1 MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO DEP - DPEP ESCOLA DE EQUITAÇÃO DO EXÉRCITO O TREINAMENTO DESPORTIVO APLICADO A EQUITAÇÃO Rodrigo Borges Lins Evangelho – 1º Ten Cav Rio de Janeiro 2007 2 MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO DEP - DPEP ESCOLA DE EQUITAÇÃO DO EXÉRCITO O TREINAMENTO DESPORTIVO APLICADO A EQUITAÇÃO Rodrigo Borges Lins Evangelho – 1º Ten Cav Monografia apresentada à Escola de Equitação do Exército como requisito parcial à obtenção do título de Pós-graduação (latu sensu) em Equitação. ORIENTADOR: Augusto Souza Coelho (Mestre); Rio de Janeiro 2007 3 Evangelho, Rodrigo Borges Lins. O treinamento desportivo aplicado a equitação./Rodrigo Borges Lins Evangelho – Rio de Janeiro, 2007. 25f.; 29,7cm Monografia (Especialização em Equitação) – Escola de Equitação do Exército, 2007. Bibliografia: f. 25 4 Rodrigo Borges Lins Evangelho – 1º Ten Cav O TREINAMENTO DESPORTIVO APLICADO A EQUITAÇÃO Monografia apresentada à Escola de Equitação do Exército como requisito parcial à obtenção do título de Pós-graduação (latu sensu) em Equitação. ORIENTADOR: Augusto Souza Coelho (Mestre); Aprovada em ___ de setembro de 2007 BANCA EXAMINADORA _______________________________ _______________________________ _______________________________ Eduardo Xavier Ferreira Migon – Maj _______________________________ Augusto Souza Coelho – Cap 5 AGRADECIMENTOS Aos instrutores de equitação desta Escola, companheiros que, insistentemente, transmitiram seus conhecimentos sobre equitação e suas experiências de vida castrense. Ao Capitão de Cavalaria Augusto Souza Coelho, orientador dessa monografia, pelo apoio e amizade que me dedicou no transcorrer deste ano letivo. Aos amigos e à família, por seu apoio incondicional e sua presença constante em minha vida. A todos que colaboraram de forma indistinta para a realização deste projeto. E, principalmente, ao cavalo, amigo fiel e razão inequívoca dessa Escola. 6 RESUMO Este trabalho busca demonstrar a importância da aplicação das bases fisiológicas, durante a prática da equitação, pelo instrutor de equitação, através do conhecimento das variantes do treinamento. Ao longo deste trabalho, são apresentados conhecimentos como as formas de produção de energia no corpo humano, as valências físicas que exercem influência durante a prática da equitação e ainda, os ciclos de treinamento. Ao instrutor de equitação, que tem como responsabilidade a integridade física tanto do cavaleiro como a do cavalo, conhecer os fatores que influenciam esse conjunto é essencial no momento de planejar um treinamento. Palavras-chave: Equitação. Valências físicas. Treinamento. 7 ABSTRACT This work tries to demonstrate the importance of the application of the physiological bases, during the practical one of the riding, for the instructor of riding, through the knowledge of the variants of the training. To the long one of this work, they are boarded knowledge as the forms of production of energy in the human body, the physical valences that still exert influence during the practical one of the riding and, the training cycles. To the riding instructor, that has as responsibility the physical integrity in such a way of the rider as of the horse, to know the factors that they influence this set is essential at the moment to plan a training. Word-key: Riding. Physical valences. Training. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO........................................................................................................... 01 1. CONCEITOS............................................................................................................ 03 2. TRANSFERÊNCIA ENERGÉTICA CORPORAL................................................. 06 2.1 Trifosfato de Adenosina......................................................................................... 06 2.2 Fosfato de Creatina................................................................................................. 07 2.3 Glicólise.................................................................................................................. 08 2.4 Ácido Láctico.......................................................................................................... 