1
MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
DEP - DPEP
ESCOLA DE EQUITAÇÃO DO EXÉRCITO
O TREINAMENTO DESPORTIVO APLICADO A EQUITAÇÃO
Rodrigo Borges Lins Evangelho – 1º Ten Cav
Rio de Janeiro
2007
2
MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
DEP - DPEP
ESCOLA DE EQUITAÇÃO DO EXÉRCITO
O TREINAMENTO DESPORTIVO APLICADO A EQUITAÇÃO
Rodrigo Borges Lins Evangelho – 1º Ten Cav
Monografia apresentada à Escola de Equitação do
Exército como requisito parcial à obtenção do
título de Pós-graduação (latu sensu) em Equitação.
ORIENTADOR: Augusto Souza Coelho (Mestre);
Rio de Janeiro
2007
3
Evangelho, Rodrigo Borges Lins.
O treinamento desportivo aplicado a equitação./Rodrigo Borges Lins
Evangelho – Rio de Janeiro, 2007.
25f.; 29,7cm
Monografia (Especialização em Equitação) – Escola de Equitação do
Exército, 2007.
Bibliografia: f. 25
4
Rodrigo Borges Lins Evangelho – 1º Ten Cav
O TREINAMENTO DESPORTIVO APLICADO A EQUITAÇÃO
Monografia apresentada à Escola de Equitação do
Exército como requisito parcial à obtenção do
título de Pós-graduação (latu sensu) em Equitação.
ORIENTADOR: Augusto Souza Coelho (Mestre);
Aprovada em ___ de setembro de 2007
BANCA EXAMINADORA
_______________________________
_______________________________
_______________________________
Eduardo Xavier Ferreira Migon – Maj
_______________________________
Augusto Souza Coelho – Cap
5
AGRADECIMENTOS
Aos instrutores de equitação desta Escola, companheiros que, insistentemente,
transmitiram seus conhecimentos sobre equitação e suas experiências de vida castrense.
Ao Capitão de Cavalaria Augusto Souza Coelho, orientador dessa monografia, pelo
apoio e amizade que me dedicou no transcorrer deste ano letivo.
Aos amigos e à família, por seu apoio incondicional e sua presença constante em
minha vida.
A todos que colaboraram de forma indistinta para a realização deste projeto.
E, principalmente, ao cavalo, amigo fiel e razão inequívoca dessa Escola.
6
RESUMO
Este trabalho busca demonstrar a importância da aplicação das bases fisiológicas,
durante a prática da equitação, pelo instrutor de equitação, através do conhecimento das
variantes do treinamento. Ao longo deste trabalho, são apresentados conhecimentos como as
formas de produção de energia no corpo humano, as valências físicas que exercem influência
durante a prática da equitação e ainda, os ciclos de treinamento. Ao instrutor de equitação,
que tem como responsabilidade a integridade física tanto do cavaleiro como a do cavalo,
conhecer os fatores que influenciam esse conjunto é essencial no momento de planejar um
treinamento.
Palavras-chave: Equitação. Valências físicas. Treinamento.
7
ABSTRACT
This work tries to demonstrate the importance of the application of the physiological
bases, during the practical one of the riding, for the instructor of riding, through the
knowledge of the variants of the training. To the long one of this work, they are boarded
knowledge as the forms of production of energy in the human body, the physical valences that
still exert influence during the practical one of the riding and, the training cycles. To the
riding instructor, that has as responsibility the physical integrity in such a way of the rider as
of the horse, to know the factors that they influence this set is essential at the moment to plan
a training.
Word-key: Riding. Physical valences. Training.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................
01
1. CONCEITOS............................................................................................................
03
2. TRANSFERÊNCIA ENERGÉTICA CORPORAL.................................................
06
2.1 Trifosfato de Adenosina.........................................................................................
06
2.2 Fosfato de Creatina.................................................................................................
07
2.3 Glicólise..................................................................................................................
08
2.4 Ácido Láctico..........................................................................................................
10
3. VARIANTES DO TREINAMENTO.......................................................................
12
3.1 Valências Físicas....................................................................................................
12
3.1.1 Equilíbrio...............................................................................................
12
3.1.2 Flexibilidade..........................................................................................
12
3.1.3 Força......................................................................................................
13
3.1.4 Potência.................................................................................................
13
3.1.5 Resistência Muscular Localizada..........................................................
13
4. CICLOS DE TREINAMENTO................................................................................
15
4.1 Macrociclo..............................................................................................................
