André Calixto Vieira Victor de Carvalho Klein Rio de Janeiro - Brasil Prefácio Os caminhos que levam ao vulcão cortam a Serra do Mendanha entre os municípios de Nova Iguaçu e Rio de Janeiro. São estradas de terra e trilhas de caçadores na mata fechada. No meio do caminho, dois geólogos encontram um material raro, uma cascata de rochas vulcânicas. Quinze quilômetros de caminhada, uma noite na mata, até chegar ao vulcão. Logo abaixo, a maior cidade fluminense, Nova Iguaçu. Ao longo de milhões de anos os vulcões do Brasil deixaram de entrar em atividade e foram desaparecendo com os efeitos das erosões. O que impressiona os geólogos é que, em Nova Iguaçu, ainda existem algumas paredes que são vestígios do vulcão extinto. Este seria o vulcão mais novo, adormecido há mais de 30 milhões de anos. A boca do vulcão tinha um quilômetro e meio - quase cinco vezes o diâmetro do Maracanã. A altura chegava a trezentos metros, hoje não passa dos cem. No interior da cratera, a três quilômetros de profundidade, rochas eram transformadas em bolas de fogo. O vulcão de Nova Iguaçu não soltou lava, ele faz parte de um grupo de vulcões que lança pedras incandescentes durante a erupção. São rochas de até duas toneladas. Pedras vulcânicas menores foram encontradas a um quilômetro e meio de distância da cratera. Os geólogos analisaram o solo e tiveram a certeza de que nada pode incomodar o sono do vulcão. Vinícius Dônola Realização ANDRÉ CALIXTO VIEIRA Geólogo (UFRRJ) e Fotointérprete (CIAF). Mestre e Doutor (UFRJ). Trabalhou na UFRRJ, UFRJ e na iniciativa privada. Aposentado como professor e pesquisador da UFRRJ. Dedica seus estudos à interpretação de imagens de sensoriamento remoto, teoria do caos e tectônica global Coordenador da Câmara Especializada de Geologia e Engenharia de Minas VICTOR DE CARVALHO KLEIN Geólogo (UFRJ) Mestre e Doutor (UFRJ) Trabalhou na UFRRJ e UFRJ. Aposentado como pesquisador do Museu Nacional da UFRJ. Dedica seus trabalhos aos estudos dos vulcões. P odemos entender um vulcão como a saída de uma panela de pressão, que expele lava, nuvens de cinzas, vapor, gases e outras partículas, quando os níveis de pressão e temperatura no interior do planeta atingem limites incontroláveis. A Terra possui cerca de 1.500 vulcões ativos, dos quais, 550 em terra firme. No Brasil, não corremos riscos de erupções, mas encontramos vestígios únicos como o Vulcão de Nova Iguaçu, descoberta especial de dois brasileiros que o Crea-RJ tem orgulho de ter em suas fileiras. Este material apresenta informações pouco conhecidas da população e, ao mesmo tempo, desperta para reflexões importantes: especula-se que explosões vulcânicas tenham significativo impacto no equilíbrio climático, com implicações, inclusive, nos índices pluviométricos. Admite-se que, com o aquecimento global, a mudança no nível dos oceanos pode provocar a manifestação de centenas de vulcões novos ou inativos, invocando transformações que sequer conseguimos imaginar. Quando tentamos entender o passado visamos a compreensão da dinâmica evolutiva da Terra. Eng. Eletr. Reynaldo Barros Presidente do Crea-RJ Introdução As atividades vulcânicas da Terra ocorrem nos limites das grandes placas tectônicas. A Cordilheira dos Andes, situada no limite ocidental da Placa SulAmericana, é o local mais próximo do Brasil onde a atividade vulcânica é freqüente. Como o território brasileiro está localizado no interior da Placa Sul-Americana, longe dos seus limites, o vulcanismo aqui é muito raro. O que aconteceu há aproximadamente 40 milhões