, obtendo-se um total de 34,6% de micro empresas e 65,4% de pequeno porte. Conforme Botelho (1999), setores de alta intensidade tecnológica apresentam inúmeras oportunidades tecnológicas e estrutura de demandas diferenciadas, gerando nichos de mercados e favorecendo a atuação de MPMEs. Segundo Gutierrez e Alexandre (2004), a baixa necessidade de capital e poucas barreiras à entrada existentes na indústria de software favorecem a geração contínua de novos nichos de mercado e oportunidades para proliferação de pequenas empresas. As poucas empresas de software de grande porte não se mostraram dispostas a participar da pesquisa. O questionário constou da aplicação de uma escala ordinal que indicavam o tipo de atividade desenvolvida em parceria e a localização do parceiro local, do estado do Paraná, além de outros estados do país e também do exterior. A escala utilizada continha cinco intervalos: alta intensidade na interação, média, baixa ou nenhuma interação. RESULTADOS Apresentam-se, a seguir, os principais resultados encontrados na pesquisa de campo. Do total de empresas pesquisadas, 77% (20 empresas) afirmaram possuir algum tipo de parceria, aliança estratégica ou contratos de cooperação, corroborando Faulkner (1992), que considera aliança estratégica enquanto forma de organização de atividades em um maior grau de integração do que outras formas de cooperação entre os agentes. A presença expressiva desse tipo de arranjo demonstra, segundo Britto (2002), que, no caso, as alianças estratégicas podem envolver acordos formais e informais entre empresas, favorecendo o intercâmbio de informações e a aglutinação de competências, a exploração de oportunidades tecnológicas e mercadológicas. Nesse tipo de arranjo, o tempo prolongado nas interações colabora para relações mais estáveis, como forma de aumentar a eficiência operacional. No que se refere ao tipo de atividade desenvolvida em parceria pela empresa e a localização do parceiro, foi dada a opção para múltiplas escolhas (atividade e localização). 83 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Das empresas que afirmaram a existência de parceria, verificou-se, na rede (município de Londrina), que 45% das empresas indicaram parcerias para comercialização no mercado interno, 40% em atividades de desenvolvimento, e 40% para obtenção de certificações e 30% para qualificação de mão-de-obra. Na esfera estadual, 20% das empresas apontaram parcerias também em desenvolvimento e 20% em atividades de comercialização no mercado interno. No Brasil, o dado que mais se destaca é o de comercialização no mercado interno, com 40% das empresas. Por último, 10% das empresas declararam possuir parcerias com agentes de origem estrangeira, também para assumir uma função do negócio. Verificou-se a predominância de parcerias voltadas à comercialização de produtos/serviços das empresas, conforme os dados da tabela 1. Tabela 1 Tipo de atividade x localização dos parceiros Empresas de software de Londrina - 2007 Descrição Outsourcing de Processo de Negócios Outsourcing de TI Outsourcing Avançado (P&D) Desenvolvimento Comercialização no Mercado Interno Exportação Qualificação de Mão-de-Obra Obtenção de Certificações Outros Rede f % 3 15 8 40 9 45 1 5 6 30 8 40 2 10 f 2 1 4 4 1 1 PR % 10 5 20 20 5 5 f 2 3 2 4 8 1 1 - BR % 10 15 10 20 40 5 5 - Exterior f % 2 10 1 5 1 5 - Fonte: Pesquisa de campo dos autores (2007). De acordo com Garofoli (1993), as alianças estratégicas podem se constituir a partir de acordos cooperativos formais e informais, que têm como alicerce a colaboração entre os agentes dispersos da ótica espacial. A análise dos resultados revela, em termos de localização de parceiros, a concentração de atividades conjuntas da rede local (comercialização no mercado interno, desenvolvimento e obtenção de certificações), estadual, além de outros estados da União (comercialização no mercado interno e desenvolvimento). Para verificar a existência de envolvimento das empresas com atividades cooperativas no âmbito produtivo e tecnológico nos dois últimos anos (2005 a 2007), a pesquisa teve como referência o modelo de questionário da Redesist (2003). 84 Relação em rede nas micro e pequenas empresas de software de Londrina A análise dos resultados revelou que 92% (24) das empresas pesquisadas participaram nos dois últimos anos (2005 a 2007) de ações de cooperação formais ou informais com outras empresas ou organizações. Verificou-se o envolvimento das empresas em atividades cooperativas, reforçando o que Britto (2002) afirma sobre as redes de empresas: enquanto arranjo organizado está capacitado a responder aos estímulos do ambiente, pois é estruturado pelas relações tecnológicas e produtivas formais e informais, estabelecidas entre empresas e instituições. Conforme Human e Provan (1997 apud BALESTRIN e VARGAS, 2004) há relativa sinergia de ações viabilizadas por interações entre as 20 ou mais empresas de software de Londrina, orientadas a atingir objetivos comuns. Com relação às ações de cooperação relativas aos dois últimos anos (2005 a 2007), a tabela 2 identifica a intensidade da interação das empresas pesquisadas com outras empresas ou organizações. Mostra, ainda, se a cooperação é formal, informal ou mista e aponta a localização do parceiro. Verificou-se que 96% das empresas apresentaram forte interação com clientes da cidade de Londrina e do estado do Paraná e também com outros estados do país, perpassando relações de caráter formal (contratual) e misto. Essas relações formais de cooperação entre os clientes demonstram o caráter formal das relações em que há interação não só regular, mas com objetivos e resultados esperados da interação. Além de alcançar um benefício mútuo nas interações, os agentes (empresas de software e clientes) definem um método e um objetivo a ser alcançado, o que provavelmente, de acordo com a pesquisa, envolva relações contratuais para a comercialização e desenvolvimento de produtos/serviços. Os resultados, em relação à intensidade na interação das empresas pesquisadas com outros agentes, grau de cooperação, nível de formalização dessas relações e localização dos parceiros, podem ser observados na tabela 2. 85 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Tabela 2 Interação x Formalização x Localização Descrição Fornecedores Clientes Concorrentes Outras Empresas de Software Consultores Especializados Universidades Incubadoras de Empresas Institutos de Pesquisa Centros de Capacitação Instituições de Testes de Certificação Entidades de Representação Entidades Sindicais Órgãos de Apoio e Promoção Agentes Financeiros Intensidade da Interação em % Alta 27 69 8 31 19 23 12 4 8 16 12 8 19 Média Baixa 31 34 27 4 11 31 31 34 39 27 23 19 12 15 4 15 19 35 19 19 15 15 8 34 34 34 12 15 Nenhuma 8 50 4 15 35 61 77 38 46 58 58 24 54 Formalização Formal Misto Informal R 50 4 38 38 46 27 27 77 8 4 38 31 27 19 50 69 38 8 38 50 54 4 8 62 23 8 8 35 8 11 12 46 15 62 50 4 19 27 15 11 19 23 38 50 8 19 65 46 12 Localização PR 30 88 19 42 35 23 12 4 15 35 4 BR 46 77 19 23 31 15 4 4 7 27 30 4 12 31 E 7 7 - Fonte: Pesquisa de campo dos autores (2007). Verificou-se que 62% das empresas apresentaram forte interação com outras empresas de software de Londrina e também do estado, prevalecendo relações mais informais nesses dois últimos anos (2005 a 2007). No que se refere a este último dado, os resultados demonstram que, nas redes de PMEs, a coordenação das atividades poderá ser realizada pelas próprias empresas, coordenação de um modo menos formal, pois é facilitada pela dinâmica de interação dos próprios agentes. Conforme Hoffmann (2005), Marcon e Moinet (2001), a estrutura de rede informal permite os encontros informais entre as empresas que trocam experiências e informações, promovendo um ambiente de cooperação e relações interempresariais mais estruturadas. Por outro lado, verificaram-se escassos laços multilaterais com outras instituições; baixa ou nenhuma intensidade de interação com outras organizações, tais como universidades; institutos de pesquisa (IAPAR, TECPAR, etc); incubadoras de empresas (INTUEL); centros de qualificação profissional (CIEE, Epesmel, Platin); instituições de testes e certificações, entidades de representação (ASSESPRO, Softex) e sindicais; órgãos de apoio e promoção (SEBRAE, Adetec, Sistema FIEP, CITS); e entidades financeiras (FINEP, CEF, BNDES, BRDE). Isto demonstra pouca abertura das empresas a estabelecer relacionamentos com outras organizações externas que possibilitem melhor capacitação produtiva e tecnologica. Algumas empresas indicaram que a cooperação com as universidades locais (Londrina) restringe-se a cessão de softwares para alguns departamentos para uso e avaliação do produto (administração, economia e contabilidade), acompanhadas da existência de convênios para campo de estágio e, também, para ministrar palestras sobre o setor. 86 Relação em rede nas micro e pequenas empresas de software de Londrina No que se refere à cooperação produtiva e tecnológica e às formas de cooperação empregadas pelas empresas nos dois últimos anos (2005 a 2007), verificou-se que houve 46% de significante utilização da cooperação em processos de controle de qualidade e certificação e 46% em desenvolvimento de produtos e serviços. A grande maioria das formas de cooperação apresentadas aos respondentes não foram utilizadas pelas empresas; 11% das empresas cooperam para exportar produtos; 23% das empresas buscam a cooperação com outras empresas e agentes para obter financiamentos; 27% consideram um grau de utilização regular para venda conjunta de produtos e 27% para reivindicações políticas e apoio financeiro para a rede. A tabela 3 apresenta os dados referentes às formas de cooperação utilizadas e não utilizadas pelas empresas nos anos de 2005 a 2007, de acordo com o grau de utilização. Tabela 3 Grau de Utilização das Formas de Cooperação Descrição 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. Compra de insumos e equipamentos Venda conjunta de produtos Desenvolvimento de produtos/serviços e processos Capacitação de recursos humanos Obtenção de financiamento Reivindicações políticas, apoio financeiro para a rede Participação conjunta em feiras/eventos e outros Processos de controle de qualidade e certificação Exportação de produtos Centros de tecnologia, como as incubadoras por exemplo Fóruns de discussão Alta 15 19 19 15 4 19 15 23 19 8 Grau de Utilização em % Média Baixa Não relevante 15 4 66 8 23 50 27 23 31 18 15 50 19 8 69 8 11 62 23 12 50 23 12 42 13 12 77 12 15 54 23 31 38 Fonte: Pesquisa de campo dos autores (2007). Com relação ao grau de importância atribuído aos resultados das ações conjuntas utilizadas pela amostra pesquisada, adotou-se, para a análise, os conceitos de alta e média, como sendo de ótima importância, e baixa ou nenhuma, como importância razoável. As empresas indicaram ótima importância para a melhoria na qualidade dos produtos; 85% para a melhoria nos processos produtivos (84%); 70% nas condições de comercialização e 73% para novas oportunidades de negócio. Por outro lado, com base nos resultados, ressalta-se que 88% indicaram como não relevante os resultados das ações conjuntas para maior inserção da empresa no mercado externo. A tabela 4 apresenta a avaliação das empresas, quanto aos resultados das ações conjuntas implementadas nos anos 2005 a 2007. 87 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Tabela 4 Avaliação dos Resultados das Ações Conjuntas Resultados das Ações Conjuntas • • • • • • • • • • Melhoria na qualidade dos produtos Desenvolvimento de novos produtos Melhorias nos processos produtivos Melhoria nas condições de fornecimento de produtos Melhor capacitação de recursos humanos Melhorias nas condições de comercialização Introdução de inovações organizacionais Novas oportunidades de negócio Promoção de nome/marca da empresa no mercado nacional Maior inserção da empresa no mercado externo Grau de Importância em % Alta Média Baixa Nenhuma 46 42 12 23 42 12 23 46 39 4 11 23 27 19 31 19 31 31 19 27 43 15 15 19 31 27 23 31 42 19 8 31 23 31 15 4 8 8 80 Fonte: Pesquisa de campo dos autores (2007). A avaliação do desempenho das empresas de software de Londrina foi relacionada ao faturamento de projetos cooperados sob o faturamento da empresa nos anos de 2005 a 2007 e foi definida com base na indicação de intervalos percentuais. Do total da amostra pesquisada, 42% das empresas responderam que o faturamento de projetos cooperados representou um percentual de 1 a 20% sob os rendimentos da empresa, não havendo indicação de resultados desfavoráveis quanto à participação da empresa em projetos cooperados. Esses dados podem ser observados na tabela 5 a seguir. Tabela 5 Faturamento de projetos cooperados x faturamento anual Faixa de Faturamento f % 1-20 21-40 41-60 61-80 Não tem* 11 4 1 10 42 15 5 38 Total 26 100 Fonte: Pesquisa de campo dos autores (2007). * Essas empresas não souberam ou não quiseram responder 88 Relação em rede nas micro e pequenas empresas de software de Londrina Os resultados revelam que 58% das empresas afirmaram ter aumentado o faturamento, 42% apontaram que houve aumento do lucro líquido e 50% delas declararam que houve um aumento no retorno do investimento de projetos cooperados com relação aos dois últimos anos (2005 a 2007). Em ambos os casos, há predomínio de manutenção ou crescimento dos indicadores econômicos, demonstrando um desempenho positivo das empresas, não existindo avaliações que reflitam a diminuição ou desvantangem em participar de projetos cooperados. A tabela 6 mostra os indicadores de desempenho das empresas pesquisadas em termos de crescimento do faturamento, lucro líquido e retorno do investimento. Tabela 6 - Faturamento das Empresas x Projetos Cooperados Indicadores Aumentou Permaneceu %* 1. 2. 3. Crescimento do faturamento Lucro líquido Retorno do investimento 58 42 50 27 42 35 Fonte: Pesquisa de campo dos autores (2007) Obs: Este percentual foi realizado com base em 22 empresas que responderam a questão, considerando não apenas a existência de parcerias, alianças estratégicas e contratos de cooperação, mas, também, outras atividades cooperativas estabelecidas com outras empresas e agentes. CONCLUSÃO A presente pesquisa buscou uma investigação aprofundada sobre a rede de empresas no setor de software de Londrina dado que o estudo prévio de mapeamento de arranjos produtivos localizados no Paraná, feito pelo IPARDES em 20054, identificou a cidade como importante aglomeração de empresas do segmento. Conforme Camara et al. (2006b) e IPARDES (2005), mesmo com a diversidade industrial da cidade de Londrina, a indústria de software não tem importância representativa local, mas é destaque no âmbito estadual, ficando em segundo lugar, atrás apenas da cidade de Curitiba. Dessa forma, a pesquisa constatou que as atividades de cooperação existentes na rede correspondem basicamente ao desenvolvimento, à comercialização no mercado interno, à capacitação de recursos humanos e à obtenção de certificação em forma de parcerias e alianças estratégicas com empresas de Londrina e de outras localidades. O que vem ao encontro da pesquisa na literatura, conforme Marcon e Moinet (2001), nas redes horizontais, em que prevalece relação de cooperação interfirmas. As 89 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná empresas optam por coordenar e complementar atividades específicas de forma conjunta, buscando atingir objetivos para produzir e aprimorar a qualidade de produtos e de recursos humanos, além de incrementar ações de comercialização. Para Balestrin e Vargas (2004), as redes horizontais são constituídas por um grupo de PME´s, situadas geograficamente próximas e que operam em um segmento específico de mercado. A cidade de Londrina é um espaço geográfico comum às empresas que fazem parte da rede de empresas de software e que apresenta sistemas de relações nos variados níveis, sejam internos ou em ambiente local e mais amplo. Na pesquisa, a interação para cooperação também se dá, em maior nível e contatos formais, com os clientes/usuários do software para desenvolvimento dos produtos e serviços e com outras empresas de software da cidade de Londrina, em grau mais informal, para troca de informações e conhecimentos. Quanto aos impactos relativos a essas ações de cooperação, as empresas apontaram muita importância para a melhoria na qualidade dos produtos, nos processos produtivos, nas condições de comercialização e para a geração de novas oportunidades de negócio. No que se refere aos impactos da cooperação produtiva, o estudo demonstrou que as ações de parcerias e alianças estratégicas e contratos de cooperação é o que têm gerado um melhor desempenho com o acréscimo do faturamento, lucro líquido e retorno sobre o investimento. Não houve no trabalho qualquer indicação de resultado desfavorável para as empresas que participar de projetos cooperados, o que reforça um campo bastante rentável e promissor para os atuais e futuros empreendimentos cooperados para essas empresas. Tais impactos reforçam o que Ebers e Jarillo (1998) apresentam como sendo vantagem competitiva para empresas que atuam em redes: fluxo de recursos entre empresas com a redução das incertezas nas relações e nas economias de escala, reflexo de investimentos conjuntos em P&D; desenvolvimento de produtos; entre outros. Como diz Kanter (1990), nesse tipo de configuração, há possibilidades de dividir recursos e competências, reduzindo custos operacionais. O estudo descreveu e analisou a estrutura coletiva de ações dos agentes e o comportamento das empresas, que não são tidas isoladamente, mas em conjunto com as demais e outros agentes, buscando o entendimento dos impactos das ações de cooperação na competitividade das empresas de software de Londrina. Acredita-se que a presente investigação beneficia o setor na cidade de Londrina no sentido de apresentar o nível de cooperação existente entre empresas e demais agentes, possibilitando a revisão de políticas e estratégias de atuação da rede de empresas de software da cidade. Vislumbra-se que os resultados do trabalho servirão de subsídios para agentes 90 Relação em rede nas micro e pequenas empresas de software de Londrina (universidades, governo, empresas) em âmbito regional, estadual e nacional na definição de políticas e de planos de ação que promovam mecanismos ampliados para viabilizar maior interação e aglutinação de competências. Ações que efetivamente favoreçam a cooperação, elevando os níveis de competitividade nacional e internacional. REFERÊNCIAS BALESTRIN, A.; VARGAS, L.M. A Dimensão Estratégica das Redes Horizontais de PMEs: Teorizações e Evidências. In: Revista de Administração Contemporânea, Edição Especial, 2004, p.203227. BRITTO, J. Cooperação interindustrial e redes de empresas. In: KUPFER, D.; HASENCLEVER, L. (org). Economia Industrial Fundamentos Teóricos e Práticas no Brasil. Elsevier Editora: Rio de Janeiro, 2002. v.1, p.345-386. BOTELHO, M.R. Políticas de Apoio às Pequenas Empresas Industriais no Paraná: uma avaliação a partir da experiência internacional. 1999. Tese (Doutorado em Economia). - Instituto de Economia. Universidade de Campinas, Campinas. CAMARA, M.R.G.; et al. Arranjo Produtivo Local de Software de Londrina. Curitiba: IPARDES, jul/ 2006b. Relatório Técnico. CASAROTTO, N.F.; PIRES, L.H. 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Elas resultam em vantagens, a partir da proximidade espacial de empresas, da disponibilidade de mão-de-obra qualificada, da presença constante de fornecedores e prestadores de serviços especializados que, em conjunto, produzem as denominadas economias externas Marshallianas. Este ambiente possibilita maior intensidade de interação entre os agentes envolvidos e agilizam o processo de circulação de informações e reprodução do conhecimento entre os atores locais. Já no final do século XIX, Alfred Marshall, economista inglês, evidenciava as vantagens das empresas localizarem-se próximas umas das outras, desenvolvendo as mesmas atividades e/ou complementares. Afirmava, inclusive, que os segredos da profissão ficavam soltos no ar, de forma que todos pudessem absorver e propor melhorias nos inventos, adaptando-os às suas realidades. Ou seja, fazer novas combinações a partir do conhecimento vivenciado na comunidade. No ambiente local, as possibilidades de ações conjuntas entre os agentes envolvidos aumentam e levam a uma maior eficiência coletiva (SCHMITZ, 1997). Tal qualificação deve-se ao ambiente propício à existência de cooperação e aprendizagem entre as firmas presentes nessa aglomeração. Ao se fortalecer, as relações de confiança entre fornecedores e clientes desencadeia um processo de cooperação e apoio com as demais instituições locais. Ambientes locais com tais configurações propiciam a construção de formatos organizacionais com características de arranjo produtivo. A ideia de Arranjo Produtivo Local (APL) baseia-se na proximidade das firmas, nas suas semelhanças históricas, culturais e sociais. Em outros termos, em elementos que estimulam o processo de interação local que viabiliza o aumento da eficiência produtiva e proporciona um ambiente favorável à elevação da competitividade das empresas que atuam neste ambiente. A abordagem de APL tem sido estudada por órgãos públicos e instituições privadas em vários países, visando implementar políticas de desenvolvimento industrial, tecnológico e regional. Nessa perspectiva, a identificação e a realização de estudos de aglomerações 97 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná produtivas de determinadas regiões constituem o marco inicial para a verificação da existência de APL. É nesse contexto que este artigo está inserido. Aspectos de caráter local passam a fazer parte dessa abordagem, entre os quais a cooperação entre firmas, as relações de confiança estabelecidas com os fornecedores e clientes e o fortalecimento de instituições locais de apoio, que são fontes de desenvolvimento regional. Políticas públicas de apoio são fundamentais para alavancar o processo de up-grading local. A partir dessa perspectiva teórica, algumas questões são colocadas para a atividade de software em Maringá: a) Como está estrutrurado o APL de software no município de Maringá? b) Quais são suas potencialidades e seus principais desafios? Para responder a estas questões, primeiro realizou-se estudo de caso da aglomeração produtiva do setor de software no Município de Maringá e, a partir da constatação do grau de desenvolvimento do APL, buscou-se identificar suas principais potencialidades e desafios. Inicialmente, é apresentado o referencial teórico destacando os elementos centrais do APL. Em seguida, são descritos os procedimentos metodológicos empregados para o desenvolvimento do trabalho. Depois, apresentam-se informações referentes ao Município de Maringá e seu entorno, bem como alguns elementos que propiciam a caracterização do setor de software, tanto em nível nacional quanto local. Mediante pesquisa de campo, levantaram-se informações acerca da organização desse setor em Maringá, bem como desafios e potencialidades. Esses resultados contribuíram para o entendimento do perfil do setor, tanto em relação à sua estrutura produtiva quanto às suas estratégias. Por fim, algumas considerações finais serão tecidas. REFERENCIAL TEÓRICO O referencial teórico deste trabalho toma como base as formas de organização da produção, a partir do conceito de aglomerações produtivas em direção a abordagem de Arranjos Produtivos Locais (APL). O ponto de partida dessas análises é o trabalho pioneiro de Alfred Marshall, no final do século XIX, sobre aglomerações produtivas e as vantagens dela originadas. Marshall (1982) denominou tais vantagens de economias de escala externa (externalidades). As economias externas são obtidas pela concentração de pequenas empresas desempenhando atividades similares em determinadas regiões. Nos aglomerados industriais, os segredos da profissão deixam de ser secretos e se espalham. Valorizam-se os trabalhos bem realizados, as melhorias na maquinaria e as formas de administração das empresas são logo aprendidas pela comunidade local, que as 98 Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR combina de acordo com suas necessidades e oferece novas sugestões, tornando essa nova ideia em uma fonte para outras ideias. (MARSHALL, 1982). Nesse contexto, Marshall (1982) enfatiza o surgimento das atividades complementares. As empresas subsidiárias tornam-se especializadas em determinadas etapas do processo de produção, no qual se utilizam de máquinas de tecnologia rotineira, portanto de uso comum, além de se constituir em um mercado constante de uma mão-de-obra especializada e experiente. A aglomeração também é vista como uma conveniência para os consumidores, visto que ao desejarem realizar determinada compra, de valor monetário expressivo, eles não se incomodam em se deslocar para pontos distantes na cidade a fim de encontrar as lojas que comercializam os produtos que desejam, dado que lá encontrarão, à sua disposição, uma gama enorme de bens e serviços, em razão do grande número de fornecedores que se agrupam em um mesmo local. Para as compras de produtos de uso comum da população e de baixo valor monetário, os consumidores procuram nas lojas mais próximas de suas residências. Segundo Souza (1997), a oferta de trabalhadores especializados aglomera as empresas e estas atraem trabalhadores de outras regiões. A existência de empregos em outros setores subsidiários, em um mesmo local, reduz o risco de desemprego. Em outros termos, a abundância de trabalho especializado maximiza a segurança das empresas em aceitar pedidos de produção sem receio de não poder atendê-los por falta de trabalhadores, visto que a diversidade industrial diminui o custo salarial, ao formar um mercado com maior oferta de trabalhadores. Marshall (1982) também discute as economias de escala internas à firma. Nesse caso, elas são derivadas de uma nova tecnologia internalizada na empresa, que abrange os equipamentos, as máquinas, os conhecimentos e os modos de gerenciamento. A organização interna das empresas, ao possibilitar economias de escala e induzir para melhorias na infraestrutura econômica e social, pode se constituir em uma importante fonte de aumento da competitividade empresarial e na criação de um círculo virtuoso de desenvolvimento regional. Segundo Souza (1997), a contribuição de Alfred Marshall foi fundamental porque chamou a atenção sobre a importância da organização interna da empresa no processo de crescimento econômico. Do lado da produção, destacou a organização industrial, a divisão do trabalho, geradores de economias de escala e investimentos em infraestrutura1, enfim, criadores de economias externas. Há que se destacar que investimentos em infra-estrutura são importantes, na medida que criam externalidades, tais como: redução nos custos de transportes e de produção, acesso a mercados, etc (AMARAL FILHO, 1995). 1 99 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Os estudos que realçam os aspectos internos ao local como determinantes de seu desenvolvimento passou a ser denominado desenvolvimento endógeno. A este respeito, Martinelli e Schoenberger (1994) enfatizam que a origem do desenvolvimento regional endógeno foram os trabalhos desenvolvidos por Bagnasco, Trigilia e Brusco, ao discutirem as experiências da Terceira Itália. Mas, foi somente com o trabalho de Becattini (1979), obser vando a aglomeração clássica do triângulo Milão-Turin-Gênova, e o subdesenvolvimento do Mezzogiorno, no qual emergiram cidades e vales que se valiam de suas próprias energias, que o tema ganhou relevância. As economias externas, portanto, tornaram-se importantes elementos nos estudos sobre as aglomerações industriais e estas passaram a ser interpretadas sob a ótica dos distritos industriais marshallianos (CAMPOS, 2004). Em uma definição mais ampla, é possível incluir os diferentes tipos de aglomerados identificados na literatura como distritos e pólos industriais, clusters, arranjos produtivos e inovativos locais, redes de empresas, entre outros. (LASTRES; CASSIOLATO, 2003). Em geral, essas aglomerações envolvem algum tipo de especialização produtiva da região em que se localizam e muitas têm sido analisadas a partir do enfoque teórico sobre os distritos industriais. Uma outra característica dos distritos industriais é que os indivíduos transferemse de uma empresa para outra e seu principal vínculo é menor com as empresas e maior com a região. A saída dos trabalhadores é mínima, enquanto a emigração ocorre de acordo com as taxas de crescimento da região. O Distrito é visto como uma sociedade relativamente estável, o que torna possível uma identidade cultural e de capacitação (expertise) industrial compartilhada. (MARKUSEN, 1995, p.18). Todas estas características destacadas pela autora agregam-se à noção de aglomeração, sugerindo que a [...] empresa e/ou eficiência do distrito na atração de investimentos se deve antes às economias externas à disposição de cada empresa, do que a ação individual de trabalhadores. (MARKUSEN, 1995, p.19). Mais ainda, nos distritos industriais pode-se destacar, também, as economias de aprendizado por interação, ganhos econômicos das firmas decorrentes de suas relações duradouras com clientes e fornecedores, resultando assim, em um aprendizado coletivo que se reflete na melhoria dos métodos de se produzir e comercializar. Esses fatos conduzem à discussão para os fundamentos (conceitos) de APL. Segundo Lastres e Cassiolato (2003), o termo aglomeração tem como aspecto central a proximidade territorial de agentes econômicos, políticos e sociais (empresas e outras organizações públicas e privadas). Nessa perspectiva, as micro e pequenas empresas na aglomeração ampliam suas chances de sobrevivência e crescimento, constituindo-se em relevante fonte geradora de vantagens competitivas. 100 Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR Para as firmas, a proximidade geográfica possibilita o aparecimento de outras atividades subsidiárias, fornecendo, à indústria principal, instrumentos e matérias-primas, que favorece dessa forma, economia de material. A presença de fornecedores de bens e de serviços constitui-se em fonte importante de economias externas, principalmente quanto ao processo de conhecimento que se obtém pelas relações entre firmas e seus fornecedores. (CAMPOS, 2004). Somada às economias externas, encontra-se a chamada eficiência coletiva. Segundo Schmitz (1997, p.173), a eficiência coletiva é definida [...] como a vantagem competitiva derivada de economias externas locais e ação conjunta. As ações conjuntas podem ser não-planejadas (incidentais) ou planejadas (conscientemente perseguidas).6 No caso das não planejadas, os ganhos de eficiência surgem de forma não intencional, ou seja, da própria existência da aglomeração industrial, a qual fornece custos reduzidos. Estas são economias externas marshallianas. No caso das planejadas, a eficiência coletiva planejada é resultante de ações conjuntas deliberadas de empresas e instituições locais.7 (CAMPOS, 2004, p. 57). As relações que ocorrem entre os atores das aglomerações industriais significam mais do que economias externas planejadas. Elas representam construções sociais específicas aos agentes locais, as quais não podem ser reproduzidas em outros contextos. Por sua vez, Vargas (2001) define arranjos produtivos locais como sendo um aglomerado de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, operando em atividades correlacionadas e que apresentam vínculos expressivos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem. Segundo Lemos (2003), O termo arranjos produtivos locais pode ser definido como aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais, com foco em um conjunto específico de atividades econômicas e que apresentem vínculos e interdependências. (LEMOS, 2003, p.80-81). Os exemplos destacados são: a existência de um mercado local de mão-de-obra especializada; surgimento de assistência técnica e comercialização de máquinas e equipamentos novos e usados, fácil acesso a fornecedores de matérias-primas e, por fim, segundo Suzigan, Garcia e Furtado (2002), maior disseminação local de conhecimentos especializados permitindo rápido aprendizado. (CAMPOS, 2004, p.57). 3 Neste casso segundo Campos (2004, p. 57), os exemplos destacados são: o compartilhamento de máquinas e/ou reuniões de firmas em associações buscando ganhos comuns; organização de produtores para compras de maior quantidade de matérias-primas (centrais de compra), entre outros. 2 101 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Independente dos níveis de intensidade dos vínculos e interdependência no conceito, existem alguns elementos que necessitam estar presentes nos aglomerados industriais para que possam configurar-se como arranjos produtivos. São elementos que, de certo modo, constituem a base conceitual da firma e são determinantes de competitividade do aglomerado produtivo. Nesse ambiente de rápidas transformações, as ações das firmas (do aglomerado) devem ser conduzidas da melhor maneira possível, o que requer alguma forma de coordenação (governança). A estrutura de governança, portanto, refere-se às várias formas pelas quais organizações (públicas e privadas) e indivíduos gerenciam problemas comuns e, assim, amenizam interesses conflitantes ou diferenciados, promovendo ações cooperativas. Refere-se não só às instituições e regimes formais de coordenação e autoridade, mas também aos sistemas informais (LASTRES; CASSIOLATO, 2003, p.14). No caso particular dos arranjos produtivos locais, a governança refere-se às diferentes maneiras de coordenação, intervenção e participação nos processos de decisão local dos diferentes agentes (Estado, empresas, trabalhadores, entre outros). As formas de governança local pública e privada podem ser importantes instrumentos para potencializar a competitividade dos produtores aglomerados. Os governos locais podem atuar na criação e na manutenção de instituições de apoio ao desenvolvimento das atividades produtivas, como a criação de centros de treinamento e formação de profissionais, centros de prestação de serviços tecnológicos e agências governamentais de desenvolvimento. Do mesmo modo, associações de classe e organizações não governamentais podem atuar como catalisadoras do processo de desenvolvimento local, por meio de ações de fomento à competitividade e de promoção de ações conjuntas das empresas. (SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2001). Essas são, portanto, as formas de organização da produção (produtiva) da atividade. Vencer dependerá da capacidade de articulação dos atores locais em identificar e resolver seus problemas cotidianos. É isso que determina seus níveis de competitividade. É sob este enfoque teórico que o setor de software do município de Maringá é investigado neste trabalho. Dessa forma, é importante levantar os aspectos que podem ser considerados como vantagens competitivas deste setor neste município. ASPECTOS METODOLÓGICOS A identificação e a caracterização de aglomerações produtivas devem ser realizadas por meio de consistente referencial teórico, com base de dados bem estruturados e com 102 Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR bons níveis de desagregação, além de indicadores que permitam a verificação de especialização e de concentração produtiva. Assim, após o domínio do referencial teórico, tornam-se necessários os trabalhos de natureza empírica, para identificar e caracterizar um Arranjo Produtivo Local. Nesse estudo, a primeira etapa consistiu em identificar as evidências estatísticas sobre a existência de aglomeração e especialização produtivas. Para tal constatação, empregou-se o Quociente Locacional (QL). Tal indicador foi obtido a partir de dados secundários, fornecidos pela Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho (MTE). A etapa seguinte consistiu na realização de pesquisa de campo para levantar o nível de interação, cooperação e integração entre os agentes envolvidos. A partir dessas informações, colhidas com a aplicação de questionário às empresas, previamente selecionadas por um processo de amostragem aleatório, foi possível realizar a identificação e a caracterização de possível Arranjo Produtivo Local e os diferentes estágios de seu processo de constituição, desde a fase embrionária, até a consolidação de agrupamentos com elevados graus de maturidade. Feitas essas considerações, descrevem-se, a seguir, os principais procedimentos metodológicos empregados para este estudo de caso: Software no Município de Maringá. Pesquisa de campo O primeiro passo para a realização da pesquisa foi o levantamento do universo a ser investigado. Para tanto, foi necessário identificar o conjunto de empresas nas quatro classes citadas: 72109; 72214; 72290 e 72400. Essa foi a etapa de maior dificuldade na pesquisa, haja vista que o banco de dados da RAIS/MTE não contempla a identificação das empresas. A inexistência de um órgão de representação do setor no Município constituiu num complicador adicional. Para a identificação do universo, considerou-se o cadastro dos contribuintes do Imposto sobre Serviços (ISS) da Prefeitura do Município de Maringá. Cabe registrar que nesse cadastro as empresas pesquisadas estão classificadas a partir da denominação genérica empresas de informática, incluindo comercialização, escolas de informática, manutenção, processamento de dados, desenvolvimento de software, etc. Constam nesse cadastro 311 empresas. Como o foco da pesquisa eram aquelas que desenvolvem software, foi necessário um grande esforço para selecioná-las. Por meio de contatos telefônicos, foi possível identificar 97 empresas que atuam diretamente na atividade de desenvolvimento de software. 