16
4.2 Mesociclo................................................................................................................
17
4.3 Microciclo...............................................................................................................
18
5. CONCLUSÃO..........................................................................................................
23
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................
25
1
INTRODUÇÃO
“O que espero senhores, é que depois de um razoável período de discussão, todos
concordem comigo.”
Winston Churchill
A equitação, hoje em dia, tem crescido de importância na sociedade civil e no âmbito
dos militares. Isso se deve aos bons resultados que vem sendo apresentados nas diversas
competições e em seus diversos níveis.
Dentre as modalidades eqüestres praticadas no mundo, existem 04 (quatro) que são
praticadas por militares do exército. Também nessas modalidades (adestramento, concurso
completo de equitação, salto e pólo), os resultados têm sido muito positivos, com destaque
para a vitória no campeonato mundial militar de equitação, ocorrido no ano passado na cidade
de Porto Alegre.
Porém, nada se conquista sem esforço e, ao instrutor cabe saber direcionar esse
esforço. Mas como direcioná-lo de forma eficiente? Neste trabalho é apresentada a
importância para o instrutor de equitação – que é o detentor do saber técnico sobre essa área –
ter conhecimento de conceitos ainda pertencentes à área da educação física, a quem cabe, nos
dias de hoje, a confecção de planos de treinamento embasados e comprovados.
O entendimento dos assuntos pertinentes a este trabalho dá subsídios para os diversos
instrutores de equitação espalhados pelos diversos rincões do nosso país, formularem planos
2
de treinamento para seus atletas, de forma eficaz e consciente, deixando finalmente o
empirismo que hora predomina.
3
CAPÍTULO 1
CONCEITOS
“Nunca conseguiremos encontrar a verdade se nos contentarmos com aquilo que já foi
encontrado.”
Gilbert Tornai.
As bases fisiológicas do treinamento agregam uma série de conhecimentos sobre
fisiologia humana e estudo do movimento, que juntos, permitem uma compreensão do que
nos influencia quando estamos em treinamento.
Para que possamos abordar os assuntos pertinentes a este trabalho, é necessário que
se conheça uma série de conceitos que, somados, permitem uma perfeita compreensão do que
será apresentado.
São eles:
Anatomia: é o ramo da biologia onde se estuda a estrutura e organização dos seres
vivos, tanto externa quanto internamente.
Cinesiologia: é a ciência que foca a análise dos movimentos do corpo humano. Seu
nome vem do grego kínesis = movimento + logos = tratado, estudo. O conhecimento de
forças que afetam o movimento (gravidade, tensão muscular, atrito e outras), são
fundamentais para se produzir movimento e modificá-lo.
4
Cineantropometria: é a utilização da medida, no estudo do tamanho, forma,
proporção, composição e maturação do corpo humano, com o objetivo de um melhor
conhecimento do comportamento humano em relação ao crescimento, desenvolvimento e
envelhecimento, à atividade física e ao estado nutricional. Somente através da análise, de
forma isolada e em relação ao próprio peso corporal total, de cada um dos componentes que
constituem o corpo humano – gordura, ossos, músculos e outros tecidos – é que se torna
possível observar as alterações produzidas pelos programas de atividades motoras e pelas
dietas alimentares no organismo de uma pessoa.
Bioquímica: é a ciência que busca compreender como flui a energia química nos
processos catabólicos e anabólicos nos seres vivos.
Fisiologia: é o ramo da biologia que estuda as múltiplas funções mecânicas, físicas e
bioquímicas nos seres vivos.
Atividade física: é todo o movimento corporal humano, voluntário, que resulta em
um gasto energético acima dos níveis de repouso, caracterizado pela atividade do cotidiano.
Exercício físico: seqüência sistematizada de movimentos de diferentes segmentos
corporais, executados de forma planejada e estruturada, segundo um determinado objetivo a
ser atingido.
Treinamento desportivo: é a forma fundamental de preparação, baseada em
exercícios sistemáticos, representando um processo organizado pedagogicamente com o
objetivo de direcionar a evolução do desportista.
Aerobiose: refere-se a um processo bioquímico que representa a forma mais eficaz
de obter energia a partir de nutrientes como a glicose, na presença obrigatória de oxigênio.
Anaerobiose: refere-se a um processo bioquímico que representa a forma de obter
energia sem a presença de oxigênio. É utilizado pelas fibras musculares submetidas a esforço
intenso.
