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(Orgs.)
Catalogação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos daBiblioteca
Central da Universidade Estadual de Londrina.Dados Internacionais de
Catalogação-na-Publicação (CIP)
C257
Características e potencialidades das aglomerações de software
no Paraná [livro eletrônico] / Márcia Regina Gabardo da
Camara, Maria de Fátima Sales de Souza Campos, Vanderlei
José Sereia (orgs.). – Londrina : Eduel,
2013.
1 Livro digital.
Inclui bibliografia.
Disponível em : http://www.uel.br/editora/portal/pages/
livros-digitais-gratuítos.php
ISBN 978-85-7216-691-1
1. Tecnologia da informação. 2. Arranjos produtivos locais. 3.
Sistemas de informação gerencial. 4. Indústria de software – Paraná.
I. Camara, Márcia Regina Gabardo da. II. Campos, Maria de
Fátima Sales de Souza. III. Sereia, Vanderlei José.
CDU 658.012.2
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2013
O desenvolvimento do segmento de software é considerado estratégico e tem
recebido recursos públicos federais e governamentais do estado do Paraná, para identificar
os pontos fortes e as barreiras ao seu desenvolvimento. O modelo brasileiro de
desenvolvimento de software desenvolve-se a partir dos anos 1990, focado no mercado interno,
mas apresenta-se com condições de conquistar o mercado externo, além de contribuir para
o desenvolvimento regional.
O mercado de software é dinâmico, diversificado, cresce focado em serviços e em
menor intensidade em produtos e requer mão-de-obra qualificada. É uma atividade de
natureza inovadora intensiva em tecnologia, conhecimento e mão-de-obra qualificada. A
presença de ativos institucionais – universidades, institutos de pesquisa e órgãos
governamentais e privados - pode favorecer a concentração espacial da atividade e induzir
o desenvolvimento das empresas. Neste contexto, destaca-se o papel das políticas públicas
para o seu crescimento. A atividade pode se caracterizar por formas coletivas de aprendizado
(redes de interações) e apresentar, cumulatividade, elementos críticos da competitividade e
da organização espacial das atividades econômicas. Adicionalmente, caracteriza-se pela
terceirização, serviços de outsourcing e de participação em várias cadeias produtivas.
As raízes da atividade de software, no Paraná encontram-se nos anos 1970, com o
surgimento das atividades de tecnologia de informação e de comunicação em Curitiba,
Londrina e Maringá. Contudo, seu desenvolvimento acentua-se nos anos 1980 - com a
política nacional de informática focada no hardware, mas com impactos no software; e nos
anos 1990, com o surgimento do SOFTEX – Excellence in Software. Há unanimidade entre
os autores que pesquisam o setor no sentido de que as atividades de software, em Curitiba,
Londrina, Maringá e no Sudoeste do Estado, foram beneficiadas pelas políticas públicas de
fomento (Programa de Informática Industrial, Lei de Informática, SOFTEX e W-Class).
A Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) do governo
Lula, de 2003, considerou o setor de software prioritário, dada a sua natureza inovadora e a
capilaridade, porque permitiria a ampliação da produtividade das empresas em diferentes
cadeias produtivas. Com a crescente entrada de empresas de capital estrangeiro para atuar
no desenvolvimento e no fornecimento de tecnologias de informação e comunicação, muitas
ix
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
empresas nacionais têm realizado fusões e aquisições no mercado nacional para enfrentar
a concorrência, ampliando a exploração de economias de escala e o escopo na exploração
de serviços, desenvolvimento de sistemas, entre outras atividades. Isto é, o setor está sofrendo
grandes transformações. Em maio de 2008, o governo federal renovou o estímulo ao
desenvolvimento do software para exportação, em sua política de desenvolvimento industrial.
Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Software - informação disponível
em sua página institucional na internet - o Brasil alcançou a 12ª posição no mercado mundial,
movimentado mais de US$ 11 bilhões de dólares, equivalentes a 0,86% do PIB em 2007;
US$4,19 bilhões em software, 1,6% do mercado mundial; e US$ 6,93 bilhões em serviços.
O crescimento médio do setor no período 2008/2010 é estimado em 10% ao ano. Em
2007, a participação de programas de computador desenvolvidos no país atingiu 33,6 % do
total do mercado brasileiro de software. O mercado é composto por 7.937 empresas, que
desenvolvem, produzem e distribuem softwares, além da prestação de serviços. O
desenvolvimento e a produção de software é dominado por micro e pequenas empresas
(94% das firmas).
O livro reúne uma coletânea de artigos científicos desenvolvidos, direta ou
indiretamente, a partir da análise de resultados do projeto de pesquisa fomentado pela
SETI/Governo do Estado do Paraná – Fundo Paraná e pelos Arranjos Produtivos Locais
- Projeto APL - Identificação, Caracterização, Construção de Tipologia e Apoio na
Formulação de Políticas para os Arranjos Produtivos Locais do Paraná. As pesquisas
de campo foram desenvolvidas em Londrina, Maringá, Curitiba e Sudoeste do Paraná, ao
longo do período de 2006 e 2007. São discutidas as experiências das aglomerações de software,
com ênfase na inovação e no fortalecimento da governança e as redes existentes em tais
aglomerações. É válido destacar que a problemática envolta na discussão refere-se à
necessidade de incrementar, via políticas públicas e privadas, o desenvolvimento setorial,
dada a sua capilaridade no tecido produtivo e a sua capacidade de ampliar a produtividade,
reduzir os custos de produção e contribuir para a geração de divisas, mediante o incremento
das exportações intensivas em tecnologia e mão-de-obra qualificada.
O capítulo um analisa as características complexas do setor de tecnologias de
informação e comunicação no qual está inserido o software. O artigo, desenvolvido por
Kleber Angeli, Álvaro Periotto e Marcia Regina Gabardo da Camara, discute, teoricamente,
sob a luz da teoria da complexidade e da teoria das organizações, a Tecnologia da Informação
(TI) como elemento condutor de inovação para aglomerações produtivas. As vertentes
conceituais sobre os sistemas adaptativos complexos e as aglomerações produtivas norteiam
o arcabouço teórico discutido do artigo, tendo como fator de ligação a aprendizagem e a
mudança, em prol de um ambiente inovador, proporcionado pela TI.
x
Apresentação
O capítulo dois apresenta um diagnóstico da aglomeração produtiva de software
de Londrina e propõe medidas de políticas públicas para o desenvolvimento local, o
incremento da produção e da inovação nas empresas, no período que antecede a articulação
formal do Arranjo Produtivo de Tecnologias de Informação de Londrina e Região. Marcia
Regina Gabardo da Camara, Maria de Fátima Sales de Souza Campos, Vanderlei José Sereia
e Luis Gustavo Antonio da Silva realizam o diagnóstico da capacidade produtiva e inovativa
do arranjo produtivo de Software de Londrina e a sugestão de políticas públicas para o
aprofundamento das relações entre os agentes e a promoção do desenvolvimento do APL.
Foi possível obter resultados a partir da realização de entrevistas com as instituições locais
– Universidades, SEBRAE, CODEL, INTUEL, SERCOMTEL – e da aplicação de
questionário desenvolvido pela Rede Arranjos Produtivos Locais dos agentes produtivos.
A análise dos resultados da pesquisa de campo em 25 empresas, no ano de 2006, permitiu
concluir que a aglomeração de software de Londrina possui um elevado potencial inovativo,
que pode ser reforçado pelas ações de políticas públicas focadas na produção e no incremento
da inovação local e no fortalecimento da governançal.
O capítulo três realiza o diagnóstico dos determinantes da inovação e do
aprendizado após a constituição e a ação da governança local, permitindo verificar mudanças
no comportamento dos agentes, no sentido de incrementar a inovação produtiva e os
processos de aprendizado identificados nas empresas de software de Londrina e região, no
ano de 2007. Fernanda Tsujiguchi e Marcia Regina Gabardo da Camara verificam que o
conhecimento tem sido considerado o critério fundamental para a performance econômica
nos últimos anos. A geração, a difusão e a aquisição de conhecimentos nas empresas de
software requer que tais organizações desenvolvam processos de aprendizado que aglutinem
competências e habilidades, elevando sua capacidade produtiva e inovativa. O artigo descreve
os processos de aprendizado e as inovações existentes na rede de micro e pequenas empresas
de software da cidade de Londrina. Verifica-se elevado grau de introdução de inovações,
porém, eles estão restritos ao campo das inovações incrementais, pois boa parte das empresas
pesquisadas desenvolvem softwares sob encomenda, ou seja, adaptando produtos e serviços
de acordo com as necessidades dos clientes.
O capítulo quatro apresenta a importância da rede de empresas e de instituições
formais e informais no desenvolvimento setorial das empresas de software de Londrina e
região. Fernanda Tsujiguchi e Marcia Regina Gabardo da Camara analisam os impactos de
ações de cooperação, parcerias e alianças estratégicas na competitividade da rede de empresas
de software de Londrina, setor de grande representatividade para o estado do Paraná. A
análise dos resultados permite identificar os tipos de atividades desenvolvidas, a intensidade
xi
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
da interação com outras empresas, os agentes e os impactos econômicos das ações
cooperadas. Os resultados revelam maior cooperação em nível local (Londrina) em atividades
de desenvolvimento e comercialização em software, apresentando retorno econômico positivo
de projetos cooperados. A análise dos resultados permite concluir que a rede está mais
voltada para produzir e comercializar, visando à redução de custos e à eficiência operacional.
O capítulo cinco apresenta o diagnóstico das características da aglomeração de
software de Maringá e as barreiras verificadas para o seu desenvolvimento. Neio Lúcio Peres
Gualda, Antonio Carlos de Campos e Jaime Graciano Trintin analisam a estrutura técnicoprodutiva da atividade de software do município de Maringá à luz do conceito de Arranjos
Produtivos Locais (APL). Discute-se a crescente importância atribuída pela literatura à
tecnologia da informação, especialmente quanto às atividades inovativas, dado sua capacidade
de alavancagem e transbordamento para os diversos setores da economia. A metodologia
utilizada baseou-se na identificação e na caracterização dos APL´s, a partir de informações
estatísticas e de pesquisa de campo. Os resultados encontrados revelam elevada participação
de micros e pequenas empresas, gerenciadas por jovens empreendedores com elevada
escolaridade, capacidade de inovação e diferencial competitivo. Os autores identificam
desafios, fragilidades e potencialidades, com destaque para a crescente consciência de alguns
empresários quanto à necessidade de organização e articulação entre os agentes do setor e
a disposição das empresas para empreender ações visando à cooperação e às ações conjuntas.
O capítulo seis analisa a dinâmica recente da indústria de software na cidade de
Maringá, após a constituição da governança do APL de Software de Maringá. Kleber Angeli
e Marcia Regina Gabardo da Camara apresentam um panorama do setor de software no
período recente. Para caracterizar adequadamente a indústria de software de Maringá – Paraná,
os autores realizam uma pesquisa empírica sobre a evolução e a formação do APL de
Software. O estudo analisa os condicionantes do relacionamento interorganizacional e o
processo de institucionalização do APL embrionário de software. A análise dos resultados
destaca que entre os condicionantes: Necessidade legal (interação não voluntária); Assimetria,
Reciprocidade, Eficiência, Estabilidade e Legitimidade (interação voluntária), mas a
Necessidade Legal e a Eficiência são os mais importantes. Para a instituição e o sucesso da
governança, a necessidade legal é importante devido às ações formais entre as empresas
para atender normatizações, regulamentações de órgãos fiscalizadores e agências
governamentais, ganhando capacidade de negociação política, favorecendo a busca de
recursos para o setor. A análise da ação dos agentes integrantes do APL embrionário de
software de Maringá e das demais empresas que podem ser beneficiadas revela que ele
encontra-se na fase de objetivação da institucionalização.
xii
Apresentação
O capítulo sete analisa o desenvolvimento de políticas locais e setoriais para o
setor de software no Paraná – Curitiba e Sudoeste do Paraná - sob o enfoque da geografia da
inovação, referencial teórico que os autores Sérgio Sampaio e Fabio Ono consideram
apropriado à investigação sobre o fenômeno da aglomeração de empresas de software e,
consequentemente, para a proposição de políticas públicas. Para estes dois autores, o espaço
é lócus do desenvolvimento econômico endógeno, constituindo-se no conjunto de recursos
característicos relativamente imóveis e, até mesmo, intangíveis de uma região ou local. Após
discutir as bases de conhecimento local, as habilidades da mão-de-obra, as instituições e as
infraestruturas tecnológicas e organizacionais das empresas aglomeradas em Curitiba e Pato
Branco, os autores concluem que as políticas locais de apoio ao desenvolvimento de software,
nos moldes das políticas de apoio do APL, são viáveis. Entretanto, sob a perspectiva do
aumento da competitividade das empresas brasileiras nos mercados internacionais de software,
por meio do desenvolvimento de soluções inovadoras, o impacto de ações locais pode ser
relativamente exíguo, caso não sejam associadas a políticas setoriais mais amplas.
O capítulo oito investiga os resultados de um amplo projeto de pesquisa, no qual
estavam inseridas as aglomerações de software de Londrina, Maringá e sudoeste do Paraná,
coordenado pelos autores Wilson Suzigan, João Furtado e Renato Garcia, com o propósito
de mapear e estudar arranjos produtivos locais do estado de Paraná e propor políticas
estaduais e ações institucionais de apoio no biênio 2005-2006. Os autores realizam a discussão
dos fundamentos analíticos e dos aspectos metodológicos da pesquisa em uma unidade da
federação e as políticas propostas referem-se, especificamente, às políticas públicas estaduais.
O referencial analítico de apoio é a discussão de sistemas locais de produção (SLP), porém
há menções às aglomerações territoriais de empresas como um estágio preliminar do método
utilizado, quando ainda não é possível caracterizar tais aglomerações como SLP. O capítulo
finaliza com a sugestão de políticas em consonância com esse referencial e que foram
acolhidas pelo estudo que, originalmente, incluiu indústrias extrativas, de transformação e
de atividades de software.
A análise conjunta das experiências das aglomerações de software do estado do
Paraná sinaliza a importância de políticas locais articuladas com as políticas regionais. A
criação de condições adequadas ao desenvolvimento da infraestrutura em sentido amplo –
da mão-de-obra, formação e desenvolvimento das redes, do aprendizado e da inovação, da
produção, da governança e dos relacionamentos interorganizacionais – requer a ação
articulada dos agentes nas diferentes esferas: universidades, empresas, governo e instituições
não governamentais. Na visão dos organizadores, a disseminação dos resultados das pesquisas
realizadas com o apoio da SETI e do governo do estado do Paraná, via Fundo Paraná,
xiii
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
contribuirá para o aprofundamento do debate em setores de base tecnológica, estimulando
novas investigações e a aceleração do desenvolvimento regional.
Marcia Regina Gabardo da Camara
Maria de Fátima Sales de Souza Campos
Vanderlei José Sereia
xiv
A tecnologia da informação como condutora de inovação em aglomerações produtivas
INTRODUÇÃO
As organizações passam por transformações, especialmente na época em que as
inovações nas tecnologias da informação são propagadas rapidamente em diversas economias
e diferentes países. Os novos processos e produtos permitem a exploração de economias
de escala e de escopo. Nesta dinâmica que contempla oportunidades e ameaças, as
organizações em redes apresentam-se como uma alternativa.
As mudanças induzidas pelas inovações incitam a busca do conhecimento novo.
Segundo Khun (2000), a ciência constrói-se somente pela instituição de novos paradigmas,
em detrimento de paradigmas anteriores. Ainda sobre a ótica socioeconômica, Marx afirmava
que o capitalismo e a burguesia nutriam-se do novo, eliminando o antigo antes que se
depreciasse e se tornasse obsoleto.
As mudanças geram, direta ou indiretamente, resistência dos atores envolvidos
no processo, os quais buscam postergar a introdução do novo. A Tecnologia da Informação
é uma referência para as organizações contemporâneas; pode-se perceber que por meio
dela, a exposição dos limites do conhecimento se faz necessária para que o “novo” ocupe o
seu espaço.
Face às exigências mercadológicas, a velocidade das mudanças nas empresas de
base tecnológica - software, biotecnologia, mecânica fina, microeletrônica, entre outras - faz
com que a estrutura destas organizações torne-se mais flexível na busca de inovações.
Percebe-se, também, como característica da grande maioria das empresas de base tecnológica
o fato de serem pequenas ou microempresas com sutis peculiaridades ligadas a aspectos
regionais. Dessa forma, a cooperação, pelas redes interorganizacionais, revela-se uma solução
adotada por muitas delas.
Uma corrente científica que permite interpretar a evolução das aglomerações
fundamenta-se na teoria da complexidade, que busca o entendimento de como certas coisas
– células, um bando de pássaros, cidades, civilizações, organizações – conseguem manter
uma coerência em situações de contínua mudança, sem que haja necessariamente um controle
hierárquico e um planejamento central. (NOBREGA, 1996).
3
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Fundamentado no marco teórico que sustenta o tema e com a finalidade de
desvendar o problema exposto, elaborou-se uma pergunta cuja resposta ajudará a alcançar
o objetivo deste estudo: a Tecnologia da Informação pode prover a aprendizagem
organizacional, propiciando um ambiente inovativo e favorável a mudanças, dentro de redes
interorganizacionais complexas, como os arranjos produtivos locais, os sistemas produtivos
e aglomerações produtivas? Os procedimentos metodológicos envolvem a revisão crítica
da literatura sobre os temas abordados.
O capítulo está estruturado em 6 partes, incluindo esta introdução. A seguir,
apresentam-se: a complexidade e a aprendizagem organizacional; as redes
interorganizacionais; a tecnologia de informação nas estruturas organizacionais complexas;
as aglomerações e os arranjos produtivos locais; e as conclusões do capítulo.
COMPLEXIDADE E APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL
De acordo com Morin (1986), a complexidade está presente onde quer que se
produza um conjunto de ações, interações e de retroações. Assim, a complexidade significa
a multiplicidade, o entrelaçamento e a contínua interação da infinidade de sistemas e
fenômenos que compõem o mundo natural.
Uma das principais características desses fenômenos são as qualidades emergentes,
que surgem, resultantes da interação de partes ou de indivíduos movidos segundo algumas
poucas e simples regras locais. Assim, uma vez que certas condições estejam presentes, a
ordem pode surgir de situações aparentemente caóticas. (AGOSTINHO, 2003).
Segundo Morin (1977), os sistemas vivem em constante oscilação dentro do anel
tetralógico de ordem/desordem/interação/organização, conforme verifica-se na Figura 1:
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A tecnologia da informação como condutora de inovação em aglomerações produtivas
FIGURA 1 - O anel tetralógico
Fonte: Adaptado de Morin (1977)
Nesse anel tetralógico, a partir de um momento de desordem, os indivíduos, por
intermédio das interações, provocam uma nova ordem da organização e assim
sucessivamente. Os conceitos de ordem e de organização só se desenvolvem em função um
do outro. Quanto mais a ordem e a organização se desenvolvem, mais se tornam complexas,
mais toleram, mais utilizam e necessitam até da desordem. (MORIN, 1977).
Nesse contexto, cabe considerar os Sistemas Adaptativos Complexos (SAC‘s),
que existem na dialógica entre a ordem e a desordem. Esses sistemas aprendem e evoluem
de maneira adaptativa, ou seja, registram informações para extrair regularidades, inserindoas dentro de esquemas que são continuamente mudados à luz da experiência. (STACEY,1996).
Conforme afirma Klement (2000, p.6), “[...] ordem, desordem e organização não
são lineares, nem mutuamente excludentes. Estas noções interagem dialogicamente, isto é,
se relativizam continuamente, mantendo o sistema em atividade.” Sob o ponto de vista da
complexidade, as organizações podem ser vistas como um fenômeno que emerge da ação
e da interação dos agentes componentes de um sistema. Perceber estas organizações como
SAC‘s favorece a busca de soluções para os problemas advindos da crescente complexidade
do cenário mundial contemporâneo.
Abandona-se, assim, a linearidade herdada do modelo mecanicista, que enfatiza a
subdivisão do sistema em suas partes, em favor de uma visão mais integrada, em que a
solução vem da dinâmica do sistema como um todo e emerge daí, não da soma das ações
isoladas das partes. (NOBREGA, 1996).
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Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Uma das formas de verificação da complexidade nas organizações pode advir do
fato de quando que as atividades que não estavam na rotina de trabalho vêm à tona e
“forçam” os seus integrantes a buscarem uma solução. As pessoas detectam a não-linearidade
e trabalham, por meio de interações, em busca de uma solução.
Nesse contexto, verifica-se que as organizações são capazes de se estruturarem,
característica esta fortemente atribuída aos SAC‘s. Para Agostinho (2003, p.6): “A
possibilidade de auto-organização surge uma vez que os numerosos agentes que compõem
o sistema são elementos vivos. Eles têm autonomia para orientarem suas ações de acordo
com o que apreendem de sua interação com o ambiente.”
Stacey (1996) já considerava tais aspectos ao destacar um SAC como um sistema
que consiste de um grande número de componentes ou agentes, os quais se comportam de
acordo com seus próprios princípios de interação local, num processo de auto-organização.
Uma das características principais de um SAC é o fato de ser um sistema aberto,
uma vez que há um contínuo fluxo de entrada e saída (seja de matéria, energia ou informação)
entre o ambiente e o sistema. Stacey (1996) argumenta que os sistemas abertos necessitam
de uma forma de aprendizagem diferente daquelas encontradas em sistemas fechados e
que o caos e a instabilidade dentro dos sistemas podem colaborar no desenvolvimento de
insights na resolução dos problemas.
Usando esquema representativo de suas ideias, Argyris e Schon (1978) afirmam
que uma das barreiras à frente da aprendizagem é a tendência do sistema de focar o
aprendizado no circuito simples (single-loop) ao invés do circuito duplo (double-loop), como
mostra a figura 2.
FIGURA 2 - Circuito simples e circuito duplo de aprendizado
Fonte: Adaptado do modelo apresentado por Argyris e Schon (1978)
Recorrendo ao esquema representativo de Argyris e Schon (1978), considera-se
que, no circuito simples, as estratégias são definidas de acordo com o modelo mental do
sistema, não se criando dessa maneira inovação, uma vez que apenas repetem-se práticas
6
A tecnologia da informação como condutora de inovação em aglomerações produtivas
consideradas adequadas. Para Argyris e Schon (1978), a saída é a utilização de outra forma
de aprender que conduz à inovação daquilo que está sendo sistematicamente praticado. No
circuito duplo ocorre um processo de reflexão sobre a alteração do modelo mental que
impele o primeiro circuito, e, desta maneira, as variáveis do paradigma vigente são
questionadas.
Já Stacey (1996) acredita que o conhecimento obtido com a experiência é
reproduzido pelo agente e por aqueles que aderem à experiência. Complementando, adverte
que a aprendizagem em circuito simples é apropriada para lidar com situações previsíveis
bem definidas, mas é necessária a aprendizagem em circuito duplo nas situações ambíguas
e imprevisíveis das quais emergem as inovações. Nobrega (1996) também corrobora tais
ideias e acrescenta que os sistemas complexos aprendem, se auto-organizam e evoluem
pela habilidade de processar a informação que chega de fora.
Agostinho (2003) identifica a adaptação como sendo a propriedade básica dos
SAC‘s, no sentido de que o sistema é capaz de ajustar seu comportamento a partir do que
consegue perceber sobre as condições do seu meio ambiente e desempenho:
São organizações em rede formadas por inúmeros agentes, os quais são
elementos ativos e autônomos, cujo comportamento é determinado por um
conjunto de regras e pelas informações a respeito de seu desempenho e das
condições do ambiente imediato [...] O comportamento global do sistema
emerge, então, como efeito da combinação das interações (não-lineares) entre
os diversos componentes. (AGOSTINHO, 2003, p.29)
Para Agostinho (2003, p.9), a aprendizagem ocorre a partir do momento em que
o indivíduo é capaz de “[...] observar as conseqüências do seu comportamento e ajustar
seus atos para atingir os propósitos desejados”. A capacidade de aprendizado pode resultar
da existência de canais de comunicação eficientes concomitante à capacidade de prever
teoricamente as consequências de suas ações, sem que haja uma experiência empírica. No
entanto, salienta-se que o potencial de aprendizagem só é desenvolvido quando o indivíduo
tem autonomia para colocar seu julgamento em ação.
Tomando por base o funcionamento dos SACs, Agostinho (2003) elege quatro
conceitos-chave que definem a abordagem das organizações, que são: autonomia, cooperação,
agregação e auto-organização. São conceitos fortemente entrelaçados que indicam como a
ordem no sistema pode emergir por meio das ações de suas partes, relacionando-se da
seguinte maneira:
7
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Indivíduos autônomos, capazes de aprender e de se adaptarem, cooperam
entre si obtendo vantagens adaptativas. Tal comportamento tende a ser
selecionado e reproduzido, chegando ao ponto em que estes indivíduos
cooperativos se unem formando um agregado que também passa a comportarse como um indivíduo e assim por diante. Diz-se, então, que o sistema resultante
se auto-organiza, fazendo emergir um comportamento global cujo
desempenho também é avaliado por pressões de seleção presentes no ambiente
(externo e interno). (AGOSTINHO, 2003, p.36)
A autonomia é definida como “[...] a faculdade do indivíduo orientar sua ação
com base em sua própria capacidade de julgamento.” (AGOSTINHO, 2003, p.9). A
autonomia dos componentes faz com que o sistema seja extremamente flexível e robusto
em relação às perturbações externas. Por intermédio de princípios autônomos, as ações dos
colaboradores que interagem no sistema agem como estímulo e restrição mútuos,
ocasionando influências nos processos decisórios.
A autonomia, por si só, não garante um bom desempenho do sistema. Conforme
Agostinho (2003, p.65): “É necessário que haja cooperação mútua e coordenação para que
seja possível que o conjunto de ações de vários indivíduos autônomos convirja para o
benefício do sistema.”
Agostinho (2003), acrescenta, ainda, que, além da cooperação, existe a necessidade
de coordenação. O autor observa que a coordenação consiste em um processo de informar
cada indivíduo acerca do comportamento planejado dos outros. Tal afirmação remete a
uma das premissas básicas necessárias à evolução da cooperação: a capacidade de
reconhecimento das estratégias dos demais indivíduos.
Cabe também salientar que um dos pilares da cooperação é a reciprocidade. Para
Agostinho (2003, p.64), esta só irá ocorrer caso “[...] cada indivíduo seja capaz de reconhecer
o outro das interações passadas e lembrar como este se comportou.” A autonomia garante
aos indivíduos o poder de julgar as ações como forma de conduzir seus atos. A cooperação
estabelece relações entre os indivíduos que proporcionam benefícios por intermédio da
ajuda mútua. Sendo assim, a agregação surge como forma de tornar um sistema mais
representativo do que um conjunto de partes e uma equipe mais do que um amontoado de
pessoas.
Agostinho (2003) afirma que, por intermédio de uma espécie de “rotulagem”,
um indivíduo é capaz de reconhecer com quem ele poderá obter benefícios mútuos,
selecionando as interações úteis. Contudo, existe um aspecto muito interessante que diferencia
as organizações sociais humanas dos demais sistemas complexos adaptativos, que é a
consciência humana. O ser humano usufrui da racionalidade que o torna capaz de utilizar
8
A tecnologia da informação como condutora de inovação em aglomerações produtivas
maiores ou menores poderes de influência. Desta maneira, os indivíduos são capazes de reconhecer
as conexões em que ocorrem os fluxos mais relevantes, bem como identificar os pontos com
maior ou menor efeito multiplicador. Ao atuarem desta forma, os gestores fazem emergir
condições iniciais que ocasionam o sistema auto-organizante.
Agostinho (2003) elucida que o ser humano, ao receber sinais e informações do
ambiente, identifica determinados padrões de forma, sistematizando um modelo que o
proporciona a previsão das consequências, caso um padrão semelhante ocorra novamente.
Neste sentido, quando há a eminência de uma nova situação, os indivíduos realizam uma
combinação de experiências testadas em momentos anteriores para modelar a situação em
que se encontra de uma maneira que sugere ações apropriadas bem como suas consequências.
REDES INTERORGANIZACIONAIS
O estudo de Redes Interorganizacionais tem despertado interesse crescente dos
mais diversos campos de conhecimento, como Economia, Sociologia, Ciência Política e
Empreendedorismo. Três razões são apontadas para este aumento: emergência da nova
competição; surgimento das tecnologias de informação e de comunicação; e análise de
redes como disciplina acadêmica. As redes também promovem ambiente favorável ao
compartilhamento de informações, de conhecimentos, de habilidades e de recursos essenciais
para processos de inovação.
Originalmente, o termo rede refere-se a um pequeno filet, para pegar pássaros ou
caça miúda. A partir do século XVI, designa, de maneira mais ampla, uma peça em forma
de rede com malhas mais ou menos largas e, por analogia, um tecido formado de pequenas
malhas chamado, mais tarde, de arrastão. Paralelamente, o sentido figurado da palavra rede
afirma-se a partir do século XVII como um conjunto de coisas abstratas que prendem o
indivíduo pouco a pouco. (MARCON; MOINET, 2001).
Se a noção dinâmica não fica clara no francês, filet, ela o é em inglês, visto que
rede traduz-se por network. A rede é, literalmente, uma rede que trabalha, a net that works.
Em alemão, das Netz significa igualmente rede e redes, o sentido dependerá do contexto.
Na segunda metade do século XIX, aplica-se este conceito a um conjunto de pessoas ligadas
entre si, direta ou indiretamente.
Nas ciências sociais aplicadas e nas ciências humanas, rede ou network designa um
conjunto de pontos comunicantes entre si. (MARCON; MOINET, 2001). A ideia é abstrata
no campo organizacional e compõe-se por recursos e informações. Nota-se esta percepção
9
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
em diversas relações empresariais como joint-ventures, alianças estratégicas, relações de
terceirização e subcontratação, distritos industriais, consórcios, redes sociais, redes de
cooperação e subcontratação entre pequenas e médias empresas, entre outras. (POWELL,
1987; OLIVER, 1990; GRANDORI; SODA, 1995).
As bases teóricas que norteiam os estudos de redes e aglomerados produtivos são
multidiscipinares: Economia Industrial, Estratégias Interorganizacionais, Dependência de
Recursos (Tangíveis e Intangíveis), Redes Sociais (social networks), Custos de Transação, Teoria
Institucional e Teorias Críticas e Radicais. Logo, os estudos realizados são complementares.
Tipologia de Redes Interorganizacionais
Partindo da ambiguidade no entendimento do termo redes interorganizacionais,
Caltells (1999) analisou este ter mo com base no argumento de que as redes
interorganizacionais aparecem de diversas formas, em diferentes contextos e a partir de
expressões culturais diversas. Com o objetivo de oferecer melhor compreensão da diversidade
de tipologias, detalhamos as principais tipologias apontadas nos mais variados estudos sobre
o tema:
Redes verticais e horizontais: as redes verticais são aquelas nas quais os processos são
realizados por empresas distintas, em uma dimensão de hierarquia. Ex: grandes redes de
distribuição integradas, distribuição alimentar e bancos. As redes horizontais são aquelas
estabelecidas entre empresas que se comprometem em termos de produtos e/ou mercados
em uma dimensão de cooperação. (MARCON; MOINET, 2001). Ex. consórcio de compra,
associações profissionais, redes de lobbyng e alianças tecnológicas.
Redes dispersas ou aglomeradas: as redes dispersas interagem por meio de um processo
de logística avançado que permite superar distâncias. As aglomeradas caracterizam-se pelo
fato de manterem relações que, muitas vezes, se estendem além daquelas puramente
comerciais, tendo suporte de universidades, centros de tecnologia, e instituições
governamentais.
Redes formais e informais: são redes tornam-se formais a partir de joint-venture ou de
franchising, termo que Williamson (1985) chama de comportamentos oportunistas em uma
dimensão contratual. Complementarmente, são informais quando estabelecidas em função
da confiança gerada, conforme Granovetter (1985), quando diz que as relações econômicas
estão misturadas com as sociais, em uma dimensão de conivência. Ex. Encontro entre
atores econômicos buscando cooperação: empresas, organizações profissionais, instituições,
universidades, associações, etc.
10
A tecnologia da informação como condutora de inovação em aglomerações produtivas
Redes orbitais e não orbitais: a rede orbital possui um centro de poder no qual, ao
redor, as demais empresas circulam; e a não orbital é aquela em que cada parte tem a mesma
capacidade de tomada de decisão.
Com base nessas visões sobre as redes interorganizacionais, é possível mapear
sua tipologia, conforme sintetizado no quadro 1:
Indicadores
Direcionalidade
Localização
Formalização
Poder
Tipologia
Vertical
Horizontal
Dispersa
Aglomerada
Base contratual formal
Base não contratual
Orbital
Não orbital
Quadro 1: Características e tipologia de redes
Fonte: adaptado de Hoffmann (2005).
Marcon e Moinet (2001) consideram alguns atributos associados às redes que
possibilitam as configurações mais adequadas para determinados objetivos organizacionais
estratégicos. São eles: a) Fluidez: capacidade e flexibilidade de adaptação às redes (espaço,
tempo, social e organizacional); b) Finalidade: razão de ser da rede (política, religiosa, filosófica,
científica, econômica, cultural e/ou social); c) Economias Relacionais: dispersão de esforços e
ganho de tempo; e d) Capacidade de aprendizagem: aprendizagem coletiva, cada um evolui em
função do outro.
Cabe notar que a grande maioria das pesquisas, principalmente as realizadas por
autores anglo-saxões, privilegiou arranjos como joint-ventures e alianças estratégicas entre
grandes empresas, já redes horizontais de Pequenas e Médias Empresas (PME´s) tiveram
pouco espaço para reflexão nos estudos sobre redes interorganizacionais.
Redes de Pequenas e Médias Empresas
As justificativas apresentadas para o estudo de redes em PME´s , segundo Souza
(1995), são: o estímulo à ação empreendedora, a geração de emprego e renda, a maximização
da atividade econômica regional, o fortalecimento de alguns setores em determinadas regiões
e a geração de novas tecnologias de produto e processos.
11
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
A dimensão da confiança e da cooperação possivelmente representam papel central
no sucesso alcançado pelas redes de PME´s que as diferencia das Joint-Ventures e Alianças
estratégicas. Algumas características observadas em redes de PME´s que geram este ambiente
profícuo de confiança são: similaridade das firmas (tamanho, processos, técnicas, posição
estratégica); compartilham informações (mercados, tecnologias e lucratividade); relações
de longo prazo; rotatividade de lideranças; recompensas financeiras (firmas e empregados)
e vantagens econômicas (experiência coletiva).
Redes PME´s
Independência
Relações Informais de Inputs e Outputs
Proximidade Geográfica
Joint-Ventures e Alianças Estratégicas
Dependência
Relações Formais de Inputs e Outputs
Não proximidade Geográfica
Quadro 2: Diferenças Redes de PME´s e Joint-Ventures e Alianças Estratégicas.
Fonte: Elaboração própria com base no marco teórico e estudos empíricos.
Williamson (1985) considera que os custos de transação são minimizados
interfirmas, possibilitando uma vantagem competitiva entre as firmas participantes da rede.
A confiança entre os atores é destacada por Jarrillo (1988) como uma forma que promove
esta redução e torna a existência das redes economicamente viáveis.
Quanto à inovação, Rothwell (1995) considera que deva resultar de uma ação
conjunta e cooperada dos diversos atores internos e externos da organização - empresas,
fornecedores, clientes, além de outras instituições de caráter privado - e sobre este ambiente
a rede se viabiliza por possibilitar a troca de tecnologia, know how, habilidades que favorecem
o processo inovativo, proporcionado por um ambiente institucional apropriado para contar
com incentivos de governos locais e regionais, serviços educacionais, associações comerciais,
treinamento, entre outros.
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO NAS ESTRUTURAS
INTERORGANIZACIONAIS COMPLEXAS
A Tecnologia da Informação (TI) utilizada nos diferentes tipos de organização é
suportada por uma diversidade de tipos de hardware e software que se alastram velozmente, e
tem a capacidade de coletar, armazenar, processar e acessar números e imagens, para controle
de processos de trabalho, conectando pessoas entre as organizações.
12
A tecnologia da informação como condutora de inovação em aglomerações produtivas
Na produção industrial, essa tecnologia incorpora equipamentos que auxiliam a
produção automatizada, como robôs, sensores e dispositivos que alimentam os sistemas de
informações para subsidiar processos decisórios, elaboração de desenhos de engenharia,
planejamento e seus processos de gestão. Uma vasta gama de fomentadores da TI também
se apresentam nos escritórios, compreendendo os diversos recursos de processamento
eletrônico, vídeo-conferência, e sistemas de suporte e de gestão. (WALTON, 1993).
Em busca de eficácia, uma organização deve se inserir e realizar trocas de
informações com o ambiente (sistema aberto), mantendo-se atenta aos fatores
ambientais presentes, como a iniciativa dos competidores, mudanças estruturais da
indústria e descobertas e inovações técnicas. Intrinsecamente, tais fatores envolvem
tecnologia e estratégias de negócio para sua aplicação, relacionando-se, conforme
verifica-se na Figura 3.
Considerando estes fatores, Walton (1993) enfatiza o “comprometimento” como
fator chave para a eficácia organizacional e interorganizacional, especialmente em ambientes
de TI avançados. Adicionalmente, Lastres e Cassiolato (2004) concordam e consideram
que somente com cooperação e comprometimento é possível criar um ambiente de
aprendizagem que favoreça a inovação, amparado por especialidades de TI.
Ambiente
Externo
Desenho
Organizacional*
Aspectos Críticos do
Comportamento
Organizacional:
Alinhamento
Resultados
Resultado para
Negócios
Comportamento/
Aceitação
Visão
Estratégica
Competência/
Domínio
Bem-estar
Das Pessoas
FIGURA 3 – Fatores para o desenvolvimento de organizações eficazes.
*Inclui o desenho de estruturas interorganizacionais e de sistemas de TI interorganizacionais, por exemplo,
alocação de funções entre fabricantes e seus fornecedores e arranjos produtivos locais.
Fonte: Adaptado de Walton (1993)
Walton (1993) enumera três premissas sobre a TI e as organizações, para que se
obtenha comprometimento e possam gerar aprendizagem organizacional, voltada para um
13
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
ambiente inovativo: a primeira premissa destaca que a TI e as organizações interajam a fim
de encaminhar o sucesso de um sistema de TI; a segunda enfatiza que a TI avançada faz
com que estas interações aumentem a complexidade de forma mútua, gerando mudanças
ao longo do tempo; e a terceira premissa salienta que os planejadores, sobre os efeitos
organizacionais, cada vez mais, direcionam os planos e desenhos dos sistemas de TI.
Sobre estas evidências, Walton (1993) exemplifica, com base nas observações
realizadas por pesquisadores associados ao Massachusetts Institute of Technology (MIT) em
cinco empresas montadoras de veículos norte-americanas, que a organização tradicional
não permite a plena realização de tecnologias avançadas de manufatura, pois o
comprometimento deste tipo de organização está sobre sua estrutura hierárquica e sua
divisão rígida de trabalho. As novas tecnologias necessitam de maior flexibilidade, maior
aprendizagem contínua e por interação do que os sistemas tradicionais oferecem. Isto enfatiza
que as empresas que têm maior mobilidade e flexibilidade estão mais aptas a receber tal
suporte de TI.
As PME´s apresentam essa característica e, quando aglomeradas produtivamente
em uma atividade específica, tendem a favorecem esta aplicação. Porém, é notório que
oficialmente as empresas não apresentam gasto com P&D - Pesquisa e Desenvolvimento.
(COSINEXP, 1998).
Harrison e Hart (1987) consideram que a aquisição de P&D é fundamental, visto
que as empresas necessitam de um rigor tecnológico mínimo para o desenvolvimento e
para a agregação de valor a produtos, serviços e processos em um contexto mercadológico,
gerando inovação baseada em tecnologia.
AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS E EMPRESAS DE BASE
TECNOLÓGICA
Os aglomerados produtivos têm se tornado objeto de pesquisa, em vários campos
científicos; porém, destacam-se as contribuições na area de economia, da administração e
da geografia. No mundo globalizado, tais modelos, segundo Porter (2001), possibilitam que
as cadeias produtivas obtenham tecnologia e aporte financeiro em qualquer lugar do mundo,
favorecendo a instalação de plataformas produtivas onde os custos de produção são menores.
Segundo Lastres e Cassiolato (2004), os APL‘s desenvolvem-se quando
organizações aglomeradas em um determinado espaço constituem vínculos duradouros e
solidários de interação, cooperação e aprendizagem, com possibilidade de geração de
inovações para melhoria da competitividade e do desenvolvimento local.
14
A tecnologia da informação como condutora de inovação em aglomerações produtivas
Os Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (SPIL´s) são uma alternativa para
organizações de países em desenvolvimento e que buscam competitividade global. Lastres
e Cassiolatto (2004, p.3) definem os SPIL´s como sendo “[...] aglomerados de agentes
econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, com foco em um
conjunto específico de atividades econômicas e que apresentam vínculos expressivos de
interação, cooperação e aprendizagem.”
Partindo deste pressuposto, os autores preferem utilizar o termo Sistemas
Produtivos e Inovativos Locais (SPIL’s) para definir aqueles “[...] arranjos em que
interdependência, articulação e vínculos consistentes resultam ações interativas, cooperativas
e de aprendizagem, com potencial de gerar incremento da capacidade inovativa endógena,
contribuindo para a competitividade e o desenvolvimento local.” (LASTRES;
CASSIOLATO, 2004, p. 4).
Casarotto Filho e Pires (2001, p. 87) abordam e definem os arranjos produtivos
como Sistemas Produtivos Locais (SPL’s) ou Sistemas Econômicos Locais (SEL’s). Segundo
estes autores, esta tipologia define uma “[...] região fortemente estruturada, contendo um
ou mais cluster de pequenas e médias empresas com um planejamento territorial com alta
interação público-privada, com respeito à cultura e com o objetivo de assegurar a qualidade
de vida dos habitantes”, existindo, imprescindivelmente, uma interação entre as empresas e
o ambiente sociocultural local. Comparando Sistemas Produtivos Locais com clusters, os
autores afirmam que a diferença básica está na palavra “solidariedade”, visto que os SPL’s
devem ser caracterizados por ativa solidariedade entre os vários atores.
São as preocupações sociais e culturais e o ambiente de solidariedade dos SPL’s
que levam ao objetivo-fim “qualidade de vida” e a um ambiente altamente inovativo e
empreendedor. Desta forma, o redirecionamento de políticas públicas focadas no
desenvolvimento social, cultural, na melhoria de qualidade de vida da população deve
contemplar incisivamente os aglomerados regionais.
Outro fator a se considerar é a proximidade física e geográfica que favorece esse
tipo de sistema produtivo. Inseridos neste contexto, os aglomerados produtivos esforçamse para buscar maior competitividade, em que as relações tendem a se estreitar dentro do
setor. Essa troca de informações e de experiências credencia as empresas partícipes desse
aglomerado a desenvolver ativos com base no conhecimento, conforme postula Porter
(2001):
Um aglomerado é um agrupamento geograficamente concentrado de empresas
inter-relacionadas e instituições correlatas numa determinada área, vinculadas
por elementos comuns e complementares. O espaço geográfico varia de uma
15
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
única cidade ou estado para todo um país ou mesmo uma rede de países
vizinhos. Os aglomerados assumem diversas formas, dependendo de sua
profundidade e sofisticação, mas a maioria inclui empresas de produtos ou
serviços finais, fornecedores de insumos especializados, componentes,
equipamentos e serviços, instituições financeiras e empresas em setores
correlatos. Os aglomerados geralmente também incluem empresas em setores
à juzante, ou seja, distribuidores ou clientes, fabricantes de produtos
complementares, fornecedores de infra-estrutura especializada, instituições,
etc. (PORTER, 2001, p.3).
Estas características são observadas nos parques de ciência e de tecnologia que
estão em expansão no mundo, fundamentados, principalmente, por configurações como a
observada no Vale do Silício, na Califórnia, e na Rota 128, em Massachusetts - EUA, onde
a grande empresa age como articuladora de uma rede de pequenas empresas e outros
aglomerados produtivos, como os distritos industriais italianos, conhecidos como “Terceira
Itália”, constituídos pelas regiões de Emilia-Romana, Tuscany, Umbria, Marche e Veneto
no Norte da Itália, eles são constituídos com base na pequena empresa, sem a existência de
grandes empresas como âncora, em uma relação de cooperação horizontal.
Nesse contexto, observa-se a relevância dos estudos focando custos de transação
e aprendizado organizacional, proporcionados pela interação entre organizações para
formação de sistemas de inovação, impulsionados pelo papel fundamental da TI. Embora
em países em desenvolvimento isso exista em uma escala menor, estes arranjos produtivos
locais ajudam a potencializar o valor dos produtos de uma determinada estrutura econômica
regional, gerando autossustentabilidade de determinados setores. (DESCHAMPS; REIS,
2001).
No Brasil, o tratamento sobre o termo pólo tecnológico limitou-se ao fenômeno
do surgimento de arranjos produtivos de empresas de base tecnológicas impulsionadas por
incubadoras de empresas em determinadas regiões do país e, segundo Medeiros e Atas
(1994), pode ser definido como um conjunto que possui os seguintes componentes:
• instituições de ensino e pesquisa que se especializaram em pelo menos uma das novas
tecnologias;
• aglomeração de empresas envolvidas nesses desenvolvimentos;
• projetos de inovação tecnológica conjuntos (empresa-universidade), usualmente
estimulados pelo governo, dado o caráter estratégico das novas tecnologias; e
• estrutura organizacional apropriada.
Os objetivos dos polos tecnológicos podem ser caracterizados em:
16
A tecnologia da informação como condutora de inovação em aglomerações produtivas
• promover a criação e consolidação de empresas de base tecnológica;
• fornecer suporte gerencial por meio de consultoria e cursos nas áreas de gestão tecnológica
e gestão empresarial às empresas e ao setor acadêmico;
• facilitar a interação sistemática entre as empresas e instituições de ensino epesquisa,
possibilitando o uso de recursos humanos, equipamentos e laboratórios, inclusive de
forma compartilhada e,
• viabilizar o envolvimento de instituições financeiras (capital de risco) e governamentais,
enfatizando a participação dos governos federal, estadual e municipal.
A literatura consultada não é unânime ao conceituar empresas de base tecnológica,
porém, como referência, pode-se considerar a definição do OTA - Office of Technology Assesment
- do congresso norte-americano, para empresas de alta tecnologia, combinada com a definição
do SEBRAE (s.d), para micro e pequenas empresas:
Micro e pequenas empresas de base tecnológica são empresas industriais com
menos de 100 empregados, ou empresas de serviço com menos de 50
empregados, que estão comprometidas com o projeto, desenvolvimento e
produção de novos produtos e/ou processos, caracterizando-se, ainda, pela
aplicação sistemática de conhecimento técnico-científico. Estas empresas usam
tecnologias inovadoras, têm uma alta proporção de gastos com P&D,
empregam uma alta proporção de pessoal técnico-científico e de engenharia e
servem a mercados pequenos e específicos.
Partindo deste conceito de empresas de base tecnológica podemos perceber que
as incubadoras de empresas são agentes fundamentais de apoio a este tipo de empresa. As
incubadoras de empresas são apontadas pela literatura contemporânea como uma ação
institucional que favorece o empreendedorismo e compartilha conhecimento com
organizações, como universidades, associações comerciais e industriais, setores da indústria,
entre outros.
Outro tipo de entidade de suporte ao aperfeiçoamento tecnológico no Brasil são
os CIN - Centros de Inovação e Negócios - que utilizam recursos do FINEP e SEBRAE,
beneficiando empresas de base tecnológica. Esses espaços são caracterizados por serem
um nascedouro de inovação e desenvolvimento profissional. Dessa forma, o principal fator
que diferencia as empresas de base tecnológica de outras é o forte caráter inovativo,
principalmente em pequenas empresas de base tecnológica, devido a sua flexibilidade e
baixa hierarquização. Entretanto, os investimentos em P&D normalmente têm um caráter
informal, sendo pouco sistematizados e planejados.
17
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base no marco teórico e na análise estabelecida nesse estudo, verificou-se
que os Sistemas Adaptativos Complexos organizam-se por meio da interação de seus
componentes ou agentes, evoluindo de maneira adaptativa e contínua, mudando à luz da
experiência. Isso sugere um sistema aberto com um fluxo contínuo de entradas e saídas de
informação entre o ambiente e o sistema. Esse contexto favorece a aprendizagem. Também
se verificou que as tecnologias da Informação possibilitam a disseminação dos conceitos
advindos desta aprendizagem, possibilitando uma estabilidade institucional que favorece
todo o sistema e contribuem para a redução dos custos e a melhoria do desempenho dos
processos produtivos e sistemas produtivos e inovativos locais.
Uma vez que estes agentes ou organizações pertencem a um Arranjo Produtivo
Local, compartilham de uma política de governança que orienta ações do grupo e favorecem
a interação com o meio, há ganhos e vantagens competitivas adicionais com as informações
advindas desse próprio meio, favorecendo todos os participantes dos APLs e SPIL’s e
potencializando o processo de aprendizagem.
Considerando a automatização dos processos das indústrias fabris e de gestão
empresarial, o condutor principal que fomenta o processo de aprendizagem é a Tecnologia
da Informação, principalmente em Arranjos Produtivos Locais e Sistemas Produtivos e
Inovativos locais de empresas de base tecnológica, na qual a velocidade da trocas de
informações com o ambiente é perceptivelmente maior, comparativamente com outros
setores. Neste contexto, o trabalho teórico evidenciou a cooperação e o comprometimento
como fatores fundamentais para a eficácia organizacional e interorganizacional, especialmente
em ambientes de TI avançados, para que, efetivamente, se crie um ambiente de aprendizagem
que favoreça a inovação.
Estabelecida uma tipologia de referência, percebeu-se que estes ambientes
caracterizam-se como uma rede de empresas horizontais e, portanto, estabelecida entre
empresas que se comprometem em termos de produtos e/ou mercados em uma dimensão
de cooperação mútua. Quando constituídas por PME´s, mais flexíveis e pouco hierarquizadas,
a TI ocupa um papel preponderante para que se origine o aprendizado e, consequentemente,
a inovação. Dadas as dificuldades inerentes às PME´s para investirem em P&D, a criação de
um ambiente inovativo nestas organizações permite a evolução da aglomeração.
Para pesquisa futuras, recomenda-se a verificação da utilização da Tecnologia da
Informação pelas lideranças criativas em sistemas adaptativos complexos, com o intuito de
esclarecer os efeitos das ações dessas lideranças, quanto à aprendizagem e à competitividade
dos atores participantes do sistema.
18
A tecnologia da informação como condutora de inovação em aglomerações produtivas
A Tecnologia da Informação apresenta muitos recursos e infraestrutura
indispensáveis para a produção e a gestão dessas organizações participantes de sistemas
adaptativos complexos e pode simultaneamente, estabelecer também, os meios necessários
ao aprendizado organizacional e o estabelecimento de um ambiente inovativo, fatores
essenciais para as empresas do setor de base tecnológica.
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20
O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina
INTRODUÇÃO
O desenvolvimento das indústrias de software, de eletrônica e de telecomunicações
pode contribuir para ampliar não só a competividade e a produtividade setorial, como a
indústria de transformação em geral, ao fornecer serviços e produtos intensivos em tecnologia
e capital humano, proporcionando melhor qualidade do produto a menores custos. A
indústria de software brasileira está voltada para o mercado interno, com forte presença de
micro e pequenas empresas. Seu desenvolvimento tem sido marcado pela colaboração de
políticas públicas de fomento e de redes de apoio às empresas.
Diante da sua importância, o artigo procura responder às seguintes questões:
quais as características da indústria de software de Londrina? Qual o grau de desenvolvimento
da aglomeração de empresas? Como ocorrem os processos de inovação e aprendizado
pelas empresas do setor de software do município de Londrina? Há relações de cooperação
e interação entre as empresas do setor e outras instituições locais? O ambiente estrutural,
institucional e relacional local é propicio ao desenvolvimento de uma aglomeração produtiva
inovativa de software? O desenvolvimento e a institucionalização do APL de software poderão
contribuir para o desenvolvimento econômico regional?
A partir dessas questões, o objetivo do artigo é identificar as características do
arranjo produtivo de software de Londrina e delinear políticas públicas para o incremento da
produção e da inovação em software. Procura-se caracterizar as empresas, as atividades
produtivas e inovativas. Busca, também, verificar a existência de elos horizontais, verticais e
multilaterais, e identificar os gargalos produtivos e tecnológicos, de maneira a transformálo em um sistema local de inovações em software e polo exportador, a médio prazo.
As informações foram coletadas mediante entrevista pessoal com os sócios
proprietários e atores envolvidos com o APL. A análise dos resultados da pesquisa permite
identificar o grau de amadurecimento da aglomeração produtiva e propor políticas públicas
para acelerar seu desenvolvimento.