10 3. VARIANTES DO TREINAMENTO....................................................................... 12 3.1 Valências Físicas.................................................................................................... 12 3.1.1 Equilíbrio............................................................................................... 12 3.1.2 Flexibilidade.......................................................................................... 12 3.1.3 Força...................................................................................................... 13 3.1.4 Potência................................................................................................. 13 3.1.5 Resistência Muscular Localizada.......................................................... 13 4. CICLOS DE TREINAMENTO................................................................................ 15 4.1 Macrociclo.............................................................................................................. 16 4.2 Mesociclo................................................................................................................ 17 4.3 Microciclo............................................................................................................... 18 5. CONCLUSÃO.......................................................................................................... 23 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 25 1 INTRODUÇÃO “O que espero senhores, é que depois de um razoável período de discussão, todos concordem comigo.” Winston Churchill A equitação, hoje em dia, tem crescido de importância na sociedade civil e no âmbito dos militares. Isso se deve aos bons resultados que vem sendo apresentados nas diversas competições e em seus diversos níveis. Dentre as modalidades eqüestres praticadas no mundo, existem 04 (quatro) que são praticadas por militares do exército. Também nessas modalidades (adestramento, concurso completo de equitação, salto e pólo), os resultados têm sido muito positivos, com destaque para a vitória no campeonato mundial militar de equitação, ocorrido no ano passado na cidade de Porto Alegre. Porém, nada se conquista sem esforço e, ao instrutor cabe saber direcionar esse esforço. Mas como direcioná-lo de forma eficiente? Neste trabalho é apresentada a importância para o instrutor de equitação – que é o detentor do saber técnico sobre essa área – ter conhecimento de conceitos ainda pertencentes à área da educação física, a quem cabe, nos dias de hoje, a confecção de planos de treinamento embasados e comprovados. O entendimento dos assuntos pertinentes a este trabalho dá subsídios para os diversos instrutores de equitação espalhados pelos diversos rincões do nosso país, formularem planos 2 de treinamento para seus atletas, de forma eficaz e consciente, deixando finalmente o empirismo que hora predomina. 3 CAPÍTULO 1 CONCEITOS “Nunca conseguiremos encontrar a verdade se nos contentarmos com aquilo que já foi encontrado.” Gilbert Tornai. As bases fisiológicas do treinamento agregam uma série de conhecimentos sobre fisiologia humana e estudo do movimento, que juntos, permitem uma compreensão do que nos influencia quando estamos em treinamento. Para que possamos abordar os assuntos pertinentes a este trabalho, é necessário que se conheça uma série de conceitos que, somados, permitem uma perfeita compreensão do que será apresentado. São eles: Anatomia: é o ramo da biologia onde se estuda a estrutura e organização dos seres vivos, tanto externa quanto internamente. Cinesiologia: é a ciência que foca a análise dos movimentos do corpo humano. Seu nome vem do grego kínesis = movimento + logos = tratado, estudo. O conhecimento de forças que afetam o movimento (gravidade, tensão muscular, atrito e outras), são fundamentais para se produzir movimento e modificá-lo. 4 Cineantropometria: é a utilização da medida, no estudo do tamanho, forma, proporção, composição e maturação do corpo humano, com o objetivo de um melhor conhecimento do comportamento humano em relação ao crescimento, desenvolvimento e envelhecimento, à atividade física e ao estado nutricional. Somente