103 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Estrutura institucional No setor de software no Município de Maringá, poucas instituições de apoio estão presentes, sendo que algumas são mais participativas na dinâmica do setor, inclusive com atuações importantes. Nesse sentido, pode-se destacar a atuação do SOFTEX Paraná, notadamente da Incubadora Tecnológica de Maringá que, apesar das dificuldades encontradas, tem prestado grande auxílio ao setor. Formam a rede de apoio a UEM, por meio dos cursos e das pesquisas voltados a essa área do conhecimento; as instituições privadas de Ensino Superior presentes no Município de Maringá; o SEBRAE; o Serviço Nacional de Aprendizado Industrial (SENAI); e o IEL, que organizam eventos, na formação técnica e empresarial do capital humano e participam na elaboração de estratégias para o setor (quadro 1). A intensidade e a relevância de cada parceiro para o desenvolvimento do setor de software no município apenas serão adequadamente aproveitados a partir de uma maior organização do setor, o que requer a constituição de uma entidade de classe que o represente e o organize. A pesquisa de campo revelou importantes elementos do arranjo e que serão, em seguida, tratados. 104 Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR INSTITUIÇÕES Associação Comercial e Empresarial de Maringá Apóia diretamente o setor, colocando sua infraestrutura à disposição de qualquer iniciativa proposta pelos empresários. Incentiva a organização dos empresários do setor. Presta orientação e consultoria fisco-contábil. Atua como órgão de representação na defesa dos interesses do setor. Incubadora Tecnológica de Maringá Apóia a geração a e consolidação de empresas de base tecnológica, notadamente novas empresas do setor de TI. Em 2006, possui uma dezena de empresas de software incubadas. Universidade Estadual de Maringá Atua na formação e na capacitação da mão-de-obra para o setor de software, tanto em nível de graduação, quanto de pósgraduação lato sensu e stricto sensu. Fornece estrutura física para a Incubadora Tecnológica de Maringá. Centro Universitário de Maringá Atua na formação e na capacitação da mão-de-obra para o setor de software, tanto em nível de graduação, quanto de pósgraduação lato sensu. Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá (CODEM) Órgão criado por Lei Municipal, cuja finalidade é propor e fazer executar políticas de desenvolvimento econômico para o Município de Maringá. Várias entidades representativas de diferentes segmentos da sociedade o integram e suas ações são feitas em parceria com o Poder Público e com instituições como ACIM, IDR e FIEP. Teve atuação decisiva na implantação da Incubadora Tecnológica de Maringá. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Fomenta a pesquisa no setor de software mediante financiamento e apoio a projetos acadêmicos. Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP)/Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI)/ Instituto Euvaldo Lodi (IEL) O sistema FIEP/SENAI/IEL apóia o setor de software mediante disponibilização de cursos técnicos e profissionalizantes na área de TI, entre outras ações. Governo do Estado do Paraná Oferece incentivos fiscais às micro e pequenas empresas instaladas no Estado do Paraná. É o responsável pelos recursos públicos destinados à Universidade Estadual de Maringá, à Fundação Araucária e ao TECPAR. Instituto de Tecnologia do Paraná Atua em P&D, abordando diversas áreas inclusive a TI. É parceiro das Incubadoras Tecnológicas em todo o Estado do Paraná. Instituto para o Desenvolvimento Regional Tem como missão promover, por meio de parcerias, o desenvolvimento regional sustentável. Atua junto ao CODEM no apoio ao setor de software. Prefeitura Municipal de Maringá Apóia as iniciativas propostas pelos empresários do setor de software, em parceria principalmente com CODEM, ACIM e IDR. Rede Paranaense de Incubadoras e Parques Tecnológicos Congrega as Incubadoras Tecnológicas do Estado do Paraná. Contribui para aperfeiçoar e expandir as incubadoras, bem como incentiva sua integração e promove o intercâmbio de experiências, informações e cooperação técnica. Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa do Paraná Fornece consultoria (notadamente de gestão organizacional) para as micro e pequenas empresas do setor de software. Contribui para implantação de métodos mais eficientes de gestão e auxilia na obtenção de financiamentos. Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Materiais Elétricos de Maringá Colabora com a Incubadora Tecnológica de Maringá em diversos projetos. Fundação Araucária Fomenta a pesquisa no setor de software por meio de financiamento e apoio a projetos acadêmicos. Departamento de Informática - Universidade Estadual de Maringá Atua na formação e na capacitação da mão-de-obra para o setor de software, tanto em nível de graduação, quanto de pósgraduação lato sensu e stricto sensu. Núcleo de Excelência em Tecnologia da Informação Organização fundada em 2006, visando representar os interesses das empresas do setor de software de Maringá. A iniciativa contava com a participação direta de poucos empresários no momento da conclusão deste artigo. Fonte: Sites institucionais Quadro 1 - Ativos institucionais ligados ao setor de software de Maringá - 2006 105 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO Características gerais das empresas pesquisadas A população-alvo da pesquisa foi definida como sendo as empresas do setor de software localizadas no Município de Maringá, enquadradas nas seguintes classes da CNAE: classe 72109 (consultoria em hardware); classe 72214 (desenvolvimento e edição de softwares prontos para uso); classe 72290 (desenvolvimento de softwares sob encomenda e outras consultorias em software); e classe 72400 (atividades de banco de dados e distribuição on-line de conteúdo eletrônico). Do cadastro de contribuintes do Imposto sobre Serviços (ISS) da Prefeitura do Município de Maringá constavam 97 empresas, das quais foram selecionadas 15, que constituíram a amostra da pesquisa e serviram de base para as inferências e análises deste estudo. Por meio dos resultados da pesquisa, identificaram-se as principais características das empresas, quais sejam: a) quanto à forma jurídica de constituição das empresas, observa-se um amplo domínio de sociedades limitadas; b) todas foram constituídas com capital nacional; c) sua composição societária é formada por, no mínimo, dois e, no máximo, seis sócios; d) a gestão da totalidade delas é exercida pelo sócio majoritário; e) a maioria delas (53,3%) foi constituída após o ano 2000. Quanto ao porte, os dados levantados indicaram a forte presença de micro e pequenas empresas: 87% das empresas de software localizadas no município de Maringá são classificadas como micro e pequenas. Apenas 13% são enquadradas como médias, e não foi identificada nenhuma empresa de grande porte atuando no setor. Perfil do principal sócio fundador Com relação ao perfil do principal sócio fundador, foi possível identificar que 60% dos sócios majoritários possuem nível de pós-graduação; 26,67% são graduados; e apenas 13,33% possuem curso superior incompleto. Outra constatação importante é que 66,67% dos sócios fundadores possuem formação acadêmica na área de Informática ou Processamento de Dados (PD). Uma característica importante na caracterização do perfil do sócio fundador referese à idade. Na sua grande maioria são bastante jovens 73% possuem idade inferior a 30 anos e ao constituírem a empresa não haviam completado 25 anos. Outro fato a destacar 106 Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR refere-se ao gênero todas as empresas pesquisadas foram constituídas por sócios do sexo masculino. A relação entre a atividade do pai e a capacidade empreendedora do filho não foi confirmada na pesquisa . Para a maioria dos sócios fundadores (60%), seus pais não exerciam atividades empresariais. Para os demais (40%), os pais eram empresários, mas no ramo comercial um deles no setor de informática. Quanto à atividade exercida pelos principais sócios fundadores antes da criação da empresa, constataram-se os seguintes resultados: - 40% atuavam como empregados em empresas locais na atividade do APL; - 20% atuavam como empregados em empresas de fora do APL, mas na atividade do APL; - 7% eram empregados de empresas de fora do APL, em outras atividades; - 7% eram estudantes universitários; - os 26% restantes exerciam outras atividades. Características da mão-de-obra A análise dos recursos humanos alocados na atividade mostra a elevada capacidade de geração de empregos do setor. As empresas pesquisadas com mais de dez empregados representaram 33,3% no ano de 2004 e ampliaram essa participação para 40% no ano seguinte. Nesse ínterim, a porcentagem de empresas pesquisadas que empregaram entre nenhum e dois trabalhadores reduziu-se de 26,7% em 2004, para 13,3% em 2005. Destaca-se, ainda, o fato de que em 2004 apenas 13,3% das empresas possuíam funcionários trabalhando sem carteira assinada, porcentagem que se reduziu a zero em 2005. Outra característica importante do setor é o amplo aproveitamento de recursos humanos regionais. Apenas 6,7% das empresas naquele ano possuíam empregados de fora da região e, em 2005, constatou-se que nenhuma empresa contava com servidores oriundos de outras regiões. A porcentagem de horizontalização do processo produtivo (terceirização) apresentou crescimento entre os anos de 2004 e 2005. No primeiro ano, apenas 20% das empresas terceirizavam parte da produção, enquanto no segundo ano, esse percentual alcançou a marca de 26,7% das empresas pesquisadas. Apesar desse incremento, os processos produtivos das empresas de software localizadas no Município de Maringá mostram-se bastante integrados internamente, reduzindo o potencial para possíveis parcerias. Com relação à qualificação da mão-de-obra, o setor de software de Maringá apresenta seu grande diferencial em relação a outros setores de atividade: a elevada escolaridade de 107 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná seus empregados. Para os que atuam na área de desenvolvimento, verificou-se que 78,7% possuem, ao menos, curso superior completo; os que atuam em marketing também têm elevado grau de escolaridade: 61,1% com, no mínimo, curso superior completo. Os empregados que atuam diretamente na comercialização foram os que obtiveram o menor índice de escolaridade entre os pesquisados: apenas 37% possuem o Ensino Superior completo. Uma possível razão para tais números é a própria tecnologia envolvida no processo produtivo, cujo emprego não é eficiente sem um alto nível de qualificação, além da constante atualização dos profissionais da área. Quanto à capacitação e à atualização do quadro de funcionários, os resultados obtidos foram os seguintes: nenhuma empresa afirmou deixar de promovê-las para seus trabalhadores. Estrutura produtiva e de comercialização Os canais de comercialização (representantes, revendedores, sites para venda direta, editores de games) têm um papel avaliado como irrelevante por 26,7% das empresas pesquisadas; pouco importante por 6,7%; importante para 20,0%; e muito importante para 46,7%. Tal resultado evidencia que, especialmente para as empresas cujos canais de comercialização são editores ou para aquelas que comercializam softwares especializados, os clientes participam ativamente da elaboração do produto final ofertado. A análise da estrutura produtiva das empresas mostrou que a maioria tem seu faturamento vinculado a um grupo reduzido de produtos. A participação dos principais produtos e serviços no total da receita das empresas pesquisadas manteve-se estável em 2004 e 2005: 64,7% e 64,8%, respectivamente. Tais porcentagens demonstram que as empresas pesquisadas ofertam, em sua grande maioria, uma pequena mistura de produtos e/ou serviços. Os principais processos e métodos de produção citados na pesquisa foram a fábrica de software (linha de produção), em utilização por 47% das empresas, bem como o processo verticalizado (tarefas simultâneas no processo produtivo), em utilização por 13% delas. Outros métodos, como fluxogramas (7%), processo simultâneo (7%), processo básico (7%), análise, programação e testes (7%) e elaboração completa (7%), entre outros, também foram citados. No que tange às principais ferramentas (linguagens de programação e aplicativos utilizados), os resultados da pesquisa estão apresentados na tabela 1. 108 Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR Tabela 1 - Principais ferramentas utilizadas pelas empresas pesquisadas do APL de software de Maringá 2006 Ferramentas (linguagens ou aplicativos) Descrição Borland Delphi PHP SQL (MySQL, SQL Server) Sun Java Firebird Oracle Ferramentas próprias Microsoft Visual Studio Microsoft VB.Net % 40,0 33,3 33,3 26,7 20,0 13,3 13,3 6,7 6,7 Fonte: Pesquisa de campo UEM Há que se notar que as porcentagens da tabela 1 representam mais que 100%, pois uma mesma empresa costuma utilizar diferentes ferramentas e, em outros casos, desenvolver para mais de um ambiente (plataforma). Política de uso de software livre No que diz respeito à política de uso de software livre, verificou-se que 80% das empresas pesquisadas o utiliza como ferramenta ou plataforma: 60% utilizam Linux; 47% PHP; 33,3% Firebird; e 20% Java. No entanto, dentre todas as empresas pesquisadas que utilizam software livre, apenas uma (7%) também o oferta. O software livre oferecido é uma ferramenta de compatibilidade entre os diferentes sistemas bancários para emissão de boletos. Os restantes 20% das empresas pesquisadas não adquirem nem oferecem licenças de software livre. As empresas pesquisadas justificaram o fato de não ofertarem software livre com os seguintes argumentos: para 27% o software livre não gera receita ou não possui viabilidade econômica; 7% não veem nele benefícios em geral; 7% afirmam possuir um nicho de mercado diferente; 7% não acreditam que o mercado esteja maduro para tal. As demais empresas entrevistadas não apresentaram motivo específico para deixar de ofertar software livre. Das empresas entrevistadas, 87% afirmaram possuir interesse em participar de licitações envolvendo software livre. 109 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Não vislumbram dificuldades para participar de tais licitações 40% das empresas; 7% delas acreditam que sua estrutura seria um obstáculo; 7% acreditam que a burocracia constitui obstáculo; 7% afirmam que o fato de os softwares livres não serem muito amigáveis para o usuário final seria um entrave; 7% veem como obstáculo a falta de confiabilidade nos prazos de pagamento por parte do governo; 7% citam a falta de mão-de-obra especializada como obstáculo à participação em licitações; 7% mencionam a falta de transparência na divulgação das licitações como um elemento dificultador; 7% acreditam que a vinculação do software livre com produtos que não propiciam faturamento seria um entrave. Os demais entrevistados não mencionaram dificuldades específicas à participação em licitações. FORMAS DE COMERCIALIZAÇÃO Para a maioria das empresas, o contato direto com os clientes constitui a melhor forma de comercialização de seus produtos. Dadas a especificidade de seus produtos e a necessidade de acompanhamento perene, as principais formas de comercialização apontadas, com relação ao total da receita, foram as seguintes: venda direta (60%); indicações (47%); mala direta (13%); consultoria de negócios (13%); site de Internet (20%); divulgação indoor (7%); mecanismos de busca (7%) e telemarketing (7%). Abrangência de mercado Em relação à abrangência do mercado, constatou-se que a região de Maringá representa aproximadamente 50% da área de mercado das empresas do setor. Entre 2004 e 2005, a porcentagem média (em volume de vendas por empresa4) das vendas locais totais realizadas permaneceu praticamente inalterada: 44% e 43%, respectivamente. Já a participação relativa das vendas no Estado do Paraná (Maringá e região, exclusive) aumentou de 28% em 2004 para 32% em 2005, de forma semelhante ao que ocorreu no mercado brasileiro (Paraná, exclusive): de 19%, em 2004, para 22%, em 2005. As exportações permaneceram estáveis: em 3% para 2004 e 2005. É oportuno salientar que apenas uma das empresas pesquisadas efetivamente comercializa seus produtos no exterior. No caso específico dessa empresa, 50% de sua receita, tanto em 2004 como em 2005, provieram de exportações. Consideram-se para o cálculo somente as informações prestadas pelas empresas referentes às porcentagens das vendas totais por empresa em cada mercado. 4 110 Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR Conforme mencionado, somente uma empresa pesquisada exporta seus produtos. A entrada dessa empresa no mercado externo deu-se por meio de um consórcio de exportação. A empresa exportadora vê como obstáculo a ampliação das exportações, a falta de recursos financeiros para investir na divulgação dos serviços em feiras e as visitas internacionais. Outra característica a ser destaca na análise da comercialização das empresas de software do Município de Maringá, é que suas vendas apresentam uma certa regularidade ao longo do ano. Para 47% das empresas pesquisadas, não se verifica sazonalidade nas vendas. Para as demais empresas, foram detectados períodos de sazonalidade não-coincidentes; isso se deve, provavelmente, ao fato de que as sazonalidades dos setores dos diferentes clientes dessas empresas diferem também entre si, pelo que teriam efeito compensatório. Estratégias de competição Dentre as principais armas de competição, o fator mais importante para os empresários está associado à marca e à tradição da empresa. A análise procurou hierarquizar a importância dos fatores competitivos das empresas, cujos resultados são apresentados na tabela 2. Tabela 2 - Fatores considerados decisivos para as empresas pesquisadas do APL de software de Maringá 2006 FATOR Fatores decisivos para as empresas pesquisadas (%) 1.o mais relevante 2.o mais relevante 3.o mais relevante Preço Marca e tradição da empresa Serviços de pós-venda Promoções e propaganda Prazos/Confiabilidade prazos Produto em si Indicações Tecnologia utilizada Qualidade do produto/serviço 20,0 27,0 13,0 0,0 13,0 13,0 13,0 7,0 0,0 20,0 27,0 27,0 0,0 20,0 0,0 0,0 0,0 7,0 13,0 13,0 33,0 7,0 20,0 7,0 0,0 0,0 0,0 Fonte: Pesquisa de campo UEM 111 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Pesquisa, desenvolvimento e inovação Dentre as características mais importantes levantadas pela pesquisa, pode-se destacar a permanente preocupação das empresas com a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação. Todas as empresas entrevistadas afirmam realizar algum tipo de esforço voltado à pesquisa e ao desenvolvimento de produtos e processo, bem como implementaram algum tipo de inovação. No que se refere às fontes de informação para inovação, foram obtidos os seguintes dados: Tabela 3 Fontes de informação para inovação e frequência de utilização, 2006. Fonte de Inovação Frequência de Utilização (Em %) Ocasionalmente Frequentemente Processo 40 27 40 20 40 20 73 13 47 60 20 67 Ocasiões sociais Vendedores Visitas a feiras na região Visitas a feiras, Brasil Nunca 33 40 13 20 Produto 27 20 20 53 Visitas a feiras, exterior 80 7 13 7 20 Workshops de produtores Catálogos, Revistas, Sites Especificações de clientes 20 13 0 73 13 20 7 73 80 53 87 13,3 80 80 100 Benchmarking Visitas a empresas, região Visitas a empresas, outras Funcionários, outras empresas Consultores, região Consultores, outras regiões 7 27 40 27 47 53 26 60 47 33 33 27 67 13 13 40 20 20 27 47 53 60 47 40 93 47 40 60 47 40 Universidades Brainstorming interno 47 - 40 - 13 7 47 Sim 40 Sim Fonte: elaboração própria a partir de resultados da pesquisa de campo. Resultados das inovações Em relação às inovações introduzidas pelas empresas do APL no período de 2003 a 2005, a totalidade introduziu inovações de produto/serviços e 86,7% introduziram inovações de processo tecnológico. Entretanto, cabe ressaltar que essas inovações relacionamse a produtos e processos já existentes no mercado e no setor, respectivamente. 112 Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR Os dados referentes às inovações organizacionais também refletem a postura favorável à inovação existente no setor: 66,7% das empresas pesquisadas implementaram, no período 2003-2005, técnicas avançadas de gestão; 93,3% efetuaram mudanças significativas na estrutura organizacional; 60,0%, nos conceitos e práticas de marketing; 60,0%, nos conceitos e práticas de comercialização; e 40,0%, em novos métodos de gerenciamento, visando atender às normas de certificação. Os que ainda estão em processo de certificação somaram 13,3%; os que obtiveram certificações CMM (Capability Maturity Model ) somaram 13,3%, os que obtiveram certificação ISO; 13,3%; e MPS (Melhoria do Processo de Software Brasileiro), 6,7%. O impacto resultante da introdução de inovações entre 2003 e 2005 foi também avaliado pelas empresas pesquisadas: 93,3% afirmaram que as inovações aumentaram a produtividade da empresa; 93,3%, que houve incremento na gama de produtos/serviços ofertados; 100%, que as inovações propiciaram melhoria na qualidade dos produtos/serviços; 100% avaliaram que sua participação foi mantida nos mercados de atuação por conta das inovações introduzidas; 100% responderam que ampliaram sua participação no mercado interno em razão da introdução das inovações; 6,7% atribuem às inovações o crescimento de sua participação no mercado externo; 66,7% afirmaram que a empresa abriu novos mercados por conta das inovações implantadas. Para 13,3%, as inovações permitiram o enquadramento em normas-padrão relativas ao mercado interno (Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT). Nenhuma empresa enquadrou-se em normas-padrão relativas ao mercado externo por conta das inovações introduzidas. Em média, 48% da receita atual das empresas pesquisadas provém das inovações tecnológicas e organizacionais introduzidas no período 2003-2005, o que, mais uma vez, corrobora o fato de ser a inovação absolutamente vital para o setor de software. Para 40% das empresas, as inovações respondem por, no mínimo, 80% de sua receita atual total. Relações de parcerias As informações levantadas permitiram identificar a existência de relações de parcerias em 66,67% das empresas entrevistadas, enquanto 33,33% admitem não manter nenhuma parceria. Quando inquiridas sobre as razões para o não-estabelecimento de parceiras, as empresas apontaram a falta de interação interempresarial, decorrente da pouca organização existente no setor ou pela falta de uma instituição de apoio, como ocorre em outras regiões do Estado, como, por exemplo, CITS, ADETEC, SUDOTEC, ASSEPRO, NTI, etc. Alguns indicaram a pouca capacidade da Incubadora local ou a falta de eventos, como seminários e Feiras. 113 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Das empresas que mantêm parcerias, 53,3% realizaram-nas por iniciativa própria; para 26,7% delas, ocorreram devido à indicação de clientes; para 6,7%, aconteceram por meio de eventos, seminários e feiras; para outras, deu-se pela internet. Para 6,7%, as parcerias tiverem origem em outros fatores não correlacionados no questionário. Deve-se ressaltar que, dentre as relações de parceria, apenas 6,7% das empresas entrevistadas admitiu origem de parceria pela concorrência em licitações públicas, considerada, portanto, pouco frequente para atividade de software. A investigação procurou identificar, ainda, em qual estágio do processo produtivo ocorrem as parcerias, bem como se elas acontecem dentro da aglomeração produtiva ou fora dela. Também foram investigadas as parcerias que ocorrem fora do município, se estão ou não localizadas no Estado do Paraná: a) No desenvolvimento: para 8,33% das empresas as parcerias acontecem na área de desenvolvimento de software dentro do Município de Maringá. Para outras 9,38%, as parcerias foram feitas com empresas localizadas fora do aglomerado produtivo, mas, ainda assim, no Estado do Paraná. Constatou-se, também, que não ocorrem parcerias na área de desenvolvimento com empresas fora do Estado; b) Outsourcing convencional: para 8,33% das empresas, foi possível estabelecer parcerias com outras empresas do município em serviços terceirizados. Para 25%, as empresas parceiras localizam-se fora de Maringá, contudo dentro do Estado. Em outros estados do País não foram constatadas parcerias; c) Outsourcing BPO: apenas 6,25% das empresas estabelecerem parcerias Outsourcing BPO (terceirização do processo de negócios) com outras empresas, sendo estas localizadas fora do Município de Maringá, porém dentro do Estado do Paraná. Também não se verificou a existência de parcerias com empresas de outros estados; d) Serviços especializados: a parceria para a contratação de serviços especializados foi constatada em 16,7% das empresas entrevistadas. Essas parcerias ocorrem dentro de Maringá e suas atividades envolvem serviços especializados, tanto no desenvolvimento, quanto no suporte técnico da área de software. Inclui-se, neste item, também serviços de consultoria, treinamento, hospedagem de link e outros. Contudo, 9,38% das empresas afirmaram possuir relações de parcerias com outras empresas que se localizam em outras regiões do Estado. Por outro lado, 35,7% das empresas entrevistadas possuem alguma parceria com empresas que se localizam fora do Paraná; e) Comercialização: a área de comercialização foi a que se mostrou com maior potencialidade para as parcerias. Embora muitas sejam de caráter informal, 66,7% das empresas admitem alguma forma de cooperação para a comercialização de seus produtos, especialmente quanto à interligação com as empresas que prestam serviços especializados. Essa possibilidade de apresentar seus produtos e serviços por meio de empresas terceirizadas que prestam serviços especializados também ocorre em relação às 114 Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR empresas que atuam fora do arranjo produtivo. Para 50% delas, essa possibilidade existe em relação às empresas de outras regiões do Estado; e para 64,3%, em relação às de outros estados da Federação. Com relação à existência de falhas ou problemas nas parcerias, constatou-se que quase todas as empresas que estabeleceram parcerias depararam-se com algum tipo de dificuldade. De acordo com as respostas dadas pelos empresários, as principais falhas ocorrem devido à falta de respeito às normas estabelecidas, o que acarretou conflitos entre as empresas parceiras. Os resultados das análises realizadas foram os seguintes: a) No APL: 80% das empresas entrevistadas, que mantiveram algum tipo de parceria, alegaram ter algum tipo de problema/falha na relação. Os motivos foram, principalmente, a falta de reciprocidade, divergências de interesses, áreas de conflito em parcerias múltiplas e expectativas não realizadas. Apenas para 20% das empresas, os problemas decorreram da atividade de outsourcing avançado, sendo a falta de atualização e treinamento causa da falha apresentada. Nas atividades de desenvolvimento e serviço especializado, não foi apontado, nesta pesquisa, nenhum tipo de falha pelas empresas parceiras na região do APL. Conforme observado, os entrevistados reconhecem que um setor mais organizado propiciaria maior confiança entre os agentes, o que reduziria as dificuldades e as falhas encontradas nas parcerias; b) No Paraná: exceto em Maringá, evidenciou-se que das 15 empresas entrevistadas, sete possuem parcerias e destas quatro com problemas, dentre os quais os mais citados na atividade de desenvolvimento foram: expectativas não realizadas, falta de comprometimento e áreas de conflito em parceiras múltiplas. No setor de comercialização, as falhas evidenciadas são: divergências de interesse, falta de comprometimento e áreas de conflito em parcerias múltiplas. Para a atividade de outsourcing, a falha alegada pela empresa diz respeito à falta de comprometimento. Dentre esses itens, uma mesma empresa que possui mais de um tipo de parceria alegou falha para os três setores de atividade. Fica claro, portanto, que a deficiência entre as relações de parcerias é grande, mesmo que para uma quantidade relativamente pequena; c) No Brasil: para os demais estados da Federação, exceto o Paraná, cinco empresas apresentam parcerias. Destas, três entrevistadas alegaram problemas. Na atividade de outsourcing avançado, a falha constatada foi a exigência de cumprimento de cotas. Para o setor de atividade de comercialização do mercado interno, duas das empresas entrevistadas evidenciaram falhas, dentre as quais as mais citadas foram: divergência de interesses, diferenças culturais, áreas de conflito em parcerias múltiplas e falta de atualização e treinamento. Segundo os depoimentos dos empresários, essas falhas ocorrem devido, principalmente, à falta de maior interação entre as presentes nas parcerias. Trata-se, portanto, 115 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná de um mercado em que o capital de risco é relevante. Os empresários pesquisados buscam soluções que não obstruam a relação de parceria e que favoreçam a cooperação mútua; d) No exterior: dentre as empresas avaliadas na região do APL, apenas uma possui parceria no exterior e apresenta problemas na atividade de desenvolvimento devidos às expectativas não realizadas. A análise das relações de parceria na aglomeração produtiva do setor de software no Município de Maringá indica que há fragilidades a serem superadas, para que se fortaleça o Arranjo Produtivo Local. Relações de subcontratação Nas relações de parceria, deve-se focalizar a forma de atuação, ou seja, se as empresas atuam como subcontratadas e/ou subcontratantes de outras empresas, mediante contrato e/ou acordo de fornecimento regular e contínuo de módulos, componentes de programas ou outsourcing convencional. O principal ponto a ser destacado neste item da investigação é a reduzida formalização das relações contratuais. A maioria absoluta das empresas (73,3%) não assumiu compromissos formais, quer como subcontratada, quer como subcontratante. Das empresas investigadas, 20,0% atuam como subcontratadas e 6,7% como subcontratantes, cujas relações estão estabelecidas em contratos. As empresas subcontratadas prestam serviços desenvolvendo e produzindo componentes e sistemas para WEB, sendo que um terço delas atende apenas as empresas de Maringá; as demais atendem também empresas de outros municípios paranaenses. As empresas subcontratantes mantêm relações apenas com empresas do APL. Relações interempresariais Quanto às relações interempresariais no APL, foi observada pouca frequência de comunicação entre os empresários. Os contatos eles ocorre ocasionalmente para 93,3% dos entrevistados. Apenas 33,3% deles afirmaram manter contatos frequentes com outras empresas do setor para trocar ideias ou discutir dificuldades e estratégias. Também, em relação às visitas em outras empresas do setor localizadas na região de Maringá, constatou-se pouca frequência. A maioria dos empresários (80%) afirmou que visita apenas ocasionalmente outras empresas, para trocar informações. O hábito de visitar com frequência outras empresas foi apontado por apenas 14,3% dos empresários entrevistados; 6,7% deles afirmaram que nunca visitaram outras empresas. Quando 116 Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR questionados sobre abrir seu local de trabalho para outros empresários do setor, 87% dos entrevistados afirmaram fazê-lo ocasionalmente, e apenas 13,3% o fazem com frequência. Esses dados demonstram, efetivamente, que as relações interempresariais são incipientes e de baixa frequência entre os empresários do setor de software de Maringá. Com relação à interação social entre as empresas do setor, constatou-se que praticamente não existe, em razão da falta de organização do setor. Entretanto, foi observado que 67% das empresas têm algum tipo de contato com as outras empresas do setor em encontros informais. Para os entrevistados, essa dificuldade poderia ser superada por meio da realização de eventos regionais, como feiras, fóruns, workshops de produtos, etc. Tais promoções não ocorrem em razão da falta de uma instituição que organize e represente as empresas do setor em Maringá. Cooperação multilateral Das empresas pesquisadas, 67% possuem ligação com instituições de apoio ao setor, destacando-se a ACIM (Associação Comercial e Empresarial de Maringá) como a mais citada nas entrevistas. Porém, observou-se que existe a falta de uma entidade de classe específica que atenda à demanda empresarial do setor. Um percentual muito baixo de empresas (20%) revelou ter sido beneficiado com algum programa de apoio. As áreas beneficiadas concentram-se no desenvolvimento de tecnologia e no apoio de recursos tecnológicos. Quanto à contribuição das instituições de apoio, esta foi avaliada como de baixa importância, decorrente de dificuldades, tais como a ausência de: a) definição de objetivos comuns para as empresas; b) informações sobre inovações, quanto ao produto e ao processo; c) identificação de fontes e formas de financiamento; d) ações dirigidas à capacitação tecnológica das empresas; e) estímulo ao P&D local; f) organização de eventos técnicos e comerciais. Para algumas empresas, existe a dificuldade de abertura de canais de comercialização internos e externos. Financiamento Outra característica a ser destacada são os perenes investimentos em expansão e modernização das empresas do setor. Quase a totalidade das empresas (93,3%) investiu na ampliação e/ou modernização nos últimos dois anos. Os recursos próprios para o financiamento dos investimentos realizados foram utilizados por 80% dessas empresas, os outros 20% recorreram aos recursos de terceiros. Os bancos comerciais privados foram as 117 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná fontes de financiamento para 20% das empresas; os empréstimos de familiares, para 13,3%; e 15% admitiram recorrer aos bancos comerciais públicos e às empresas parceiras9. Para financiar o capital de giro, a grande maioria das empresas (86,7%) utiliza capital próprio. Foi detectada a existência de demanda por financiamento para investimentos em desenvolvimento de produtos e para outras atividades tecnológicas em 60% das empresas pesquisadas. Para os empresários, as principais demandas estão no desenvolvimento de novos produtos, na aquisição de equipamentos, na Pesquisa de Desenvolvimento (P&D) e na viabilização de projetos que estão engavetados. Quando perguntado aos empresários se conhecem as linhas de crédito de fontes públicas disponíveis para apoio tecnológico, 9 dos 15 entrevistados afirmaram conhecer algumas fontes; 53% conhecem a linha do BNDES e do FINEP; 33% conhecem o Fundo Paraná; e 20% conhecem a linha do BRDE. No entanto, apenas um empresário afirmou ter usado linha de crédito. Das empresas selecionadas, 73% já procuraram linhas de crédito, porém, encontraram várias dificuldades de acesso. O excesso de burocracia foi citado por 46,7% dos empresários; 26,7% comentaram que as exigências de garantias atrapalham na hora de obter um empréstimo; 13,3% alegaram falta de informações sobre linhas de crédito e inadequação da taxa de juros. Nenhum empresário utilizou benefícios fiscais, de infraestrutura ou de outro, proveniente do poder público municipal para instalação de sua empresa no município, embora todos os entrevistados considerem as condições infraestruturais do município adequadas ao desen-volvimento das atividades do setor. DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO APL DE SOFTWARE A identificação das demandas locais e o levantamento de sugestões de políticas públicas para o fortalecimento das atividades do APL de software de Maringá permitem avaliar o grau de dificuldades que o setor enfrenta, bem como as expectativas dos empresários em relação à atuação do poder público estadual. Desse modo, os desafios a serem enfrentados foram organizados em blocos e encontram-se destacados a seguir. Os percentuais não podem ser tomados de forma cumulativa, em razão de as empresas terem recorrido a mais de uma fonte externa de financiamento. 