Este estudo desenvolve-se em 5 seções: introdução; fundamentação teórica;
metodologia adotada; análise dos resultados da pesquisa de campo sobre o APL de software
23
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
de Londrina e discussão de políticas públicas para o APL e, na última seção, as considerações
finais.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A indústria de software, a eletrônica e as telecomunicações constituem o setor de
Tecnologia de Informação (TI) por estarem associadas às tecnologias de informação.
Segundo Gutierrez e Alexandre (2004, p.5), software é um “conjunto de instruções e dados
que permitem a um computador a realização de tarefas previamente programadas, seja por
uma máquina (hardware) ou outros softwares”. Conforme Sommerville (2004, p.5), “[...] software
não é apenas o programa, mas toda a documentação associada e os dados de configuração
necessários para fazer com que esses programas operem corretamente”.
O software integra várias cadeias produtivas e é um requisito necessário para o
comando de equipamentos informatizados. O software é um insumo importante para o
desenvolvimento da indústria eletroeletrônica, mecânica, química, de telecomunicações e
para indústrias tradicionais que informatizam seus equipamentos (móveis, têxteis, etc.).
Segundo Gutierrez e Alexandre (2004), há várias formas de classificar o software, além da
classificação tradicional baseada no modelo de negócios, subdivididos em três categorias:
produtos, serviços e embarcados.
Os produtos de software podem ser divididos em três categorias: infraestrutura;
ferramentas e aplicativos (classificação técnica). Também podem ser classificados quanto à:
i) inserção no mercado: horizontal, quando destinado a qualquer tipo de usuário; e vertical,
quando é destinado a uma atividade ou usuário específico; também podem se caracterizar
como produtos de massa e corporativos; e ii) formas de comercialização: pacote, produtos
padronizados, produtos customizados e sob encomenda.
Gutierrez e Alexandre (2004, p.14) destacam que os serviços profissionais de
Tecnologia da Informação (TI) compreendem: “[...] consultoria, desenvolvimento de
aplicativos (software sob encomenda), integração, treinamento, suporte técnico e manutenção,
entre outros”. Eles podem ser classificados pelo método de compra: serviços discretos (de
curto prazo) e outsourcing, que apresenta relações contratuais de longo prazo, metas de
desempenho e requerem troca de informações, coordenação e confiança entre as partes.
(KUBOTA, 2005). Finalmente, a última tipologia classifica os softwares como embarcados,
pois está integrado a uma máquina, equipamento ou bem de consumo.
Para Roselino (2006) e Sampaio (2006), a indústria de software nacional e
internacional apresentam características que permitem classificá-las como extremamente
dinâmicas e heterogêneas.
24
O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina
Segundo a ABES (Associação Brasileira de Empresas de Software , 2008), o
[...] mercado brasileiro de “software” e serviços ocupou em 2007 a 12ª posição
no mercado mundial, tendo movimentado aproximadamente 11,12 bilhões
de dólares, equivalente a 0,86% do PIB brasileiro daquele ano. Deste total,
foram movimentados 4,19 bilhões em software, o que representou perto de
1,6% do mercado mundial. Os restantes 6,93 bilhões foram movimentados
em serviços relacionados. Estudos apontam para um crescimento médio anual
superior a 10% até 2010. Em 2007, a participação de programas de computador
desenvolvidos no país atingiu 33,6 % do total do mercado brasileiro de software,
confirmando a importante tendência de crescimento que vinha sendo apontada
desde 2004, quando a participação era de 27%, e que poderá superar os 40%
até o final da década. Este mercado é alimentado por 7.937 empresas, dedicadas
ao desenvolvimento, produção e distribuição de software e de prestação de
serviços. Daquelas que atuam no desenvolvimento e produção de software,
94% são classificadas como micro e pequenas empresas.
A relevância dos estudos de aglomerações, clusters ou arranjos produtivos locais
(APL), no Brasil, tem ganhado fôlego a partir dos estudos de economias industrializadas e
economias em desenvolvimento que superaram barreiras porque criaram movimentos
internos de aglomerações espaciais de indústrias com ligações entre si. Albagli e Maciel
(2002), Brito (1999, 2001, 2002) e Cassiolato e Lastres (2003) convergem na definição de
clusters ou arranjos produtivos locais, como sendo aglomerações territoriais de agentes
econômicos, políticos e sociais, cujo foco encontra-se em um conjunto específico de
atividades econômicas que podem apresentar vínculos, mesmo que sejam incipientes.
Os APL’s podem ser analisados sob vários aspectos do ponto de vista teórico e
empírico, mas inserem-se no contexto de aglomerações territoriais. As principais abordagens
da literatura sobre aglomerações são apresentadas a seguir. A nova geografia econômica
destaca que a aglomeração pode emergir de um acidente histórico e da presença de economias
externas acidentais e incidentais. (KRUGMAN, 1998). A economia dos negócios enfatiza
a importância da concentração das habilidades locais para as inovações comerciais e
tecnológicas, incrementando a competitividade das firmas. (PORTER, 1998). A economia
regional aborda a tendência do capitalismo a organizar-se em clusters e a presença do governo
pode criar fortes vantagens competitivas regionais (MARKUSEN,1996; PYKE;
SENGENBERGER, 1992; STORPER, 1995). A economia da inovação destaca que a
concentração geográfica das firmas aumenta suas capacidades de avanço tecnológico por
criar um ambiente propício para a geração de conhecimento, por existirem várias pessoas
com mútuo interesse num dado local, além do conhecimento tácito gerado pelo setor.
(LUNDVALL,1993; EDQUIST, 1997; FREEMAN, 1994).
25
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
O conceito de eficiência coletiva parte do princípio de que as economias externas
marshallianas são necessárias, mas não suficientes, para explicar o desenvolvimento e a
competitividade de empresas aglomeradas. O conceito de eficiência coletiva extrapola a
esfera produtiva em sentido estrito, pois a cooperação entre firmas ou as ações de políticas
públicas podem realizar-se no âmbito tecnológico ou inovativo, ilustrado pela formação de
consórcios de exportação, ações de marketing, compras conjuntas, entre outros. (SCHMITZ,
1997).
O surgimento do novo padrão pós-fordista implica a mudança e a substituição
dos padrões produtivos, calcados no conhecimento e na inovação, redundando na geração
e na disseminação de novas práticas de produção, comercialização e lançamento de novos
produtos e serviços para o mercado consumidor. (CASSIOLATO; LASTRES, 2003). A
concentração geográfica e setorial de firmas de pequeno e médio porte, em aglomerações
produtivas, pode permitir ganhos de escala, efeitos sinergéticos e competitividade.
Segundo Lastres e Cassiolato (2003, p.11), os arranjos produtivos locais: “[...] são
aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um
conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que
incipientes.” Em geral, envolvem a participação e a interação de empresas como prestadoras
de serviços, produtoras de bens e serviços finais, fornecedoras de insumos e equipamentos,
entre outras. Incluem instituições públicas e privadas que formam a capacitação de recursos
humanos (escolas técnicas e universidades), pesquisa, desenvolvimento e engenharia, política,
promoção e financiamento.
Para gerar inovações é necessária a aquisição e a difusão de conhecimentos. Foray
e Lundvall (1996) salientam que há duas perspectivas na economia baseada no conhecimento,
que não são mutuamente exclusivas. A primeira refere-se a identificar um setor separado
que produz novos conhecimentos ou distribui informações. Na segunda perspectiva, devese considerar a criação e a difusão de conhecimento, emanadas de atividades rotineiras na
vida econômica e que toma a forma do aprendendo-fazendo, aprendendo-usando e
aprendendo-interagindo. Know-how e competências têm sido desenvolvidos interativamente
e partilhados em redes.
Edquist (2001) aponta as principais funções de um Sistema de Inovações (SI),
que são, em primeiro lugar, produzir, difundir e usar inovações; e podem ser supranacional,
nacional e subnacional (regional, local); podendo, ainda, ser setoriais, dentro dessas
demarcações geográficas. As organizações e as instituições são os componentes principais
de um sistema de inovação, porém, a especificação desses componentes varia entre os
sistemas. Organizações são estruturas formais com um objetivo explícito e são criadas
26
O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina
conscientemente. Instituições são conjuntos de hábitos comuns, rotinas, práticas
estabelecidas, regras, ou leis que regulam as relações e inter-relações entre indivíduos e
organizações.
As organizações1 e as instituições2 são os componentes principais de um sistema
de inovação, porém, a especificação desses componentes varia entre os sistemas. Segundo
Pyke (1992), o sistema de cooperação ocorre entre empresas, normalmente pequenas e
independentes, organizado em uma região como base, pertencendo ao mesmo setor
industrial. As empresas individuais especializam-se em uma fase, em particular, do processo
produtivo, e a organização conjunta permite dar voz às instituições locais, por meio de
relacionamentos de competição e de cooperação.
A cooperação colabora para o atendimento de inúmeras necessidades das empresas
pertencentes ao mesmo conglomerado, as quais não seriam atendidas se as empresas atuassem
isoladamente. Em muitos casos, as firmas podem atuar em redes. Segundo Britto (2001), as
redes de firmas assumem um papel importante porque auxiliam na codificação de
conhecimentos, envolvendo aprendizado e conhecimentos técnico-científicos distintos e
complementares. Segundo Britto (2001) o aprendizado pode ocorrer de maneira formal e
informal e contribuir para a competitividade empresarial.
IPARDES (2005a; 2005b; 2005c) realizou um estudo exploratório para identificar,
a partir de dados secundários, as aglomerações industriais e de software existentes no Paraná
e selecionar os estudos de caso; para validar os resultados identificados no levantamento de
dados secundários, realizou visita a 35 cidades e contatou 131 empresas e 117 instituições.
O APL de software de Londrina foi classificado pelo IPARDES (2005a; 2005c), a partir da
metodologia de Suzigan et al. (2003, 2004a e 2004b), como vetor avançado, por reunir
elementos que permitiram a caracterização estrutural preliminar como um arranjo produtivo
local: as iniciativas dos próprios protagonistas, do agente Softex local ADETEC e dos elos
multilaterais e horizontais identificados.
Segundo o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social IPARDES (2005a) e a Associação de Desenvolvimento Tecnológico de Londrina - ADETEC
(2005), Curitiba, Londrina, Maringá e Pato Branco apresentam excelentes perspectivas para
o desenvolvimento desse segmento no estado do Paraná. Londrina, em particular, destacase no panorama nacional como importante produtora nacional de bens e serviços de
Tecnologia de Informação.
Organizações são estruturas formais com um objetivo explícito e são criadas conscientemente.
Instituições são conjuntos de hábitos comuns, rotinas, práticas estabelecidas, regras, ou leis que regulam as relações e
interrelações entre indivíduos e organizações.
1
2
27
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A literatura de metodologia destaca a existência de vários métodos para coletar e
analisar a evidência dos dados empíricos e cada um deles, como surveys, estudos de caso e
experimentos, apresenta vantagens e desvantagens. Tendo em vista a especificidade do
tema desta pesquisa, o método escolhido foi o survey, permitindo descrever o processo de
obtenção de dados e informações sobre características, ações ou opiniões de determinado
grupo de pessoas, indicado como representante de uma população-alvo, por meio de um
instrumento de pesquisa, um questionário. Segundo Cooper e Schindler (2003), há três
abordagens de comunicação que podem ser utilizadas na aplicação da survey: entrevista
pessoal, entrevista telefônica e surveys autoadministradas por correspondência. A presente
pesquisa adotou a entrevista pessoal, configurando-se como pesquisa de campo presencial.
A pesquisa é de natureza exploratória, transversal e formal e visa caracterizar o arranjo
produtivo de software de Londrina, identificado anteriormente por IPARDES (2005c) como
vetor avançado.
Para identificar a importância do setor de informática e de software de Londrina
em relação ao Brasil, procurou-se levantar informações sobre o número de estabelecimentos
e empregos nos setores ligados à informática. Utilizando a metodologia de quociente
locacional, verificou-se que a importância dos diferentes segmentos é crescente, em particular
no segmento de software.
A fórmula proposta pelo IEDI (2002) para calcular o quociente locacional, para
emprego ou estabelecimentos, é apresentada a seguir:
E ij
QL ij =
E j•
E• j
= Quociente Locional do setor i na região j
E• •
Eij = emprego/estabelecime to no setor i da região j
E• j = ∑ Eij = emprego/estabelecime to em todos os setores da região j
i
E j• = ∑ Eij = emprego/estabelecime nto no setor i de todas as regiões
j
E•• = ∑ ∑ Eij = emprego/estabelecime nto em todos setores de todas as regiões
i j
28
O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina
Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais – RAIS -, em 2004
havia 149 empresas operando em diferentes segmentos da informática em Londrina e 826
empregados atuavam nas empresas de informática de Londrina. O cadastro de Informática
da Prefeitura Municipal de Londrina, em 2005, permitiu identificar o universo da pesquisa
a partir das empresas selecionadas para a amostra: análise de sistemas, programação,
elaboração de programas de computadores e jogos eletrônicos, assessoria e consultoria
financeira. As empresas associadas ao Núcleo Softex Norte do Paraná também estão
cadastradas na PML (2005).
ANÁLISE DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE SOFTWARE DE
LONDRINA
A cidade de Londrina localiza-se no norte do Paraná e sua população, segundo o
Censo Demográfico de 2000 do IBGE, totalizou 447.065 habitantes. A população foi
estimada em 480.822 habitantes, em 2004 pelo IBGE. A densidade demográfica de Londrina
foi calculada em 259,21 hab/Km² (IBGE – Censo Demográfico 2000) e estimada em 291,26
hab/Km² (IBGE – Estimativa da População 2004). Segundo o SINE, os empregos estimados
no Setor Formal totalizaram 103.227 (MTPS/SINE - 2003) e o PIB per capita alcançou R$
7.624,00, segundo dados IBGE - 2002 (PML, 2006).
Segundo o Censo Agropecuário de 1995/1996 havia no município de Londrina
3.119 estabelecimentos agropecuários, com área de 183.093 ha, que ocupavam 12.203 pessoas
na atividade agropecuária. Os principais produtos agropecuários são: milho, soja, trigo,
cana-de-açúcar, café, mandioca, arroz, tomate, feijão e algodão. As atividades industriais,
comerciais e de serviços são intensas e diversificadas. Em 2003, eram 1.847 estabelecimentos
industriais, os estabelecimentos comerciais totalizavam 7.874 e os serviços 8.460
estabelecimentos (PML, 2006).
No ramo industrial, destacaram-se na pesquisa do IBGE em 2003: metalurgia
(9,75%), vestuário, calçados e artefatos de tecidos (15,54%), produtos alimentares (11,97%),
construção civil e empreiteiras (20,14%), editorial e gráficas (6,71%). Esses segmentos
industriais foram responsáveis pela geração de 25% dos empregos no ano de 2003; e os
estabelecimentos de serviços: de ensino (6,5%), serviços médico-hospitalares (6,2%),
transportes (6,2%), comunicações (6,1%) na geração de empregos, entre outros. O setor
serviços é responsável por uma parcela crescente do número de estabelecimentos, do
emprego e da geração de impostos, por exemplo: o ICMS arrecadado pelas atividades
agropecuárias foram 8,5%, as atividades industriais 17%, o comércio 35% e outras atividades
29
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
39%. O software auxilia na melhoria do desempenho econômico das atividades listadas. O
levantamento preliminar na base de dados da RAIS permitiu verificar que, em 2004, havia
10 empresas que atuavam no desenvolvimento de software, 11 em consultoria de hardware, 2
em atividades de banco de dados, segundo a Tabela 1. A produção de softwares concentravase em microempresas e pequenas empresas.
Tabela 1 - Estabelecimentos com atividades de Informática na cidade de Londrina -2004
(CNAE 72).
Atividade
Micro
Pequena
Média
Grande
Total
Consultoria em hardware
Desenvolvimento e edição de softwares
prontos para uso
Desenvolvimento de softwares sob
encomenda e outras consultorias
Processamento de dados
Atividades de banco de dados e
distribuição on line de conteúdo eletrônico
Manutenção e reparação de maquinas
de escritório e de informática
Outras atividades de Informática
10
1
0
0
11
2
1
0
0
3
5
2
0
0
7
75
7
1
0
83
2
0
0
0
2
12
2
0
0
14
26
2
1
0
29
Total de empresas que operam em informática
132
15
2
0
149
Fonte: RAIS (2005).
No levantamento de campo efetuado pela ADETEC (2005), é apresentado um
quadro diferenciado do APL de software e seu entorno, envolvendo todos os elos da cadeia
de software, que é ilustrado na Tabela 2.
30
O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina
Tabela 2 - Número de empresas - Setor de Informática - Londrina e região – 2005.
Atividade
Artigos, Equipamentos e Suprimentos
Auditoria
CD-ROM
Consultoria
Cursos e Treinamento
Equipamentos- Fabricação e Vendas
Periféricos
Processamento de dados
Projetos e Instalações
Redes
Software -Aplicativos e Sistemas
Software- Desenvolvimento
Londrina
43
2
6
29
29
39
12
12
5
12
34
21
Londrina e região - total
53
2
6
32
73
50
12
20
7
14
40
21
Fonte: ADETEC (2005).
31
32
Tabela 3 - Quociente Locacional de estabelecimento por classe de atividade (CNAE -1995) em Londrina: 1995 a 2004.
Setor
Código
72109
72214
72290
72303
72508
72907
Consultoria em hardware;
desenvolvimento e edição de softwares
prontos para uso;
desenvolvimento de softwares sob
encomenda e outros consumos;
processamento de dados;
atividade de banco de dados e distribuição
on-line de conteúdo eletrônico;
manutenção e reparação de maquinas de
escritório e de informática;
outras atividades de informática,
não especificadas anteriormente.
Total
Fonte: RAIS (2006).
1995
1996
1997
1998
1999
2000
0,617
1,162
1,560
1,161
0,954
0,80
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,00
0,000
0,000
0,000
0,000
0,000
0,00
0,969
0,866
0,730
1,489
1,588
1,96
2,701
3,713
2,022
1,962
2,655
2,27
1,343
1,359
1,265
0,850
0,453
0,74
1,557
1,731
1,397
1,302
1,162
1,32
1,288
1,423
1,228
1,265
1,144
1,31
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
72400
Descrição
Quociente Locacio
O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina
A Tabela 3 apresenta a evolução setorial do quociente locacional de
estabelecimentos de informática, (como um todo apresentou QL >1) e permite verificar
que o segmento de software, em geral e sob encomenda, começa a adquirir importância
regional a partir de 2002.
A Tabela 4 apresenta o quociente locacional de cidades selecionadas no Paraná e
permite verificar que. em relação ao Brasil, a aglomeração de software de Londrina é
representativa, particularmente levando-se em consideração a diversidade de atividades
realizadas na região.Também se verifica o incremento dos valores dos quocientes locacionais,
entre 1995 e 2005, para a cidade em estudo. A análise da Tabela 4 também permite inferir
que as cidades paranaenses de Curitiba, Maringá, Pato Branco, Cascavel são importantes
pólos de software.
Segundo a recomendação da nota metodológica, as empresas entrevistadas
deveriam ser representativas. Foram selecionadas 60 empresas a partir do cadastro das
prefeituras, empresas da PLATIN (Plataforma Tecnológica de Informação) e empresas
incubadas na INTUEL (Incubadora Tecnológica da UEL). As dificuldades enfrentadas –
cadastro desatualizado, inexistência/fechamento da empresa, mudança de atividade e
anuência do proprietário da firma para a participação na pesquisa - permitiram a realização
da pesquisa com 25 empresas, na amostra, que afirmaram desenvolver atividades de software
e concordaram em participar na pesquisa.
Tabela 4 - Quociente Locacional de estabelecimento por classe de atividade (CNAE 1995) – Municípios do Paraná selecionados - 2005.
MUNICÍPIOS DO
PARANÁ
CLASSE 72109
CONSULTORIA EM
HARDWARE
APUCARANA
CAMPO MOURÃO
CASCAVEL
CURITIBA
FOZ DO IGUAÇU
LONDRINA
MARINGÁ
PATO BRANCO
PINHAIS
PONTA GROSSA
SÃO JOSÉ DOS PINHAIS
TOLEDO
0,000
0,842
0,273
2,704
1,785
1,325
1,058
2,482
1,627
0,290
0,464
0,624
CLASSE 72214
DESENVOLV. E EDIÇÃO
DE SOFTWARES PRONTOS
PARA USO
1,211
1,657
2,147
2,052
0,000
1,564
1,785
3,255
3,200
0,570
0,913
0,000
CLASSE 72290
DESENVOLVIMENTO
DE SOFTWARES
SOB ENCOMENDA
0,901
0,000
1,597
2,205
1,568
1,164
1,328
3,633
3,571
0,000
0,679
3,653
Fonte: RAIS (2006)
As visitas às empresas ocorreram em 2006. Foram entrevistadas 25 empresas que
concordaram com a realização de entrevista presencial com os sócios proprietários. A idade
33
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
média das empresas é de aproximadamente 10 anos, a empresa mais antiga realizava,
inicialmente, processamento de dados e foi fundada em 1970, tendo migrado nos anos
1980 para o desenvolvimento de software (Exactus). No entanto, verificou-se que 14 foram
fundadas a partir de 2000.
Entre as principais características das empresas apresentadas no quadro 1
destacam-se a sociedade limitada (88%) e o fato de serem empresas 100% nacionais. A
atividade na área de desenvolvimento de software requer mão-de-obra qualificada, elemento
confirmado pela amostra de 25 empresas, pois, em sua maioria, os sócios na atualidade
possuem diploma de curso superior (21). A forma de gestão que predomina entre as empresas
é a condução pelo sócio majoritário e a gestão profissional. As empresas têm, em média, 3
sócios, embora o comum sejam 2 sócios. Há uma empresa na qual a sociedade é individual
e uma outra, composta por 10 sócios, é gerenciada por um conselho de sócios. A análise da
autoclassificação do faturamento permite verificar que há 13 microempresas, 10 pequenas
empresas e 2 empresas não informaram o faturamento.
A escolaridade dos sócios, quando houve a criação da empresa, era elevada e
predominavam os sócios com graduação e pós-graduação Mestrado Acadêmico em
Administração e Computação. A pesquisa também revelou que 60% das empresas amostradas
eram pequenas e 40% caracterizavam-se como microempresas. (Quadro 1).
34
O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina
CARACTERÍSTICA
NÚMERO ABSOLUTO
IDADE MÉDIA
TIPO DE SOCIEDADE
9,9
21
Sociedade Anônima:
2
Franquia:
1
Sociedade Individual:
1
Ensino Médio Completo:
Técnico de Nível Médio ou Pós-médio:
ESCOLARIDADE ATUAL DO
SÓCIO-PROPRIETÁRIO
Superior Incompleto:
25
100 % nacional
2
1
2
Superior Completo:
12
Pós-Graduado:
8
Dirigida pelo Sócio majoritário:
12
Profissional:
7
Familiar:
3
Conselho de sócios:
3
NÚMERO MÉDIO DE
SÓCIOS
3 sócios
MICRO
FATURAMENTO ANUAL
DA EMPRESA*
(R$ 1000)
14 empresas fundadas após 2000
Sociedade Limitada:
PROPRIEDADE DO CAPITAL Empresas de capital nacional:
TIPO DE GESTÃO
OBSERVAÇÕES
PEQUENA
1. Até 108
9
2. De 108, 001 até 216
4
3. De 216,001 até 576
1
4. De 576,001 até 1.200
3
5. De 1.200,001 até 1.440
6
13 microempresas
10 pequenas empresas
Quadro 1 - Características das empresas.
Fonte: Pesquisa de campo, 2006.
* 2 empresas sem informação.
A escolaridade dos sócios, em 2006, sinalizava elevada qualificação formal dos
proprietários de empresas que atuam no desenvolvimento de softwares em Londrina: 53%
apresentavam ensino superior completo e 27 realizaram estudos de pós-graduação.
A análise do Quadro 2, que apresenta o perfil do sociofundador, sinaliza a
predominância do gênero masculino, pois 88% dos sócios são homens e apenas 12% são
mulheres. Esta tendência também era verificada no curso de graduação em computação, na
qual se constatou a presença exígua de mulheres, ao contrário dos demais cursos de graduação
(Administração, Engenharia, Direito, Economia, Contabilidade). A média de idade dos sócios
35
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
CARACTERÍSTICA
NÚMERO ABSOLUTO
Masculino:
Feminino:
20 até 29 anos:
30 até 39 anos:
Mais de 40:
Não informaram:
Ensino Médio Completo:
22
3
14
5
1
5
2
Masculino: 88%
Feminino: 12%
ESCOLARIDADE DO
SÓCIO FUNDADOR CRIAÇÃO DA EMPRESA
Técnico de Nível Médio ou Pós-médio:
1
Superior Incompleto:
Superior Completo:
Pós-Graduado:
Ensino Médio Completo:
5
12
5
2
Mestrado:
Administração,
Computação
ESCOLARIDADE DO
SÓCIO FUNDADOR ATUALIDADE
Técnico de Nível Médio ou Pós-médio:
1
Superior Incompleto:
Superior Completo:
Pós-Graduado:
Dirigida pelo Sócio majoritário:
Profissional:
Familiar:
Conselho de sócios:
Empresários:
Sim:
Outras Atividades:
Não:
Estudante:
Universitário:
Empregado de empresa local:
Atividade no APL:
Outra atividade:
Empregado de empresa de fora do APL:
2
12
8
9
7
3
3
SEXO
IDADE DO SÓCIO
PRINCIPAL NA
FUNDAÇÃO DA
EMPRESA
TIPO DE GESTÃO
SITUAÇÃO DOS PAIS
DOS SÓCIOS
FUNDADORES
OCUPAÇÃO PRINCIPAL
DO SÓCIO FUNDADOR
AO CRIAR A EMPRESA
•
Fonte: Pesquisa de campo, 2006
Idade Média: 29
anos
Mestrado:
Administração,
Computação
7
18
6
9
2
Funcionário de Instituição Local (Pública e Privada) PLATIN:
•
Empresários de outras atividades
•
Outros
é 29 anos
Quadro 2 - Perfil do principal sócio fundador.
36
OBSERVAÇÕES
Construção
Civil:
AutônomoInformática:
Não
informaram:
1
2
2
2
O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina
O crescimento e o grau de inovação das empresas repousam na criatividade e no
desenvolvimento de competências. Com este objetivo, as firmas procuram capacitar e
atualizar as pessoas da organização. O Gráfico 1 destaca as principais formas utilizadas
pelas empresas. Destacam-se o treinamento interno, a absorção de universitários e a aquisição
de publicações e periódicos especializados.
Capacitaçao outras instituições
Certificação
Educação à distância
Absorção de Formandos de Cursos Técnicos da região APL
Absorção de Formandos Universitários da região APL
Contratação de técnicos/engenheiros de outras empresas
Treinamentos em outras empresas/clientes
Treinamento interno
Incentivo à Publicação de Trabalhos Técnicos e Participação Congressos
Incentivo à Graduação e Pós-Graduação
Aquisição de Publicações e Peródicos Especializados
Acesso irrestrito Internet (exceto Orkut e MSN-2)
Não adota
0
5
10
15
20
25
Gráfico 1 - Formas utilizadas para promover a capacitação e a atualização de pessoas na
organização - Software em Londrina- 2005.
Fonte: Pesquisa de campo, 2006.
Segundo a Tabela 5, as fontes mais frequentes de inovação tecnológica são:
catálogos, revistas e sítios especializados (80%), especificações de clientes (80%), vendedores
(40%), benchmark de serviços e produtos existentes (36%) e universidades e centros de
pesquisa (28%). Entre as fontes ocasionais, destacam-se as visitas às feiras em outras regiões
do país (60%), às feiras na região (60%), aos funcionários que trabalharam em outras empresas
37
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
(60%) e às ocasiões sociais (56%).
Tabela 5 - Utilização das Fontes de informação para Inovação de processo e produto/
serviço em valores absolutos e relativos para o APL de software de Londrina
Número de
Fontes de Informação
empresas que
(%)
utilizam
Frequentes
Catálogos, revistas e sítios especializados
20
80
Especificações de clientes
20
80
Vendedores
10
40
Benchmarking de produtos/serviços existentes
9
36
Universidades/centros de pesquisa
7
28
Ocasiões sociais
6
24
Ocasionais
Visitas a feiras em outras regiões do país
15
60
Visitas a feiras da região
15
60
Ocasiões sociais
15
60
Funcionários que trabalharam em outras empresas
14
56
Visitas a outras empresas da região
12
48
Consultores especializados da região
12
48
Workshops de produtores
11
44
Fonte: Pesquisa de campo, 2006.
A Tabela 6 apresenta as inovações adotadas pelas empresas no período 2003/
2005. A maioria das empresas lançou novos produtos e serviços no período entre 2003 e
2005 e verificou a sua importância em diferentes indicadores de desempenho. Em 88% dos
casos, os produtos ou serviços novos lançados pelas empresas já existiam no mercado. Em
44% dos casos analisados, os produtos e serviços eram novos no mercado nacional e, em 7
casos, caracterizavam-se como novos no mercado internacional. Em 16 empresas, os
processos adotados eram novos para a empresa, mas já existiam no mercado e em 11 houve
adoção de processos inovadores para o setor.
Os indicadores de produtividade, qualidade, diferenciação, participação de mercado
das firmas foram melhorados pela adoção de novos processos e por lançamento de novos
produtos e serviços nos mercados regional, nacional e internacional. A maior importância
foi verificada na ampliação da qualidade dos produtos/serviços e seis empresas destacaram
a participação em programas de qualidade e certificação para credenciarem-se no mercado
internacional.
A importância no aumento de produtividade é alta para 13 empresas e entre alta
38
O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina
e média para 20 empresas e, também, permitiu ampliar a gama de produtos e serviços, o
aumento de participação no mercado interno e a abertura de novos mercados para as
empresas. O único indicador que apresentou desempenho ruim foi o aumento de participação
no mercado externo, pois, para 21 empresas, a importância das inovações foi baixa ou nula.
Tabela 6 – Inovações praticadas pelas empresas do APL de software de Londrina em
produtos/ serviços e processos entre 2003 e 2005.
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Inovações
Produtos/ serviços
Inovações de produtos/serviços
Produto novo para empresa, mas existente no
mercado
Processos tecnológicos novos para a empresa,
mas já existente no setor
Produto novo para o mercado nacional
Processos tecnológicos novos para o setor
Produto novo para o mercado internacional
IMPORTÂNCIA
1.
Ampliação da qualidade dos produtos/serviços
2.
Permitiu manter participação nos mercados de
atuação
Aumento de produtividade
Ampliação da gama de produtos/serviços
Permissão para que a empresa abrisse novos
mercados
Aumento de participação no mercado interno
Aumento de participação no mercado externo
3.
4.
5.
6.
7.
Realiza Inovações
Número
(%)
23
92
20
80
18
72
11
11
7
ALTA
MÉDIA
44
44
28
BAIXA
NULA
18
4
1
2
14
13
12
7
7
8
1
1
2
3
4
3
10
9
0
5
12
4
2
1
2
8
2
19
Fonte: Pesquisa de campo, 2006.
A Tabela 7 apresenta as inovações organizacionais das empresas, no período 2003/
2005, e sua importância no crescimento das empresas. Verifica-se que a maioria das empresas
não adotou inovações organizacionais. No entanto, as empresas que as introduziram
ressaltaram que houve mudanças significativas nos conceitos e/ou nas práticas de
comercialização.
Entre as inovações organizacionais também se destacam a implementação de
significativas mudanças nos conceitos ou práticas de marketing, de mudanças na estrutura
organizacional, implementação de técnicas avançadas de gestão e programas de qualidade e
certificação - CMM - Capability Maturity Model (2), MPS.BR- Melhoria do Processo do Software
39
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Brasileiro (4), ISO- International Organization for Standardization (1). Tais mudanças tiveram
alta importância e contribuíram para a melhoria da qualidade dos produtos e dos serviços
comercializados para 13 empresas entrevistadas. A contribuição é de média importância
para o aumento da produtividade, para a manutenção ou o aumento das parcelas de mercado
interno das firmas. A maioria das firmas destacou que inovações organizacionais não
contribuem para a ampliação da gama de serviços e produtos ofertados, para a abertura de
novos mercados ou para o aumento da participação no mercado interno e externo.
O impacto das inovações no lucro, na participação do mercado e na receita foi
relevante para a maioria das empresas. Apenas uma empresa relatou que não houve nenhum
impacto no lucro e nas receitas da empresa. Três destacaram que as inovações foram
fundamentais para a sobrevivência e a manutenção da parcela de mercado, mas sem mudanças
nas receitas. Duas destacaram um incremento no valor da renda entre 1% e 9%. Seis
identificaram incremento entre 10% e 19%, cinco entre 20% e 49% e, em oito empresas, o
impacto permitiu superar o valor das receitas em mais de 50%.
Para identificar a importância das instituições foram somadas as respostas
assinaladas como de alta e média importância, cujo total deveria superar 45%. As empresas
destacaram por ordem de importância: i) apresentação de reivindicações comuns; ii) criação
de fóruns e ambientes adequados à discussão; iii) organização de eventos técnicos e
comerciais; iv) estímulo ao desenvolvimento do ensino e da pesquisa; v) estímulo ao
desenvolvimento do sistema de ensino e pesquisa local; vi) identificação das formas e fontes
de financiamento; vii) definição de objetivos comuns do APL; e viii) auxílio na definição de
ações estratégicas.
40
O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina
Tabela 7 – Inovações organizacionais praticadas pelas empresas do APL de software de
Realiza Inovações
Número
(%)
Inovações Organizacionais
1.
2.
3.
Mudanças significativas nos conceitos e/ou
práticas de comercialização
Implementação de significativas mudanças na
estrutura organizacional
Mudanças significativas nos conceitos e/ou
práticas de marketing
4.
Implementação de técnicas avançadas de gestão
5.
Processos tecnológicos novos para o setor
Importância
Ampliação da qualidade dos produtos/serviços
Permissão para manter participação nos mercados de
atuação
Aumento de produtividade
Ampliação da gama de produtos serviços
Permissão para que a empresa abrisse novos mercados
Aumento de participação no mercado interno
Aumento de participação no mercado externo
12
48
11
44
11
44
10
8
40
32
Alta
Média
Baixa
Nula
13
4
1
7
7
5
5
9
11
6
2
1
5
7
8
9
5
4
3
13
4
10
2
9
1
2
3
19
Londrina entre 2003 e 2005.
Fonte: Pesquisa de campo, 2006.
Entre os principais problemas identificados e destacados pelas empresas de software
na Tabela 8, destacam-se a existência de elevada carga tributária, a necessidade de qualificação
de mão–de-obra especializada para a promoção de eventos e congressos, o estímulo à
cooperação entre as pequenas empresas, a necessidade de linhas de crédito.
41
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Tabela 8 - Sugestões das empresas para compor as políticas governamentais
Ordem
Sugestões das Empresas
1. Estímulos à cooperação com ações voltadas para pequenas
empresas.
2. Necessidade de linhas de créditos, juros mais baixos, prazos
maiores e capital de giro.
3. Integração de empresas e entre pólos e recursos para a realização
de workshops para a troca de experiências
4. Cultura das empresas da cidade no que se refere aos produtos,
informação e divulgação.
5. Carga tributária, ausência de incentivos fiscais e incentivos
governamentais de uma maneira geral.
6. Qualificação de mão-de-obra e promoção de eventos, tais como
congressos.
7. Necessidade de estimular a entrada de grandes empresas na cidade
para alavancar o mercado.
Número
9
9
6
5
17
11
1
Fonte: Pesquisa de campo, 2006.
O Gráfico 2 apresenta as relações de parceiras das empresas que desenvolvem
software em Londrina. Aproximadamente, 70% das parcerias aprimoram-se internamente.
Entre o conjunto de empresas na região e uma parcela pequena é observada, no estado do
Paraná, no país ou no exterior, na forma de subcontratantes ou subcontratadas ou via
outsourcing. Mas, verifica-se falta de comunicação e transparência nas relações de parcerias,
que acabaram por gerar resultados não muito satisfatórios nas atividades de outsourcing,
desenvolvimento e comercialização no mercado externo. No entanto, as empresas têm se
organizado satisfatoriamente para obter certificação e qualificação de mão de obra. A
certificação é essencial para conquistar os mercados brasileiro e internacional.
42
O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina
ComercializaçãoExterior
1%
Qualificação MDO
2%
Certificação
3%
Comercialização-BR
6%
Desenvolvimento
34%
Outsourcing
54%
Gráfico 2 - Relações de parcerias realizadas pelas empresas para o desenvolvimento de
produtos/serviços.
Fonte: Pesquisa de campo, 2006
No que tange às relações interempresariais e de cooperação, as empresas de software
de Londrina estabelecem formas de comunicação no âmbito técnico, ao trocarem ideias
sobre as dificuldades ocasionais (60%), apenas 20% delas estabelecem contatos com
frequência, e, em ambos os casos, o contato desenvolve-se em torno de questões de mercado
e novas tecnologias. Na esfera social, observou-se que existe interação de grande parte das
empresas (21 casos), propiciada por instituições de caráter associativo (ADETEC) e
representativo na localidade (SEBRAE). Além disso, o estudo identificou que as empresas
da rede recorrem, além dos recursos financeiros próprios (80%), a outras fontes de
financiamento, tais como bancos públicos, agências de fomentos e programas governamentais
e de caráter misto, para expansão ou modernização da empresa.
A análise dos resultados da pesquisa de campo sinalizou a importância de
implementar políticas públicas em cinco esferas: governança, recursos financeiros, gestão e
certificação e infraestrutura, conforme apresentado no Quadro 3.
43
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
PROBLEMAS
IMPORTÂNCIA
1.Governança
alta
2. Recursos financeiros
alta
•
•
•
•
3. Gestão e certificação:
formação e especialização da
mão-de-obra
alta
•
•
•
•
•
4. Infra-estrutura
alta
•
•
POLÍTICAS PÚBLICAS SUGERIDAS
Apoio na forma de suporte financeiro e mão-de-obra
qualificada para a articulação e integração dos atores de
forma a ampliar e reforçar o nível de auto-organização e
comando compartilhado, pautado em um plano de
desenvolvimento
Editais disponibilizando recursos para a melhoria das
instalações, aquisição de equipamentos e softwares das
empresas para microempresas e pequenas empresas
Recursos para a realização de pesquisas de prospecção de
mercado
Recursos com taxas atrativas para capital de giro e
investimento em geral, das micro e pequenas empresas
Suporte para exportação
Realização continuada de cursos de gestão de empresas de
base tecnológica, cursos de capacitação e especialização para
formar mão-de-obra de alto nível - dado o dinamismo da
área - e cursos de formação de agentes de certificação de
softwares.
Formação continuada de pessoal de nível técnico e superior
de alta qualidade
Capacitação para a exportação
Recursos para a promoção de eventos regionais e nacionais
de software
Editais para a instalação e ampliação física e de redes
tecnológicas e aquisição e atualização de máquinas com o
uso de internet de altíssima velocidade e tecnologias bluetooth
e Wi-Fi. O público alvo seriam as incubadoras, as instituições
de ensino superior estaduais, os parques tecnológicos, os
condomínios e hotéis tecnológicos que hospedem empresas
d e software.
Recursos para a instalação de centros de referência em
desenvolvimento de software, com instalações físicas,
equipamentos e a promoção de cursos sob a
responsabilidade das IEES
Quadro 4 - Principais problemas e sugestões de políticas para o vetor avançado de software
de Londrina
Fonte: Pesquisa de campo, 2006
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa identificou o potencial inovador e a diversidade das atividades
desenvolvidas pelas empresas e agentes locais, dificultando a governança local do APL de
software de Londrina. Do lado das empresas, há dois grupos distintos: i) empresas que
defrontam com problemas de sobrevivência, cujas demandas envolvem aspectos financeiros;
e ii) empresas dinâmicas, cujas demandas apresentam outra natureza. Identificam-se, também,
as demandas das instituições de ensino responsáveis pela formação da mão-de-obra de alta
qualidade e as das demais instituições. As sugestões dos atores em prol da aglomeração de
44
O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina
software, são fundamentais para a definição das ações de políticas públicas.
A abertura de editais governamentais para ampliar e atualizar os laboratórios de
pesquisa das IES e das incubadoras requer, para superar as principais deficiências, espaço
físico (construção), ampliação e atualização do parque de computadores. Verifica-se a
necessidade de incentivos para o crescimento do mercado restrito de software no Paraná,
como por exemplo, software para o agronegócio e segmentos industriais (pacote e embarcado),
games etc..
Os estímulos financeiros devem ser incrementados no município e no estado
para a instalação e funcionamento de empresas de software, com redução do ISS e as taxas
dos juros para a atualização do parque de máquinas das empresas. Também há necessidade
de uma ampla divulgação das linhas de crédito específicas para o setor de software e da
assessoria na elaboração dos projetos, bem como ampliação do alcance do PROGEX e
outros incentivos para incrementar as exportações.
Verifica-se a necessidade de estruturação de uma rede paranaense de alta velocidade
para os institutos de pesquisa para a UEL – internet de altíssima velocidade – e para os
estabelecimento de redes virtuais wirelless, que beneficiariam as IEEs públicas e não somente
o segmento de software.
Um fator catalizador das atividades de software seria a realização de eventos e
wokshops no sentido de promover a qualidade do software e a qualificação das empresas de
software paranaense, viabilizando recursos para o financiamento para certificação MPS-Br.
Uma vez que o setor é intensivo em mão-de-obra qualificada, uma política contínua
de qualificação dos docentes das universidades públicas e privadas é necessária. É preciso
criar mecanismos efetivamente atrativos para a concretização de parcerias entre as
universidades e empresas, tendo em vista o desenvolvimento tecnológico nas diversas áreas
da tecnologia da informação (TI), notadamente os diversos setores de telecomunicações:
software e hardware, camada física e superiores, protocolos, entre outros.
Uma redução na carga tributária das empresas e nos encargos sociais sobre a
mão-de-obra especializada, muito utilizada pelas empresas que desenvolvem novos conceitos,
processos e produtos tecnológicos em países líderes neste setor, estimularia a contratação
de mão-de-obra qualificada. Finalmente, o investimento em cultura empresarial também é
necessário, para que as empresas londrinenses busquem, efetivamente, o desenvolvimento
tecnológico e invistam nos talentos e competências técnicas nacionais, possibilitando, em
um cenário de médio prazo, que a região torne-se um grande centro de desenvolvimento de
conhecimento nas áreas de software e de telecomunicação.
A adoção das políticas recomendadas e o fortalecimento da governança do APL,
que foi constituída em fins de 2006, têm permitido ao APL de software de Londrina ampliar
45
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
seu potencial exportador e inovador e contribuir para o desenvolvimento regional.
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46
O design de políticas públicas para a produção e a inovação no APL de software de Londrina
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47
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
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48
Aprendizado e inovação na rede de micro e pequenas empresas de software de Londrina
INTRODUÇÃO
O acirramento da concorrência, a crescente internacionalização da economia, a
busca pela manutenção e sobrevivência face às incertezas e à complexidade ambiental têm
conduzido empresas e organizações a uma constante revisão e reestruturação das suas
formas de atuação para se adequar à nova realidade de mercado.
Neste contexto, Lemos (2001) reconhece a inovação como sendo uma das forças
dinâmicas que elevam a capacidade competitiva das empresas. A inovação é uma ação
conjunta e cooperada de diversos atores internos e externos à organização. (RICHARDSON,
1972).
O processo inovativo não acontece isoladamente, ou seja, na busca por inovações,
as firmas procuram estabelecer relações e interagir com outras organizações, pois podem
utilizar informações e conhecimentos que se localizam também fora de seu ambiente. O
processo de inovação é, portanto, um processo interativo, realizado com a contribuição de
variados agentes sócioeconômicos que possuem diferentes tipos de informações e
conhecimentos e que possibilitam novos ganhos. (LEMOS, 2001).
Britto (2002) afirma que a análise das variadas formas de cooperação produtiva e
tecnológica entre empresas tem propiciado uma maior compreensão de como se pode
alcançar um melhor desempenho competitivo centrado, não na empresa individual, mas,
principalmente, na investigação das relações entre as empresas e as demais instituições.
O objetivo do capítulo é descrever e discutir os processos de aprendizado e as
inovações existentes na rede de micro e pequenas empresas de software da cidade de Londrina.
Inicialmente, realiza-se uma apresentação das principais abordagens sobre o processo de
aprendizado e os tipos de inovações, segundo a perspectiva evolucionária da economia,
dentro do contexto da rede de empresas de software de Londrina, reconhecendo-se que o
aprendizado concretiza-se pela interação com outras empresas e organizações e o processo
inovativo é resultado dessa interação. Posteriormente, apresentam-se a metodologia do
estudo, os resultados obtidos com as empresas de software de Londrina e as conclusões do
trabalho.
51
#
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
PROCESSOS DE APRENDIZADO
O conceito de aprendizado refere-se a um processo acumulativo em que
organizações adquirem e ampliam o estoque de conhecimentos e buscam o aprimoramento
de suas habilidades, a fim de desenvolver, produzir e comercializar bens e serviços.
(REDESIST, 2005).
Malerba (1992) destaca quatro características para analisar o fenômeno do
aprendizado tecnológico: i) o aprendizado é um “processo orientado” realizado no interior
da firma, que envolve um custo específico e orienta a capacitação dos agentes; ii) o
aprendizado constitui-se por intermédio de fontes internas e externas às firmas; iii) é
considerado um processo cumulativo de conhecimentos e intertemporal, o que significa
que a firma constantemente amplia suas capacitações distintamente de outros agentes e; iv)
o aprendizado produz não somente inovações incrementais por meio da eficiência produtiva
de processos, mas também possibilita a identificação de oportunidades produtivas e
tecnológicas como as inovações radicais e a expansão para novos mercados.
O aprendizado é um processo de constituição de novas competências e de
obtenção de vantagens competitivas, o qual, pela repetição, experimentação, busca manter
novas fontes de informação, capacita tecnologicamente as firmas e incrementa as atividades
produtivas e inovativas. (CAMPOS; et al, 2002). Torres et al (2004) afirmam que a forma
pela qual cada agente econômico adquire conhecimento é baseada na cooperação que
acontece sob distintas formas de interação. Para Torres et al. (2004) e Britto (1999) existem
os processos de aprendizado em que há: o acúmulo de conhecimentos, experiências e práticas
acumuladas que circunscrevem diretamente as atividades de produção (learning by doing); a
exploração do uso de determinado produto ou serviço, sendo este e o primeiro, processos
que ocorrem no interior das firmas e relacionados à eficiência produtiva (learning by using) e;
a interação de outros agentes, como fornecedores, clientes, entre outros; acontece
externamente à firma o chamado learning by interacting que favorece novas possibilidades
tecnológicas e eleva o potencial inovativo.
Segundo Villaschi e Campos (1995), o learning by doing e learning by using concentram
suas análises nos processos internos de aprendizado das firmas, enquanto que a abordagem
learning by interacting tem o foco nos processos entre firmas e entre estas e outras organizações.
Nonaka e Tekeuchi (1997) reconhecem que as organizações, ao intentar resolver problemas,
inovar e responder aos estímulos do ambiente precisam de informações que venham de
fora para dentro. Desta maneira, estão mais habilitadas a criar novos conhecimentos de
dentro para fora e nesse processo recriar seu meio. Segundo a visão evolucionária, no processo
52
Aprendizado e inovação na rede de micro e pequenas empresas de software de Londrina
de aprendizado, o feedback, para indivíduos e organizações, pode servir como um poderoso
meio ao se desempenhar desafios mais complexos.
No caso do aprendizado por interação, este se vincula a três aspectos importantes:
i) devido ao contato sistemático e o intercâmbio de informações, é possível conhecer as
necessidades dos clientes; ii) com o conhecimento das competências dos fornecedores e
consequente combinação de tecnologias, pode-se melhor atender às necessidades dos clientes
e; iii) os feedbacks dos clientes/usuários, pelo uso de produtos e serviços, favorecem a
identificação de lacunas e a resolução de problemas. Isto se dá em uma rede de interação,
envolvendo a agregação de aprendizado de cada agente individual, um pool de conhecimentos
(gerenciais, comerciais, mercadológicos, tecnológicos, entre outros), possibilitando uma
aglutinação de competências. (BRITTO, 2001). Essas possibilidades de conhecimento não
só aumentam a eficiência produtiva (inovações incrementais), mas colaboram para a ampliação
da variedade de novos produtos, processos e serviços (inovações radicais) e até a geração de
novos setores e demandas.
Segundo Cassiolato e Lastres (2004), os modelos organizacionais que contemplam
a interação e a atuação conjunta dos mais variados agentes, como as redes de empresas,
arranjos e sistemas produtivos, estão se tornando os mais adequados para promover a
aquisição, a geração e a difusão de conhecimentos e inovações.
Britto (2001) destaca dois tipos de aprendizado na de rede de firmas que afetam
e impactam a competitividade dos agentes. Um deles é o aprendizado do tipo informal, em
que há o intercâmbio sistemático de informações e conhecimentos e a transferência de
tecnologias entre os integrantes da rede possibilita diminuir as lacunas do processo inovativo.
O grau de interação entre os agentes ultrapassa as relações bilaterais, pois possibilita a
socialização do processo de aprendizado em diferentes níveis hierárquicos (learning by doing
e learning by using) afetando diretamente o nível de capacitação dos agentes.
No aprendizado do tipo formal, observa-se a criação intencional de conhecimento
tecnológico, compreendendo esforços deliberados de P&D em que os agentes se unem
para criar novas tecnologias. São constituídos de projetos particulares, com responsabilidades
definidas de cada agente, contemplam uma certa divisão do trabalho quanto às atividades
de P&D, possibilitando a divisão de resultados e elevando o potencial inovativo.
Quanto aos impactos relativos aos mecanismos informais e formais de
aprendizado, os processos informais promovem um equilíbrio nos padrões técnicos
produtivos dos agentes ligados à rede, principalmente quanto à capacitação dos recursos
humanos; possibilita a troca de informações relativas aos processos operacionais e produtivos,
devido ao intercâmbio de modernas técnicas organizacionais; e colabora com a definição
de padrões de controle de qualidade e normas técnicas. (BRITTO, 2001).
53
#!
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Os principais impactos dos processos formais de aprendizado são: redução dos
riscos relativos à atividade inovativa; interação sistemática, possibilitando a melhor
identificação de áreas tecnológicas mais promissoras. Consequentemente, elevam-se os níveis
de produtividade das atividades de P&D e amplia-se a especialização do arranjo. O
aprendizado, enquanto um processo, permite, por meio da repetição e da experimentação,
o desempenho mais ágil das tarefas, uma vez que as firmas conseguem se desenvolver
melhor e mais rápido. (TEECE, 2005; TEECE; PISANO, 1994). Dessa forma, possibilitase o surgimento de novas oportunidades de produção.
No aprendizado, as habilidades organizacionais e individuais são criadas a partir
de um processo coletivo e social e envolvem a existência de códigos de comunicação
compartilhados e de busca coordenada. (TEECE, 2005). O conhecimento organizacional,
gerado a partir de uma atividade, pode ter origem em rotinas ou em uma nova lógica da
organização, para resolução de problemas mais complexos.
A cooperação e as parcerias servem de caminho para a criação de conhecimento
organizacional, possibilitando visualizar desvios, ajustando processos e necessidades. O
aprendizado tem a tendência de ser local, pois está ligado ao que está presente na vizinhança,
tendo, desta maneira, oportunidades específicas de aprendizado quanto às transações e à
produção. (TEECE, 1988).
Para Torres et al. (2004), os processos de aprendizado perpassam as ações de
cooperação e a interação, resultando na constituição de um espaço econômico próprio. A
complexidade das relações e o grau de cooperação entre os agentes, bem como os vínculos
com outras organizações e empresas, assumem um caráter local e um papel relevante na
análise do fenômeno do aprendizado. Esses espaços com um aparato institucional particular
condicionam a forma como se dá a geração de conhecimentos tácitos e codificados. São
processos de aprendizagem por meio de intensas interações mediatizadas por instituições.
CONHECIMENTO TÁCITO E CODIFICADO EM REDES DE
EMPRESAS
Os estudos das características do processo de aprendizado contemplam, ainda, a
natureza tácita e codificada do conhecimento. Para Polanyi (1966), o conhecimento tácito
está atrelado à expertise quanto à realização de determinada atividade. A codificação desse
conhecimento torna-se complexa quando o interlocutor não é conhecido. O conhecimento
tácito é de alto valor para a organização: é dinâmico, interdependente e reside na cabeça das
54
Aprendizado e inovação na rede de micro e pequenas empresas de software de Londrina
pessoas, portanto, dificilmente poderá ser formulado e comunicado. (NONAKA et al, 2002;
BALESTRIN; FAYARD, 2003). Pode ser compreendido somente por pessoas que vivenciam
as mesmas experiências de vida, em outras palavras, é facilitado num ambiente em que
indivíduos possuem um grau de ligações sociais e culturais bastante representativos. Desta
forma, as aglomerações ou a rede de empresas compreendem locais propícios à geração do
conhecimento tácito. (HANSEN, 2003).