através da análise, de forma isolada e em relação ao próprio peso corporal total, de cada um dos componentes que constituem o corpo humano – gordura, ossos, músculos e outros tecidos – é que se torna possível observar as alterações produzidas pelos programas de atividades motoras e pelas dietas alimentares no organismo de uma pessoa. Bioquímica: é a ciência que busca compreender como flui a energia química nos processos catabólicos e anabólicos nos seres vivos. Fisiologia: é o ramo da biologia que estuda as múltiplas funções mecânicas, físicas e bioquímicas nos seres vivos. Atividade física: é todo o movimento corporal humano, voluntário, que resulta em um gasto energético acima dos níveis de repouso, caracterizado pela atividade do cotidiano. Exercício físico: seqüência sistematizada de movimentos de diferentes segmentos corporais, executados de forma planejada e estruturada, segundo um determinado objetivo a ser atingido. Treinamento desportivo: é a forma fundamental de preparação, baseada em exercícios sistemáticos, representando um processo organizado pedagogicamente com o objetivo de direcionar a evolução do desportista. Aerobiose: refere-se a um processo bioquímico que representa a forma mais eficaz de obter energia a partir de nutrientes como a glicose, na presença obrigatória de oxigênio. Anaerobiose: refere-se a um processo bioquímico que representa a forma de obter energia sem a presença de oxigênio. É utilizado pelas fibras musculares submetidas a esforço intenso. 5 Catabolismo: a parte do metabolismo que se refere à assimilação ou processamento da matéria adquirida para fins de obtenção de energia. Diz respeito às vias de degradação, ou seja, de quebra das substâncias. Parte sempre de moléculas grandes, que contêm quantidades importantes de energia (glicose, triglicerídeos, etc), que são transformadas de modo a que restem, no final, moléculas pequenas, pobres em energia (H2O, CO2, NH3), aproveitando no organismo a libertação de energia resultante deste processo. Anabolismo: é a parte do metabolismo que se refere à complexão de substâncias em um organismo, ou seja, a partir de moléculas mais simples, são criadas moléculas mais complexas. É o contrário de catabolismo. Valências físicas: são capacidades físicas inerentes aos seres humanos e a outros seres vivos. São fundamentais para a nossa sobrevivência e também para a manutenção de um padrão de vida autônomo. Através delas podemos andar, correr, saltar, arremessar objetos, praticar esportes, dançar, etc. Os conceitos acima citados são à base de compreensão deste trabalho e devem sempre ser relacionados com a prática da equitação, que é uma atividade física como outra qualquer. 6 CAPÍTULO 2 TRANSFERÊNCIA ENERGÉTICA CORPORAL Na prática da equitação, é importante conhecer as formas de produção de energia abaixo descritas, pois nas diversas modalidades eqüestres praticadas no Exército Brasileiro (EB), seja no salto, adestramento, Concurso Completo de Equitação (CCE) ou mesmo no pólo, existe uma demanda energética a ser estudada e medida, visando um melhor rendimento e aproveitamento a cavalo. 2.1 TRIFOSFATO DE ADENOSINA (ATP) O corpo humano necessita de um suprimento energético contínuo para realizar suas múltiplas funções. A energia que vem da alimentação não é liberada de imediato, pois o organismo humano não consegue processar energia térmica. Ela é liberada em pequenas proporções, durante reações químicas controladas enzimaticamente dentro de cada célula e começa através da quebra da molécula de trifosfato de adenosina (ATP). Em essência, a quebra e formação do ATP representam as duas principais formas de transformação energética dentro da célula. Quando o ATP combina-se com água, através de uma reação química catalisada, ocorre à quebra da ligação de fosfato mais externa, liberando o átomo de fosfato e gerando um novo composto chamado de difosfato de adenosina (ADP) e energia. 