5 118 Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR Interação, articulação, cooperação e coordenação Foi observado a falta de maior interação entre as universidades e as empresas do setor e isso se constitui em um dos problemas apontado por 20% dos empresários. Para eles, é necessário haver maior interação para que os alunos sejam formados com perfis mais adequados ao mercado de trabalho. Uma outra fragilidade apontada por todas as empresas entrevistadas foi a falta de comunicação e de interação entre empresas do setor como uma das principais restrições às atividades de cooperação entre os agentes. Para os entrevistados, esse entrave poderia ser superado por meio da realização de eventos regionais como feiras, fóruns, workshops de produtos, etc. Tais promoções não ocorrem em razão da falta de uma instituição que organize e represente as empresas do setor em Maringá. A inexistência de uma entidade de classe específica foi, portanto, outra carência apontada pela totalidade dos entrevistadas como um dos fatores que dificulta a organização do setor. Para as empresas, o setor deixa de ser beneficiado por alguns programas governamentais, em razão da sua falta de representatividade junto às esferas públicas. Para sanar tal deficiência, estão sendo empreendidos esforços por parte de alguns empresários locais, para a organização do setor mediante a constituição do Núcleo de Excelência em Tecnologia da Informação (NEXTI). De forma geral, também foi destacado pelos entrevistados a escassez de articulação com outros setores produtivos (moda, arquitetura, confecções, engenharia, etc.). Para 13,3% dos empresários entrevistados, a inexistência de articulação entre as empresas de software e as demais empresas de outros setores produtivos do município restringem a capacidade de desenvolvimento dos produtos, bem como o mercado potencial para os produtos do setor. Para esses empresários, se houvesse maior articulação entre os setores, seria possível identificar demandas específicas, o que fomentaria a capacidade de inovação dos produtos e ampliaria a capacidade das empresas locais de software de alcançar mercados maiores. Com o setor público, a falta de diálogo também se constitui em desafio a ser superado. Para 13,3% dos entrevistados não existem canais de comunicação entre as empresas do setor e as esferas do setor público, o que faz com que algumas iniciativas e programas governamentais não sejam aproveitados pelas empresas. A falta de coordenação para a realização de ações conjuntas é mais uma dificuldade a ser enfrentada. Para 33,3% dos empresários, não há coordenação para ações conjuntas. Sugerem, como medidas para superar tal restrição, a criação de um polo produtivo, visando às alianças para atingir mercados facilmente explorados de forma coletiva, de apoio às iniciativas que visem à formação de consórcios de empresas, para juntas buscarem 119 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná certificações, à criação de um polo tecnológico, por meio da destinação de parte dos recursos de ISS, além de incentivo ao desenvolvimento e à comercialização conjunta de softwares, com maior liberdade de ação para os empresários em relação aos projetos que já existem. O MERCADO DE TRABALHO E SUA QUALIFICAÇÃO Qualificação técnica e profissional De modo geral, a qualificação dos profissionais e a sua manutenção no mercado de trabalho local é outro desafio apontado pelos entrevistados a ser enfrentado. Para 66,6% deles, a oferta de cursos de qualificação não é satisfatória. As instituições de ensino do município não oferecem cursos de qualificação nas áreas mais carentes, em especial na área de artes gráficas, desenho industrial, design, lógica de programação e VB.Net. Os empresários reivindicam maior interação entre as instituições de ensino e as demandas específicas do setor, para que a oferta dos cursos de qualificação esteja focada nas necessidades das empresas. Além disso, os maiores centros urbanos tem atraído, com melhores salários, profissionais formados na região. Este problema foi apontado por 33,3% dos entrevistados. A dificuldade em reter profissionais deve-se à falta de condições para remunerá-los nos mesmos níveis dos grandes centros. Destacaram que as fugas de profissionais capacitados ocorrem especialmente para empresas de São Paulo, por questões salariais. Para os empresários, esse problema somente será superado quando as empresas locais adquirirem maior capacidade para remunerar os profissionais. Para tanto, precisam comercializar seus produtos com melhores margens. No que se refere à formação acadêmica, para um quinto dos empresários do setor, os egressos das faculdades locais não saem preparados para inserção imediata no mercado de trabalho, requerendo treinamento nos locais de trabalho. Sugerem uma ampla discussão para atualização dos currículos, pois o setor é bastante dinâmico, e é comum os recém-formados chegarem às empresas com conhecimentos bastante ultrapassados. Verificase a necessidade de maior oferta de cursos de pós-graduação específicos para a área, apontado por 7% dos entrevistados como uma das carências locais do setor. Sugerem que as instituições de ensino realizem pesquisas junto às empresas do setor para identificação das demandas. 120 Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR Instituições públicas e políticas de apoio a pesquisa Instituições públicas de apoio tecnológico e infraestrutura inexistem. Para um terço dos empresários, a região carece de instituições públicas de apoio ao desenvolvimento tecnológico e de infraestrutura adequada. Foram apontadas a falta de parque tecnológico, de fundação de apoio, de incubadoras de base tecnológica, etc. Falta, também, a implementação de políticas de incentivo ao uso de software livre. Neste caso, a escassez de políticas públicas que incentivem o uso de software livre foi apontada por 26,6% como uma das dificuldades para o aumento da competitividade do setor. Referindo-se aos recursos públicos para pesquisa, foi indicada por 26,6% dos entrevistados como uma das deficiências do setor. Sugeriram maiores recursos para que as universidades públicas invistam em pesquisa aplicada; implantações de fundações públicas de apoio à pesquisa em software, nos moldes da FAPESP, da ADETEC, CITS etc.; e apoio à criação de um tecnoparque. Além destes desafios, outras demandas foram apontadas pelos entrevistados, tais como: redução da carga tributária, disponibilidade de linha de crédito específica para o setor e necessidade de apoio às exportações. Quanto à carga tributária, essa restrição foi apontada por dois terços das empresas pesquisadas. Para os empresários, o peso da carga tributária enfraquece a capacidade de investimento das empresas e estimula a informalidade no setor e a concorrência desleal. Apontam a necessidade de políticas de incentivos fiscais para o setor como forma de amenizar o problema, como, por exemplo, maior flexibilidade para o enquadramento no regime fiscal SIMPLES para pequenas e microempresas do setor. A falta de maior diversidade de linhas de crédito para o setor e as dificuldades de acessibilidades a elas foram apontadas por um terço dos empresários como as principais restrições para fomentar o setor. Para os entrevistados, além de poucas, as linhas de crédito disponíveis quase não são divulgadas e é praticamente impossível acessá-las, devido às inúmeras contingências impostas ao tomador do crédito. Para esses empresários, as taxas de juros praticadas são elevadas para investimento de alto risco, como no desenvolvimento de novos produtos no setor. Em função disso, os empresários demandam maior difusão e esclarecimento sobre as fontes de financiamentos e apoio para a realização de propostas. Para 13,3% dos entrevistados, deveria haver maior apoio por parte das instituições públicas para ajudar na organização dos processos de documentação para as atividades de exportação. Para esses empresários, há falta de mão-de-obra especializada na exportação de serviços, o que acaba inviabilizando muitas iniciativas de vendas ao exterior. Sugerem que as instituições de apoio, como o SEBRAE, capacitem técnicos para apoiar as atividades de exportações de serviços. 121 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir das características da atividade e levando-se em conta o dinamismo, a evolução e a diversidade, pode-se definir o perfil do APL de Software do Município de Maringá como formado por um grupo de pequenas empresas recém-constituídas, administradas por jovens empreendedores que têm na capacidade de inovação o seu principal diferencial competitivo. Outros resultados da pesquisa de campo possibilitaram a constatação de desafios e potencialidades importantes para a organização do setor como um Arranjo Produtivo Local. Quanto aos desafios a serem enfrentados, destaca-se a pouca interação entre as empresas do setor; a falta de coordenação para as ações conjuntas, visando à cooperação e à maior eficiência do setor; a inexistência de um órgão que congregue, organize e represente as empresas; a falta de articulação com outros setores produtivos e com o poder público local; a dificuldade em reter mão-de-obra mais qualificada; a falta de apoio institucional e a pouca experiência nos processos de certificação de produtos. Em relação às potencialidades, a ênfase é atribuída aos seguintes aspectos: expressiva concentração de pequenas empresas; consciência por parte de alguns empresários da necessidade de organização e articulação entre os agentes do setor; disposição das empresas para empreender ações, visando à cooperação e a ações conjuntas; ampla capacidade técnica; projetos de expansão em todas as empresas; grande número de instituições locais que podem interagir e cooperar com o setor. 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O capítulo está dividido em cinco partes: introdução; características gerais da indústria de software; aspectos conceituais importantes da teoria institucional, para compreensão da dinâmica da indústria e software em Maringá; discussão do estudo de caso e análise dos resultados da pesquisa de campo sobre o processo de institucionalização do embrião de APL de software à luz do referencial previamente estabelecido e as considerações finais. A INDÚSTRIA DE SOFTWARE O estudo da contraprestação do setor de serviço para o desenvolvimento de um país é de incomensurável relevância para o entendimento da maturação econômica e para o entendimento dos possíveis diferenciais entre nações e regiões. Deve ser destacada a importância e a contribuição do crescimento desse setor para o crescimento econômico, pelo incremento de renda; emprego; indicadores, como capital-físico (produtivo) e humano (mão-de-obra mais especializada), devido à grande penetração das diferentes atividades indústria, serviços, agricultura, entre outras destacadas. É notório que os serviços ligados à tecnologia da informação e software, por exemplo, diferenciam-se dos demais porque promovem o suporte ao desenvolvimento dos demais setores produtivos (industrial, agrícola e outros serviços). Por criar estes recursos de infraestrutura para os demais setores produtivos, deve-se desagregar a classe de atividade e estudar separadamente para contextualizar o estudo. 127 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Caracterização da indústria de software no contexto internacional Segundo Fernandes, et al (2004, p. 5), a Tecnologia da Informação (TI) [...] estuda, opera, produz e usa instrumentos tecnológicos para tratamento de informações, ou seja, o conjunto de ferramentas que transforma e organiza dados. As Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) envolvem um conjunto de recursos tecnológicos e computacionais que operacionalizam, organizam e transformam o uso da informação, estando fundamentada nos seguintes componentes: a) hardware e periféricos1; b) software2; c) sistemas de telecomunicação; e d) gestão de dados. Comercialmente, os produtos de software podem ser divididos em dois tipos principais: pacotes (suítes) e software personalizados ou customizados. Pacotes ou suítes (também chamados por COTS - Commercial Off-The-Shelf) - são programas com código fonte não disponível e com versões periódicas, que podem ser comprados e licenciados pelos usuários comuns. Alguns exemplos são os processadores de texto, programas de navegação na Internet, programas de edição e tratamento de imagens e fotos, também conhecidos como aplicativos. (MCDERMID, 1998). O software personalizado ou customizado (custom software) é planejado e implementado por programadores e consultores para atender a uma determinada tarefa específica, para um cliente específico. Quando são oferecidos em pacotes personalizáveis, normalmente demandam muito tempo para parametrização e desenvolvimento, o que normalmente proporciona um processo moroso e de custo elevado. (PINE, 1994). O crescimento da indústria de TICs tem sido limitado em função da escassez de mão-de-obra especializada. Calcula-se que, somente da Europa, faltem aproximadamente 500.000 especialistas nesse mercado. (FERNANDES, et al, 2004). Apesar da alta concentração do mercado mundial de software estar em países desenvolvidos, o que tem chamado a atenção de especialistas é o crescimento da indústria de software em países em desenvolvimento, como Índia, Irlanda e Israel, que produzem software fundamentalmente para exportação, e, ao contrário destes, China, Brasil e outros países, em crescimento nesse mercado, produzem fundamentalmente para o mercado interno. Embora as indústrias de software mais competitivas estejam sediadas em países desenvolvidos, elas proporcionam excepcionais possibilidades para o desenvolvimento 1 São recursos (tangíveis) de informática, equipamentos, dispositivos eletrônicos, instrumentos e plataformas necessárias à geração de produtos e/ou serviços. 2 São os programas de computador, que podem ser definidos como um conjunto de comandos organizados logicamente em linguagens que o computador possa entender e executar. 128 A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR econômico e industrial de uma nação em desenvolvimento. Notoriamente, a indústria de software é líder na criação de empregos e renda, assim como geração de valor adicionado na economia. (SCHWARE, 1995 apud UNCTAD, 2002, p.1) A indústria de software no Brasil A velocidade da disseminação mundial das tecnologias de informação e comunicação encontrou, no Brasil, caminhos protecionistas, conforme relata Fernandes et al, (2004, p.10): As políticas industriais nos anos 70 e 80 foram políticas de proteção da indústria nacional com a reserva de mercado para hardware. Em 1992, com o fim desta reserva, a política passou a ser orientada no sentido de aumentar a competitividade das empresas locais. A Lei 8.248/91 beneficiou mais as empresas de hardware, com isenção de impostos, principalmente para as multinacionais produzirem localmente o que seria importado. Esses incentivos para a indústria tornaram o hardware mais barato, principal instrumento da indústria de software, o que proporcionou ao Brasil figurar no mercado mundial de software como o sétimo colocado, crescendo, desde 1995, a uma taxa média anual de 11%, a maior do setor de Tecnologia da Informação (TI), cerca de cinco vezes maior do que a taxa de crescimento do PIB Produto Interno Bruto. No período entre 1991 e 2001, a participação do segmento de software como percentual do PIB, mais do que dobrou, passando de 0,27% para 0,71%. (MIT; SOFTEX; W-CLASS, 2003). No Brasil, existe um grande volume de empresas nacionais que atuam no mercado de software e algumas em parceria com empresas multinacionais ligadas aos grupos produtores de software em escala mundial. Essas empresas, em sua maioria, têm características de pequena ou microempresa, normalmente, sem capacidade para competir neste mercado. Com a finalidade de estruturar o setor, o governo federal definiu, em dezembro de 2003, a inclusão do segmento de software na PITCE Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior -, dando status, a esta indústria, de pilar dos quatro setores estratégicos da economia nacional. Isto se configurou como um marco legal regulador para o desenvolvimento da indústria de software no país. Segundo a Pesquisa Anual de Serviços (PAS) do IBGE (2006), o segmento de serviços de informática foi responsável por 18,5% do total da receita dos Serviços de tecnologia da Informação. Dentre as atividades dos serviços de informática, o setor que mais contribuiu para geração de receita foi a atividade de desenvolvimento de software que 129 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná somados aos desenvolvidos para um cliente particular ou de prateleiras, representaram 38,6% do segmento de informática. Ainda, a pesquisa relata que o serviço de desenvolvimento de software pronto para o uso e software desenvolvidos sobre encomenda figuram na décima e décima primeira posição, respectivamente, no ranking, entre os 20 maiores serviços de tecnologia da informação. Muitos relatórios de pesquisa propõem que o Brasil busque uma marca para diferenciar seus produtos para exportação, no intuito de competir com a mãode-obra barata e qualificada da Índia, por exemplo. (FERNANDES, et al, 2004). A Tabela 1 permite verificar a atividade e a participação dos produtos/serviços da receita do segmento de informática no Brasil, em 2004. Tabela 1 - Participação dos produtos/serviços da receita do segmento de informática no Brasil - 2004 Atividade 1. Desenvolvimento, edição e licenciamento de software prontos para uso inclusive de representação 2. Serviços de processamento de dados 3. Outsourcing 4. Serviços de manutenção e reparação 5. Outros serviços de informática 6. Desenvolvimento de software sob encomenda ou específico para o cliente 7. Sistema de informação 8. Venda de software de prateleira, computadores, peças e suprimentos não produzidos pela empresa 9. Outros serviços de consultoria 10. Outros serviços e atividades % 19,4 15,0 10,8 7,8 3,6 19,3 9,6 8,9 3,2 2,6 Fonte: Pesquisa Anual de Serviços (PAS) 2003-2004 do IBGE (2006) Conforme a Pesquisa Anual de Serviços (PAS) 2003-2004 do IBGE (2004), dos 321,8 bilhões de reais, 102,4 bilhões são correspondentes aos serviços de Tecnologia da Informação (TI), ou seja, aproximadamente 31,8% do montante total da receita operacional líquida, gerada pela atividade de serviços. Gerando 46,6 bilhões de valor adicionado, que correspondem a 29,3% do total gerado pelos serviços no Brasil, em contrapartida, gerou somente 6,28% dos postos de trabalho de serviços no país. Estas informações reforçam o alto valor agregado do setor de tecnologia da informação por meio da de elevada capacitação do capital humano e da utilização de recursos tecnológicos em detrimento ao volume de mão-de-obra. 130 A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR Aspectos regionais e a indústria de software de Maringá A cidade de Maringá foi criada como distrito em 10/05/1947; tornou-se município em 14/11/1951. Localiza-se a uma distância de 423,6 km da capital do estado e possui uma área terrestre de 486,4 km2 (IPARDES, 2005). Após três décadas do declínio do café e presenciando um vigoroso crescimento demográfico, a comunidade do noroeste do Paraná diversifica sua economia regional. Com o objetivo de incrementar sua competitividade, em 1998, Maringá é oficializada como sede da Região Metropolitana, definida pelo conglomerado dos seguintes municípios: Maringá, Sarandi, Paiçandu, Mandaguaçu, Marialva, Mandaguari, Iguaraçu e Ângulo. Os municípios da Região Metropolitana de Maringá - RMM - somaram uma população estimada, em 2006, de 542.668 habitantes e o PIB (Produto Interno Bruto) total, em 2003, foi de R$ 4.018.845.196,00, apresentando um PIB per capita médio de R$ 7.481,00. As raízes do setor de software, em Maringá, certamente estão ligadas à implantação do Curso Técnico de Nível Superior em Processamento de Dados na UEM - Universidade Estadual de Maringá, em 1974, de acordo com a Resolução nº 29/74-CEP, de 22/10/1974. O Cesumar Centro Superior de Ensino de Maringá -, no início da década de 1990, institui o curso de Processamento de Dados contribuindo, também, para formação de profissionais para esse mercado. (GUALDA, et. al. 2006). Em 2006, a Universidade Estadual de Maringá contava com o curso de graduação e de mestrado em Ciências da Computação, contribuindo de forma relevante para o desenvolvimento do setor de software. Nestes anos que se passaram, muitos profissionais foram capacitados e lançados no mercado, contribuindo para a formação de um aglomerado produtivo de software no município de Maringá. Os agentes institucionais favoreceram o processo de criação deste aglomerado: o Centro Softex Gênesis de Maringá (CSG), criado em 1996, e a INFOMAR Incubadora Tecnológica de Maringá- (ONG), criada em 2000 no campus da Universidade Estadual de Maringá, com o apoio de entidades como IEL Instituto Euvaldo Lodi; SEBRAE-PR Serviço de Apoio a Pequena Empresa no Paraná; TECPAR - Instituto de Tecnologia do Paraná; e agências de desenvolvimento da cidade. (GUALDA, 2006) Vários órgãos foram parceiros e apoiadores de ações para o desenvolvimento do setor, como a ACIM Associação Comercial e Empresarial de Maringá; a CODEM Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá; o SEBRAE-PR - Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa do Paraná, fornecendo consultoria e instrução empresarial para as micro e pequenas empresas, inclusive do setor de software. O NEXTI - Núcleo de 131 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Excelência em Tecnologia da Informação, organização fundada em 2003, tem representado os interesses das empresas do setor de software de Maringá. É importante destacar os órgãos fomentadores e instituidores de políticas públicas que muito contribuem para o fortalecimento do aglomerado produtivo de software de Maringá, como o CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, a Fundação Araucária, IDR Instituto para o Desenvolvimento Regional e a PMM Prefeitura Municipal de Maringá. Partindo do CNAE - Classificação Nacional de Atividades Econômicas - foram identificadas, em 2006, por meio do sistema municipal de tributação, 97 empresas3 com atividades econômicas ligadas ao grupo de informática e serviços relacionados, direta ou indiretamente, às atividades do setor de software. Em 2005, a partir dos relatórios de Identificação, da caracterização, da construção de tipologia e apoio na formulação de políticas para os arranjos produtivos locais (APLs) do Estado do Paraná do IPARDES4 foi caracterizado, em Maringá, o APL embrionário de software, identificando, neste aglomerado produtivo, variáveis como, apoio institucional ao arranjo, atividade inovadora prioritária para PITCE - Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior - do governo federal, e um aglomerado produtivo relevante para o estado e o país. (IPARDES, 2006) De acordo com o SEBRAE-PR regional de Maringá, representantes do setor, em 2007, perceberam a necessidade de um órgão representativo para o local, a fim de favorecer o desenvolvimento de um vetor avançado de software. Aproximadamente, doze empresas do setor engajadas no NEXTí - Núcleo de Excelência em Tecnologia da Informação e fundaram neste mesmo ano, com o objetivo de definirem-se estratégias e buscarem competitividade no mercado de software e tecnologia da informação, o APL de software de Maringá.. INSTITUCIONALISMO E ORGANIZAÇÕES Nos estudos institucionalistas, destaca-se o trabalho de Meyer e Rowan (1977), denominado Institucionalized organizations: formal structure as myth and cerimony, que lançou luzes sobre o desenvolvimento da teoria em relação à perspectiva sociológica da compreensão dos papéis simbólicos das estruturas formais. A análise destes estudos tinha como premissa a afirmativa de que as estruturas formais podem ser [...] revestidas de significados 3 4 132 Empresas cadastradas no Sistema Municipal de Tributação em novembro de 2006. Etapa 3 - Caracterização estrutural preliminar dos APL´s pré-selecionados e nota metodológica para os estudos de caso A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR socialmente compartilhados e então, além das funções objetivas, podem servir para informar o público tanto interno quanto externo sobre a organização. (KAMMERS, 1977 apud TOLBER; ZUCKER, 1998, p.200) A formação desses arranjos é verificada por meio de uma premissa teórica onde elementos simbólicos compartilhados socialmente (mitos ou cerimônias) podem exercer ação, tanto interna como externamente, sobre as organizações, objetivando a busca de sobrevivência organizacional, conforme esquema da figura 1. ELABORAÇÃO DE MITOS INSTITUCIONAIS RACIONALIZÁVEIS C O N F OR M ID A D E OR GA N IZ AC ION A L C OM M IT O S IN S T IT U C IO N A I S SOBREVIVÊNCIA EFICIÊNCIA ORGANIZACIONAL LEGITIMIDADE E RECURSOS Figura 1 Sobrevivência Organizacional Fonte:adaptado de Meyer e Rowan (1977), In: Dimmagio e Powell (1991, p. 53) Para Selznick (1996, p. 271), a institucionalização deve ser compreendida como a emergência de padrões de interação e de adaptação das organizações em resposta ao ambiente, de maneira que [...] precisamos saber quais valores interessam em um contexto determinado; como são construídos na cultura e na estrutura social da organização. A proposta de Scott (1995) possibilita delinear o conjunto de conceitos. Os pilares propostos por ele, adotados por vários autores, são o normativo, regulador e cognitivo. O pilar regulador é definido como processos sociais pelos quais se estabelecem regras de comportamento monitoradas que orientam condutas e direções. Estas regras são definidas por intermédio de sanções que podem atribuir recompensas ou punições. Isto envolve mecanismos informais e difusos, entre eles, afastar os transgressores ou condicioná-los ao julgamento de atores específicos, como fiscais do governo, polícia e juízes. Verifica-se certa racionalidade em suas decisões, analisando o custo/benefício e determinando uma ação com base nos pressupostos da sanção, mesmo sabendo que a transgressão possa proporcionar benefício próprio. O pilar normativo determina a existência de [...] regras que introduzem uma dimensão relacionada a prescrições, avaliações e obrigações na vida social e se constituem por valores e normas que são definidos como [...] concepção do preferido ou desejável, 133 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná junto com a construção de padrões aos quais os comportamentos ou estruturas existentes podem ser comparados e avaliados (SCOTT, 1995, p.37), partilhando de um conceito comum de como as coisas devem ser feitas. Estas condutas distinguem-se claramente do pilar regulativo, pois os comportamentos não são condicionados a uma racionalidade instrumental, e sim da condutas dos atores em agirem de acordo com tendências de um grupo social, com o intuito de serem reconhecidos como adequados ao processo. Para o autor, o pilar cognitivo fundamenta-se por [...] regras que estabelecem [para os atores relevantes] a natureza da realidade e das estruturas através das quais os significados são produzidos (SCOTT,1995, p.45). A forma de interpretar o mundo natural e social, orientado por símbolos, representações, crenças, é que institui as linhas de ação e associações entre os atores, enfatizando as [...] estruturas comuns de significado que são compostas pela cultura no sentido mais genérico e que estabelecem regularidades do comportamento social em paralelo com conhecimentos e rotinas especificas desse contexto. Estes três pilares, definidos por Scott (1995, p.33), sustentam a definição de instituição proposta por ele: [...] instituições consistem em estruturas e atividades cognitivas, normativas e regulativas que proporcionam estabilidade e sentido ao comportamento so,cial. As instituições são transportadas por vários portadores culturas, estruturas e rotinas e estes operam em níveis múltiplos de jurisdição. As ênfases e as escolas ilustrativas nos mais variados níveis, que servem como prelúdio dos estudos sobre os três eixos ou pilares, vistos como componentes vitais de instituições propostos por Scott (1995, p.34), podem ser verificadas no Quadro 1: Ênfase Base da submissão Mecanismos Lógica Indicadores Base de legitimação Regulativo Utilidade Coercitivo Instrumental Regras, leis e sanções Legalmente sancionado Pilares institucionais Normativo Obrigação legal Normativo Adequação Certificação e Aceitação Moralmente governado Cognitivo Aceitação de pressupostos Mimético Ortodoxa Predomínio e isomorfismo Culturalmente sustentado, conceitualmente correto Quadro 1 Variações de ênfase: três pilares institucionais Fonte: adaptado (nossa tradução) de Scott (1995, p. 35) Partindo de uma apreciação analítica, conforme demonstra a figura 2, e utilizandose do arcabouço teórico na perspectiva dos níveis de análise e dos pilares institucionais de Scott (1995), verifica-se que as interpretações não são excludentes entre si, mais sim 134 A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR percepções que proporcionam a compreensão de possibilidades distintas de cada fenômeno. (MACHADO-DA-SILVA; GONÇALVES, 1998). Pilares Níveis Mundial Normativo Regulativo História econômica Sociologia Neo-Institucional Societário Campo Organizacional Institucionalismo histórico em ciência política Cognitivo Sociologia das instituições tradicionais População Organizacional Ecologia Populacional Organizacional Teoria evolucionista na economia Subsistema Organizacional Novo-institucionalismo na economia Etno-metodologia Figura 2 Pilares institucionais e variação de níveis: escolas ilustrativas Fonte:adaptado (nossa tradução) de Scott (1995, p. 39) Tolber e Zucker (1998) discutem a dinâmica de institucionalização e os estágios deste processo. Esta vertente teórica ganhou relevância a partir de trabalhos realizados dentro do campo da fenomenologia, passando a ser interpretado como um processo que cria e gera vínculos duradouros entre atores participantes de um grupo, tendo como fase final a formação da instituição por meio de ações habituais entre atores deste grupo. As ações dos atores são desenvolvidas e compartilhadas empiricamente ao longo do tempo, com o objetivo de resolver problemas comuns dos atores deste grupo. Tais ações proporcionam associações de conceito, vinculadas aos atores participantes desse grupo, tornando-se conceitos generalizáveis, ou seja, independente do ator que realiza a ação. Segundo Tolber e Zucker, (1998), três processos sequenciais são evidenciados no processo de institucionalização: habitualização, objetivação e sedimentação A Habitualização é o termo desenvolvido para caracterizar ações tornadas habituais pelos autores da fenomenologia. Oriundo do inglês Habitualization, é classificado 135 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná como um estágio de pré-institucionalização, momento no qual os arranjos estruturais são formados em razão de problemas específicos recorrentes na organização ou de problemas semelhantes de um grupo de organizações. A Objetivação envolve o desenvolvimento do grau de consenso social relativo, em função da teorização, e envolve a adoção da estrutura em formação na organização ou entre organizações, normalmente articulado por um champion5, que encoraja o processo de objetivação com interesse material na estrutura e que normalmente surgem quando existe um mercado potencial para inovação, proporcionado por mudanças tecnológicas, forças competitivas de mercado e mudanças de legislação. Quando as estruturas estão consideravelmente disseminadas atingimos o estágio de semi-institucionalização. A Sedimentação caracteriza-se pela disseminação das estruturas pelo grupo de atores identificados como adotantes adequados aos arranjos estruturais, podendo atingir, eventualmente, a disseminação completa na maior amplitude observada desse arranjo, atingindo a total institucionalização. O estágio de total institucionalização pode ocorrer se existir uma baixa resistência de grupos de oposição, promoção e apoio de grupos de interesse e correlação positiva por meio dos resultados desejados. A Figura 3 apresenta a sequência explicitada anteriormente e as forças causais inerentes em várias fases do processo de institucionalização. LEGIS LAÇÃO MUDANÇAS TECNO LÓGICAS FO RÇA S DO ME RCADO INOVAÇÃO HABITUALIZAÇÃO MO NITORAMENTO INTERORGA NIZACIO NAL C HAM PION SEDIMENTAÇÃO OBJET IFICAÇÃO TEORIZAÇÃO IMPACTO S POS ITIV OS DEFESA DE G RUPO DE INTERESS E RESISTÊNCIA DE G RUPO Figura 3 Processos inerentes à institucionalização Fonte:adaptado de Tolber e Zucker (1998, p. 207) Champion é a liderança laboriosa que luta por uma causa de um grupo; defensor assíduo de uma ideologia assimilada pelo grupo que pertence. 