5
Catabolismo: a parte do metabolismo que se refere à assimilação ou processamento
da matéria adquirida para fins de obtenção de energia. Diz respeito às vias de degradação, ou
seja, de quebra das substâncias. Parte sempre de moléculas grandes, que contêm quantidades
importantes de energia (glicose, triglicerídeos, etc), que são transformadas de modo a que
restem, no final, moléculas pequenas, pobres em energia (H2O, CO2, NH3), aproveitando no
organismo a libertação de energia resultante deste processo.
Anabolismo: é a parte do metabolismo que se refere à complexão de substâncias em
um organismo, ou seja, a partir de moléculas mais simples, são criadas moléculas mais
complexas. É o contrário de catabolismo.
Valências físicas: são capacidades físicas inerentes aos seres humanos e a outros
seres vivos. São fundamentais para a nossa sobrevivência e também para a manutenção de um
padrão de vida autônomo. Através delas podemos andar, correr, saltar, arremessar objetos,
praticar esportes, dançar, etc.
Os conceitos acima citados são à base de compreensão deste trabalho e devem
sempre ser relacionados com a prática da equitação, que é uma atividade física como outra
qualquer.
6
CAPÍTULO 2
TRANSFERÊNCIA ENERGÉTICA CORPORAL
Na prática da equitação, é importante conhecer as formas de produção de energia
abaixo descritas, pois nas diversas modalidades eqüestres praticadas no Exército Brasileiro
(EB), seja no salto, adestramento, Concurso Completo de Equitação (CCE) ou mesmo no
pólo, existe uma demanda energética a ser estudada e medida, visando um melhor rendimento
e aproveitamento a cavalo.
2.1 TRIFOSFATO DE ADENOSINA (ATP)
O corpo humano necessita de um suprimento energético contínuo para realizar suas
múltiplas funções. A energia que vem da alimentação não é liberada de imediato, pois o
organismo humano não consegue processar energia térmica. Ela é liberada em pequenas
proporções, durante reações químicas controladas enzimaticamente dentro de cada célula e
começa através da quebra da molécula de trifosfato de adenosina (ATP).
Em essência, a quebra e formação do ATP representam as duas principais formas de
transformação energética dentro da célula. Quando o ATP combina-se com água, através de
uma reação química catalisada, ocorre à quebra da ligação de fosfato mais externa, liberando
o átomo de fosfato e gerando um novo composto chamado de difosfato de adenosina (ADP) e
energia.
7
ATP + H2O
ATPase
ADP + Pi – 7,3 Kcal/mol
A energia liberada é transferida diretamente para outras moléculas que necessitem de
energia ou acopla-se com elas. Como exemplo, tem-se o músculo, que se contrai através da
ativação de locais específicos pela energia química proveniente da quebra do ATP.
2.2 FOSFATO DE CREATINA (CP)
O ATP é armazenado apenas em pequenas quantidades nas células, sendo necessária
sua ressintetização constante, no mesmo ritmo que é utilizado. Essa situação gera um sensível
mecanismo regulador do metabolismo celular.
Como a concentração relativa de ATP na célula é alterada rapidamente com o
aumento de metabolismo energético, é estimulado imediatamente a decomposição de
armazenados visando a ressíntese do ATP. Apesar das principais fontes de energia para a
ressíntese serem os carboidratos e as gorduras, existe também a ressíntese rápida proveniente
da quebra de outro composto de fosfato rico em energia chamado Fosfato Creatina (CP).
A quebra do composto CP ocorre sem a presença do oxigênio e é essencial quando,
devido à mudança da necessidade energética, que varia de uma baixa para uma alta demanda,
como quando iniciamos uma atividade física mais intensa como correr, supera a quantidade
provida pela quebra do ATP.
O CP e o ATP são semelhantes no que tange a liberação de energia devido a sua
quebra. Porém, como o CP gera mais energia livre que o ATP, parte dessa energia é utilizada
para a ressintetização do ADP + P em ATP.
8
CP
Creatina cinase
C + P + Energia
2.3 GLICÓLISE
No momento em que a molécula de glicose entra na célula no intuito de gerar
energia, através de uma série de reações químicas, ocorre a chamada glicólise. Ela pode ser de
duas formas distintas: Anaeróbica e aeróbica.