As redes de firmas assumem um papel importante, pois facilitam a codificação de
conhecimentos relativos a quadros cognitivos e a campos técnico-científicos distintos. Em
muitos casos, os fluxos informacionais estão atrelados aos relacionamentos interpessoais
entre indivíduos e grupos, possibilitando transmitir, com maior efetividade, conhecimentos
tácitos que são codificados no âmbito da rede. (BRITTO, 2002). No caso da transferência
de conhecimento tácito, o contexto social determina que isto aconteça, permitindo o contato
face-a-face e o compartilhamento de códigos comuns de comunicação e de convenções e
normas. (CAMPOS et al, 2002).
Paralelo ao conhecimento tácito, há o conhecimento codificado (ou explícito),
conhecido, também como, “o conhecimento transmissível em linguagem formal e sistemática
que pode ser expresso por meio de palavras e números e, portanto, comunicado e
compartilhado na forma de dados, fórmulas científicas, procedimentos codificados ou
princípios universais.” (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p.65). A diferença entre o
conhecimento tácito e o codificado é que o segundo não demanda que os agentes envolvidos
façam parte de um quadro social comum, o que facilita sua disseminação.
O conhecimento tácito é pessoal e específico ao local, o que dificulta sua
disseminação e comunicação para fora de seu contexto. Quanto mais tácito for o
conhecimento para desencadear o processo inovativo, maior será a necessidade de criação
de canais de comunicação que favorecem o intercâmbio sistemático de informações e de
conhecimentos entre os membros da rede. (BRITTO, 2002).
Ambas as formas de conhecimento (tácito e codificado) são importantes para o
desenvolvimento local. (HANSEN, 2003). Uma vez que o conhecimento codificado (obtido
pelas pesquisas cientificas, por exemplo) é adicionado ao conhecimento tácito (obtido
localmente por meio da experiência, observação ou conversas informais), as possibilidades
de que as informações compartilhadas localmente sejam reutilizadas de forma diferenciada
ampliam-se. Entretanto, para que o conhecimento tácito seja comunicado e compartilhado
numa empresa ou região, é necessária a conversão deste em palavras ou números, de forma
que as pessoas possam compreender.
É precisamente durante esse tempo de conversão – passagem do conhecimento
codificado para tácito e sua re-codificação – que de acordo com Nonaka e Takeuchi (1997),
55
##
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
o conhecimento organizacional é criado. “[...] a codificação é, portanto, uma condição para
a produção e acumulação de conhecimento como também para a geração de novas
oportunidades cognitivas.” (HANSEN, 2003, p.19).
Para Lastres e Cassiolato (2004), são considerados conhecimentos tácitos: i) saberes
sobre o processo produtivo que não estão disponíveis em manuais; ii) saberes gerais e
comportamentais; iii) capacidade para resolução de problemas não codificados; e iv)
capacidade para estabelecer vínculos entre situações e interagir com outros recursos humanos.
O aprendizado interativo é a principal forma de transmissão de conhecimento tácito. Para
a Redesist (2005), o conhecimento codificado compreende um conjunto de conhecimentos
que podem ser transmitidos pela comunicação formal entre os atores, mas cuja decodificação
requer conhecimentos tácitos prévios.
Nas redes de empresas, em aglomerações de empresas e em arranjos e sistemas
produtivos e inovativos, geralmente verificam-se processos de geração, compartilhamento
e socialização de conhecimentos, por parte de empresas, organizações e indivíduos,
particularmente de conhecimentos tácitos, ou seja, aqueles que não estão codificados, mas
que estão implícitos e incorporados em indivíduos, organizações e até regiões.
A caracterização e a avaliação dos fluxos de conhecimento e dos processos de
cooperação tornam possível um aprofundamento do aprendizado interativo (learning by
interacting) e no fortalecimento da capacitação produtiva e inovativa. (BRITTO, 2004). Os
processos interativos de aprendizado, voltados à inovação, concretizam-se em diferentes
graus e partem de diferentes fontes de conhecimento (fontes internas e externas). De um
lado, os agentes econômicos e sociais participam mais com o conhecimento tácito, enquanto
que outros contribuem com o conhecimento codificado. Aprender para inovar engloba
práticas interativas com diversas dimensões e diferentes tipos de instituições e agentes,
envolvendo conhecimentos de natureza distintas e cujo objeto (a própria inovação) também
é um condicionante dessas práticas. (VILASCHI; CAMPOS, 1995).
Por fim, conforme Lastres e Cassiolato (2004), o programa teórico evolucionário
tem como base: i) o conhecimento que é a base do processo inovativo e sua criação, uso e
difusão alimentam a mudança econômica, constituindo-se em importante fonte de
competitividade; ii) o aprendizado é o mecanismo chave no processo de acumulação de
conhecimentos; iii) a empresa é considerada o ponto mais importante neste processo; porém
o processo de inovação é geralmente interativo, contando com a contribuição de vários
agentes que são dotados de diferentes tipos de informações e conhecimentos, dentro e fora
da empresa; iv) os processos de aprendizado, capacitação e inovação são influenciados e
influenciam os ambientes sócioeconômico-políticos no qual se realizam.
56
Aprendizado e inovação na rede de micro e pequenas empresas de software de Londrina
Em suma, os estudos empíricos evolucionários, voltados ao sucesso ou insucesso
da inovação, evidenciaram o papel acumulativo da atividade inovativa, ao demonstrar a
relevância das inovações incrementais e radicais a serem realizadas a partir de processos de
aprendizado, que se desenvolveram por inputs provenientes de várias fontes internas e externas
à firma, bem como da sua difusão dentro e fora de alguns países. (FREEMAN, 1994).
Portanto, é essencial uma compreensão dos fatores determinantes, bem como o
reconhecimento do papel do aprendizado sobre o processo inovativo ao reconhecer a
interação, as trocas de conhecimentos e sua colaboração para o desenvolvimento deste
artigo.
INOVAÇÃO
A Era do Conhecimento evidencia o papel da inovação como recurso
imprescindível e força dinâmica na definição de parâmetros de mudanças tecnológicas e
organizacionais na corrida competitiva (LEMOS, 2001; CASTELLS, 1999).
Na concepção schumpeteriana, a invenção é vista como uma ideia para ser
incorporada a um produto, processo ou um sistema aperfeiçoado, o que não necessariamente
leva às inovações técnicas. Uma inovação, no sentido econômico, apenas se caracteriza com
a primeira transação comercial. (FREEMAN, 1974). As inovações realizadas por firmas ou
indivíduos são novas criações com significado econômico (EDQUIST, 2001).
As inovações abrangem produtos físicos, serviços e processos tecnológicos ou
organizacionais; apenas produtos e processos tecnológicos são considerados inovações
materiais, enquanto os serviços e processos organizacionais são tidos como bens intangíveis.
(EDQUIST, 2001). As inovações são apresentadas na figura 1.
A Taxonomia das Inovações
INOVAÇÕES
Tecnológico
#%
PRODUTO
PROCESSO
Organizacional
Mercadoria
Serviços
Figura 1 – Taxonomia das Inovações
Fonte: Edquist (2001).
57
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
As inovações tecnológicas (produtos e processos) emergem de processos
complexos, cuja emergência, difusão e translação de conhecimentos científicos e tecnológicos
se voltam para a criação de novos produtos e processos produtivos (EDQUIST, 1997). A
inovação tecnológica de produto e processo significa que a utilização do conhecimento
sobre novas formas de produzir e comercializar bens e serviços e a inovação organizacional
estão relacionadas à introdução de novos meios de organizar a produção, a distribuição e a
comercialização de bens e serviços. (CASSIOLATO; LASTRES, 2004).
Há duas teorias que discutem os fatores que impulsionam a inovação: o modelo
linear e o interativo; exemplos do modelo linear são: a teoria da indução pela demanda
(demand pull), em que são as forças de mercado que determinam a mudança técnica, a teoria
do impulso pela ciência (science push) e a teoria do impulso pela tecnologia (technology push).
(DOSI, 2005). Na teoria da indução pela demanda, o processo inovativo é conduzido pela
demanda de mercado, onde as inovações são induzidas ou desencadeadas em respostas às
necessidades dos consumidores, definindo uma relação sistemática entre preços e
quantidades. (ROSENBERG; MOWERY, 2005). Existem as necessidades dos consumidores,
já satisfeitas, acerca de determinados bens de consumo e bens intermediários presentes,
onde cada nova necessidade surgirá a partir de uma já satisfeita. (DOSI, 2005). É por
intermédio dos consumidores que se obtém o padrão de demanda, ou seja, preferências
por determinados tipos de bens que atendam à função de utilidade e na possibilidade
orçamentária que esses mesmos consumidores possuem. É a partir deste ponto que se
inicia o processo de inovação.
Nessa linha de raciocínio, pode-se considerar as inovações incrementais cujo
processo contínuo acontece em qualquer atividade industrial ou de serviços e é dependente
de pressões de demanda, influências sócioculturais, oportunidades e trajetórias tecnológicas.
Costumam ser iniciadas por invenções e sugestões de engenheiros (learning by doing), e outros
diretamente comprometidos com o processo produtivo, e pelas iniciativas e propostas de
usuários (learning by using). (FREEMAN; PEREZ, 1988).
As inovações incrementais compreendem: o melhoramento de um processo
produtivo por meio da organização, da modificação nos inputs usados e modificações na
escala; a diferenciação de produto no nível horizontal, como mudanças nas características
do produto para conquista de um novo segmento de mercado; e no nível vertical,
melhoramento da qualidade por meio da mudança física das propriedades do produto ou
incremento da sua confiabilidade, desempenho ou integração. (MALERBA, 1992). Os
impactos econômicos das inovações incrementais levam à expansão da demanda existente
e ao aumento do valor agregado (FREEMAN; PEREZ, 1988). Contribuem para a utilização
58
Aprendizado e inovação na rede de micro e pequenas empresas de software de Londrina
mais eficiente de fatores de produção, mas geralmente não refletem esforços deliberados
de P&D.
A inovação incremental pode significar ainda a introdução de qualquer tipo de
mudança ou a melhoria realizada em um produto, processo ou tipo de organização da
produção dentro de uma empresa. (LEMOS, 2001). Para a autora, muitas das inovações
incrementais são imperceptíveis para o consumidor, mas podem promover um aumento da
eficiência técnica e da produtividade, redução de custos, aumento de qualidade e mudanças
que possibilitem a ampliação das aplicações de um produto ou processo.
Contrária à visão da indução pela demanda, a teoria do impulso pela tecnologia
(technology push) reconhece a incerteza inerente à inovação associada à mudança e à
complexidade ambiental, o que significa dizer que há um movimento dinâmico de
realimentação entre o ambiente econômico e as mudanças tecnológicas. (DOSI, 2005).
Os fatores condicionantes do impulso pela tecnologia que influem no processo
de inovação são: i) o crescente aprimoramento dos insumos científicos (equipamentos,
máquinas, capital, matéria-prima, mão-de-obra) no processo de inovação; ii) complexas
atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) vistas como atividades de longo prazo; iii)
intermediação das atividades de patenteamento; iv) surgimento de inovações e
aperfeiçoamentos por meio do aprendizado tecnológico; v) formalização institucional das
atividades inovativas; vi) a complexidade intrínseca ao processo de mudança técnica que é
inerente ao estado-da-arte das tecnologias em uso e a correlação direta com os avanços
tecnológicos; e vii) a possibilidade de se conhecer trajetórias de mudanças tecnológicas e
econômicas com base em algumas regularidades presentes na evolução das tecnologias.
(DOSI, 2005).
Nessa situação, encontram-se as inovações radicais. (FREEMAN; PEREZ, 1988).
Estas compreendem empreendimentos que surgem da pesquisa deliberada e de atividades
de desenvolvimento realizadas em universidades e laboratórios governamentais,
caracterizados por movimentos descontínuos. São novas linhas de produção e de
modificações na estrutura industrial e criação de novos tipos de demanda. Esse tipo de
inovação implica um processo que conta com mecanismos complexos de feedback e de
relações interativas entre ciência, tecnologia, aprendizado, produção, política e demanda
(learning by interacting). (EDQUIST, 1997).
As inovações tecnológicas ou organizacionais podem, também, corresponder à
combinação de elementos existentes. (EDQUIST, 1997). As mudanças de sistemas
tecnológicos provocam impactos de longo alcance e abarcam desde inovações incrementais
e radicais, a inovações organizacionais e gerenciais, atingindo mais do que uma firma e, até
59
#'
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
mesmo, influindo nas várias esferas da economia, dando impulso à geração de novos setores.
(FREEMAN; PEREZ, 1988).
O modelo interativo de Kline Rosemberg destaca que processo de inovação mescla
interações no interior da firma, entre diferentes firmas e o sistema C & T (ciência e tecnologia)
e a importância do feed-back (HASENCEEVER; TIGRE, 2002)
Dessa forma, a inovação é considerada um processo não linear que pode envolver,
simultaneamente, conhecimentos resultantes da contratação de recursos humanos; da
realização de atividades de treinamento e de pesquisa e desenvolvimento (P&D); das demais
atividades e experiências acumuladas pela empresa, a partir de sua própria atuação; da
interação com outros agentes e com o ambiente que a cerca (LASTRES; CASSIOLATO,
2004).
METODOLOGIA
Para a consecução do objetivo desse trabalho, foi pesquisada a rede de empresas
de software de Londrina. Empregou-se um questionário baseado no modelo de questionário
da Redesist (2003) e de Camara et al, (2006) que têm dedicado esforços para estudos relativos
ao aprendizado e à inovação em aglomerações produtivas localizadas. O instrumento
foi aplicado pelo contato direto (RICHARDSON, 1999) nas empresas de software e dirigido
aos sócios proprietários das empresas. No caso de ausência destes, foi direcionado aos
responsáveis pela área de projetos cooperados. A pesquisa de corte transversal foi realizada
em julho e agosto de 2007.
Considerou-se uma amostra por julgamento (HAIR, 2005). Pelo fato da indústria
de software ser bastante dinâmica, heterogênea e oferecer diferentes tipologias distintas
(ROSELINO, 2006), a seleção das 26 empresas foi realizada tendo como base as seguintes
características em comum: i) empresas que afirmaram serem especializadas em
desenvolvimento de softwares e prestação de serviços de consultorias; ii) empresas cadastradas
na Prefeitura de Londrina; iii) vínculos com a Plataforma de Tecnologia da Informação –
PLATIN/ADETEC e associados Softex (entidades de representação do setor); iv)
participação nas atividades do aglomerado de empresas de software de Londrina; v) membros
de centros de tecnologia como a Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica
da Universidade Estadual de Londrina – INTUEL e do Centro Tecnológico de Londrina –
CTEC; e vi) a aceitação para participar da pesquisa.
Para descrever o processo de aprendizado da rede, o questionário compreendeu
60
Aprendizado e inovação na rede de micro e pequenas empresas de software de Londrina
uma escala ordinal que indicasse o grau de importância da fonte de informação, se o
mecanismo de aprendizado é formal ou informal e a localização da fonte, se em nível local
da cidade de Londrina, estado do Paraná, outros estados do país e também do exterior.
Para identificar as inovações introduzidas, foi dada a opção de introdução ou não da inovação
pelas empresas (REDESIST, 2003).
Acredita-se que a complexidade do conteúdo da pesquisa tornou-se um fator
limitante, principalmente pela restrição cognitiva dos respondentes para compreensão total
das temáticas abordadas no estudo, o que pode gerar um viés na pesquisa.
RESULTADOS
Apresentam-se, a seguir, os principais resultados encontrados na pesquisa de
campo, bem como as respectivas análises decorrentes.
Para a Redesist (2003), o aprendizado refere-se a um processo por meio do qual
as empresas adquirem e desenvolvem diferentes tipos de conhecimentos, competências e
habilidades, não havendo limitações quanto à localização das fontes de informação. Possibilita
o aprimoramento do processo inovativo, maior capacitação produtiva, tecnológica e
organizacional.
As micro e pequenas empresas de software selecionadas do município de Londrina
recorrem para o incremento da atividade produtiva e inovativa a fontes internas (learning by
doing), indicando 93% de alta/média importância ao departamento de P&D e/ou área de
produção. Esse quadro revela, segundo Torres (2004) e Britto (2001;1999), que o acúmulo
de conhecimentos, práticas e experiências das empresas provem do pessoal da área de
produção de software (por exemplo, engenheiros e técnicos) como fonte alimentadora para
eficiência produtiva de processos e de implementação de mudanças técnicas.
Os mecanismos informais do aprendizado são os que prevalecem no processo de
aprendizado dentro das empresas de software selecionadas, o que indica, conforme Britto
(2002), que as empresas buscam um equilíbrio nos padrões técnicos produtivos, no que se
refere à capacitação dos recursos humanos, promovendo a troca de informações de processos
operacionais e produtivos e de técnicas organizacionais, contribuindo com a definição de
padrões de controle de qualidade e normas técnicas.
No que se refere às fontes externas de informação e aprendizado, as empresas
destacaram, com 100% de alta/média importância, os clientes/usuários do produto,
concentrando-se com valores equivalentes em nível local, estadual e nacional. Esses dados
61
$
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
reforçam a predominância de empresas que desenvolvem de softwares sob encomenda (16
empresas) na rede estudada. Nesse processo de produção de software há, segundo Roselino
(2006), Melo e Branco (1997), intensa interação entre produtor/usuário. De acordo com
Torres (2004) e Britto (2001), por intermédio do learning by using, as empresas interagem
com usuários para elevar os níveis de capacitação produtiva, tecnológica e organizacional
das empresas. Afirmam ainda que pelo feedback dos clientes/usuários, é possível identificar
desvios, resolver problemas de produtos e processos, explorar oportunidades tecnológicas
e até identificar e possibilitar a geração de novos setores.
Adiciona-se à análise que outras fontes externas de aprendizado, como outras
empresas de software (locais), consultores especializados (locais e no Brasil) e concorrentes,
conferências, seminários, cursos, workshops, publicações especializadas, feiras, exibições e
livrarias em geral tiveram papel relevante nos dois últimos anos (2005 a 2007) para elevar a
capacitação produtiva e inovativa das empresas. Quanto aos mecanismos de aprendizado,
observa-se, que com outras empresas de software e concorrentes, prevalecem os mecanismos
informais, ou seja, voltados ao equilíbrio de padrões produtivos, enquanto que eventos e
consultores especializados predominaram enquanto como mecanismos formais de
aprendizado. Em relação a este último dado, isto demonstra, de acordo com Britto (2001),
que as micro e pequenas empresas estão empreendendo esforços deliberados de P&D
recorrendo a fontes de informação, como os clientes, consultores e eventos especializados,
a fim de criar novas tecnologias. Isto pode revelar a existência de projetos particulares de
P&D nas empresas com certa divisão do trabalho e divisão de resultados. De acordo com
o autor, essa prática contribui para elevar o potencial inovativo do arranjo, com a melhor
identificação de áreas tecnológicas mais promissoras e, consequentemente, elevar os níveis
de produtividade das atividades de P&D e ampliar a especialização do arranjo.
Por fim, outra fonte de informação que apresentou 89% de alta/média importância
foi o uso da Internet como meio de informação, abrangendo desde a escala local até
internacional (Tabela 1).
Os resultados também revelam a baixa ou nenhuma importância dada às
universidades (locais e nacionais), a institutos de pesquisa (IAPAR – Instituto Agronômico
do Paraná, Embrapa), aos centros de capacitação profissional (CIEE, Platin na promoção
de treinamentos e cursos não voltados a certificação, mas que abrangem outras áreas da
empresa), às instituições de testes e certificações e incubadoras locais (INTUEL), como
fontes de informação para o aprendizado. A tabela 1 apresenta o que foi obtido com relação
às fontes de informação recorridas pelas empresas, grau de formalização dos processos de
aprendizado e localização dessas fontes.
62
Aprendizado e inovação na rede de micro e pequenas empresas de software de Londrina
Conforme a tabela 2, que apresenta as inovações introduzidas pelas empresas,
observa-se que a introdução de produtos/serviços novos para a empresa, mas existentes
no mercado, e a introdução de produtos/serviços novos para o mercado nacional revelam
o potencial inovativo das empresas de software selecionadas para a amostra, com 69% em
ambos os casos.
Quanto ao mercado internacional, apenas 11% das empresas afirmaram a
introdução de produtos/serviços novos nos dois últimos anos (2005 a 2007). No que se
refere à introdução de processos tecnológicos novos para a empresa, mas já existente no
setor, as empresas apresentaram 81% esforços inovativos e 77% de introdução de processos
tecnológicos novos para o setor de atuação, dados que refletem o esforço inovativo das
empresas para incrementar o processo produtivo e inovativo nos anos de 2005 a 2007.
Tabela 1 – Fontes de Informação x Formalização x Localização (%)
Descrição
1. Departamento de P&D e/ou área de produção
2. Área de vendas, marketing
Fontes Externas
3. Fornecedores (equipamentos, materiais)
4. Clientes / Usuários
5. Outras empresas do setor de software
6. Concorrentes
7. Consultores especializados
Universidade e Outras Instituições de Pesquisa
8. Universidades e Institutos de pesquisa
9. Incubadoras de empresas
10. Centros de capacitação profissional, de
assistência técnica e de manutenção
11. Instituições de testes e certificações
Outras fontes de informação
12. Licenças, registro de software, patentes
13. Conferências, seminários, cursos, workshops e
publicações especializadas
14. Feiras, exibições e livrarias
15. Ocasiões sociais (clubes, restaurantes, bares etc)
16. Assoc. empresariais locais (cons. de exportação)
17. Catálogos, revistas e Sites (Internet)
Grau de Importância
Alta
77
38
Formalização
Localização
Média Baixa Nenhum Formal Misto Informal
15
8
23
27
40
27
27
8
19
27
46
R
PR
BR
E
7
12
-
23
77
35
19
38
15
23
31
50
27
35
15
19
23
27
19
12
12
15
31
15
4
38
15
38
4
4
19
42
31
61
81
31
35
81
54
35
50
31
81
27
42
15
42
77
42
73
50
19
8
11
11
8
19
31
27
39
39
57
31
23
19
50
11
11
4
27
11
15
50
42
50
7
23
15
27
-
27
15
4
54
38
4
4
4
19
23
-
7
31
4
34
8
27
81
8
15
46
0
23
4
23
4
46
4
27
14
69
4
7
31
23
7
54
27
15
23
35
15
23
35
11
27
39
35
0
31
8
31
12
15
0
4
23
27
54
31
65
27
46
62
73
31
31
15
77
62
31
7
92
7
96
Fonte: Dados da pesquisa de campo (2007)
Como base nos resultados, é possível confirmar o que a literatura da área de
software apresenta como características da indústria. De acordo com Sampaio e Scatolin
(2004), entre outros autores, na indústria de software, como qualquer segmento de alta
tecnologia, observa-se a necessidade constante de introdução de inovações, o que exige o
permanente desenvolvimento de novos produtos e serviços. Para Schumpeter (1982), as
estratégias baseadas na inovação constituem-se de fonte de vantagens competitivas para as
empresas de alta intensidade tecnológica.
63
$!
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
No que se refere à implementação de técnicas avançadas de gestão, 35% das
empresas aplicaram alguma forma diferenciada de gestão empresarial. Esses resultados
podem confirmam os estudos sobre uma das dificuldades encontradas para o crescimento
da indústria de software brasileira. De acordo com Ruiz et al (2001), o alto nível de qualificação
técnica dos profissionais dessa área limita-os em algumas atividades no âmbito empresarial.
Dessa forma, pode-se compreender esforços de entidades do setor como o Softex, que
desenvolvem ações de capacitação empresarial no âmbito dos Núcleos Softex, distribuídos
pelo país e no exterior. (ARAÚJO, 2003; SOFTEX, 2007).
Para implementação de mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de
marketing, os resultados apresentaram 39% da amostra pesquisada e implementação de
mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de comercialização com 50% do total
das empresas. Esse percentual inferior, no que tange a mudanças na área de marketing e
comercialização das empresas, também evidencia o que Kubota (2005) define como fatores
críticos de sucesso das empresas de software, que necessitam além de um bom produto e de
uma liderança empresarial capacitada a administrar uma equipe, ações de Marketing que
possibilitem a manutenção e a sobrevivência das empresas no mercado. Segundo o autor, as
empresas de software necessitam gerenciar o relacionamento com os clientes de forma que
se faça perdurar o mais longo tempo possível, garantindo demandas.
Quanto à implementação de significativas mudanças na estrutura organizacional,
indicaram 58% de mudanças na estrutura das empresas, o que se reflete na afirmação de
Lemos (2001) sobre as especificidades das MPME’s quanto a possuir maior capacidade de
flexibilidade organizacional e estruturas menos hierárquicas e burocratizadas. Para OCDE
(2000, apud LEMOS, 2001), essa flexibilidade encontrada nas micro, pequenas e médias
empresas colabora com a tomada de decisões dos empresários e facilita mudanças no
processo produtivo, propiciando maiores condições para a realização de atividades inovativas.
No que se refere à implementação de novos métodos e gerenciamento, visando
atender normas de certificação [MPS-BR (Melhoria do processo do software brasileiro) CMM (Capability maturity model), ISO (International Organization for Standardization)],
obteve-se um total de 46% da amostra (12 empresas). Nesse caso, uma informação a ser
relatada é que cerca de seis empresas da rede pesquisada participaram da ação coletiva para
implementar o programa de certificação MPS-BR, sendo que apenas duas empresas
obtiveram o certificado de MPS-BR, nível 6. A tabela 2 mostra as inovações realizadas pelas
empresas nos últimos anos de 2005 a 2007.
64
Aprendizado e inovação na rede de micro e pequenas empresas de software de Londrina
Tabela 2 – Inovações realizadas pelas empresas de software de Londrina em produtos/
processos e inovações organizacionais.
Descrição
1.
Introdução de produtos/serviços novos para a empresa, mas existente no
mercado
2. Introdução de produtos/serviços novos para o mercado nacional
3. Introdução de produtos/serviços novos para o mercado internacional
4. Introdução de processos tecnológicos novos para a empresa, mas já
existente no setor
5. Introdução de processos tecnológicos novos para o setor de atuação
6. Implementação de técnicas avançadas de gestão
7. Implementação de significativas mudanças na estrutura organizacional
8. Implementação de mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de
marketing
9. Implementação de mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de
comercialização
10. Implementação de novos métodos e gerenciamento, visando atender
normas de certificação (MPS-BR, CMM, ISO, etc).
Inovações
f
%
18
69
18
3
21
69
11
81
20
9
15
10
77
35
58
39
13
50
12
46
Fonte: Pesquisa da autora (2007)
CONCLUSÃO
O estudo identificou a existência de significativo processo inovativo incremental,
realizado no período de 2005 a 2007 nas 26 empresas estudadas da amostra. Observou-se
que as empresas estão mais direcionadas a lançar produtos/serviços novos para a empresa
e também para o mercado nacional. No que se refere ao potencial inovativo dessas empresas,
verificou-se que as empresas introduziram mais inovações no mercado nacional do que no
mercado internacional.
O estudo revela altos índices de introdução de processos tecnológicos novos
para a empresa, já existentes no setor, e refletem o esforço tecnológico das empresas para
incrementar o processo produtivo e inovativo. Isto pode ser ratificado com, por exemplo, a
compra de máquinas e equipamentos que implicaram significativas melhorias tecnológicas
de produtos/processos, ou que estão associados aos novos produtos/processos nos anos
de 2005 a 2007.
Os resultados da pesquisa ratificam ainda as dificuldades em termos de gestão
empresarial encontradas pelos empresários do setor, como a pouca implementação de
técnicas avançadas de gestão, de mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de
marketing e de comercialização, estando aliado aos estudos dos fatores que inibem o
65
$#
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
crescimento da indústria de software brasileira. Isso porque o alto nível de qualificação técnica
dos profissionais dessa área, segundo Ruiz et al (2001), limita atividades de cunho empresarial.
De acordo com Kubota (2005) uma liderança empresarial satisfatória pode melhor
gerenciar uma equipe e ações de Marketing voltadas aos clientes, tendo como resultado a
garantia de demandas que possibilitem a manutenção e a sobrevivência dessas empresas no
mercado.
A pesquisa mostrou, também, que a flexibilidade organizacional e a ausência de
burocracias excessivas presentes nas MPME’s , pode estar favorecendo a implementação
de significativas mudanças na estrutura organizacional dessas empresas, facilitando a tomada
de decisões e alterações no processo produtivo, o que beneficia as atividades inovativas.
Quanto a implementar novos métodos e gerenciamento, visando atender normas de
certificação MPS-BR, CMM, ISO, etc., possibilita demonstrar a preocupação das empresas
de software de Londrina em implementar programa de qualidade e de certificação.
Quanto à identificação do processo de aprendizado coletivo da rede de empresas
de software de Londrina, os resultados revelaram que grande parte das empresas recorrem
em grau elevado às fontes internas (P&D e/ou produção) e externas (clientes)
majoritariamente para elevar a capacidade produtiva e inovativa das empresas. Como boa
parte das empresas focam suas atividades no desenvolvimento do software sob encomenda,
acredita-se que as inovações sejam incrementais, pois as fontes de aprendizado perpassam,
predominantemente, a esfera da produção e o contato com usuários do produto.
No caso do pessoal de produção, os mecanismos de aprendizado predominantes
são mais informais, ou seja, as empresas buscam equilibrar padrões técnicos produtivos
quanto à capacitação dos recursos humanos, em que há fluxos e trocas de informações de
processos operacionais e produtivos e de técnicas organizacionais, contribuindo com a
definição de padrões de controle de qualidade e normas técnicas. No caso dos clientes/
usuários, prevalecem os mecanismos formais de aprendizado. Pode-se dizer que existem
esforços mais estruturados por parte das empresas, no sentido de deliberar ações que
promovam não só o melhoramento de produtos, processos técnicos e organizacionais,
como também buscar a identificação de novas oportunidades de negócios para beneficiar
seus próprios clientes.
O estudo demonstrou a importância, num plano secundário, de outras fontes
externas de informação, com mecanismos informais de aprendizado (na relação com outras
empresas de software locais e concorrentes); em processos de aprendizado formais (com
consultores especializados, não só locais, mas no país como um todo); com a participação
em conferências, seminários, cursos, workshops, e e feiras e exibições (nível Brasil) para melhor
66
Aprendizado e inovação na rede de micro e pequenas empresas de software de Londrina
a capacitação produtiva e inovativa das empresas. Isto demonstra que as empresas estão
buscando, de forma sistemática, empreender ações intencionais de P&D para criar novas
tecnologias.
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$'
69
Relação em rede nas micro e pequenas empresas de software de Londrina
INTRODUÇÃO
O advento das Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC’s - vêm
contribuindo para a reorganização da estrutura produtiva, revolucionando as bases das
relações empresariais. As mudanças radicais nas formas de produção e comercialização
baseadas na microeletrônica e nas novas TIC’s, têm promovido o afastamento do modelo
de produção em larga escala rumo à especialização flexível de produção. (CASTELLS,
1999).
O mundo tem experimentado novas formas de produção industrial e de gestão
da atividade empresarial, promovendo a configuração de novos arranjos estruturais na divisão
do trabalho e nas relações econômicas. Frente a essas transformações econômicas, políticas
e tecnológicas, a sobrevivência das empresas, mediante a forte concorrência e ambivalências
do mercado, é fator determinantes para a formação da rede (FILHO, et al, 2006). Segundo
Olave e Amato (2001), essa configuração em rede se dá por meio da cooperação.
As redes de empresas são formadas com o objetivo de reduzir incertezas e riscos,
a partir da organização das atividades econômicas pela coordenação e cooperação (LEON,
1998). Para Britto (2002), a análise das variadas formas de cooperação produtiva e tecnológica
entre empresas tem propiciado uma maior compreensão de como se pode alcançar um
melhor desempenho competitivo, centrado não na empresa individual, mas, principalmente,
na investigação das relações entre as empresas e as demais instituições.
Do mesmo modo, as empresas de software participam de um setor dinâmico e de
constantes mutações. Em setores de alta tecnologia - a indústria de software, inclusive -, a competição
é acirrada (MELO; BRANCO, 1997). Mesmo com o predomínio de grandes corporações em
escala mundial, as redes de empresas são reconhecidas como recurso estratégico de competitividade
para que as micro, pequenas e médias empresas conjuguem esforços e possam competir de
forma mais equilibrada com as grandes. (FILHO, et al, 2006).
O presente artigo apresenta aspectos teóricos e conceituais sobre a temática de
redes de empresas, especialmente no que tange às ações de cooperação, de parcerias e de
alianças estratégicas, existentes entre as empresas de software de Londrina e com outros
73
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
agentes externos e os impactos econômicos dessas ações cooperadas. Em seguida, apresentase a metodologia empregada no estudo e os resultados obtidos com o trabalho. Por fim,
seguem as conclusões no que se refere à pesquisa.
REDES DE EMPRESAS
Marcon e Moinet (2001) indicam que nos estudos anglo-saxões a referência à
concepção de rede está muito ligada à noção de sistema, uma perspectiva dinâmica que
considera uma rede que trabalha com networking. A concepção inglesa conduz à noção de
projeto comum, no qual atores estão ordenadamente agrupados e trabalham em conjunto
para formar um sistema, um dispositivo inteligente, em outras palavras, o todo é tido como
essencialmente superior às partes.
No campo organizacional, o termo rede designa um conjunto de pessoas ou
organizações interligadas direta e indiretamente. (CASTELLS, 1999). Os atores sociais,
enquanto nós da rede, possuem maior intensidade e interação. A participação na rede permite
otimizar o uso do espaço e do tempo, à medida que essas relações forem sendo intensificadas.
Para Britto (2002, p.347), o conceito de redes de empresas compreende arranjos
interorganizacionais com base em vínculos sistemáticos, na maioria das vezes de caráter
cooperativo, entre empresas formalmente independentes, que promovem uma forma
particular de coordenação das atividades econômicas.
No caso das ciências sociais, o conceito de rede oferece condições de se
compreender as estruturas do sistema de relações que ligam os diferentes agentes e sua
forma de operação possibilitando a reprodução, o fortalecimento e alguma transformação
ao longo do tempo (BRITTO, 2002).
A perspectiva de redes de empresas tem servido de recurso analítico para
compreensão do complexo ordenamento das interrelações entre empresas e outras
organizações, sendo alvo de crescente interesse de pesquisas em áreas como economia,
sociologia e administração, demonstrando a existência de convergência entre diferentes
escolas de pensamento (BRITTO, 2002).
Lemos (2001) reconhece que a abordagem das redes de empresas desenvolveu-se
e ganhou novas terminologias, tendo como foco principal a cooperação e a competição,
não existindo uma unanimidade de conceitos.
A perspectiva de rede tem se aplicado a diversas formas de relações de cooperação
entre empresas. Dentre os casos das redes de empresas, destacam-se alianças estratégicas,
74
Relação em rede nas micro e pequenas empresas de software de Londrina
relações de terceirização e subcontratação, distritos industriais, consórcios, arranjos e sistemas
produtivos locais, entre outros. (CASAROTTO; PIRES, 2001; BRITTO, 2002,
CASSIOLATO; LASTRES, 2004).
TIPOLOGIA DE REDES DE EMPRESAS
O conceito de rede, na teoria econômica, é empregado sob duas perspectivas: na
primeira delas, o estudo da rede busca compreender a dinâmica de comportamento de
diferentes mercados e o foco de análise está nas estruturas da rede. (BRITTO, 2002). A
análise foca o surgimento de rendimentos crescentes, ao longo da trajetória de transformação
dos diversos mercados em rede, e valoriza a interdependência e a interação das unidades
produtivas presentes nela, como por exemplo, as indústrias em rede.
A análise microeconômica concentra-se nas externalidades em rede, que são
reflexos dos efeitos diretos e indiretos das decisões de agentes atuantes nesses mercados, e
podem ser externalidades:
1. técnicas – a interdependência entre os agentes pode levar a modificações
nas características de funções de produção;
2. pecuniárias – pode levar a mudanças nos preços das estruturas e de custo
das empresas;
3. tecnológicas – podem modificar a adoção e difusão de inovações no interior
do mercado onde a rede atua; e
4. de demanda - a demanda de bens oferecidos por cada unidade é afetada por
modificações na demanda de outras unidades.
Esse tipo de rede configura um conjunto de unidades produtivas independentes
que se complementam, usufruem de economias de escala com redução de custos devido às
externalidades geradas em rede. As externalidades fortalecem a interdependência entre as
diversas cadeias produtivas, existentes no arranjo produtivo que juntos buscam consolidar
e fortalecer sua atuação no mercado e o potencial competitivo. Essa análise busca entender
como determinada rede de relações afeta as decisões tomadas pelos agentes econômicos
(produtores e consumidores) em mercados específicos e pode como configurar instituições
particulares ou públicas na coordenação das atividades econômicas.
As principais características desse tipo de rede de empresas são (BRITTO, 2002):
a) elevado grau de compatibilidade e complementariedade técnica entre os agentes e as
atividades por eles realizadas; b) elevado grau de integração das atividades produtivas da
75
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
rede, devido às externalidades técnicas, pecuniárias e de demanda e; às externalidades
tecnológicas, que possibilitam ganhos relativos ao progresso técnico, devido à
complementariedade de competências; e c) consolidação de uma infraestrutura particular,
o que implica certa irreversibilidade quanto aos investimentos realizados por agentes a que
eles se integram.
O enfoque da segunda abordagem de redes recai sobre as suas características
estruturais, nos processos de estruturação e na transformação, a partir de estímulos internos
e externos. Essas estruturas estão associadas aos mecanismos de operação específico e são
responsáveis pela geração de estímulos endógenos, indutores de processos adaptativos frente
à evolução do ambiente. Pressupõe que o ambiente está institucionalmente estruturado em
função da densidade de vínculos produtivos e tecnológicos, estabelecidos entre empresas e
instituições. A análise contempla a dimensão social das relações entre empresas e sua
influência no ambiente econômico e, também, sobre o padrão de conduta dos agentes.
Privilegia um recorte mesoeconômico da dinâmica industrial, buscando compreender o
papel desempenhado por subsistemas ligados à estrutura da rede. Há relativa autonomia
em relação às fontes externas, certo grau de auto-organização e de capacidade endógena de
autotransformação, o que lhe confere um caráter essencialmente dinâmico.
Hoffmann (2005) acrescenta, também, alguns indicadores que possibilitam
conhecer como as redes estão estruturadas. O primeiro indicador das redes de empresas é
a direcionalidade, que define a direção das relações entre as partes. As redes podem ser
verticais ou horizontais.As redes verticais são aquelas nas quais os processos são realizados
por empresas distintas, em uma dimensão de hierarquia. As redes horizontais são aquelas
estabelecidas entre empresas que se comprometem em termos de produtos e/ou mercados
em uma dimensão de cooperação. (HOFFMANN, 2005; MARCON; MOINET, 2001).
Quanto ao nível de formalização das redes, estas podem ser estruturas formalizadas
ou informais. As estruturas formalizadas têm como base o escopo contratual em que há o
estabelecimento de mecanismos formais para gerir regras de conduta dos agentes. As redes
informais têm alicerce não contratual e, como fundamento, a confiança gerada entre os
membros, empregando sanções às empresas que violam as normas do grupo. Este último
tipo de configuração de rede permite encontros informais entre os atores econômicos que
trocam experiências e informações, favorecendo um ambiente de cooperação e relações
interempresariais mais estruturadas. (HOFFMANN, 2005, MARCON; MOINET 2001).
Para Hoffmann (2005), as redes podem ser dispersas ou aglomeradas: as redes
dispersas são aquelas que interagem por meio de um processo de logística avançado,
permitindo superar distâncias. As redes aglomeradas caracterizam-se por manterem relações
76
Relação em rede nas micro e pequenas empresas de software de Londrina
que podem estender-se além daquelas puramente comerciais, tendo suporte de universidades,
centros de tecnologia e de instituições governamentais, restringindo-se a um território
específico. No que se refere à decisão de poder da rede, esta pode ser definida como rede
orbital, em que existe um centro de poder com empresas circundantes ao redor; e a rede
não orbital, em que cada empresa tem a mesma capacidade de tomada de decisões. É
possível classificar, conforme Hoffmann (2005) e Marcon e Moinet (2001), as redes como:
verticais – a dimensão da hierarquia; horizontais – a dimensão da cooperação; formais – a
dimensão contratual; e informais – a dimensão da conivência.
REDES HORIZONTAIS
A atuação conjunta e cooperada entre empresas de menor porte tem evidenciado
a configuração em rede como estratégia para a eficiência produtiva e para a competitividade.
No caso das redes horizontais, com predomínio de empresas de menor porte, as empresas
competem em termos de produtos e/ou mercados específicos. (HOFMANN, 2005). O
propósito deste tipo de configuração em rede reside nos ganhos obtidos pela união das
partes.
Tais redes horizontais são constituídas por empresas concorrentes que optam
por cooperar dentro de certo domínio, preservando a independência ou a liberdade de
algumas ações estratégicas de seus membros. (OLAVE; AMATO, 2001).
Nas redes horizontais, prevalece a dimensão das relações de cooperação
interfirmas, resguardando a independência de cada uma das empresas, que optam por
coordenar atividades específicas de forma conjunta. Podem atender aos seguintes objetivos:
criação de novos mercados, gestão de riscos e custos relativos a P&D, aprimoramento da
qualidade de produtos, defesa de interesses, ações de marketing e comercialização.
(MARCON; MOINET, 2001).
Para Balestrin e Vargas (2004), as redes horizontais têm como características
principais: a) formadas por um grupo de PMEs; b) as PMEs situam-se geograficamente
próximas; c) as PMEs operam em um segmento específico de mercado; d) as relações entre
as PMEs são horizontais e cooperativas, prevalecendo confiança mútua; e) a rede é formada
por um indeterminado período de tempo; e g) a coordenação da rede é exercida a partir de
mínimos instrumentos contratuais que garantem regras básicas de governança.
A associação em forma de redes de empresas favorece a atividade de cada uma
das integrantes do arranjo, sem necessariamente haver laços financeiros que as unem.
77
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
(RIBAULT, et.al, 1995). As empresas complementam-se em termos técnicos (produtivos),
comerciais (redes de distribuição) e também podem se apoiar no sentido de criar uma
central de compras que beneficie o arranjo. Para Marcon e Moinet (2001), essas redes
constituem-se sob a dimensão da cooperação de seus membros, que escolhem a formalização
flexível para melhor adaptar a natureza de suas relações.
Ebers e Jarillo (1998) reforçam que, por intermédio das redes, uma empresa está
apta a obter e sustentar vantagem competitiva a partir: a) do aprendizado mútuo, sustentando
desenvolvimento de produtos; b) da coespecialização, em que as empresas se tornam
lucrativas em novos nichos de mercado; c) da melhor fluidez informacional, favorecendo o
fluxo de recursos entre empresas e reduzindo incertezas nas relações; e d) das economias
de escala, como reflexo de investimentos conjuntos em P&D, desenvolvimento de produtos,
entre outros.
Segundo Ribault (1995), as vantagens associadas à configuração em rede
compreendem: a) cada empresa pode aprofundar uma especialização, é na rede que se
torna possível a perenidade de todo o know how das atividades; b) as empresas da rede são
um reflexo da atividade econômica da própria rede; e c) as empresas por escolherem-se
por afinidade podem se constituir de uma rede profundamente original, em relação às
empresas concorrentes, conferindo a si mesmas um elevado grau de exclusividade.
PARCERIAS, ALIANÇAS ESTRATÉGICAS E CONTRATOS DE
COOPERAÇÃO
As alianças estratégicas englobam acordos formais e informais entre empresas e
permitem o intercâmbio de informações e aglutinação de competências. (BRITTO, 2002).
Geralmente, são arranjos cooperativos em estágio précompetitivo que favorecem aos agentes
a possibilidade de exploração de oportunidades tecnológicas e mercadológicas. Com o tempo,
tendem a estabelecer relações mais estáveis como forma de aumentar a eficiência operacional.
Nas alianças estratégicas, as empresas buscam dividir recursos e competências e a
redução de custos operacionais. (KLOTZLE, 2002). As alianças estratégicas são acordos
nos quais os parceiros se comprometem a atingir um objetivo comum pela aglutinação de
capacidades e recursos sob certo grau de coordenação estratégica e operacional das atividades,
compreendendo atividades de P&D conjuntas, transferência de tecnologia, concessão de
direitos exclusivos de produção e vendas e acordos de cooperação em marketing. (TEECE,
1992).
78
Relação em rede nas micro e pequenas empresas de software de Londrina
As alianças podem envolver empresas grandes, médias e pequenas que se unem
para atuar em mercados específicos, frente à concorrência isolada. (RIBAULT, et al, 1995).
Elas podem englobar: a) alianças oportunísticas ou joint ventures para constituição de um
novo negócio, ou ampliar um já existente - as organizações vêem uma oportunidade para
obterem algum tipo de vantagem competitiva imediata; b) e alianças de parcerias, que
envolvem parceiros (stakeholders - fornecedores e funcionários e consumidores) no processo
de negócios (business process) nos diferentes estágios de criação de valor. (KANTER, 1990).
Neste tipo de entrelaçamento, há a divisão de recursos e competências e a redução de
custos operacionais.
Eiriz (2001) propõe uma tipologia de alianças estratégicas, tendo como base as
atividades realizadas pelas empresas, seus principais clientes, fornecedores e empresas do
mesmo setor. Identifica três tipos de cooperação: comercial, técnico ou de produção e
financeiro. As alianças estratégicas, no âmbito comercial, envolvem atividades de compra,
marketing, vendas e distribuição de produtos e serviços pós-venda.
O quadro 1 apresenta as características de cada tipo de aliança no domínio
comercial. No domínio técnico ou de produção, as alianças estão orientadas para atividades
de produção, gestão de recursos humanos e pesquisa e desenvolvimento.
O quadro 2 apresenta as características das alianças no âmbito técnico-produtivo.
O domínio financeiro envolve alianças na esfera do capital e do grau de interação entre os
parceiros (geralmente engloba participação acionária ou fusões e aquisições).
79
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Grupo de exportadores
Acordo de distribuição
Domínio Comercial
Origina-se quando um conjunto de empresas do mesmo setor
cooperam entre si para desenvolvimento dos mercados externos. A
cooperação ocorre em diferentes atividades: realização de estudos nos
mercados externos, participação conjunta em feiras, publicidade, entre
outras. Além das economias de escala desenvolvidas, uma das suas
principais vantagens é a possibilidade do grupo poder oferecer uma
gama mais larga de produtos.
Surge geralmente entre uma empresa produtora de bens finais e outra
empresa que possui domínio ou presença nas redes de distribuição do
produto ao consumidor final. Neste caso, o distribuidor acede ao
produto do produtor e este acede a um ou vários canais de distribuição.
Acordo de representação Ocorre entre uma empresa que se torna a representante dos produtos e
das marcas da outra empresa para determinado mercado. O acordo de
representação distingue-se da franquia porque envolve um menor nível
de integração entre os aliados. Ou seja, ao contrário da franquia, o
acordo de representação nem sempre obriga à exclusividade da marca e,
por outro lado, pode incluir ou não a distribuição do produto.
Central de compras
Facilita o acesso das empresas participantes aos seus inputs
fundamentais. Por norma, as empresas são do mesmo setor e possuem
as mesmas necessidades de matérias-primas ou outras. Por meio da
cooperação na compra, elas podem desenvolver economias de escala e
adquirir maior poder de negócio junto dos fornecedores, com
repercussões não só em termos de preços, mas também de qualidade,
de condições de pagamento e de condições de entrega.
Franquia
Ocorre quando uma empresa (franqueador) concede a outra
(franqueado) o direito de explorar uma marca, produto ou técnica de
sua propriedade num determinado mercado, mediante determinadas
condições contratuais. Estas condições envolvem contrapartidas
financeiras e o cumprimento de procedimentos de gestão e políticas de
marketing.
Assistência comercial
Ocorre quando uma empresa estabelece um acordo no sentido de
poder externalizar a definição e, sobretudo, a implementação das suas
políticas de marketing. Deste modo, a empresa concentra as suas
competências em outras atividades, como, por exemplo, a inovação
tecnológica dos processos de produção e o desenvolvimento de novos
produtos, deixando ao parceiro a tomada de algumas decisões
comerciais.
Quadro 1 – Tipos de alianças estratégicas do domínio comercial.
Fonte: adaptado de Eiriz (2001)
80
Relação em rede nas micro e pequenas empresas de software de Londrina
Domínio Técnico/Produção
Estabelece-se entre duas ou mais empresas que possuem capacidades e
competências susceptíveis de poderem se complementarem no desenvolvimento
de um projeto técnico de grande envergadura e duração ao tempo (por exemplo,
construção de uma autoestrada ou ponte). O consórcio pode ou não se manter
para além da realização de um projeto. Muitas vezes, o sucesso de um projeto
motiva os parceiros para novos projetos e aprofundamento da relação.
Formação
Ocorre com maior frequência em setores em que a base tecnológica é
e/ou assistência técnica
importante. Neste caso, estabelece-se um acordo entre duas ou mais empresas
por meio do qual poderão ser ultrapassadas determinadas lacunas tecnológicas.
Essas lacunas podem resultar da formação da mão-de-obra, que não apresenta as
qualificações e competências desejáveis, ou de dificuldades de desempenho no
equipamento de produção ou nos produtos.
Subcontratação
Surge quando uma empresa (contratante) subcontrata parte do processo de
produção a outra (subcontratada). Deste modo, as operações desenvolvidas por
cada um dos parceiros são diferentes.
Acordo
Verifica-se quando duas ou mais empresas produzem conjuntamente os mesmos
de produção conjunta
produtos para satisfazer necessidades de mercado, as quais não conseguiriam
responder individualmente por falta de capacidade. Este tipo de aliança
estratégica distingue-se da subcontratação pelo fato de as empresas
desenvolverem as mesmas atividades e, por isso, estarem presente na mesma fase
do sistema de negócios. As operações desenvolvidas pelos parceiros são iguais.
Acordo de pesquisa e Surge em setores onde a atividade de investigação e desenvolvimento de novos
desenvolvimento
produtos e processos assumem um peso muito importante. Essa importância é
visível na elevada percentagem de custos totais que são associados à atividade de
investigação e desenvolvimento. Esses custos são, sobretudo, fixos e, por isso, as
empresas desenvolvem estes tipos de alianças para poderem reparti-los. Podem
desenvolver competências técnicas mais facilmente e responder ao mercado mais
adequada ou rapidamente com novos produtos.
Licenciamento de patentes
Aliança estratégica por meio da qual uma empresa (concessionária) concede a
outra (licenciada) os direitos de exploração de uma patente, produto ou processo
de fabricação, mediante uma compensação geralmente de caráter financeiro.
Consórcio
Quadro 2 – Tipos de alianças estratégicas do técnico/produção
Fonte: adaptado de Eiriz (2001)
Faulkner (1992) considera a aliança estratégica como uma forma de organização
das atividades em um maior grau de integração do que outras formas de cooperação entre
os agentes. Lorange e Ross (1996) propõem uma escala hierárquica das alianças estratégicas,
como pode ser observado na figura 1:
HIERARQUIA
Grande
Fusões e
aquisições
Participação
societária
Joint
venture
Empreendimento
Empreendimento
MERCADO
cooperativo formal cooperativo informal
Nenhum
Grau de integração vertical
Figura 1 – Grau hierárquico das alianças estratégicas
Fonte: Extraído de Lorange e Ross (1996, p.15)
As alianças estratégicas incrementam as estratégias competitivas das empresas
participantes do arranjo, por meio do intercâmbio mútuo e benéfico de tecnologias,
81
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
qualificações ou produtos. (YOSHINO; RANGAN,1997). As características principais das
alianças são: a) conservação da independência das firmas depois da formação da aliança; b)
compartilhamento dos benefícios e o controle do desempenho das tarefas combinadas –
apontado como o traço mais distintivo das alianças e complicador da gestão; e c) continuidade
na contribuição por parte das firmas parceiras nas áreas estratégicas cruciais do arranjo.
O caráter estratégico das ligações entre os pontos da rede em alianças estratégicas,
compreendendo cooperação e competição, é o seu principal traço distintivo (NARULA;
HAGESOORN, 1999). O aspecto estratégico deste tipo de arranjo cooperativo associa-se
aos objetivos estratégicos das firmas envolvidas que influenciam de forma determinante a
conformação da estrutura do arranjo interorganizacional e a relação deste com o ambiente
em que está inserido.