5 136 A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR O quadro 2 demonstra os argumentos detalhados anteriormente sobre as características e consequências dos processos que compõem a institucionalização, considerando as variáveis visualizadas no processo. Dimensão Processos Características dos adotantes Ímpeto para difusão Atividade de teorização Variância na Implementação Taxa de fracasso estrutural Estágio pré-institucional Habitualização Homogêneos Imitação Nenhuma Alta Alta Estágio semi-institucional Objetificação Heterogêneos Imitativo/normativo Alta Moderada Moderada Estágio de total institucionalização Sedimentação Heterogêneos Normativa Baixa Baixa Baixa Quadro 2 Estágios de institucionalização e dimensões comparativas Fonte:Tolber e Zucker (1998, p. 211) Durante os três estágios do processo de institucionalização, existem certas ações restritivas por partes dos adotantes do processo nas ações para homogeneização dos interesses de grupo e adaptação ao mundo exterior, ato este que é tratado pelos autores da teoria institucional como isomorfismo. As organizações não competem somente por recursos e clientes, mas por poder político e legitimação institucional, por adequação social, assim como por adequação econômica. (DIMMAGIO ; POWELL, 2005, p.77). Segundo Dimmagio e Powell (2005), são três as situações pelas quais as mudanças isomórficas acontecem: Isomorfismo coercitivo, mimético e normativo. Isomorfismo coercitivo: derivado de influências políticas e busca de legitimidade. Resulta de pressões informais interorganizacionais dependentes e pela esperança cultural da sociedade em que estas organizações figuram. Tais pressões podem ser interpretadas pelos adotantes do processo como coerção, persuasão ou um convite a uma colusão. Isomorfismo mimético: reação ao mercado: em condições de incerteza, os adotantes condicionam as respostas padronizadas. Isto pode ser proporcionado por metas ambíguas ou incerteza de algumas organizações, que passam a tomar como modelo outras organizações, como resposta a estas incertezas. Isomorfismo normativo: associado à normatização de profissões, que se interpreta como uma defesa coletiva dos ideais comuns aos membros ligados a uma determinada profissão, com o objetivo de estabelecer bases ideais para a legitimação de sua atividade laboral. O processo de institucionalização fortalece os laços entre atores que compartilham de uma estrutura e ainda dependem de ações de agência. O conceito de agência, segundo a teoria institucional, historicamente teve início na esfera do sobrenatural, isto é, totalmente 137 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná descolada do mundo social e humano; deuses e forças metafísicas sustentam a agência, que para além do mundo físico, controla e conforma a vida individual e coletiva do homem. Em um momento posterior, temos a correlação entre a agência e o homem e a consolidação da sociologia como ciência. Após a dominação da teoria sociológica, esta percepção da agência cai em desuso. A agência torna-se parte indissociável das ações dos indivíduos, no momento em que é humanizada e socializada. Giddens (1989) afirma que estruturas sociais e, em consequência, regras, normas e padrões de cognição na verdade devem ser considerados tanto como limitadores, quanto como habilitadores da ação, nunca como apenas um ou outro. E o processo de institucionalização, se considerado o seu estado recursivo, não pode ser plenamente assimilado sem que a ação possa ser um agente do desenvolvimento. A teoria institucional reforça esses argumentos ao enfatizar os valores, símbolos e mitos que orientam as organizações e, assim, o ambiente que as rodeiam, favorecendo o compartilhamento de experiências e recursos com o objetivo de aumentarem a competitividade. Portanto, essa abordagem compreende a história e as funções sociais das organizações, criadas e mantidas em razão do grau de legitimidade e institucionalização que são capazes de adquirir. O modelo apresentado por Beckert (1999) apresenta dois estados em um processo de equilíbrio dinâmico de institucionalização e desinstitucionalização, proporcionados pela agência estratégica de empreendedores fundamentada em interesses. A figura 4 demonstra, de forma simplificada, a ação dos empreendedores como agência estratégica nesta dinâmica, em que, impulsionados por interesses, destroem instituições existentes, gerando incerteza, impulsionando a necessidade da criação de estabilidade gerencial na busca da criação de embeddedness - enraizamento -, ocorrendo de forma cíclica. Os argumentos de Beckert (1999) enfatizam o papel ativo de empreendedores que buscam mudar regras institucionalizadas para atingir seus interesses, favorecendo-se de pressões existentes em estruturas institucionalizadas, buscando um ambiente metainstitucional que o encoraja a iniciar mudanças. Segundo Beckert (1999), se entendermos as influências mútuas de forças de mercado, expectativas taken for granted6, legitimação e poder, talvez possamos compreender porque decisões em contextos econômicos são de mercados dirigidos e regras dirigidas. 6 Sob a perspectiva sociológica, consiste numa realidade socialmente construída que acaba sendo aceita como verdade e possui legitimidade. 138 A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR Criação de Embeddedness Criação de Oportunidades Estratégicas Instituições Empreendedor Gerente Incerteza Necessidade de criação de estabilidade Destruição de Instituições Figura 4 - O modelo dinâmico de interesses e instituições Fonte: adaptado de Beckert (1999, p. 788) Oliver (1990) identificou as razões (condicionantes do relacionamento) como causas e contingências que induzem à formação de aglomerados produtivos e ao estreitamento entre os laços das organizações. São os condicionantes que as incitam a estabelecerem relações de reciprocidade, e ocorrem sob condições ligadas a aspectos ambientais e interorganizacionais. As contingências podem promover ou dificultar o estabelecimento deste relacionamento. A autora propõe seis condicionantes generalizáveis como contingências do relacionamento ente as empresas. Estas contingências são: necessidade legal; assimetria, reciprocidade, eficiência, estabilidade e legitimidade. Elas estão em consonância com as razões porque as organizações optam por se relacionarem, sem deixar evidenciar que elas podem ocorrer mutuamente ou concorrentemente entre os adotantes do processo. Partindo de uma perspectiva organizacional, as contingências (condicionantes do relacionamento) explicam as razões específicas pelas quais determinam ou limitam o relacionamento entre organizações, podendo serem interpretados também sobre o contexto interorganizacional, ou seja, entre unidades da mesma organização maior ou também entre indivíduos de nível hierárquico operacional. Os condicionantes desse relacionamento, segundo Oliver (1990) são: necessidade legal - 139 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná interação não voluntária, Assimetria, Reciprocidade, Eficiência, Estabilidade ou Previsibilidade e Legitimidade - interação voluntária. A Necessidade legal sinaliza que as organizações podem definir um processo de relacionamento com outras organizações, buscando atender normatizações e regulamentações impostas por órgãos fiscalizadores e reguladores, como agências governamentais, legislação peculiar e conselhos de representação do setor, que, diante de incertezas, buscam o relacionamento interorganizacional como resposta a situação criada, o que naturalmente poderia não ocorrer. A Assimetria é determinada pela interação entre as empresas e é proporcionada pelo desejo de exercer o poder ou o controle sobre uma organização ou seus recursos. Em contraposição à visão de que a escassez de recursos impulsiona a ação coletiva e cooperada, a relação de exercer o poder sugere que as relações interorganizacionais sejam estimuladas pela busca de algumas organizações em controlar outras organizações que necessitam de recursos proporcionados pela escassez do mesmo. A Reciprocidade surge em oposição à Assimetria. Os impulsionadores da reciprocidade concentram-se na cooperação e na ação coletiva coordenada e orientada em detrimento do poder. Partindo dessa premissa, o relacionamento acontece pela busca de objetivos e interesses comuns entre organizações e geralmente é caracterizado pela simetria e equidade entre os adotantes do processo. Essas ações ocorrem quando os limites da organização são mais abertos ao ambiente e quando as organizações reconhecem as necessidades comuns, além da oportunidade física caracterizada normalmente pela proximidade geográfica . A Eficiência advém de ações coordenadas de grupo e o impulsionador desta contingência é o esforço das organizações em maximizarem o valor do produto ou serviço, por meio de relações que favoreçam a transação de insumos e serviços. Essa concepção de condicionante do relacionamento interorganizacional pactua com a teorização de custos de transação de Williamson, que propõe que as organizações buscam eficiência por transações internas ou externas, por estruturas intermediárias (relacionamento interorganizacional) ou via mercado. Nota-se que as percepções empíricas e teóricas dos autores sobre este condicionante são incipientes no que tange à relação com outros condicionantes, como necessidade, poder, reciprocidade e outras contingências. (OLIVER, 1990). A Estabilidade ou previsibilidade é destacada pela maioria da literatura que analisa relações interorganizacionais. É caracterizada como variável observada no condicionamento das relações entre empresas, a incerteza com relação ao ambiente. Isto gera uma resposta de adaptação, que normalmente é iniciada pela escassez de recursos e 140 A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR pela incapacidade de identificar as variações do ambiente. Essa incerteza faz com que a organização se relacione com outras organizações, com o objetivo de atingir estabilidade ou previsibilidade com relação ao futuro. Por meio desta estratégia, as organizações procuram prevenir ou antecipar-se às incertezas, por trocas confiáveis de recursos, proporcionadas pelo relacionamento. A Legitimidade está associada às pressões sobre as organizações, advindas do ambiente institucional, impulsionando os adotantes do processo a buscar legitimidade, com o objetivo de justificar suas atividades e seus resultados. Esse condicionante do relacionamento interorganizacional - também observado na literatura de Dimmagio e Powell (2005) como isomorfismo mimético - pode ser interpretado pelos adotantes do processo como coerção, persuasão ou um convite a um conluio, com a intenção de aumentar sua reputação, prestígio ou melhorar sua imagem no ambiente institucional. As referências na ação de inter-relacionamentos para aumentar a legitimidade são as organizações interpretadas pelos adotantes do processo como possuidoras de um nível de legitimidade maior que o dos outros. (OLIVER, 1990). Partindo do arcabouço teórico que sustenta o tema sobre a teoria institucional e os condicionantes do relacionamento organizacional, nota-se que poucos conseguiram ser tão específicos como Oliver (1990) em determinar variáveis generalizáveis para verificação empírica das relações interorganizacionais. Apesar de sua especificidade em apontar os condicionantes do relacionamento interorganzacional, observa-se, na literatura, outro condicionante, não explicitado por Oliver (1990), que é a oportunidade social. Apesar de não fazer parte da conjectura desta pesquisa, é pertinente destacar que a oportunidade social é gerada por contatos ou conhecimentos anteriores, decorrente de amizade, da participação em comum em outras organizações como clubes, igrejas e associações. Essa percepção condiciona ações econômicas advindas dos laços sociais nas estruturas em que estes adotantes estão inseridos. (GRANOVETTER, 1985). AÇÕES INSTITUCIONAIS E O PROCESSO DE FORMAÇÃO DE UM APL EMBRIONÁRIO DE SOFTWARE DE MARINGÁ Os procedimentos metodológicos envolvem a aplicação dos instrumentos de pesquisa (entrevistas gravadas e transcritas e questionários) e a coleta de dados secundários e documentos históricos referentes às informações do embrião de Arranjo Produtivo de Software de Maringá. Verifica-se a presença de dois grupos de empresa: o primeiro, constituído por empresas com maior grau de interação e que, a partir de 2003, passam a constituir o 141 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná NEXTi; e o grupo Outras, que pode ser beneficiado com a crescente interação empresarial. A análise dos condicionantes do relacionamento interorganizacional e do processo de institucionalização do embrião de APL, entre 1998 e 2007, é realizada à luz da teoria institucional das organizações e da contribuição de Oliver (1990). Caracterização do processo de formação do APL de software de Maringá Segundo Gonçalves (2006), a gênese do processo de criação do setor de informática em Maringá ocorreu com a aquisição de equipamentos de hardware pela Universidade Estadual de Maringá, no início da década de 1970. Em 1974, houve a aprovação do curso de Técnico de Nível Superior em Processamento de Dados da UEM, e o início da primeira turma ocorreu em 1975. Esse ano foi o marco histórico, o ponto inicial do processo de expansão do setor de informática e software na região. O processo de aglomeração das empresas de software de Maringá foi acelerado pela ação das empresas reunidas no NEXTI, conforme revelou a análise da documentação e de informações coletadas pelos autores do presente artigo, junto à sociedade civil organizada e o processo histórico culminado na criação do APL de Software de Maringá. O processo de expansão do setor ganhou força em 1977 com a implantação da CETIL, empresa de processamento de dados na época. Em 2007, a empresa atua no desenvolvimento e na comercialização de software para gestão pública e realiza projetos de modernização de grandes bancos e cooperativas agroindustriais da região, como COCAMAR, de Maringá, e COAMO, de Campo Mourão, investindo em hardware e software. Yamada (2007) reforça que praticamente todas as empresas de desenvolvimento de software de Maringá têm raízes na CETIL, por meio de colaboradores que trabalharam na CETIL e saíram, ou em busca de melhores salários, ou visando empreender. Bueno (2007), gerente da Infomar Incubadora Tecnológica de Maringá - destaca que não foi somente a formação de mão-de-obra que impulsionou o setor em Maringá. Outro ponto importante destacado por ela foi a entrada dos PC´s e a utilização de software pelas empresas, que direcionou as organizações do setor a fazer ajustes em suas estruturas funcionais. O processo de downsizing aconteceu primeiramente nas grandes empresas e gradualmente foi se espalhando para as médias e pequenas empresas de diversos setores que, segundo Bueno (2007), iniciou-se no final da década de 1980. Yamada (2007) (diretor da NEXTi - Núcleo de Excelência em Tecnologia da Informação e empresário do setor), Davanço (2007) (consultor da Câmara Setorial de Informática da ACIM e CODEM e diretor da Dacon Consultoria Empresarial) e Bueno 142 A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR (2007) são unânimes em indicar a Universidade Estadual de Maringá, a ACIM, a Incubadora Tecnológica de Maringá e o SEBRAE/Maringá como os principais agentes que possibilitaram a formação do APL embrionário de software em Maringá. Entretanto, Yamada (2007) destaca o papel da CETIL, empresa de processamento de dados criada em 1977, como formadora de mão-de-obra e detonadora de parte do processo. Em 1999, o governo estadual lança o Programa Paraná Classe Mundial (WClass), coordenado pelo TECPAR Instituto Tecnológico do Paraná - , fomentado pelo BRDE - Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul - e promovido pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná que tinha como premissa proporcionar às empresas paranaenses, alta capacidade competitiva para padrões internacionais, determinando um conceito denominado classe mundial. Gonçalves (2006) reitera que, neste contexto, muitas instituições de apoio ao setor foram criadas, como redes para geração de novos empreendimentos, associações de apoio a comercialização e qualidade, e cadeias estratégicas para divulgação do conceito classe mundial. Gonçalves (2006) relatou ainda que o SEBRAE-PR entrou como parceiro do governo estadual para aplicação da metodologia do W-Class, regionalmente. Em Maringá, com o objetivo de participar do projeto, aderiram representantes do meio acadêmico, ligados à Universidade Estadual de Maringá, empresários mediados por técnicos do SEBRAE-PR, tendo sido realizado na regional de Maringá um Workshop do Setor de Informática em 24/09/1999, com o objetivo de fortalecer o grupo na região. Esse momento, para a teoria institucional, segundo Tolber e Zucker (1998), configura o estágio pré-institucional, ou seja, o processo da habitualização, no qual os arranjos estruturais começam a ser formados, recorrentes de situações e problemas, semelhante a um grupo de organizações. Nesse caso, ele é proporcionado por uma nova legislação (política pública específica) e pelas forças do mercado, em que o ímpeto para difusão é meramente imitativo e a taxa de fracasso estrutural é alta. Gonçalves (2006) ainda destaca, que frente ao risco de perder todo esforço anterior, o Sr. Sérgio Yamada - sócio-proprietário da Sérgio Yamada Computação, empresa com atividade econômica proporcionada pela venda de software e cursos de informática fundada em 01/09/1995 - mobiliza alguns empresários do setor, com o intuito de juntos formarem uma organização não-governamental em 2003, o NEXTí Núcleo de Excelência em Tecnologia da Informação. Presidida pelo Sr. Sérgio Yamada, a organização busca estruturar o setor de software de Maringá, desenvolvendo-o como um aglomerado produtivo caracterizado como embrião de APL, com potencial para 143 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná transformar-se emvetor avançado, com o objetivo de implementar parâmetros de governança, ainda no ano de 2007. Em 2007, o NEXTi representa 12 empresas7 do setor de software de Maringá e sua ação é promover eventos de capacitação aos adotantes do processo e assessorá-los na participação de editais de concorrência. Yamada (2007) acredita que a NEXTi é o grande marco institucional do fortalecimento de laços entre as empresas desenvolvedoras de software. O lançamento da governança para o APL de software de Maringá foi realizado no dia 30/03/2007, às 16h, no Centro de Convenções do Shopping Aspen Park, com articulação política da NEXTi. Na ocasião, foi formalizado um protocolo de implantação da ASSESPRO Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação Software e Internet, em Maringá entre o representante da NEXTi e o representante da ASSESPRO no Paraná. Partindo dos conceitos de Tolber e Zucker (1998), com a criação do NEXTi, o processo de institucionalização avançou, alcançando o estágio de semi-institucionalização ou objetivação, em que existe um certo grau de consenso social em função da teorização e adoção da estrutura em formação entre as organizações, encorajado por um dos champions, identificados, neste processo, como o Sr. Sérgio Yamada que articulou a criação do NEXTi. O quadro 3 sintetiza as informações coletadas junto aos representantes de instituições participantes do processo, como agentes, e à pesquisa documental sobre o setor; reúne a cronologia do desenvolvimento da indústria de software de Maringá.8 A identificação do APL embrionário de software sugere o processo de objetivação e os impactos positivos gerados por essa identificação, assim como a defesa do grupo de interesses proporcionada pela NEXTi, que, para Tolber e Zucker (1998), são acontecimentos que precedem o terceiro estágio no processo de institucionalização que, pela disseminação das estruturas pelo grupo de atores identificados como adotantes do processo, favorecem a total institucionalização. Essa constatação poderá ser reforçada por meio da análise dos resultados do CRI Condicionantes do Relacionamento Interorganizacional. O levantamento histórico fornece subsídios importantes para caracterizar o processo de formação do Arranjo Produtivo Local de empresas de base tecnológica do setor de software da região. 7 As empresas participantes da NEXTI são: DB1 Informática, Publisoft Informática, Virtuashop Sistemas, ID Brasil Sistemas, Process Informática, SG Sistemas, Benner Saúde, Insula TI, Cerprosoft Informática, Sub 100 Brasil, WRA Sistemas e Hotsoft.. 8 Desenvolvido de acordo com o documento do Anexo 4, relatos de representantes instituições participantes do processo e histórico do setor. 144 A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR Ano 1970 1975 1977 1978 1980 1983 1983 1985 1986 1987 1988 1991 1992 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2002 2003 2005 2006 2007 Evento Universidade Estadual de Maringá já tinha instalações de hardware. Iniciou-se a primeira turma do curso Técnico de Nível Superior em Processamento de Dados da Universidade Estadual de Maringá Instalação, em Maringá, da CETIL, empresa especializada em processamento de dados na época Primeira formatura do curso Técnico de Nível Superior em Processamento de Dados da Universidade Estadual de Maringá e a instituição da disciplina de informática em outros cursos Chegada dos primeiros microcomputadores (PC´s Personal Computer) a Maringá Chegada dos primeiros PC´s Personal Computer padrão XT a Maringá (CETIL e UEM) e a realização da primeira semana de informática na Universidade Estadual de Maringá Início da expansão de empresas como COCAMAR Cooperativa Agroindustrial de Maringá e COAMO Cooperativa Agroindustrial de Campo Mourão, buscando novas tecnologias de controle. Início do desenvolvimento de software na região Realização do primeiro curso de pós-graduação em informática, realizado pela Universidade Estadual de Maringá Introdução na Universidade Estadual de Maringá da Bitnet - Because It's Time Network, criada em 1981. É uma rede educacional internacional que liga computadores de universidades e institutos de pesquisa no mundo. Início do curso de ciências da computação na Universidade Estadual de Maringá, e indícios da realização de downsizing nas empresas de Maringá, impulsionadas pela chegada dos PC´s e pelo desenvolvimento de software na região. Início da primeira turma do curso de processamento de dados na CESUMAR Centro de Ensino Superior de Maringá, instituição de ensino superior privado. Empresários do setor organizam-se para negociação com o vereador Emerson Nerone para redução da alíquota de ISS. Introdução da Internet na Universidade Estadual de Maringá e a instituição do projeto Informatize (SEBRAE) que visava distribuir software de controle às pequenas empresas. Surgem provedores de internet oferecendo serviços à região; realização do primeiro FITEM Fórum de Informática e Tecnologia de Maringá, pela UEM. Criação da câmara setorial de informática na Associação Comercial e Industrial de Maringá; surgimento em Maringá do SOFTEX - Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro - e o nascimento do Projeto Gênesis - Geração de Novos Empreendimento em Software. Primeira turma do Projeto Gênesis e a articulação para estruturação da incubadora tecnológica de Maringá; introdução da disciplina de empreendedorismo no departamento de informática da Universidade Estadual de Maringá. Início do projeto para curso de mestrado em ciências da computação; implantação do Bacharelado em Informática na UEM; primeiras reuniões de empresários para fortalecimento do setor de informática em Maringá, mediadas pelo Sebrae-Pr regional de Maringá. Graduação do primeiro grupo de empresas do Projeto Gênesis; instituição, pelo governo estadual, do Projeto Paraná Classe Mundial W-Class; realização de um Workshop de Informática pela comunidade acadêmica e empresários mediados pelo Sebrae-PR, com o objetivo de participarem do programa W-Class; última turma formada do curso de Técnico em Nível Superior em Processamento de Dados da UEM Criação da INFOMAR Incubadora Tecnológica de Maringá (ONG) Instituição do curso de Mestrado em Ciências da Computação na Universidade Estadual de Maringá; fim do Programa W-Class do governo estadual; extinção do curso Técnico em Nível Superior em Processamento de Dados da UEM, conforme Ata 155 de 27/06/2002. Criação da Ong - NEXTI - Núcleo de Excelência em Tecnologia da Informação Identificação pelo IPARDES Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social de um Arranjo Produtivo Local, embrionário de Software na RMM- Região Metropolitana de Maringá Publicação do estudo de Gualda et. al.(2006), que caracteriza o aglomerado produtivo de software de Maringá como um embrião de Arranjo Produtivo Local, confirmando o resultado do IPARDES. Lançamento de parâmetros de governança para o APL de software de Maringá e protocolo de intenções para implantação em Maringá da ASSESPRO - Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação Software e Internet Quadro 3 - Cronologia do desenvolvimento da indústria de software de Maringá Fonte: Elaborado pelos autores, com base no documento do Workshop de Informática, entrevistas e análise documental. 145 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná O processo de formação do APL de softwares de Maringá: evidências empíricas Por meio das análises de dados documentais, entrevistas e notícias da época, que demonstraram um processo de formação do aglomerado produtivo à luz da teoria institucional e conforme as premissas de Tolber e Zucker (1998), nota-se que o processo pré-institucional ou de habitualização fica caracterizado diante dos problemas semelhantes enfrentados pelos adotantes do processo, como busca de incentivos fiscais municipais, busca de fomento junto aos órgãos estaduais e federais e a necessidade de certificação dos seus produtos. Nesse período, houve várias tentativas de aproximação entre estes empresários; SEBRAE, UEM e ACIM atuaram como mediadores. O setor teve um crescimento importante desde seu início na região, em 1970, com a Universidade Estadual de Maringá adquirindo equipamentos de hardware. Durante todo este processo, tivemos a implantação de cursos acadêmicos de graduação e pósgraduação específicos para área, dando um suporte relevante de mão-de-obra qualificada para o setor. O processo de downsizing nas empresas locais impulsionou o setor no final da década de 1980, possibilitando a criação de várias empresas desenvolvedoras de software para abastecer a demanda criada por esse processo. Neste novo contexto, percebe-se a necessidade de objetificação impulsionada pelos champions no processo verificado como os participantes da NEXTi, que encorajam o processo de formalização com interesse material na estrutura e normalmente surgem quando existe um mercado potencial para inovação, proporcionado por mudanças tecnológicas, forças competitivas de mercado e mudanças de legislação. (TOLBER; ZUCKER, 1998) Caracterizadas as forças institucionais que posicionam o processo entre habitualização e objetificação, passando do estágio pré-institucional, meramente imitativo para o estágio de semi-institucionalização, mais normatizado e menos imitativo, verifica-se o momento de iniciação da passagem de um embrião de APL de software para um APL de software com características de vetor avançado. As entrevistas realizadas junto às entidades representativas do setor apontam que os principais articuladores do processo são os integrantes do NEXTi. Também se procurou identificar o processo de institucionalização e seu grau de evolução, por meio dos condicionantes do relacionamento interorganizacional. Verificou-se que necessidade legal é um condicionante identificado como importante para 70% da estratificação da amostra correspondente ao NEXTi, e para 55% da estratificação da amostra, correspondente ao Externo, estando de acordo com Oliver (1990). Para a instituição de governança, este 146 A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR condicionante se faz importante por buscar por meio de ações formais entre as empresas, atender a normatizações, a regulamentações de órgãos fiscalizadores e a agências governamentais, ganhando capacidade de negociação política e favorecendo a busca de recursos para o setor. Neste caso, observa-se, diante dos resultados, que os champions do processo deverão esclarecer para os adotantes do processo, principalmente para os que não fazem parte da NEXTi, a importância de se relacionarem em busca de necessidade legal. A Assimetria é proporcionada pelo desejo de exercer o poder ou o controle sobre uma organização ou seus recursos. Foi apresentado por 73,3% das observações da amostra. Este alto índice de observações sobre este condicionante traduz o papel ativo do potencial empreendedor observado neste, setor que instiga os empreendedores a direcionarem e mudarem as regras institucionais para que atinjam seus interesses, criando expectativas taken for granted9, que traduz a realidade socialmente constituída pela legitimação e pelo poder. Esta consideração é reforçada pelo maior percentual verificado entre os condicionantes percebido em Legitimidade, com 90% das observações da amostra. Esta realidade social que os empreendedores deste aglomerado produtivo buscam constituir, por intermédio da Assimetria (Poder) e da Legitimidade, à luz dos preceitos de Berger e Luckmann (1985), apresenta-se como uma realidade objetiva para os sujeitos, de forma recursiva, e é constituída de forma subjetiva por relações cotidianas, proporcionando um processo de institucionalização e socialização. Com um percentual de 83,3%, a Reciprocidade destacou-se como um dos principais condicionantes o aglomerado produtivo, contrapondo a relação Assimetria e Legitimidade, como foi observado anteriormente. Entretanto, este índice é encorpado pela estratificação da amostra correspondente ao NEXTi, que verificou 100% das observações como um condicionante importante para o relacionamento interorganizacional, o que reforça uma consciência cooperativa mais acentuada por parte da estratificação, indicando o grupo como principais articuladores para implantação de parâmetros de governança neste aglomerado produtivo. Outro indicativo de que este embrião de APL se encaminha para o vetor avançado é que o condicionante Eficiência é importante para 83,3% dos entrevistados da amostra, demonstrando a necessidade das organizações, por meio dos empreendedores relacionaremse, com o intuito de agregar valor ao serviço através da minimização dos custos de transação. Aliado à aceitação do condicionante Reciprocidade, percebe-se a necessidade destes empreendedores se prepararem regionalmente para serem competitivos e flexíveis em suas Sob a perspectiva sociológica, consiste numa realidade socialmente construída que acaba sendo aceita como verdade e possui legitimidade. 9 147 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná estruturas, possibilitando a adaptação aos prováveis movimentos de base do mercado que deterioram suas ações estratégicas, normalmente proporcionados pela dependência de recursos e insumos mais baratos de outras regiões, fator primordial para o desenvolvimento de um vetor avançado. A aplicação de políticas públicas para fortalecimento institucional e a prática do empreendedorismo na formação deste aglomerado produtivo, no período compreendido entre 1998 e 2007, foram incipientes nas três esferas políticas: municipal, estadual e federal. Na esfera federal, por se tratar de um setor que envolve alta tecnologia a orientação, o intuito é direcionar recursos públicos para projetos que tenham foco em projetos e pesquisas aplicadas, não equacionando a distribuição destes recursos de acordo com a importância do setor para região e sua vocação, principio fundamental para o fortalecimento de potenciais arranjos produtivos locais. Na esfera estadual, a mudança de conduta política e a interrupção de alguns projetos direcionados como o W-Class, colocaram os empresários do setor em dúvida quanto ao desenvolvimento de uma proposta de desenvolvimento regional para o setor. Na esfera municipal, pouco foi feito neste período, mostrando-se a mais incipiente de todas em ações de políticas públicas. Apesar deste cenário, observado no período de 1998 a 2007, percebese uma necessidade do governo municipal e estadual em se unirem para consolidarem o setor, o que favorece este momento de passagem de embrião para um APL software, constituído e reconhecido. No que tange à análise organizacional, verifica-se que o APL embrionário de software de Maringá encontra-se na fase de objetivação. As organizações competem por recursos e clientes, por poder político e legitimação institucional, por adequação social e econômica. (DIMMAGIO ; POWELL, 2005). O estágio semi-institucional revela que os integrantes da governança (participantes da NEXTi) e os outros integrantes apresentam estímulos diferenciados para o relacionamento interorganizacional. CONSIDERAÇÕES FINAIS A discussão dos condicionantes do relacionamento interorganizacional permitiu verificar a evolução do processo de institucionalização do aglomerado produtivo de Maringá. Verificou-se que os principais articuladores do processo eram integrantes do NEXTi e a estratificação da amostra contemplou a análise dos principais champions do processo de institucionalização do embrião de APL de software: empresas que apresentavam maior propensão à inovação e ao risco, frente à média de empresas do setor. 