de anos no município de Nova Iguaçu, no Estado do Rio de Janeiro, é considerado vulcanismo na intra-placa tectônica. No Brasil existem outras evidências de vulcanismo na intra-placa, ocorridas durante a configuração atual da Terra, porém, pouca coisa foi poupada da erosão. O Vulcão de Nova Iguaçu é uma raridade, pois é o único no território brasileiro. Vulcão agora nós temos, então vamos conhecer, preservar, aprender como ele se formou, entender como ele entrou em erupção e o seu papel no processo de formação da crosta terrestre. Primeiros Estudos Em 1977, os geólogos André Calixto Vieira e Victor de Carvalho Klein desenvolviam estudos sobre a geologia do Estado do Rio de Janeiro quando, num certo dia de trabalho na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), analisando fotos aéreas de Nova Iguaçu, constataram ocorrências de rochas vulcânicas que, dispostas de forma circular, cobriam uma extensa área da Serra de Madureira, no Maciço do Gericinó. Durante os anos de 1977 a 1979 realizaram mapeamentos geológicos e, em 1980, publicaram os resultados dos seus estudos. Assim foi descoberto no Município de Nova Iguaçu, no Estado do Rio de Janeiro, o único vulcão brasileiro. Notícia da Descoberta O fato mais relevante aconteceu em 19 de dezembro de 1979 quando foi noticiada, na Sessão Extraordinária na Academia Brasileira de Ciências do Rio de Janeiro, a descoberta do Vulcão de Nova Iguaçu. O duto vulcânico está localizado no extremo norte da Serra de Madureira, Maciço do Gericinó, na cidade de Nova Iguaçu/RJ e o material expelido pelo vulcão extinto há aproximadamente 40 milhões de anos, é encontrado espalhado até as proximidades de Mesquita e no Parque Municipal de Nova Iguaçu. Informações Gerais O interior da cratera do Vulcão de Nova Iguaçu pertence ao Parque Municipal de Nova Iguaçu, criado em 05 de junho de 1998 e transformado em Geoparque seis anos depois, devido a grande importância da ocorrência vulcânica e da diversidade geológica da área . Uma fotografia aérea, obtida pelo fotógrafo Marcos Alves, em 1997 e publicada no Jornal O DIA, mostra a cratera ainda preservada (Fig. 1). Fig. 1 Fotografia panorâmica, mostra a cratera do Vulcão de Nova Iguaçu, na Serra de Madureira, Maciço do Gericinó. Grupos ligados às escolas públicas e particulares, esportistas, excursionistas, pesquisadores etc., são os principais frequentadores do local. O Vulcão de Nova Iguaçu assim chamado devido a uma homenagem dos descobridores à população de Nova Iguaçu, não tem chances de novas erupções pois a crosta terrestre se encontra em aparente estabilidade. Para visitar a cratera basta percorrer por uma hora e meia, a Trilha do Vulcão, que inicia em frente da Universidade Iguaçu (UNIG). Sinalizações com placas explicativas e ilustrativas indicam pontos de atrativos geológicos servindo como uma referência aos visitantes daquela bela região. Maciço do Gericinó A Unidade de Conservação Ambiental do Maciço Gericinó-Mendanha, compreende toda a área situada acima da cota de 100 metros de altitude e integra a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, homologada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 1992. A área foi considerada Floresta Protetora da União pelo Dec. Lei n° 3.889/41. Posteriormente, foi autorizada a criação da Área de Proteção Ambiental (APA) pela Lei n° 1.331/88. Em 1989, a Lei n° 1.483 define a cota altimétrica dos 80 metros como limite da APA e autoriza o Poder Público Municipal a criar o Parque do Mendanha. As preocupações de preservar a