METODOLOGIA
A pesquisa sobre a rede de empresas de software de Londrina utilizou um
questionário para construir as perguntas e coletar as informações, tendo como referência
Redesist (2003) e Camara, et al (2006). O instrumento foi aplicado pelo contato direto
(RICHARDSON, 1999) mediante entrevistas dirigidas aos sócios proprietários das empresas
e no caso de ausência destes, para os responsáveis pela área de projetos cooperados das
empresas desenvolvedoras de software de Londrina. A pesquisa de corte transversal foi
realizada em julho e agosto de 2007. A amostra foi classificada como amostra por julgamento,
de acordo com Hair(2005), pois verificou-se que a indústria de software apresenta natureza
dinâmica e heterogênea, permitindo a existência de inúmeras tipologias (ROSELINO, 2006).
As 26 empresas selecionadas apresentaram as seguintes características em comum: i) empresas
especializadas em desenvolvimento de softwares e prestação de serviços de consultorias; ii)
empresas cadastradas na Prefeitura de Londrina; iii) vínculos com a Plataforma de Tecnologia
da Informação – PLATIN/ADETEC e associados Softex (entidades de representação do
setor); iv) participação nas atividades do aglomerado de empresas de software de Londrina;
v) membros de centros de tecnologia como a Incubadora Internacional de Empresas de
Base Tecnológica da Universidade Estadual de Londrina – INTUEL e do Centro Tecnológico
de Londrina – CTEC e; vi) a aceitação para participar da pesquisa.
Vale ressaltar as principais limitações da pesquisa que restringiram o campo de
análise. Primeiro, a existência de apenas micro e pequenas empresas que foram selecionadas
para a amostra. Além disso, os cadastros disponíveis, muito dinâmicos e ao mesmo tempo
82
Relação em rede nas micro e pequenas empresas de software de Londrina
confusos, impossibilitaram uma seleção de amostras mais aprimorada. Outro limitador foi
o caráter mutante e a complexidade e variedade de classificações possíveis e existentes
sobre o setor de software, o que dificultou análises mais apuradas, em termos de processo
produtivo nas empresas. Também se destacou a rotatividade de empresas no aglomerado
de software de Londrina; a pesquisa ficou limitada à medida que não foi possível generalizar
os resultados para o universo total de empresas de software da cidade.
Foram aplicados 26 questionários junto aos empresários, obtendo-se um total de
34,6% de micro empresas e 65,4% de pequeno porte. Conforme Botelho (1999), setores de
alta intensidade tecnológica apresentam inúmeras oportunidades tecnológicas e estrutura
de demandas diferenciadas, gerando nichos de mercados e favorecendo a atuação de MPME’s.
Segundo Gutierrez e Alexandre (2004), a baixa necessidade de capital e poucas barreiras à
entrada existentes na indústria de software favorecem a geração contínua de novos nichos de
mercado e oportunidades para proliferação de pequenas empresas.
As poucas empresas de software de grande porte não se mostraram dispostas a
participar da pesquisa. O questionário constou da aplicação de uma escala ordinal que
indicavam o tipo de atividade desenvolvida em parceria e a localização do parceiro – local,
do estado do Paraná, além de outros estados do país e também do exterior. A escala utilizada
continha cinco intervalos: alta intensidade na interação, média, baixa ou nenhuma interação.
RESULTADOS
Apresentam-se, a seguir, os principais resultados encontrados na pesquisa de
campo. Do total de empresas pesquisadas, 77% (20 empresas) afirmaram possuir algum
tipo de parceria, aliança estratégica ou contratos de cooperação, corroborando Faulkner
(1992), que considera aliança estratégica enquanto forma de organização de atividades em
um maior grau de integração do que outras formas de cooperação entre os agentes. A
presença expressiva desse tipo de arranjo demonstra, segundo Britto (2002), que, no caso,
as alianças estratégicas podem envolver acordos formais e informais entre empresas,
favorecendo o intercâmbio de informações e a aglutinação de competências, a exploração
de oportunidades tecnológicas e mercadológicas. Nesse tipo de arranjo, o tempo prolongado
nas interações colabora para relações mais estáveis, como forma de aumentar a eficiência
operacional.
No que se refere ao tipo de atividade desenvolvida em parceria pela empresa e a
localização do parceiro, foi dada a opção para múltiplas escolhas (atividade e localização).
83
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Das empresas que afirmaram a existência de parceria, verificou-se, na rede (município de
Londrina), que 45% das empresas indicaram parcerias para comercialização no mercado
interno, 40% em atividades de desenvolvimento, e 40% para obtenção de certificações e
30% para qualificação de mão-de-obra. Na esfera estadual, 20% das empresas apontaram
parcerias também em desenvolvimento e 20% em atividades de comercialização no mercado
interno. No Brasil, o dado que mais se destaca é o de comercialização no mercado interno,
com 40% das empresas. Por último, 10% das empresas declararam possuir parcerias com
agentes de origem estrangeira, também para assumir uma função do negócio. Verificou-se
a predominância de parcerias voltadas à comercialização de produtos/serviços das empresas,
conforme os dados da tabela 1.
Tabela 1 – Tipo de atividade x localização dos parceiros –Empresas de software de
Londrina - 2007
Descrição
Outsourcing de Processo de Negócios
Outsourcing de TI
Outsourcing Avançado (P&D)
Desenvolvimento
Comercialização no Mercado Interno
Exportação
Qualificação de Mão-de-Obra
Obtenção de Certificações
Outros
Rede
f
%
3
15
8
40
9
45
1
5
6
30
8
40
2
10
f
2
1
4
4
1
1
PR
%
10
5
20
20
5
5
f
2
3
2
4
8
1
1
-
BR
%
10
15
10
20
40
5
5
-
Exterior
f
%
2
10
1
5
1
5
-
Fonte: Pesquisa de campo dos autores (2007).
De acordo com Garofoli (1993), as alianças estratégicas podem se constituir a
partir de acordos cooperativos formais e informais, que têm como alicerce a colaboração
entre os agentes dispersos da ótica espacial. A análise dos resultados revela, em termos de
localização de parceiros, a concentração de atividades conjuntas da rede local
(comercialização no mercado interno, desenvolvimento e obtenção de certificações), estadual,
além de outros estados da União (comercialização no mercado interno e desenvolvimento).
Para verificar a existência de envolvimento das empresas com atividades
cooperativas no âmbito produtivo e tecnológico nos dois últimos anos (2005 a 2007), a
pesquisa teve como referência o modelo de questionário da Redesist (2003).
84
Relação em rede nas micro e pequenas empresas de software de Londrina
A análise dos resultados revelou que 92% (24) das empresas pesquisadas
participaram nos dois últimos anos (2005 a 2007) de ações de cooperação formais ou
informais com outras empresas ou organizações. Verificou-se o envolvimento das empresas
em atividades cooperativas, reforçando o que Britto (2002) afirma sobre as redes de empresas:
enquanto arranjo organizado está capacitado a responder aos estímulos do ambiente, pois
é estruturado pelas relações tecnológicas e produtivas formais e informais, estabelecidas
entre empresas e instituições. Conforme Human e Provan (1997 apud BALESTRIN e
VARGAS, 2004) há relativa sinergia de ações viabilizadas por interações entre as 20 ou
mais empresas de software de Londrina, orientadas a atingir objetivos comuns.
Com relação às ações de cooperação relativas aos dois últimos anos (2005 a 2007),
a tabela 2 identifica a intensidade da interação das empresas pesquisadas com outras empresas
ou organizações. Mostra, ainda, se a cooperação é formal, informal ou mista e aponta a
localização do parceiro. Verificou-se que 96% das empresas apresentaram forte interação
com clientes da cidade de Londrina e do estado do Paraná e também com outros estados
do país, perpassando relações de caráter formal (contratual) e misto. Essas relações formais
de cooperação entre os clientes demonstram o caráter formal das relações em que há
interação não só regular, mas com objetivos e resultados esperados da interação. Além de
alcançar um benefício mútuo nas interações, os agentes (empresas de software e clientes)
definem um método e um objetivo a ser alcançado, o que provavelmente, de acordo com a
pesquisa, envolva relações contratuais para a comercialização e desenvolvimento de
produtos/serviços.
Os resultados, em relação à intensidade na interação das empresas pesquisadas
com outros agentes, grau de cooperação, nível de formalização dessas relações e localização
dos parceiros, podem ser observados na tabela 2.
85
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Tabela 2 – Interação x Formalização x Localização
Descrição
Fornecedores
Clientes
Concorrentes
Outras Empresas de Software
Consultores Especializados
Universidades
Incubadoras de Empresas
Institutos de Pesquisa
Centros de Capacitação
Instituições de Testes de Certificação
Entidades de Representação
Entidades Sindicais
Órgãos de Apoio e Promoção
Agentes Financeiros
Intensidade da Interação em %
Alta
27
69
8
31
19
23
12
4
8
16
12
8
19
Média Baixa
31
34
27
4
11
31
31
34
39
27
23
19
12
15
4
15
19
35
19
19
15
15
8
34
34
34
12
15
Nenhuma
8
50
4
15
35
61
77
38
46
58
58
24
54
Formalização
Formal Misto Informal R
50
4
38
38
46
27
27
77
8
4
38
31
27
19
50
69
38
8
38
50
54
4
8
62
23
8
8
35
8
11
12
46
15
62
50
4
19
27
15
11
19
23
38
50
8
19
65
46
12
Localização
PR
30
88
19
42
35
23
12
4
15
35
4
BR
46
77
19
23
31
15
4
4
7
27
30
4
12
31
E
7
7
-
Fonte: Pesquisa de campo dos autores (2007).
Verificou-se que 62% das empresas apresentaram forte interação com outras
empresas de software de Londrina e também do estado, prevalecendo relações mais informais
nesses dois últimos anos (2005 a 2007).
No que se refere a este último dado, os resultados demonstram que, nas redes de
PME’s, a coordenação das atividades poderá ser realizada pelas próprias empresas,
coordenação de um modo menos formal, pois é facilitada pela dinâmica de interação dos
próprios agentes. Conforme Hoffmann (2005), Marcon e Moinet (2001), a estrutura de
rede informal permite os encontros informais entre as empresas que trocam experiências e
informações, promovendo um ambiente de cooperação e relações interempresariais mais
estruturadas.
Por outro lado, verificaram-se escassos laços multilaterais com outras instituições;
baixa ou nenhuma intensidade de interação com outras organizações, tais como universidades;
institutos de pesquisa (IAPAR, TECPAR, etc); incubadoras de empresas (INTUEL); centros
de qualificação profissional (CIEE, Epesmel, Platin); instituições de testes e certificações,
entidades de representação (ASSESPRO, Softex) e sindicais; órgãos de apoio e promoção
(SEBRAE, Adetec, Sistema FIEP, CITS); e entidades financeiras (FINEP, CEF, BNDES,
BRDE). Isto demonstra pouca abertura das empresas a estabelecer relacionamentos com
outras organizações externas que possibilitem melhor capacitação produtiva e tecnologica.
Algumas empresas indicaram que a cooperação com as universidades locais (Londrina)
restringe-se a cessão de softwares para alguns departamentos para uso e avaliação do produto
(administração, economia e contabilidade), acompanhadas da existência de convênios para
campo de estágio e, também, para ministrar palestras sobre o setor.
86
Relação em rede nas micro e pequenas empresas de software de Londrina
No que se refere à cooperação produtiva e tecnológica e às formas de cooperação
empregadas pelas empresas nos dois últimos anos (2005 a 2007), verificou-se que houve 46% de
significante utilização da cooperação em processos de controle de qualidade e certificação e 46%
em desenvolvimento de produtos e serviços. A grande maioria das formas de cooperação
apresentadas aos respondentes não foram utilizadas pelas empresas; 11% das empresas cooperam
para exportar produtos; 23% das empresas buscam a cooperação com outras empresas e agentes
para obter financiamentos; 27% consideram um grau de utilização regular para venda conjunta
de produtos e 27% para reivindicações políticas e apoio financeiro para a rede. A tabela 3 apresenta
os dados referentes às formas de cooperação utilizadas e não utilizadas pelas empresas nos anos
de 2005 a 2007, de acordo com o grau de utilização.
Tabela 3 – Grau de Utilização das Formas de Cooperação
Descrição
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
Compra de insumos e equipamentos
Venda conjunta de produtos
Desenvolvimento de produtos/serviços e processos
Capacitação de recursos humanos
Obtenção de financiamento
Reivindicações políticas, apoio financeiro para a rede
Participação conjunta em feiras/eventos e outros
Processos de controle de qualidade e certificação
Exportação de produtos
Centros de tecnologia, como as incubadoras por exemplo
Fóruns de discussão
Alta
15
19
19
15
4
19
15
23
19
8
Grau de Utilização em %
Média Baixa Não relevante
15
4
66
8
23
50
27
23
31
18
15
50
19
8
69
8
11
62
23
12
50
23
12
42
13
12
77
12
15
54
23
31
38
Fonte: Pesquisa de campo dos autores (2007).
Com relação ao grau de importância atribuído aos resultados das ações conjuntas
utilizadas pela amostra pesquisada, adotou-se, para a análise, os conceitos de alta e média,
como sendo de ótima importância, e baixa ou nenhuma, como importância razoável.
As empresas indicaram ótima importância para a melhoria na qualidade dos
produtos; 85% para a melhoria nos processos produtivos (84%); 70% nas condições de
comercialização e 73% para novas oportunidades de negócio.
Por outro lado, com base nos resultados, ressalta-se que 88% indicaram como
não relevante os resultados das ações conjuntas para maior inserção da empresa no mercado
externo. A tabela 4 apresenta a avaliação das empresas, quanto aos resultados das ações
conjuntas implementadas nos anos 2005 a 2007.
87
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Tabela 4 – Avaliação dos Resultados das Ações Conjuntas
Resultados das Ações Conjuntas
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Melhoria na qualidade dos produtos
Desenvolvimento de novos produtos
Melhorias nos processos produtivos
Melhoria nas condições de fornecimento de produtos
Melhor capacitação de recursos humanos
Melhorias nas condições de comercialização
Introdução de inovações organizacionais
Novas oportunidades de negócio
Promoção de nome/marca da empresa no mercado nacional
Maior inserção da empresa no mercado externo
Grau de Importância em %
Alta Média Baixa Nenhuma
46
42
12
23
42
12
23
46
39
4
11
23
27
19
31
19
31
31
19
27
43
15
15
19
31
27
23
31
42
19
8
31
23
31
15
4
8
8
80
Fonte: Pesquisa de campo dos autores (2007).
A avaliação do desempenho das empresas de software de Londrina foi relacionada
ao faturamento de projetos cooperados sob o faturamento da empresa nos anos de 2005 a
2007 e foi definida com base na indicação de intervalos percentuais. Do total da amostra
pesquisada, 42% das empresas responderam que o faturamento de projetos cooperados
representou um percentual de 1 a 20% sob os rendimentos da empresa, não havendo
indicação de resultados desfavoráveis quanto à participação da empresa em projetos
cooperados. Esses dados podem ser observados na tabela 5 a seguir.
Tabela 5 – Faturamento de projetos cooperados x faturamento anual
Faixa de Faturamento
f
%
1-20
21-40
41-60
61-80
Não tem*
11
4
1
10
42
15
5
38
Total
26
100
Fonte: Pesquisa de campo dos autores (2007).
* Essas empresas não souberam ou não quiseram responder
88
Relação em rede nas micro e pequenas empresas de software de Londrina
Os resultados revelam que 58% das empresas afirmaram ter aumentado o faturamento,
42% apontaram que houve aumento do lucro líquido e 50% delas declararam que houve um
aumento no retorno do investimento de projetos cooperados com relação aos dois últimos anos
(2005 a 2007). Em ambos os casos, há predomínio de manutenção ou crescimento dos indicadores
econômicos, demonstrando um desempenho positivo das empresas, não existindo avaliações
que reflitam a diminuição ou desvantangem em participar de projetos cooperados. A tabela 6
mostra os indicadores de desempenho das empresas pesquisadas em termos de crescimento
do faturamento, lucro líquido e retorno do investimento.
Tabela 6 - Faturamento das Empresas x Projetos Cooperados
Indicadores
Aumentou
Permaneceu
%*
1.
2.
3.
Crescimento do faturamento
Lucro líquido
Retorno do investimento
58
42
50
27
42
35
Fonte: Pesquisa de campo dos autores (2007)
Obs: Este percentual foi realizado com base em 22 empresas que responderam a questão, considerando não
apenas a existência de parcerias, alianças estratégicas e contratos de cooperação, mas, também, outras atividades
cooperativas estabelecidas com outras empresas e agentes.
CONCLUSÃO
A presente pesquisa buscou uma investigação aprofundada sobre a rede de
empresas no setor de software de Londrina dado que o estudo prévio de mapeamento de
arranjos produtivos localizados no Paraná, feito pelo IPARDES em 20054, identificou a
cidade como importante aglomeração de empresas do segmento.
Conforme Camara et al. (2006b) e IPARDES (2005), mesmo com a diversidade
industrial da cidade de Londrina, a indústria de software não tem importância representativa
local, mas é destaque no âmbito estadual, ficando em segundo lugar, atrás apenas da cidade
de Curitiba.
Dessa forma, a pesquisa constatou que as atividades de cooperação existentes na
rede correspondem basicamente ao desenvolvimento, à comercialização no mercado interno,
à capacitação de recursos humanos e à obtenção de certificação em forma de parcerias e
alianças estratégicas com empresas de Londrina e de outras localidades.
O que vem ao encontro da pesquisa na literatura, conforme Marcon e Moinet
(2001), nas redes horizontais, em que prevalece relação de cooperação interfirmas. As
89
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
empresas optam por coordenar e complementar atividades específicas de forma conjunta,
buscando atingir objetivos para produzir e aprimorar a qualidade de produtos e de recursos
humanos, além de incrementar ações de comercialização.
Para Balestrin e Vargas (2004), as redes horizontais são constituídas por um grupo
de PME´s, situadas geograficamente próximas e que operam em um segmento específico
de mercado. A cidade de Londrina é um espaço geográfico comum às empresas que fazem
parte da rede de empresas de software e que apresenta sistemas de relações nos variados
níveis, sejam internos ou em ambiente local e mais amplo. Na pesquisa, a interação para
cooperação também se dá, em maior nível e contatos formais, com os clientes/usuários do
software para desenvolvimento dos produtos e serviços e com outras empresas de software da
cidade de Londrina, em grau mais informal, para troca de informações e conhecimentos.
Quanto aos impactos relativos a essas ações de cooperação, as empresas apontaram
muita importância para a melhoria na qualidade dos produtos, nos processos produtivos,
nas condições de comercialização e para a geração de novas oportunidades de negócio.
No que se refere aos impactos da cooperação produtiva, o estudo demonstrou
que as ações de parcerias e alianças estratégicas e contratos de cooperação é o que têm
gerado um melhor desempenho com o acréscimo do faturamento, lucro líquido e retorno
sobre o investimento. Não houve no trabalho qualquer indicação de resultado desfavorável
para as empresas que participar de projetos cooperados, o que reforça um campo bastante
rentável e promissor para os atuais e futuros empreendimentos cooperados para essas
empresas.
Tais impactos reforçam o que Ebers e Jarillo (1998) apresentam como sendo
vantagem competitiva para empresas que atuam em redes: fluxo de recursos entre empresas
com a redução das incertezas nas relações e nas economias de escala, reflexo de investimentos
conjuntos em P&D; desenvolvimento de produtos; entre outros. Como diz Kanter (1990),
nesse tipo de configuração, há possibilidades de dividir recursos e competências, reduzindo
custos operacionais.
O estudo descreveu e analisou a estrutura coletiva de ações dos agentes e o
comportamento das empresas, que não são tidas isoladamente, mas em conjunto com as
demais e outros agentes, buscando o entendimento dos impactos das ações de cooperação
na competitividade das empresas de software de Londrina.
Acredita-se que a presente investigação beneficia o setor na cidade de Londrina
no sentido de apresentar o nível de cooperação existente entre empresas e demais agentes,
possibilitando a revisão de políticas e estratégias de atuação da rede de empresas de software
da cidade.
Vislumbra-se que os resultados do trabalho servirão de subsídios para agentes
90
Relação em rede nas micro e pequenas empresas de software de Londrina
(universidades, governo, empresas) em âmbito regional, estadual e nacional na definição de
políticas e de planos de ação que promovam mecanismos ampliados para viabilizar maior
interação e aglutinação de competências. Ações que efetivamente favoreçam a cooperação,
elevando os níveis de competitividade nacional e internacional.
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93
Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR
INTRODUÇÃO
Na abordagem de desenvolvimento regional, ganha importância as economias de
aglomeração. Elas resultam em vantagens, a partir da proximidade espacial de empresas, da
disponibilidade de mão-de-obra qualificada, da presença constante de fornecedores e
prestadores de serviços especializados que, em conjunto, produzem as denominadas
economias externas Marshallianas. Este ambiente possibilita maior intensidade de interação
entre os agentes envolvidos e agilizam o processo de circulação de informações e reprodução
do conhecimento entre os atores locais.
Já no final do século XIX, Alfred Marshall, economista inglês, evidenciava as
vantagens das empresas localizarem-se próximas umas das outras, desenvolvendo as mesmas
atividades e/ou complementares. Afirmava, inclusive, que os segredos da profissão ficavam
soltos no ar, de forma que todos pudessem absorver e propor melhorias nos inventos,
adaptando-os às suas realidades. Ou seja, fazer novas combinações a partir do conhecimento
vivenciado na comunidade.
No ambiente local, as possibilidades de ações conjuntas entre os agentes envolvidos
aumentam e levam a uma maior eficiência coletiva (SCHMITZ, 1997). Tal qualificação
deve-se ao ambiente propício à existência de cooperação e aprendizagem entre as firmas
presentes nessa aglomeração. Ao se fortalecer, as relações de confiança entre fornecedores
e clientes desencadeia um processo de cooperação e apoio com as demais instituições locais.
Ambientes locais com tais configurações propiciam a construção de formatos
organizacionais com características de arranjo produtivo. A ideia de Arranjo Produtivo
Local (APL) baseia-se na proximidade das firmas, nas suas semelhanças históricas, culturais
e sociais. Em outros termos, em elementos que estimulam o processo de interação local
que viabiliza o aumento da eficiência produtiva e proporciona um ambiente favorável à
elevação da competitividade das empresas que atuam neste ambiente.
A abordagem de APL tem sido estudada por órgãos públicos e instituições privadas
em vários países, visando implementar políticas de desenvolvimento industrial, tecnológico
e regional. Nessa perspectiva, a identificação e a realização de estudos de aglomerações
97
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
produtivas de determinadas regiões constituem o marco inicial para a verificação da existência
de APL. É nesse contexto que este artigo está inserido. Aspectos de caráter local passam a
fazer parte dessa abordagem, entre os quais a cooperação entre firmas, as relações de
confiança estabelecidas com os fornecedores e clientes e o fortalecimento de instituições
locais de apoio, que são fontes de desenvolvimento regional. Políticas públicas de apoio são
fundamentais para alavancar o processo de up-grading local.
A partir dessa perspectiva teórica, algumas questões são colocadas para a atividade
de software em Maringá: a) Como está estrutrurado o APL de software no município de
Maringá? b) Quais são suas potencialidades e seus principais desafios? Para responder a
estas questões, primeiro realizou-se estudo de caso da aglomeração produtiva do setor de
software no Município de Maringá e, a partir da constatação do grau de desenvolvimento do
APL, buscou-se identificar suas principais potencialidades e desafios.
Inicialmente, é apresentado o referencial teórico destacando os elementos centrais
do APL. Em seguida, são descritos os procedimentos metodológicos empregados para o
desenvolvimento do trabalho. Depois, apresentam-se informações referentes ao Município
de Maringá e seu entorno, bem como alguns elementos que propiciam a caracterização do
setor de software, tanto em nível nacional quanto local. Mediante pesquisa de campo,
levantaram-se informações acerca da organização desse setor em Maringá, bem como
desafios e potencialidades. Esses resultados contribuíram para o entendimento do perfil do
setor, tanto em relação à sua estrutura produtiva quanto às suas estratégias. Por fim, algumas
considerações finais serão tecidas.
REFERENCIAL TEÓRICO
O referencial teórico deste trabalho toma como base as formas de organização
da produção, a partir do conceito de aglomerações produtivas em direção a abordagem de
Arranjos Produtivos Locais (APL). O ponto de partida dessas análises é o trabalho pioneiro
de Alfred Marshall, no final do século XIX, sobre aglomerações produtivas e as vantagens
dela originadas. Marshall (1982) denominou tais vantagens de economias de escala externa
(externalidades). As economias externas são obtidas pela concentração de pequenas empresas
desempenhando atividades similares em determinadas regiões.
Nos aglomerados industriais, os segredos da profissão deixam de ser secretos e
se espalham. Valorizam-se os trabalhos bem realizados, as melhorias na maquinaria e as
formas de administração das empresas são logo aprendidas pela comunidade local, que as
98
Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR
combina de acordo com suas necessidades e oferece novas sugestões, tornando essa nova
ideia em uma fonte para outras ideias. (MARSHALL, 1982).
Nesse contexto, Marshall (1982) enfatiza o surgimento das atividades
complementares. As empresas subsidiárias tornam-se especializadas em determinadas etapas
do processo de produção, no qual se utilizam de máquinas de tecnologia rotineira, portanto
de uso comum, além de se constituir em um mercado constante de uma mão-de-obra
especializada e experiente.
A aglomeração também é vista como uma conveniência para os consumidores,
visto que ao desejarem realizar determinada compra, de valor monetário expressivo, eles
não se incomodam em se deslocar para pontos distantes na cidade a fim de encontrar as
lojas que comercializam os produtos que desejam, dado que lá encontrarão, à sua disposição,
uma gama enorme de bens e serviços, em razão do grande número de fornecedores que se
agrupam em um mesmo local. Para as compras de produtos de uso comum da população e
de baixo valor monetário, os consumidores procuram nas lojas mais próximas de suas
residências.
Segundo Souza (1997), a oferta de trabalhadores especializados aglomera as
empresas e estas atraem trabalhadores de outras regiões. A existência de empregos em
outros setores subsidiários, em um mesmo local, reduz o risco de desemprego. Em outros
termos, a abundância de trabalho especializado maximiza a segurança das empresas em
aceitar pedidos de produção sem receio de não poder atendê-los por falta de trabalhadores,
visto que a diversidade industrial diminui o custo salarial, ao formar um mercado com
maior oferta de trabalhadores.
Marshall (1982) também discute as economias de escala internas à firma. Nesse
caso, elas são derivadas de uma nova tecnologia internalizada na empresa, que abrange os
equipamentos, as máquinas, os conhecimentos e os modos de gerenciamento. A organização
interna das empresas, ao possibilitar economias de escala e induzir para melhorias na
infraestrutura econômica e social, pode se constituir em uma importante fonte de aumento
da competitividade empresarial e na criação de um círculo virtuoso de desenvolvimento
regional.
Segundo Souza (1997), a contribuição de Alfred Marshall foi fundamental porque
chamou a atenção sobre a importância da organização interna da empresa no processo de
crescimento econômico. Do lado da produção, destacou a organização industrial, a divisão
do trabalho, geradores de economias de escala e investimentos em infraestrutura1, enfim,
criadores de economias externas.
Há que se destacar que investimentos em infra-estrutura são importantes, na medida que criam externalidades, tais como:
redução nos custos de transportes e de produção, acesso a mercados, etc (AMARAL FILHO, 1995).
1
99
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Os estudos que realçam os aspectos internos ao local como determinantes de seu
desenvolvimento passou a ser denominado desenvolvimento endógeno. A este respeito,
Martinelli e Schoenberger (1994) enfatizam que a origem do desenvolvimento regional
endógeno foram os trabalhos desenvolvidos por Bagnasco, Trigilia e Brusco, ao discutirem
as experiências da Terceira Itália. Mas, foi somente com o trabalho de Becattini (1979),
obser vando a aglomeração clássica do triângulo Milão-Turin-Gênova, e o
subdesenvolvimento do Mezzogiorno, no qual emergiram cidades e vales que se valiam de
suas próprias energias, que o tema ganhou relevância.
As economias externas, portanto, tornaram-se importantes elementos nos estudos
sobre as aglomerações industriais e estas passaram a ser interpretadas sob a ótica dos distritos
industriais marshallianos (CAMPOS, 2004). Em uma definição mais ampla, é possível incluir
os diferentes tipos de aglomerados identificados na literatura – como distritos e pólos
industriais, clusters, arranjos produtivos e inovativos locais, redes de empresas, entre outros.
(LASTRES; CASSIOLATO, 2003). Em geral, essas aglomerações envolvem algum tipo de
especialização produtiva da região em que se localizam e muitas têm sido analisadas a partir
do enfoque teórico sobre os distritos industriais.
Uma outra característica dos distritos industriais é que os indivíduos transferemse de uma empresa para outra e seu principal vínculo é menor com as empresas e maior
com a região. A saída dos trabalhadores é mínima, enquanto a emigração ocorre de acordo
com as taxas de crescimento da região. “O Distrito é visto como uma sociedade relativamente
estável, o que torna possível uma identidade cultural e de capacitação (expertise) industrial
compartilhada.” (MARKUSEN, 1995, p.18).
Todas estas características destacadas pela autora agregam-se à noção de
aglomeração, sugerindo que a “[...] empresa e/ou eficiência do distrito na atração de
investimentos se deve antes às economias externas à disposição de cada empresa, do que a
ação individual de trabalhadores.” (MARKUSEN, 1995, p.19).
Mais ainda, nos distritos industriais pode-se destacar, também, as economias de
aprendizado por interação, ganhos econômicos das firmas decorrentes de suas relações
duradouras com clientes e fornecedores, resultando assim, em um aprendizado coletivo
que se reflete na melhoria dos métodos de se produzir e comercializar. Esses fatos conduzem
à discussão para os fundamentos (conceitos) de APL.
Segundo Lastres e Cassiolato (2003), o termo aglomeração tem como aspecto
central a proximidade territorial de agentes econômicos, políticos e sociais (empresas e
outras organizações públicas e privadas). Nessa perspectiva, as micro e pequenas empresas
na aglomeração ampliam suas chances de sobrevivência e crescimento, constituindo-se em
relevante fonte geradora de vantagens competitivas.
100
Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR
Para as firmas, a proximidade geográfica possibilita o aparecimento de outras
atividades subsidiárias, fornecendo, à indústria principal, instrumentos e matérias-primas,
que favorece dessa forma, economia de material. A presença de fornecedores de bens e de
serviços constitui-se em fonte importante de economias externas, principalmente quanto
ao processo de conhecimento que se obtém pelas relações entre firmas e seus fornecedores.
(CAMPOS, 2004).
Somada às economias externas, encontra-se a chamada eficiência coletiva. Segundo
Schmitz (1997, p.173), a eficiência coletiva é definida “[...] como a vantagem competitiva
derivada de economias externas locais e ação conjunta”. As ações conjuntas podem ser
não-planejadas (incidentais) ou planejadas (conscientemente perseguidas).6
No caso das não planejadas, os ganhos de eficiência surgem de forma não
intencional, ou seja, da própria existência da aglomeração industrial, a qual fornece
custos reduzidos. Estas são economias externas marshallianas. No caso das
planejadas, a eficiência coletiva planejada é resultante de ações conjuntas deliberadas
de empresas e instituições locais.7 (CAMPOS, 2004, p. 57).
As relações que ocorrem entre os atores das aglomerações industriais significam
mais do que economias externas planejadas. Elas representam construções sociais específicas
aos agentes locais, as quais não podem ser reproduzidas em outros contextos. Por sua vez,
Vargas (2001) define arranjos produtivos locais como sendo um aglomerado de agentes
econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, operando em atividades
correlacionadas e que apresentam vínculos expressivos de articulação, interação, cooperação
e aprendizagem.
Segundo Lemos (2003),
O termo arranjos produtivos locais pode ser definido como aglomerações
territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais, com foco em um
conjunto específico de atividades econômicas e que apresentem vínculos e
interdependências. (LEMOS, 2003, p.80-81).
Os exemplos destacados são: a existência de um mercado local de mão-de-obra especializada; surgimento de assistência
técnica e comercialização de máquinas e equipamentos novos e usados, fácil acesso a fornecedores de matérias-primas e,
por fim, segundo Suzigan, Garcia e Furtado (2002), maior disseminação local de conhecimentos especializados permitindo
rápido aprendizado. (CAMPOS, 2004, p.57).
3
Neste casso segundo Campos (2004, p. 57), os exemplos destacados são: o compartilhamento de máquinas e/ou reuniões
de firmas em associações buscando ganhos comuns; organização de produtores para compras de maior quantidade de
matérias-primas (centrais de compra), entre outros.
2
101
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Independente dos níveis de intensidade dos vínculos e interdependência no
conceito, existem alguns elementos que necessitam estar presentes nos aglomerados
industriais para que possam configurar-se como arranjos produtivos. São elementos que,
de certo modo, constituem a base conceitual da firma e são determinantes de competitividade
do aglomerado produtivo.
Nesse ambiente de rápidas transformações, as ações das firmas (do aglomerado)
devem ser conduzidas da melhor maneira possível, o que requer alguma forma de
coordenação (governança). A estrutura de governança, portanto, refere-se às várias formas
pelas quais organizações (públicas e privadas) e indivíduos gerenciam problemas comuns e,
assim, amenizam interesses conflitantes ou diferenciados, promovendo ações cooperativas.
Refere-se não só às instituições e regimes formais de coordenação e autoridade, mas também
aos sistemas informais (LASTRES; CASSIOLATO, 2003, p.14). No caso particular dos
arranjos produtivos locais, a governança refere-se às diferentes maneiras de coordenação,
intervenção e participação nos processos de decisão local dos diferentes agentes (Estado,
empresas, trabalhadores, entre outros).
As formas de governança local pública e privada podem ser importantes
instrumentos para potencializar a competitividade dos produtores aglomerados. Os governos
locais podem atuar na criação e na manutenção de instituições de apoio ao desenvolvimento
das atividades produtivas, como a criação de centros de treinamento e formação de
profissionais, centros de prestação de serviços tecnológicos e agências governamentais de
desenvolvimento. Do mesmo modo, associações de classe e organizações não
governamentais podem atuar como catalisadoras do processo de desenvolvimento local,
por meio de ações de fomento à competitividade e de promoção de ações conjuntas das
empresas. (SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2001). Essas são, portanto, as formas de
organização da produção (produtiva) da atividade.
Vencer dependerá da capacidade de articulação dos atores locais em identificar e
resolver seus problemas cotidianos. É isso que determina seus níveis de competitividade. É
sob este enfoque teórico que o setor de software do município de Maringá é investigado
neste trabalho. Dessa forma, é importante levantar os aspectos que podem ser considerados
como vantagens competitivas deste setor neste município.
ASPECTOS METODOLÓGICOS
A identificação e a caracterização de aglomerações produtivas devem ser realizadas
por meio de consistente referencial teórico, com base de dados bem estruturados e com
102
Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR
bons níveis de desagregação, além de indicadores que permitam a verificação de especialização
e de concentração produtiva. Assim, após o domínio do referencial teórico, tornam-se
necessários os trabalhos de natureza empírica, para identificar e caracterizar um Arranjo
Produtivo Local.
Nesse estudo, a primeira etapa consistiu em identificar as evidências estatísticas sobre
a existência de aglomeração e especialização produtivas. Para tal constatação, empregou-se o
Quociente Locacional (QL). Tal indicador foi obtido a partir de dados secundários, fornecidos
pela Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho (MTE).
A etapa seguinte consistiu na realização de pesquisa de campo para levantar o
nível de interação, cooperação e integração entre os agentes envolvidos. A partir dessas
informações, colhidas com a aplicação de questionário às empresas, previamente selecionadas
por um processo de amostragem aleatório, foi possível realizar a identificação e a
caracterização de possível Arranjo Produtivo Local e os diferentes estágios de seu processo
de constituição, desde a fase embrionária, até a consolidação de agrupamentos com elevados
graus de maturidade.
Feitas essas considerações, descrevem-se, a seguir, os principais procedimentos
metodológicos empregados para este estudo de caso: Software no Município de Maringá.
Pesquisa de campo
O primeiro passo para a realização da pesquisa foi o levantamento do universo a
ser investigado. Para tanto, foi necessário identificar o conjunto de empresas nas quatro
classes citadas: 72109; 72214; 72290 e 72400. Essa foi a etapa de maior dificuldade na
pesquisa, haja vista que o banco de dados da RAIS/MTE não contempla a identificação das
empresas.
A inexistência de um órgão de representação do setor no Município constituiu
num complicador adicional. Para a identificação do universo, considerou-se o cadastro dos
contribuintes do Imposto sobre Serviços (ISS) da Prefeitura do Município de Maringá.
Cabe registrar que nesse cadastro as empresas pesquisadas estão classificadas a partir da
denominação genérica “empresas de informática”, incluindo comercialização, escolas de
informática, manutenção, processamento de dados, desenvolvimento de software, etc. Constam
nesse cadastro 311 empresas. Como o foco da pesquisa eram aquelas que desenvolvem
software, foi necessário um grande esforço para selecioná-las. Por meio de contatos telefônicos,
foi possível identificar 97 empresas que atuam diretamente na atividade de desenvolvimento
de software.
103
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Estrutura institucional
No setor de software no Município de Maringá, poucas instituições de apoio estão
presentes, sendo que algumas são mais participativas na dinâmica do setor, inclusive com
atuações importantes. Nesse sentido, pode-se destacar a atuação do SOFTEX – Paraná,
notadamente da Incubadora Tecnológica de Maringá que, apesar das dificuldades
encontradas, tem prestado grande auxílio ao setor. Formam a rede de apoio a UEM, por
meio dos cursos e das pesquisas voltados a essa área do conhecimento; as instituições
privadas de Ensino Superior presentes no Município de Maringá; o SEBRAE; o Serviço
Nacional de Aprendizado Industrial (SENAI); e o IEL, que organizam eventos, na formação
técnica e empresarial do capital humano e participam na elaboração de estratégias para o
setor (quadro 1).
A intensidade e a relevância de cada parceiro para o desenvolvimento do setor de
software no município apenas serão adequadamente aproveitados a partir de uma maior
organização do setor, o que requer a constituição de uma entidade de classe que o represente
e o organize. A pesquisa de campo revelou importantes elementos do arranjo e que serão,
em seguida, tratados.
104
Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR
INSTITUIÇÕES
Associação Comercial e Empresarial de Maringá
Apóia diretamente o setor, colocando sua infraestrutura à disposição de qualquer iniciativa proposta pelos empresários.
Incentiva a organização dos empresários do setor. Presta orientação e consultoria fisco-contábil. Atua como órgão de
representação na defesa dos interesses do setor.
Incubadora Tecnológica de Maringá
Apóia a geração a e consolidação de empresas de base tecnológica, notadamente novas empresas do setor de TI. Em 2006,
possui uma dezena de empresas de software incubadas.
Universidade Estadual de Maringá
Atua na formação e na capacitação da mão-de-obra para o setor de software, tanto em nível de graduação, quanto de pósgraduação lato sensu e stricto sensu. Fornece estrutura física para a Incubadora Tecnológica de Maringá.
Centro Universitário de Maringá
Atua na formação e na capacitação da mão-de-obra para o setor de software, tanto em nível de graduação, quanto de pósgraduação lato sensu.
Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá (CODEM)
Órgão criado por Lei Municipal, cuja finalidade é propor e fazer executar políticas de desenvolvimento econômico para o
Município de Maringá. Várias entidades representativas de diferentes segmentos da sociedade o integram e suas ações são
feitas em parceria com o Poder Público e com instituições como ACIM, IDR e FIEP. Teve atuação decisiva na implantação da
Incubadora Tecnológica de Maringá.
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
Fomenta a pesquisa no setor de software mediante financiamento e apoio a projetos acadêmicos.
Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP)/Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI)/
Instituto Euvaldo Lodi (IEL)
O sistema FIEP/SENAI/IEL apóia o setor de software mediante disponibilização de cursos técnicos e profissionalizantes na
área de TI, entre outras ações.
Governo do Estado do Paraná
Oferece incentivos fiscais às micro e pequenas empresas instaladas no Estado do Paraná. É o responsável pelos recursos
públicos destinados à Universidade Estadual de Maringá, à Fundação Araucária e ao TECPAR.
Instituto de Tecnologia do Paraná
Atua em P&D, abordando diversas áreas – inclusive a TI. É parceiro das Incubadoras Tecnológicas em todo o Estado do
Paraná.
Instituto para o Desenvolvimento Regional
Tem como missão promover, por meio de parcerias, o desenvolvimento regional sustentável. Atua junto ao CODEM no apoio
ao setor de software.
Prefeitura Municipal de Maringá
Apóia as iniciativas propostas pelos empresários do setor de software, em parceria principalmente com CODEM, ACIM e IDR.
Rede Paranaense de Incubadoras e Parques Tecnológicos
Congrega as Incubadoras Tecnológicas do Estado do Paraná. Contribui para aperfeiçoar e expandir as incubadoras, bem como
incentiva sua integração e promove o intercâmbio de experiências, informações e cooperação técnica.
Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa do Paraná
Fornece consultoria (notadamente de gestão organizacional) para as micro e pequenas empresas do setor de software. Contribui
para implantação de métodos mais eficientes de gestão e auxilia na obtenção de financiamentos.
Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Materiais Elétricos de Maringá
Colabora com a Incubadora Tecnológica de Maringá em diversos projetos.
Fundação Araucária
Fomenta a pesquisa no setor de software por meio de financiamento e apoio a projetos acadêmicos.
Departamento de Informática - Universidade Estadual de Maringá
Atua na formação e na capacitação da mão-de-obra para o setor de software, tanto em nível de graduação, quanto de pósgraduação lato sensu e stricto sensu.
Núcleo de Excelência em Tecnologia da Informação
Organização fundada em 2006, visando representar os interesses das empresas do setor de software de Maringá. A iniciativa
contava com a participação direta de poucos empresários no momento da conclusão deste artigo.
Fonte: Sites institucionais
Quadro 1 - Ativos institucionais ligados ao setor de software de Maringá - 2006
105
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO
Características gerais das empresas pesquisadas
A população-alvo da pesquisa foi definida como sendo as empresas do setor de
software localizadas no Município de Maringá, enquadradas nas seguintes classes da CNAE:
classe 72109 (consultoria em hardware); classe 72214 (desenvolvimento e edição de softwares
prontos para uso); classe 72290 (desenvolvimento de softwares sob encomenda e outras
consultorias em software); e classe 72400 (atividades de banco de dados e distribuição on-line
de conteúdo eletrônico). Do cadastro de contribuintes do Imposto sobre Serviços (ISS) da
Prefeitura do Município de Maringá constavam 97 empresas, das quais foram selecionadas
15, que constituíram a amostra da pesquisa e serviram de base para as inferências e análises
deste estudo. Por meio dos resultados da pesquisa, identificaram-se as principais características
das empresas, quais sejam:
a) quanto à forma jurídica de constituição das empresas, observa-se um amplo
domínio de sociedades limitadas;
b) todas foram constituídas com capital nacional;
c) sua composição societária é formada por, no mínimo, dois e, no máximo,
seis sócios;
d) a gestão da totalidade delas é exercida pelo sócio majoritário;
e) a maioria delas (53,3%) foi constituída após o ano 2000.
Quanto ao porte, os dados levantados indicaram a forte presença de micro e
pequenas empresas: 87% das empresas de software localizadas no município de Maringá são
classificadas como micro e pequenas. Apenas 13% são enquadradas como médias, e não foi
identificada nenhuma empresa de grande porte atuando no setor.
Perfil do principal sócio fundador
Com relação ao perfil do principal sócio fundador, foi possível identificar que
60% dos sócios majoritários possuem nível de pós-graduação; 26,67% são graduados; e
apenas 13,33% possuem curso superior incompleto. Outra constatação importante é que
66,67% dos sócios fundadores possuem formação acadêmica na área de Informática ou
Processamento de Dados (PD).
Uma característica importante na caracterização do perfil do sócio fundador referese à idade. Na sua grande maioria são bastante jovens – 73% possuem idade inferior a 30
anos e ao constituírem a empresa não haviam completado 25 anos. Outro fato a destacar
106
Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR
refere-se ao gênero – todas as empresas pesquisadas foram constituídas por sócios do sexo
masculino.
A relação entre a atividade do pai e a capacidade empreendedora do filho não foi
confirmada na pesquisa . Para a maioria dos sócios fundadores (60%), seus pais não exerciam
atividades empresariais. Para os demais (40%), os pais eram empresários, mas no ramo
comercial – um deles no setor de informática.
Quanto à atividade exercida pelos principais sócios fundadores antes da criação
da empresa, constataram-se os seguintes resultados:
- 40% atuavam como empregados em empresas locais na atividade do APL;
- 20% atuavam como empregados em empresas de fora do APL, mas na
atividade do APL;
- 7% eram empregados de empresas de fora do APL, em outras atividades;
- 7% eram estudantes universitários;
- os 26% restantes exerciam outras atividades.
Características da mão-de-obra
A análise dos recursos humanos alocados na atividade mostra a elevada capacidade
de geração de empregos do setor. As empresas pesquisadas com mais de dez empregados
representaram 33,3% no ano de 2004 e ampliaram essa participação para 40% no ano
seguinte. Nesse ínterim, a porcentagem de empresas pesquisadas que empregaram entre
nenhum e dois trabalhadores reduziu-se de 26,7% em 2004, para 13,3% em 2005.
Destaca-se, ainda, o fato de que em 2004 apenas 13,3% das empresas possuíam
funcionários trabalhando sem carteira assinada, porcentagem que se reduziu a zero em
2005. Outra característica importante do setor é o amplo aproveitamento de recursos
humanos regionais. Apenas 6,7% das empresas naquele ano possuíam empregados de fora
da região e, em 2005, constatou-se que nenhuma empresa contava com servidores oriundos
de outras regiões.
A porcentagem de horizontalização do processo produtivo (terceirização)
apresentou crescimento entre os anos de 2004 e 2005. No primeiro ano, apenas 20% das
empresas terceirizavam parte da produção, enquanto no segundo ano, esse percentual
alcançou a marca de 26,7% das empresas pesquisadas. Apesar desse incremento, os processos
produtivos das empresas de software localizadas no Município de Maringá mostram-se bastante
integrados internamente, reduzindo o potencial para possíveis parcerias.
Com relação à qualificação da mão-de-obra, o setor de software de Maringá apresenta
seu grande diferencial em relação a outros setores de atividade: a elevada escolaridade de
107
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
seus empregados. Para os que atuam na área de desenvolvimento, verificou-se que 78,7%
possuem, ao menos, curso superior completo; os que atuam em marketing também têm
elevado grau de escolaridade: 61,1% com, no mínimo, curso superior completo. Os
empregados que atuam diretamente na comercialização foram os que obtiveram o menor
índice de escolaridade entre os pesquisados: apenas 37% possuem o Ensino Superior
completo. Uma possível razão para tais números é a própria tecnologia envolvida no processo
produtivo, cujo emprego não é eficiente sem um alto nível de qualificação, além da constante
atualização dos profissionais da área.
Quanto à capacitação e à atualização do quadro de funcionários, os resultados
obtidos foram os seguintes: nenhuma empresa afirmou deixar de promovê-las para seus
trabalhadores.
Estrutura produtiva e de comercialização
Os canais de comercialização (representantes, revendedores, sites para venda direta,
editores de games) têm um papel avaliado como irrelevante por 26,7% das empresas
pesquisadas; pouco importante por 6,7%; importante para 20,0%; e muito importante para
46,7%. Tal resultado evidencia que, especialmente para as empresas cujos canais de
comercialização são editores ou para aquelas que comercializam softwares especializados, os
clientes participam ativamente da elaboração do produto final ofertado.
A análise da estrutura produtiva das empresas mostrou que a maioria tem seu
faturamento vinculado a um grupo reduzido de produtos. A participação dos principais
produtos e serviços no total da receita das empresas pesquisadas manteve-se estável em
2004 e 2005: 64,7% e 64,8%, respectivamente. Tais porcentagens demonstram que as
empresas pesquisadas ofertam, em sua grande maioria, uma pequena mistura de produtos
e/ou serviços.
Os principais processos e métodos de produção citados na pesquisa foram a
fábrica de software (linha de produção), em utilização por 47% das empresas, bem como o
processo verticalizado (tarefas simultâneas no processo produtivo), em utilização por 13%
delas. Outros métodos, como fluxogramas (7%), processo simultâneo (7%), processo básico
(7%), análise, programação e testes (7%) e elaboração completa (7%), entre outros, também
foram citados.
No que tange às principais ferramentas (linguagens de programação e aplicativos
utilizados), os resultados da pesquisa estão apresentados na tabela 1.
108
Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR
Tabela 1 - Principais ferramentas utilizadas pelas empresas pesquisadas do APL de software
de Maringá – 2006
Ferramentas (linguagens ou aplicativos)
Descrição
Borland Delphi
PHP
SQL (MySQL, SQL Server)
Sun Java
Firebird
Oracle
Ferramentas próprias
Microsoft Visual Studio
Microsoft VB.Net
%
40,0
33,3
33,3
26,7
20,0
13,3
13,3
6,7
6,7
Fonte: Pesquisa de campo – UEM
Há que se notar que as porcentagens da tabela 1 representam mais que 100%,
pois uma mesma empresa costuma utilizar diferentes ferramentas e, em outros casos,
desenvolver para mais de um ambiente (plataforma).
Política de uso de software livre
No que diz respeito à política de uso de software livre, verificou-se que 80% das
empresas pesquisadas o utiliza como ferramenta ou plataforma: 60% utilizam Linux; 47%
PHP; 33,3% Firebird; e 20% Java. No entanto, dentre todas as empresas pesquisadas que
utilizam software livre, apenas uma (7%) também o oferta. O software livre oferecido é uma
ferramenta de compatibilidade entre os diferentes sistemas bancários para emissão de boletos.
Os restantes 20% das empresas pesquisadas não adquirem nem oferecem licenças de software
livre.
As empresas pesquisadas justificaram o fato de não ofertarem software livre com
os seguintes argumentos: para 27% o software livre não gera receita ou não possui viabilidade
econômica; 7% não veem nele benefícios em geral; 7% afirmam possuir um nicho de mercado
diferente; 7% não acreditam que o mercado esteja maduro para tal. As demais empresas
entrevistadas não apresentaram motivo específico para deixar de ofertar software livre. Das
empresas entrevistadas, 87% afirmaram possuir interesse em participar de licitações
envolvendo software livre.
109
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Não vislumbram dificuldades para participar de tais licitações 40% das empresas;
7% delas acreditam que sua estrutura seria um obstáculo; 7% acreditam que a burocracia
constitui obstáculo; 7% afirmam que o fato de os softwares livres não serem muito amigáveis
para o usuário final seria um entrave; 7% veem como obstáculo a falta de confiabilidade
nos prazos de pagamento por parte do governo; 7% citam a falta de mão-de-obra
especializada como obstáculo à participação em licitações; 7% mencionam a falta de
transparência na divulgação das licitações como um elemento dificultador; 7% acreditam
que a vinculação do software livre com produtos que não propiciam faturamento seria um
entrave. Os demais entrevistados não mencionaram dificuldades específicas à participação
em licitações.
FORMAS DE COMERCIALIZAÇÃO
Para a maioria das empresas, o contato direto com os clientes constitui a melhor
forma de comercialização de seus produtos. Dadas a especificidade de seus produtos e a
necessidade de acompanhamento perene, as principais formas de comercialização apontadas,
com relação ao total da receita, foram as seguintes: venda direta (60%); indicações (47%);
mala direta (13%); consultoria de negócios (13%); site de Internet (20%); divulgação indoor
(7%); mecanismos de busca (7%) e telemarketing (7%).
Abrangência de mercado
Em relação à abrangência do mercado, constatou-se que a região de Maringá
representa aproximadamente 50% da área de mercado das empresas do setor. Entre 2004 e
2005, a porcentagem média (em volume de vendas por empresa4) das vendas locais totais
realizadas permaneceu praticamente inalterada: 44% e 43%, respectivamente. Já a participação
relativa das vendas no Estado do Paraná (Maringá e região, exclusive) aumentou de 28% em
2004 para 32% em 2005, de forma semelhante ao que ocorreu no mercado brasileiro (Paraná,
exclusive): de 19%, em 2004, para 22%, em 2005. As exportações permaneceram estáveis:
em 3% para 2004 e 2005. É oportuno salientar que apenas uma das empresas pesquisadas
efetivamente comercializa seus produtos no exterior. No caso específico dessa empresa,
50% de sua receita, tanto em 2004 como em 2005, provieram de exportações.
Consideram-se para o cálculo somente as informações prestadas pelas empresas referentes às porcentagens das vendas
totais por empresa em cada mercado.
4
110
Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR
Conforme mencionado, somente uma empresa pesquisada exporta seus produtos.
A entrada dessa empresa no mercado externo deu-se por meio de um consórcio de
exportação. A empresa exportadora vê como obstáculo a ampliação das exportações, a falta
de recursos financeiros para investir na divulgação dos serviços em feiras e as visitas
internacionais.