148 A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR Um condicionante importante para processo de institucionalização do APL de Software foi a necessidade legal. A instituição de governança parte desse condicionante, pois as ações formais entre as empresas precisam atender normatizações, regulamentações de órgãos fiscalizadores e agências governamentais, ganhando capacidade de negociação política, favorecendo a busca de recursos para o setor. Os champions do processo têm esclarecido os seus adotantes, principalmente para os que não fazem parte da NEXTi, acerca da importância de se relacionarem e de sua necessidade legal. A assimetria sinaliza um papel ativo do potencial empreendedor observado neste setor que instiga empreendedores a direcionarem seus esforços para a mudança das regras institucionais, no objetivo de atingir seus interesses, criando expectativas taken for granted, que traduzem a realidade socialmente constituída pela legitimação e pelo poder. São reforçadas as relações do cotidiano, proporcionando um processo de institucionalização e socialização. A eficiência demonstra a necessidade dos empreendedores se relacionarem, com o intuito de agregar valor ao serviço por meio da minimização dos custos de transação. A assimetria e a eficiência, aliadas à aceitação do condicionante reciprocidade, sinalizam a necessidade dos empreendedores de se prepararem para a ampliação da competitividade regional e nacional, flexibilizando suas estruturas e adaptando-se aos prováveis movimentos de base do mercado que deterioram suas ações estratégicas, normalmente proporcionadas pela dependência de recursos e insumos mais baratos de outras regiões, fator primordial para o desenvolvimento de um vetor avançado. Sob um ponto de vista prático, o estudo sugere o fomento de informações em todo o embrião de APL de software de Maringá, para que se estabeleça um ambiente favorável à gestão empreendedora das empresas em um ambiente de governança. Adicionalmente, ficam expectativas de que o compartilhamento de informações com o NEXTi auxilie os champions do processo na constituição de um ambiente institucionalmente estável, para a construção de um aglomerado produtivo articulado e competitivo no âmbito nacional e internacional. O compartilhamento do diagnóstico desse processo com seus agentes pode determinar ações para o aperfeiçoamento e aprimoramento deste aglomerado produtivo. No que tange ao processo de institucionalização, a análise da ação dos agentes integrantes do APL embrionário de software e das demais empresas que podem ser beneficiadas revela que o mesmo encontra-se na fase de objetivação. 149 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE SOFTWARE ABES. Disponível em <http:/ /www.abes.org.br>. Acesso em: dez/2006. BERGER, P.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento. Petrópolis: Vozes, 1985. 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No Paraná, a atividade de desenvolvimento de software vem recebendo atenção de diversas instituições por meio de políticas de apoio aos APLs.1 A Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação Geral (SEPL) e o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES) realizaram e vêm realizando estudos sobre os APL no Estado do Paraná. A partir da metodologia apresentada por Suzigan et al. (2004) e sob a orientação dos próprios autores do texto, foram selecionadas 22 aglomerações produtivas no Estado, incluindo nessa soma as aglomerações de empresas de software. No presente artigo argumenta-se que a abordagem de Arranjos Produtivos Locais (industrial clusters) não seria a mais apropriada para caracterizar as atividades de desenvolvimento de software. Todavia, o setor pode se beneficiar do recente modismo envolvendo APL, quando entendido como uma política local ou regional de apoio ao desenvolvimento tecnológico, melhoria da competitividade e do potencial inovativo das empresas. O software caracteriza-se como uma atividade intrinsecamente inovativa, intensiva em tecnologia, com tendência à concentração espacial e fortemente influenciada por aspectos institucionais específicos, o que significa contar com importantes instituições de apoio às Em dezembro de 2004, foi estruturada a Rede Paranaense de Apoio aos Arranjos Produtivos Locais (Rede APL Paraná), com o objetivo maior de articular e organizar a interação das diversas instituições de promoção dos APL em termos de captação de recursos, solução de entraves, concepção, estruturação e implementação de planos, estudos e projetos de desenvolvimento empresarial e territorial. 1 155 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná empresas e de políticas públicas para o seu crescimento. Por essa razão, a atividade de software é um exemplo quase paradigmático da economia moderna, na qual o recurso fundamental passa a ser o conhecimento. Há uma importância crescente de formas coletivas de aprendizado (redes de interações) e de cumulatividade, entendidos como elementos críticos da competitividade e como organização espacial das atividades econômicas. Nesse sentido, o enfoque da geografia inovativa mostra-se mais adequada à investigação sobre o fenômeno da aglomeração de empresas de software e, também, como referencial teórico para a proposição de políticas públicas. Nessa abordagem, o espaço é lócus do desenvolvimento econômico endógeno, isto é, o espaço é redefinido, constituindose no conjunto de recursos característicos relativamente imóveis e até mesmo intangíveis de uma região ou local, como por exemplo, a base de conhecimento local, as habilidades da mão-de-obra, suas instituições e infraestruturas tecnológicas e organizacionais. Estudos recentes realizados no Paraná (SEPL-IPARDES, 2005; 2006) demonstraram a importância dos ativos institucionais, notadamente instituições de ensino na área de informática, e a importância do impulso propiciado por políticas públicas para o desenvolvimento da atividade de software em diferentes partes do Estado. O Paraná possui o mais antigo e um dos mais importantes núcleos da SOFTEX (Sociedade Brasileira para a Promoção e Exportação de Software), marco do desenvolvimento dessa atividade no país. Nesse artigo, apresentamos casos de dois locais em níveis bastante diferentes de desenvolvimento produtivo: Curitiba e o Sudoeste do Paraná. As políticas locais de apoio ao desenvolvimento de software, nos moldes das políticas de apoio aos APL, são viáveis. Entretanto, sob a perspectiva do aumento da competitividade das empresas brasileiras nos mercados internacionais de software, por meio do desenvolvimento de soluções inovadoras, o impacto de ações locais pode ser relativamente exíguo, caso não sejam associado às políticas setoriais mais amplas. SOFTWARE E POLÍTICA DE APOIO AOS ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS O fenômeno da concentração geográfica e setorial de produtores especializados vem sendo estudado por diferentes correntes teóricas e denominações distintas (distritos industriais, clusters industriais, aglomerações de micro e pequenas empresas, arranjos produtivos locais, sistemas locais de produção e sistemas locais de inovação). No Brasil, o termo APL ganhou notoriedade para descrever os sistemas locais de produção, notadamente 156 Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná industriais e, em razão da ausência na agenda nacional de uma política industrial, a arena para a execução de políticas de desenvolvimento industrial e tecnológico ficou circunscrito ao espaço local dos APLs. Mas, se desenvolvimento de softwares não é uma atividade industrial, como é possível se beneficiar de políticas para APL? A resposta é que software é diferente. As atividades de software são transversais e abrangentes, integrando-se às mais diversas cadeias produtivas e significando uma parcela cada vez mais relevante das atividades de P&D dessas cadeias. Arora et al. (2001) observam que é crescente o uso do software como uma ferramenta para incorporar conhecimento e expertise de diversas áreas e setores, ficando difícil distinguir o software como um produto (vendido ou licenciado para outras empresas ou para usuários finais), como componente (vendido para outras empresas ou embarcado em sistemas mais complexos) ou o software como conhecimento e tecnologia incorporada. Softwares são produtos intangíveis, frutos do conhecimento e de produtos de criação intelectual que, diferentemente de outros produtos intelectuais, requerem a colaboração de seus usuários na definição de suas características. Quando entendido como produto, ainda que o software também seja valorado pelo que faz, diferentemente de outros bens manufaturados, não possui custos unitários de produção e está totalmente dependente de uma infraestrutura para execução de suas funções no ambiente em que será aplicado. O software e sua infraestrutura representam um sistema de informação que pode ser decomposto em muitas peças e unidades internas, chamadas de módulos que, geralmente, são ofertados por diferentes vendedores, com distintos termos de propriedades. Geralmente, uma empresa não oferece todas as peças e módulos que formam o sistema de informação. Diferentes componentes são feitos por diferentes fabricantes, ampliando consideravelmente o papel dos componentes complementares e da compatibilidade perante todo o sistema. A dependência da tecnologia da informação em sistemas significa que as empresas têm de levar em conta a formação de alianças e o cultivo de parceiros como garantia de compatibilidade. Da mesma forma como a informação, o software é usualmente protegido por direitos autorais (copyright), baseando sua propriedade não em termos de sua possessão física, mas sim em termos de propriedade intelectual. A principal característica da informação é que ela é cara de produzir, mas barata para reproduzir. Em termos microeconômicos, a produção de um bem da informação envolve altos custos fixos e baixíssimos custos marginais. No caso da informação digital, esta pode ser copiada com perfeição e transmitida instantaneamente em volta do mundo pela internet, o que implica a necessidade de alguma forma de gestão da propriedade intelectual da informação para garantir sua produção. 157 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná (SHAPIRO; VARIAN, 1999). Mas, diferente da informação pura, o software pode ser registrado como uma invenção patenteada. Geografia da inovação Diferentemente de uma empresa industrial, uma importante especificidade da atividade de desenvolvimento de softwares decorre do fato de que os clientes, fornecedores e parceiros de uma pequena empresa podem estar localizados em uma parte distante do planeta e, ainda assim, interagirem numa velocidade praticamente instantânea. Por outro lado, ainda que a informação possa ser espalhada ao redor do mundo na velocidade da internet, o mesmo não ocorre com o conhecimento. Considerando o conhecimento como o recurso fundamental na economia moderna e que ele é gerado e transmitido de forma mais eficiente via proximidade geográfica, devido ao seu caráter tácito, então o processo de aprendizado localizado torna-se extremamente relevante. (ANTONELLI, 1999). Como o aprendizado pode ser realizado via fontes internas ou externas à firma, sendo, dessa forma, dependentes de interações e fortemente influenciados por contextos econômicos, sociais e institucionais e por políticos específicos da localidade, também possui caráter coletivo, está localizado e possui especificidades em seus processos (cumulativo e dependente da trajetória). Dessa forma, quando os processos de aprendizado são somados à existência de spillovers de conhecimento, vários autores encontram evidências empíricas de que atividades econômicas inovativas, baseadas em novo(s) conhecimento(s), têm alta propensão a aglomerar-se em regiões geograficamente delimitadas, criando especializações locais. (AUDRETSCH; FELDMAN, 1996; BRESCHI; MALERBA, 2001). É nesse sentido que a literatura, conhecida como a Geografia da Inovação, pode oferecer importantes insights na formulação de políticas públicas locais para as aglomerações de empresas de desenvolvimento de softwares. Breschi e Malerba (2001) sintetizam alguns pontos centrais da relação entre geografia da inovação e a aglomeração da atividade econômica (economic clustering): a) o aprendizado ocorre por meio da operação em redes e da interação, incluindo relações produtor-usuário, colaborações formais e informais, mobilidade de trabalhadores qualificados entre empresas e spin-offs; b) o processo de aprendizado coletivo é potencializado quanto ao grau de imersão (embeddedness) das empresas locais na densa rede de intercâmbio de conhecimentos, facilitadas por normas, convenções, códigos de domínio comum e por instituições que constroem confiança e estimulam relações informais entre os agentes; c) a disponibilidade de um conjunto de recursos de uso comum, tais como universidades, 158 Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná instituições de pesquisa, centros tecnológicos e ampla oferta de trabalhadores qualificados e especializados, contribuem para reduzir custos e incertezas associados às atividades inovativas. A proximidade geográfica potencializa esses efeitos quando combinada com um aparato institucional, organizacional e técnico que favoreça o aprendizado coletivo. Políticas locais para o desenvolvimento de software Apesar de o desenvolvimento de software não ser uma atividade estritamente industrial, mesmo sob a ótica de uma política industrial, da qual o apoio ao desenvolvimento de APL seria apenas um componente, essa atividade é considerada de extrema importância.2 Software tem um caráter transversal relativamente a outras atividades econômicas, sendo um elemento estratégico na geração de competitividade para as empresas. Por esse motivo, não se poderia desprezar essa atividade no âmbito de políticas locais de desenvolvimento da produção. Software consiste em uma atividade intrinsecamente inovativa e intensiva em tecnologia, com tendência à concentração espacial e fortemente influenciada por instrumentos institucionais específicos de fomento para sua emergência e consolidação. Desta forma, políticas de apoio aos APL não são excludentes em relação ao software, pelo contrário, iniciativas como o estímulo à formação e à organização de uma governança local, o fortalecimento de instituições de ensino, a ampliação de cursos na área técnica e a criação de centros tecnológicos poderiam beneficiar as empresas de software de uma localidade, estimulando os chamados vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem que caracterizam um sistema local de produção. Por essa razão, o trabalho desenvolvido pela Secretaria de Planejamento do Paraná e pelo Ipardes incorporou o segmento de software nas políticas de apoio aos APL do Estado. Por meio da aplicação da metodologia de Suzigan et al (2004), baseada em dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) Ministério do Trabalho e Emprego, complementados pelos microdados do Cadastro de Informações Fisco-Contábeis da Secretaria da Fazenda do Estado do Paraná (Sefa-PR), o estudo apontou 4 possíveis aglomerações do setor de software no Estado (SEPL-IPARDES, 2005).3 A Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) do governo federal, lançada oficialmente em março de 2004, considerou o setor de software como um dos itens prioritários, juntamente com os setores de semicondutores, bens de capital, fármacos e medicamentos. 3 No caso das atividades de software, foram selecionadas quatro classes da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE): Classe 7210 - Consultoria em hardware; Classe 7221 - Desenvolvimento e edição de softwares prontos para uso; Classe 7229 - Desenvolvimento de softwares sob encomenda e outras consultorias em software; e Classe 7240 - Atividades de banco de dados e distribuição on-line de conteúdo eletrônico. 2 159 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Figura 1 Aglomerações de empresas de software no Paraná Fonte: Elaboração dos autores. Segundo essa metodologia, as aglomerações de software de Maringá e do Sudoeste (Pato Branco, Dois Vizinhos e Francisco Beltrão) foram classificadas como embriões, enquanto Londrina e Curitiba foram classificados como vetores avançados.4 DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARES NO PARANÁ No Paraná, as raízes do desenvolvimento das atividades que atualmente recebem a alcunha de tecnologia da informação e comunicação (TIC) estão associadas ao processo de desconcentração espacial da atividade econômica, especialmente durante dos anos de 1970, marcados pelos grandes investimentos estatais do II Plano Nacional de Desenvolvimento, principalmente nos setores de petroquímica, energia e comunicações, bem como a política de atração do capital multinacional, notadamente pela criação da Cidade Industrial de Curitiba (CIC).5 Segundo Cunha (1995), a criação da CIC representa, de fato, um marco decisivo, pois, pela primeira vez, empresas multinacionais localizadas na fronteira tecnológica 4 Os vetores avançados são aquelas aglomerações com importância setorial elevada, mas pouca importância para a região, [...]encontram-se diluídos num tecido econômico muito maior e mais diversificado, ou seja, embora sejam importantes para o setor, o desenvolvimento econômico regional não depende deles de uma forma tão pronunciada (SUZIGAN et al., 2004). Já os embriões [..]reúnem aglomerações com potencial para o desenvolvimento, mas ainda pouco importantes para o setor e região. (SEPL-IPARDES, 2005, v.1, p.21). 5 Para maiores informações sobre os antecedentes históricos do processo de industrialização e diversificação produtiva no Paraná, veja Cunha (1995), Passos (1999), Trintin (2001), Verri & Gualda (2001), Macedo et al (2002) e Farah Jr. (2004) 160 Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná instalaram-se no estado. Isso, no médio prazo, viria a representar um impulso tanto para instalações de outras grandes empresas estrangeiras, quanto para o surgimento de firmas nacionais altamente competitivas e ainda representaria um realinhamento das atividades rumo ao novo paradigma tecnológico microeletrônico e de informação e comunicação. Nessa nova fase, a partir dos anos de 1980, foram importantes as políticas estaduais e municipais e um novo arranjo institucional, com ênfase no apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico. Em âmbito nacional, Roselino (2006) atribui às políticas públicas um importante papel na formação da indústria brasileira de software, que, inicialmente, desenvolveu-se junto à indústria de hardware. A Política Nacional de Informática, instituída nos anos de 1980, garantia reserva de mercado para a quase totalidade dos produtos e serviços, relacionados às atividades de informática, protegendo o similar nacional no desenvolvimento de sistemas de informática no país. (ROSELINO; GARCIA, 2003). A criação de empresas de software começou a acontecer de forma dissociada dos projetos de hardwares somente com a Nova Lei de Informática (Lei número 8.248/91), que instituiu o fim da reserva de mercado6 e possibilitou às micro e pequenas empresas ocuparem o espaço deixado pelo desinteresse do capital privado nacional.7 Com efeito, as empresas nacionais privadas desenvolveram-se basicamente para atender demandas específicas da estrutura produtiva doméstica, consolidando a presença em mercados que não eram inicialmente atendidos por empresas estrangeiras. Ainda que o setor tenha menos de duas décadas de existência, dados do documento do MIT-SOFTEX (2003) indicam, numa comparação mundial, a dimensão relevante do mercado nacional de software e mostram que esse mercado cresceu no período 1995-2001 a uma taxa média anual de 11%, com uma representativa concentração nas regiões sudeste e sul. Essa informação é corroborada na Tabela 1, pelos dados de estabelecimentos da RAIS (ano-base 2004), a partir da qual é possível identificar a importância relativa do estado do Paraná para atividade de TIC. Além da concentração geográfica, verifica-se ainda uma Também foram criados incentivos fiscais para a indústria de informática, mas, dessa vez, exigindo contrapartidas em investimentos em P&D de no mínimo 5% da receita líquida das empresas beneficiadas. 7 Segundo Stefanuto (2004), nesse período, muitas empresas foram originadas a partir de spin-offs de empresas de hardware ou a partir de grandes usuários, caracterizados pelo desenvolvimento de softwares in house. Este formato teve importantes implicações gerais no processo de produção de software no Brasil. O autor cita o surgimento de uma atividade empreendedora em software desprovida de cultura integradora, a escassa capacidade de estabelecimento de laços cooperativos, a baixa inserção externa da indústria brasileira de software e, por fim, a elevada fragmentação regional da produção de software no país. Por exemplo, em Dois Vizinhos (PR), a empresa pioneira do setor originou-se a partir do processo de terceirização de atividades de uma grande empresa alimentícia do município, que incluiu o setor de processamento de dados daquela unidade. 6 161 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná elevada correlação entre estabelecimentos em classes de atividade econômica relacionadas com software8 e com as relacionadas com as atividades de TIC. Tabela 1 - Distribuição do número de estabelecimentos* entre as unidades da federação, por atividades de software e por atividades em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) Total das Atividades de Software Unidade da Federação São Paulo CLASSE 7210 CLASSE 7221 CLASSE 7229 CLASSE 7240 Consultoria em hardware Desenvolvimento e edição de softwares prontos para uso Desenvolvimento de softwares sob encomenda e outras consultorias Ativ. de banco de dados e distribuição on-line de conteúdo eletrônico Estab. % Estab. % Estab. % Estab. % Estab. % Estab. % 1.524 37 740 36 236 35 468 39,3 80 34 10.843 36 Rio de Janeiro 539 13 328 16 52 7,8 131 11 28 12 3.041 10 Minas Gerais Rio Grande do Sul 407 9,8 202 9,7 80 12 109 9,2 16 6,8 2.999 10 325 7,8 152 7,3 53 7,9 108 9,1 12 5,1 2.512 8,4 Paraná 291 7 129 6,2 59 8,8 74 6,2 29 12 2.253 7,5 Santa Catarina 279 6,7 80 3,9 81 12 102 8,6 16 6,8 1.807 6 Outros Estados 800 19 441 21 106 16 198 16,6 55 23 6593 22 4.165 100 2.072 100 667 100 1190 100 236 100 30.048 100 Total * Estabelecimentos que obtiveram, ao longo de 2004, pelo menos um vínculo empregatício formal. ** De acordo com a correspondência entre a CNAE 1.0 e a ISIC/CIIU Rev.3, o conjunto das atividades TIC seriam: 3011, 3012, 3021, 3022, 3130, 3210, 3221, 3222, 3230, 3320, 3330, 516, 6420, 7133 e 72. Fonte: RAIS 2004. Elaborada pelos autores. Com base nos dados da RAIS, foi possível estabelecer um ranking nacional, indicando que apenas 55 dos 5.561 municípios brasileiros possuíam 10 ou mais estabelecimentos voltados ao desenvolvimento de software e com algum vínculo empregatício formalizado, sendo 4 no Paraná. Isso indica a significância, em termos relativos nacionais, da ocorrência de uma aglomeração de empresas de cunho notadamente tecnológico. No estado do Paraná, o crescimento das atividades de software, tanto em Curitiba, quanto no sudoeste do Estado, pode ser atribuído basicamente às políticas públicas de fomento (Programa de Informática Industrial, Lei de Informática, SOFTEX e W-Class) e 8 Como o levantamento das informações da RAIS, é feita a partir dos registros administrativos dos estabelecimentos, sendo a atividade econômica (CNAE) declarada pelo método da autoclassificação, a escolha das quatro classes CNAE, chamadas no seu agregado como atividades de Software, baseou-se no fato de que em todas elas seria possível verificar a presença de atividades de desenvolvimento de software, uma vez que as empresas deste setor, principalmente as pequenas, podem ter multitarefas. 162 Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná às redes de apoio às empresas, como as incubadoras tecnológicas, o conjunto de universidades e instituições de ensino superior, públicas e privadas, e de diversas outras instituições que compõem um quadro institucional bastante complexo e diversificado de suporte à atividade de software. Semelhanças do contexto político e institucional inicial As aglomerações de empresas de software em Curitiba e no sudoeste do Estado apresentam características diferentes, a começar pelo número de estabelecimentos. Todavia, a despeito das diferenças, há um aspecto muito relevante, especialmente no que se refere ao desenvolvimento desses setores em suas fases iniciais. Tabela 2 - Estabelecimentos e vínculos empregatícios em 31/12/2004 Sudoeste Classe CNAE 7210 7221 7229 7240 Curitiba Descrição Consultoria em hardware Desenv. de SW prontos para uso Desenv. de SW sob encomenda Processament o de Dados Total Total Pato Branco Estabelec. Vínculos Dois Vizinhos Estabelec. Vínculos Francisco Beltrão Estabelec. Vínculos Estabelec. Vínculos Estabelec. Vínculos 74 461 3 22 1 49 0 0 4 71 31 195 3 16 2 5 1 2 6 23 30 167 2 11 0 0 1 1 3 12 19 154 77 900 7 15 42 91 1 4 5 59 0 2 0 3 8 175 47 1053 Fonte:MTE/RAIS No que tange a políticas públicas explícitas para a atividade de software, o marco da montagem de um núcleo de informática no Estado foi a criação do Projeto de Informática Industrial (PII), em 1987, que contou com a coordenação do Centro de Integração de Tecnologia do Paraná - CITPAR9 e com o apoio de outras instituições estaduais, federais empresariais. Seu objetivo era formar recursos humanos em tecnologia de automação industrial, devendo gerar massa crítica e um ambiente favorável para a criação de empresas voltadas ao desenvolvimento de tecnologias e aplicativos para a área de informática industrial. Entretanto, essa iniciativa só foi possível porque os ativos institucionais fundamentais para o setor e as instituições de ensino técnico e superior já haviam sido Sociedade civil, de direito privado, sem fins lucrativos, criada em 1985 com o objetivo de promover o desenvolvimento tecnológico-industrial das empresas paranaenses. 9 163 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná estabelecidos no estado (nesse caso, entenda-se em Curitiba) anteriormente. As instituições de destaque em Curitiba, no que diz respeito ao ensino, pesquisa e extensão, são a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e o Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR), que tiveram início, respectivamente, em 1959, em 1964 com a Escola Técnica de Curitiba e, em 1910, com a Escola de Aprendizes de Curitiba. No caso específico da UFPR, as duas datas relevantes para a atividade de software foram a criação do Centro Politécnico em, 1961, e do Departamento de Estatística e Computação Eletrônica, em 1971. Por sua vez, na região sudoeste, o marco inicial da atividade de desenvolvimento de software foi a criação do curso de Tecnologia em Processamento de Dados, na Fundação de Ensino Superior de Pato Branco (FUNESP), em 1986. O curso formou grande parte dos empresários pioneiros do setor na região. Em 1994, a FUNESP foi incorporada ao Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR)10, como Unidade de Ensino Descentralizada de Pato Branco. Atualmente, essa unidade oferece cursos de tecnologia em sistemas de informação, manutenção industrial, automação de processos industriais, administração, matemática, ciências contábeis, entre outros. No escopo do Projeto de Informática Industrial (PII), foram inaugurados, inicialmente, cursos de especialização em informática industrial na PUC-PR, que posteriormente, transferiram-se para o CEFET-PR, quando houve a mudança para o status de mestrado. (CUNHA, 1995). Essa experiência pioneira, mesmo em nível nacional, foi fortalecida, em 1989, com a criação da Incubadora Tecnológica de Curitiba (INTEC) nas dependências do Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR), que é uma instituição de pesquisa, desenvolvimento e fomento tecnológico do Governo do Estado, localizado na CIC. A INTEC viabilizou o que hoje talvez seja o principal caso de sucesso brasileiro de empresa graduada numa incubadora: a Bematech.11 Nos anos de 1990, o setor ganhou novo fôlego com o desenvolvimento de políticas públicas no estado de forma integrada ao movimento nacional de crescimento da indústria de informática brasileira, com a Nova Lei de Informática. Em 1992, no intuito de diversificar o desenvolvimento de tecnologias, não apenas centradas em hardware, foi criado, em Curitiba, o Centro Internacional de Tecnologia de Software (CITS), entidade civil de direito privado, sem fins lucrativos, resultante da ação integrada dos governos municipal e estadual, empresas, O Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR) foi transformado em Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) pela lei nº 11.184, de 7 de outubro de 2005. 11 Hoje, essa empresa é líder nacional no segmento de mini-impressoras fiscais e utilizou as estruturas da INTEC para viabilizar os resultados de uma dissertação de mestrado, realizada no CEFET, na área de automação industrial, por um dos sócios da empresa. 10 164 Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná universidades e instituições de pesquisa. Iniciou suas operações, primeiramente, como escritório junto à Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação, Software e Internet do Paraná (ASSESPRO-PR). Porém, o marco mais importante deste processo foi o lançamento do Programa SOFTEX 2000, uma iniciativa do Ministério de Ciência e Tecnologia, sob a coordenação do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), que objetivava fortalecer a indústria nacional de software a partir da promoção da comercialização dos produtos e serviços brasileiros no exterior.12 O programa foi concebido de forma a funcionar com uma estrutura descentralizada, a partir da criação de núcleos regionais. Os objetivos gerais de cada núcleo eram prestar apoio técnico, gerencial e de marketing às empresas associadas, fornecendo uma estrutura com laboratório compartilhado para o desenvolvimento de software, a partir de equipamentos adequados, redes corporativas, acesso à internet, bolsas do CNPq, treinamento, incubação de novas empresas e auxílio na participação em feiras e eventos no exterior, utilizando tanto recursos próprios, como aqueles alocados pelo programa. Esses núcleos seriam a expressão da parceria que caracterizava o programa SOFTEX: setor privado (empresas de software), poder público (secretarias de desenvolvimento estaduais e/ou municipais) e entidades de ensino e pesquisa. (ROSELINO, 1998). Por outro lado, o programa exigia contrapartidas locais, normalmente das prefeituras, nos mesmos montantes de recursos despendidos pelo SOFTEX. No caso específico de Curitiba, o município sediou o primeiro núcleo do programa, aproveitando, para isso, a infraestrutura do CITS para abrigá-lo. Em conjunto à Lei de Informática, isso induziu rapidamente o desenvolvimento das atividades de software na cidade, bem como fortaleceu o CITS, provendo condições para materializar, no período 1993/94, a construção de um parque tecnológico, exclusivamente dedicado ao software: o Parque de Software de Curitiba.13 O programa SOFTEX também teve grande importância em outras regiões do Estado, como são os casos de Londrina e Maringá. Especificamente na região sudoeste, em O programa tinha metas ambiciosas, até mesmo irreais, no que concerne à conquista do mercado internacional de software (conseguir 1% do mercado mundial de software até o ano 2000), mas sua importância como fomento às atividades de software no país são inquestionáveis. 13 Passados alguns anos, pode-se avaliar que, em razão da forma como foi operacionalizado, o Parque de Software não gerou as sinergias esperadas, pelo contrário, recuperou a visão tradicional de área industrial, uma vez que foram oferecidos basicamente incentivos fiscais e terrenos em loteamentos (ativos fixos), o que é claramente incompatível com o investimento em atividades de software (SAMPAIO, 2006). Além disso, o fato de o Parque de Software localizar-se na Cidade Industrial de Curitiba (CIC) representa um empecilho, na medida em que grande parte das instituições de ensino superior com cursos na área de informática localiza-se na região central do município. 12 165 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná 1996, teve início o projeto Pato Branco Tecnópole, implantado como uma estratégia de desenvolvimento14, durante a gestão (1997-2000) do prefeito de Pato Branco. Este projeto aproveitou a estrutura do CEFET-PR, em Pato Branco, e possibilitou a instalação do: a) Centro Softex Gênesis Empreender: o projeto tinha como objetivo promover novos negócios na área de desenvolvimento de softwares e consolidar empresas em desenvolvimento, concedendo auxílio financeiro e material a algumas empresas; b)CETIS (Centro Tecnológico e Industrial do Sudoeste do Paraná): trata-se não de um parque, mas de um condomínio tecnológico que atualmente abriga 6 empresas, com atividades que vão do desenvolvimento de softwares (há uma empresa que opera no modelo de fábrica de Software) à produção de placas de circuito impresso e componentes eletrônicos. O CETIS também abriga empresas incubadas, especialmente em fase de aceleração, isto é, voltadas à ampliação de canais de comercialização; c) Hotel Tecnológico: localizado junto à administração do CETIS, o Hotel tem como objetivo apoiar estudantes empreendedores em seus primeiros passos, auxiliando no desenvolvimento do projeto. Atualmente, o Hotel Tecnológico é uma das três fases do Programa de Incubação de Empresas de Pato Branco (PRINE/PB), que engloba, ainda, a incubadora Gênesis e a incubadora INTIC. Por fim, o último marco do setor de software, no âmbito do governo estadual, foi o lançamento, em 1999, do Programa Paraná Classe Mundial em Software e Comércio Eletrônico, também conhecido por W-Class. Partindo da constatação de que o estado do Paraná já possuía os recursos humanos suficientes, tinha uma base industrial importante e um relativo destaque nas atividades em software, tanto empresarialmente como academicamente, este programa foi lançado com o objetivo de elevar o Paraná à Categoria Classe Mundial em Tecnologia da Informação e Comunicação, com ênfase nas áreas de Software, Hardware e Telecomunicações.15 O significado do termo classe mundial seria o de possuir os mais elevados padrões de competitividade onde quer que seja, conforme indica o documento original do programa. O lançamento do W-Class marcou o auge do software na agenda política estadual. Foram criadas novas instituições de apoio ao setor, com vários projetos em diferentes segmentos e municípios paranaenses, visando criar desde redes de excelência à geração de O projeto estava baseado em três pilares: a) Conhecimento e tecnologia: transformar a cidade de Pato Branco em um grande centro de inovação, gerando bens e serviços de tecnologia de informação, por meio do conhecimento adquirido nos centros universitários e institutos de pesquisa; b) Desenvolvimento econômico: promover o crescimento econômico baseado em produção de tecnologia de ponta; c) Qualidade de vida: ter a qualidade de vida como princípio, trabalhando na transformação sócioeconômica e cultural por meio de um conceito de avaliação continuada. (SEPL-IPARDES, 2006) 15 W-Class Paraná Classe Mundial em Tecnologia da Informação e Comunicação, relatório de atividades do período junho de 2000 a dezembro de 2002. 