área devem-se aos significantes valores ambientais. O conjunto orográfico, de cerca de 80 milhões de anos, formado pelas serras do Mendanha e Madureira e Morro do Marapicu, foi um dos poucos focos de intensos fenômenos de vulcanismo no Estado do Rio de Janeiro, resultando daí uma formação geológica ímpar. Serra do Vulcão Via As imagens coloridas obtidas por satélite mostram o Maciço do Gericinó, localizado entre os municípios do Rio de Janeiro e Nova Iguaçu e a Serra do Vulcão (atualmente conhecida devido a presença do Vulcão de Nova Iguaçu naquela área), situada no extremo norte do Maciço do Gericinó, próximo as cidade de Nova Iguaçu Ro d. Pr Prefeitura e Mesquita. es .D utr EFC a B UNIG A imagem mostra em NOVA IGUAÇU Pedreira Vignê detalhe a Serra do Vulcão. A Pedreira Santo Antônio Pontos altos da cratera cratera do Vulcão de Nova Iguaçu Centro do duto Pedra da Contenda Portaria do Parque (circunscrita pela linha branca MESQUITA Rampa de Vôo Livre Centro de visitantes pontilhada) e o Parque Municipal Cachoeira Casarão de Nova Iguaçu. ra i O limite do Parque e Municipal de Nova Iguaçu, na Dom Felipe Limite do Parque de Nova Iguaçu S e r r a d o Vu l c ã o ( F i g . 2 ) , delimitado pela linha branca cheia, preserva grande parte do RIO DE JANEIRO Fig.2 Limite do Parque Municipal e da Cratera do Vulcão de Nova interior da cratera, boca do vulcão Iguaçu sobre a Imagem LANDSAT-TM de 10/09/2001. O limite do Parque não contempla toda a extensão da cratera (círculo de amarelo ou chaminé (círculo amarelo pontilhado). O centro do duto, que está na cota de 259 metros, é ponteado). também o centro da cratera. h Lig Serra d e M ad ur t Informações Gerais Ainda na figura 2, o verde representa a vegetação exuberante; o marron, as áreas degradadas da Serra de Madureira; o roxo, a área urbana (Nova Iguaçu e Mesquita); do branco ao rosa, as escavações ou desmontes das pedreiras Santo Antônio e Vigné. Na figura 4 (próxima pág.) estão localizados, sobre o mapa topográfico, vários atrativos da Serra do Vulcão. São pontos que podem ser observados ou visitados através das trilhas: da Contenda, da Varginha e do Mata Fome; ou estradas: do Parque e da Asa Delta. Vulcão de Nova Iguaçu Quando se pensa num vulcão vem à cabeça aquela montanha cuspindo fogo e destruindo tudo ao redor. O Vulcão de Nova Iguaçu é diferente. Ele é mancinho e se tornou um local perfeito para a prática de esportes radicais. O material vulcânico é encontrado nas redondezas da cratera cobrindo uma área de aproximadamente 5km². Estende-se pelo Parque Municipal de Nova Iguaçu e Município de Mesquita. São aglomerados vulcânicos contendo bombas vulcânicas e lapilli, concentrados na cratera e brechas piroclásticas formadas de rochas fragmentadas e trituradas durante a erupção (cinzas). O perfil transversal (Fig.3) que abrange a Serra de Madureira mostra que as rochas vulcânicas (aglomerado, brecha tufítica e micro-sienito), estão espalhadas na área do Vulcão de Nova Iguaçu e se distribuem verticalmente entre as cotas de 180 e 450 metros de altitude. O fundo da cratera está na cota de 259 metros e o ponto mais alto é a Pedra da Contenda com 443 metros. N S Parque Municipal de Nova Iguaçu SERRA DE MADUREIRA 600m Cratera Pedra da Contenda 400m Brecha piroclástica 200m Nova Iguaçu Gnaisse Aglomerado vulcânico Rio Dona Eugenia Sienito Duto Pedreira Vigné Micro-sienito Brecha Brecha piroclástica Brecha Micro-sienito Sienito Fig. 3 No perfil gelógico N-S, aparecem diversas litologias na área do Vulcão de Nova Iguaçu. Entre as