Outra característica a ser destaca na análise da comercialização das empresas de
software do Município de Maringá, é que suas vendas apresentam uma certa regularidade ao
longo do ano. Para 47% das empresas pesquisadas, não se verifica sazonalidade nas vendas.
Para as demais empresas, foram detectados períodos de sazonalidade não-coincidentes;
isso se deve, provavelmente, ao fato de que as sazonalidades dos setores dos diferentes
clientes dessas empresas diferem também entre si, pelo que teriam efeito compensatório.
Estratégias de competição
Dentre as principais armas de competição, o fator mais importante para os
empresários está associado à marca e à tradição da empresa. A análise procurou hierarquizar
a importância dos fatores competitivos das empresas, cujos resultados são apresentados na
tabela 2.
Tabela 2 - Fatores considerados decisivos para as empresas pesquisadas do APL de software
de Maringá – 2006
FATOR
Fatores decisivos para as empresas pesquisadas (%)
1.o mais relevante 2.o mais relevante 3.o mais relevante
Preço
Marca e tradição da empresa
Serviços de pós-venda
Promoções e propaganda
Prazos/Confiabilidade prazos
Produto em si
Indicações
Tecnologia utilizada
Qualidade do produto/serviço
20,0
27,0
13,0
0,0
13,0
13,0
13,0
7,0
0,0
20,0
27,0
27,0
0,0
20,0
0,0
0,0
0,0
7,0
13,0
13,0
33,0
7,0
20,0
7,0
0,0
0,0
0,0
Fonte: Pesquisa de campo – UEM
111
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Pesquisa, desenvolvimento e inovação
Dentre as características mais importantes levantadas pela pesquisa, pode-se
destacar a permanente preocupação das empresas com a pesquisa, o desenvolvimento e a
inovação. Todas as empresas entrevistadas afirmam realizar algum tipo de esforço voltado
à pesquisa e ao desenvolvimento de produtos e processo, bem como implementaram algum
tipo de inovação.
No que se refere às fontes de informação para inovação, foram obtidos os seguintes
dados:
Tabela 3 – Fontes de informação para inovação e frequência de utilização, 2006.
Fonte de Inovação
Frequência de Utilização (Em %)
Ocasionalmente
Frequentemente
Processo
40
27
40
20
40
20
73
13
47
60
20
67
Ocasiões sociais
Vendedores
Visitas a feiras na região
Visitas a feiras, Brasil
Nunca
33
40
13
20
Produto
27
20
20
53
Visitas a feiras, exterior
80
7
13
7
20
Workshops de produtores
Catálogos, Revistas, Sites
Especificações de clientes
20
13
0
73
13
20
7
73
80
53
87
13,3
80
80
100
Benchmarking
Visitas a empresas, região
Visitas a empresas, outras
Funcionários, outras empresas
Consultores, região
Consultores, outras regiões
7
27
40
27
47
53
26
60
47
33
33
27
67
13
13
40
20
20
27
47
53
60
47
40
93
47
40
60
47
40
Universidades
Brainstorming interno
47
-
40
-
13
7
47
Sim
40
Sim
Fonte: elaboração própria a partir de resultados da pesquisa de campo.
Resultados das inovações
Em relação às inovações introduzidas pelas empresas do APL no período de
2003 a 2005, a totalidade introduziu inovações de produto/serviços e 86,7% introduziram
inovações de processo tecnológico. Entretanto, cabe ressaltar que essas inovações relacionamse a produtos e processos já existentes no mercado e no setor, respectivamente.
112
Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR
Os dados referentes às inovações organizacionais também refletem a postura
favorável à inovação existente no setor: 66,7% das empresas pesquisadas implementaram,
no período 2003-2005, técnicas avançadas de gestão; 93,3% efetuaram mudanças significativas
na estrutura organizacional; 60,0%, nos conceitos e práticas de marketing; 60,0%, nos conceitos
e práticas de comercialização; e 40,0%, em novos métodos de gerenciamento, visando atender
às normas de certificação.
Os que ainda estão em processo de certificação somaram 13,3%; os que obtiveram
certificações CMM (Capability Maturity Model ) somaram 13,3%, os que obtiveram certificação
ISO; 13,3%; e MPS (Melhoria do Processo de Software Brasileiro), 6,7%.
O impacto resultante da introdução de inovações entre 2003 e 2005 foi também
avaliado pelas empresas pesquisadas: 93,3% afirmaram que as inovações aumentaram a
produtividade da empresa; 93,3%, que houve incremento na gama de produtos/serviços
ofertados; 100%, que as inovações propiciaram melhoria na qualidade dos produtos/serviços;
100% avaliaram que sua participação foi mantida nos mercados de atuação por conta das
inovações introduzidas; 100% responderam que ampliaram sua participação no mercado
interno em razão da introdução das inovações; 6,7% atribuem às inovações o crescimento
de sua participação no mercado externo; 66,7% afirmaram que a empresa abriu novos
mercados por conta das inovações implantadas. Para 13,3%, as inovações permitiram o
enquadramento em normas-padrão relativas ao mercado interno (Associação Brasileira de
Normas Técnicas - ABNT). Nenhuma empresa enquadrou-se em normas-padrão relativas
ao mercado externo por conta das inovações introduzidas.
Em média, 48% da receita atual das empresas pesquisadas provém das inovações
tecnológicas e organizacionais introduzidas no período 2003-2005, o que, mais uma vez,
corrobora o fato de ser a inovação absolutamente vital para o setor de software. Para 40%
das empresas, as inovações respondem por, no mínimo, 80% de sua receita atual total.
Relações de parcerias
As informações levantadas permitiram identificar a existência de relações de
parcerias em 66,67% das empresas entrevistadas, enquanto 33,33% admitem não manter
nenhuma parceria. Quando inquiridas sobre as razões para o não-estabelecimento de
parceiras, as empresas apontaram a falta de interação interempresarial, decorrente da pouca
organização existente no setor ou pela falta de uma instituição de apoio, como ocorre em
outras regiões do Estado, como, por exemplo, CITS, ADETEC, SUDOTEC, ASSEPRO,
NTI, etc. Alguns indicaram a pouca capacidade da Incubadora local ou a falta de eventos,
como seminários e Feiras.
113
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Das empresas que mantêm parcerias, 53,3% realizaram-nas por iniciativa própria;
para 26,7% delas, ocorreram devido à indicação de clientes; para 6,7%, aconteceram por
meio de eventos, seminários e feiras; para outras, deu-se pela internet. Para 6,7%, as parcerias
tiverem origem em outros fatores não correlacionados no questionário. Deve-se ressaltar
que, dentre as relações de parceria, apenas 6,7% das empresas entrevistadas admitiu origem
de parceria pela concorrência em licitações públicas, considerada, portanto, pouco frequente
para atividade de software.
A investigação procurou identificar, ainda, em qual estágio do processo produtivo
ocorrem as parcerias, bem como se elas acontecem dentro da aglomeração produtiva ou
fora dela. Também foram investigadas as parcerias que ocorrem fora do município, se estão
ou não localizadas no Estado do Paraná: a) No desenvolvimento: para 8,33% das empresas
as parcerias acontecem na área de desenvolvimento de software dentro do Município de
Maringá. Para outras 9,38%, as parcerias foram feitas com empresas localizadas fora do
aglomerado produtivo, mas, ainda assim, no Estado do Paraná. Constatou-se, também, que
não ocorrem parcerias na área de desenvolvimento com empresas fora do Estado; b)
Outsourcing convencional: para 8,33% das empresas, foi possível estabelecer parcerias com
outras empresas do município em serviços terceirizados. Para 25%, as empresas parceiras
localizam-se fora de Maringá, contudo dentro do Estado. Em outros estados do País não
foram constatadas parcerias; c) Outsourcing BPO: apenas 6,25% das empresas estabelecerem
parcerias Outsourcing BPO (terceirização do processo de negócios) com outras empresas,
sendo estas localizadas fora do Município de Maringá, porém dentro do Estado do Paraná.
Também não se verificou a existência de parcerias com empresas de outros estados; d)
Serviços especializados: a parceria para a contratação de serviços especializados foi constatada
em 16,7% das empresas entrevistadas. Essas parcerias ocorrem dentro de Maringá e suas
atividades envolvem serviços especializados, tanto no desenvolvimento, quanto no suporte
técnico da área de software. Inclui-se, neste item, também serviços de consultoria, treinamento,
hospedagem de link e outros. Contudo, 9,38% das empresas afirmaram possuir relações de
parcerias com outras empresas que se localizam em outras regiões do Estado. Por outro
lado, 35,7% das empresas entrevistadas possuem alguma parceria com empresas que se
localizam fora do Paraná; e) Comercialização: a área de comercialização foi a que se mostrou
com maior potencialidade para as parcerias. Embora muitas sejam de caráter informal,
66,7% das empresas admitem alguma forma de cooperação para a comercialização de seus
produtos, especialmente quanto à interligação com as empresas que prestam serviços
especializados. Essa possibilidade de apresentar seus produtos e serviços por meio de
empresas terceirizadas que prestam serviços especializados também ocorre em relação às
114
Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR
empresas que atuam fora do arranjo produtivo. Para 50% delas, essa possibilidade existe em
relação às empresas de outras regiões do Estado; e para 64,3%, em relação às de outros
estados da Federação.
Com relação à existência de falhas ou problemas nas parcerias, constatou-se que
quase todas as empresas que estabeleceram parcerias depararam-se com algum tipo de
dificuldade. De acordo com as respostas dadas pelos empresários, as principais falhas ocorrem
devido à falta de respeito às normas estabelecidas, o que acarretou conflitos entre as empresas
parceiras.
Os resultados das análises realizadas foram os seguintes: a) No APL: 80% das
empresas entrevistadas, que mantiveram algum tipo de parceria, alegaram ter algum tipo de
problema/falha na relação. Os motivos foram, principalmente, a falta de reciprocidade,
divergências de interesses, áreas de conflito em parcerias múltiplas e expectativas não
realizadas. Apenas para 20% das empresas, os problemas decorreram da atividade de
outsourcing avançado, sendo a falta de atualização e treinamento causa da falha apresentada.
Nas atividades de desenvolvimento e serviço especializado, não foi apontado, nesta pesquisa,
nenhum tipo de falha pelas empresas parceiras na região do APL. Conforme observado, os
entrevistados reconhecem que um setor mais organizado propiciaria maior confiança entre
os agentes, o que reduziria as dificuldades e as falhas encontradas nas parcerias; b) No
Paraná: exceto em Maringá, evidenciou-se que das 15 empresas entrevistadas, sete possuem
parcerias e destas quatro com problemas, dentre os quais os mais citados na atividade de
desenvolvimento foram: expectativas não realizadas, falta de comprometimento e áreas de
conflito em parceiras múltiplas. No setor de comercialização, as falhas evidenciadas são:
divergências de interesse, falta de comprometimento e áreas de conflito em parcerias
múltiplas. Para a atividade de outsourcing, a falha alegada pela empresa diz respeito à falta de
comprometimento. Dentre esses itens, uma mesma empresa que possui mais de um tipo
de parceria alegou falha para os três setores de atividade. Fica claro, portanto, que a deficiência
entre as relações de parcerias é grande, mesmo que para uma quantidade relativamente
pequena; c) No Brasil: para os demais estados da Federação, exceto o Paraná, cinco empresas
apresentam parcerias. Destas, três entrevistadas alegaram problemas. Na atividade de
outsourcing avançado, a falha constatada foi a exigência de cumprimento de cotas. Para o
setor de atividade de comercialização do mercado interno, duas das empresas entrevistadas
evidenciaram falhas, dentre as quais as mais citadas foram: divergência de interesses,
diferenças culturais, áreas de conflito em parcerias múltiplas e falta de atualização e
treinamento. Segundo os depoimentos dos empresários, essas falhas ocorrem devido,
principalmente, à falta de maior interação entre as presentes nas parcerias. Trata-se, portanto,
115
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
de um mercado em que o capital de risco é relevante. Os empresários pesquisados buscam
soluções que não obstruam a relação de parceria e que favoreçam a cooperação mútua; d)
No exterior: dentre as empresas avaliadas na região do APL, apenas uma possui parceria no
exterior e apresenta problemas na atividade de desenvolvimento devidos às expectativas
não realizadas. A análise das relações de parceria na aglomeração produtiva do setor de
software no Município de Maringá indica que há fragilidades a serem superadas, para que se
fortaleça o Arranjo Produtivo Local.
Relações de subcontratação
Nas relações de parceria, deve-se focalizar a forma de atuação, ou seja, se as
empresas atuam como subcontratadas e/ou subcontratantes de outras empresas, mediante
contrato e/ou acordo de fornecimento regular e contínuo de módulos, componentes de
programas ou outsourcing convencional.
O principal ponto a ser destacado neste item da investigação é a reduzida
formalização das relações contratuais. A maioria absoluta das empresas (73,3%) não assumiu
compromissos formais, quer como subcontratada, quer como subcontratante. Das empresas
investigadas, 20,0% atuam como subcontratadas e 6,7% como subcontratantes, cujas relações
estão estabelecidas em contratos.
As empresas subcontratadas prestam serviços desenvolvendo e produzindo
componentes e sistemas para WEB, sendo que um terço delas atende apenas as empresas
de Maringá; as demais atendem também empresas de outros municípios paranaenses.
As empresas subcontratantes mantêm relações apenas com empresas do APL.
Relações interempresariais
Quanto às relações interempresariais no APL, foi observada pouca frequência de
comunicação entre os empresários. Os contatos eles ocorre ocasionalmente para 93,3%
dos entrevistados. Apenas 33,3% deles afirmaram manter contatos frequentes com outras
empresas do setor para trocar ideias ou discutir dificuldades e estratégias.
Também, em relação às visitas em outras empresas do setor localizadas na região
de Maringá, constatou-se pouca frequência. A maioria dos empresários (80%) afirmou que
visita apenas ocasionalmente outras empresas, para trocar informações. O hábito de visitar
com frequência outras empresas foi apontado por apenas 14,3% dos empresários
entrevistados; 6,7% deles afirmaram que nunca visitaram outras empresas. Quando
116
Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR
questionados sobre abrir seu local de trabalho para outros empresários do setor, 87% dos
entrevistados afirmaram fazê-lo ocasionalmente, e apenas 13,3% o fazem com frequência.
Esses dados demonstram, efetivamente, que as relações interempresariais são incipientes e
de baixa frequência entre os empresários do setor de software de Maringá.
Com relação à interação social entre as empresas do setor, constatou-se que
praticamente não existe, em razão da falta de organização do setor. Entretanto, foi observado
que 67% das empresas têm algum tipo de contato com as outras empresas do setor em
encontros informais. Para os entrevistados, essa dificuldade poderia ser superada por meio
da realização de eventos regionais, como feiras, fóruns, workshops de produtos, etc. Tais
promoções não ocorrem em razão da falta de uma instituição que organize e represente as
empresas do setor em Maringá.
Cooperação multilateral
Das empresas pesquisadas, 67% possuem ligação com instituições de apoio ao
setor, destacando-se a ACIM (Associação Comercial e Empresarial de Maringá) como a
mais citada nas entrevistas. Porém, observou-se que existe a falta de uma entidade de classe
específica que atenda à demanda empresarial do setor. Um percentual muito baixo de
empresas (20%) revelou ter sido beneficiado com algum programa de apoio. As áreas
beneficiadas concentram-se no desenvolvimento de tecnologia e no apoio de recursos
tecnológicos.
Quanto à contribuição das instituições de apoio, esta foi avaliada como de baixa
importância, decorrente de dificuldades, tais como a ausência de: a) definição de objetivos
comuns para as empresas; b) informações sobre inovações, quanto ao produto e ao processo;
c) identificação de fontes e formas de financiamento; d) ações dirigidas à capacitação
tecnológica das empresas; e) estímulo ao P&D local; f) organização de eventos técnicos e
comerciais. Para algumas empresas, existe a dificuldade de abertura de canais de
comercialização internos e externos.
Financiamento
Outra característica a ser destacada são os perenes investimentos em expansão e
modernização das empresas do setor. Quase a totalidade das empresas (93,3%) investiu na
ampliação e/ou modernização nos últimos dois anos. Os recursos próprios para o
financiamento dos investimentos realizados foram utilizados por 80% dessas empresas, os
outros 20% recorreram aos recursos de terceiros. Os bancos comerciais privados foram as
117
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
fontes de financiamento para 20% das empresas; os empréstimos de familiares, para 13,3%;
e 15% admitiram recorrer aos bancos comerciais públicos e às empresas parceiras9.
Para financiar o capital de giro, a grande maioria das empresas (86,7%) utiliza
capital próprio.
Foi detectada a existência de demanda por financiamento para investimentos em
desenvolvimento de produtos e para outras atividades tecnológicas em 60% das empresas
pesquisadas. Para os empresários, as principais demandas estão no desenvolvimento de
novos produtos, na aquisição de equipamentos, na Pesquisa de Desenvolvimento (P&D) e
na viabilização de projetos que estão engavetados.
Quando perguntado aos empresários se conhecem as linhas de crédito de fontes
públicas disponíveis para apoio tecnológico, 9 dos 15 entrevistados afirmaram conhecer
algumas fontes; 53% conhecem a linha do BNDES e do FINEP; 33% conhecem o Fundo
Paraná; e 20% conhecem a linha do BRDE. No entanto, apenas um empresário afirmou ter
usado linha de crédito.
Das empresas selecionadas, 73% já procuraram linhas de crédito, porém,
encontraram várias dificuldades de acesso. O excesso de burocracia foi citado por 46,7%
dos empresários; 26,7% comentaram que as exigências de garantias atrapalham na hora de
obter um empréstimo; 13,3% alegaram falta de informações sobre linhas de crédito e
inadequação da taxa de juros.
Nenhum empresário utilizou benefícios fiscais, de infraestrutura ou de outro,
proveniente do poder público municipal para instalação de sua empresa no município, embora
todos os entrevistados considerem as condições infraestruturais do município adequadas
ao desen-volvimento das atividades do setor.
DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO APL DE SOFTWARE
A identificação das demandas locais e o levantamento de sugestões de políticas
públicas para o fortalecimento das atividades do APL de software de Maringá permitem
avaliar o grau de dificuldades que o setor enfrenta, bem como as expectativas dos empresários
em relação à atuação do poder público estadual. Desse modo, os desafios a serem enfrentados
foram organizados em blocos e encontram-se destacados a seguir.
Os percentuais não podem ser tomados de forma cumulativa, em razão de as empresas terem recorrido a mais de uma
fonte externa de financiamento.
5
118
Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR
Interação, articulação, cooperação e coordenação
Foi observado a falta de maior interação entre as universidades e as empresas do
setor e isso se constitui em um dos problemas apontado por 20% dos empresários. Para
eles, é necessário haver maior interação para que os alunos sejam formados com perfis mais
adequados ao mercado de trabalho. Uma outra fragilidade apontada por todas as empresas
entrevistadas foi a falta de comunicação e de interação entre empresas do setor como uma
das principais restrições às atividades de cooperação entre os agentes. Para os entrevistados,
esse entrave poderia ser superado por meio da realização de eventos regionais como feiras,
fóruns, workshops de produtos, etc. Tais promoções não ocorrem em razão da falta de
uma instituição que organize e represente as empresas do setor em Maringá.
A inexistência de uma entidade de classe específica foi, portanto, outra carência
apontada pela totalidade dos entrevistadas como um dos fatores que dificulta a organização
do setor. Para as empresas, o setor deixa de ser beneficiado por alguns programas
governamentais, em razão da sua falta de representatividade junto às esferas públicas. Para
sanar tal deficiência, estão sendo empreendidos esforços por parte de alguns empresários
locais, para a organização do setor mediante a constituição do Núcleo de Excelência em
Tecnologia da Informação (NEXTI).
De forma geral, também foi destacado pelos entrevistados a escassez de articulação
com outros setores produtivos (moda, arquitetura, confecções, engenharia, etc.). Para 13,3%
dos empresários entrevistados, a inexistência de articulação entre as empresas de software e
as demais empresas de outros setores produtivos do município restringem a capacidade de
desenvolvimento dos produtos, bem como o mercado potencial para os produtos do setor.
Para esses empresários, se houvesse maior articulação entre os setores, seria possível
identificar demandas específicas, o que fomentaria a capacidade de inovação dos produtos
e ampliaria a capacidade das empresas locais de software de alcançar mercados maiores.
Com o setor público, a falta de diálogo também se constitui em desafio a ser
superado. Para 13,3% dos entrevistados não existem canais de comunicação entre as empresas
do setor e as esferas do setor público, o que faz com que algumas iniciativas e programas
governamentais não sejam aproveitados pelas empresas.
A falta de coordenação para a realização de ações conjuntas é mais uma dificuldade
a ser enfrentada. Para 33,3% dos empresários, não há coordenação para ações conjuntas.
Sugerem, como medidas para superar tal restrição, a criação de um polo produtivo, visando
às alianças para atingir mercados facilmente explorados de forma coletiva, de apoio às
iniciativas que visem à formação de consórcios de empresas, para juntas buscarem
119
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
certificações, à criação de um polo tecnológico, por meio da destinação de parte dos recursos
de ISS, além de incentivo ao desenvolvimento e à comercialização conjunta de softwares,
com maior liberdade de ação para os empresários em relação aos projetos que já existem.
O MERCADO DE TRABALHO E SUA QUALIFICAÇÃO
Qualificação técnica e profissional
De modo geral, a qualificação dos profissionais e a sua manutenção no mercado
de trabalho local é outro desafio apontado pelos entrevistados a ser enfrentado. Para 66,6%
deles, a oferta de cursos de qualificação não é satisfatória. As instituições de ensino do
município não oferecem cursos de qualificação nas áreas mais carentes, em especial na área
de artes gráficas, desenho industrial, design, lógica de programação e VB.Net.
Os empresários reivindicam maior interação entre as instituições de ensino e as
demandas específicas do setor, para que a oferta dos cursos de qualificação esteja focada
nas necessidades das empresas.
Além disso, os maiores centros urbanos tem atraído, com melhores salários,
profissionais formados na região. Este problema foi apontado por 33,3% dos entrevistados.
A dificuldade em reter profissionais deve-se à falta de condições para remunerá-los nos
mesmos níveis dos grandes centros. Destacaram que as fugas de profissionais capacitados
ocorrem especialmente para empresas de São Paulo, por questões salariais. Para os
empresários, esse problema somente será superado quando as empresas locais adquirirem
maior capacidade para remunerar os profissionais. Para tanto, precisam comercializar seus
produtos com melhores margens.
No que se refere à formação acadêmica, para um quinto dos empresários do
setor, os egressos das faculdades locais não saem preparados para inserção imediata no
mercado de trabalho, requerendo treinamento nos locais de trabalho. Sugerem uma ampla
discussão para atualização dos currículos, pois o setor é bastante dinâmico, e é comum os
recém-formados chegarem às empresas com conhecimentos bastante ultrapassados. Verificase a necessidade de maior oferta de cursos de pós-graduação específicos para a área, apontado
por 7% dos entrevistados como uma das carências locais do setor. Sugerem que as instituições
de ensino realizem pesquisas junto às empresas do setor para identificação das demandas.
120
Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR
Instituições públicas e políticas de apoio a pesquisa
Instituições públicas de apoio tecnológico e infraestrutura inexistem. Para um
terço dos empresários, a região carece de instituições públicas de apoio ao desenvolvimento
tecnológico e de infraestrutura adequada. Foram apontadas a falta de parque tecnológico,
de fundação de apoio, de incubadoras de base tecnológica, etc.
Falta, também, a implementação de políticas de incentivo ao uso de software livre.
Neste caso, a escassez de políticas públicas que incentivem o uso de software livre foi apontada
por 26,6% como uma das dificuldades para o aumento da competitividade do setor.
Referindo-se aos recursos públicos para pesquisa, foi indicada por 26,6% dos
entrevistados como uma das deficiências do setor. Sugeriram maiores recursos para que as
universidades públicas invistam em pesquisa aplicada; implantações de fundações públicas
de apoio à pesquisa em software, nos moldes da FAPESP, da ADETEC, CITS etc.; e apoio à
criação de um tecnoparque.
Além destes desafios, outras demandas foram apontadas pelos entrevistados, tais
como: redução da carga tributária, disponibilidade de linha de crédito específica para o
setor e necessidade de apoio às exportações. Quanto à carga tributária, essa restrição foi
apontada por dois terços das empresas pesquisadas. Para os empresários, o peso da carga
tributária enfraquece a capacidade de investimento das empresas e estimula a informalidade
no setor e a concorrência desleal. Apontam a necessidade de políticas de incentivos fiscais
para o setor como forma de amenizar o problema, como, por exemplo, maior flexibilidade
para o enquadramento no regime fiscal SIMPLES para pequenas e microempresas do setor.
A falta de maior diversidade de linhas de crédito para o setor e as dificuldades de
acessibilidades a elas foram apontadas por um terço dos empresários como as principais
restrições para fomentar o setor. Para os entrevistados, além de poucas, as linhas de crédito
disponíveis quase não são divulgadas e é praticamente impossível acessá-las, devido às
inúmeras contingências impostas ao tomador do crédito. Para esses empresários, as taxas
de juros praticadas são elevadas para investimento de alto risco, como no desenvolvimento
de novos produtos no setor. Em função disso, os empresários demandam maior difusão e
esclarecimento sobre as fontes de financiamentos e apoio para a realização de propostas.
Para 13,3% dos entrevistados, deveria haver maior apoio por parte das instituições
públicas para ajudar na organização dos processos de documentação para as atividades de
exportação. Para esses empresários, há falta de mão-de-obra especializada na exportação de
serviços, o que acaba inviabilizando muitas iniciativas de vendas ao exterior. Sugerem que
as instituições de apoio, como o SEBRAE, capacitem técnicos para apoiar as atividades de
exportações de serviços.
121
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das características da atividade e levando-se em conta o dinamismo, a
evolução e a diversidade, pode-se definir o perfil do APL de Software do Município de
Maringá como formado por um grupo de pequenas empresas recém-constituídas,
administradas por jovens empreendedores que têm na capacidade de inovação o seu principal
diferencial competitivo.
Outros resultados da pesquisa de campo possibilitaram a constatação de desafios
e potencialidades importantes para a organização do setor como um Arranjo Produtivo
Local. Quanto aos desafios a serem enfrentados, destaca-se a pouca interação entre as
empresas do setor; a falta de coordenação para as ações conjuntas, visando à cooperação e
à maior eficiência do setor; a inexistência de um órgão que congregue, organize e represente
as empresas; a falta de articulação com outros setores produtivos e com o poder público
local; a dificuldade em reter mão-de-obra mais qualificada; a falta de apoio institucional e a
pouca experiência nos processos de certificação de produtos.
Em relação às potencialidades, a ênfase é atribuída aos seguintes aspectos:
expressiva concentração de pequenas empresas; consciência por parte de alguns empresários
da necessidade de organização e articulação entre os agentes do setor; disposição das empresas
para empreender ações, visando à cooperação e a ações conjuntas; ampla capacidade técnica;
projetos de expansão em todas as empresas; grande número de instituições locais que podem
interagir e cooperar com o setor.
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Potencialidades e fragilidade do arranjo produtivo local (APL) do setor de software no município de Maringá-PR
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123
A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR
INTRODUÇÃO
Os temas sobre Arranjos Produtivos Locais (APLs) e Sistemas Locais de Inovação
têm sido alvos de inúmeras pesquisas que debatem o aumento de competitividade das
organizações na literatura econômica e administrativa, destacando o crescimento regional e
a geração de emprego. Compreender a dinâmica da evolução das aglomerações requer a
descrição e a análise da trajetória de transformação e do processo de institucionalização na
formação de um APL do setor de Software, na cidade de Maringá - PR. O capítulo está
dividido em cinco partes: introdução; características gerais da indústria de software; aspectos
conceituais importantes da teoria institucional, para compreensão da dinâmica da indústria
e software em Maringá; discussão do estudo de caso e análise dos resultados da pesquisa de
campo sobre o processo de institucionalização do embrião de APL de software à luz do
referencial previamente estabelecido e as considerações finais.
A INDÚSTRIA DE SOFTWARE
O estudo da contraprestação do setor de serviço para o desenvolvimento de um
país é de incomensurável relevância para o entendimento da maturação econômica e para o
entendimento dos possíveis diferenciais entre nações e regiões. Deve ser destacada a
importância e a contribuição do crescimento desse setor para o crescimento econômico,
pelo incremento de renda; emprego; indicadores, como capital-físico (produtivo) e humano
(mão-de-obra mais especializada), devido à grande penetração das diferentes atividades indústria, serviços, agricultura, entre outras destacadas.
É notório que os serviços ligados à tecnologia da informação e software, por
exemplo, diferenciam-se dos demais porque promovem o suporte ao desenvolvimento dos
demais setores produtivos (industrial, agrícola e outros serviços). Por criar estes recursos de
infraestrutura para os demais setores produtivos, deve-se desagregar a classe de atividade e
estudar separadamente para contextualizar o estudo.
127
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Caracterização da indústria de software no contexto internacional
Segundo Fernandes, et al (2004, p. 5), a Tecnologia da Informação (TI) “[...]
estuda, opera, produz e usa instrumentos tecnológicos para tratamento de informações, ou
seja, o conjunto de ferramentas que transforma e organiza dados”. As Tecnologias de
Informação e Comunicação (TICs) envolvem um conjunto de recursos tecnológicos e
computacionais que operacionalizam, organizam e transformam o uso da informação,
estando fundamentada nos seguintes componentes: a) hardware e periféricos1; b) software2; c)
sistemas de telecomunicação; e d) gestão de dados.
Comercialmente, os produtos de software podem ser divididos em dois tipos
principais: pacotes (suítes) e software personalizados ou customizados. Pacotes ou suítes (também
chamados por COTS - Commercial Off-The-Shelf) - são programas com código fonte não
disponível e com versões periódicas, que podem ser comprados e licenciados pelos usuários
comuns. Alguns exemplos são os processadores de texto, programas de navegação na
Internet, programas de edição e tratamento de imagens e fotos, também conhecidos como
aplicativos. (MCDERMID, 1998).
O software personalizado ou customizado (custom software) é planejado e
implementado por programadores e consultores para atender a uma determinada tarefa
específica, para um cliente específico. Quando são oferecidos em pacotes personalizáveis,
normalmente demandam muito tempo para parametrização e desenvolvimento, o que
normalmente proporciona um processo moroso e de custo elevado. (PINE, 1994).
O crescimento da indústria de TICs tem sido limitado em função da escassez de
mão-de-obra especializada. Calcula-se que, somente da Europa, faltem aproximadamente
500.000 especialistas nesse mercado. (FERNANDES, et al, 2004). Apesar da alta
concentração do mercado mundial de software estar em países desenvolvidos, o que tem
chamado a atenção de especialistas é o crescimento da indústria de software em países em
desenvolvimento, como Índia, Irlanda e Israel, que produzem software fundamentalmente
para exportação, e, ao contrário destes, China, Brasil e outros países, em crescimento nesse
mercado, produzem fundamentalmente para o mercado interno.
Embora as indústrias de software mais competitivas estejam sediadas em países
desenvolvidos, elas proporcionam excepcionais possibilidades para o desenvolvimento
1
São recursos (tangíveis) de informática, equipamentos, dispositivos eletrônicos, instrumentos e plataformas necessárias
à geração de produtos e/ou serviços.
2
São os programas de computador, que podem ser definidos como um conjunto de comandos organizados logicamente
em linguagens que o computador possa entender e executar.
128
A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR
econômico e industrial de uma nação em desenvolvimento. Notoriamente, a indústria de
software é líder na criação de empregos e renda, assim como geração de valor adicionado na
economia. (SCHWARE, 1995 apud UNCTAD, 2002, p.1)
A indústria de software no Brasil
A velocidade da disseminação mundial das tecnologias de informação e
comunicação encontrou, no Brasil, caminhos protecionistas, conforme relata Fernandes et
al, (2004, p.10):
As políticas industriais nos anos 70 e 80 foram políticas de proteção da indústria
nacional com a reserva de mercado para hardware. Em 1992, com o fim desta
reserva, a política passou a ser orientada no sentido de aumentar a
competitividade das empresas locais. A Lei 8.248/91 beneficiou mais as
empresas de hardware, com isenção de impostos, principalmente para as
multinacionais produzirem localmente o que seria importado.
Esses incentivos para a indústria tornaram o hardware mais barato, principal
instrumento da indústria de software, o que proporcionou ao Brasil figurar no mercado
mundial de software como o sétimo colocado, crescendo, desde 1995, a uma taxa média
anual de 11%, a maior do setor de Tecnologia da Informação (TI), cerca de cinco vezes
maior do que a taxa de crescimento do PIB – Produto Interno Bruto. No período entre
1991 e 2001, a participação do segmento de software como percentual do PIB, mais do que
dobrou, passando de 0,27% para 0,71%. (MIT; SOFTEX; W-CLASS, 2003).
No Brasil, existe um grande volume de empresas nacionais que atuam no mercado
de software e algumas em parceria com empresas multinacionais ligadas aos grupos produtores
de software em escala mundial. Essas empresas, em sua maioria, têm características de pequena
ou microempresa, normalmente, sem capacidade para competir neste mercado. Com a
finalidade de estruturar o setor, o governo federal definiu, em dezembro de 2003, a inclusão
do segmento de software na PITCE – Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior
-, dando status, a esta indústria, de pilar dos quatro setores estratégicos da economia nacional.
Isto se configurou como um marco legal regulador para o desenvolvimento da indústria de
software no país.
Segundo a Pesquisa Anual de Serviços (PAS) do IBGE (2006), o segmento de
serviços de informática foi responsável por 18,5% do total da receita dos Serviços de
tecnologia da Informação. Dentre as atividades dos serviços de informática, o setor que
mais contribuiu para geração de receita foi a atividade de desenvolvimento de software que
129
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
somados aos desenvolvidos para um cliente particular ou de prateleiras, representaram
38,6% do segmento de informática. Ainda, a pesquisa relata que o serviço de desenvolvimento
de software pronto para o uso e software desenvolvidos sobre encomenda figuram na décima
e décima primeira posição, respectivamente, no ranking, entre os 20 maiores serviços de
tecnologia da informação. Muitos relatórios de pesquisa propõem que o Brasil busque uma
marca para diferenciar seus produtos para exportação, no intuito de competir com a mãode-obra barata e qualificada da Índia, por exemplo. (FERNANDES, et al, 2004). A Tabela
1 permite verificar a atividade e a participação dos produtos/serviços da receita do segmento
de informática no Brasil, em 2004.
Tabela 1 - Participação dos produtos/serviços da receita do segmento de informática no
Brasil - 2004
Atividade
1. Desenvolvimento, edição e licenciamento de software prontos para uso
inclusive de representação
2. Serviços de processamento de dados
3. Outsourcing
4. Serviços de manutenção e reparação
5. Outros serviços de informática
6. Desenvolvimento de software sob encomenda ou específico para o cliente
7. Sistema de informação
8. Venda de software de prateleira, computadores, peças e suprimentos não
produzidos pela empresa
9. Outros serviços de consultoria
10. Outros serviços e atividades
%
19,4
15,0
10,8
7,8
3,6
19,3
9,6
8,9
3,2
2,6
Fonte: Pesquisa Anual de Serviços (PAS) 2003-2004 do IBGE (2006)
Conforme a Pesquisa Anual de Serviços (PAS) 2003-2004 do IBGE (2004), dos
321,8 bilhões de reais, 102,4 bilhões são correspondentes aos serviços de Tecnologia da
Informação (TI), ou seja, aproximadamente 31,8% do montante total da receita operacional
líquida, gerada pela atividade de serviços. Gerando 46,6 bilhões de valor adicionado, que
correspondem a 29,3% do total gerado pelos serviços no Brasil, em contrapartida, gerou
somente 6,28% dos postos de trabalho de serviços no país. Estas informações reforçam o
alto valor agregado do setor de tecnologia da informação por meio da de elevada capacitação
do capital humano e da utilização de recursos tecnológicos em detrimento ao volume de
mão-de-obra.
130
A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR
Aspectos regionais e a indústria de software de Maringá
A cidade de Maringá foi criada como distrito em 10/05/1947; tornou-se município
em 14/11/1951. Localiza-se a uma distância de 423,6 km da capital do estado e possui uma
área terrestre de 486,4 km2 (IPARDES, 2005). Após três décadas do declínio do café e
presenciando um vigoroso crescimento demográfico, a comunidade do noroeste do Paraná
diversifica sua economia regional. Com o objetivo de incrementar sua competitividade, em
1998, Maringá é oficializada como sede da Região Metropolitana, definida pelo conglomerado
dos seguintes municípios: Maringá, Sarandi, Paiçandu, Mandaguaçu, Marialva, Mandaguari,
Iguaraçu e Ângulo. Os municípios da Região Metropolitana de Maringá - RMM - somaram
uma população estimada, em 2006, de 542.668 habitantes e o PIB (Produto Interno Bruto)
total, em 2003, foi de R$ 4.018.845.196,00, apresentando um PIB per capita médio de R$
7.481,00.
As raízes do setor de software, em Maringá, certamente estão ligadas à implantação
do Curso Técnico de Nível Superior em Processamento de Dados na UEM - Universidade
Estadual de Maringá, em 1974, de acordo com a Resolução nº 29/74-CEP, de 22/10/1974.
O Cesumar – Centro Superior de Ensino de Maringá -, no início da década de 1990, institui
o curso de Processamento de Dados contribuindo, também, para formação de profissionais
para esse mercado. (GUALDA, et. al. 2006).
Em 2006, a Universidade Estadual de Maringá contava com o curso de graduação
e de mestrado em Ciências da Computação, contribuindo de forma relevante para o
desenvolvimento do setor de software. Nestes anos que se passaram, muitos profissionais
foram capacitados e lançados no mercado, contribuindo para a formação de um aglomerado
produtivo de software no município de Maringá. Os agentes institucionais favoreceram o
processo de criação deste aglomerado: o Centro Softex Gênesis de Maringá (CSG), criado
em 1996, e a INFOMAR – Incubadora Tecnológica de Maringá- (ONG), criada em 2000
no campus da Universidade Estadual de Maringá, com o apoio de entidades como IEL Instituto Euvaldo Lodi; SEBRAE-PR – Serviço de Apoio a Pequena Empresa no Paraná;
TECPAR - Instituto de Tecnologia do Paraná; e agências de desenvolvimento da cidade.
(GUALDA, 2006)
Vários órgãos foram parceiros e apoiadores de ações para o desenvolvimento do
setor, como a ACIM – Associação Comercial e Empresarial de Maringá; a CODEM Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá; o SEBRAE-PR - Serviço de Apoio
à Micro e Pequena Empresa do Paraná, fornecendo consultoria e instrução empresarial
para as micro e pequenas empresas, inclusive do setor de software. O NEXTI - Núcleo de
131
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Excelência em Tecnologia da Informação, organização fundada em 2003, tem representado
os interesses das empresas do setor de software de Maringá.
É importante destacar os órgãos fomentadores e instituidores de políticas públicas
que muito contribuem para o fortalecimento do aglomerado produtivo de software de Maringá,
como o CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, a
Fundação Araucária, IDR – Instituto para o Desenvolvimento Regional e a PMM – Prefeitura
Municipal de Maringá.
Partindo do CNAE - Classificação Nacional de Atividades Econômicas - foram
identificadas, em 2006, por meio do sistema municipal de tributação, 97 empresas3 com
atividades econômicas ligadas ao grupo de informática e serviços relacionados, direta ou
indiretamente, às atividades do setor de software.
Em 2005, a partir dos relatórios de Identificação, da caracterização, da construção
de tipologia e apoio na formulação de políticas para os arranjos produtivos locais (APLs)
do Estado do Paraná do IPARDES4 foi caracterizado, em Maringá, o APL embrionário de
software, identificando, neste aglomerado produtivo, variáveis como, apoio institucional ao
arranjo, atividade inovadora prioritária para PITCE - Política Industrial, Tecnológica e de
Comércio Exterior - do governo federal, e um aglomerado produtivo relevante para o
estado e o país. (IPARDES, 2006)
De acordo com o SEBRAE-PR regional de Maringá, representantes do setor, em
2007, perceberam a necessidade de um órgão representativo para o local, a fim de favorecer
o desenvolvimento de um vetor avançado de software. Aproximadamente, doze empresas do
setor engajadas no NEXTí - Núcleo de Excelência em Tecnologia da Informação e fundaram
neste mesmo ano, com o objetivo de definirem-se estratégias e buscarem competitividade
no mercado de software e tecnologia da informação, o APL de software de Maringá..
INSTITUCIONALISMO E ORGANIZAÇÕES
Nos estudos institucionalistas, destaca-se o trabalho de Meyer e Rowan (1977),
denominado Institucionalized organizations: formal structure as myth and cerimony, que lançou
luzes sobre o desenvolvimento da teoria em relação à perspectiva sociológica da compreensão
dos papéis simbólicos das estruturas formais. A análise destes estudos tinha como premissa
a afirmativa de que as estruturas formais podem ser “[...] revestidas de significados
3
4
132
Empresas cadastradas no Sistema Municipal de Tributação em novembro de 2006.
Etapa 3 - Caracterização estrutural preliminar dos APL´s pré-selecionados e nota metodológica para os estudos de caso
A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR
socialmente compartilhados e então, além das funções ‘objetivas’, podem servir para informar
o público tanto interno quanto externo sobre a organização.” (KAMMERS, 1977 apud
TOLBER; ZUCKER, 1998, p.200)
A formação desses arranjos é verificada por meio de uma premissa teórica onde
elementos simbólicos compartilhados socialmente (mitos ou cerimônias) podem exercer
ação, tanto interna como externamente, sobre as organizações, objetivando a busca de
sobrevivência organizacional, conforme esquema da figura 1.
ELABORAÇÃO DE
MITOS INSTITUCIONAIS
RACIONALIZÁVEIS
C O N F OR M ID A D E
OR GA N IZ AC ION A L
C OM M IT O S
IN S T IT U C IO N A I S
SOBREVIVÊNCIA
EFICIÊNCIA
ORGANIZACIONAL
LEGITIMIDADE
E RECURSOS
Figura 1 – Sobrevivência Organizacional
Fonte:adaptado de Meyer e Rowan (1977), In: Dimmagio e Powell (1991, p. 53)
Para Selznick (1996, p. 271), a institucionalização deve ser compreendida como a
emergência de padrões de interação e de adaptação das organizações em resposta ao ambiente,
de maneira que “[...] precisamos saber quais valores interessam em um contexto determinado;
como são construídos na cultura e na estrutura social da organização.”
A proposta de Scott (1995) possibilita delinear o conjunto de conceitos. Os pilares
propostos por ele, adotados por vários autores, são o normativo, regulador e cognitivo. O
pilar regulador é definido como processos sociais pelos quais se estabelecem regras de
comportamento monitoradas que orientam condutas e direções. Estas regras são definidas
por intermédio de sanções que podem atribuir recompensas ou punições. Isto envolve
mecanismos informais e difusos, entre eles, afastar os transgressores ou condicioná-los ao
julgamento de atores específicos, como fiscais do governo, polícia e juízes. Verifica-se certa
racionalidade em suas decisões, analisando o custo/benefício e determinando uma ação
com base nos pressupostos da sanção, mesmo sabendo que a transgressão possa proporcionar
benefício próprio.
O pilar normativo determina a existência de “[...] regras que introduzem uma
dimensão relacionada a prescrições, avaliações e obrigações na vida social” e se constituem
por valores e normas que são definidos como “[...] concepção do preferido ou desejável,
133
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
junto com a construção de padrões aos quais os comportamentos ou estruturas existentes
podem ser comparados e avaliados” (SCOTT, 1995, p.37), partilhando de um conceito
comum de como as coisas devem ser feitas. Estas condutas distinguem-se claramente do
pilar regulativo, pois os comportamentos não são condicionados a uma racionalidade
instrumental, e sim da condutas dos atores em agirem de acordo com tendências de um
grupo social, com o intuito de serem reconhecidos como adequados ao processo.
Para o autor, o pilar cognitivo fundamenta-se por “[...] regras que estabelecem [para
os atores relevantes] a natureza da realidade e das estruturas através das quais os significados
são produzidos” (SCOTT,1995, p.45). A forma de interpretar o mundo natural e social,
orientado por símbolos, representações, crenças, é que institui as linhas de ação e associações
entre os atores, enfatizando as “[...] estruturas comuns de significado” que são compostas
pela cultura no sentido mais genérico e que estabelecem regularidades do comportamento
social em paralelo com conhecimentos e rotinas especificas desse contexto.
Estes três pilares, definidos por Scott (1995, p.33), sustentam a definição de
instituição proposta por ele:
[...] instituições consistem em estruturas e atividades cognitivas, normativas e
regulativas que proporcionam estabilidade e sentido ao comportamento so,cial.
As instituições são transportadas por vários portadores – culturas, estruturas
e rotinas – e estes operam em níveis múltiplos de jurisdição.
As ênfases e as escolas ilustrativas nos mais variados níveis, que servem como
prelúdio dos estudos sobre os três eixos ou pilares, vistos como “componentes vitais de
instituições” propostos por Scott (1995, p.34), podem ser verificadas no Quadro 1:
Ênfase
Base da submissão
Mecanismos
Lógica
Indicadores
Base de legitimação
Regulativo
Utilidade
Coercitivo
Instrumental
Regras, leis e sanções
Legalmente sancionado
Pilares institucionais
Normativo
Obrigação legal
Normativo
Adequação
Certificação e Aceitação
Moralmente governado
Cognitivo
Aceitação de pressupostos
Mimético
Ortodoxa
Predomínio e isomorfismo
Culturalmente sustentado,
conceitualmente correto
Quadro 1 – Variações de ênfase: três pilares institucionais
Fonte: adaptado (nossa tradução) de Scott (1995, p. 35)
Partindo de uma apreciação analítica, conforme demonstra a figura 2, e utilizandose do arcabouço teórico na perspectiva dos níveis de análise e dos pilares institucionais de
Scott (1995), verifica-se que as interpretações não são excludentes entre si, mais sim
134
A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR
percepções que proporcionam a compreensão de possibilidades distintas de cada fenômeno.
(MACHADO-DA-SILVA; GONÇALVES, 1998).
Pilares
Níveis
Mundial
Normativo
Regulativo
História
econômica
Sociologia
Neo-Institucional
Societário
Campo
Organizacional
Institucionalismo
histórico em
ciência política
Cognitivo
Sociologia
das instituições
tradicionais
População
Organizacional
Ecologia
Populacional
Organizacional
Teoria
evolucionista na
economia
Subsistema
Organizacional
Novo-institucionalismo
na economia
Etno-metodologia
Figura 2 – Pilares institucionais e variação de níveis: escolas ilustrativas
Fonte:adaptado (nossa tradução) de Scott (1995, p. 39)
Tolber e Zucker (1998) discutem a dinâmica de institucionalização e os estágios
deste processo. Esta vertente teórica ganhou relevância a partir de trabalhos realizados
dentro do campo da fenomenologia, passando a ser interpretado como um processo que
cria e gera vínculos duradouros entre atores participantes de um grupo, tendo como fase
final a formação da instituição por meio de ações habituais entre atores deste grupo. As
ações dos atores são desenvolvidas e compartilhadas empiricamente ao longo do tempo,
com o objetivo de resolver problemas comuns dos atores deste grupo. Tais ações
proporcionam associações de conceito, vinculadas aos atores participantes desse grupo,
tornando-se conceitos generalizáveis, ou seja, independente do ator que realiza a ação.
Segundo Tolber e Zucker, (1998), três processos sequenciais são evidenciados no processo
de institucionalização: habitualização, objetivação e sedimentação
A Habitualização é o termo desenvolvido para caracterizar ações tornadas
habituais pelos autores da fenomenologia. Oriundo do inglês Habitualization, é classificado
135
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
como um estágio de pré-institucionalização, momento no qual os arranjos estruturais são
formados em razão de problemas específicos recorrentes na organização ou de problemas
semelhantes de um grupo de organizações.
A Objetivação envolve o desenvolvimento do grau de consenso social relativo,
em função da teorização, e envolve a adoção da estrutura em formação na organização ou
entre organizações, normalmente articulado por um champion5, que encoraja o processo de
objetivação com interesse material na estrutura e que normalmente surgem quando existe
um mercado potencial para inovação, proporcionado por mudanças tecnológicas, forças
competitivas de mercado e mudanças de legislação. Quando as estruturas estão
consideravelmente disseminadas atingimos o estágio de semi-institucionalização.
A Sedimentação caracteriza-se pela disseminação das estruturas pelo grupo de
atores identificados como adotantes adequados aos arranjos estruturais, podendo atingir,
eventualmente, a disseminação completa na maior amplitude observada desse arranjo,
atingindo a total institucionalização. O estágio de total institucionalização pode ocorrer se
existir uma baixa resistência de grupos de oposição, promoção e apoio de grupos de interesse
e correlação positiva por meio dos resultados desejados. A Figura 3 apresenta a sequência
explicitada anteriormente e as forças causais inerentes em várias fases do processo de
institucionalização.
LEGIS LAÇÃO
MUDANÇAS
TECNO LÓGICAS
FO RÇA S DO
ME RCADO
INOVAÇÃO
HABITUALIZAÇÃO
MO NITORAMENTO
INTERORGA NIZACIO NAL
C HAM PION
SEDIMENTAÇÃO
OBJET IFICAÇÃO
TEORIZAÇÃO
IMPACTO S
POS ITIV OS
DEFESA DE G RUPO
DE INTERESS E
RESISTÊNCIA
DE G RUPO
Figura 3 – Processos inerentes à institucionalização
Fonte:adaptado de Tolber e Zucker (1998, p. 207)
Champion é a liderança laboriosa que luta por uma causa de um grupo; defensor assíduo de uma ideologia assimilada pelo
grupo que pertence.
5
136
A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR
O quadro 2 demonstra os argumentos detalhados anteriormente sobre as
características e consequências dos processos que compõem a institucionalização,
considerando as variáveis visualizadas no processo.
Dimensão
Processos
Características dos adotantes
Ímpeto para difusão
Atividade de teorização
Variância na Implementação
Taxa de fracasso estrutural
Estágio
pré-institucional
Habitualização
Homogêneos
Imitação
Nenhuma
Alta
Alta
Estágio
semi-institucional
Objetificação
Heterogêneos
Imitativo/normativo
Alta
Moderada
Moderada
Estágio de total
institucionalização
Sedimentação
Heterogêneos
Normativa
Baixa
Baixa
Baixa
Quadro 2 – Estágios de institucionalização e dimensões comparativas
Fonte:Tolber e Zucker (1998, p. 211)
Durante os três estágios do processo de institucionalização, existem certas ações
restritivas por partes dos adotantes do processo nas ações para homogeneização dos
interesses de grupo e adaptação ao mundo exterior, ato este que é tratado pelos autores da
teoria institucional como “isomorfismo”. “As organizações não competem somente por
recursos e clientes, mas por poder político e legitimação institucional, por adequação social,
assim como por adequação econômica.” (DIMMAGIO ; POWELL, 2005, p.77).
Segundo Dimmagio e Powell (2005), são três as situações pelas quais as mudanças
isomórficas acontecem: Isomorfismo coercitivo, mimético e normativo.
• Isomorfismo coercitivo: derivado de influências políticas e busca de legitimidade. Resulta
de pressões informais interorganizacionais dependentes e pela esperança cultural da
sociedade em que estas organizações figuram. Tais pressões podem ser interpretadas
pelos adotantes do processo como coerção, persuasão ou um convite a uma colusão.
• Isomorfismo mimético: reação ao mercado: em condições de incerteza, os adotantes
condicionam as respostas padronizadas. Isto pode ser proporcionado por metas ambíguas
ou incerteza de algumas organizações, que passam a tomar como modelo outras
organizações, como resposta a estas incertezas.
• Isomorfismo normativo: associado à normatização de profissões, que se interpreta
como uma defesa coletiva dos ideais comuns aos membros ligados a uma determinada
profissão, com o objetivo de estabelecer bases ideais para a legitimação de sua atividade
laboral.
O processo de institucionalização fortalece os laços entre atores que compartilham
de uma estrutura e ainda dependem de ações de agência. O conceito de agência, segundo a
teoria institucional, historicamente teve início na esfera do sobrenatural, isto é, totalmente
137
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
descolada do mundo social e humano; deuses e forças metafísicas sustentam a agência, que
para além do mundo físico, controla e conforma a vida individual e coletiva do homem. Em
um momento posterior, temos a correlação entre a agência e o homem e a consolidação da
sociologia como ciência. Após a dominação da teoria sociológica, esta percepção da agência
cai em desuso. A agência torna-se parte indissociável das ações dos indivíduos, no momento
em que é humanizada e socializada.