14 166 Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná novos empreendimentos, consolidação de competências regionais, promoção de soluções inovadoras, apoio à comercialização e qualidade, criação de identidade digital, introdução de TIC em cadeias estratégicas, disseminação dos conceitos de classe mundial.16 Devido a sua natureza transversal e abrangente e seu elevado dinamismo em termos de crescimento, inovação e empreendedorismo, o desenvolvimento de softwares é uma atividade que reage rapidamente e de forma positiva quando na presença de políticas de apoio ao setor; por outro lado, também reage rápido na falta dessas políticas, só que de forma negativa. O período de pouco menos de uma década em que vigoraram importantes políticas de apoio, como o programa Softex, foi insuficiente para consolidar um vínculo entre as empresas e as instituições, que poderia estabelecer uma capacidade sistêmica de inovação e competitividade das empresas de software. Com efeito, a carência de novas políticas ou da continuidade das previamente existentes desarticulou as relações ainda frágeis de governança17, especialmente em Curitiba. Estágios distintos de desenvolvimento e necessidades diferenciadas A existência de instituições, especialmente as de ensino superior, são determinantes, juntamente com políticas públicas de apoio, para o surgimento e desenvolvimento inicial da atividade de software em diferentes localidades. Entretanto, em razão de características peculiares a cada local, incluindo o próprio contexto institucional existente, o desenvolvimento do setor ocorre de forma diferenciada, determinando, como consequência, necessidades diferenciadas. Dentre as aglomerações de empresas de desenvolvimento de software no Paraná, certamente Curitiba é o local que apresenta a maior diversificação, como se pode observar na Figura 2, o que vem a validar a caracterização dessa aglomeração como um vetor avançado. A inexistência de uma especialização, em termos dos segmentos atendidos, é uma tendência do setor, com empresas diversificadas oferecendo não apenas produtos, mas também uma gama de serviços correlatos e outsourcing em TI. O programa tinha metas muito ambiciosas e sem definição clara de prioridades. Desta forma, acabou durando menos tempo do que o esperado e os seus resultados são alvos de certas polêmicas provenientes, principalmente, do elevado grau de politização do tema software no Paraná. 17 Governança é entendida como a capacidade de coordenação e comando que certos agentes, como empresas e instituições, podem exercer sobre as interrelações produtivas, comerciais, tecnológicas, políticas e culturais dentro de um sistema de produção local, que, portanto, podem, de alguma forma, ser decisivos no desenvolvimento de tal aglomeração especializada de empresas (SUZIGAN; FURTADO; GARCIA, 2003). 16 167 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Segmento de Mercado Principal * Número de empresas ** Aeroespacial 1 Automação Comercial 2 Automação Industrial e Embarcados 8 Bancário/Financeiros 2 Banco de Dados e Gerenciamento Eletrônico de Documentos (GED) 5 Consultoria, Outsourcing e Desenvolvimento de Sistemas 17 Educacional Games 2 6 Geoprocessamento 1 Gestão ERP (Entreprise Resource Planning) 37 Integração de Sistemas 5 Telecomunicações Transito 2 4 Total 92 Figura 2 - Mapa de distribuição do número de empresas identificadas na aglomeração produtiva de software de Curitiba, por bairros e por segmento principal de mercado, no ano 2004 * Pelo fato de as empresas, normalmente, atuarem em mais de uma atividade (desenvolvimento, serviços e consultoria, banco de dados, páginas na Internet), bem como em diferentes segmentos de mercado, pode mudar este quadro consideravelmente ano a ano. ** Empresas identificadas em relação ao segmento principal de mercado de cada uma, bem como sua localização geográfica nos bairros do município de Curitiba. Fonte: Sampaio (2006). 168 Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná Naturalmente, o grande número, a diversificação de atividades e a desconcentração espacial das empresas nos bairros de Curitiba são fatores de complexidade que dificultam a coordenação dos interesses comuns do setor no município. O principal desafio para o desenvolvimento das empresas de software em Curitiba é exatamente a formação de uma governança, que possibilite a aglutinação de demandas e necessidades comuns e, consequentemente, o crescimento conjunto das empresas, tanto no mercado doméstico, quanto no exterior. O contexto institucional atual é uma consequência da súbita interrupção das políticas públicas para o setor que resultou numa base frágil para ações cooperadas, crise financeira nas incubadoras tecnológicas e perda de ação coordenadora por parte do CITS, instituição que deveria assumir um papel chave na construção da governança.18 Por isso, caso se pretenda estabelecer em Curitiba as condições para o desenvolvimento de um sistema inovativo, é fundamental o reordenamento dos papéis de instituições presentes que possibilitem a construção da confiança e o estímulo de relações informais entre os agentes, como sugerem Breschi e Malerba. (2001). Com relação à disponibilidade de recursos de uso comum, como universidades, instituições de pesquisa e à oferta de trabalhadores qualificados e especializados, que é outro elemento importante em um sistema de inovação, as bases já estão estabelecidas em Curitiba. No levantamento realizado por Sampaio (2006), para o caso específico da infraestrutura de ensino e tecnologia, pôde-se identificar, a partir de dados do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), 32 instituições de ensino superior, com cerca de 74.280 alunos matriculados em 2002, sendo 17 delas oferecendo cursos relacionados ao setor de software (Ciência da Computação, Engenharia da Computação, Sistemas de Informação e Informática). Para o segundo caso, pode argumentar que a atividade de software no Sudoeste do Paraná (nos municípios de Pato Branco, Francisco Beltrão e Dois Vizinhos) encontra-se num estágio mais embrionário, mas com grande potencial de desenvolvimento. As diferenças entre Curitiba e o Sudoeste em termos de estabelecimentos e empregos formais (vide a tabela 2) são evidentes. Todavia, é necessário fazer a comparação em termos relativos. Pato Branco e Francisco Beltrão constituem-se como os dois principais centros urbanos da região, cada um dos municípios com uma população de aproximadamente 70 mil habitantes (estimativas do IBGE para 2005). Dois Vizinhos, por sua vez, tem uma Por questões de autossustentação e de desinteresse das instituições que compõem seu conselho, o CITS, atualmente, tem priorizado a prospecção de negócios e parcerias em projetos de mantenedores que revertem fundos para a instituição, ficando em segundo plano quaisquer ações coletivas para o setor. Um exemplo disso é o fechamento de sua incubadora tecnológica, ação que exige emprego de recursos praticamente a fundo perdido. 18 169 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná população de aproximadamente 35 mil habitantes. As cidades distam a menos de 60 quilômetros umas das outras. Pato Branco tem um índice de desenvolvimento humano (IDH-M/2000) de 0,849, o terceiro maior do Estado. Francisco Beltrão e Dois Vizinhos ficam, respectivamente, na 38ª e 83ª colocação entre os 399 municípios do Paraná. Com relação ao segmento de mercado das empresas, os dados da pesquisa de campo realizada por SEPL-IPARDES (2006) indicam a prevalência de softwares para gestão de empresas (ERP Enterprise Resource Planning) e automação comercial. Das dezenove empresas pesquisadas na região19 quinze teriam, ao menos, um produto ou serviço nessa área.20 Todavia, esse modelo acabou resultando na concorrência entre as próprias empresas da região em segmentos de software para gestão de escritórios de contabilidade, clínicas médicas, pequeno varejo, cerealistas, aviários e integradoras. Conforme argumentou-se os na seção anterior, o impulso às atividades de desenvolvimento de software na região sudoeste tem como elementos fundamentais: a oferta de cursos relacionados a software a partir do CEFET-PR, que, por sua vez, criou as condições para o segundo elemento, o projeto Pato Branco Tecnópole. É importante ressaltar que a atividade não foi artificialmente induzida pelas políticas, ou seja, mesmo com o fim do projeto e do apoio de políticas, como o SOFTEX e o W-Class, o setor não se dissipou, isto é, a maioria das empresas continuou em operação. Foi criada uma nova instituição de apoio à atividade de software em Dois Vizinhos, à Associação para o Desenvolvimento Tecnológico e Industrial do Sudoeste do Paraná (SUDOTEC), e foram abertos cursos de graduação em Sistemas de Informação em Pato Branco, Francisco Beltrão e Dois Vizinhos. Com efeito, diferentemente de Curitiba, na região sudoeste, a falta de uma governança não é o principal obstáculo para a atividade. Além da SUDOTEC, o setor tem sido foco de atenção de diversas instituições, como as faculdades e universidades, o Sebrae de Pato Branco, o Núcleo de Tecnologia da Informação de Pato Branco (NTI)21 e as prefeituras municipais. Além disso, Pato Branco conta com um núcleo do Projeto de Extensão Industrial Exportadora (PEIEx) voltado para a atividade de software. Os resultados mais evidentes dessa cooperação seriam o evento do Sematis (Semana de Tecnologia da A despeito dos dados da RAIS, segundo relato dos próprios empresários da região, no início de 2006, haveriam cerca de 30 empresas em Pato Branco e 4 em Dois Vizinhos e também em Francisco Beltrão. (SEPL-IPARDE, 2006). 20 Segundo o documento da SEPL-IPARDES (2006), as empresas consultadas alegam que o segmento de software de gestão é a melhor opção em termos de fluxo de caixa (cobrança de mensalidades pelos serviços de atualização ou suporte ou pela locação da licença), ou seja, avaliam como o melhor modelo de negócios para suas realidades, sobretudo, em relação ao porte das empresas e ao acesso a mercados. 21 Essa instituição foi criada durante o período do projeto Pato Branco Tecnópole e visa à indução ao desenvolvimento das empresas de softwares e a agregação de interesses dessa empresas. 19 170 Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná Informação do Sudoeste do Paraná) e o AfterTaste, que é um encontro de usuários da linguagem de programação Java do Mercosul, ambas realizadas em Pato Branco. Outro exemplo significativo da cooperação entre as instituições é o projeto Aprender e Crescer, iniciado em Dois Vizinhos, no início de 2006, e já replicado em Pato Branco. O projeto tem o objetivo de capacitar alunos de escolas públicas estaduais, em nível de segundo grau e pós-médio, na área tecnológica de análise de suporte em softwares de gestão empresarial, proporcionando uma melhor qualificação para o primeiro emprego. Essa iniciativa surgiu a partir da carência, na região, de recursos humanos para atividades de suporte e assistência técnica e também por profissionais com outras qualificações não estritamente técnicas, como administração e contabilidade. O curso é ministrado aos sábados por profissionais das empresas de software de Dois Vizinhos, nas dependências disponibilizadas pela prefeitura ou instituições de ensino superior do município. O projeto é resultado de uma parceria de empresários de Dois Vizinhos, com a SUDOTEC, a Prefeitura Municipal, as instituições de ensino superior do município e o núcleo estadual de educação. Face a esses fatos, a necessidade mais premente do setor de software na região é a profissionalização das instituições de apoio, como a SUDOTEC e o NTI, com vistas à estruturação de projetos de interesse coletivo e à formação de câmaras técnicas, para discussão de temas como convergência tecnológica e perspectivas para o caso da entrada de grandes empresas. A entrada de grandes empresas no mercado estadual, num modelo de fábrica de software (desenvolvimento de módulos, ou códigos de programação, a partir de requisitos pré-estabelecidos) representa um risco para as pequenas empresas, não pela concorrência direta, mas por minar a oferta de profissionais capacitados na região. Enquanto estratégia de desenvolvimento sócioeconômico, com geração de emprego e renda e agregação de valor, o apoio às atividades de cunho tecnológico numa região de tradição agropecuária, como é o caso do Sudoeste, é muito relevante. Um paradigma, nesse caso, seria a aglomeração de empresas de tecnologia em telecomunicações em Santa Rita do Sapucaí (MG). POLÍTICAS SETORIAIS E LOCAIS PARA SOFTWARE Software está estritamente ligado ao atual paradigma tecnológico baseado na microeletrônica e nas novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Seu caráter abrangente e transversal torna o software obrigatório em diversas cadeias produtivas em que participa, com enorme potencial dinamizador em toda base técnica da estrutura produtiva. 171 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Por esse motivo, software é uma das opções estratégicas da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), lançada oficialmente em 2004. No que se refere às exportações de software, o Brasil ainda tem uma inserção extremamente modesta no mercado mundial, como se pode observar a partir da tabela 3. Segundo Kubota (2006), diferentemente do que ocorre com Irlanda e Índia, referências em termos de inserção nos mercados de software, o mercado doméstico brasileiro é bastante significativo, desestimulando as exportações nacionais. Por outro lado, Roselino (2006) defende uma interessante tese a respeito do padrão brasileiro de desenvolvimento de sua indústria de software. Para o autor, a indústria brasileira apresenta aspectos promissores, apesar dos seus resultados externos ainda pouco expressivos. Comparando os três modelos de desenvolvimento, caracterizados como paradigmáticos, um voltado à exportação de serviços em software (caso indiano), outro voltado à exportação de software produto (caso irlandês) e o terceiro voltado para o mercado interno (caso chinês) -, Roselino (2006) aponta que, para os dois primeiros, a inserção ocorreu com baixa autonomia tecnológica e dependência, tanto da intensidade da demanda internacional, como das estratégias corporativas de empresas transnacionais. Tabela 3 - Os principais mercados mundiais de software no ano de 2002 Países EUA Japão Alemanha China Índia Irlanda (MNCs) Irlanda (Doméstico) Brasil22 Israel Vendas Software (1) (Receitas em US$ bi) 200 85 ** 39,8 * 13,3 12,5 12,3 1,6 7,7 4,1 Empregos (2) (mil) 1.024 534 300 190 250 15,3 ** * ** 12,6 * 160 15 Vendas por Empregos (1)/(2) (mil) 195,3 159,2 132,7 37,6 50,0 803,9 ** * ** Participação da Indústria de Software no PNB (%) 2,0 2,0 2,2 1,1 2,5 10,1 1,3 127,0 ** 45,5 273,3 ** 1,5 3,7 Fonte: Elaborado a partir de Arora e Gambardella (2004). * = 2001; ** = 2000. Na opinião do autor, apesar de as exportações serem, de alguma forma, uma medida do grau de desenvolvimento de uma indústria nacional, a avaliação do desempenho exportador não pode ser apenas quantitativo, mas sim pautado por um exame qualitativo a Valores estimados a partir do Panorama do Setor de Informática do Ministério da Ciência e Tecnologia (SEPIN/MCT) de 2002 e Revista Exame Informática - Maiores e Melhores de 2002. 22 172 Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná respeito do tipo de software exportado. Somente assim seria possível compreender a verdadeira inserção internacional de uma indústria de software nacional. Receitas menores, baseadas em exportações de atividades mais complexas e dinâmicas, podem representar resultados mais virtuosos do que os casos com vultosos números obtidos em atividades menos relevantes, como é a situação da Índia. (ROSELINO, 2006). Em relação ao terceiro modelo, no qual a indústria brasileira melhor se encaixa, o autor observa uma semelhança com o caso original norte-americano, isto é, uma indústria de software articulada com os setores do complexo eletrônico que apresenta assim um maior grau relativo de autonomia com relação às indústrias dos países centrais. A complexidade do mercado interno consistiria numa base sólida para a estruturação de uma vigorosa indústria de software, capaz de conquistar competitividade e eficiência, mesmo em segmentos com altas barreiras à entrada. Nesse sentido, numa segunda ótica a respeito do padrão brasileiro, pode-se observar que alguns segmentos da indústria de software no país foram capazes de construir posições altamente competitivas em segmentos importantes do mercado interno. Tais segmentos poderiam funcionar como uma incubadora de capacitações para as firmas nacionais, potencializando uma expansão em direção ao mercado internacional. São destacadas as soluções nas áreas financeiras, bancárias e telecomunicações, em que o nível de exigência dos clientes domésticos é bastante alto, comparável, em qualidade, ao padrão internacional. (BOTELHO, et al 2005). Dessa forma, no âmbito de uma política industrial (PITCE) com foco no aumento das exportações, a atividade de software deveria ser pautada em políticas para os setores que viabilizassem o aumento da competitividade das firmas nacionais. Na atual circunstância, não há, no Brasil, muitos negócios em condições efetivas de exportação, principalmente por deficiências em requisitos de certificações exigidos em mercado internacional competitivo. Silvio Meira (2004) propõe que uma política setorial para software deva considerar, pelo menos, três ciclos de vida: o do software, o de sua venda e o dos negócios de software e serviços. Em primeiro lugar, o ciclo de vida do software reúne questões como a tecnologia utilizada, os métodos e processos, a qualificação e a certificação de capital humano. Nesse quesito, o Brasil já conta com um conjunto de instituições de ensino, todavia, seria necessário ampliar o investimento em recursos humanos e, de forma prática, reduzir a distância entre a academia e a indústria. Kubota (2006) vai além e sugere atenção à educação básica, buscando a melhoria na formação média dos alunos brasileiros, especialmente nas disciplinas de inglês e matemática. 173 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Em segundo lugar, o ciclo de venda de software, bastante distinto de outros setores como o de commodities agrícolas, requer um aprimoramento da capacidade de negociação das empresas, que deve estar associada ao aumento da capacidade de entrega. Iniciativas de grandes empresas brasileiras, por meio da formação de associações para exportação, como é o caso da Brasscom, são extremamente válidas, pois permitem economias de escopo e o rateio entre os associados dos custos de buscar mercados no exterior.23 (MEIRA, 2004; KUBOTA, 2006). Em terceiro lugar, o ciclo de vida de negócios requer a criação de redes de investidores de diferentes níveis, com vistas ao aumento da liquidez do investimento em software. O incentivo ao investimento em empresas de tecnologia, a aposta nas incubadoras tecnológicas, a articulação de um mercado de acesso, a renovação da bolsa de valores, a transformação das grandes empresas em negócios ainda maiores e abertos são fundamentais para atrair a atenção de potenciais investidores para o setor de tecnologias da informação e software no Brasil. (MEIRA, 2004). A atividade de software no país enfrenta sérias restrições financeiras, decorrentes da insuficiência de fundos públicos existentes24 e da incapacidade do mercado de Venture Capital (VC) de suprir as necessidades das pequenas empresas.25 Ademais, os bancos são extremamente avessos a efetuar empréstimos a empresas de software, uma vez que estas apresentam um baixo nível de garantias reais. Por isso, como sugere Kubota (2006), seria muito relevante para o setor uma integração das iniciativas dos diferentes níveis governamentais. Outro aspecto importante para o ingresso em mercados internacionais são as certificações, pois funcionam como uma sinalização de qualidade e eficiência nos mercados estrangeiros. Com o objetivo de promover a qualificação de empresas segundo padrões de qualidade aceitos internacionalmente pela comunidade de software, como ISO e CMM26, No caso de pequenas empresas, a formação de consórcios poder ser a única forma de ingresso no mercado internacional. Segundo Meira (2004), esse modelo poderia consistir na criação de instituições ou companhias agregadoras, capazes de negociar realização de serviços no mercado global e terceirizar uma parte dos contratos para empresas menores, mas que tivessem qualidade, produtividade e certificação exigidos. Já Kubota (2006, p. 43) sugere que, [...] para pequenas empresas, a estratégia recomendada é desenvolver alianças estratégicas com empresas estrangeiras e comercializar produtos de nicho por meio da internet. 24 É louvável a mudança na orientação do BNDES e da FINEP com vistas ao apoio às atividades inovativas, por meio, respectivamente, da reedição do Programa PROSOFT e da abertura de chamadas públicas com foco em pequenas empresas e nos setores prioritários da PITCE, utilizando recursos dos fundos setoriais como o CT-INFO. Outra importante iniciativa da Finep é o programa Juro Zero, iniciado no Paraná, que visa facilitar o acesso ao crédito às empresas inovadoras, por meio de empréstimos sem juros reais e sem garantias reais (exigindo somente aval, fundos de reserva e fundo de garantias de crédito). 25 Veja Albergoni (2006) para maiores informações sobre a situação recente do mercado de Venture Capital no Brasil. 26 O CMM (Capability Maturity Model) é o modelo de processos em software mais conhecido internacionalmente no setor, desenvolvido pela SEI (Software Engineering Institute), trata-se de um conjunto de processos com vistas à melhoria no desenvolvimento de aplicações, sendo dividido em 5 níveis: inicial, repetível, definido, gerenciado com métricas e otimizado. (KUBOTA, 2006) 23 174 Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná mas a custos acessíveis para a grande maioria das empresas brasileiras, a associação SOFTEX, com o apoio do Ministério de Ciência e Tecnologia, lançou o Projeto de Melhoria de Processos do Software Brasileiro (MPS.BR). O projeto está focado em pequenas e médias empresas e prevê a avaliação periódica das empresas a cada dois anos. Em Curitiba, o CITS é o agente SOFTEX implementador do MPS.BR. Todas essas dimensões ressaltam o caráter interinstitucional de uma política para o setor de software no país, algo que vem ocorrendo no âmbito da política industrial. A PITCE tem envolvido diferentes órgãos de governo, sendo que, a partir de suas diretrizes, foram criadas instituições como o Conselho de Desenvolvimento Industrial (CDI) e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Foram reavaliadas as prioridades de investimentos dos fundos setoriais, o mesmo valendo para a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX) e para o BNDES que recriou o programa PROSOFT27 e tem apoiado, explicitamente, a fusão de empresas de software, de forma a consolidar algumas empresas brasileiras no enfrentamento da concorrência internacional fora e dentro do país. Além disso, buscou-se atender a uma reclamação geral das empresas, instituindose um Regime Especial de Tributação para a Plataforma de Exportação de Serviços de Tecnologia da Informação (Repes). Particularmente, o fato de a atividade de software ser baseada em capital humano torna, o peso dos encargos trabalhistas, proporcionalmente, maior do que no caso de empresas industriais. A lei nº 11.196/2005 (antiga MP do Bem) exonerou da contribuição ao PIS e COFINS as empresas de software que assumam compromisso de exportação no valor mínimo de 80% de sua receita bruta anual de vendas. Entretanto, tal medida é controversa, pois, em razão das exigências de exportação, poucas empresas brasileiras teriam condições de usufruir o beneficio no curto prazo, o que poderia atrair a entrada de empresas multinacionais no mercado nacional (KUBOTA, 2006, p. 44). Outra lei significativa para o setor é a chamada Lei de Inovação (Lei 10.973/2004), que regulamenta e estabelece medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, busca fortalecer as parcerias entre empresas, universidades e institutos científicos, além de tecnológicos e estimular o processo de inovação no país. A Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) absorveu esse recente contexto, editando chamadas públicas com o objetivo de selecionar projetos de inovação tecnológica de interesse de Micro e Pequenas Empresas (MPEs) a serem executados por Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs), públicas ou privadas, em cooperação com MPEs brasileiras O PROSOFT passou a configurar-se em três componentes ou subprogramas: (a) o PROSOFT-Empresa, para apoio às empresas voltadas ao desenvolvimento de software e serviços; (b) o PROSOFT-Exportação, para apoio às estratégias de comercialização no exterior e internacionalização de empresas brasileiras; (c) PROSOFT-Comercialização, para financiar o comprador de soluções em software. 27 175 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná inseridas em Arranjos Produtivos Locais (APLs) e no âmbito das prioridades estabelecidas na Política Industrial Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE).28 Outro programa que objetiva o aumento da capacidade de inovação e competitividade das empresas, específico para a atividade de desenvolvimento de software, é de iniciativa do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e do Departamento Nacional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). O projeto Tecnologia da Informação e Comunicação foi iniciado em 2006, a partir do APL de Software de Curitiba, e deverá realizar a capacitação de 15 empresas na elaboração e na gestão de projetos de TI e Comunicação e de desenvolvimento de produtos, abrangendo, ainda, itens como segurança e certificações. Um aspecto muito interessante dessas políticas de cunho científico e tecnológico é que, apesar de serem preponderantemente de competência federal, seus instrumentos de ação e a sua execução são desenvolvidos a partir de elementos locais (CUNHA, 1995). Nesse sentido, as políticas nacionais para o setor de tecnologia devem ter relação sinérgica com as políticas estaduais e locais, tal qual a política de apoio aos APLs, pois são, em grande parte, implantadas localmente. Como sugere a literatura da Geografia da Inovação, o desenvolvimento de condições propícias à inovação requer o estabelecimento de arranjos institucionais adequados. Modismo ou não, a política de APLs per se tem o mérito de favorecer a formação de uma governança local, capaz de articular iniciativas de interesse coletivo, como a captação de recursos ou o encaminhamento de projetos, potencializando, assim, as políticas setoriais nacionais. CONCLUSÃO O Software é uma atividade diferente. Está estritamente ligado ao atual paradigma microeletrônico, sendo um dos componentes básico do tripé das chamadas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC): hardware-software-serviços. A análise dos resultados revelou que as políticas locais de apoio ao desenvolvimento de software, nos moldes das políticas de apoio aos APL, são viáveis. No entanto, devido à necessidade de incrementar a competitividade das empresas brasileiras nos mercados internacionais de software, por meio do desenvolvimento de soluções inovadoras, o impacto de ações locais pode ser relativamente exíguo, caso não sejam associadas às políticas setoriais mais amplas. Texto extraído da CHAMADA PÚBLICA MCT/SEBRAE/FINEP/Ação Transversal Cooperação ICTs MPEs 07/2006". Disponível em: <http://www.finep.gov.br/>. Acesso em: 13 de agosto de 2006. 28 176 Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná A inserção brasileira na divisão internacional de desenvolvimento de software ainda é incipiente. O mercado interno tem sido bem explorado por empresas nacionais e internacionais, tem sido observado o desenvolvimento de fábricas de software e software empresariais, tipo ERP. Mas, muitas das ferramentas de desenvolvimento são importadas. Logo há espaço para o desenvolvimento local de novas ferramentas. Entre as principais contribuições da pesquisa, destaca-se a importância das instituições e das políticas públicas, a partir de exemplos do Paraná. É fundamental a sinergia entre políticas locais ou regionais com políticas setoriais / nacionais. REFERÊNCIAS ALBERGONI, L. 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Sistemas locais de produção: mapeamento, tipologia e sugestões de políticas. Revista de Economia Política, v.26, n.4, 2004. 178 Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná TRINTIN, J.G. Raízes do recente desenvolvimento paranaense. Economia em Revista, Departamento de Economia da UEM, v 9, n.1-2, p.37-46, jan/dez/2001. VERRI, E.J.; GUALDA, N.L.P. O desenvolvimento da indústria no Paraná: algumas considerações sobre suas transformações. Economia em Revista, Departamento de Economia da UEM, v.9, n.1-2, p.47-61, jan/dez, 2001. 179 Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná INTRODUÇÃO O presente capítulo toma como ponto de partida os resultados de um amplo projeto de pesquisa, coordenado pelos autores, com o propósito de mapear e estudar arranjos produtivos locais do estado de Paraná e propor políticas estaduais e ações institucionais de apoio. Esse projeto de pesquisa foi realizado em 2005-2006 e os primeiros resultados foram divulgados ainda em 2006.1 Essa contextualização visa esclarecer, desde logo, duas questões essenciais ao correto entendimento da natureza e dos propósitos do capítulo. Em primeiro lugar, ele representa a etapa final de um trabalho, fortemente apoiado em fundamentos analíticos, em métodos estatísticos e em pesquisa de campo com aplicação de questionários. Por isso, a maior parte do capítulo é dedicada a discutir os problemas para políticas públicas identificados naquele trabalho e à elaboração de proposições de políticas e ações institucionais, visando soluciona-los. E, também por isso, é bastante sumária, neste capítulo, a discussão dos fundamentos analíticos e dos aspectos metodológicos da pesquisa. Em segundo lugar, como o foco da pesquisa foi direcionado a uma unidade da federação, as políticas aqui propostas referem-se especificamente, às políticas públicas estaduais, embora algumas das ações institucionais sugeridas contenham, também, elementos de políticas e programas administrados por instituições de outras esferas de governo, ou mesmo de instituições, como as do denominado Sistema S. Isso implica tomar as políticas macroeconômicas (juros, câmbio e carga tributária) como parâmetros sobre os quais só é possível atuar de forma indireta ou compensatória. A política estadual não pode baixar a taxa de juros, mas pode criar sistemas de informação e instrumentos específicos que melhorem o conhecimento, que ajudem a cumprir exigências contratuais e que facilitem o acesso às linhas de financiamentos adequadas às demandas das empresas locais. Da mesma forma, não pode ajustar a taxa de câmbio, mas Ver IPARDES (2006). Posteriores relatórios técnicos e textos metodológicos, dados estatísticos e estudos de casos não publicados encontram-se disponíveis no sítio www.ipardes.gov.br. 1 183 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná pode utilizar instrumentos de políticas ou ações que levem a um significativo aumento da eficiência produtiva e da produtividade, compensando, em parte, a desvantagem competitiva causada pela apreciação da moeda nacional. E, também, não tem o poder de propor uma redução da carga tributária, mas pode aplicar medidas de incentivo fiscal, além de poder aliviar o trabalho com o fisco e com a burocracia, no tratamento de questões tributárias. Embora no projeto que deu origem a este capítulo tenha sido utilizada a denominação de arranjos produtivos locais, adotamos aqui a denominação alternativa de sistemas locais de produção (SLP), conceitualmente mais adequada de acordo com o referencial analítico de apoio. Ao longo do texto, porém, há menções a aglomerações territoriais de empresas como um estágio preliminar do método utilizado, quando ainda não é possível caracteriza-las como SLP. Também em consonância com esse referencial, somente indústrias extrativas, de transformação e atividades de software foram abrangidas no estudo. O capítulo está estruturado de forma a apresentar, na seção seguinte, uma síntese do referencial analítico; na seção 2, uma breve descrição do método e dos resultados; na seção 3, as proposições de políticas e ações institucionais de apoio a SLP do Estado; na seção 4, os programas e ações específicos, e, na seção 5, as observações finais. ABORDAGENS ANALÍTICAS QUE FUNDAMENTAM O ESTUDO E A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PARA SISTEMAS LOCAIS DE PRODUÇÃO As abordagens utilizadas para analisar os sistemas locais de produção e inovação têm variadas origens e configurações, dependendo de seus propósitos e da respectiva afiliação, em termos de corrente de pensamento. De modo geral, porém, apresentam raízes comuns e convergem em vários sentidos. Os parágrafos seguintes buscam apresentar um breve sumário dos elementos centrais das principais abordagens. Há dois pilares analíticos que sustentam a maioria das abordagens: o conceito Marshalliano de economias externas localizadas e a dinâmica dos mecanismos de autorreforço na economia espacial. Economias externas localizadas decorrem da existência de um amplo contingente de mão-de-obra especializada e com habilidades específicas ao sistema local; da presença e da atração de um conjunto de fornecedores especializados de matérias-primas, componentes e serviços, e dos transbordamentos de conhecimentos, habilidades e informações, específicos às atividades locais. E a dinâmica espacial dos mecanismos de autorreforço deve-se à presença de retornos crescentes. 