Anaeróbica: É uma série de 10 reações químicas controladas enzimaticamente e que
ocorrem no momento da quebra da glicose para duas moléculas de ácido pirúvico, dividida
em duas partes, como mostra a figura abaixo.
9
Na primeira parte, a glicose é fosforilada com o gasto energético de uma molécula de
ATP para dar glicose-6-fosfato, que se isomeriza para formar frutose-6-fosfato. A partir da
frutose-6-fosfato e com gasto de outra molécula de ATP se forma a frutose-1,6-bifosfato. Até
esta parte foram gastas duas moléculas de ATP. Esta é uma reação irreversível na qual
intervém a glicose e o ATP, além de ser indispensável o cátion Mg2+ e consta de cinco
reações bioquímicas.
Na segunda, a frutose-1,6-bifosfato se quebra em duas moléculas: gliceraldeído-3fosfato e dihidroxiacetona-fosfato, por meio de uma enzima aldolase. A dihidroxiacetonafosfato se transforma em gliceraldeído-3-fosfato duplicando a reação a partir daqui. O
gliceraldeído-3-fosfato, sofre ainda cinco reações bioquímicas até converter-se em ácido
pirúvico.
Aeróbica: O piruvato é completamente degradado a dióxido de carbono e, no
processo, o NAD é convertido a NADH.
10
Desta forma, na fermentação aeróbica, o NADH é gerado a partir de duas rotas
(glicólise e ciclo de Krebs). A oxidação fosforilativa converte o excesso de NADH a NAD e,
no processo, mais ATP (energia armazenada) é produzido. As ubiquinonas e os citocromos
são componentes da cadeia de transporte de elétrons envolvida neste último processo. A
conversão de oxigênio a água é o passo final deste processo.
2.4 O ÁCIDO LÁCTICO
Durante atividades físicas extenuantes, com a necessidade de alta velocidade de
ressíntese do ATP, o organismo irá optar pela glicose ou glicogênio hepático e muscular. Isso
também ocorre na ausência de oxigênio durante o processo de transformação para gerar
energia. Esse processo gera energia suficiente para ressíntese do ATP, mas tem um efeito
indesejável, a produção de ácido lático (um subproduto "tóxico" gerado no decorrer do ciclo
de ressíntese do ATP), que não deve ser encarado como algo prejudicial ou nocivo. Quando se
torna novamente disponível uma quantidade suficiente de oxigênio durante a recuperação, ou
quando o ritmo do exercício diminui, o NAD+ (coenzima NADH em sua forma oxidada)
varre os hidrogênios ligados ao lactato para subseqüente oxidação a fim de formar ATP. Os
esqueletos de carbono das moléculas de piruvato formados novamente a partir do lactato
durante o exercício serão oxidados para a obtenção de energia ou serão sintetizados
(transformados) para glicose (gliconeogênese) no ciclo de Cori.
O ciclo de Cori não serve apenas para remover o lactato, mas o utiliza também para
reabastecer as reservas de glicogênio depletadas no exercício árduo.
11
A produção e o acúmulo de lactato são acelerados quando o exercício torna-se mais
intenso e as células musculares não conseguem atender às demandas energéticas adicionais
aerobicamente nem oxidar o lactato com o mesmo ritmo de sua produção.
12
CAPÍTULO 3
AS VARIANTES DO TREINAMENTO
Quando se pratica qualquer atividade física, existem fatores externos que influenciam
diretamente o praticante. Para o cavaleiro, durante a equitação, que é um exercício físico,
existem certas valências físicas específicas a serem consideradas, visando um melhor
rendimento.
3.1 VALÊNCIAS FÍSICAS
3.1.1 EQUILÍBRIO
Equilíbrio é a habilidade de um indivíduo manter a postura de seu corpo inalterada,
mesmo quando é colocado em várias posições. Para o praticante de equitação é fundamental
desenvolver essa característica, pois a todo o momento o centro de gravidade de seu corpo
muda de posição devido às andaduras do cavalo.
3.1.2 FLEXIBILIDADE
Definimos flexibilidade como a capacidade que o indivíduo possui de mover, ativa
ou passivamente, uma ou várias articulações, em uma amplitude máxima, até antes do limiar
de lesão ou estresse mecânico. O movimento ativo é aquele executado pelo indivíduo sem a
13
ajuda de outro e o movimento passivo é justamente o contrário, como quando alguém nos
ajuda a alongar.