Giddens (1989) afirma que estruturas sociais e, em consequência, regras, normas
e padrões de cognição na verdade devem ser considerados tanto como limitadores, quanto
como habilitadores da ação, nunca como apenas um ou outro. E o processo de
institucionalização, se considerado o seu estado recursivo, não pode ser plenamente
assimilado sem que a ação possa ser um agente do desenvolvimento. A teoria institucional
reforça esses argumentos ao enfatizar os valores, símbolos e mitos que orientam as
organizações e, assim, o ambiente que as rodeiam, favorecendo o compartilhamento de
experiências e recursos com o objetivo de aumentarem a competitividade. Portanto, essa
abordagem compreende a história e as funções sociais das organizações, criadas e mantidas
em razão do grau de legitimidade e institucionalização que são capazes de adquirir.
O modelo apresentado por Beckert (1999) apresenta dois estados em um processo
de equilíbrio dinâmico de institucionalização e desinstitucionalização, proporcionados pela
agência estratégica de empreendedores fundamentada em interesses. A figura 4 demonstra,
de forma simplificada, a ação dos empreendedores como agência estratégica nesta dinâmica,
em que, impulsionados por interesses, destroem instituições existentes, gerando incerteza,
impulsionando a necessidade da criação de estabilidade gerencial na busca da criação de
embeddedness - enraizamento -, ocorrendo de forma cíclica.
Os argumentos de Beckert (1999) enfatizam o papel ativo de empreendedores
que buscam mudar regras institucionalizadas para atingir seus interesses, favorecendo-se de
pressões existentes em estruturas institucionalizadas, buscando um ambiente
metainstitucional que o encoraja a iniciar mudanças. Segundo Beckert (1999), se entendermos
as influências mútuas de forças de mercado, expectativas taken for granted6, legitimação e
poder, talvez possamos compreender porque decisões em contextos econômicos são de
mercados dirigidos e regras dirigidas.
6
Sob a perspectiva sociológica, consiste numa realidade socialmente construída que acaba sendo aceita como verdade e
possui legitimidade.
138
A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR
Criação de
Embeddedness
Criação de
Oportunidades
Estratégicas
Instituições
Empreendedor
Gerente
Incerteza
Necessidade
de criação
de estabilidade
Destruição de
Instituições
Figura 4 - O modelo dinâmico de interesses e instituições
Fonte: adaptado de Beckert (1999, p. 788)
Oliver (1990) identificou as razões (condicionantes do relacionamento) como
causas e contingências que induzem à formação de aglomerados produtivos e ao
estreitamento entre os laços das organizações. São os condicionantes que as incitam a
estabelecerem relações de reciprocidade, e ocorrem sob condições ligadas a aspectos
ambientais e interorganizacionais. As contingências podem promover ou dificultar o
estabelecimento deste relacionamento. A autora propõe seis condicionantes generalizáveis
como contingências do relacionamento ente as empresas.
Estas contingências são: necessidade legal; assimetria, reciprocidade, eficiência,
estabilidade e legitimidade. Elas estão em consonância com as razões porque as organizações
optam por se relacionarem, sem deixar evidenciar que elas podem ocorrer mutuamente ou
concorrentemente entre os adotantes do processo. Partindo de uma perspectiva
organizacional, as contingências (condicionantes do relacionamento) explicam as razões
específicas pelas quais determinam ou limitam o relacionamento entre organizações, podendo
serem interpretados também sobre o contexto interorganizacional, ou seja, entre unidades
da mesma organização maior ou também entre indivíduos de nível hierárquico operacional.
Os condicionantes desse relacionamento, segundo Oliver (1990) são: necessidade legal -
139
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
interação não voluntária, Assimetria, Reciprocidade, Eficiência, Estabilidade ou
Previsibilidade e Legitimidade - interação voluntária.
A Necessidade legal sinaliza que as organizações podem definir um processo
de relacionamento com outras organizações, buscando atender normatizações e
regulamentações impostas por órgãos fiscalizadores e reguladores, como agências
governamentais, legislação peculiar e conselhos de representação do setor, que, diante de
incertezas, buscam o relacionamento interorganizacional como resposta a situação criada,
o que naturalmente poderia não ocorrer.
A Assimetria é determinada pela interação entre as empresas e é proporcionada
pelo desejo de exercer o poder ou o controle sobre uma organização ou seus recursos. Em
contraposição à visão de que a escassez de recursos impulsiona a ação coletiva e cooperada,
a relação de exercer o poder sugere que as relações interorganizacionais sejam estimuladas
pela busca de algumas organizações em controlar outras organizações que necessitam de
recursos proporcionados pela escassez do mesmo.
A Reciprocidade surge em oposição à Assimetria. Os impulsionadores da
reciprocidade concentram-se na cooperação e na ação coletiva coordenada e orientada em
detrimento do poder. Partindo dessa premissa, o relacionamento acontece pela busca de
objetivos e interesses comuns entre organizações e geralmente é caracterizado pela simetria
e equidade entre os adotantes do processo. Essas ações ocorrem quando os limites da
organização são mais abertos ao ambiente e quando as organizações reconhecem as
necessidades comuns, além da oportunidade física caracterizada normalmente pela
proximidade geográfica .
A Eficiência advém de ações coordenadas de grupo e o impulsionador desta
contingência é o esforço das organizações em maximizarem o valor do produto ou serviço,
por meio de relações que favoreçam a transação de insumos e serviços. Essa concepção de
condicionante do relacionamento interorganizacional pactua com a teorização de custos de
transação de Williamson, que propõe que as organizações buscam eficiência por transações
internas ou externas, por estruturas intermediárias (relacionamento interorganizacional) ou
via mercado. Nota-se que as percepções empíricas e teóricas dos autores sobre este
condicionante são incipientes no que tange à relação com outros condicionantes, como
necessidade, poder, reciprocidade e outras contingências. (OLIVER, 1990).
A Estabilidade ou previsibilidade é destacada pela maioria da literatura que
analisa relações interorganizacionais. É caracterizada como variável observada no
condicionamento das relações entre empresas, a incerteza com relação ao ambiente. Isto
gera uma resposta de adaptação, que normalmente é iniciada pela escassez de recursos e
140
A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR
pela incapacidade de identificar as variações do ambiente. Essa incerteza faz com que a
organização se relacione com outras organizações, com o objetivo de atingir estabilidade
ou previsibilidade com relação ao futuro. Por meio desta estratégia, as organizações procuram
prevenir ou antecipar-se às incertezas, por trocas confiáveis de recursos, proporcionadas
pelo relacionamento.
A Legitimidade está associada às pressões sobre as organizações, advindas do
ambiente institucional, impulsionando os adotantes do processo a buscar legitimidade, com
o objetivo de justificar suas atividades e seus resultados. Esse condicionante do
relacionamento interorganizacional - também observado na literatura de Dimmagio e Powell
(2005) como isomorfismo mimético - pode ser interpretado pelos adotantes do processo
como coerção, persuasão ou um convite a um conluio, com a intenção de aumentar sua
reputação, prestígio ou melhorar sua imagem no ambiente institucional. As referências na
ação de inter-relacionamentos para aumentar a legitimidade são as organizações interpretadas
pelos adotantes do processo como possuidoras de um nível de legitimidade maior que o
dos outros. (OLIVER, 1990).
Partindo do arcabouço teórico que sustenta o tema sobre a teoria institucional e
os condicionantes do relacionamento organizacional, nota-se que poucos conseguiram ser
tão específicos como Oliver (1990) em determinar variáveis generalizáveis para verificação
empírica das relações interorganizacionais. Apesar de sua especificidade em apontar os
condicionantes do relacionamento interorganzacional, observa-se, na literatura, outro
condicionante, não explicitado por Oliver (1990), que é a oportunidade social. Apesar de
não fazer parte da conjectura desta pesquisa, é pertinente destacar que a oportunidade
social é gerada por contatos ou conhecimentos anteriores, decorrente de amizade, da
participação em comum em outras organizações como clubes, igrejas e associações. Essa
percepção condiciona ações econômicas advindas dos laços sociais nas estruturas em que
estes adotantes estão inseridos. (GRANOVETTER, 1985).
AÇÕES INSTITUCIONAIS E O PROCESSO DE FORMAÇÃO DE UM
APL EMBRIONÁRIO DE SOFTWARE DE MARINGÁ
Os procedimentos metodológicos envolvem a aplicação dos instrumentos de
pesquisa (entrevistas gravadas e transcritas e questionários) e a coleta de dados secundários
e documentos históricos referentes às informações do embrião de Arranjo Produtivo de
Software de Maringá. Verifica-se a presença de dois grupos de empresa: o primeiro, constituído
por empresas com maior grau de interação e que, a partir de 2003, passam a constituir o
141
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
NEXTi; e o grupo Outras, que pode ser beneficiado com a crescente interação empresarial.
A análise dos condicionantes do relacionamento interorganizacional e do processo de
institucionalização do embrião de APL, entre 1998 e 2007, é realizada à luz da teoria
institucional das organizações e da contribuição de Oliver (1990).
Caracterização do processo de formação do APL de software de Maringá
Segundo Gonçalves (2006), a gênese do processo de criação do setor de informática
em Maringá ocorreu com a aquisição de equipamentos de hardware pela Universidade Estadual
de Maringá, no início da década de 1970. Em 1974, houve a aprovação do curso de Técnico
de Nível Superior em Processamento de Dados da UEM, e o início da primeira turma
ocorreu em 1975. Esse ano foi o marco histórico, o ponto inicial do processo de expansão
do setor de informática e software na região. O processo de aglomeração das empresas de
software de Maringá foi acelerado pela ação das empresas reunidas no NEXTI, conforme
revelou a análise da documentação e de informações coletadas pelos autores do presente
artigo, junto à sociedade civil organizada e o processo histórico culminado na criação do
APL de Software de Maringá.
O processo de expansão do setor ganhou força em 1977 com a implantação da
CETIL, empresa de processamento de dados na época. Em 2007, a empresa atua no
desenvolvimento e na comercialização de software para gestão pública e realiza projetos de
modernização de grandes bancos e cooperativas agroindustriais da região, como COCAMAR,
de Maringá, e COAMO, de Campo Mourão, investindo em hardware e software.
Yamada (2007) reforça que praticamente todas as empresas de desenvolvimento
de software de Maringá têm raízes na CETIL, por meio de colaboradores que trabalharam na
CETIL e saíram, ou em busca de melhores salários, ou visando empreender. Bueno (2007),
gerente da Infomar – Incubadora Tecnológica de Maringá - destaca que não foi somente a
formação de mão-de-obra que impulsionou o setor em Maringá. Outro ponto importante
destacado por ela foi a entrada dos PC´s e a utilização de software pelas empresas, que
direcionou as organizações do setor a fazer ajustes em suas estruturas funcionais. O processo
de downsizing aconteceu primeiramente nas grandes empresas e gradualmente foi se
espalhando para as médias e pequenas empresas de diversos setores que, segundo Bueno
(2007), iniciou-se no final da década de 1980.
Yamada (2007) (diretor da NEXTi - Núcleo de Excelência em Tecnologia da
Informação e empresário do setor), Davanço (2007) (consultor da Câmara Setorial de
Informática da ACIM e CODEM e diretor da Dacon Consultoria Empresarial) e Bueno
142
A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR
(2007) são unânimes em indicar a Universidade Estadual de Maringá, a ACIM, a Incubadora
Tecnológica de Maringá e o SEBRAE/Maringá como os principais agentes que possibilitaram
a formação do APL embrionário de software em Maringá. Entretanto, Yamada (2007) destaca
o papel da CETIL, empresa de processamento de dados criada em 1977, como formadora
de mão-de-obra e detonadora de parte do processo.
Em 1999, o governo estadual lança o Programa Paraná Classe Mundial (WClass), coordenado pelo TECPAR – Instituto Tecnológico do Paraná - , fomentado
pelo BRDE - Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul - e promovido pela
Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná que tinha
como premissa proporcionar às empresas paranaenses, alta capacidade competitiva
para padrões internacionais, determinando um conceito denominado “classe mundial”.
Gonçalves (2006) reitera que, neste contexto, muitas instituições de apoio ao setor
foram criadas, como redes para geração de novos empreendimentos, associações de
apoio a comercialização e qualidade, e cadeias estratégicas para divulgação do conceito
classe mundial.
Gonçalves (2006) relatou ainda que o SEBRAE-PR entrou como parceiro do
governo estadual para aplicação da metodologia do W-Class, regionalmente. Em Maringá,
com o objetivo de participar do projeto, aderiram representantes do meio acadêmico,
ligados à Universidade Estadual de Maringá, empresários mediados por técnicos do
SEBRAE-PR, tendo sido realizado na regional de Maringá um Workshop do Setor de
Informática em 24/09/1999, com o objetivo de fortalecer o grupo na região.
Esse momento, para a teoria institucional, segundo Tolber e Zucker (1998),
configura o estágio pré-institucional, ou seja, o processo da habitualização, no qual os
arranjos estruturais começam a ser formados, recorrentes de situações e problemas,
semelhante a um grupo de organizações. Nesse caso, ele é proporcionado por uma
nova legislação (política pública específica) e pelas forças do mercado, em que o ímpeto
para difusão é meramente imitativo e a taxa de fracasso estrutural é alta.
Gonçalves (2006) ainda destaca, que frente ao risco de perder todo esforço
anterior, o Sr. Sérgio Yamada - sócio-proprietário da Sérgio Yamada Computação,
empresa com atividade econômica proporcionada pela venda de software e cursos de
informática fundada em 01/09/1995 - mobiliza alguns empresários do setor, com o
intuito de juntos formarem uma organização não-governamental em 2003, o NEXTí Núcleo de Excelência em Tecnologia da Informação. Presidida pelo Sr. Sérgio Yamada,
a organização busca estruturar o setor de software de Maringá, desenvolvendo-o como
um aglomerado produtivo caracterizado como embrião de APL, com potencial para
143
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
transformar-se emvetor avançado, com o objetivo de implementar parâmetros de
governança, ainda no ano de 2007. Em 2007, o NEXTi representa 12 empresas7 do setor
de software de Maringá e sua ação é promover eventos de capacitação aos adotantes do
processo e assessorá-los na participação de editais de concorrência.
Yamada (2007) acredita que a NEXTi é o grande marco institucional do
fortalecimento de laços entre as empresas desenvolvedoras de software. O lançamento da
governança para o APL de software de Maringá foi realizado no dia 30/03/2007, às 16h, no
Centro de Convenções do Shopping Aspen Park, com articulação política da NEXTi. Na ocasião,
foi formalizado um protocolo de implantação da ASSESPRO Associação das Empresas
Brasileiras de Tecnologia da Informação Software e Internet, em Maringá entre o representante
da NEXTi e o representante da ASSESPRO no Paraná.
Partindo dos conceitos de Tolber e Zucker (1998), com a criação do NEXTi, o
processo de institucionalização avançou, alcançando o estágio de semi-institucionalização
ou objetivação, em que existe um certo grau de consenso social em função da teorização e
adoção da estrutura em formação entre as organizações, encorajado por um dos champions,
identificados, neste processo, como o Sr. Sérgio Yamada que articulou a criação do NEXTi.
O quadro 3 sintetiza as informações coletadas junto aos representantes de
instituições participantes do processo, como agentes, e à pesquisa documental sobre o
setor; reúne a cronologia do desenvolvimento da indústria de software de Maringá.8
A identificação do APL embrionário de software sugere o processo de objetivação
e os impactos positivos gerados por essa identificação, assim como a defesa do grupo de
interesses proporcionada pela NEXTi, que, para Tolber e Zucker (1998), são acontecimentos
que precedem o terceiro estágio no processo de institucionalização que, pela disseminação
das estruturas pelo grupo de atores identificados como adotantes do processo, favorecem a
total institucionalização. Essa constatação poderá ser reforçada por meio da análise dos
resultados do CRI – Condicionantes do Relacionamento Interorganizacional.
O levantamento histórico fornece subsídios importantes para caracterizar o
processo de formação do Arranjo Produtivo Local de empresas de base tecnológica do
setor de software da região.
7
As empresas participantes da NEXTI são: DB1 Informática, Publisoft Informática, Virtuashop Sistemas, ID Brasil
Sistemas, Process Informática, SG Sistemas, Benner Saúde, Insula TI, Cerprosoft Informática, Sub 100 Brasil, WRA
Sistemas e Hotsoft..
8
Desenvolvido de acordo com o documento do Anexo 4, relatos de representantes instituições participantes do processo
e histórico do setor.
144
A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR
Ano
1970
1975
1977
1978
1980
1983
1983
1985
1986
1987
1988
1991
1992
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2002
2003
2005
2006
2007
Evento
Universidade Estadual de Maringá já tinha instalações de hardware.
Iniciou-se a primeira turma do curso Técnico de Nível Superior em Processamento de Dados da
Universidade Estadual de Maringá
Instalação, em Maringá, da CETIL, empresa especializada em processamento de dados na época
Primeira formatura do curso Técnico de Nível Superior em Processamento de Dados da Universidade
Estadual de Maringá e a instituição da disciplina de informática em outros cursos
Chegada dos primeiros microcomputadores (PC´s – Personal Computer) a Maringá
Chegada dos primeiros PC´s – Personal Computer padrão XT a Maringá (CETIL e UEM) e a realização da
primeira semana de informática na Universidade Estadual de Maringá
Início da expansão de empresas como COCAMAR – Cooperativa Agroindustrial de Maringá e COAMO –
Cooperativa Agroindustrial de Campo Mourão, buscando novas tecnologias de controle.
Início do desenvolvimento de software na região
Realização do primeiro curso de pós-graduação em informática, realizado pela Universidade Estadual de
Maringá
Introdução na Universidade Estadual de Maringá da Bitnet - Because It's Time Network, criada em 1981. É
uma rede educacional internacional que liga computadores de universidades e institutos de pesquisa no
mundo.
Início do curso de ciências da computação na Universidade Estadual de Maringá, e indícios da realização de
downsizing nas empresas de Maringá, impulsionadas pela chegada dos PC´s e pelo desenvolvimento de
software na região.
Início da primeira turma do curso de processamento de dados na CESUMAR – Centro de Ensino Superior
de Maringá, instituição de ensino superior privado.
Empresários do setor organizam-se para negociação com o vereador Emerson Nerone para redução da
alíquota de ISS.
Introdução da Internet na Universidade Estadual de Maringá e a instituição do projeto Informatize
(SEBRAE) que visava distribuir software de controle às pequenas empresas.
Surgem provedores de internet oferecendo serviços à região; realização do primeiro FITEM – Fórum de
Informática e Tecnologia de Maringá, pela UEM.
Criação da câmara setorial de informática na Associação Comercial e Industrial de Maringá; surgimento em
Maringá do SOFTEX - Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro - e o nascimento do
Projeto Gênesis - Geração de Novos Empreendimento em Software.
Primeira turma do Projeto Gênesis e a articulação para estruturação da incubadora tecnológica de Maringá;
introdução da disciplina de empreendedorismo no departamento de informática da Universidade Estadual
de Maringá.
Início do projeto para curso de mestrado em ciências da computação; implantação do Bacharelado em
Informática na UEM; primeiras reuniões de empresários para fortalecimento do setor de informática em
Maringá, mediadas pelo Sebrae-Pr regional de Maringá.
Graduação do primeiro grupo de empresas do Projeto Gênesis; instituição, pelo governo estadual, do
Projeto Paraná Classe Mundial – W-Class; realização de um Workshop de Informática pela comunidade
acadêmica e empresários mediados pelo Sebrae-PR, com o objetivo de participarem do programa W-Class;
última turma formada do curso de Técnico em Nível Superior em Processamento de Dados da UEM
Criação da INFOMAR – Incubadora Tecnológica de Maringá (ONG)
Instituição do curso de Mestrado em Ciências da Computação na Universidade Estadual de Maringá; fim
do Programa W-Class do governo estadual; extinção do curso Técnico em Nível Superior em
Processamento de Dados da UEM, conforme Ata 155 de 27/06/2002.
Criação da Ong - NEXTI - Núcleo de Excelência em Tecnologia da Informação
Identificação pelo IPARDES – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social de um
Arranjo Produtivo Local, embrionário de Software na RMM- Região Metropolitana de Maringá
Publicação do estudo de Gualda et. al.(2006), que caracteriza o aglomerado produtivo de software de
Maringá como um embrião de Arranjo Produtivo Local, confirmando o resultado do IPARDES.
Lançamento de parâmetros de governança para o APL de software de Maringá e protocolo de intenções para
implantação em Maringá da ASSESPRO - Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da
Informação Software e Internet
Quadro 3 - Cronologia do desenvolvimento da indústria de software de Maringá
Fonte: Elaborado pelos autores, com base no documento do Workshop de Informática,
entrevistas e análise documental.
145
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
O processo de formação do APL de softwares de Maringá: evidências
empíricas
Por meio das análises de dados documentais, entrevistas e notícias da época, que
demonstraram um processo de formação do aglomerado produtivo à luz da teoria
institucional e conforme as premissas de Tolber e Zucker (1998), nota-se que o processo
pré-institucional ou de habitualização fica caracterizado diante dos problemas semelhantes
enfrentados pelos adotantes do processo, como busca de incentivos fiscais municipais,
busca de fomento junto aos órgãos estaduais e federais e a necessidade de certificação dos
seus produtos. Nesse período, houve várias tentativas de aproximação entre estes empresários;
SEBRAE, UEM e ACIM atuaram como mediadores.
O setor teve um crescimento importante desde seu início na região, em 1970,
com a Universidade Estadual de Maringá adquirindo equipamentos de hardware. Durante
todo este processo, tivemos a implantação de cursos acadêmicos de graduação e pósgraduação específicos para área, dando um suporte relevante de mão-de-obra qualificada
para o setor. O processo de downsizing nas empresas locais impulsionou o setor no final da
década de 1980, possibilitando a criação de várias empresas desenvolvedoras de software
para abastecer a demanda criada por esse processo.
Neste novo contexto, percebe-se a necessidade de objetificação impulsionada
pelos champions no processo verificado como os participantes da NEXTi, que encorajam o
processo de formalização com interesse material na estrutura e normalmente surgem quando
existe um mercado potencial para inovação, proporcionado por mudanças tecnológicas,
forças competitivas de mercado e mudanças de legislação. (TOLBER; ZUCKER, 1998)
Caracterizadas as forças institucionais que posicionam o processo entre
habitualização e objetificação, passando do estágio pré-institucional, meramente imitativo
para o estágio de semi-institucionalização, mais normatizado e menos imitativo, verifica-se
o momento de iniciação da passagem de um embrião de APL de software para um APL de
software com características de vetor avançado.
As entrevistas realizadas junto às entidades representativas do setor apontam que
os principais articuladores do processo são os integrantes do NEXTi. Também se procurou
identificar o processo de institucionalização e seu grau de evolução, por meio dos
condicionantes do relacionamento interorganizacional. Verificou-se que necessidade legal
é um condicionante identificado como importante para 70% da estratificação da amostra
correspondente ao NEXTi, e para 55% da estratificação da amostra, correspondente ao
Externo, estando de acordo com Oliver (1990). Para a instituição de governança, este
146
A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR
condicionante se faz importante por buscar por meio de ações formais entre as empresas,
atender a normatizações, a regulamentações de órgãos fiscalizadores e a agências
governamentais, ganhando capacidade de negociação política e favorecendo a busca de
recursos para o setor. Neste caso, observa-se, diante dos resultados, que os champions do
processo deverão esclarecer para os adotantes do processo, principalmente para os que não
fazem parte da NEXTi, a importância de se relacionarem em busca de necessidade legal.
A Assimetria é proporcionada pelo desejo de exercer o poder ou o controle sobre
uma organização ou seus recursos. Foi apresentado por 73,3% das observações da amostra.
Este alto índice de observações sobre este condicionante traduz o papel ativo do potencial
empreendedor observado neste, setor que instiga os empreendedores a direcionarem e
mudarem as regras institucionais para que atinjam seus interesses, criando expectativas
taken for granted9, que traduz a realidade socialmente constituída pela legitimação e pelo
poder. Esta consideração é reforçada pelo maior percentual verificado entre os condicionantes
percebido em Legitimidade, com 90% das observações da amostra. Esta realidade social
que os empreendedores deste aglomerado produtivo buscam constituir, por intermédio da
Assimetria (Poder) e da Legitimidade, à luz dos preceitos de Berger e Luckmann (1985),
apresenta-se como uma realidade objetiva para os sujeitos, de forma recursiva, e é constituída
de forma subjetiva por relações cotidianas, proporcionando um processo de
institucionalização e socialização.
Com um percentual de 83,3%, a Reciprocidade destacou-se como um dos
principais condicionantes o aglomerado produtivo, contrapondo a relação Assimetria e
Legitimidade, como foi observado anteriormente. Entretanto, este índice é encorpado pela
estratificação da amostra correspondente ao NEXTi, que verificou 100% das observações
como um condicionante importante para o relacionamento interorganizacional, o que reforça
uma consciência cooperativa mais acentuada por parte da estratificação, indicando o grupo
como principais articuladores para implantação de parâmetros de governança neste
aglomerado produtivo.
Outro indicativo de que este embrião de APL se encaminha para o vetor avançado
é que o condicionante Eficiência é importante para 83,3% dos entrevistados da amostra,
demonstrando a necessidade das organizações, por meio dos empreendedores relacionaremse, com o intuito de agregar valor ao serviço através da minimização dos custos de transação.
Aliado à aceitação do condicionante Reciprocidade, percebe-se a necessidade destes
empreendedores se prepararem regionalmente para serem competitivos e flexíveis em suas
Sob a perspectiva sociológica, consiste numa realidade socialmente construída que acaba sendo aceita como verdade e
possui legitimidade.
9
147
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
estruturas, possibilitando a adaptação aos prováveis movimentos de base do mercado que
deterioram suas ações estratégicas, normalmente proporcionados pela dependência de
recursos e insumos mais baratos de outras regiões, fator primordial para o desenvolvimento
de um vetor avançado.
A aplicação de políticas públicas para fortalecimento institucional e a prática do
empreendedorismo na formação deste aglomerado produtivo, no período compreendido
entre 1998 e 2007, foram incipientes nas três esferas políticas: municipal, estadual e federal.
Na esfera federal, por se tratar de um setor que envolve alta tecnologia a orientação, o
intuito é direcionar recursos públicos para projetos que tenham foco em projetos e pesquisas
aplicadas, não equacionando a distribuição destes recursos de acordo com a importância do
setor para região e sua vocação, principio fundamental para o fortalecimento de potenciais
arranjos produtivos locais.
Na esfera estadual, a mudança de conduta política e a interrupção de alguns
projetos direcionados como o W-Class, colocaram os empresários do setor em dúvida quanto
ao desenvolvimento de uma proposta de desenvolvimento regional para o setor. Na esfera
municipal, pouco foi feito neste período, mostrando-se a mais incipiente de todas em ações
de políticas públicas. Apesar deste cenário, observado no período de 1998 a 2007, percebese uma necessidade do governo municipal e estadual em se unirem para consolidarem o
setor, o que favorece este momento de passagem de embrião para um APL software,
constituído e reconhecido.
No que tange à análise organizacional, verifica-se que o APL embrionário de
software de Maringá encontra-se na fase de objetivação. As organizações competem por
recursos e clientes, por poder político e legitimação institucional, por adequação social e
econômica. (DIMMAGIO ; POWELL, 2005). O estágio semi-institucional revela que os
integrantes da governança (participantes da NEXTi) e os outros integrantes apresentam
estímulos diferenciados para o relacionamento interorganizacional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A discussão dos condicionantes do relacionamento interorganizacional permitiu
verificar a evolução do processo de institucionalização do aglomerado produtivo de Maringá.
Verificou-se que os principais articuladores do processo eram integrantes do NEXTi e a
estratificação da amostra contemplou a análise dos principais champions do processo de
institucionalização do embrião de APL de software: empresas que apresentavam maior
propensão à inovação e ao risco, frente à média de empresas do setor.
148
A indústria de software e o processo de formação do APL de software de Maringá-PR
Um condicionante importante para processo de institucionalização do APL de
Software foi a necessidade legal. A instituição de governança parte desse condicionante,
pois as ações formais entre as empresas precisam atender normatizações, regulamentações
de órgãos fiscalizadores e agências governamentais, ganhando capacidade de negociação
política, favorecendo a busca de recursos para o setor. Os champions do processo têm
esclarecido os seus adotantes, principalmente para os que não fazem parte da NEXTi,
acerca da importância de se relacionarem e de sua necessidade legal.
A assimetria sinaliza um papel ativo do potencial empreendedor observado neste
setor que instiga empreendedores a direcionarem seus esforços para a mudança das regras
institucionais, no objetivo de atingir seus interesses, criando expectativas taken for granted,
que traduzem a realidade socialmente constituída pela legitimação e pelo poder. São
reforçadas as relações do cotidiano, proporcionando um processo de institucionalização e
socialização. A eficiência demonstra a necessidade dos empreendedores se relacionarem,
com o intuito de agregar valor ao serviço por meio da minimização dos custos de transação.
A assimetria e a eficiência, aliadas à aceitação do condicionante reciprocidade,
sinalizam a necessidade dos empreendedores de se prepararem para a ampliação da
competitividade regional e nacional, flexibilizando suas estruturas e adaptando-se aos
prováveis movimentos de base do mercado que deterioram suas ações estratégicas,
normalmente proporcionadas pela dependência de recursos e insumos mais baratos de
outras regiões, fator primordial para o desenvolvimento de um vetor avançado.
Sob um ponto de vista prático, o estudo sugere o fomento de informações em
todo o embrião de APL de software de Maringá, para que se estabeleça um ambiente favorável
à gestão empreendedora das empresas em um ambiente de governança. Adicionalmente,
ficam expectativas de que o compartilhamento de informações com o NEXTi auxilie os
champions do processo na constituição de um ambiente institucionalmente estável, para a
construção de um aglomerado produtivo articulado e competitivo no âmbito nacional e
internacional. O compartilhamento do diagnóstico desse processo com seus agentes pode
determinar ações para o aperfeiçoamento e aprimoramento deste aglomerado produtivo.
No que tange ao processo de institucionalização, a análise da ação dos agentes
integrantes do APL embrionário de software e das demais empresas que podem ser
beneficiadas revela que o mesmo encontra-se na fase de objetivação.
149
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
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150
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151
Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná
INTRODUÇÃO
As aglomerações de agentes econômicos, políticos e sociais que operam em
atividades correlatas estão localizadas em um mesmo território e apresentam vínculos de
articulação, interação, cooperação e aprendizagem, oficialmente conhecidas como Arranjos
Produtivos Locais (APL). Estes têm se tornado objetos de políticas públicas por parte de
diferentes esferas de governo, bem como agentes privados, instituições de apoio e órgãos
de financiamento. Tais políticas visam à melhoria das condições locais para o crescimento
das empresas, a atração de investimentos, o desenvolvimento tecnológico e o aumento das
exportações, almejando claros impactos positivos na geração de emprego e de renda locais.
No Paraná, a atividade de desenvolvimento de software vem recebendo atenção de
diversas instituições por meio de políticas de apoio aos APL‘s.1 A Secretaria de Estado do
Planejamento e Coordenação Geral (SEPL) e o Instituto Paranaense de Desenvolvimento
Econômico e Social (IPARDES) realizaram e vêm realizando estudos sobre os APL no
Estado do Paraná. A partir da metodologia apresentada por Suzigan et al. (2004) e sob a
orientação dos próprios autores do texto, foram selecionadas 22 aglomerações produtivas
no Estado, incluindo nessa soma as aglomerações de empresas de software.
No presente artigo argumenta-se que a abordagem de Arranjos Produtivos Locais
(industrial clusters) não seria a mais apropriada para caracterizar as atividades de
desenvolvimento de software. Todavia, o setor pode se beneficiar do recente “modismo”
envolvendo APL, quando entendido como uma política local ou regional de apoio ao
desenvolvimento tecnológico, melhoria da competitividade e do potencial inovativo das
empresas.
O software caracteriza-se como uma atividade intrinsecamente inovativa, intensiva
em tecnologia, com tendência à concentração espacial e fortemente influenciada por aspectos
institucionais específicos, o que significa contar com importantes instituições de apoio às
Em dezembro de 2004, foi estruturada a Rede Paranaense de Apoio aos Arranjos Produtivos Locais (Rede APL Paraná),
com o objetivo maior de articular e organizar a interação das diversas instituições de promoção dos APL em termos de
captação de recursos, solução de entraves, concepção, estruturação e implementação de planos, estudos e projetos de
desenvolvimento empresarial e territorial.
1
155
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
empresas e de políticas públicas para o seu crescimento. Por essa razão, a atividade de
software é um exemplo quase paradigmático da economia moderna, na qual o recurso
fundamental passa a ser o conhecimento. Há uma importância crescente de formas coletivas
de aprendizado (redes de interações) e de cumulatividade, entendidos como elementos
críticos da competitividade e como organização espacial das atividades econômicas.
Nesse sentido, o enfoque da geografia inovativa mostra-se mais adequada à
investigação sobre o fenômeno da aglomeração de empresas de software e, também, como
referencial teórico para a proposição de políticas públicas. Nessa abordagem, o espaço é
lócus do desenvolvimento econômico endógeno, isto é, o espaço é redefinido, constituindose no conjunto de recursos característicos relativamente imóveis e até mesmo intangíveis
de uma região ou local, como por exemplo, a base de conhecimento local, as habilidades da
mão-de-obra, suas instituições e infraestruturas tecnológicas e organizacionais.
Estudos recentes realizados no Paraná (SEPL-IPARDES, 2005; 2006)
demonstraram a importância dos ativos institucionais, notadamente instituições de ensino
na área de informática, e a importância do impulso propiciado por políticas públicas para o
desenvolvimento da atividade de software em diferentes partes do Estado. O Paraná possui
o mais antigo e um dos mais importantes núcleos da SOFTEX (Sociedade Brasileira para a
Promoção e Exportação de Software), marco do desenvolvimento dessa atividade no país.
Nesse artigo, apresentamos casos de dois locais em níveis bastante diferentes de
desenvolvimento produtivo: Curitiba e o Sudoeste do Paraná.
As políticas locais de apoio ao desenvolvimento de software, nos moldes das políticas
de apoio aos APL, são viáveis. Entretanto, sob a perspectiva do aumento da competitividade
das empresas brasileiras nos mercados internacionais de software, por meio do
desenvolvimento de soluções inovadoras, o impacto de ações locais pode ser relativamente
exíguo, caso não sejam associado às políticas setoriais mais amplas.
SOFTWARE E POLÍTICA DE APOIO AOS ARRANJOS PRODUTIVOS
LOCAIS
O fenômeno da concentração geográfica e setorial de produtores especializados
vem sendo estudado por diferentes correntes teóricas e denominações distintas (distritos
industriais, clusters industriais, aglomerações de micro e pequenas empresas, arranjos
produtivos locais, sistemas locais de produção e sistemas locais de inovação). No Brasil, o
termo APL ganhou notoriedade para descrever os sistemas locais de produção, notadamente
156
Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná
industriais e, em razão da ausência na agenda nacional de uma política industrial, a arena
para a execução de políticas de desenvolvimento industrial e tecnológico ficou circunscrito
ao espaço local dos APL’s.
Mas, se desenvolvimento de softwares não é uma atividade industrial, como é possível
se beneficiar de políticas para APL? A resposta é que software é diferente.
As atividades de software são transversais e abrangentes, integrando-se às mais
diversas cadeias produtivas e significando uma parcela cada vez mais relevante das atividades
de P&D dessas cadeias.
Arora et al. (2001) observam que é crescente o uso do software como uma
ferramenta para incorporar conhecimento e expertise de diversas áreas e setores, ficando
difícil distinguir o software como um produto (vendido ou licenciado para outras empresas
ou para usuários finais), como componente (vendido para outras empresas ou embarcado
em sistemas mais complexos) ou o software como conhecimento e tecnologia incorporada.
Softwares são produtos intangíveis, frutos do conhecimento e de produtos de criação
intelectual que, diferentemente de outros produtos intelectuais, requerem a colaboração de
seus usuários na definição de suas características. Quando entendido como produto, ainda
que o software também seja valorado pelo que faz, diferentemente de outros bens
manufaturados, não possui custos unitários de produção e está totalmente dependente de
uma infraestrutura para execução de suas funções no ambiente em que será aplicado.
O software e sua infraestrutura representam um sistema de informação que pode
ser decomposto em muitas peças e unidades internas, chamadas de módulos que, geralmente,
são ofertados por diferentes vendedores, com distintos termos de propriedades. Geralmente,
uma empresa não oferece todas as peças e módulos que formam o sistema de informação.
Diferentes componentes são feitos por diferentes fabricantes, ampliando consideravelmente o
papel dos componentes complementares e da compatibilidade perante todo o sistema. A
dependência da tecnologia da informação em sistemas significa que as empresas têm de levar em
conta a formação de alianças e o cultivo de parceiros como garantia de compatibilidade.
Da mesma forma como a informação, o software é usualmente protegido por
direitos autorais (copyright), baseando sua propriedade não em termos de sua possessão
física, mas sim em termos de propriedade intelectual. A principal característica da informação
é que ela é cara de produzir, mas barata para reproduzir. Em termos microeconômicos, a
produção de um bem da informação envolve altos custos fixos e baixíssimos custos marginais.
No caso da informação digital, esta pode ser copiada com perfeição e transmitida
instantaneamente em volta do mundo pela internet, o que implica a necessidade de alguma
forma de gestão da propriedade intelectual da informação para garantir sua produção.
157
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
(SHAPIRO; VARIAN, 1999). Mas, diferente da informação pura, o software pode ser
registrado como uma invenção patenteada.
Geografia da inovação
Diferentemente de uma empresa industrial, uma importante especificidade da
atividade de desenvolvimento de softwares decorre do fato de que os clientes, fornecedores
e parceiros de uma pequena empresa podem estar localizados em uma parte distante do
planeta e, ainda assim, interagirem numa velocidade praticamente instantânea. Por outro
lado, ainda que a informação possa ser espalhada ao redor do mundo na velocidade da
internet, o mesmo não ocorre com o conhecimento. Considerando o conhecimento como
o recurso fundamental na economia moderna e que ele é gerado e transmitido de forma
mais eficiente via proximidade geográfica, devido ao seu caráter tácito, então o processo de
aprendizado localizado torna-se extremamente relevante. (ANTONELLI, 1999).
Como o aprendizado pode ser realizado via fontes internas ou externas à firma,
sendo, dessa forma, dependentes de interações e fortemente influenciados por contextos
econômicos, sociais e institucionais e por políticos específicos da localidade, também possui
caráter coletivo, está localizado e possui especificidades em seus processos (cumulativo e
dependente da trajetória).
Dessa forma, quando os processos de aprendizado são somados à existência de
spillovers de conhecimento, vários autores encontram evidências empíricas de que atividades
econômicas inovativas, baseadas em novo(s) conhecimento(s), têm alta propensão a
aglomerar-se em regiões geograficamente delimitadas, criando especializações locais.
(AUDRETSCH; FELDMAN, 1996; BRESCHI; MALERBA, 2001). É nesse sentido que a
literatura, conhecida como a Geografia da Inovação, pode oferecer importantes insights na
formulação de políticas públicas locais para as aglomerações de empresas de desenvolvimento
de softwares.
Breschi e Malerba (2001) sintetizam alguns pontos centrais da relação entre
geografia da inovação e a aglomeração da atividade econômica (economic clustering): a) o
aprendizado ocorre por meio da operação em redes e da interação, incluindo relações
produtor-usuário, colaborações formais e informais, mobilidade de trabalhadores qualificados
entre empresas e spin-offs; b) o processo de aprendizado coletivo é potencializado quanto ao
grau de imersão (embeddedness) das empresas locais na densa rede de intercâmbio de
conhecimentos, facilitadas por normas, convenções, códigos de domínio comum e por
instituições que constroem confiança e estimulam relações informais entre os agentes; c) a
disponibilidade de um conjunto de recursos de uso comum, tais como universidades,
158
Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná
instituições de pesquisa, centros tecnológicos e ampla oferta de trabalhadores qualificados
e especializados, contribuem para reduzir custos e incertezas associados às atividades
inovativas. A proximidade geográfica potencializa esses efeitos quando combinada com um
aparato institucional, organizacional e técnico que favoreça o aprendizado coletivo.
Políticas locais para o desenvolvimento de software
Apesar de o desenvolvimento de software não ser uma atividade estritamente
industrial, mesmo sob a ótica de uma política industrial, da qual o apoio ao desenvolvimento
de APL seria apenas um componente, essa atividade é considerada de extrema importância.2
Software tem um caráter transversal relativamente a outras atividades econômicas, sendo um
elemento estratégico na geração de competitividade para as empresas. Por esse motivo, não
se poderia desprezar essa atividade no âmbito de políticas locais de desenvolvimento da
produção.
Software consiste em uma atividade intrinsecamente inovativa e intensiva em
tecnologia, com tendência à concentração espacial e fortemente influenciada por
instrumentos institucionais específicos de fomento para sua emergência e consolidação.
Desta forma, políticas de apoio aos APL não são excludentes em relação ao software, pelo
contrário, iniciativas como o estímulo à formação e à organização de uma governança local,
o fortalecimento de instituições de ensino, a ampliação de cursos na área técnica e a criação
de centros tecnológicos poderiam beneficiar as empresas de software de uma localidade,
estimulando os chamados “vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem”
que caracterizam um sistema local de produção.
Por essa razão, o trabalho desenvolvido pela Secretaria de Planejamento do Paraná
e pelo Ipardes incorporou o segmento de software nas políticas de apoio aos APL do Estado.
Por meio da aplicação da metodologia de Suzigan et al (2004), baseada em dados da Relação
Anual de Informações Sociais (RAIS) Ministério do Trabalho e Emprego, complementados
pelos microdados do Cadastro de Informações Fisco-Contábeis da Secretaria da Fazenda
do Estado do Paraná (Sefa-PR), o estudo apontou 4 possíveis aglomerações do setor de
software no Estado (SEPL-IPARDES, 2005).3
A Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) do governo federal, lançada oficialmente em março
de 2004, considerou o setor de software como um dos itens prioritários, juntamente com os setores de semicondutores, bens
de capital, fármacos e medicamentos.
3
No caso das “atividades de software”, foram selecionadas quatro classes da Classificação Nacional de Atividades Econômicas
(CNAE): Classe 7210 - Consultoria em hardware; Classe 7221 - Desenvolvimento e edição de softwares prontos para uso;
Classe 7229 - Desenvolvimento de softwares sob encomenda e outras consultorias em software; e Classe 7240 - Atividades
de banco de dados e distribuição on-line de conteúdo eletrônico.
2
159
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Figura 1 – Aglomerações de empresas de software no Paraná
Fonte: Elaboração dos autores.
Segundo essa metodologia, as aglomerações de software de Maringá e do Sudoeste
(Pato Branco, Dois Vizinhos e Francisco Beltrão) foram classificadas como embriões,
enquanto Londrina e Curitiba foram classificados como vetores avançados.4
DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARES NO PARANÁ
No Paraná, as raízes do desenvolvimento das atividades que atualmente recebem
a alcunha de tecnologia da informação e comunicação (TIC) estão associadas ao processo
de desconcentração espacial da atividade econômica, especialmente durante dos anos de
1970, marcados pelos grandes investimentos estatais do II Plano Nacional de
Desenvolvimento, principalmente nos setores de petroquímica, energia e comunicações,
bem como a política de atração do capital multinacional, notadamente pela criação da Cidade
Industrial de Curitiba (CIC).5
Segundo Cunha (1995), a criação da CIC representa, de fato, um marco decisivo,
pois, pela primeira vez, empresas multinacionais localizadas na fronteira tecnológica
4
Os “vetores avançados” são aquelas aglomerações com importância setorial elevada, mas pouca importância para a
região, “[...]encontram-se diluídos num tecido econômico muito maior e mais diversificado, ou seja, embora sejam importantes
para o setor, o desenvolvimento econômico regional não depende deles de uma forma tão pronunciada” (SUZIGAN et al.,
2004). Já os embriões “[..]reúnem aglomerações com potencial para o desenvolvimento, mas ainda pouco importantes para
o setor e região.” (SEPL-IPARDES, 2005, v.1, p.21).
5
Para maiores informações sobre os antecedentes históricos do processo de industrialização e diversificação produtiva no
Paraná, veja Cunha (1995), Passos (1999), Trintin (2001), Verri & Gualda (2001), Macedo et al (2002) e Farah Jr. (2004)
160
Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná
instalaram-se no estado. Isso, no médio prazo, viria a representar um impulso tanto para
instalações de outras grandes empresas estrangeiras, quanto para o surgimento de firmas
nacionais altamente competitivas e ainda representaria um realinhamento das atividades
rumo ao novo paradigma tecnológico microeletrônico e de informação e comunicação.
Nessa nova fase, a partir dos anos de 1980, foram importantes as políticas estaduais e
municipais e um novo arranjo institucional, com ênfase no apoio ao desenvolvimento
científico e tecnológico.
Em âmbito nacional, Roselino (2006) atribui às políticas públicas um importante
papel na formação da indústria brasileira de software, que, inicialmente, desenvolveu-se junto
à indústria de hardware. A Política Nacional de Informática, instituída nos anos de 1980,
garantia reserva de mercado para a quase totalidade dos produtos e serviços, relacionados
às atividades de informática, protegendo o similar nacional no desenvolvimento de sistemas
de informática no país. (ROSELINO; GARCIA, 2003).
A criação de empresas de software começou a acontecer de forma dissociada dos
projetos de hardwares somente com a Nova Lei de Informática (Lei número 8.248/91), que
instituiu o fim da reserva de mercado6 e possibilitou às micro e pequenas empresas ocuparem
o espaço deixado pelo desinteresse do capital privado nacional.7 Com efeito, as empresas
nacionais privadas desenvolveram-se basicamente para atender demandas específicas da
estrutura produtiva doméstica, consolidando a presença em mercados que não eram
inicialmente atendidos por empresas estrangeiras.
Ainda que o setor tenha menos de duas décadas de existência, dados do
documento do MIT-SOFTEX (2003) indicam, numa comparação mundial, a dimensão
relevante do mercado nacional de software e mostram que esse mercado cresceu no
período 1995-2001 a uma taxa média anual de 11%, com uma representativa
concentração nas regiões sudeste e sul.
Essa informação é corroborada na Tabela 1, pelos dados de estabelecimentos da
RAIS (ano-base 2004), a partir da qual é possível identificar a importância relativa do estado
do Paraná para atividade de TIC. Além da concentração geográfica, verifica-se ainda uma
Também foram criados incentivos fiscais para a indústria de informática, mas, dessa vez, exigindo contrapartidas em
investimentos em P&D de no mínimo 5% da receita líquida das empresas beneficiadas.
7
Segundo Stefanuto (2004), nesse período, muitas empresas foram originadas a partir de spin-offs de empresas de hardware
ou a partir de grandes usuários, caracterizados pelo desenvolvimento de softwares in house. Este formato teve importantes
implicações gerais no processo de produção de software no Brasil. O autor cita o surgimento de uma atividade empreendedora
em software desprovida de cultura integradora, a escassa capacidade de estabelecimento de laços cooperativos, a baixa
inserção externa da indústria brasileira de software e, por fim, a elevada fragmentação regional da produção de software no
país. Por exemplo, em Dois Vizinhos (PR), a empresa pioneira do setor originou-se a partir do processo de terceirização de
atividades de uma grande empresa alimentícia do município, que incluiu o setor de processamento de dados daquela
unidade.
6
161
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
elevada correlação entre estabelecimentos em classes de atividade econômica relacionadas
com software8 e com as relacionadas com as atividades de TIC.
Tabela 1 - Distribuição do número de estabelecimentos* entre as unidades da federação,
por atividades de software e por atividades em Tecnologia da Informação e Comunicação
(TIC)
Total das Atividades de Software
Unidade da
Federação
São Paulo
CLASSE 7210
CLASSE 7221
CLASSE 7229
CLASSE 7240
Consultoria em
hardware
Desenvolvimento
e edição de
softwares prontos
para uso
Desenvolvimento de
softwares sob
encomenda e outras
consultorias
Ativ. de banco de
dados e distribuição
on-line de conteúdo
eletrônico
Estab.
%
Estab.
%
Estab.
%
Estab.
%
Estab.
%
Estab.
%
1.524
37
740
36
236
35
468
39,3
80
34
10.843
36
Rio de Janeiro
539
13
328
16
52
7,8
131
11
28
12
3.041
10
Minas Gerais
Rio Grande do
Sul
407
9,8
202
9,7
80
12
109
9,2
16
6,8
2.999
10
325
7,8
152
7,3
53
7,9
108
9,1
12
5,1
2.512
8,4
Paraná
291
7
129
6,2
59
8,8
74
6,2
29
12
2.253
7,5
Santa Catarina
279
6,7
80
3,9
81
12
102
8,6
16
6,8
1.807
6
Outros Estados
800
19
441
21
106
16
198
16,6
55
23
6593
22
4.165
100
2.072
100
667
100
1190
100
236
100
30.048
100
Total
* Estabelecimentos que obtiveram, ao longo de 2004, pelo menos um vínculo empregatício formal.
** De acordo com a correspondência entre a CNAE 1.0 e a ISIC/CIIU Rev.3, o conjunto das atividades TIC
seriam: 3011, 3012, 3021, 3022, 3130, 3210, 3221, 3222, 3230, 3320, 3330, 516, 6420, 7133 e 72.
Fonte: RAIS 2004. Elaborada pelos autores.
Com base nos dados da RAIS, foi possível estabelecer um ranking nacional,
indicando que apenas 55 dos 5.561 municípios brasileiros possuíam 10 ou mais
estabelecimentos voltados ao desenvolvimento de software e com algum vínculo empregatício
formalizado, sendo 4 no Paraná. Isso indica a significância, em termos relativos nacionais,
da ocorrência de uma aglomeração de empresas de cunho notadamente tecnológico.
No estado do Paraná, o crescimento das atividades de software, tanto em Curitiba,
quanto no sudoeste do Estado, pode ser atribuído basicamente às políticas públicas de
fomento (Programa de Informática Industrial, Lei de Informática, SOFTEX e W-Class) e
8
Como o levantamento das informações da RAIS, é feita a partir dos registros administrativos dos estabelecimentos, sendo
a atividade econômica (CNAE) declarada pelo método da autoclassificação, a escolha das quatro classes CNAE, chamadas
no seu agregado como atividades de Software, baseou-se no fato de que em todas elas seria possível verificar a presença de
atividades de desenvolvimento de software, uma vez que as empresas deste setor, principalmente as pequenas, podem ter
multitarefas.
162
Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná
às redes de apoio às empresas, como as incubadoras tecnológicas, o conjunto de universidades
e instituições de ensino superior, públicas e privadas, e de diversas outras instituições que
compõem um quadro institucional bastante complexo e diversificado de suporte à atividade
de software.
Semelhanças do contexto político e institucional inicial
As aglomerações de empresas de software em Curitiba e no sudoeste do Estado
apresentam características diferentes, a começar pelo número de estabelecimentos. Todavia,
a despeito das diferenças, há um aspecto muito relevante, especialmente no que se refere ao
desenvolvimento desses setores em suas fases iniciais.
Tabela 2 - Estabelecimentos e vínculos empregatícios em 31/12/2004
Sudoeste
Classe
CNAE
7210
7221
7229
7240
Curitiba
Descrição
Consultoria
em hardware
Desenv. de
SW prontos
para uso
Desenv. de
SW sob
encomenda
Processament
o de Dados
Total
Total
Pato Branco
Estabelec. Vínculos
Dois Vizinhos
Estabelec. Vínculos
Francisco Beltrão
Estabelec. Vínculos
Estabelec.
Vínculos
Estabelec.
Vínculos
74
461
3
22
1
49
0
0
4
71
31
195
3
16
2
5
1
2
6
23
30
167
2
11
0
0
1
1
3
12
19
154
77
900
7
15
42
91
1
4
5
59
0
2
0
3
8
175
47
1053
Fonte:MTE/RAIS
No que tange a políticas públicas explícitas para a atividade de software, o marco
da montagem de um núcleo de informática no Estado foi a criação do Projeto de Informática
Industrial (PII), em 1987, que contou com a coordenação do Centro de Integração de
Tecnologia do Paraná - CITPAR9 e com o apoio de outras instituições estaduais, federais
empresariais. Seu objetivo era formar recursos humanos em tecnologia de automação
industrial, devendo gerar massa crítica e um ambiente favorável para a criação de empresas
voltadas ao desenvolvimento de tecnologias e aplicativos para a área de informática industrial.
Entretanto, essa iniciativa só foi possível porque os ativos institucionais
fundamentais para o setor e as instituições de ensino técnico e superior já haviam sido
Sociedade civil, de direito privado, sem fins lucrativos, criada em 1985 com o objetivo de promover o desenvolvimento
tecnológico-industrial das empresas paranaenses.