184 Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná Nos termos de Arthur (1988), o padrão de localização de uma determinada indústria pode ser resultado das decisões locacionais das primeiras firmas que ingressaram na indústria e da sequência de decisões de localização das firmas entrantes subsequentes. A decisão da primeira é baseada puramente nas preferências geográficas, influenciadas por economias externas locais ou algum acidente histórico. As decisões de localização dos entrantes subsequentes são [...] baseadas nas preferências modificadas pelos benefícios de localizar-se próximo à(s) primeira(s) firma(s), e então a concentração industrial se torna auto-reforçada. Se não houver limite para os feedbacks positivos, uma única região pode dominar a indústria e isto pode não ser uma solução eficiente. Mas, frequentemente, uma região não pode oferecer retornos crescentes indefinidamente por causa das deseconomias de aglomeração que são geradas. Assim, outras regiões passam a atrair essa indústria. (ARTHUR, 1988, p.9-12). Mais importante para os estudos dos sistemas locais de produção, é a afirmação de que os mecanismos de feedback positivo decorrem de vantagens das aglomerações iniciais e da forte historicidade no que concerne à evolução espacial da indústria. A partir desses conceitos fundamentais, vários grupos de autores acrescentaram gradualmente novas ferramentas de análise, enfatizando: a existência de laços sociais, políticos e culturais em distritos industriais e em outros tipos de aglomerações territoriais de empresas; a necessidade de ações coletivas para gerar economias externas adicionais, alcançar a eficiência coletiva dos produtores, estabelecer mecanismos de governança e criar fóruns de discussão de estratégias e criar políticas regionais ou locais. Outras temáticas, destacadas pelos autores, envolvem a importância de contar com um ambiente de negócios caracterizado por condições favoráveis, em termos de fatores de produção, demanda, fornecedores e serviços e competição que, de forma interrelacionada, determinam a competitividade das firmas locais; a modelagem formal das forças centrípetas, que induzem à aglomeração espacial, e das forças centrífugas, que agem na direção contrária à aglomeração; as interrelações dinâmicas entre geografia e indústria e entre geografia e inovação. As novas ferramentas de análise também destacam: a classificação das estruturas de produção em sistemas locais de produção e suas relações com as respectivas estruturas de governança; a caracterização de cadeias globais de mercadorias ou redes de produção e suas conexões com canais específicos de exportação, subordinados à estrutura de governança internacional dessas cadeias ou redes de produção; a importância da governança local, ainda que como uma ação complementar dos atores locais; e a caracterização dos sistemas locais de produção como sistemas cognitivos e evolucionários, dentro dos quais o processo de 185 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná aprendizado e a competição evoluem, estimulando o surgimento de empresas dominantes que controlam informações estratégicas.2 Com base nesse amplo leque de abordagens analíticas e levando em conta vários estudos de casos nacionais e internacionais, é possível descrever, de forma estilizada, como se iniciam e se desenvolvem os sistemas locais de produção. De modo geral, todos têm raízes históricas e surgiram espontaneamente, seja a partir de um fato histórico como, por exemplo, desenvolvimento local de conhecimentos ou habilidades específicas, ou a partir de condições iniciais favoráveis relacionadas, por exemplo, à presença de um empreendedor pioneiro ou de instituições de ensino e pesquisa. A existência de economias externas atrai empresas para o local. À medida que o local de torna atrativo do ponto de vista das decisões de invetimentos de outras empresas da indústria, tem-se o início de um processo de desenvolvimento, que forma uma aglomeração. À medida que cresce, suprindo mercados locais ou regionais, a aglomeração torna-se atrativa para outras indústrias ou atividades relacionadas. Estas, uma vez estabelecidas, fazem com que aumentem as interrelações produtivas locais, facilitando interações, transbordamentos de conhecimentos e realização de ações coletivas, para organizar associações empresariais e sindicatos patronais e trabalhistas. À medida que a estrutura produtiva local diversifica-se com a presença de fornecedores de matérias-primas, componentes e máquinas e equipamentos, estabelece-se maior divisão do trabalho entre as empresas e forma-se uma sofisticada organização industrial, com mais intensas e variadas interrelações produtivas, intensificando os processos de aprendizado, porém, com menos interações e relações cooperativas no plano horizontal entre as empresas competidoras. Retornos crescentes reforçam o processo de desenvolvimento e estimulam a entrada de novas firmas. A competição é acirrada, deixando de basear-se exclusivamente ou principalmente em preço, passando a incorporar novos fatores competitivos, tais como a diferenciação e a inovação. Há um aumento da demanda das firmas locais por habilidades, recursos especializados e por serviços técnicos e tecnológicos mais sofisticados, que dão suporte ao incremento de sua capacidade de diferenciar seus produtos e desenvolver novos produtos e processos. Profissionais especializados, instituições e empresas que fornecem esses serviços também são atraídos para o local. Algumas empresas tornam-se dominantes por sua capacidade de controlar informações de mercado, por abrir novos canais de 2 A literatura que trata dessas contribuições é bastante abrangente, mas para um conjunto representativo, o leitor interessado pode consultar: Lazerson & Lorenzoni (1999); Schmitz & Nadvi (1999); Krugman (1999); Porter (1998); Scott (1998); Storper & Harrison (1991); Gereffi (1994); Humprey & Schmitz, (2000); Feldman (1993); Belussi & Gotardi (2000) e Lombradi (2003). 186 Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná comercialização no mercado doméstico e no mercado internacional e por dominar ativos estratégicos, como capacitações em P&D&I ou marcas próprias. A morfologia do sistema tende a mudar, e alguma forma de governança é estabelecida, seja por mecanismos autorreguladores do sistema, ou por planejamento deliberado. Nesse último caso, a governança pode ser exercida por firmas locais dominantes, com suas redes de produção, marcas e canais próprios de comercialização, ou por agentes externos ao sistema, grandes empresas nacionais ou internacionais que controlam cadeias de valor ou de suprimento de mercadorias, ou ainda por firmas e instituições locais coletivamente organizadas. Se há um ponto que careça de melhor tratamento em todas essas abordagens, este é o que diz respeito às recomendações de políticas públicas ou ações institucionais de apoio aos sistemas locais de produção. Todas as abordagens são bastante genéricas, às vezes até evasivas, nesse ponto, o que é bastante compreensível em face das especificidades nacionais, regionais, políticas, sociais e culturais, assim como em razão dos diferentes tipos de atividade econômica e as respectivas características organizacionais. Em cada caso, há características distintas em termos de história, evolução, organização institucional e contextos sociais e culturais, com impactos importantes sobre a estrutura produtiva, a forma de organização da produção, os processos de aprendizado e a forma de governança local. Por isso, é comum encontrar diferenças muito significativas entre sistemas locais no que se refere: ao grau de desenvolvimento; à integração da cadeia produtiva; à articulação e à interação entre agentes e instituições locais; às e capacidades sistêmicas para a inovação. É exatamente nesse aspecto proposição de diretrizes de políticas e medidas de apoio que este trabalho procura avançar, tomando por base os estudos sobre sistemas locais de produção do estado do Paraná. MÉTODO E RESULTADOS Para dar fundamento adequado às proposições políticas, utilizamos uma metodologia estatística de identificação de aglomerações territoriais de empresas por meio de indicadores de concentração geográfica (quociente locacional QL) e de concentração setorial (coeficiente de Gini locacional) de atividades econômicas, calibrados por alguns parâmetros convencionais em termos absolutos (número de empregos e número de estabelecimentos da mesma classe de atividades na região). O tratamento estatístico dos dados gerados permitiu identificar e caracterizar, em termos estruturais, as aglomerações 187 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná identificadas e criar uma tipologia de sistemas locais de produção levando em conta, por um lado, a importância das aglomerações para o respectivo setor no estado, e por outro, sua importância para a economia da local.3 Como resultado, as aglomerações de empresas foram classificadas em quatro tipos principais: (a) Núcleo de Desenvolvimento Setorial e Regional (NDSR), que se destaca por sua importância tanto para a economia local, quanto para o respectivo setor ou classe de atividade econômica no Estado; (b) Vetor de Desenvolvimento Local (VDL), que é muito importante para o desenvolvimento local/regional, embora menos importante para o setor no Estado; (c) Vetor Avançado (VA), que apesar de ter elevada importância para o setor no Estado, é pouco importante para a economia local, porque, via de regra, encontrase em um tecido econômico maior e mais diversificado, normalmente áreas metropolitanas; e (d) Embrião (E), que reúne as aglomerações com potencial para o desenvolvimento, porém ainda pouco importante tanto para o setor, como para a região.4 Para aplicar essa metodologia no Estado do Paraná, foram utilizados os dados e informações da RAIS de 2003, que permitiram a construção de uma matriz, levando em conta as 39 microrregiões do Estado e as 278 classes de atividades existentes, abrangendo a indústria extrativa, a indústria de transformação e as atividades de software, configurando, assim, o universo a partir do qual seriam identificadas e mapeadas as aglomerações geográficas de empresas que poderiam, potencialmente, constituir sistemas locais de produção. A utilização da metodologia avançou por etapas aplicando, primeiramente, os indicadores convencionais e depois sucessivos filtros5 que, considerando as características específicas do Estado, foram paulatinamente sendo relaxados em alguns dos seus critérios, inicialmente mais rigorosos, de modo a permitir captar todas as aglomerações relevantes que pudessem ser posteriormente objeto de investigação para verificar se de fato constituem sistemas locais de produção.6 Adicionalmente, com base no Cadastro de Informações Fiscais e Contábeis da Secretaria de Estado da Fazenda (SEFA/PR), foram aplicados indicadores específicos relacionados: à exportação; ao valor das compras e das vendas no Estado e para outros estados; à participação relativa das vendas da classe de atividade no total das vendas de todas as classes da microrregião; à participação relativa do emprego da classe na microrregião; e à presença de micro, pequenas e médias empresas. Essa importância é medida cruzando-se os respectivos QL e a participação percentual no emprego da classe. A unidade local/regional é a microrregião. 5 E. g. ordem de grandeza do QL, número mínimo de estabelecimentos da classe na microrregião, percentual mínimo de participação no total do emprego da classe no Estado. 6 Os relatórios referentes às etapas de identificação, mapeamento e validação dos SLP estão disponíveis em: <www.ipardes.gov.br/publicações/estudos> e em <www.redeapl.pr.gov.br.> 3 4 188 Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná A aplicação dessa metodologia aos dados do Paraná resultou na identificação de 165 aglomerações de empresas em 73 classes de atividades, abrangendo 33 das 39 microrregiões do Estado (ver mapa 1). Esse conjunto de aglomerações, porém, apresenta duplas ou múltiplas contagens, uma vez que uma mesma microrregião pode ter mais de uma aglomeração em distintas classes de atividades, inter-relacionadas ou não. Eliminandose essas múltiplas contagens, restaram 114 aglomerações com características que as configuram como potenciais sistemas locais de produção. O passo seguinte foi classificar essas aglomerações, segundo a tipologia mencionada acima. Sempre que em uma microrregião a aglomeração era composta por mais de uma classe de atividade, porém correlatas, foi considerada, para efeito de classificação, a classe mais importante, em termos de emprego, ou a mais dinâmica, em termos dos dados fiscais. Assim, as 114 aglomerações foram classificadas em: 12 núcleos de desenvolvimento setorialregional, 25 vetores de desenvolvimento local, 32 vetores avançados e 45 embriões. MAPA 1 Aglomerações industriais selecionadas para estudos de casos, segundo microrregiões geográficas, estado do Paraná. Fonte: IPARDES, 2006. 189 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná A partir daí, foi feita a pré-seleção de possíveis sistemas locais. Os critérios utilizados para essa pré-seleção levaram em conta a relevância de cada aglomeração de empresas em termos de: número de classes de atividades afins, densidade fiscal; exportação e vendas para outros estados; compras locais; número de estabelecimentos (sobretudo de pequenas e médias empresas); e importância das vendas da classe de atividade na própria microrregião. Os resultados indicaram a pré-seleção de 25 sistemas locais potenciais, sendo 8 núcleos de desenvolvimento setorial-regional, 5 vetores de desenvolvimento local, 7 vetores avançados e 5 embriões. Ao longo do desenvolvimento do trabalho, essas 25 aglomerações foram visitadas para uma caracterização preliminar, com a finalidade de obter um panorama em termos de sua formação, estrutura produtiva e ambiência institucional. Houve a seleção de 18 aglomerações que atendiam ao conjunto de critérios estabelecidos para a sua caracterização como um sistema local de produção. Deve-se ressaltar que um desses 18 casos constitui, em verdade, um conjunto de quatro aglomerações de empresas de software, as quais foram consideradas individualmente, para efeito dos estudos de caso. A esses casos, também foi adicionada a aglomeração de empresas de instrumentos médico-odontológicos da região de Campo Mourão.7 Portanto, ao todo, 22 sistemas locais de produção, distribuídas por várias regiões do Paraná foram validadas por apresentarem características típicas de sistemas locais de produção (Quadro 1). Vetores de Desenvolvimento Local ( VDL) Confecção em Cianorte; confecção na região sudoeste do estado; malhas em Imbituva; móveis e madeira em Rio Negro. Embriões Confecção de moda bebê em Terra Roxa; equipamentos e implementos agrícolas em Cascavel e Toledo; instrumentos médico-odontológicos em Campo Mourão; móveis na região Sudoeste; software em Maringá; software em Pato Branco e Dois Vizinhos. Núcleos de Desenvolvimento Setorial e Regional (NDSR) Confecção de bonés em Apucarana; esquadrias e madeira em União da Vitória; mandioca e fécula em Paranavaí; metais sanitários em Loanda; móveis em Arapongas; móveis de metal e sistemas de armazenagem e logística em Ponta Grossa. Vetores Avançados (VA) Aparelhos, equipamentos e instrumentos médicos, odontológicos e hospitalares na RM Curitiba; cal e calcário na Região Metropolitana de Curitiba; confecção em Maringá; louças e porcelana em Campo Largo; software em Curitiba; software em Londrina. Quadro 1 Sistemas locais de produção identificados, estado do Paraná Fonte: Ipardes, 2006. 7 Essa aglomeração foi adicionada porque, embora não tenha sido identificada estatisticamente, era apontada pelas equipes locais como uma aglomeração em formação em um setor de atividade não tradicional. 190 Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná Esses sistemas locais de produção foram objeto de estudo por equipes estaduais que realizaram o trabalho de campo por meio de visitas, entrevistas e aplicação de questionário. Com isso, foi possível conhecer as características e os principais problemas desses sistemas locais. Esses problemas, que norteiam a formulação de políticas, são brevemente comentados a seguir. Problemas para políticas e ações institucionais Em primeiro lugar, destaca-se a baixa qualificação da mão-de-obra em todos os níveis: operacional, técnico e tecnológico, bem como a baixa capacitação de grande parte dos empresários em gestão empresarial. Esses problemas foram encontrados, em maior ou menor grau, em quase todos os casos estudados e requerem programas de aplicação geral, a qualquer tipo de sistema local. O segundo grupo de problemas relaciona-se à falta de um conhecimento adequado do mercado. Esse conhecimento é estratégico em qualquer atividade, sobretudo no caso de empresas em sistemas locais de produção. Portanto, o apoio institucional para programas de marketing, estudos e prospecção de mercados (nacionais e internacionais), criação de canais próprios de comercialização, entre outras ações, pode criar melhores condições para que as empresas se capacitem a direcionar sua produção de forma mais sincronizada com as tendências de mercado. O terceiro tipo de problema mais frequentemente citado está relacionado às dificuldades ou falta de acesso a serviços tecnológicos, laboratoriais e de certificação, entre outros. É mais premente em sistemas locais de empresas de software e de produtos tecnologicamente mais exigentes, e/ou que requerem certificações, mas foi mencionado mesmo em SLP tecnologicamente mais simples, como de confecções e malharia. O provimento desses serviços, seja por meio de ações coletivas, seja como resultado de ações institucionais, é uma das mais promissoras medidas de política para sistemas locais, uma vez que cria ou reforça a capacitação das empresas para competir em mercados mais sofisticados, oferecendo-lhes uma nova trajetória de aprendizado e de desenvolvimento de competências. Em quarto lugar aparecem as dificuldades de acesso a financiamento como um dos principais problemas mencionados pelas empresas, especialmente micro e pequenas. Abrangem desde questões conhecidas, como as de burocracia excessiva; exigências de garantias às quais as empresas não conseguem atender; prazos; custos e condições inacessíveis; até falta de linhas de financiamento adequadas às características e às necessidades da empresas. 191 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Isso encarece o custo do capital de giro, que acaba sendo suprido em muitos casos por fontes locais espúrias e limita a expansão das empresas. Grande parte dos problemas de financiamento, que foram citados, são concernentes: às dificuldades para obter créditos para aquisição de máquinas e equipamentos, à modernização ou expansão da capacidade instalada, ao desenvolvimento de produtos e reciclagem de resíduos tóxicos. Nos casos mais intensivos em conhecimentos, como os de equipamentos médico-odontológicos e de software, há falta de financiamento para P&D&I, para adequação às normas técnicas ou sanitárias e para patentear e certificar produtos. Um resultado muito significativo é o que aponta para o quinto problema, que sugere uma crescente conscientização das empresas quanto aos seus problemas e suas carências de ativos estratégicos. A maior parte não dispõe de estruturas próprias de P&D&I; tem carências quanto aos sistemas de informação sobre tendências em termos de inovação, design, tecnologias de produto e de processo, máquinas e equipamentos, técnicas de gestão (da inovação, da produção, de processos e da qualidade), adequação às normas técnicas e sanitárias, registros e certificações, legislações sobre direitos de propriedade intelectual. Carece também de maior aproximação com centros de pesquisa ou empresas especializadas em P&D&I, serviços tecnológicos, design e de profissionais qualificados nessas atividades. Isso limita a capacidade das empresas para criar ou diferenciar produtos e para atender às faixas de mercado mais exigentes quanto à inovação, às normas, às certificações, ao design, à qualidade e ao desempenho. O sexto tipo de problema que atinge a maior parte das empresas nos sistemas locais estudados é o das deficiências em termos de organização produtiva. Embora nem sempre os empresários entrevistados tenham um parâmetro adequado de comparação das melhores práticas, é possível perceber que são bastante generalizados problemas como: leiaute ineficiente, com problemas de estrangulamento em fases importantes do processo de produção e defasagem tecnológica de segmentos do processo produtivo; máquinas e equipamentos obsoletos; dificuldades de suprimento de insumos e de serviços de assistência técnica; deficiências em termos de gestão administrativa e da produção; processos ineficientes quanto ao consumo de energia; e falta de sistemas de controle de qualidade. Programas de capacitação em planejamento do processo produtivo, gestão administrativa, controle da qualidade e gestão da inovação podem trazer importantes ganhos de eficiência e competitividade para a maioria das empresas dos sistemas locais estudados e reduziriam a intensidade de outras demandas (por exemplo, por capital de giro). Em sétimo lugar foram apontados problemas relacionados à infraestrutura como limitantes das possibilidades de desenvolvimento do conjunto das empresas e instituições 192 Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná locais. Apesar de esse tipo de problema ser menos relevante em alguns casos como os de software e os que estão localizados em áreas metropolitanas , pode-se considerar que esse também é um problema generalizado. Refere-se às dificuldades decorrentes da insuficiência de meios de transporte para escoamento da produção e acesso a mercados de insumos, componentes, máquinas e equipamentos; custo elevado e falta de suprimento adequado de energia; deficiências da infraestrutura urbana local; falta de planejamento do uso do solo urbano para fins industriais e outros. Problemas de governança, em oitavo lugar, foram relativamente pouco citados, embora em alguns casos eles apareçam com elevada prioridade. Em geral, foram mencionados a falta de entidades associativas das empresas locais; fraca interação das entidades locais; falta de comprometimento e de articulação das instituições de apoio; falta de coesão dos atores; inexistência de liderança local expressiva; divergência de interesses e fraca cooperação na produção e no desenvolvimento tecnológico. Aparentemente, ainda há pouca percepção do poder que os atores locais podem adquirir por meio de ações conjuntas e da busca coletiva por soluções dos problemas do sistema local. Também, nesse caso, a superação dessa deficiência teria efeitos bastante positivos sobre algumas das carências que os empresários consideram mais importantes (por exemplo, preços deprimidos pela concorrência concentrada em produtos muito semelhantes, nas qualidades técnicas e nos atributos visuais). Por fim, em nono lugar, não há uma percepção adequada dos problemas ambientais causados pelas atividades das firmas locais, o que revela uma postura, muitas vezes, imediatista e unilateral dos empresários. Em apenas quatro sistemas locais estudados, foram citados problemas com o meio ambiente e em uma ocasião em sentido inverso ao usual: restrições ambientais à extração de madeira de florestas nativas, como limitação à produção de móveis e produtos de madeira. Em outros casos, os problemas ambientais causados por falta de aterro sanitário para resíduos ou de reciclagem de subprodutos poluentes são considerados importantes, do ponto de vista das políticas para os sistemas locais. Há que se considerar, entretanto, que a tendência geral é não admitir que a atividade gere problemas ambientais, ou até escamotear seus impactos nesse âmbito, o que mereceria um tratamento específico por meio de legislação estadual, apoiada em programas que possam, de fato, remediar os problemas mais urgentes e criar condições para o desenvolvimento de soluções preventivas. Com base nesses problemas e nas demandas identificadas nos SLPs estudados, tendo em vista o referencial analítico discutido na seção 1, elaboramos um conjunto de diretrizes, programas e ações de apoio aos SLPs do estado do Paraná, resumidos a seguir. 193 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná POLÍTICAS E AÇÕES DE APOIO A SISTEMAS LOCAIS DE PRODUÇÃO: UM MODELO DE ESTRUTURAÇÃO O desenvolvimento dos SLPs brasileiros tem dependido, fundamentalmente, das forças e das competências locais, essencialmente vinculadas ao tecido empresarial e às qualidades, capacidades e energias laborais dos seus trabalhadores. Alguns dos obstáculos que dificultam ou barram o desenvolvimento desses sistemas produtivos não poderão ser removidos ou contornados simplesmente com a ação das forças locais, ainda que estas tenham sempre e devam continuar tendo o papel protagonista. As ações de natureza pública, sejam elas locais (de âmbito municipal ou microrregional), sejam estaduais ou federais, têm invariavelmente sido pontuais. É verdade que existem casos de SLP que conseguiram beneficiar-se de vários programas públicos, definidos em esferas diferentes (por exemplo, pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e sua empresa vinculada; a FINEP, pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; ou pelo BNDES, instituição vinculada a esse ministério). Mas essas ações raramente foram integradas, e quando o foram, isso ocorreu a partir da busca dos agentes locais (empresas, agrupamentos de empresas ou entidade de representação coletiva), dos programas formulados pelas agências públicas estaduais e federais. Os SLPs procuraram, no leque de instrumentos existentes, aqueles que julgaram adequados ou convenientes, mesmo que não fossem os mais ajustados às suas necessidades ou que, em vários casos, consistissem essencialmente um mecanismo de captação de recursos adicionais para estimular a economia local. A política estadual de promoção do desenvolvimento dos SLPs pode representar um marco diferenciado nesse quadro. Para isso, ela tem como maior desafio dotar-se de integração, destes instrumentos com aqueles definidos no plano federal e desse conjunto articulado ao longo do tempo. Nisso consiste o objetivo maior deste capítulo: contribuir para a definição de uma política estadual de promoção do desenvolvimento dos sistemas locais numa perspectiva integrada, que permita concatenar os esforços locais e os diversos instrumentos e programas de uma forma consistente. Essa consistência terá de ser construída em diversas dimensões. A primeira e principal dimensão é a da articulação dos instrumentos estaduais e federais às necessidades e às demandas locais. Essas necessidades possuem pelo menos três elementos a serem considerados. O primeiro elemento é o tipo de trajetória de desenvolvimento e de inserção espacial e setorial do sistema local. Questiona-se: Trata-se de um embrião, sistema produtivo em estágio de desenvolvimento ainda muito incipiente, ou de um vetor avançado, congregando empresas sólidas e uma rede de fornecedores com qualidades técnicas e 194 Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná econômicas, num tecido econômico bastante diversificado? No primeiro caso (embrião), é bastante provável que políticas como, por exemplo, as voltadas para a capacitação de mãode-obra possam mobilizar os recursos existentes no chamado Sistema S (SENAI, SENAC e SEBRAE, principalmente) e com eles resolver as suas carências mais importantes. No caso dos vetores avançados, haverá a necessidade eventual de conceber e implementar programas específicos de capacitação, com módulos correspondentes ao grau de articulação e ao tipo de inserção (regional e setorial) do sistema produtivo e às ofertas típicas dos ambientes em que esses SLPs estão inseridos. O segundo elemento envolve a natureza da indústria (o setor de atividade) em torno da qual está estruturado o sistema local. Evidentemente, as normas técnicas dos produtos oriundos da indústria de confecções são muito distintas e possuem um rigor inferior às do setor de alimentos. Esses dois elementos (tipo e/ou setor do SLP) estão indicados no quadro 2. Tipo do SLP caracterização básica Por tipo de SLP Setor de atividade econômica do SLP Ações no campo da metrologia, Por setor de atividade das normas técnicas e da do SLP certificação de produtos Independente do setor de atividade do SLP Cursos técnicos de capacitação da mão de obra ocupada em atividades administrativas Independente do tipo de SLP Cursos técnicos de capacitação da mão de obra ocupada na produção Conhecimentos básicos e fundamentais sobre legislação trabalhista Quadro 2 - Exemplos de ações ou programas em SLP, segundo a influência do setor de atividade e da tipologia básica (núcleo de desenvolvimento setorial e regional, vetor de desenvolvimento local, vetor avançado e embrião) Fonte: Elaboração própria O quadro 2 mostra, na primeira célula, como as ações no campo da metrologia, das normas técnicas e da certificação podem ter dupla influência no tipo de SLP e no seu setor de atividade na concepção do programa. Um SLP com um grau de articulação e de inserção mais estruturados, cujos mercados ampliaram-se e alcançaram dimensões amplas e distâncias elevadas, precisa de sistemas de certificação de qualidade muito diferentes daqueles que podem ser utilizados pelas empresas de sistemas produtivos ainda incipientes, com produtos voltados para os mercados locais. Os ônus (dos financeiros aos custos de imagem) de uma eventual falta de conformidade são muito maiores numa exportação do que numa venda local em pequena escala. Essa mesma diferença manifesta-se quanto ao 195 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná setor de atividade do sistema local. Equipamentos médico-hospitalares e odontológicos possuem, obrigatoriamente, normas mais rígidas do que confecções, por exemplo. Programas nesse campo serão, portanto, necessariamente diferenciados. Programas de capacitação profissional de trabalhadores voltados para atividades de produção serão muito mais diferenciados, segundo o setor industrial das empresas, do que em função do grau de articulação espacial e setorial do sistema local: uma empresa de um SLP classificado como importante, no seu setor de atividade, possui necessidades de trabalhadores qualificados idênticas às de uma empresa de um embrião, embora os cursos básicos e técnicos tenham, evidentemente, que estar adaptados às características dos processos industriais e das tarefas demandadas pelo setor industrial associado. Os programas de capacitação administrativa e gerencial dos trabalhadores (e dos próprios empresários) podem, contudo, variar muito mais em função do grau e do tipo de articulação espacial e setorial do sistema local, do que em relação ao seu setor de origem. As empresas de um embrião de qualquer setor de atividade terão carências e necessidades básicas em, por exemplo, contabilidade de custos e formação de preços, enquanto as empresas de um NDSR terão, possivelmente, demanda de conhecimentos em práticas comerciais internacionais ou propriedade intelectual, proteção de marcas e obtenção de patentes. O terceiro elemento, relacionado com as necessidades e demandas locais (e a sua articulação com os instrumentos estaduais e federais), diz respeito à relação entre o sistema local e o território local as potencialidades e as carências regionais. Seria de pouca valia oferecer a um embrião de sistema produtivo uma série de capacitações distantes do seu grau de desenvolvimento (por exemplo, envolvendo ferramentas de gestão informatizadas, quando o acesso a esses recursos está distante da realidade das empresas), ou às empresas do sistema produtivo ligado às atividades metalúrgicas ou mecânicas práticas e regras típicas das indústrias florestais ou alimentares, ou, ainda, pretender que as empresas enveredem por trajetórias que são estranhas às realidades materiais, sociais ou culturais da região. Nesse sentido, a proposta de políticas aqui apresentada diferencia-se pela combinação de dois aspectos que devem, necessariamente, andar juntos: uma visão de conjunto dos SLPs, definida a partir de uma metodologia comum; e um conhecimento adequado das realidades locais, resultante do envolvimento e da vivência das equipes que realizaram o trabalho de campo. A visão de conjunto permite compor um quadro geral e simultaneamente compreender e situar as diferenças e as especificidades. O conhecimento das realidades locais possibilita reconhecer situações concretas e legitimar escolhas. A segunda dimensão de consistência envolve a concatenação temporal das diferentes ações. A preparação das empresas para processos produtivos melhorados supõe 196 Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná a necessidade de recursos humanos qualificados e essa preparação, nas suas duas esferas (empresarial e trabalhista), poderá alcançar resultados superiores sempre que o empresário (ou, muito raramente, os gestores profissionais das empresas) estiver capacitado para, com técnicas de gestão adequadas, aproveitar esses dois fatores de produtividade e competitividade (processos produtivos melhorados e qualificação da mão-de-obra). Numa perspectiva evolucionária, os desequilíbrios entre as etapas ou os elementos constituintes dos processos produtivos ensejam movimentos de resposta que invertem o sentido do desequilíbrio e o repõem em outro patamar. O desenvolvimento é um processo necessariamente desequilibrado e as políticas de desenvolvimento devem aproveitar, a seu favor e a favor da continuidade do processo, esses desequilíbrios. A conquista de novos mercados poderá, eventualmente, ocorrer com esforços apenas pontuais de qualificação dos trabalhadores, dos fornecedores e dos equipamentos, mas logo as deficiências desses três alicerces de qualidade serão explicitadas, induzindo investimentos para a sua superação. Os investimentos em modernização da produção e da diferenciação dos produtos poderão perder-se, se não contarem com um regime de apropriação expresso numa marca ou mesmo numa patente. Movimentos construtivos, de promoção e qualificação, determinam novos passos. A terceira dimensão de consistência deverá envolver a articulação entre as diferentes ações e programas, desde a formulação, passando pela implementação e acompanhamento, até que sejam avaliados. Nesse aspecto, é fundamental que a política estadual seja capaz de aprender com o seu próprio processo de implementação. Experiências bem-sucedidas num eixo do programa, num SLP específico, devem ser avaliadas, reproduzidas, difundidas; episódios de fracasso devem ser rapidamente identificados, discutidos, corrigidos, e suas deficiências, supridas. Nada pode contribuir mais para solapar as bases de uma política de promoção e fomento do que amálgamas entre esforços exitosos e investimentos fracassados. Avaliar é fundamental. Avaliações críticas regulares devem condicionar cada nova etapa. A segunda e a terceira dimensões acima discutidas definem uma quarta, referente às contrapartidas. Se cada etapa da política estadual para SLP deve, necessariamente, conter avaliações que propiciem a passagem à etapa seguinte do processo, essa avaliação deverá conter elementos explícitos de mensuração das contrapartidas e do envolvimento local. A política de apoio e fomento não pode substituir as energias locais, devendo, tão somente, ser o elemento da sua catálise. Se o organismo não mobiliza a sua própria energia e, ademais, esteriliza os recursos adicionais de uma política de apoio e fomento, é melhor por ser mais produtivo que a ação pública se volte para aqueles sistemas produtivos que dão 197 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná respostas mais consistentes e, por isso, mais justificáveis socialmente, num quadro de recursos escassos. Um dos aspectos em que essa negociação deverá ser mais clara e rigorosa é o que diz respeito ao cumprimento de certas regras básicas, sobretudo em termos trabalhistas, ambientais e fiscais. Uma política de desenvolvimento, mesmo quando incide, principalmente, sobre empresas de dimensões modestas, não pode ser complacente ou mesmo apenas indiferente, com relação a certas práticas que, a pretexto de serem ocasionais, terminam por definir processos competitivos deformados que se tornam estruturalmente dependentes de fundamentos inaceitáveis. O quadro 2 pode ser desdobrado de forma modo adequado à complexidade da realidade, na forma apresentada no quadro 3. Cada um dos programas constantes da política estadual para SLP pode ser diferenciado principalmente, em relação ao tipo de desenvolvimento do SLP e ao seu setor industrial. Haverá programas comuns e programas específicos. Alguns programas poderão ter módulos comuns e, em seguida, módulos específicos. Alguns dos programas específicos para setores determinados poderão ser itinerantes, desenvolvendo correspondentes locais que progressivamente assumiriam responsabilidades permanentes. Na sequência, este capítulo busca compor as demandas identificadas pelo trabalho de campo realizado no Paraná de uma forma triplamente estruturada. Em primeiro lugar, por meio da agregação e da organização das demandas identificadas, completando, formatando, dando organicidade a cada uma das demandas, dentro de sua categoria (quer dizer, qualificação de mão-de-obra, por exemplo, ou modernização produtiva). Os programas de capacitação empresarial, para ficar no exemplo mais simples e evidente, dificilmente poderão ter qualquer importância efetiva se não contemplarem, como base e ponto de partida, a formação de competências em contabilidade, os custos e a gestão financeira. A criação de mercados externos não pode dispensar, como requisito prévio, esse aspecto fundamental. Estruturada, também, em segundo lugar, no sentido de procurar identificar uma possível sequência para programas, caminhando gradativamente em direção aos mais ambiciosos, a partir de uma avaliação minuciosa dos resultados alcançados com os programas anteriores. Estruturada, finalmente, pela identificação de possíveis contrapartidas e parceiros potenciais para cada um dos programas e ações relacionados. As demandas foram identificadas a partir da sistematização dos problemas mencionados nas respostas aos questionários aplicados ou nas entrevistas realizadas (trabalho de campo), e da sua hierarquização pelo número de vezes que cada problema foi citado. A especificidade de cada demanda de SLP, em comparação com o total das demandas análogas 198 Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná PROGRAMAS TIPOS DE SLP VA NDSR VDR SETOR DE ATIVIDADE DO SLP E SA 2 SA n ... Programa horizontal de capacitação para exportação Exportação SA 1 Ação 1 Ação 2 Ação 3 ... Módulo normas Programa de capacitação para exportação UE e EUA Módulo financiamento Módulo X Módulo Y Ação n ... ... Tipo A Ação 1 Programa independente do tipo de SLP comum a todos Ação 2 Programa X Ação 3 Ação 4 Ação 5 Programa Y Programa Z Programa W Ação 6 ... Ação n ... ... Tipo X Ação 1 Programa independente do tipo de SLP comum a todos Prog. Y2 Ação 2 Ação 3 ... Prog. Y3 Prog Y1 Prog. Y4 Ação n QUADRO 3 - Exemplos de possíveis ações ou programas em sistemas produtivos locais, segundo a influência do setor de atividade e do grau de desenvolvimento FONTE: Elaboração própria 199 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná (ou no mesmo capítulo), fornece sugestão de ampliação dos esforços e da sua abrangência. Finalmente, a consolidação das várias demandas, já estruturadas no sentido da ampliação, passa por um desenvolvimento adicional, que procura dar maior racionalidade, consistência e eficácia ao atendimento (a oferta) das demandas identificadas. PROGRAMAS E AÇÕES Nos parágrafos seguintes são apresentados, à guisa de sugestões indicativas concretas, algumas das propostas de programas e ações exemplificadas no quadro 3. As sugestões decorrem da leitura que foi feita em relação às propostas encaminhadas pelos trabalhos de campo, fossem elas resultado das entrevistas locais ou da leitura da realidade local feita pelos pesquisadores. Nesse sentido, essas propostas refletem o lado da demanda. Estas demandas devem ser cotejadas com as ofertas que hoje são feitas por diferentes instituições, públicas e privadas, locais, estaduais ou federais.8 O cruzamento das demandas identificadas com as ofertas existentes deverá produzir um resultado distinto tanto de umas, quanto de outras. Além disso, caberá à política estadual para SLP encontrar as formas e os instrumentos para a concatenação das ações e a coordenação dos programas que serão estabelecidos. Fortalecimento do tecido associativo Ações de promoção e fortalecimento do espírito associativo constituem, possivelmente, o programa mais importante de todos, o qual dará suporte a todos os demais. Bem-sucedido, poderá dar vigor e alcance a todos os outros; caso contrário, os vazamentos de recursos e energias dificultarão sempre o alcance de resultados e cada empreitada será um ponto de partida novo, sem o élan dos resultados anteriores. Mas, o fortalecimento do tecido associativo dificilmente poderá ocorrer sem a perspectiva de algum retorno. É imprescindível que pelo menos um programa mobilize e ofereça resultados que retroalimentem o espírito associativo. O programa ideal para essa arrancada é um programa de chão de fábrica, de engenharia de processos produtivos, destinado a promover uma elevação inicial dos patamares de qualidade e de produtividade 8 Esta necessidade de compatibilização deve ser considerada, inclusive, para as propostas apresentadas na sequência, particularmente em relação às sugestões de extensionismo industrial, a exemplo dos agentes de custos, de exportação, de crédito e de propriedade intelectual. 