Aplicada à equitação, essa valência cresce de importância quando analisada sob ótica
do instrutor, pois este deve saber até que ponto pode exigir de seu instruendo quando este
estiver montado, sempre no intuito de incentivar sua prática.
3.1.3 FORÇA
Pode-se definir força como a tensão que um músculo ou um grupo muscular
consegue exercer contra uma resistência. Essa força pode alterar ou não o padrão de
movimento do objeto como também deformar ou não o objeto.
Para a equitação clássica, que busca diretamente a reação do animal às ajudas
empregadas pelo cavaleiro, ou seja, a força que o cavaleiro executa para imprimir no animal a
submissão, o conhecimento dessa valência é essencial.
3.1.4 POTÊNCIA
Potência é a capacidade que o indivíduo tem de realizar uma contração muscular
máxima no menor tempo possível, que na prática da equitação, e aqui destacamos a
modalidade “pólo”, onde o jogador deve imprimir toda a força que conseguir para impelir o
cavalo em uma mudança brusca de direção, torna-se fundamental esse conhecimento para se
evitar lesões e outros problemas advindos da má preparação física.
3.1.5 RESISTÊNCIA MUSCULAR LOCALIZADA
Em contrariedade ao conceito de força, resistência muscular localizada é a
capacidade que um segmento do corpo tem de realizar e sustentar um movimento por um
14
longo período de tempo. Podemos exemplificar esta valência na prática eqüestre, através da
modalidade “CCE”, onde o cavaleiro permanece em uma posição desconfortável fora da sela
entre 5 (cinco) a 10 (dez) minutos.
Para o instrutor de equitação, o conhecimento dessas variantes é necessário para que,
no momento da instrução, o instruendo não seja levado a um ponto que não seja capaz de
superar, evitando dessa forma, uma lesão, um acidente ou ainda, a provável desmotivação por
parte de quem está praticando.
15
CAPÍTULO 4
CICLOS DE TREINAMENTO
O conceito de periodização no treinamento foi revelado originalmente em 1972 por
um cientista russo e incorporado nos esquemas de treinamento para atletas, tanto novatos
quanto de elite. A idéia de periodização consiste em subdividir um período específico de
treinamento (macrociclo) em períodos menores ou fases (mesociclos), com cada mesociclo
sendo separado novamente em microciclos, onde deverá haver interligação entre as
capacidades físicas e técnicas.
Por ciclo do treinamento entende-se a distribuição da carga por dia, semana, mês,
em períodos de alguns meses, por ano ou vários anos, respeitando a idéia de que o macrociclo
engloba o mesociclo, que por sua vez, engloba o microciclo.
O gráfico abaixo representa essa divisão:
O fracionamento do macrociclo em suas partes componentes tem por finalidade
manipular a intensidade do treinamento, o volume, a freqüência, as séries, as repetições e os
períodos de repouso (para prevenir o supertreinamento) e alterar a variedade das sessões de
treino. Espera-se com isso uma redução de quaisquer efeitos negativos do treinamento e
culminar em um desempenho máximo do indivíduo ao final do período do macrociclo.
16
4.1 MACROCICLO
Representa a organização de todo o treinamento que será desenvolvido em um
determinado período de tempo. A estruturação desse período de treinamento obedece a um
plano de expectativas e, geralmente, encerra-se num ponto máximo de performance do
indivíduo.
Dividi-se em fase de preparação, que abrange duas etapas: uma básica e outra
específica, visando proporcionar um condicionamento físico do individuo que o permita
alcançar “performances máximas” em etapas mais avançadas do treinamento.
Na fase básica, trabalha-se com maior volume e menor intensidade, buscando
desenvolver as valências como a resistência muscular localizada e o equilíbrio, enquanto na
fase específica, diminui-se o volume e aumenta a intensidade, uma vez que o objetivo é dar
ênfase na força. Além também, de se proporcionar a manutenção dos ganhos, das qualidades
físicas, obtidos na fase básica.
Existem ainda dois períodos a serem considerados, o de competição ou de
performance, e o de transição.
O período de Performance, ou de competição, é o período onde se atinge o auge da
performance do indivíduo, onde se reduz o volume e a intensidade do treinamento, visando a
performance máxima do atleta;
O período de transição, que é o final do macrociclo, situa-se entre o período de
competição e reinício de um novo ciclo de treinamento (um novo macrociclo). Sua função
principal é promover uma recuperação total do indivíduo em função dos exigentes esforços a
que foi submetido nas fases anteriores do treinamento.