9
163
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
estabelecidos no estado (nesse caso, entenda-se em Curitiba) anteriormente. As instituições
de destaque em Curitiba, no que diz respeito ao ensino, pesquisa e extensão, são a Pontifícia
Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e o
Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR), que tiveram início,
respectivamente, em 1959, em 1964 com a Escola Técnica de Curitiba e, em 1910, com a
Escola de Aprendizes de Curitiba. No caso específico da UFPR, as duas datas relevantes
para a atividade de software foram a criação do Centro Politécnico em, 1961, e do
Departamento de Estatística e Computação Eletrônica, em 1971.
Por sua vez, na região sudoeste, o marco inicial da atividade de desenvolvimento
de software foi a criação do curso de Tecnologia em Processamento de Dados, na Fundação
de Ensino Superior de Pato Branco (FUNESP), em 1986. O curso formou grande parte
dos empresários pioneiros do setor na região. Em 1994, a FUNESP foi incorporada ao
Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR)10, como Unidade de
Ensino Descentralizada de Pato Branco. Atualmente, essa unidade oferece cursos de
tecnologia em sistemas de informação, manutenção industrial, automação de processos
industriais, administração, matemática, ciências contábeis, entre outros.
No escopo do Projeto de Informática Industrial (PII), foram inaugurados,
inicialmente, cursos de especialização em informática industrial na PUC-PR, que
posteriormente, transferiram-se para o CEFET-PR, quando houve a mudança para o status
de mestrado. (CUNHA, 1995). Essa experiência pioneira, mesmo em nível nacional, foi
fortalecida, em 1989, com a criação da Incubadora Tecnológica de Curitiba (INTEC) nas
dependências do Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR), que é uma instituição de
pesquisa, desenvolvimento e fomento tecnológico do Governo do Estado, localizado na
CIC. A INTEC viabilizou o que hoje talvez seja o principal caso de sucesso brasileiro de
empresa graduada numa incubadora: a Bematech.11
Nos anos de 1990, o setor ganhou novo fôlego com o desenvolvimento de políticas
públicas no estado de forma integrada ao movimento nacional de crescimento da indústria
de informática brasileira, com a Nova Lei de Informática. Em 1992, no intuito de diversificar
o desenvolvimento de tecnologias, não apenas centradas em hardware, foi criado, em Curitiba,
o Centro Internacional de Tecnologia de Software (CITS), entidade civil de direito privado,
sem fins lucrativos, resultante da ação integrada dos governos municipal e estadual, empresas,
O Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR) foi transformado em Universidade Tecnológica
Federal do Paraná (UTFPR) pela lei nº 11.184, de 7 de outubro de 2005.
11
Hoje, essa empresa é líder nacional no segmento de mini-impressoras fiscais e utilizou as estruturas da INTEC para
viabilizar os resultados de uma dissertação de mestrado, realizada no CEFET, na área de automação industrial, por um dos
sócios da empresa.
10
164
Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná
universidades e instituições de pesquisa. Iniciou suas operações, primeiramente, como
escritório junto à Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação, Software
e Internet do Paraná (ASSESPRO-PR).
Porém, o marco mais importante deste processo foi o lançamento do Programa
SOFTEX 2000, uma iniciativa do Ministério de Ciência e Tecnologia, sob a coordenação
do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), que objetivava fortalecer a indústria nacional
de software a partir da promoção da comercialização dos produtos e serviços brasileiros no
exterior.12
O programa foi concebido de forma a funcionar com uma estrutura
descentralizada, a partir da criação de núcleos regionais. Os objetivos gerais de cada núcleo
eram prestar apoio técnico, gerencial e de marketing às empresas associadas, fornecendo
uma estrutura com laboratório compartilhado para o desenvolvimento de software, a partir
de equipamentos adequados, redes corporativas, acesso à internet, bolsas do CNPq,
treinamento, incubação de novas empresas e auxílio na participação em feiras e eventos no
exterior, utilizando tanto recursos próprios, como aqueles alocados pelo programa.
Esses núcleos seriam a expressão da parceria que caracterizava o programa
SOFTEX: setor privado (empresas de software), poder público (secretarias de desenvolvimento
estaduais e/ou municipais) e entidades de ensino e pesquisa. (ROSELINO, 1998).
Por outro lado, o programa exigia contrapartidas locais, normalmente das
prefeituras, nos mesmos montantes de recursos despendidos pelo SOFTEX. No caso
específico de Curitiba, o município sediou o primeiro núcleo do programa, aproveitando,
para isso, a infraestrutura do CITS para abrigá-lo. Em conjunto à Lei de Informática, isso
induziu rapidamente o desenvolvimento das atividades de software na cidade, bem como
fortaleceu o CITS, provendo condições para materializar, no período 1993/94, a construção
de um parque tecnológico, exclusivamente dedicado ao software: o Parque de Software de
Curitiba.13
O programa SOFTEX também teve grande importância em outras regiões do
Estado, como são os casos de Londrina e Maringá. Especificamente na região sudoeste, em
O programa tinha metas ambiciosas, até mesmo irreais, no que concerne à conquista do mercado internacional de
software (conseguir 1% do mercado mundial de software até o ano 2000), mas sua importância como fomento às atividades
de software no país são inquestionáveis.
13
Passados alguns anos, pode-se avaliar que, em razão da forma como foi operacionalizado, o Parque de Software não gerou
as sinergias esperadas, pelo contrário, recuperou a visão tradicional de área industrial, uma vez que foram oferecidos
basicamente incentivos fiscais e terrenos em loteamentos (ativos fixos), o que é claramente incompatível com o investimento
em atividades de software (SAMPAIO, 2006). Além disso, o fato de o Parque de Software localizar-se na Cidade Industrial de
Curitiba (CIC) representa um empecilho, na medida em que grande parte das instituições de ensino superior com cursos na
área de informática localiza-se na região central do município.
12
165
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
1996, teve início o projeto “Pato Branco Tecnópole”, implantado como uma estratégia de
desenvolvimento14, durante a gestão (1997-2000) do prefeito de Pato Branco. Este projeto
aproveitou a estrutura do CEFET-PR, em Pato Branco, e possibilitou a instalação do: a)
Centro Softex Gênesis Empreender: o projeto tinha como objetivo promover novos negócios
na área de desenvolvimento de softwares e consolidar empresas em desenvolvimento,
concedendo auxílio financeiro e material a algumas empresas; b)CETIS (Centro Tecnológico
e Industrial do Sudoeste do Paraná): trata-se não de um parque, mas de um condomínio
tecnológico que atualmente abriga 6 empresas, com atividades que vão do desenvolvimento
de softwares (há uma empresa que opera no modelo de fábrica de Software) à produção de
placas de circuito impresso e componentes eletrônicos. O CETIS também abriga empresas
incubadas, especialmente em fase de aceleração, isto é, voltadas à ampliação de canais de
comercialização; c) Hotel Tecnológico: localizado junto à administração do CETIS, o Hotel
tem como objetivo apoiar estudantes empreendedores em seus primeiros passos, auxiliando
no desenvolvimento do projeto. Atualmente, o Hotel Tecnológico é uma das três fases do
Programa de Incubação de Empresas de Pato Branco (PRINE/PB), que engloba, ainda, a
incubadora Gênesis e a incubadora INTIC.
Por fim, o último marco do setor de software, no âmbito do governo estadual, foi
o lançamento, em 1999, do Programa Paraná Classe Mundial em Software e Comércio
Eletrônico, também conhecido por W-Class. Partindo da constatação de que o estado do
Paraná já possuía os recursos humanos suficientes, tinha uma base industrial importante e
um relativo destaque nas atividades em software, tanto empresarialmente como
academicamente, este programa foi lançado com o objetivo de “elevar o Paraná à Categoria
Classe Mundial em Tecnologia da Informação e Comunicação, com ênfase nas áreas de
Software, Hardware e Telecomunicações”.15 O significado do termo “classe mundial” seria o
de possuir “os mais elevados padrões de competitividade onde quer que seja”, conforme
indica o documento original do programa.
O lançamento do W-Class marcou o auge do software na agenda política estadual.
Foram criadas novas instituições de apoio ao setor, com vários projetos em diferentes
segmentos e municípios paranaenses, visando criar desde redes de excelência à geração de
O projeto estava baseado em três pilares: a) Conhecimento e tecnologia: transformar a cidade de Pato Branco em um
grande centro de inovação, gerando bens e serviços de tecnologia de informação, por meio do conhecimento adquirido
nos centros universitários e institutos de pesquisa; b) Desenvolvimento econômico: promover o crescimento econômico
baseado em produção de tecnologia de ponta; c) Qualidade de vida: ter a qualidade de vida como princípio, trabalhando na
transformação sócioeconômica e cultural por meio de um conceito de avaliação continuada. (SEPL-IPARDES, 2006)
15
W-Class Paraná Classe Mundial em Tecnologia da Informação e Comunicação, relatório de atividades do período junho
de 2000 a dezembro de 2002.
14
166
Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná
novos empreendimentos, consolidação de competências regionais, promoção de soluções
inovadoras, apoio à comercialização e qualidade, criação de identidade digital, introdução
de TIC em cadeias estratégicas, disseminação dos conceitos de classe mundial.16
Devido a sua natureza transversal e abrangente e seu elevado dinamismo em
termos de crescimento, inovação e empreendedorismo, o desenvolvimento de softwares é
uma atividade que reage rapidamente e de forma positiva quando na presença de políticas
de apoio ao setor; por outro lado, também reage rápido na falta dessas políticas, só que de
forma negativa. O período de pouco menos de uma década em que vigoraram importantes
políticas de apoio, como o programa Softex, foi insuficiente para consolidar um vínculo
entre as empresas e as instituições, que poderia estabelecer uma capacidade sistêmica de
inovação e competitividade das empresas de software. Com efeito, a carência de novas políticas
ou da continuidade das previamente existentes desarticulou as relações ainda frágeis de
governança17, especialmente em Curitiba.
Estágios distintos de desenvolvimento e necessidades diferenciadas
A existência de instituições, especialmente as de ensino superior, são determinantes,
juntamente com políticas públicas de apoio, para o surgimento e desenvolvimento inicial da
atividade de software em diferentes localidades. Entretanto, em razão de características
peculiares a cada local, incluindo o próprio contexto institucional existente, o
desenvolvimento do setor ocorre de forma diferenciada, determinando, como consequência,
necessidades diferenciadas.
Dentre as aglomerações de empresas de desenvolvimento de software no Paraná,
certamente Curitiba é o local que apresenta a maior diversificação, como se pode observar
na Figura 2, o que vem a validar a caracterização dessa aglomeração como um vetor avançado.
A inexistência de uma especialização, em termos dos segmentos atendidos, é uma tendência
do setor, com empresas diversificadas oferecendo não apenas produtos, mas também uma
gama de serviços correlatos e outsourcing em TI.
O programa tinha metas muito ambiciosas e sem definição clara de prioridades. Desta forma, acabou durando menos
tempo do que o esperado e os seus resultados são alvos de certas polêmicas provenientes, principalmente, do elevado grau
de politização do tema software no Paraná.
17
Governança é entendida como a capacidade de coordenação e comando que certos agentes, como empresas e instituições,
podem exercer sobre as interrelações produtivas, comerciais, tecnológicas, políticas e culturais dentro de um sistema de
produção local, que, portanto, podem, de alguma forma, ser decisivos no desenvolvimento de tal aglomeração especializada
de empresas (SUZIGAN; FURTADO; GARCIA, 2003).
16
167
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Segmento de Mercado
Principal *
Número de
empresas **
Aeroespacial
1
Automação Comercial
2
Automação Industrial e
Embarcados
8
Bancário/Financeiros
2
Banco de Dados e
Gerenciamento Eletrônico de
Documentos (GED)
5
Consultoria, Outsourcing e
Desenvolvimento de Sistemas
17
Educacional
Games
2
6
Geoprocessamento
1
Gestão – ERP (Entreprise Resource
Planning)
37
Integração de Sistemas
5
Telecomunicações
Transito
2
4
Total
92
Figura 2 - Mapa de distribuição do número de empresas identificadas na aglomeração
produtiva de software de Curitiba, por bairros e por segmento principal de mercado, no
ano 2004
* Pelo fato de as empresas, normalmente, atuarem em mais de uma atividade (desenvolvimento, serviços e
consultoria, banco de dados, páginas na Internet), bem como em diferentes segmentos de mercado, pode
mudar este quadro consideravelmente ano a ano.
** Empresas identificadas em relação ao segmento principal de mercado de cada uma, bem como sua localização
geográfica nos bairros do município de Curitiba.
Fonte: Sampaio (2006).
168
Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná
Naturalmente, o grande número, a diversificação de atividades e a desconcentração
espacial das empresas nos bairros de Curitiba são fatores de complexidade que dificultam a
coordenação dos interesses comuns do setor no município.
O principal desafio para o desenvolvimento das empresas de software em Curitiba
é exatamente a formação de uma governança, que possibilite a aglutinação de demandas e
necessidades comuns e, consequentemente, o crescimento conjunto das empresas, tanto
no mercado doméstico, quanto no exterior.
O contexto institucional atual é uma consequência da súbita interrupção das
políticas públicas para o setor que resultou numa base frágil para ações cooperadas, crise
financeira nas incubadoras tecnológicas e perda de ação coordenadora por parte do CITS,
instituição que deveria assumir um papel chave na construção da governança.18
Por isso, caso se pretenda estabelecer em Curitiba as condições para o
desenvolvimento de um sistema inovativo, é fundamental o reordenamento dos papéis de
instituições presentes que possibilitem a construção da confiança e o estímulo de relações
informais entre os agentes, como sugerem Breschi e Malerba. (2001).
Com relação à disponibilidade de recursos de uso comum, como universidades,
instituições de pesquisa e à oferta de trabalhadores qualificados e especializados, que é
outro elemento importante em um sistema de inovação, as bases já estão estabelecidas em
Curitiba. No levantamento realizado por Sampaio (2006), para o caso específico da
infraestrutura de ensino e tecnologia, pôde-se identificar, a partir de dados do Instituto de
Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), 32 instituições de ensino superior,
com cerca de 74.280 alunos matriculados em 2002, sendo 17 delas oferecendo cursos
relacionados ao setor de software (Ciência da Computação, Engenharia da Computação,
Sistemas de Informação e Informática).
Para o segundo caso, pode argumentar que a atividade de software no Sudoeste do
Paraná (nos municípios de Pato Branco, Francisco Beltrão e Dois Vizinhos) encontra-se
num estágio mais embrionário, mas com grande potencial de desenvolvimento. As diferenças
entre Curitiba e o Sudoeste em termos de estabelecimentos e empregos formais (vide a
tabela 2) são evidentes. Todavia, é necessário fazer a comparação em termos relativos.
Pato Branco e Francisco Beltrão constituem-se como os dois principais centros
urbanos da região, cada um dos municípios com uma população de aproximadamente 70
mil habitantes (estimativas do IBGE para 2005). Dois Vizinhos, por sua vez, tem uma
Por questões de autossustentação e de desinteresse das instituições que compõem seu conselho, o CITS, atualmente,
tem priorizado a prospecção de negócios e parcerias em projetos de mantenedores que revertem fundos para a instituição,
ficando em segundo plano quaisquer ações coletivas para o setor. Um exemplo disso é o fechamento de sua incubadora
tecnológica, ação que exige emprego de recursos praticamente a fundo perdido.
18
169
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
população de aproximadamente 35 mil habitantes. As cidades distam a menos de 60
quilômetros umas das outras. Pato Branco tem um índice de desenvolvimento humano
(IDH-M/2000) de 0,849, o terceiro maior do Estado. Francisco Beltrão e Dois Vizinhos
ficam, respectivamente, na 38ª e 83ª colocação entre os 399 municípios do Paraná.
Com relação ao segmento de mercado das empresas, os dados da pesquisa de
campo realizada por SEPL-IPARDES (2006) indicam a prevalência de softwares para gestão
de empresas (ERP – Enterprise Resource Planning) e automação comercial. Das dezenove
empresas pesquisadas na região19 quinze teriam, ao menos, um produto ou serviço nessa
área.20 Todavia, esse modelo acabou resultando na concorrência entre as próprias empresas
da região em segmentos de software para gestão de escritórios de contabilidade, clínicas
médicas, pequeno varejo, cerealistas, aviários e integradoras.
Conforme argumentou-se os na seção anterior, o impulso às atividades de
desenvolvimento de software na região sudoeste tem como elementos fundamentais: a oferta
de cursos relacionados a software a partir do CEFET-PR, que, por sua vez, criou as condições
para o segundo elemento, o projeto “Pato Branco Tecnópole”. É importante ressaltar que
a atividade não foi artificialmente induzida pelas políticas, ou seja, mesmo com o fim do
projeto e do apoio de políticas, como o SOFTEX e o W-Class, o setor não se dissipou, isto
é, a maioria das empresas continuou em operação. Foi criada uma nova instituição de apoio
à atividade de software em Dois Vizinhos, à Associação para o Desenvolvimento Tecnológico
e Industrial do Sudoeste do Paraná (SUDOTEC), e foram abertos cursos de graduação em
Sistemas de Informação em Pato Branco, Francisco Beltrão e Dois Vizinhos.
Com efeito, diferentemente de Curitiba, na região sudoeste, a falta de uma
governança não é o principal obstáculo para a atividade. Além da SUDOTEC, o setor tem
sido foco de atenção de diversas instituições, como as faculdades e universidades, o Sebrae
de Pato Branco, o Núcleo de Tecnologia da Informação de Pato Branco (NTI)21 e as
prefeituras municipais. Além disso, Pato Branco conta com um núcleo do Projeto de
Extensão Industrial Exportadora (PEIEx) voltado para a atividade de software. Os resultados
mais evidentes dessa cooperação seriam o evento do Sematis (Semana de Tecnologia da
A despeito dos dados da RAIS, segundo relato dos próprios empresários da região, no início de 2006, haveriam cerca de
30 empresas em Pato Branco e 4 em Dois Vizinhos e também em Francisco Beltrão. (SEPL-IPARDE, 2006).
20
Segundo o documento da SEPL-IPARDES (2006), as empresas consultadas alegam que o segmento de software de gestão
é a melhor opção em termos de fluxo de caixa (cobrança de mensalidades pelos serviços de atualização ou suporte ou pela
locação da licença), ou seja, avaliam como o melhor modelo de negócios para suas realidades, sobretudo, em relação ao
porte das empresas e ao acesso a mercados.
21
Essa instituição foi criada durante o período do projeto “Pato Branco Tecnópole” e visa à indução ao desenvolvimento
das empresas de softwares e a agregação de interesses dessa empresas.
19
170
Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná
Informação do Sudoeste do Paraná) e o AfterTaste, que é um encontro de usuários da
linguagem de programação Java do Mercosul, ambas realizadas em Pato Branco.
Outro exemplo significativo da cooperação entre as instituições é o projeto
“Aprender e Crescer”, iniciado em Dois Vizinhos, no início de 2006, e já replicado em Pato
Branco. O projeto tem o objetivo de capacitar alunos de escolas públicas estaduais, em
nível de segundo grau e pós-médio, na área tecnológica de análise de suporte em softwares de
gestão empresarial, proporcionando uma melhor qualificação para o primeiro emprego.
Essa iniciativa surgiu a partir da carência, na região, de recursos humanos para atividades de
suporte e assistência técnica e também por profissionais com outras qualificações não
estritamente técnicas, como administração e contabilidade.
O curso é ministrado aos sábados por profissionais das empresas de software de
Dois Vizinhos, nas dependências disponibilizadas pela prefeitura ou instituições de ensino
superior do município. O projeto é resultado de uma parceria de empresários de Dois
Vizinhos, com a SUDOTEC, a Prefeitura Municipal, as instituições de ensino superior do
município e o núcleo estadual de educação.
Face a esses fatos, a necessidade mais premente do setor de software na região é a
profissionalização das instituições de apoio, como a SUDOTEC e o NTI, com vistas à
estruturação de projetos de interesse coletivo e à formação de câmaras técnicas, para discussão
de temas como convergência tecnológica e perspectivas para o caso da entrada de grandes
empresas. A entrada de grandes empresas no mercado estadual, num modelo de fábrica de
software (desenvolvimento de módulos, ou códigos de programação, a partir de requisitos
pré-estabelecidos) representa um risco para as pequenas empresas, não pela concorrência
direta, mas por minar a oferta de profissionais capacitados na região.
Enquanto estratégia de desenvolvimento sócioeconômico, com geração de
emprego e renda e agregação de valor, o apoio às atividades de cunho tecnológico numa
região de tradição agropecuária, como é o caso do Sudoeste, é muito relevante. Um paradigma,
nesse caso, seria a aglomeração de empresas de tecnologia em telecomunicações em Santa
Rita do Sapucaí (MG).
POLÍTICAS SETORIAIS E LOCAIS PARA SOFTWARE
Software está estritamente ligado ao atual paradigma tecnológico baseado na
microeletrônica e nas novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Seu caráter
abrangente e transversal torna o software obrigatório em diversas cadeias produtivas em que
participa, com enorme potencial dinamizador em toda base técnica da estrutura produtiva.
171
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Por esse motivo, software é uma das opções estratégicas da Política Industrial,
Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), lançada oficialmente em 2004. No que se
refere às exportações de software, o Brasil ainda tem uma inserção extremamente modesta
no mercado mundial, como se pode observar a partir da tabela 3.
Segundo Kubota (2006), diferentemente do que ocorre com Irlanda e Índia,
referências em termos de inserção nos mercados de software, o mercado doméstico brasileiro
é bastante significativo, desestimulando as exportações nacionais.
Por outro lado, Roselino (2006) defende uma interessante tese a respeito do padrão
brasileiro de desenvolvimento de sua indústria de software. Para o autor, a indústria brasileira
apresenta aspectos promissores, apesar dos seus resultados externos ainda pouco expressivos.
Comparando os três modelos de desenvolvimento, caracterizados como paradigmáticos, um voltado à exportação de serviços em software (caso indiano), outro voltado à exportação
de software produto (caso irlandês) e o terceiro voltado para o mercado interno (caso chinês)
-, Roselino (2006) aponta que, para os dois primeiros, a inserção ocorreu com baixa autonomia
tecnológica e dependência, tanto da intensidade da demanda internacional, como das
estratégias corporativas de empresas transnacionais.
Tabela 3 - Os principais mercados mundiais de software no ano de 2002
Países
EUA
Japão
Alemanha
China
Índia
Irlanda (MNCs)
Irlanda
(Doméstico)
Brasil22
Israel
Vendas Software
(1)
(Receitas em US$
bi)
200
85 **
39,8 *
13,3
12,5
12,3
1,6
7,7
4,1
Empregos
(2)
(mil)
1.024
534
300
190
250
15,3
**
*
**
12,6
*
160
15
Vendas por
Empregos (1)/(2)
(mil)
195,3
159,2
132,7
37,6
50,0
803,9
**
*
**
Participação da
Indústria de
Software no PNB
(%)
2,0
2,0
2,2
1,1
2,5
10,1
1,3
127,0
**
45,5
273,3
**
1,5
3,7
Fonte: Elaborado a partir de Arora e Gambardella (2004). * = 2001; ** = 2000.
Na opinião do autor, apesar de as exportações serem, de alguma forma, uma
medida do grau de desenvolvimento de uma indústria nacional, a avaliação do desempenho
exportador não pode ser apenas quantitativo, mas sim pautado por um exame qualitativo a
Valores estimados a partir do Panorama do Setor de Informática do Ministério da Ciência e Tecnologia (SEPIN/MCT)
de 2002 e Revista Exame Informática - Maiores e Melhores de 2002.
22
172
Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná
respeito do tipo de software exportado. Somente assim seria possível compreender a verdadeira
inserção internacional de uma indústria de software nacional. Receitas menores, baseadas em
exportações de atividades mais complexas e dinâmicas, podem representar resultados mais
virtuosos do que os casos com vultosos números obtidos em atividades menos relevantes,
como é a situação da Índia. (ROSELINO, 2006).
Em relação ao terceiro modelo, no qual a indústria brasileira melhor se encaixa, o
autor observa uma semelhança com o caso original norte-americano, isto é, uma indústria
de software articulada com os setores do complexo eletrônico que apresenta assim um maior
grau relativo de autonomia com relação às indústrias dos países centrais. A complexidade
do mercado interno consistiria numa base sólida para a estruturação de uma “vigorosa
indústria de software”, capaz de conquistar competitividade e eficiência, mesmo em segmentos
com altas barreiras à entrada.
Nesse sentido, numa segunda ótica a respeito do padrão brasileiro, pode-se
observar que alguns segmentos da indústria de software no país foram capazes de construir
posições altamente competitivas em segmentos importantes do mercado interno. Tais
segmentos poderiam funcionar como uma incubadora de capacitações para as firmas
nacionais, potencializando uma expansão em direção ao mercado internacional. São
destacadas as soluções nas áreas financeiras, bancárias e telecomunicações, em que o nível
de exigência dos clientes domésticos é bastante alto, comparável, em qualidade, ao padrão
internacional. (BOTELHO, et al 2005).
Dessa forma, no âmbito de uma política industrial (PITCE) com foco no aumento
das exportações, a atividade de software deveria ser pautada em políticas para os setores que
viabilizassem o aumento da competitividade das firmas nacionais. Na atual circunstância,
não há, no Brasil, muitos negócios em condições efetivas de exportação, principalmente
por deficiências em requisitos de certificações exigidos em mercado internacional
competitivo.
Silvio Meira (2004) propõe que uma política setorial para software deva considerar,
pelo menos, três ciclos de vida: o do software, o de sua venda e o dos negócios de software e
serviços. Em primeiro lugar, o ciclo de vida do software reúne questões como a tecnologia
utilizada, os métodos e processos, a qualificação e a certificação de capital humano. Nesse
quesito, o Brasil já conta com um conjunto de instituições de ensino, todavia, seria necessário
ampliar o investimento em recursos humanos e, de forma prática, reduzir a distância entre
a academia e a indústria. Kubota (2006) vai além e sugere atenção à educação básica, buscando
a melhoria na formação média dos alunos brasileiros, especialmente nas disciplinas de inglês
e matemática.
173
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Em segundo lugar, o ciclo de venda de software, bastante distinto de outros setores
como o de commodities agrícolas, requer um aprimoramento da capacidade de negociação
das empresas, que deve estar associada ao aumento da capacidade de entrega. Iniciativas de
grandes empresas brasileiras, por meio da formação de associações para exportação, como
é o caso da Brasscom, são extremamente válidas, pois permitem economias de escopo e o
rateio entre os associados dos custos de buscar mercados no exterior.23 (MEIRA, 2004;
KUBOTA, 2006).
Em terceiro lugar, o ciclo de vida de negócios requer a criação de redes de
investidores de diferentes níveis, com vistas ao aumento da liquidez do investimento em
software. O incentivo ao investimento em empresas de tecnologia, a aposta nas incubadoras
tecnológicas, a articulação de um mercado de acesso, a renovação da bolsa de valores, a
transformação das grandes empresas em negócios ainda maiores e abertos são fundamentais
para atrair a atenção de potenciais investidores para o setor de tecnologias da informação e
software no Brasil. (MEIRA, 2004).
A atividade de software no país enfrenta sérias restrições financeiras, decorrentes
da insuficiência de fundos públicos existentes24 e da incapacidade do mercado de Venture
Capital (VC) de suprir as necessidades das pequenas empresas.25 Ademais, os bancos são
extremamente avessos a efetuar empréstimos a empresas de software, uma vez que estas
apresentam um baixo nível de garantias reais. Por isso, como sugere Kubota (2006), seria
muito relevante para o setor uma integração das iniciativas dos diferentes níveis
governamentais.
Outro aspecto importante para o ingresso em mercados internacionais são as
certificações, pois funcionam como uma sinalização de qualidade e eficiência nos mercados
estrangeiros. Com o objetivo de promover a qualificação de empresas segundo padrões de
qualidade aceitos internacionalmente pela comunidade de software, como ISO e CMM26,
No caso de pequenas empresas, a formação de consórcios poder ser a única forma de ingresso no mercado internacional.
Segundo Meira (2004), esse modelo poderia consistir na criação de instituições ou companhias agregadoras, capazes de
negociar realização de serviços no mercado global e terceirizar uma parte dos contratos para empresas menores, mas que
tivessem qualidade, produtividade e certificação exigidos. Já Kubota (2006, p. 43) sugere que, “[...] para pequenas empresas,
a estratégia recomendada é desenvolver alianças estratégicas com empresas estrangeiras e comercializar produtos de nicho
por meio da internet.”
24
É louvável a mudança na orientação do BNDES e da FINEP com vistas ao apoio às atividades inovativas, por meio,
respectivamente, da reedição do Programa PROSOFT e da abertura de chamadas públicas com foco em pequenas empresas e
nos setores prioritários da PITCE, utilizando recursos dos fundos setoriais como o CT-INFO. Outra importante iniciativa da
Finep é o programa Juro Zero, iniciado no Paraná, que visa facilitar o acesso ao crédito às empresas inovadoras, por meio de
empréstimos sem juros reais e sem garantias reais (exigindo somente aval, fundos de reserva e fundo de garantias de crédito).
25
Veja Albergoni (2006) para maiores informações sobre a situação recente do mercado de Venture Capital no Brasil.
26
O CMM (Capability Maturity Model) é o modelo de processos em software mais conhecido internacionalmente no setor,
desenvolvido pela SEI (Software Engineering Institute), trata-se de um conjunto de processos com vistas à melhoria no
desenvolvimento de aplicações, sendo dividido em 5 níveis: inicial, repetível, definido, gerenciado com métricas e otimizado.
(KUBOTA, 2006)
23
174
Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná
mas a custos acessíveis para a grande maioria das empresas brasileiras, a associação SOFTEX,
com o apoio do Ministério de Ciência e Tecnologia, lançou o Projeto de Melhoria de
Processos do Software Brasileiro (MPS.BR). O projeto está focado em pequenas e médias
empresas e prevê a avaliação periódica das empresas a cada dois anos. Em Curitiba, o CITS
é o agente SOFTEX implementador do MPS.BR.
Todas essas dimensões ressaltam o caráter interinstitucional de uma política para
o setor de software no país, algo que vem ocorrendo no âmbito da política industrial. A
PITCE tem envolvido diferentes órgãos de governo, sendo que, a partir de suas diretrizes,
foram criadas instituições como o Conselho de Desenvolvimento Industrial (CDI) e a
Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Foram reavaliadas as prioridades
de investimentos dos fundos setoriais, o mesmo valendo para a Agência de Promoção de
Exportações e Investimentos (APEX) e para o BNDES que recriou o programa PROSOFT27
e tem apoiado, explicitamente, a fusão de empresas de software, de forma a consolidar algumas
empresas brasileiras no enfrentamento da concorrência internacional fora e dentro do país.
Além disso, buscou-se atender a uma reclamação geral das empresas, instituindose um Regime Especial de Tributação para a Plataforma de Exportação de Serviços de
Tecnologia da Informação (Repes). Particularmente, o fato de a atividade de software ser
baseada em capital humano torna, o peso dos encargos trabalhistas, proporcionalmente,
maior do que no caso de empresas industriais. A lei nº 11.196/2005 (antiga “MP do Bem”)
exonerou da contribuição ao PIS e COFINS as empresas de software que assumam
compromisso de exportação no valor mínimo de 80% de sua receita bruta anual de vendas.
Entretanto, tal medida é controversa, pois, em razão das exigências de exportação, poucas
empresas brasileiras teriam condições de usufruir o beneficio no curto prazo, o que poderia
atrair a entrada de empresas multinacionais no mercado nacional (KUBOTA, 2006, p. 44).
Outra lei significativa para o setor é a chamada Lei de Inovação (Lei 10.973/2004),
que regulamenta e estabelece medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica
no ambiente produtivo, busca fortalecer as parcerias entre empresas, universidades e institutos
científicos, além de tecnológicos e estimular o processo de inovação no país.
A Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) absorveu esse recente contexto,
editando chamadas públicas com o objetivo de “selecionar projetos de inovação tecnológica
de interesse de Micro e Pequenas Empresas (MPEs) a serem executados por Instituições
Científicas e Tecnológicas (ICTs), públicas ou privadas, em cooperação com MPEs brasileiras
O PROSOFT passou a configurar-se em três componentes ou subprogramas: (a) o PROSOFT-Empresa, para apoio às
empresas voltadas ao desenvolvimento de software e serviços; (b) o PROSOFT-Exportação, para apoio às estratégias de
comercialização no exterior e internacionalização de empresas brasileiras; (c) PROSOFT-Comercialização, para financiar o
comprador de soluções em software.
27
175
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
inseridas em Arranjos Produtivos Locais (APLs) e no âmbito das prioridades estabelecidas
na Política Industrial Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE).”28
Outro programa que objetiva o aumento da capacidade de inovação e
competitividade das empresas, específico para a atividade de desenvolvimento de software, é
de iniciativa do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e do
Departamento Nacional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). O
projeto Tecnologia da Informação e Comunicação foi iniciado em 2006, a partir do APL de
Software de Curitiba, e deverá realizar a capacitação de 15 empresas na elaboração e na
gestão de projetos de TI e Comunicação e de desenvolvimento de produtos, abrangendo,
ainda, itens como segurança e certificações.
Um aspecto muito interessante dessas políticas de cunho científico e tecnológico
é que, apesar de serem preponderantemente de competência federal, seus instrumentos de
ação e a sua execução são desenvolvidos a partir de elementos locais (CUNHA, 1995).
Nesse sentido, as políticas nacionais para o setor de tecnologia devem ter relação sinérgica
com as políticas estaduais e locais, tal qual a política de apoio aos APLs, pois são, em grande
parte, implantadas localmente.
Como sugere a literatura da Geografia da Inovação, o desenvolvimento de
condições propícias à inovação requer o estabelecimento de arranjos institucionais adequados.
Modismo ou não, a política de APLs per se tem o mérito de favorecer a formação de uma
governança local, capaz de articular iniciativas de interesse coletivo, como a captação de
recursos ou o encaminhamento de projetos, potencializando, assim, as políticas setoriais
nacionais.
CONCLUSÃO
O Software é uma atividade diferente. Está estritamente ligado ao atual paradigma
microeletrônico, sendo um dos componentes básico do tripé das chamadas Tecnologias da
Informação e Comunicação (TIC): hardware-software-serviços. A análise dos resultados revelou
que as políticas locais de apoio ao desenvolvimento de software, nos moldes das políticas de
apoio aos APL, são viáveis. No entanto, devido à necessidade de incrementar a
competitividade das empresas brasileiras nos mercados internacionais de software, por meio
do desenvolvimento de soluções inovadoras, o impacto de ações locais pode ser relativamente
exíguo, caso não sejam associadas às políticas setoriais mais amplas.
Texto extraído da “CHAMADA PÚBLICA MCT/SEBRAE/FINEP/Ação Transversal – Cooperação ICT’s – MPEs–
07/2006". Disponível em: <http://www.finep.gov.br/>. Acesso em: 13 de agosto de 2006.
28
176
Políticas públicas locais e setoriais para a atividade de software: o caso de Curitiba e do sudoeste do Paraná
A inserção brasileira na divisão internacional de desenvolvimento de software ainda
é incipiente. O mercado interno tem sido bem explorado por empresas nacionais e
internacionais, tem sido observado o desenvolvimento de fábricas de software e software
empresariais, tipo ERP. Mas, muitas das ferramentas de desenvolvimento são importadas.
Logo há espaço para o desenvolvimento local de novas ferramentas. Entre as principais
contribuições da pesquisa, destaca-se a importância das instituições e das políticas públicas,
a partir de exemplos do Paraná. É fundamental a sinergia entre políticas locais ou regionais
com políticas setoriais / nacionais.
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179
Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná
INTRODUÇÃO
O presente capítulo toma como ponto de partida os resultados de um amplo
projeto de pesquisa, coordenado pelos autores, com o propósito de mapear e estudar arranjos
produtivos locais do estado de Paraná e propor políticas estaduais e ações institucionais de
apoio. Esse projeto de pesquisa foi realizado em 2005-2006 e os primeiros resultados foram
divulgados ainda em 2006.1
Essa contextualização visa esclarecer, desde logo, duas questões essenciais ao
correto entendimento da natureza e dos propósitos do capítulo. Em primeiro lugar, ele
representa a etapa final de um trabalho, fortemente apoiado em fundamentos analíticos, em
métodos estatísticos e em pesquisa de campo com aplicação de questionários. Por isso, a
maior parte do capítulo é dedicada a discutir os problemas para políticas públicas identificados
naquele trabalho e à elaboração de proposições de políticas e ações institucionais, visando
soluciona-los. E, também por isso, é bastante sumária, neste capítulo, a discussão dos
fundamentos analíticos e dos aspectos metodológicos da pesquisa.
Em segundo lugar, como o foco da pesquisa foi direcionado a uma unidade da
federação, as políticas aqui propostas referem-se especificamente, às políticas públicas
estaduais, embora algumas das ações institucionais sugeridas contenham, também, elementos
de políticas e programas administrados por instituições de outras esferas de governo, ou
mesmo de instituições, como as do denominado “Sistema S”. Isso implica tomar as políticas
macroeconômicas (juros, câmbio e carga tributária) como parâmetros sobre os quais só é
possível atuar de forma indireta ou compensatória.
A política estadual não pode baixar a taxa de juros, mas pode criar sistemas de
informação e instrumentos específicos que melhorem o conhecimento, que ajudem a cumprir
exigências contratuais e que facilitem o acesso às linhas de financiamentos adequadas às
demandas das empresas locais. Da mesma forma, não pode ajustar a taxa de câmbio, mas
Ver IPARDES (2006). Posteriores relatórios técnicos e textos metodológicos, dados estatísticos e estudos de casos não
publicados encontram-se disponíveis no sítio www.ipardes.gov.br.
1
183
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
pode utilizar instrumentos de políticas ou ações que levem a um significativo aumento da
eficiência produtiva e da produtividade, compensando, em parte, a desvantagem competitiva
causada pela apreciação da moeda nacional. E, também, não tem o poder de propor uma
redução da carga tributária, mas pode aplicar medidas de incentivo fiscal, além de poder
aliviar o trabalho com o fisco e com a burocracia, no tratamento de questões tributárias.
Embora no projeto que deu origem a este capítulo tenha sido utilizada a
denominação de arranjos produtivos locais, adotamos aqui a denominação alternativa de
sistemas locais de produção (SLP), conceitualmente mais adequada de acordo com o
referencial analítico de apoio. Ao longo do texto, porém, há menções a aglomerações
territoriais de empresas como um estágio preliminar do método utilizado, quando ainda
não é possível caracteriza-las como SLP. Também em consonância com esse referencial,
somente indústrias extrativas, de transformação e atividades de software foram abrangidas
no estudo.
O capítulo está estruturado de forma a apresentar, na seção seguinte, uma síntese
do referencial analítico; na seção 2, uma breve descrição do método e dos resultados; na
seção 3, as proposições de políticas e ações institucionais de apoio a SLP do Estado; na
seção 4, os programas e ações específicos, e, na seção 5, as observações finais.
ABORDAGENS ANALÍTICAS QUE FUNDAMENTAM O ESTUDO
E A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PARA SISTEMAS LOCAIS DE
PRODUÇÃO
As abordagens utilizadas para analisar os sistemas locais de produção e inovação
têm variadas origens e configurações, dependendo de seus propósitos e da respectiva afiliação,
em termos de corrente de pensamento. De modo geral, porém, apresentam raízes comuns
e convergem em vários sentidos. Os parágrafos seguintes buscam apresentar um breve
sumário dos elementos centrais das principais abordagens.
Há dois pilares analíticos que sustentam a maioria das abordagens: o conceito
Marshalliano de economias externas localizadas e a dinâmica dos mecanismos de autorreforço
na economia espacial. Economias externas localizadas decorrem da existência de um amplo
contingente de mão-de-obra especializada e com habilidades específicas ao sistema local;
da presença e da atração de um conjunto de fornecedores especializados de matérias-primas,
componentes e serviços, e dos transbordamentos de conhecimentos, habilidades e
informações, específicos às atividades locais. E a dinâmica espacial dos mecanismos de
autorreforço deve-se à presença de retornos crescentes.
184
Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná
Nos termos de Arthur (1988), o padrão de localização de uma determinada
indústria pode ser resultado das decisões locacionais das primeiras firmas que ingressaram
na indústria e da sequência de decisões de localização das firmas entrantes subsequentes. A
decisão da primeira é baseada “puramente nas preferências geográficas”, influenciadas por
economias externas locais ou algum “acidente histórico”.
As decisões de localização dos entrantes subsequentes são “[...] baseadas nas
preferências modificadas pelos benefícios de localizar-se próximo à(s) primeira(s) firma(s)”,
e então a “concentração industrial se torna auto-reforçada.” Se não houver limite para os
feedbacks positivos, uma única região pode dominar a indústria e isto pode não ser uma
solução eficiente. Mas, frequentemente, uma região não pode oferecer retornos crescentes
indefinidamente por causa das deseconomias de aglomeração que são geradas. Assim, outras
regiões passam a atrair essa indústria. (ARTHUR, 1988, p.9-12). Mais importante para os
estudos dos sistemas locais de produção, é a afirmação de que os mecanismos de feedback
positivo decorrem de vantagens das aglomerações iniciais e da forte historicidade no que
concerne à evolução espacial da indústria.
A partir desses conceitos fundamentais, vários grupos de autores acrescentaram
gradualmente novas ferramentas de análise, enfatizando: a existência de laços sociais, políticos
e culturais em distritos industriais e em outros tipos de aglomerações territoriais de empresas;
a necessidade de ações coletivas para gerar economias externas adicionais, alcançar a eficiência
coletiva dos produtores, estabelecer mecanismos de governança e criar fóruns de discussão
de estratégias e criar políticas regionais ou locais.
Outras temáticas, destacadas pelos autores, envolvem a importância de contar
com um ambiente de negócios caracterizado por condições favoráveis, em termos de fatores
de produção, demanda, fornecedores e serviços e competição que, de forma interrelacionada,
determinam a competitividade das firmas locais; a modelagem formal das forças centrípetas,
que induzem à aglomeração espacial, e das forças centrífugas, que agem na direção contrária
à aglomeração; as interrelações dinâmicas entre geografia e indústria e entre geografia e
inovação.
As novas ferramentas de análise também destacam: a classificação das estruturas
de produção em sistemas locais de produção e suas relações com as respectivas estruturas
de governança; a caracterização de cadeias globais de mercadorias ou redes de produção e
suas conexões com canais específicos de exportação, subordinados à estrutura de governança
internacional dessas cadeias ou redes de produção; a importância da governança local, ainda
que como uma ação complementar dos atores locais; e a caracterização dos sistemas locais
de produção como sistemas cognitivos e evolucionários, dentro dos quais o processo de
185
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
aprendizado e a competição evoluem, estimulando o surgimento de empresas dominantes
que controlam informações estratégicas.2
Com base nesse amplo leque de abordagens analíticas e levando em conta vários
estudos de casos nacionais e internacionais, é possível descrever, de forma estilizada, como
se iniciam e se desenvolvem os sistemas locais de produção. De modo geral, todos têm
raízes históricas e surgiram espontaneamente, seja a partir de um fato histórico como, por
exemplo, desenvolvimento local de conhecimentos ou habilidades específicas, ou a partir
de condições iniciais favoráveis relacionadas, por exemplo, à presença de um empreendedor
pioneiro ou de instituições de ensino e pesquisa.
A existência de economias externas atrai empresas para o local. À medida que o
local de torna atrativo do ponto de vista das decisões de invetimentos de outras empresas
da indústria, tem-se o início de um processo de desenvolvimento, que forma uma
aglomeração. À medida que cresce, suprindo mercados locais ou regionais, a aglomeração
torna-se atrativa para outras indústrias ou atividades relacionadas. Estas, uma vez
estabelecidas, fazem com que aumentem as interrelações produtivas locais, facilitando
interações, transbordamentos de conhecimentos e realização de ações coletivas, para
organizar associações empresariais e sindicatos patronais e trabalhistas. À medida que a
estrutura produtiva local diversifica-se com a presença de fornecedores de matérias-primas,
componentes e máquinas e equipamentos, estabelece-se maior divisão do trabalho entre as
empresas e forma-se uma sofisticada organização industrial, com mais intensas e variadas
interrelações produtivas, intensificando os processos de aprendizado, porém, com menos
interações e relações cooperativas no plano horizontal entre as empresas competidoras.
Retornos crescentes reforçam o processo de desenvolvimento e estimulam a
entrada de novas firmas. A competição é acirrada, deixando de basear-se exclusivamente ou
principalmente em preço, passando a incorporar novos fatores competitivos, tais como a
diferenciação e a inovação. Há um aumento da demanda das firmas locais por habilidades,
recursos especializados e por serviços técnicos e tecnológicos mais sofisticados, que dão
suporte ao incremento de sua capacidade de diferenciar seus produtos e desenvolver novos
produtos e processos. Profissionais especializados, instituições e empresas que fornecem
esses serviços também são atraídos para o local. Algumas empresas tornam-se dominantes
por sua capacidade de controlar informações de mercado, por abrir novos canais de
2
A literatura que trata dessas contribuições é bastante abrangente, mas para um conjunto representativo, o leitor interessado
pode consultar: Lazerson & Lorenzoni (1999); Schmitz & Nadvi (1999); Krugman (1999); Porter (1998); Scott (1998);
Storper & Harrison (1991); Gereffi (1994); Humprey & Schmitz, (2000); Feldman (1993); Belussi & Gotardi (2000) e
Lombradi (2003).
186
Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná
comercialização no mercado doméstico e no mercado internacional e por dominar ativos
estratégicos, como capacitações em P&D&I ou marcas próprias.
A morfologia do sistema tende a mudar, e alguma forma de governança é
estabelecida, seja por mecanismos autorreguladores do sistema, ou por planejamento
deliberado. Nesse último caso, a governança pode ser exercida por firmas locais dominantes,
com suas redes de produção, marcas e canais próprios de comercialização, ou por agentes
externos ao sistema, grandes empresas nacionais ou internacionais que controlam cadeias
de valor ou de suprimento de mercadorias, ou ainda por firmas e instituições locais
coletivamente organizadas.
Se há um ponto que careça de melhor tratamento em todas essas abordagens,
este é o que diz respeito às recomendações de políticas públicas ou ações institucionais de
apoio aos sistemas locais de produção. Todas as abordagens são bastante genéricas, às vezes
até evasivas, nesse ponto, o que é bastante compreensível em face das especificidades
nacionais, regionais, políticas, sociais e culturais, assim como em razão dos diferentes tipos
de atividade econômica e as respectivas características organizacionais.
Em cada caso, há características distintas em termos de história, evolução,
organização institucional e contextos sociais e culturais, com impactos importantes sobre a
estrutura produtiva, a forma de organização da produção, os processos de aprendizado e a
forma de governança local. Por isso, é comum encontrar diferenças muito significativas
entre sistemas locais no que se refere: ao grau de desenvolvimento; à integração da cadeia
produtiva; à articulação e à interação entre agentes e instituições locais; às e capacidades
sistêmicas para a inovação. É exatamente nesse aspecto – proposição de diretrizes de políticas
e medidas de apoio – que este trabalho procura avançar, tomando por base os estudos
sobre sistemas locais de produção do estado do Paraná.
MÉTODO E RESULTADOS
Para dar fundamento adequado às proposições políticas, utilizamos uma
metodologia estatística de identificação de aglomerações territoriais de empresas por meio
de indicadores de concentração geográfica (quociente locacional – QL) e de concentração
setorial (coeficiente de Gini locacional) de atividades econômicas, calibrados por alguns
parâmetros convencionais em termos absolutos (número de empregos e número de
estabelecimentos da mesma classe de atividades na região). O tratamento estatístico dos
dados gerados permitiu identificar e caracterizar, em termos estruturais, as aglomerações
187
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
identificadas e criar uma tipologia de sistemas locais de produção levando em conta, por
um lado, a importância das aglomerações para o respectivo setor no estado, e por outro, sua
importância para a economia da local.3
Como resultado, as aglomerações de empresas foram classificadas em quatro
tipos principais: (a) Núcleo de Desenvolvimento Setorial e Regional (NDSR), que se destaca
por sua importância tanto para a economia local, quanto para o respectivo setor ou classe
de atividade econômica no Estado; (b) Vetor de Desenvolvimento Local (VDL), que é
muito importante para o desenvolvimento local/regional, embora menos importante para
o setor no Estado; (c) Vetor Avançado (VA), que apesar de ter elevada importância para o
setor no Estado, é pouco importante para a economia local, porque, via de regra, encontrase em um tecido econômico maior e mais diversificado, normalmente áreas metropolitanas;
e (d) Embrião (E), que reúne as aglomerações com potencial para o desenvolvimento,
porém ainda pouco importante tanto para o setor, como para a região.4
Para aplicar essa metodologia no Estado do Paraná, foram utilizados os dados e
informações da RAIS de 2003, que permitiram a construção de uma matriz, levando em
conta as 39 microrregiões do Estado e as 278 classes de atividades existentes, abrangendo a
indústria extrativa, a indústria de transformação e as atividades de software, configurando,
assim, o universo a partir do qual seriam identificadas e mapeadas as aglomerações geográficas
de empresas que poderiam, potencialmente, constituir sistemas locais de produção. A
utilização da metodologia avançou por etapas aplicando, primeiramente, os indicadores
convencionais e depois sucessivos filtros5 que, considerando as características específicas
do Estado, foram paulatinamente sendo relaxados em alguns dos seus critérios, inicialmente
mais rigorosos, de modo a permitir captar todas as aglomerações relevantes que pudessem
ser posteriormente objeto de investigação para verificar se de fato constituem sistemas
locais de produção.6
Adicionalmente, com base no Cadastro de Informações Fiscais e Contábeis da
Secretaria de Estado da Fazenda (SEFA/PR), foram aplicados indicadores específicos
relacionados: à exportação; ao valor das compras e das vendas no Estado e para outros
estados; à participação relativa das vendas da classe de atividade no total das vendas de
todas as classes da microrregião; à participação relativa do emprego da classe na microrregião;
e à presença de micro, pequenas e médias empresas.
Essa importância é medida cruzando-se os respectivos QL e a participação percentual no emprego da classe.
A unidade local/regional é a microrregião.
5
E. g. ordem de grandeza do QL, número mínimo de estabelecimentos da classe na microrregião, percentual mínimo de
participação no total do emprego da classe no Estado.
6
Os relatórios referentes às etapas de identificação, mapeamento e validação dos SLP estão disponíveis em:
<www.ipardes.gov.br/publicações/estudos> e em <www.redeapl.pr.gov.br.>
3
4
188
Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná
A aplicação dessa metodologia aos dados do Paraná resultou na identificação de
165 aglomerações de empresas em 73 classes de atividades, abrangendo 33 das 39
microrregiões do Estado (ver mapa 1). Esse conjunto de aglomerações, porém, apresenta
duplas ou múltiplas contagens, uma vez que uma mesma microrregião pode ter mais de
uma aglomeração em distintas classes de atividades, inter-relacionadas ou não. Eliminandose essas múltiplas contagens, restaram 114 aglomerações com características que as
configuram como potenciais sistemas locais de produção. O passo seguinte foi classificar
essas aglomerações, segundo a tipologia mencionada acima.
Sempre que em uma microrregião a aglomeração era composta por mais de uma
classe de atividade, porém correlatas, foi considerada, para efeito de classificação, a classe
mais importante, em termos de emprego, ou a mais dinâmica, em termos dos dados fiscais.
Assim, as 114 aglomerações foram classificadas em: 12 núcleos de desenvolvimento setorialregional, 25 vetores de desenvolvimento local, 32 vetores avançados e 45 embriões.
MAPA 1 – Aglomerações industriais selecionadas para estudos de casos, segundo
microrregiões geográficas, estado do Paraná.
Fonte: IPARDES, 2006.
189
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
A partir daí, foi feita a pré-seleção de possíveis sistemas locais. Os critérios
utilizados para essa pré-seleção levaram em conta a relevância de cada aglomeração de
empresas em termos de: número de classes de atividades afins, densidade fiscal; exportação
e vendas para outros estados; compras locais; número de estabelecimentos (sobretudo de
pequenas e médias empresas); e importância das vendas da classe de atividade na própria
microrregião. Os resultados indicaram a pré-seleção de 25 sistemas locais potenciais, sendo
8 núcleos de desenvolvimento setorial-regional, 5 vetores de desenvolvimento local, 7 vetores
avançados e 5 embriões. Ao longo do desenvolvimento do trabalho, essas 25 aglomerações
foram visitadas para uma caracterização preliminar, com a finalidade de obter um panorama
em termos de sua formação, estrutura produtiva e ambiência institucional.