200 Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná e simultamente, identificar carências nas dimensões administrativas (custos, estoques, giro, etc) e na capacitação da mão-de-obra, criando espaço para os programas seguintes. Para viabilizar esse programa, seria necessário, inicialmente, contratar cinco profissionais que se dedicariam aos SLPs de cada um dos cinco setores básicos: Confecções, Madeira e móveis, Cerâmica, Alimentos e Metal-mecânico. Os SLPs de Equipamentos Médicos, Odontológicos e Hospitalares (EMOH) e de Software deveriam ter um tratamento diferenciado pelas suas características muito mais tecnificadas. Este programa deverá alcançar diversos resultados importantes e reduzir as demandas de apoio em diversas áreas, incluindo a demanda recorrente ao capital (para investimento e, sobretudo, para giro) mais barato. Uma programação mais adequada do processo produtivo e uma gestão mais eficiente dos estoques (de insumos e produtos) deverá reduzir substancialmente as necessidades de capital das empresas. Os quatro programas seguintes a saber: a) capacitação em gestão financeira, mecanismos e instrumentos de crédito, financiamento e desenvolvimento de elos financeiros estruturados; b) capacitação em gestão contábil, custos e formação de preços; c) capacitação em exportação; e d) capacitação em propriedade intelectual (marcas e patentes) deveriam estar condicionados e concatenados aos resultados deste primeiro esforço. Programa de capacitação em gestão financeira; mecanismos, instrumentos de crédito e financiamento; e desenvolvimento de elos financeiros estruturados Gestão financeira básica palestra de sensibilização, baseada em exemplos de problemas e suas possíveis soluções. Gestão financeira básica curso de 15 horas (cinco dias/noites), aberto aos administrativos das empresas e aos chefes e gerentes de produção; linhas de financiamento existentes; elaboração de projetos; linhas especiais para desenvolvimento tecnológico (SEBRAE, FINEP, BNDES ou outra instituição); esse curso deveria contar com a participação efetiva de agentes locais do sistema financeiro (gerentes dos bancos oficiais, profissionais do SEBRAE, representantes da FIEP Federação das Indústrias do Estado do Paraná). Criação do agente local de crédito, com a missão precípua de orientar as empresas durante um período de três a seis meses (consultoria itinerante). 201 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Programa de apoio ao desenvolvimento de mecanismos de crédito e financiamento A experiência recolhida em alguns dos SLPs paranaenses (por exemplo, Cianorte e Terra Roxa) sugere que existem espaços e meios para melhorar o acesso ao crédito e reduzir os custos de financiamento. A própria política estadual pode constituir um poderoso mecanismo para que os bancos locais ampliem o acesso e melhorem as condições dos financiamentos, seja com relação às taxas, seja com relação às garantias. Nos casos em que as empresas do SLP possuem como compradores grandes empresas, com risco de crédito inferior ao das empresas do SLP, seria possível constituir um fundo de recebíveis dessas empresas, criando uma base para créditos mais baratos. Programa de capacitação em gestão contábil, custos e formação de preços Conceitos de contabilidade básica palestra de sensibilização, baseada em exemplos de problemas e suas possíveis soluções. Gestão básica de custos curso de 15 horas (5 dias/noites) aberto aos administrativos das empresas e aos chefes e gerentes de produçã; contabilidade; balanço: ativo, passivo, patrimônio líquido; procedimentos contábeis básicos; despesas e receitas; regimes de competência e de caixa; fatos contábeis; inventário; valoração; ativo imobilizado e amortização; demonstrativos; análise de balanço e de resultados; sistemas de custeio; análise de custos. Criação do agente local de custos, com a missão precípua de orientar as empresas durante um período de três a seis meses (consultoria itinerante); duração: 12 meses, para implantação efetiva de sistemas de custeio e difusão da cultura de análise de custos. Outras sugestões: este é um momento indispensável da capacitação empresarial, sobretudo naqueles SLPs cuja dinâmica competitiva pode ser considerada predatória. Um dos fatores que sanciona a concorrência predatória é a falta de percepção quanto à importância dos custos fixos: quanto maiores forem os custos fixos, maior a possibilidade de que as empresas venham a praticar preços sistematicamente superiores aos custos diretos (matérias-primas e mão-de-obra), mas inferiores aos custos totais. É fundamental que os empresários consigam identificar o conjunto dos seus custos e, com isso, tornarem capazes de estabelecer patamares mínimos de preços, evitando as práticas predatórias. 202 Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná Programa de capacitação em exportação Conceitos básicos palestra de sensibilização, baseada em exemplos concretos. Diferentemente dos cursos de Gestão Administrativa, Financeira, Contabilidade e Custos, cujos resultados são bastante imediatos, o comércio exterior envolve investimentos com resultados diferidos, com prazo de maturação incerto e possivelmente longo. O planejamento dessa entrada no exterior é fundamental e poderia ter custos reduzidos e incertezas mitigadas com ações coletivas. Programa de exportação dos SLPs estaduais. Em vários, houve menção ao consórcio de exportação. Talvez fosse possível criar um consórcio setorial de exportação: ao invés de colocar várias firmas do segmento específico num mesmo consórcio, especializado num único produto (bonés, ou jeans, ou malhas), formar-se-ia um consórcio de confecções, com produtos de vários SLPs. Criação do agente estadual de exportação com a missão precípua de orientar as empresas durante um período de 36 meses (consultoria dedicada). Poderia ser instalado pela FIEP, percorrendo as regiões, identificando oportunidades, superando deficiências e removendo restrições. Duração: 36 meses, para implantação efetiva de programas de exportação. C u s t o estimado: identificar mecanismos de apoio, com o SEBRAE e APEX (talvez SENAC). Um mecanismo ideal seria um financiamento público que pudesse ser amortizado e pago com uma fração (2% - 5%) do valor das exportações futuras. Programa de capacitação em propriedade intelectual marcas e patentes Conceitos básicos palestra de sensibilização, baseada em exemplos concretos. Fortalecimento do agente estadual de propriedade intelectual com a missão precípua de sensibilizar os empresários para o tema e para a necessidade de proteção das suas ideias criativas e dos seus investimentos tecnológicos e inovativos. Duração: ações episódicas, com intervalos de tempo de seis meses, durante dois anos. Custo estimado: identificar mecanismos de apoio, com organismos estaduais e como os federais (INPI). 203 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Programa de capacitação de mão-de-obra Este programa deverá desdobrar-se em pelo menos três dimensões: mão-de-obra fabril (produção), técnicos especializados e profissionais de desenvolvimento tecnológico. Os dois primeiros deverão ser concebidos a partir dos recursos existentes localmente, com os cursos básicos e técnico-profissionais das escolas do SENAI e assemelhadas. Dentro desses cursos é que deverão ser estudados os embriões do desenvolvimento tecnológico, seja para o aprimoramento da qualidade, seja para a diferenciação (funcional, estética) dos produtos e dos processos (energia, ambiente, saúde dos trabalhadores). Programa de desenvolvimento de competências metalmecânicas, eletromecânicas e em software e automação, no âmbito das escolas técnicas SENAI e congêneres Uma grande parte dos desenvolvimentos nos processos produtivos pode ser realizada por modificações nos equipamentos e nos processos existentes. A evolução dos SLPs em direção à inovação e ao desenvolvimento de novas soluções técnicas, envolve o desenvolvimento de competências técnicas que permitem aos trabalhadores qualificados pelas escolas técnicas e profissionais o alcance de graus de autonomia superiores no seu trabalho. A experiência da Escola Técnica do SENAI, em Cascavel, revela que a integração do software e da automação às escolas de cunho metal mecânico propicia condições para a promoção dos processos industriais a patamares superiores. Programa de apoio tecnológico e certificação Voltado, sobretudo, para os SLPs metal mecânicos (EMOH, Metais Sanitários, Equipamentos e Implementos Agrícolas, Móveis de Metal e Sistemas de Armazenagem e Logística) e de software. O módulo básico poderá ser oferecido nos demais sistemas produtivos; conceitos e instrumentos de qualidade; qualidade dos produtos e dos fornecedores. Formação de um grupo de trabalho misto para discutir, com o INMETRO e a ANVISA, os protocolos e os procedimentos de teste e de validação dos produtos da área médico-hospitalar-odontológica. Um representante dos polos de Curitiba e de Campo Mourão deveria agregar-se aos grupos técnicos que existem no plano federal. O TECPAR poderia submeter ao CNPq uma bolsa RHAE (Recusos Humanos para Atividades Estratégicas) para capacitar um profissional de bioengenharia para estudar e dar suporte às demandas dos dois polos de EMHO. INMETRO e TECPAR. 204 Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná Programa de capacitação para gestão ambiental e cumprimento de normas ambientais Nenhum dos programas que concedem benefícios, de qualquer espécie, deveria encetar as suas atividades sem um adequado equacionamento da questão ambiental. Esse equacionamento pode desdobrar-se em dois planos principais. O primeiro, mais imediato, envolve o cumprimento das normas. Ele pode ser realizado em etapas, mas cada uma delas deve estar associada a metas e ser antecipadamente estabelecida e acordada com as entidades locais. O segundo envolve uma revisão dos processos produtivos, com o intuito de identificar as necessidades e as possibilidades de mudanças que permitam enfrentar os problemas ambientais associados à atividade local com outros meios que não os paliativos, de natureza apenas mitigadora. Programa-piloto de capacitação para a inovação I fase Este programa baseia-se na mobilização de novas competências para articular-se às criadas pelos programas anteriores. A ideia é mobilizar um grupo profissional (com três competências complementares, um número suficiente para produzir soluções efetivamente diferenciadas) para conceber certo número de novos produtos, de propriedade coletiva das empresas dispostas a participar do programa nas etapas anteriores e, nesta, com aporte de recursos para a remuneração (parcial) do projeto inovador. O restante dos recursos seria conseguido com financiamento de organismo estadual ou federal (FINEP Programa de Apoio a APLs; BNDES Proinco (Programa de Investimentos Coletivos Produtivos). Programa-piloto de capacitação para a inovação II fase Baseado nos resultados da experiência anterior, o grupo profissional, constituído no Programa-piloto de Capacitação para a Inovação, poderia tornar-se autônomo, sob forma jurídica a definir (empresa, OSCIP), ou ser incorporado a um organismo público existente. Nesse caso, o objetivo é torná-lo autônomo e vinculado, de forma sustentada, às demandas de um ou mais SLP, como um grupo de competências aglutinado e estimulado durante um período de tempo com recursos privados e públicos. Investimentos: principalmente e crescentemente privados, oriundos de projetos individuais de empresas ou de consórcios. Os recursos públicos, eventualmente necessários na etapa inicial, deveriam desaparecer rapidamente, dirigindo-se a outros programas ou a este mesmo programa em outros SLP. 205 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Programa de valorização cultural-educacional das atividades produtivas locais Concepção, desenvolvimento e produção de um material didático para capacitação dos professores da rede de ensino pública e privada, em torno dos temas principais relacionados com a atividade produtiva local. Capacitação desses professores, quanto: à história e à geografia do produto no Brasil e no mundo; aos principais processos físicoquímicos subjacentes à produção; aos processos biológicos envolvidos no desenvolvimento das matérias-primas, nos resíduos; às questões ambientais; à segurança no trabalho; aos exemplos de experiências bem-sucedidas de transformação econômica e desenvolvimento em SLPs semelhantes. Programa de estímulo à expansão da produção e à formalização da atividade econômica A carga fiscal brasileira é elevada e o sistema tributário é burocrático, demandando das empresas uma administração complexa e dispendiosa. Esses dois fatos, amplamente reconhecidos, têm contribuído para a prática sistemática da sonegação, por parte de muitas empresas. Essas práticas geram dois problemas bastante graves. O primeiro é a deformação dos padrões de competição: as empresas que sonegam (ou que sonegam mais) possuem vantagens em relação àquelas que cumprem adequadamente as regras tributárias. Eventualmente, aquelas acabam por induzir um comportamento análogo por parte dessas últimas. O segundo problema, associado ao anterior, diz respeito à impossibilidade de uma gestão adequada nas empresas, cuja contabilidade convive com o descumprimento das regras fiscais. Essas empresas podem, eventualmente, apresentar um impulso inicial de crescimento mais vigoroso, pelo fato de terem custos menores, mas são incapazes de aproveitá-lo de forma duradoura, pois deformam a sua estrutura de custos, a sua contabilidade e a sua gestão e tornam-se incapazes de sustentar uma trajetória expansiva. Em que pese o fato de se tornarem, cedo ou tarde, reféns e vítimas de uma trajetória deformada, essas empresas contribuíram para que as demais enfrentassem uma concorrência que possui elementos fortemente negativos e destrutivos. O Estado do Paraná poderá enfrentar essa questão mais adequadamente no contexto de sua política para SLPs. Ao propiciar às empresas dos SLP e aos próprios SLP meios para o seu desenvolvimento, poderá, nesse mesmo movimento, oferecer às empresas os meios para uma formalização adequada e para práticas fiscais e tributárias consistentes com o seu desenvolvimento de longo prazo. A política estadual para SLP poderá recorrer a 206 Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná mecanismos de alívio fiscal, sejam eles diferimentos, reduções de alíquotas ou outros instrumentos que a criatividade fazendária venha a conceber. Um ponto importante a ser buscado neste programa é a combinação do estímulo fiscal com a criação de condições para o desenvolvimento a longo prazo das empresas e o estabelecimento de um terreno saudável de competição. OBSERVAÇÕES FINAIS A implementação dessas proposições de políticas deve, necessariamente, ser articulada à política industrial e a outras políticas estaduais, notadamente a de desenvolvimento regional. Não se pode criar a falsa expectativa de que uma política de apoio aos sistemas locais de produção seja capaz de resolver todos os problemas e gerar condições suficientes para o desenvolvimento econômico e social do Estado. Além disso, é necessário ter em mente que nem tudo pode ser tratado por meio de políticas para SLP, pela simples razão de que há atividades econômicas para as quais essa forma de organização territorial da produção não se aplica. Nesses casos, as demandas podem ser mais bem atendidas por meio de políticas e programas de desenvolvimento setorial e regional. Por isso, é importante que a política para SLP seja realmente tratada como um componente de um conjunto de políticas estaduais de desenvolvimento de cunho setorial e/ou regional. Os mapas dessas políticas poderiam, por exemplo, ser sobrepostos aos dos SLPs para concatenar as ações. Isso permitiria atender às demandas relacionadas às infraestruturas (rodovias, aeroporto regional, energia, telecomunicações) e às instituições de apoio às empresas. Adicionalmente, na própria política para SLP, deve-se procurar aproveitar as sinergias com as metas setoriais da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior, do governo federal, particularmente em atividades de software e de produção de bens de capital. Cabe ainda ressaltar as limitações de uma política estadual para SLP como meio de dinamizar sistemas econômicos regionais ou mesmo locais, especialmente quando as atividades locais não estão interligadas a sistemas produtivos mais amplos. Nesses casos, a capacidade de dinamizar a economia regional ou local, no sentido de promover maior diversificação da estrutura produtiva e de liderar o desenvolvimento de outras atividades, pode ser limitada. Daí a necessidade, mencionada acima, de articular a política para SLP com outras políticas estaduais. Entretanto, mesmo levando em conta essa limitação, foi 207 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná possível observar que o desenvolvimento econômico e social, nas regiões abrangidas por SLP, tende a ser influenciado pelas atividades do sistema local, o que já é uma boa justificativa para políticas ou ações institucionais com esse foco. Por fim, uma ressalva muito importante: a política para SLP não pode assumir uma conotação paternalista, ao contrário, deve oferecer condições para que os protagonistas locais empresas, empresários, trabalhadores, entidades públicas e privadas e o tecido associativo formal ou informal utilizem a sua capacidade de mobilização em favor do desenvolvimento, na medida do possível oferecendo contrapartidas próprias. Ou seja, a política não pode substituir a capacidade empreendedora dos atores locais, que deve preponderar. REFERÊNCIAS ARTHUR. W.B. Self-Reinforcing Mechanisms in Economics. In: ANDERSON, P.W.; ARROW, K.J.; PINES, D. (ed). The Economy as an Evolving Complex System. SFI Studies in the Sciences of Complexity. Reading, Mass. Addison-Wesley Publishing Company, 1988. BELUSSI, F.; GOTTARDI, G. (org.). Evolutionary Patterns of local industrial systems: towards a cognitive approach to the industrial district. Aldershot: Ashgate. FELDMAN, M.P. An examination of the geography of innovation. Industrial and Corporate Change, 2 (3), p.451-470, 1993. GEREFFI, G. The organization of buyer-driven global commodity chains: how U.S. retailers shape overseas production networks. In: GEREFFI, G.; KORZENIEWICZ, M. Commodity chains and global capitalism. Westport: Praeger, 1994. HUMPRHEY, J.; SCHMITZ, H. Governance and upgrading: linking industrial cluster and global value chain research. IDS Working Paper 120. Brighton, IDS, 2000. INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL IPARDES SEPL. SECRETARIA DE ESTADO DE PLANEJAMENTO E COORDENAÇÃO GERAL SEPL, Governo do Estado do Paraná . Arranjos Produtivos Locais do Estado do Paraná identificação, caracterização e construção de tipologia. Curitiba: IPARDES. Disponível em: <http:// www.redeapl.pr.gov.br/>), 2006 KRUGMAN, P. The role of geography in development. In: PLESKOVIC, B.; STIGLITZ, J.E. (ed). Annual World Bank Conference on Development Economics 1998. Washington: The World Bank,1999. LAZERSON; LORENZONI. The firms that feed industrial districts: A return to the Italian source. Industrial and Corporate Change, 8 (2), p.235-266, 1999. LOMBARDI, M. The evolution of local production systems: the emergence of the invisible mind and the evolutionary pressures towards more visible minds. Research Policy 32 (8), p.1443-1462, 2003. 208 Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná PORTER, M.E. Clusters and the new economics of competition. Harvard Business Review, 76 (6), p.77-90, 1998b. SCHMITZ, H.; NADVI, K. Clustering and industrialization: introduction. World Development, 27 (9), p.1503-1514,1999. SCOTT, A. . The geographic foundations of industrial performance. In: CHANDLER, Jr. A. D.; HAGSTROM, P.; SOLVELL, O. (ed). The Dynamic Firm: the role of technology, strategy, organization, and regions. Oxford University Press, 1998. STORPER, M.; HARRISON, B. Flexibility, hierarchy and regional development: the changing structure of industrial production systems and their forms of governance in the 1990s. Research Policy. 20 (5), p.407-422, 1991. 209 Sobre os autores Alvaro José Periotto Graduação em Ciências da Computação pela USP - São Carlos (1978), mestrado em Otimização e Pesquisa Operacional pela UNICAMP (1983) e doutorado em Engenharia de Sistemas e Computação pela COPPE-UFRJ (1992). Foi diretor de gestão de pesquisa da Universidade do Oeste Paulista. É professor titular da Universidade Estadual de Maringá (concurso público em 1994), onde se dedica ao ensino e à pesquisa em Administração, à atividades de extensão junto ao Núcleo Local da Unitrabalho e à avaliação institucional (CPA). Atualmente, é coordenador do Programa de PósGraduação em Administração consorciado UEM-UEL. Tem experiência nas áreas de Administração e Computação, com interesse principalmente sobre os seguintes temas: tecnologia e sistemas de informações empresariais, ciência e tecnologia nas organizações, empreendedorismo e tecnologia educacional e corporativa. Antônio Carlos de Campos Graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Maringá (1992), especialização em Estatística Aplicada pela Universidade Estadual de Maringá (1996), mestrado em Ciências (Economia Aplicada) pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (1998) e doutorado em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal do Paraná (2004). Atualmente, é Professor Adjunto da Universidade Estadual de Maringá, Revisor de periódico da Revista Brasileira de Inovação, Revisor de periódico de Textos de Economia, Revisor de periódico da revista A Economia em Revista e Revisor de periódico da Revista de Economia (Curitiba). Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Industrial. Atuando, principalmente, nos seguintes temas: arranjos produtivos, desenvolvimento regional, organização industrial, clusters. Fábio Hideki Ono Graduação em Economia pela Universidade Estadual de Campinas e Mestrado em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal do Paraná. Atualmente, é analista de projetos da empresa de consultoria norte-americana Independent Projetct Analysis (IPA) Fernanda Yumi Tsujiguchi Graduação em Comunicação Social, com habilitação em Relações Públicas, pela Universidade Estadual de Londrina (1999), e mestrado em Administração - área de concentração em Gestão de Negócios - linha de pesquisa em Empreendedorismo pela Universidade Estadual de Londrina e Universidade Estadual de Maringá (2007). Atualmente, é responsável pela gestão da Incubadora Tecnológica de Presidente Prudente - INTEPP e professora da Universidade do Oeste Paulista - Unoeste, atuando nas seguintes áreas: Empreendedorismo e Inovação. 213 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Jaime Graciano Trintin Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Maringá (1984), mestrado em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (1988) e doutorado em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas (2000). Atualmente é professor associado da Universidade Estadual de Maringá. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Regional, atuando, principalmente, nos seguintes temas: Desenvolvimento Regional, Desenvolvimento Econômico, arranjos Produtivos, Clusters e Economia Paranaense. João Furtado graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas (1981), mestrado em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas (1984) e doutorado em Sciences Économiques - Universite de Paris XIII (Paris-Nord) (1997). Professor assistente-doutor da UNESP (licenciado), credenciado como professor-orientador do programa de pós-graduação em Política Científica e Tecnológica da UNICAMP, professor assistente-doutor da Escola Politécnica da USP. Exerceu funções de assessoria na FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos - (1999-2002), e no BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - (2005-2007). Coordenou diversos projetos de pesquisa e dirigiu, durante mais de 10 anos, o Grupo de Estudos em Economia Industrial (GEEIN - UNESPl). Coordena o Observatório de Estratégias para a Inovação. É fundador e Editor-Executivo da Revista Brasileira de Inovação. Orientou dezenas de trabalhos de iniciação científica, monografias de conclusão de curso, dissertações de mestrado e tese de doutorado. Produziu e publicou artigos, capítulos de livros e relatórios técnicos. Exerce, na FAPESP, a função de coordenador-adjunto para as áreas de inovação e para os programas PIPE e PITE. Conselheiro da FIESP (Conselho Superior de Tecnologia) e conselheiro (Conselho Superior) da Fundação Escola de Sociologia e Política. Atua nas linhas de pesquisa: Economia da Tecnologia e da Inovação; Estratégias e Políticas Industriais e Tecnológicas; Estudos Setoriais; Análise de Estratégias Competitivas e de Tecnologia e Inovação Kleber Fabiano Angeli graduação em Matemática pela Fundação Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Mandaguari (1998). Mestrado em Administração pela Universidade Estadual de Londrina (2007) - PPA/UEM/ UEL - e especialista em Gestão Financeira e Comércio Internacional pelo Centro Universitário de Maringá (2002). Atualmente, é professor titular do Instituto Adventista Paranaense e UNIPAR e professor de pós-graduação do CESUMAR e FACINOR. Tem experiência na área de Administração, atuando principalmente nos seguintes temas: Empreendedorismo, Mercadologia e Gestão Financeira. Luiz Gustavo Antonio de Souza Graduação em Economia pela Universidade Estadual de Londrina (2007) e foi bolsista Pibic-CNPq. Atualmente, cursa o doutorado em Ciências - Economia Aplicada pela Esalq-USP. Atua na área de economia, com ênfase em: Economia Industrial - Tecnologia e Inovação, Economia Regional e Estudos em Complexos Agroindustriais. 214 Sobre os autores Marcia Regina Gabardo da Camara Graduação em Economia pela Universidade de Brasília (1980), mestrado em Economia pela Universidade de São Paulo (1986) e doutorado em Economia pela Universidade de São Paulo (1993). Atualmente, é Professora Associada da Universidade Estadual de Londrina. Tem experiência na área de Economia - com ênfase em Organização Industrial, Estudos Industriais e Economia da Inovação e da Tecnologia -; e Administração - com ênfase em Empreendedorismo e Políticas Públicas. Atua, principalmente, nos seguintes temas: Competitividade, Inovação, Arranjo Produtivo Local , Aglomerações, Clusters e Políticas Públicas. Márcia Gonçalves Pizaia Graduação em Economia pela Universidade Estadual de Londrina (1996), especialização em Auditoria e Controladoria pela Universidade Norte do Paraná (1999), mestrado em Economia Política pela Universidade de Brasília (2001), doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2004) e pós-doutorado pela Universidade Federal de Minas Gerais (2007). Atualmente, é Professora Adjunta do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Londrina. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Regional e Urbana. Atuando, principalmente, nos seguintes temas: Regulação, Tarifa Econômica Ótima. Maria de Fátima Sales de Souza Campos Graduada em Economia Universidade Federal de Pernambuco (1989), Mestrado em Economia Rural (ESALQ/USP) (1992) e Doutora em Economia pela UFPE (2004), e atua no Departamento de Economia da Universidade Estadual de Londrina, onde desenvolve pesquisas nas áreas de Economia Internacional, Economia Regional, Economia do Trabalho e Economia Industrial, principalmente as relacionadas às seguintes temáticas: Comércio Exterior Brasileiro, Mercado de Trabalho, Desigualdades Salariais, Produtividade e Salários, Competitividade Industrial e Arranjos Produtivos Locais. Neio Lúcio Peres Gualda Graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Maringá (1979), especialização em economia de empresas pela Universidade Estadual de Maringá (1984), mestrado em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1988) e doutorado em Economia de Empresas pela Fundação Getulio Vargas - SP (1994). Atualmente, é professor Titular da Universidade Estadual de Maringá. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Internacional. Atuando, principalmente, nos seguintes temas: Estrutura de Mercado, Comércio Internacional, Argentina, Abertura Econômica, Concorrência e Organização Industrial. Renato de Castro Garcia Graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1991), Mestrado (1996) e Doutorado (2001) em Economia pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente, é Professor do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, em regime de dedicação exclusiva (MS3; RDIDP). Seus trabalhos de pesquisa estão inseridos na área de Economia, com ênfase em Economia Industrial e da Tecnologia, atuando, principalmente, em temas como: Sistemas Locais de Produção e Aglomerações de Empresas, 215 Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Interações Universidade-Empresa, Indústria Brasileira, Política Industrial, Estratégias Empresariais e Metodologia de Análise Regional. Sérgio Eduardo Ketelhute Sampaio Graduação em Economia pela Universidade Estadual de Campinas e Mestre em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal do Paraná. Atualmente, é professor de Economia para administração da Faculdade Internacional de Curitiba e Coordenador de Projeto de Extensão Tecnológica no Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). Vanderlei José Sereia Graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Londrina (1983), especialista em Administração e Economia Rural pela Universidade Estadual de Londrina (1985), Mestre em Economia pela Universidade de Brasília (2001). Atualmente, é professor Assistente da Universidade Estadual de Londrina e Doutorando em Administração na UNINOVE. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economias Agrária e dos Recursos Naturais. Atuando, principalmente, nos seguintes temas: Exportações Paranaenses, Complexo Agroindustrial. Wilson Suzigan Graduação em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1965), mestrado em Economia pela Fundação Getúlio Vargas - RJ (1968), doutorado em Economia pela University of London (1984) e pós-doutorado pela University of London (1990). Atualmente, é Assessor da Diretoria Científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Professor da Universidade Estadual de Campinas, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Consultor do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social, Membro de corpo editorial da Revista Brasileira de Inovação, Membro de corpo editorial da Revista de Economia Política, Membro de corpo editorial da Revista ANPEC e Assessor da CAPES para emissão de pareceres da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Industrial. Atua, principalmente, nos seguintes temas: Investimentos, Indústria e Desenvolvimento Industrial. 216 Título Organiuzadores Gestão de Produto Capa Texto de quarta Capa Projeto Gráfico Produção Gráfica Revisão Formato Tipografia Papel Número de páginas Tiragem Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná Marcia Regina G. da Camara; Maria de Fátima Sales de S. Campos e Vanderlei José Sereia Rosane Fonseca de Freitas Martins Guilherme Henrique de Oliveira Cestari Maria Helena de Moura Arias Guilherme Henrique de Oliveira Cestari Maria de Lourdes Monteiro Martha Augusta Corrêa e Castro Gonçalves 18 x 24 cm Garamond Supremo 250 g/m2 (capa) of set 90g/m2 (miolo) 230 500