17
4.2 MESOCICLO
Esse ciclo de treinamento encontra-se intimamente correlacionado aos princípios da
sobrecarga e da interdependência volume-intensidade, com vistas a proporcionar a aplicação
de cargas crescentes com respectiva recuperação, visando progressos na performance.
Podemos ainda dizer que é formado por uma série de microciclos, de forma a atingir
os objetivos de um dado macrociclo. Ele pode ser:
- Incorporação (envolvente ou adaptativo): É com esse mesociclo, que se inicia a
fase básica de treinamento. É composto por microciclos do tipo recuperativo de manutenção
ou estabilizador, sendo em geral concluídos com um micro do tipo recuperativo. Nele, a carga
é mais baixa para promover o retorno do atleta aos treinamentos. Deve ser o mais curto que a
forma do atleta permitir;
- Base e Desenvolvimento: É a mais importante estrutura do treino, trabalhando de
forma a promover um poderoso efeito cumulativo de microciclos de treino. Caracteriza-se por
uma carga elevada para uma determinada meta de preparação. Sua estrutura é formada
basicamente por microciclos de choque e ordinários;
- Básico Estabilizador: Projetado a fim de consolidar o rendimento adquirido através
dos mesociclos de Base e Desenvolvimento, através de uma pequena redução na grandeza das
cargas;
- Recuperativo: É nesse meso que se fazem os exames laboratoriais e os tratamentos
necessários;
- Preparatório de Controle: Verifica a eficiência dos mesociclos anteriores, bem
como para ajustar as pequenas falhas que porventura ainda não tenham sido percebidas.
Muitas vezes, o treinamento é mesclado com testes e com competições para se verificar os
níveis de performance atingidos;
18
- Pré Competitivo: Deve ser usado no período competitivo, antes do mesociclo
competitivo que antecede às competições mais importantes da periodização;
- Competitivo: Converge todos os esforços dos ciclos de preparação para a obtenção
do melhor rendimento. Sua determinação ocorre em função da modalidade desportiva. Deve
recuperar e preparar o atleta para todas as competições em que estiver engajado. Só deve ser
aplicado no período competitivo e durante os ciclos de competições de maior nível de
importância previstos na temporada.
4.3 MICROCICLO
Microciclo é o elemento da estrutura da preparação do atleta, que incorpora uma
série pré determinada de seções de treinamento ou de competições, ou ainda ambas, visando
resolver as metas de um determinado treinamento.
Cabe ressaltar que é o menor ciclo de treinamento, geralmente com a duração de
07(sete) dias. Ele pode ser:
- De choque: Com a carga próxima à máxima (80 a 100 por cento), como ilustra a
figura abaixo:
Microciclo de choque
100
80
60
40
20
0
seg
ter
qua
qui
sex
sáb dom
19
- Ordinário: Com cargas moderadas (60 a 80 por cento);
Microciclo Ordinário
100
80
60
40
20
0
seg
ter
qua
qui
sex
sáb dom
- Estabilizador: Com cargas de 40 a 60 por cento;
Microciclo Estabilizador
100
80
60
40
20
0
seg
ter
qua
qui
sex
sáb dom
- Recuperativo de manutenção: Com cargas de 30 a 40 por cento;
Microciclo Recuperativo de Manutenção
100
80
60
40
20
0
seg
ter
qua
qui
sex
sáb dom
20
- De recuperação: Com 10 a 20 por cento das cargas;
Microciclo de Recuperação
70
60
50
40
30
20
10
0
seg
ter
qua
qui
sex
sáb dom
- De controle: Com a aplicação de testes;
Microciclo de Controle
100
80
60
40
20
0
seg
ter
qua
qui
sex
sáb
dom
- Pré competitivo: Com 40 a 60 por cento da carga, visando a preparação do atleta
para as competições;
Microciclo Pré - Competitivo
120
100
80
60
40
20
0
seg
ter
qua
qui
sex
sáb dom
21
- Competitivo: Competição e descanso.
Microciclo Competitivo
120
100
80
60
40
20
0
seg
ter
qua
qui
sex
sáb
dom
Observamos nessa etapa a alternância de intensidade das cargas de treinamento.
Dependendo da etapa do treinamento e da qualidade física desenvolvida essa composição de
intensidades vai variar. O importante a destacar é que essa variação das cargas de trabalho é
que vai proporcionar as adaptações fisiológicas que objetivamos naquele momento.