Houve a seleção de 18 aglomerações que atendiam ao conjunto de critérios
estabelecidos para a sua caracterização como um sistema local de produção. Deve-se ressaltar
que um desses 18 casos constitui, em verdade, um conjunto de quatro aglomerações de
empresas de software, as quais foram consideradas individualmente, para efeito dos estudos
de caso. A esses casos, também foi adicionada a aglomeração de empresas de instrumentos
médico-odontológicos da região de Campo Mourão.7 Portanto, ao todo, 22 sistemas locais
de produção, distribuídas por várias regiões do Paraná foram validadas por apresentarem
características típicas de sistemas locais de produção (Quadro 1).
Vetores de Desenvolvimento Local ( VDL)
Confecção em Cianorte;
confecção na região sudoeste do estado;
malhas em Imbituva;
móveis e madeira em Rio Negro.
Embriões
Confecção de moda bebê em Terra Roxa;
equipamentos e implementos agrícolas em Cascavel
e Toledo;
instrumentos médico-odontológicos em Campo
Mourão;
móveis na região Sudoeste;
software em Maringá;
software em Pato Branco e Dois Vizinhos.
Núcleos de Desenvolvimento Setorial e Regional
(NDSR)
Confecção de bonés em Apucarana;
esquadrias e madeira em União da Vitória;
mandioca e fécula em Paranavaí;
metais sanitários em Loanda;
móveis em Arapongas;
móveis de metal e sistemas de armazenagem e
logística em Ponta Grossa.
Vetores Avançados (VA)
Aparelhos, equipamentos e instrumentos médicos,
odontológicos e hospitalares na RM Curitiba;
cal e calcário na Região Metropolitana de Curitiba;
confecção em Maringá;
louças e porcelana em Campo Largo;
software em Curitiba;
software em Londrina.
Quadro 1 – Sistemas locais de produção identificados, estado do Paraná
Fonte: Ipardes, 2006.
7
Essa aglomeração foi adicionada porque, embora não tenha sido identificada estatisticamente, era apontada pelas equipes
locais como uma aglomeração em formação em um setor de atividade não tradicional.
190
Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná
Esses sistemas locais de produção foram objeto de estudo por equipes estaduais
que realizaram o trabalho de campo por meio de visitas, entrevistas e aplicação de
questionário. Com isso, foi possível conhecer as características e os principais problemas
desses sistemas locais. Esses problemas, que norteiam a formulação de políticas, são
brevemente comentados a seguir.
Problemas para políticas e ações institucionais
Em primeiro lugar, destaca-se a baixa qualificação da mão-de-obra em todos os
níveis: operacional, técnico e tecnológico, bem como a baixa capacitação de grande parte
dos empresários em gestão empresarial. Esses problemas foram encontrados, em maior ou
menor grau, em quase todos os casos estudados e requerem programas de aplicação geral,
a qualquer tipo de sistema local.
O segundo grupo de problemas relaciona-se à falta de um conhecimento adequado
do mercado. Esse conhecimento é estratégico em qualquer atividade, sobretudo no caso de
empresas em sistemas locais de produção. Portanto, o apoio institucional para programas
de marketing, estudos e prospecção de mercados (nacionais e internacionais), criação de
canais próprios de comercialização, entre outras ações, pode criar melhores condições para
que as empresas se capacitem a direcionar sua produção de forma mais sincronizada com
as tendências de mercado.
O terceiro tipo de problema mais frequentemente citado está relacionado às
dificuldades ou falta de acesso a serviços tecnológicos, laboratoriais e de certificação, entre
outros. É mais premente em sistemas locais de empresas de software e de produtos
tecnologicamente mais exigentes, e/ou que requerem certificações, mas foi mencionado
mesmo em SLP tecnologicamente mais simples, como de confecções e malharia. O
provimento desses serviços, seja por meio de ações coletivas, seja como resultado de ações
institucionais, é uma das mais promissoras medidas de política para sistemas locais, uma
vez que cria ou reforça a capacitação das empresas para competir em mercados mais
sofisticados, oferecendo-lhes uma nova trajetória de aprendizado e de desenvolvimento de
competências.
Em quarto lugar aparecem as dificuldades de acesso a financiamento como um
dos principais problemas mencionados pelas empresas, especialmente micro e pequenas.
Abrangem desde questões conhecidas, como as de burocracia excessiva; exigências de
garantias às quais as empresas não conseguem atender; prazos; custos e condições inacessíveis;
até falta de linhas de financiamento adequadas às características e às necessidades da empresas.
191
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Isso encarece o custo do capital de giro, que acaba sendo suprido em muitos casos por
fontes locais espúrias e limita a expansão das empresas. Grande parte dos problemas de
financiamento, que foram citados, são concernentes: às dificuldades para obter créditos
para aquisição de máquinas e equipamentos, à modernização ou expansão da capacidade
instalada, ao desenvolvimento de produtos e reciclagem de resíduos tóxicos. Nos casos
mais intensivos em conhecimentos, como os de equipamentos médico-odontológicos e de
software, há falta de financiamento para P&D&I, para adequação às normas técnicas ou
sanitárias e para patentear e certificar produtos.
Um resultado muito significativo é o que aponta para o quinto problema, que
sugere uma crescente conscientização das empresas quanto aos seus problemas e suas
carências de ativos estratégicos. A maior parte não dispõe de estruturas próprias de P&D&I;
tem carências quanto aos sistemas de informação sobre tendências em termos de inovação,
design, tecnologias de produto e de processo, máquinas e equipamentos, técnicas de gestão
(da inovação, da produção, de processos e da qualidade), adequação às normas técnicas e
sanitárias, registros e certificações, legislações sobre direitos de propriedade intelectual.
Carece também de maior aproximação com centros de pesquisa ou empresas especializadas
em P&D&I, serviços tecnológicos, design e de profissionais qualificados nessas atividades.
Isso limita a capacidade das empresas para criar ou diferenciar produtos e para atender às
faixas de mercado mais exigentes quanto à inovação, às normas, às certificações, ao design, à
qualidade e ao desempenho.
O sexto tipo de problema que atinge a maior parte das empresas nos sistemas
locais estudados é o das deficiências em termos de organização produtiva. Embora nem
sempre os empresários entrevistados tenham um parâmetro adequado de comparação das
melhores práticas, é possível perceber que são bastante generalizados problemas como:
leiaute ineficiente, com problemas de estrangulamento em fases importantes do processo
de produção e defasagem tecnológica de segmentos do processo produtivo; máquinas e
equipamentos obsoletos; dificuldades de suprimento de insumos e de serviços de assistência
técnica; deficiências em termos de gestão administrativa e da produção; processos ineficientes
quanto ao consumo de energia; e falta de sistemas de controle de qualidade. Programas de
capacitação em planejamento do processo produtivo, gestão administrativa, controle da
qualidade e gestão da inovação podem trazer importantes ganhos de eficiência e
competitividade para a maioria das empresas dos sistemas locais estudados e reduziriam a
intensidade de outras demandas (por exemplo, por capital de giro).
Em sétimo lugar foram apontados problemas relacionados à infraestrutura como
limitantes das possibilidades de desenvolvimento do conjunto das empresas e instituições
192
Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná
locais. Apesar de esse tipo de problema ser menos relevante em alguns casos – como os de
software e os que estão localizados em áreas metropolitanas –, pode-se considerar que esse
também é um problema generalizado. Refere-se às dificuldades decorrentes da insuficiência
de meios de transporte para escoamento da produção e acesso a mercados de insumos,
componentes, máquinas e equipamentos; custo elevado e falta de suprimento adequado de
energia; deficiências da infraestrutura urbana local; falta de planejamento do uso do solo
urbano para fins industriais e outros.
Problemas de governança, em oitavo lugar, foram relativamente pouco citados,
embora em alguns casos eles apareçam com elevada prioridade. Em geral, foram mencionados
a falta de entidades associativas das empresas locais; fraca interação das entidades locais;
falta de comprometimento e de articulação das instituições de apoio; falta de coesão dos
atores; inexistência de liderança local expressiva; divergência de interesses e fraca cooperação
na produção e no desenvolvimento tecnológico. Aparentemente, ainda há pouca percepção
do poder que os atores locais podem adquirir por meio de ações conjuntas e da busca
coletiva por soluções dos problemas do sistema local. Também, nesse caso, a superação
dessa deficiência teria efeitos bastante positivos sobre algumas das carências que os
empresários consideram mais importantes (por exemplo, preços deprimidos pela
concorrência concentrada em produtos muito semelhantes, nas qualidades técnicas e nos
atributos visuais).
Por fim, em nono lugar, não há uma percepção adequada dos problemas ambientais
causados pelas atividades das firmas locais, o que revela uma postura, muitas vezes, imediatista
e unilateral dos empresários. Em apenas quatro sistemas locais estudados, foram citados
problemas com o meio ambiente e em uma ocasião em sentido inverso ao usual: restrições
ambientais à extração de madeira de florestas nativas, como limitação à produção de móveis
e produtos de madeira. Em outros casos, os problemas ambientais causados por falta de
aterro sanitário para resíduos ou de reciclagem de subprodutos poluentes são considerados
importantes, do ponto de vista das políticas para os sistemas locais. Há que se considerar,
entretanto, que a tendência geral é não admitir que a atividade gere problemas ambientais,
ou até escamotear seus impactos nesse âmbito, o que mereceria um tratamento específico
por meio de legislação estadual, apoiada em programas que possam, de fato, remediar os
problemas mais urgentes e criar condições para o desenvolvimento de soluções preventivas.
Com base nesses problemas e nas demandas identificadas nos SLP’s estudados,
tendo em vista o referencial analítico discutido na seção 1, elaboramos um conjunto de
diretrizes, programas e ações de apoio aos SLP’s do estado do Paraná, resumidos a seguir.
193
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
POLÍTICAS E AÇÕES DE APOIO A SISTEMAS LOCAIS DE PRODUÇÃO:
UM MODELO DE ESTRUTURAÇÃO
O desenvolvimento dos SLP’s brasileiros tem dependido, fundamentalmente, das
forças e das competências locais, essencialmente vinculadas ao tecido empresarial e às
qualidades, capacidades e energias laborais dos seus trabalhadores. Alguns dos obstáculos
que dificultam ou barram o desenvolvimento desses sistemas produtivos não poderão ser
removidos ou contornados simplesmente com a ação das forças locais, ainda que estas
tenham sempre – e devam continuar tendo – o papel protagonista. As ações de natureza
pública, sejam elas locais (de âmbito municipal ou microrregional), sejam estaduais ou federais,
têm invariavelmente sido pontuais.
É verdade que existem casos de SLP que conseguiram beneficiar-se de vários
programas públicos, definidos em esferas diferentes (por exemplo, pelo Ministério da Ciência
e Tecnologia e sua empresa vinculada; a FINEP, pelo Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior; ou pelo BNDES, instituição vinculada a esse ministério).
Mas essas ações raramente foram integradas, e quando o foram, isso ocorreu a partir da
busca dos agentes locais (empresas, agrupamentos de empresas ou entidade de representação
coletiva), dos programas formulados pelas agências públicas estaduais e federais. Os SLP’s
procuraram, no leque de instrumentos existentes, aqueles que julgaram adequados ou
convenientes, mesmo que não fossem os mais ajustados às suas necessidades ou que, em
vários casos, consistissem essencialmente um mecanismo de captação de recursos adicionais
para estimular a economia local.
A política estadual de promoção do desenvolvimento dos SLP’s pode representar
um marco diferenciado nesse quadro. Para isso, ela tem como maior desafio dotar-se de
integração, destes instrumentos com aqueles definidos no plano federal e desse conjunto
articulado ao longo do tempo. Nisso consiste o objetivo maior deste capítulo: contribuir
para a definição de uma política estadual de promoção do desenvolvimento dos sistemas
locais numa perspectiva integrada, que permita concatenar os esforços locais e os diversos
instrumentos e programas de uma forma consistente. Essa consistência terá de ser construída
em diversas dimensões. A primeira e principal dimensão é a da articulação dos instrumentos
estaduais e federais às necessidades e às demandas locais. Essas necessidades possuem pelo
menos três elementos a serem considerados.
O primeiro elemento é o tipo de trajetória de desenvolvimento e de inserção
espacial e setorial do sistema local. Questiona-se: Trata-se de um embrião, sistema produtivo
em estágio de desenvolvimento ainda muito incipiente, ou de um vetor avançado,
congregando empresas sólidas e uma rede de fornecedores com qualidades técnicas e
194
Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná
econômicas, num tecido econômico bastante diversificado? No primeiro caso (embrião), é
bastante provável que políticas como, por exemplo, as voltadas para a capacitação de mãode-obra possam mobilizar os recursos existentes no chamado Sistema S (SENAI, SENAC
e SEBRAE, principalmente) e com eles resolver as suas carências mais importantes. No
caso dos vetores avançados, haverá a necessidade eventual de conceber e implementar
programas específicos de capacitação, com módulos correspondentes ao grau de articulação
e ao tipo de inserção (regional e setorial) do sistema produtivo e às ofertas típicas dos
ambientes em que esses SLP’s estão inseridos.
O segundo elemento envolve a natureza da indústria (o setor de atividade) em
torno da qual está estruturado o sistema local. Evidentemente, as normas técnicas dos
produtos oriundos da indústria de confecções são muito distintas e possuem um rigor
inferior às do setor de alimentos. Esses dois elementos (tipo e/ou setor do SLP) estão
indicados no quadro 2.
Tipo do SLP – caracterização básica
Por tipo de SLP
Setor de atividade
econômica do SLP
Ações no campo da metrologia,
Por setor de atividade
das normas técnicas e da
do SLP
certificação de produtos
Independente do
setor de atividade do
SLP
Cursos técnicos de capacitação da
mão de obra ocupada em
atividades administrativas
Independente do tipo de SLP
Cursos técnicos de capacitação da
mão de obra ocupada na produção
Conhecimentos básicos e
fundamentais sobre legislação
trabalhista
Quadro 2 - Exemplos de ações ou programas em SLP, segundo a influência do setor de
atividade e da tipologia básica (núcleo de desenvolvimento setorial e regional, vetor de
desenvolvimento local, vetor avançado e embrião)
Fonte: Elaboração própria
O quadro 2 mostra, na primeira célula, como as ações no campo da metrologia,
das normas técnicas e da certificação podem ter dupla influência no tipo de SLP e no seu
setor de atividade na concepção do programa. Um SLP com um grau de articulação e de
inserção mais estruturados, cujos mercados ampliaram-se e alcançaram dimensões amplas
e distâncias elevadas, precisa de sistemas de certificação de qualidade muito diferentes
daqueles que podem ser utilizados pelas empresas de sistemas produtivos ainda incipientes,
com produtos voltados para os mercados locais. Os ônus (dos financeiros aos custos de
imagem) de uma eventual falta de conformidade são muito maiores numa exportação do
que numa venda local em pequena escala. Essa mesma diferença manifesta-se quanto ao
195
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
setor de atividade do sistema local. Equipamentos médico-hospitalares e odontológicos
possuem, obrigatoriamente, normas mais rígidas do que confecções, por exemplo. Programas
nesse campo serão, portanto, necessariamente diferenciados.
Programas de capacitação profissional de trabalhadores voltados para atividades
de produção serão muito mais diferenciados, segundo o setor industrial das empresas, do
que em função do grau de articulação espacial e setorial do sistema local: uma empresa de
um SLP classificado como importante, no seu setor de atividade, possui necessidades de
trabalhadores qualificados idênticas às de uma empresa de um embrião, embora os cursos
básicos e técnicos tenham, evidentemente, que estar adaptados às características dos
processos industriais e das tarefas demandadas pelo setor industrial associado. Os programas
de capacitação administrativa e gerencial dos trabalhadores (e dos próprios empresários)
podem, contudo, variar muito mais em função do grau e do tipo de articulação espacial e
setorial do sistema local, do que em relação ao seu setor de origem. As empresas de um
embrião de qualquer setor de atividade terão carências e necessidades básicas em, por
exemplo, contabilidade de custos e formação de preços, enquanto as empresas de um NDSR
terão, possivelmente, demanda de conhecimentos em práticas comerciais internacionais ou
propriedade intelectual, proteção de marcas e obtenção de patentes.
O terceiro elemento, relacionado com as necessidades e demandas locais (e a sua
articulação com os instrumentos estaduais e federais), diz respeito à relação entre o sistema
local e o território local – as potencialidades e as carências regionais. Seria de pouca valia
oferecer a um embrião de sistema produtivo uma série de capacitações distantes do seu
grau de desenvolvimento (por exemplo, envolvendo ferramentas de gestão informatizadas,
quando o acesso a esses recursos está distante da realidade das empresas), ou às empresas
do sistema produtivo ligado às atividades metalúrgicas ou mecânicas práticas e regras típicas
das indústrias florestais ou alimentares, ou, ainda, pretender que as empresas enveredem
por trajetórias que são estranhas às realidades materiais, sociais ou culturais da região.
Nesse sentido, a proposta de políticas aqui apresentada diferencia-se pela
combinação de dois aspectos que devem, necessariamente, andar juntos: uma visão de
conjunto dos SLP’s, definida a partir de uma metodologia comum; e um conhecimento
adequado das realidades locais, resultante do envolvimento e da vivência das equipes que
realizaram o trabalho de campo. A visão de conjunto permite compor um quadro geral e
simultaneamente compreender e situar as diferenças e as especificidades. O conhecimento
das realidades locais possibilita reconhecer situações concretas e legitimar escolhas.
A segunda dimensão de consistência envolve a concatenação temporal das
diferentes ações. A preparação das empresas para processos produtivos melhorados supõe
196
Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná
a necessidade de recursos humanos qualificados e essa preparação, nas suas duas esferas
(empresarial e trabalhista), poderá alcançar resultados superiores sempre que o empresário
(ou, muito raramente, os gestores profissionais das empresas) estiver capacitado para, com
técnicas de gestão adequadas, aproveitar esses dois fatores de produtividade e competitividade
(processos produtivos melhorados e qualificação da mão-de-obra).
Numa perspectiva evolucionária, os desequilíbrios entre as etapas ou os elementos
constituintes dos processos produtivos ensejam movimentos de resposta que invertem o
sentido do desequilíbrio e o repõem em outro patamar. O desenvolvimento é um processo
necessariamente desequilibrado e as políticas de desenvolvimento devem aproveitar, a seu
favor e a favor da continuidade do processo, esses desequilíbrios.
A conquista de novos mercados poderá, eventualmente, ocorrer com esforços
apenas pontuais de qualificação dos trabalhadores, dos fornecedores e dos equipamentos,
mas logo as deficiências desses três alicerces de qualidade serão explicitadas, induzindo
investimentos para a sua superação. Os investimentos em modernização da produção e da
diferenciação dos produtos poderão perder-se, se não contarem com um regime de
apropriação expresso numa marca ou mesmo numa patente. Movimentos construtivos, de
promoção e qualificação, determinam novos passos.
A terceira dimensão de consistência deverá envolver a articulação entre as
diferentes ações e programas, desde a formulação, passando pela implementação e
acompanhamento, até que sejam avaliados. Nesse aspecto, é fundamental que a política
estadual seja capaz de aprender com o seu próprio processo de implementação. Experiências
bem-sucedidas num eixo do programa, num SLP específico, devem ser avaliadas,
reproduzidas, difundidas; episódios de fracasso devem ser rapidamente identificados,
discutidos, corrigidos, e suas deficiências, supridas. Nada pode contribuir mais para solapar
as bases de uma política de promoção e fomento do que amálgamas entre esforços exitosos
e investimentos fracassados. Avaliar é fundamental. Avaliações críticas regulares devem
condicionar cada nova etapa.
A segunda e a terceira dimensões acima discutidas definem uma quarta, referente
às contrapartidas. Se cada etapa da política estadual para SLP deve, necessariamente, conter
avaliações que propiciem a passagem à etapa seguinte do processo, essa avaliação deverá
conter elementos explícitos de mensuração das contrapartidas e do envolvimento local. A
política de apoio e fomento não pode substituir as energias locais, devendo, tão somente,
ser o elemento da sua catálise. Se o organismo não mobiliza a sua própria energia e, ademais,
esteriliza os recursos adicionais de uma política de apoio e fomento, é melhor – por ser
mais produtivo – que a ação pública se volte para aqueles sistemas produtivos que dão
197
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
respostas mais consistentes e, por isso, mais justificáveis socialmente, num quadro de recursos
escassos.
Um dos aspectos em que essa negociação deverá ser mais clara e rigorosa é o que
diz respeito ao cumprimento de certas regras básicas, sobretudo em termos trabalhistas,
ambientais e fiscais. Uma política de desenvolvimento, mesmo quando incide, principalmente,
sobre empresas de dimensões modestas, não pode ser complacente ou mesmo apenas
indiferente, com relação a certas práticas que, a pretexto de serem ocasionais, terminam por
definir processos competitivos deformados que se tornam estruturalmente dependentes de
fundamentos inaceitáveis.
O quadro 2 pode ser desdobrado de forma modo adequado à complexidade da
realidade, na forma apresentada no quadro 3.
Cada um dos programas constantes da política estadual para SLP pode ser
diferenciado principalmente, em relação ao tipo de desenvolvimento do SLP e ao seu setor
industrial. Haverá programas comuns e programas específicos. Alguns programas poderão
ter módulos comuns e, em seguida, módulos específicos. Alguns dos programas específicos
para setores determinados poderão ser itinerantes, desenvolvendo correspondentes locais
que progressivamente assumiriam responsabilidades permanentes.
Na sequência, este capítulo busca compor as demandas identificadas pelo trabalho
de campo realizado no Paraná de uma forma triplamente estruturada. Em primeiro lugar,
por meio da agregação e da organização das demandas identificadas, completando,
formatando, dando organicidade a cada uma das demandas, dentro de sua categoria (quer
dizer, qualificação de mão-de-obra, por exemplo, ou modernização produtiva).
Os programas de capacitação empresarial, para ficar no exemplo mais simples e
evidente, dificilmente poderão ter qualquer importância efetiva se não contemplarem, como
base e ponto de partida, a formação de competências em contabilidade, os custos e a gestão
financeira. A criação de mercados externos não pode dispensar, como requisito prévio, esse
aspecto fundamental. Estruturada, também, em segundo lugar, no sentido de procurar
identificar uma possível sequência para programas, caminhando gradativamente em direção
aos mais ambiciosos, a partir de uma avaliação minuciosa dos resultados alcançados com os
programas anteriores. Estruturada, finalmente, pela identificação de possíveis contrapartidas
e parceiros potenciais para cada um dos programas e ações relacionados.
As demandas foram identificadas a partir da sistematização dos problemas
mencionados nas respostas aos questionários aplicados ou nas entrevistas realizadas (trabalho
de campo), e da sua hierarquização pelo número de vezes que cada problema foi citado. A
especificidade de cada demanda de SLP, em comparação com o total das demandas análogas
198
Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná
PROGRAMAS
TIPOS DE SLP
VA
NDSR
VDR
SETOR DE ATIVIDADE DO SLP
E
SA
2
SA
n
...
Programa horizontal de capacitação para exportação
Exportação
SA
1
Ação 1
Ação 2
Ação 3
...
Módulo
normas
Programa de capacitação para exportação
UE e
EUA
Módulo
financiamento
Módulo X
Módulo Y
Ação n
...
...
Tipo A
Ação 1
Programa independente do tipo de SLP – comum a
todos
Ação 2
Programa X
Ação 3
Ação 4
Ação 5
Programa Y
Programa Z
Programa
W
Ação 6
...
Ação n
...
...
Tipo X
Ação 1
Programa independente do tipo de SLP – comum a todos
Prog. Y2
Ação 2
Ação 3
...
Prog. Y3
Prog Y1
Prog. Y4
Ação n
QUADRO 3 - Exemplos de possíveis ações ou programas em sistemas produtivos locais, segundo
a influência do setor de atividade e do grau de desenvolvimento
FONTE: Elaboração própria
199
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
(ou no mesmo capítulo), fornece sugestão de ampliação dos esforços e da sua abrangência.
Finalmente, a consolidação das várias demandas, já estruturadas no sentido da ampliação,
passa por um desenvolvimento adicional, que procura dar maior racionalidade, consistência
e eficácia ao atendimento (a oferta) das demandas identificadas.
PROGRAMAS E AÇÕES
Nos parágrafos seguintes são apresentados, à guisa de sugestões indicativas
concretas, algumas das propostas de programas e ações exemplificadas no quadro 3. As
sugestões decorrem da leitura que foi feita em relação às propostas encaminhadas pelos
trabalhos de campo, fossem elas resultado das entrevistas locais ou da leitura da realidade
local feita pelos pesquisadores. Nesse sentido, essas propostas refletem o lado da demanda.
Estas demandas devem ser cotejadas com as ofertas que hoje são feitas por diferentes
instituições, públicas e privadas, locais, estaduais ou federais.8 O cruzamento das demandas
identificadas com as ofertas existentes deverá produzir um resultado distinto tanto de umas,
quanto de outras. Além disso, caberá à política estadual para SLP encontrar as formas e os
instrumentos para a concatenação das ações e a coordenação dos programas que serão
estabelecidos.
Fortalecimento do tecido associativo
Ações de promoção e fortalecimento do espírito associativo constituem,
possivelmente, o programa mais importante de todos, o qual dará suporte a todos os demais.
Bem-sucedido, poderá dar vigor e alcance a todos os outros; caso contrário, os vazamentos
de recursos e energias dificultarão sempre o alcance de resultados e cada empreitada será
um ponto de partida novo, sem o élan dos resultados anteriores.
Mas, o fortalecimento do tecido associativo dificilmente poderá ocorrer sem a
perspectiva de algum retorno. É imprescindível que pelo menos um programa mobilize e
ofereça resultados que retroalimentem o espírito associativo. O programa ideal para essa
arrancada é um programa de “chão de fábrica”, de engenharia de processos produtivos,
destinado a promover uma elevação inicial dos patamares de qualidade e de produtividade
8
Esta necessidade de compatibilização deve ser considerada, inclusive, para as propostas apresentadas na sequência,
particularmente em relação às sugestões de extensionismo industrial, a exemplo dos agentes de custos, de exportação, de
crédito e de propriedade intelectual.
200
Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná
e simultamente, identificar carências nas dimensões administrativas (custos, estoques, giro,
etc) e na capacitação da mão-de-obra, criando espaço para os programas seguintes.
Para viabilizar esse programa, seria necessário, inicialmente, contratar cinco
profissionais que se dedicariam aos SLP’s de cada um dos cinco setores básicos: Confecções,
Madeira e móveis, Cerâmica, Alimentos e Metal-mecânico. Os SLP’s de Equipamentos
Médicos, Odontológicos e Hospitalares (EMOH) e de Software deveriam ter um tratamento
diferenciado pelas suas características muito mais tecnificadas.
Este programa deverá alcançar diversos resultados importantes e reduzir as
demandas de apoio em diversas áreas, incluindo a demanda recorrente ao capital (para
investimento e, sobretudo, para giro) mais barato. Uma programação mais adequada do
processo produtivo e uma gestão mais eficiente dos estoques (de insumos e produtos)
deverá reduzir substancialmente as necessidades de capital das empresas.
Os quatro programas seguintes – a saber: a) capacitação em gestão financeira,
mecanismos e instrumentos de crédito, financiamento e desenvolvimento de elos financeiros
estruturados; b) capacitação em gestão contábil, custos e formação de preços; c) capacitação
em exportação; e d) capacitação em propriedade intelectual (marcas e patentes) – deveriam
estar condicionados e concatenados aos resultados deste primeiro esforço.
Programa de capacitação em gestão financeira; mecanismos, instrumentos
de crédito e financiamento; e desenvolvimento de elos financeiros estruturados
• Gestão financeira básica – palestra de sensibilização, baseada em exemplos de problemas
e suas possíveis soluções.
• Gestão financeira básica – curso de 15 horas (cinco dias/noites), aberto aos
administrativos das empresas e aos “chefes” e gerentes de produção; linhas de
financiamento existentes; elaboração de projetos; linhas especiais para desenvolvimento
tecnológico (SEBRAE, FINEP, BNDES ou outra instituição); esse curso deveria contar
com a participação efetiva de agentes locais do sistema financeiro (gerentes dos bancos
oficiais, profissionais do SEBRAE, representantes da FIEP – Federação das Indústrias
do Estado do Paraná).
• Criação do agente local de crédito, com a missão precípua de orientar as empresas
durante um período de três a seis meses (consultoria itinerante).
201
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Programa de apoio ao desenvolvimento de mecanismos de crédito e
financiamento
A experiência recolhida em alguns dos SLP’s paranaenses (por exemplo, Cianorte
e Terra Roxa) sugere que existem espaços e meios para melhorar o acesso ao crédito e
reduzir os custos de financiamento. A própria política estadual pode constituir um poderoso
mecanismo para que os bancos locais ampliem o acesso e melhorem as condições dos
financiamentos, seja com relação às taxas, seja com relação às garantias.
Nos casos em que as empresas do SLP possuem como compradores grandes
empresas, com risco de crédito inferior ao das empresas do SLP, seria possível constituir
um fundo de recebíveis dessas empresas, criando uma base para créditos mais baratos.
Programa de capacitação em gestão contábil, custos e formação de preços
• Conceitos de contabilidade básica – palestra de sensibilização, baseada em exemplos de
problemas e suas possíveis soluções.
• Gestão básica de custos – curso de 15 horas (5 dias/noites) – aberto aos administrativos
das empresas e aos chefes e gerentes de produçã; contabilidade; balanço: ativo, passivo,
patrimônio líquido; procedimentos contábeis básicos; despesas e receitas; regimes de
competência e de caixa; fatos contábeis; inventário; valoração; ativo imobilizado e
amortização; demonstrativos; análise de balanço e de resultados; sistemas de custeio;
análise de custos.
• Criação do agente local de custos, com a missão precípua de orientar as empresas durante
um período de três a seis meses (consultoria itinerante); duração: 12 meses, para
implantação efetiva de sistemas de custeio e difusão da cultura de análise de custos.
• Outras sugestões: este é um momento indispensável da capacitação empresarial,
sobretudo naqueles SLP’s cuja dinâmica competitiva pode ser considerada predatória.
Um dos fatores que sanciona a concorrência predatória é a falta de percepção quanto à
importância dos custos fixos: quanto maiores forem os custos fixos, maior a possibilidade
de que as empresas venham a praticar preços sistematicamente superiores aos custos
diretos (matérias-primas e mão-de-obra), mas inferiores aos custos totais. É fundamental
que os empresários consigam identificar o conjunto dos seus custos e, com isso, tornarem
capazes de estabelecer patamares mínimos de preços, evitando as práticas predatórias.
202
Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná
Programa de capacitação em exportação
• Conceitos básicos – palestra de sensibilização, baseada em exemplos concretos.
Diferentemente dos cursos de Gestão Administrativa, Financeira, Contabilidade e Custos,
cujos resultados são bastante imediatos, o comércio exterior envolve investimentos com
resultados diferidos, com prazo de maturação incerto e possivelmente longo. O
planejamento dessa entrada no exterior é fundamental e poderia ter custos reduzidos e
incertezas mitigadas com ações coletivas.
• Programa de exportação dos SLP’s estaduais. Em vários, houve menção ao consórcio
de exportação. Talvez fosse possível criar um consórcio setorial de exportação: ao invés
de colocar várias firmas do segmento específico num mesmo consórcio, especializado
num único produto (bonés, ou jeans, ou malhas), formar-se-ia um consórcio de confecções,
com produtos de vários SLP’s.
• Criação do agente estadual de exportação com a missão precípua de orientar as empresas
durante um período de 36 meses (consultoria dedicada). Poderia ser instalado pela FIEP,
percorrendo as regiões, identificando oportunidades, superando deficiências e removendo
restrições.
• Duração: 36 meses, para implantação efetiva de programas de exportação. C u s t o
estimado: identificar mecanismos de apoio, com o SEBRAE e APEX (talvez SENAC).
Um mecanismo ideal seria um financiamento público que pudesse ser amortizado e
pago com uma fração (2% - 5%) do valor das exportações futuras.
Programa de capacitação em propriedade intelectual – marcas e patentes
• Conceitos básicos – palestra de sensibilização, baseada em exemplos concretos.
• Fortalecimento do agente estadual de propriedade intelectual com a missão precípua de
sensibilizar os empresários para o tema e para a necessidade de proteção das suas ideias
criativas e dos seus investimentos tecnológicos e inovativos.
• Duração: ações episódicas, com intervalos de tempo de seis meses, durante dois anos.
• Custo estimado: identificar mecanismos de apoio, com organismos estaduais e como os
federais (INPI).
203
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Programa de capacitação de mão-de-obra
Este programa deverá desdobrar-se em pelo menos três dimensões: mão-de-obra
fabril (produção), técnicos especializados e profissionais de desenvolvimento tecnológico.
Os dois primeiros deverão ser concebidos a partir dos recursos existentes localmente, com
os cursos básicos e técnico-profissionais das escolas do SENAI e assemelhadas.
Dentro desses cursos é que deverão ser estudados os embriões do desenvolvimento
tecnológico, seja para o aprimoramento da qualidade, seja para a diferenciação (funcional,
estética) dos produtos e dos processos (energia, ambiente, saúde dos trabalhadores).
Programa de desenvolvimento de competências metalmecânicas,
eletromecânicas e em software e automação, no âmbito das escolas técnicas
– SENAI e congêneres
Uma grande parte dos desenvolvimentos nos processos produtivos pode ser
realizada por modificações nos equipamentos e nos processos existentes. A evolução dos
SLP’s em direção à inovação e ao desenvolvimento de novas soluções técnicas, envolve o
desenvolvimento de competências técnicas que permitem aos trabalhadores qualificados
pelas escolas técnicas e profissionais o alcance de graus de autonomia superiores no seu
trabalho. A experiência da Escola Técnica do SENAI, em Cascavel, revela que a integração
do software e da automação às escolas de cunho metal mecânico propicia condições para a
promoção dos processos industriais a patamares superiores.
Programa de apoio tecnológico e certificação
Voltado, sobretudo, para os SLP’s metal mecânicos (EMOH, Metais Sanitários,
Equipamentos e Implementos Agrícolas, Móveis de Metal e Sistemas de Armazenagem e
Logística) e de software. O módulo básico poderá ser oferecido nos demais sistemas produtivos;
conceitos e instrumentos de qualidade; qualidade dos produtos e dos fornecedores.
Formação de um grupo de trabalho misto para discutir, com o INMETRO e a
ANVISA, os protocolos e os procedimentos de teste e de validação dos produtos da área
médico-hospitalar-odontológica. Um representante dos polos de Curitiba e de Campo
Mourão deveria agregar-se aos grupos técnicos que existem no plano federal. O TECPAR
poderia submeter ao CNPq uma bolsa RHAE (Recusos Humanos para Atividades
Estratégicas) para capacitar um profissional de bioengenharia para estudar e dar suporte às
demandas dos dois polos de EMHO.
• INMETRO e TECPAR.
204
Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná
Programa de capacitação para gestão ambiental e cumprimento de normas
ambientais
Nenhum dos programas que concedem benefícios, de qualquer espécie, deveria
encetar as suas atividades sem um adequado equacionamento da questão ambiental. Esse
equacionamento pode desdobrar-se em dois planos principais. O primeiro, mais imediato,
envolve o cumprimento das normas. Ele pode ser realizado em etapas, mas cada uma delas
deve estar associada a metas e ser antecipadamente estabelecida e acordada com as entidades
locais. O segundo envolve uma revisão dos processos produtivos, com o intuito de identificar
as necessidades e as possibilidades de mudanças que permitam enfrentar os problemas
ambientais associados à atividade local com outros meios que não os paliativos, de natureza
apenas mitigadora.
Programa-piloto de capacitação para a inovação – I fase
Este programa baseia-se na mobilização de novas competências para articular-se
às criadas pelos programas anteriores. A ideia é mobilizar um grupo profissional (com três
competências complementares, um número suficiente para produzir soluções efetivamente
diferenciadas) para conceber certo número de novos produtos, de propriedade coletiva das
empresas dispostas a participar do programa nas etapas anteriores e, nesta, com aporte de
recursos para a remuneração (parcial) do projeto inovador. O restante dos recursos seria
conseguido com financiamento de organismo estadual ou federal (FINEP – Programa de
Apoio a APLs; BNDES – Proinco (Programa de Investimentos Coletivos Produtivos).
Programa-piloto de capacitação para a inovação – II fase
Baseado nos resultados da experiência anterior, o grupo profissional, constituído
no Programa-piloto de Capacitação para a Inovação, poderia tornar-se autônomo, sob forma
jurídica a definir (empresa, OSCIP), ou ser incorporado a um organismo público existente.
Nesse caso, o objetivo é torná-lo autônomo e vinculado, de forma sustentada, às demandas
de um ou mais SLP, como um grupo de competências aglutinado e estimulado durante um
período de tempo com recursos privados e públicos.
• Investimentos: principalmente e crescentemente privados, oriundos de projetos individuais
de empresas ou de consórcios. Os recursos públicos, eventualmente necessários na etapa
inicial, deveriam desaparecer rapidamente, dirigindo-se a outros programas ou a este
mesmo programa em outros SLP.
205
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Programa de valorização cultural-educacional das atividades produtivas locais
Concepção, desenvolvimento e produção de um material didático para capacitação
dos professores da rede de ensino pública e privada, em torno dos temas principais
relacionados com a atividade produtiva local. Capacitação desses professores, quanto: à
história e à geografia do produto – no Brasil e no mundo; aos principais processos físicoquímicos subjacentes à produção; aos processos biológicos envolvidos no desenvolvimento
das matérias-primas, nos resíduos; às questões ambientais; à segurança no trabalho; aos
exemplos de experiências bem-sucedidas de transformação econômica e desenvolvimento
em SLP’s semelhantes.
Programa de estímulo à expansão da produção e à formalização da atividade
econômica
A carga fiscal brasileira é elevada e o sistema tributário é burocrático, demandando
das empresas uma administração complexa e dispendiosa. Esses dois fatos, amplamente
reconhecidos, têm contribuído para a prática sistemática da sonegação, por parte de muitas
empresas.
Essas práticas geram dois problemas bastante graves. O primeiro é a deformação
dos padrões de competição: as empresas que sonegam (ou que sonegam mais) possuem
vantagens em relação àquelas que cumprem adequadamente as regras tributárias.
Eventualmente, aquelas acabam por induzir um comportamento análogo por parte dessas
últimas. O segundo problema, associado ao anterior, diz respeito à impossibilidade de uma
gestão adequada nas empresas, cuja contabilidade convive com o descumprimento das regras
fiscais. Essas empresas podem, eventualmente, apresentar um impulso inicial de crescimento
mais vigoroso, pelo fato de terem custos menores, mas são incapazes de aproveitá-lo de
forma duradoura, pois deformam a sua estrutura de custos, a sua contabilidade e a sua
gestão e tornam-se incapazes de sustentar uma trajetória expansiva. Em que pese o fato de
se tornarem, cedo ou tarde, reféns e vítimas de uma trajetória deformada, essas empresas
contribuíram para que as demais enfrentassem uma concorrência que possui elementos
fortemente negativos e destrutivos.
O Estado do Paraná poderá enfrentar essa questão mais adequadamente no
contexto de sua política para SLP’s. Ao propiciar às empresas dos SLP e aos próprios SLP
meios para o seu desenvolvimento, poderá, nesse mesmo movimento, oferecer às empresas
os meios para uma formalização adequada e para práticas fiscais e tributárias consistentes
com o seu desenvolvimento de longo prazo. A política estadual para SLP poderá recorrer a
206
Políticas e ações institucionais para sistemas locais de produção do estado do Paraná
mecanismos de alívio fiscal, sejam eles diferimentos, reduções de alíquotas ou outros
instrumentos que a criatividade fazendária venha a conceber. Um ponto importante a ser
buscado neste programa é a combinação do estímulo fiscal com a criação de condições
para o desenvolvimento a longo prazo das empresas e o estabelecimento de um terreno
saudável de competição.
OBSERVAÇÕES FINAIS
A implementação dessas proposições de políticas deve, necessariamente, ser
articulada à política industrial e a outras políticas estaduais, notadamente a de desenvolvimento
regional. Não se pode criar a falsa expectativa de que uma política de apoio aos sistemas
locais de produção seja capaz de resolver todos os problemas e gerar condições suficientes
para o desenvolvimento econômico e social do Estado.
Além disso, é necessário ter em mente que nem tudo pode ser tratado por meio
de políticas para SLP, pela simples razão de que há atividades econômicas para as quais essa
forma de organização territorial da produção não se aplica. Nesses casos, as demandas
podem ser mais bem atendidas por meio de políticas e programas de desenvolvimento
setorial e regional. Por isso, é importante que a política para SLP seja realmente tratada
como um componente de um conjunto de políticas estaduais de desenvolvimento de cunho
setorial e/ou regional.
Os mapas dessas políticas poderiam, por exemplo, ser sobrepostos aos dos
SLP’s para concatenar as ações. Isso permitiria atender às demandas relacionadas às
infraestruturas (rodovias, aeroporto regional, energia, telecomunicações) e às instituições
de apoio às empresas. Adicionalmente, na própria política para SLP, deve-se procurar
aproveitar as sinergias com as metas setoriais da Política Industrial, Tecnológica e de
Comércio Exterior, do governo federal, particularmente em atividades de software e de
produção de bens de capital.
Cabe ainda ressaltar as limitações de uma política estadual para SLP como meio
de dinamizar sistemas econômicos regionais ou mesmo locais, especialmente quando as
atividades locais não estão interligadas a sistemas produtivos mais amplos. Nesses casos, a
capacidade de dinamizar a economia regional ou local, no sentido de promover maior
diversificação da estrutura produtiva e de liderar o desenvolvimento de outras atividades,
pode ser limitada. Daí a necessidade, mencionada acima, de articular a política para SLP
com outras políticas estaduais. Entretanto, mesmo levando em conta essa limitação, foi
207
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
possível observar que o desenvolvimento econômico e social, nas regiões abrangidas por
SLP, tende a ser influenciado pelas atividades do sistema local, o que já é uma boa justificativa
para políticas ou ações institucionais com esse foco.
Por fim, uma ressalva muito importante: a política para SLP não pode assumir
uma conotação paternalista, ao contrário, deve oferecer condições para que os protagonistas
locais – empresas, empresários, trabalhadores, entidades públicas e privadas e o tecido
associativo formal ou informal – utilizem a sua capacidade de mobilização em favor do
desenvolvimento, na medida do possível oferecendo contrapartidas próprias. Ou seja, a
política não pode substituir a capacidade empreendedora dos atores locais, que deve
preponderar.
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209
Sobre os autores
Alvaro José Periotto
Graduação em Ciências da Computação pela USP - São Carlos (1978), mestrado em Otimização e
Pesquisa Operacional pela UNICAMP (1983) e doutorado em Engenharia de Sistemas e Computação
pela COPPE-UFRJ (1992). Foi diretor de gestão de pesquisa da Universidade do Oeste Paulista. É
professor titular da Universidade Estadual de Maringá (concurso público em 1994), onde se dedica
ao ensino e à pesquisa em Administração, à atividades de extensão junto ao Núcleo Local da
Unitrabalho e à avaliação institucional (CPA). Atualmente, é coordenador do Programa de PósGraduação em Administração consorciado UEM-UEL. Tem experiência nas áreas de Administração
e Computação, com interesse principalmente sobre os seguintes temas: tecnologia e sistemas de
informações empresariais, ciência e tecnologia nas organizações, empreendedorismo e tecnologia
educacional e corporativa.
Antônio Carlos de Campos
Graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Maringá (1992), especialização
em Estatística Aplicada pela Universidade Estadual de Maringá (1996), mestrado em Ciências
(Economia Aplicada) pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (1998) e doutorado em
Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal do Paraná (2004). Atualmente, é Professor
Adjunto da Universidade Estadual de Maringá, Revisor de periódico da Revista Brasileira de Inovação,
Revisor de periódico de Textos de Economia, Revisor de periódico da revista A Economia em
Revista e Revisor de periódico da Revista de Economia (Curitiba). Tem experiência na área de
Economia, com ênfase em Economia Industrial. Atuando, principalmente, nos seguintes temas:
arranjos produtivos, desenvolvimento regional, organização industrial, clusters.
Fábio Hideki Ono
Graduação em Economia pela Universidade Estadual de Campinas e Mestrado em Desenvolvimento
Econômico pela Universidade Federal do Paraná. Atualmente, é analista de projetos da empresa de
consultoria norte-americana Independent Projetct Analysis (IPA)
Fernanda Yumi Tsujiguchi
Graduação em Comunicação Social, com habilitação em Relações Públicas, pela Universidade Estadual
de Londrina (1999), e mestrado em Administração - área de concentração em Gestão de Negócios
- linha de pesquisa em Empreendedorismo pela Universidade Estadual de Londrina e Universidade
Estadual de Maringá (2007). Atualmente, é responsável pela gestão da Incubadora Tecnológica de
Presidente Prudente - INTEPP e professora da Universidade do Oeste Paulista - Unoeste, atuando
nas seguintes áreas: Empreendedorismo e Inovação.
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Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Jaime Graciano Trintin
Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Maringá (1984), mestrado
em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (1988) e doutorado em Ciências Econômicas
pela Universidade Estadual de Campinas (2000). Atualmente é professor associado da Universidade
Estadual de Maringá. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Regional,
atuando, principalmente, nos seguintes temas: Desenvolvimento Regional, Desenvolvimento
Econômico, arranjos Produtivos, Clusters e Economia Paranaense.
João Furtado
graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas (1981), mestrado em
Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas (1984) e doutorado em Sciences
Économiques - Universite de Paris XIII (Paris-Nord) (1997). Professor assistente-doutor da UNESP
(licenciado), credenciado como professor-orientador do programa de pós-graduação em Política
Científica e Tecnológica da UNICAMP, professor assistente-doutor da Escola Politécnica da USP.
Exerceu funções de assessoria na FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos - (1999-2002), e no
BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - (2005-2007). Coordenou
diversos projetos de pesquisa e dirigiu, durante mais de 10 anos, o Grupo de Estudos em Economia
Industrial (GEEIN - UNESPl). Coordena o Observatório de Estratégias para a Inovação. É fundador
e Editor-Executivo da Revista Brasileira de Inovação. Orientou dezenas de trabalhos de iniciação
científica, monografias de conclusão de curso, dissertações de mestrado e tese de doutorado. Produziu
e publicou artigos, capítulos de livros e relatórios técnicos. Exerce, na FAPESP, a função de
coordenador-adjunto para as áreas de inovação e para os programas PIPE e PITE. Conselheiro da
FIESP (Conselho Superior de Tecnologia) e conselheiro (Conselho Superior) da Fundação Escola
de Sociologia e Política. Atua nas linhas de pesquisa: Economia da Tecnologia e da Inovação;
Estratégias e Políticas Industriais e Tecnológicas; Estudos Setoriais; Análise de Estratégias
Competitivas e de Tecnologia e Inovação
Kleber Fabiano Angeli
graduação em Matemática pela Fundação Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Mandaguari
(1998). Mestrado em Administração pela Universidade Estadual de Londrina (2007) - PPA/UEM/
UEL - e especialista em Gestão Financeira e Comércio Internacional pelo Centro Universitário de
Maringá (2002). Atualmente, é professor titular do Instituto Adventista Paranaense e UNIPAR e
professor de pós-graduação do CESUMAR e FACINOR. Tem experiência na área de Administração,
atuando principalmente nos seguintes temas: Empreendedorismo, Mercadologia e Gestão Financeira.
Luiz Gustavo Antonio de Souza
Graduação em Economia pela Universidade Estadual de Londrina (2007) e foi bolsista Pibic-CNPq.
Atualmente, cursa o doutorado em Ciências - Economia Aplicada pela Esalq-USP. Atua na área de
economia, com ênfase em: Economia Industrial - Tecnologia e Inovação, Economia Regional e
Estudos em Complexos Agroindustriais.
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Sobre os autores
Marcia Regina Gabardo da Camara
Graduação em Economia pela Universidade de Brasília (1980), mestrado em Economia pela
Universidade de São Paulo (1986) e doutorado em Economia pela Universidade de São Paulo (1993).
Atualmente, é Professora Associada da Universidade Estadual de Londrina. Tem experiência na
área de Economia - com ênfase em Organização Industrial, Estudos Industriais e Economia da
Inovação e da Tecnologia -; e Administração - com ênfase em Empreendedorismo e Políticas Públicas.
Atua, principalmente, nos seguintes temas: Competitividade, Inovação, Arranjo Produtivo Local ,
Aglomerações, Clusters e Políticas Públicas.
Márcia Gonçalves Pizaia
Graduação em Economia pela Universidade Estadual de Londrina (1996), especialização em Auditoria
e Controladoria pela Universidade Norte do Paraná (1999), mestrado em Economia Política pela
Universidade de Brasília (2001), doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal
de Santa Catarina (2004) e pós-doutorado pela Universidade Federal de Minas Gerais (2007).
Atualmente, é Professora Adjunta do Departamento de Economia da Universidade Estadual de
Londrina. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Regional e Urbana.
Atuando, principalmente, nos seguintes temas: Regulação, Tarifa Econômica Ótima.
Maria de Fátima Sales de Souza Campos
Graduada em Economia Universidade Federal de Pernambuco (1989), Mestrado em Economia
Rural (ESALQ/USP) (1992) e Doutora em Economia pela UFPE (2004), e atua no Departamento
de Economia da Universidade Estadual de Londrina, onde desenvolve pesquisas nas áreas de
Economia Internacional, Economia Regional, Economia do Trabalho e Economia Industrial,
principalmente as relacionadas às seguintes temáticas: Comércio Exterior Brasileiro, Mercado de
Trabalho, Desigualdades Salariais, Produtividade e Salários, Competitividade Industrial e Arranjos
Produtivos Locais.
Neio Lúcio Peres Gualda
Graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Maringá (1979), especialização
em economia de empresas pela Universidade Estadual de Maringá (1984), mestrado em Economia
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1988) e doutorado em Economia de Empresas
pela Fundação Getulio Vargas - SP (1994). Atualmente, é professor Titular da Universidade Estadual
de Maringá. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Internacional. Atuando,
principalmente, nos seguintes temas: Estrutura de Mercado, Comércio Internacional, Argentina,
Abertura Econômica, Concorrência e Organização Industrial.
Renato de Castro Garcia
Graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
(1991), Mestrado (1996) e Doutorado (2001) em Economia pela Universidade Estadual de Campinas.
Atualmente, é Professor do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, em regime de dedicação exclusiva (MS3; RDIDP). Seus trabalhos de
pesquisa estão inseridos na área de Economia, com ênfase em Economia Industrial e da Tecnologia,
atuando, principalmente, em temas como: Sistemas Locais de Produção e Aglomerações de Empresas,
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Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Interações Universidade-Empresa, Indústria Brasileira, Política Industrial, Estratégias Empresariais
e Metodologia de Análise Regional.
Sérgio Eduardo Ketelhute Sampaio
Graduação em Economia pela Universidade Estadual de Campinas e Mestre em Desenvolvimento
Econômico pela Universidade Federal do Paraná. Atualmente, é professor de Economia para
administração da Faculdade Internacional de Curitiba e Coordenador de Projeto de Extensão
Tecnológica no Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar).
Vanderlei José Sereia
Graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Londrina (1983), especialista
em Administração e Economia Rural pela Universidade Estadual de Londrina (1985), Mestre em
Economia pela Universidade de Brasília (2001). Atualmente, é professor Assistente da Universidade
Estadual de Londrina e Doutorando em Administração na UNINOVE. Tem experiência na área de
Economia, com ênfase em Economias Agrária e dos Recursos Naturais. Atuando, principalmente,
nos seguintes temas: Exportações Paranaenses, Complexo Agroindustrial.
Wilson Suzigan
Graduação em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1965),
mestrado em Economia pela Fundação Getúlio Vargas - RJ (1968), doutorado em Economia pela
University of London (1984) e pós-doutorado pela University of London (1990). Atualmente, é Assessor
da Diretoria Científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Professor da
Universidade Estadual de Campinas, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico, Consultor do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social, Membro
de corpo editorial da Revista Brasileira de Inovação, Membro de corpo editorial da Revista de
Economia Política, Membro de corpo editorial da Revista ANPEC e Assessor da CAPES para
emissão de pareceres da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Tem
experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Industrial. Atua, principalmente, nos
seguintes temas: Investimentos, Indústria e Desenvolvimento Industrial.
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Título
Organiuzadores
Gestão de Produto
Capa
Texto de quarta Capa
Projeto Gráfico
Produção Gráfica
Revisão
Formato
Tipografia
Papel
Número de páginas
Tiragem
Características e potencialidades das aglomerações de Software no Paraná
Marcia Regina G. da Camara; Maria de Fátima Sales de S.
Campos e Vanderlei José Sereia
Rosane Fonseca de Freitas Martins
Guilherme Henrique de Oliveira Cestari
Maria Helena de Moura Arias
Guilherme Henrique de Oliveira Cestari
Maria de Lourdes Monteiro
Martha Augusta Corrêa e Castro Gonçalves
18 x 24 cm
Garamond
Supremo 250 g/m2 (capa)
of set 90g/m2 (miolo)
230
500
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