cotas entre 180 e 450 metros: contato gnaisse-material vulcânico e da base ao topo da cratera, os depósitos vulcânicos predominam. Principais Atrativos da Serra do Vulcão Via Dutra EFC B NOVA IGUAÇU UNIG ad trad Es reira e Madu Estrada da Contenda 03 Via L ight Rio d eJ an e iro Acesso 7482000 Início da Trilha SP io- tr.R Es Av.B ras PEDREIRA VIGNE il Trilha da Contenda Estrada da Asa Delta 04 Limite da Cratera Blocos de tufos 7481000 01 Sudida da Cratera 05 06 259m Centro da Cratera 11 02 Mirante Filmagem ta Asa Del Rampa Iguacu Nova rasil Av.B Mirante da Cratera 07 Rapel da Contenda 08 09 Rapel da Contenda Trilha da Varginha 443m Guarita do Parque 12 Pedreira Desativada 10 Poço das Cobras 14 Trilha do Mata Fome 15 Casarão 7480000 Estrada do Parque 13 Sede Administrativa Cachoeira Véu de Noiva e .Felip as D Ruin 7479000 656000 657000 658000 Fig.4 Pontos de interesse geológico e outros atrativos na Serra do Vulcão. Pontos de Observação 1 - Estrada da Asa Delta Borda oeste da cratera. Ponto localizado sobre a estrada de acesso à Rampa de Vôo Livre. Pode-se visualizar o lado externo oeste da cratera, a Pedra da Contenda (dir.) e o Morro do Mirante (esq.). 659000 2 - Rampa de Vôo Livre. Rampa da Serra do Vulcão, localizada a 600 m de altitude. É utilizada para a prática do vôo livre. 3 - Trilha da Contenda Entrada da Trilha. O acesso a Trilha da Contenda começa próximo a UNIG. 4 - Mangueira. Neste ponto podemos encontrar blocos rolados de brecha tufítica, os primeiros vestígios de rochas vulcânicas. Ponto utilizado também para o descanso da caminhada. 5 - Base do Cone Vulcânico. Localizado no início da subida da cratera. Aí são encontrados os primeiros afloramentos de rocha vulcânica da Trilha da Contenda. 6 - Mirante da Cratera. Local para observação do interior da cratera. Aqui são encontrados os aglomerados vulcânicos com bombas e lapillis. Trilha da Pedreira Desativada. 8 - Mirante da Filmagem. Visão frontal da Pedra da Contenda e do paredão de aglomerado vulcânico. 9 - Rapel da Contenda. Localizado na parte externa sul da cratera. Com aproximadamente 100 metros e um negativo intermediário, é muito utilizado para a prática do rapel. 10 - Trilha da Varginha Pedreira Destivada. Paredão de sienito produzido pela exploração de britas para a construção civil. 11 - Centro da cratera. O acesso ao centro da cratera pode ser realizado através das trilhas da Contenda ou da Pedreira Desativada. 12 - Estrada do Parque Guarita do Parque. Entrada principal e guarita de atendimento aos visitantes do Parque Municipal de Nova Iguaçu. 13 - Sede Administrativa. Serve também como ponto de referência aos visitantes. 14 - Poço das Cobras. Ponto de ocorrência de brechas tufíticas da base do cone vulcânico, localizado acima da cota de 180 metros. 15 - Casarão e Cachoeira Véu de Noiva. Localizada nos fundos do antigo Casarão, desce um paredão de aproximadamente 80 metros e despeja suas águas num grande lago. Agradecimentos Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia - CREA-RJ Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Universidade Federal do Rio de Janeiro Ministério Público Federal Ministério Público de Nova Iguaçu Clube de Asa Delta Serra do Vulcão Associação Profissional dos Geólogos Câmara de Vereadores de Nova Iguaçu Rede Globo de Televisão TV CNT/Rio Sistema Brasileiro de Televisão SBT Jornal O Globo/Globo Baixada Jornal de Hoje/Nova Iguaçu Jornal O DIA Clube de Engenharia SESC de Nova Iguaçu Realização ANOS ww w.v ul .com.br tivo oa ca 25 anos VULCÃO NOVA IGUAÇU