A manutenção de cargas sempre fortes poderá levar a um estado de supertreinamento
(overtraining), enquanto a manutenção de cargas de trabalho sempre fracas não proporcionará
os benefícios que desejamos, caracterizando uma estagnação do treinamento.
Assim sendo, devemos variar os estímulos de forma que haja um resposta e uma
adaptação, conseqüentemente, uma recuperação, para podermos dar um novo estímulo, tudo
isto para não gerar fadiga.
Todo o trabalho desenvolvido na periodização do treinamento deve encontrar-se
enquadrado nos princípios do treinamento desportivo. Sendo assim, o valor dessa
periodização assume dois papéis de grande relevância: organização de todos os estímulos de
forma apropriada, em consonância com todos os objetivos previamente determinados; e
proporcionar a otimização da performance através de um equilíbrio entre os esforços de
treinamento e o tempo de recuperação necessário para o restabelecimento das reservas
orgânicas.
22
Ressalta-se que os ciclos de treinamento aqui descritos não são determinantes e
obrigatórios, devendo ser adaptado o plano de treinamento, e por conseqüência os ciclos
utilizados.
Deve-se ter em mente que o plano de treinamento propriamente dito, pode ser
alterado a qualquer momento, buscando adaptar a evolução do instruendo ao longo do
treinamento e que cabe ao instrutor, o planejamento, acompanhamento e treinamento de seu
atleta.
23
CONCLUSÃO
“Diga-me e eu ouço. Mostre-me e eu vejo. Deixe-me fazer e eu
aprendo.”
Confúcio
Nos dias de hoje, no Exército Brasileiro é dado muito valor ao rendimento esportivo,
visto o projeto Fênix, implantado há alguns anos atrás, com o intuito da participação de
militares nas seletivas para os jogos PAN Americanos do Rio de Janeiro, realizados no
corrente ano.
A prática da equitação, em suas diversas modalidades eqüestres, em especial as
praticadas no âmbito do Exército Brasileiro (adestramento, concurso completo de equitação,
salto e pólo), exigem do cavaleiro uma demanda física intensa no intuito de submeter o
animal a sua vontade.
O Exército Brasileiro, através da Escola de Equitação do Exército, forma anualmente
um pequeno número de oficiais, que após um ano de curso, são considerados aptos a
desempenhar a função de instrutor de equitação nas diversas Organizações Militares (OM)
espalhadas por todo o Brasil.
Para o instrutor de equitação, o conhecimento da demanda física exigida durante a
prática da equitação repercuti diretamente no plano de treinamento a ser desenvolvido, pois
sem este saber, colocaria em risco a integridade física de seu atleta e o melhor rendimento do
treinamento.
Traçando-se um paralelo com o projeto Fênix, ao instrutor responsável cabia a
divisão dos ciclos de treinamento (macro, meso e microciclos), ao longo de um amplo período
24
até a competição, baseado no desenvolvimento das valências físicas pertinentes a equitação
aqui descritas e, preocupando-se com a integridade de seu atleta. Porém, para um que se
planeje um treinamento de forma eficaz, deve-se compreender as variações que ocorrem
quando um indivíduo se exercita.
Este entendimento, nos dias de hoje, permanece com os profissionais da área de
educação física. É interessante então, que aja uma interdisciplinaridade destes profissionais –
equitação e educação física – ou ainda, um estudo mais profundo sobre mudanças que
poderiam suprir este vazio na formação do instrutor de equitação.
25
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Livros:
McARDLE, William D.; KATCH, Frank I. e KATCH, Victor I. Fisiologia do Exercício –
Energia, Nutrição e Desempenho Humano. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 1992.
MERLE, L.Foss; STEVEN, J. Kteyian. Bases Fisiológicas do Exercício e do Esporte - Ed
Ganabara Koogan 6ª edição, 2000
Monografias:
RODRIGUES, Maria da Graça V., Elaboração de projetos, trabalhos acadêmicos e
dissertações em ciências militares. Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Rio de Janeiro, RJ.
2005.
Eletrônicos:
Site http://www.efdesportes.com/efd48/trein1.htm;
Site http://www.sergiogregorio.com.br/UFPR;
Site http:/adl.pt/2007/Dakar/Artigos/Basesdotreinodesportivo.pdf;
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O treinamento desportivo aplicado à equitação