7 ATP + H2O ATPase ADP + Pi – 7,3 Kcal/mol A energia liberada é transferida diretamente para outras moléculas que necessitem de energia ou acopla-se com elas. Como exemplo, tem-se o músculo, que se contrai através da ativação de locais específicos pela energia química proveniente da quebra do ATP. 2.2 FOSFATO DE CREATINA (CP) O ATP é armazenado apenas em pequenas quantidades nas células, sendo necessária sua ressintetização constante, no mesmo ritmo que é utilizado. Essa situação gera um sensível mecanismo regulador do metabolismo celular. Como a concentração relativa de ATP na célula é alterada rapidamente com o aumento de metabolismo energético, é estimulado imediatamente a decomposição de armazenados visando a ressíntese do ATP. Apesar das principais fontes de energia para a ressíntese serem os carboidratos e as gorduras, existe também a ressíntese rápida proveniente da quebra de outro composto de fosfato rico em energia chamado Fosfato Creatina (CP). A quebra do composto CP ocorre sem a presença do oxigênio e é essencial quando, devido à mudança da necessidade energética, que varia de uma baixa para uma alta demanda, como quando iniciamos uma atividade física mais intensa como correr, supera a quantidade provida pela quebra do ATP. O CP e o ATP são semelhantes no que tange a liberação de energia devido a sua quebra. Porém, como o CP gera mais energia livre que o ATP, parte dessa energia é utilizada para a ressintetização do ADP + P em ATP. 8 CP Creatina cinase C + P + Energia 2.3 GLICÓLISE No momento em que a molécula de glicose entra na célula no intuito de gerar energia, através de uma série de reações químicas, ocorre a chamada glicólise. Ela pode ser de duas formas distintas: Anaeróbica e aeróbica. Anaeróbica: É uma série de 10 reações químicas controladas enzimaticamente e que ocorrem no momento da quebra da glicose para duas moléculas de ácido pirúvico, dividida em duas partes, como mostra a figura abaixo. 9 Na primeira parte, a glicose é fosforilada com o gasto energético de uma molécula de ATP para dar glicose-6-fosfato, que se isomeriza para formar frutose-6-fosfato. A partir da frutose-6-fosfato e com gasto de outra molécula de ATP se forma a frutose-1,6-bifosfato. Até esta parte foram gastas duas moléculas de ATP. Esta é uma reação irreversível na qual intervém a glicose e o ATP, além de ser indispensável o cátion Mg2+ e consta de cinco reações bioquímicas. Na segunda, a frutose-1,6-bifosfato se quebra em duas moléculas: gliceraldeído-3fosfato e dihidroxiacetona-fosfato, por meio de uma enzima aldolase. A dihidroxiacetonafosfato se transforma em gliceraldeído-3-fosfato duplicando a reação a partir daqui. O gliceraldeído-3-fosfato, sofre ainda cinco reações bioquímicas até converter-se em ácido pirúvico. Aeróbica: O piruvato é completamente degradado a dióxido de carbono e, no processo, o NAD é convertido a NADH. 10 Desta forma, na fermentação aeróbica, o NADH é gerado a partir de duas rotas (glicólise e ciclo de Krebs). A oxidação fosforilativa converte o excesso de NADH a NAD e, no processo, mais ATP (energia armazenada) é produzido. As ubiquinonas e os citocromos são componentes da cadeia de transporte de elétrons envolvida neste último processo. A conversão de oxigênio a água é o passo final deste processo. 2.4 O ÁCIDO LÁCTICO Durante atividades físicas extenuantes, com a necessidade de alta velocidade de ressíntese do ATP, o organismo irá optar pela glicose ou glicogênio hepático e muscular. Isso também ocorre na ausência de oxigênio durante o processo de transformação para gerar energia. Esse processo gera energia suficiente para ressíntese do ATP, mas tem um efeito indesejável, a produção de ácido lático (um subproduto "tóxico" gerado no decorrer do ciclo de ressíntese do ATP), que não deve ser encarado como algo prejudicial ou nocivo. Quando se torna novamente disponível uma quantidade suficiente de oxigênio durante a recuperação, ou quando o ritmo do exercício diminui, o NAD+ (coenzima NADH em sua forma oxidada) varre os hidrogênios ligados ao lactato para subseqüente oxidação a fim de formar ATP. Os esqueletos de carbono das moléculas de piruvato formados novamente a partir do lactato durante o exercício serão oxidados para a obtenção de energia ou serão sintetizados (transformados) para glicose (gliconeogênese) no ciclo de Cori. O ciclo de Cori não serve apenas para remover o lactato, mas o utiliza também para reabastecer as reservas de glicogênio depletadas no exercício árduo. 11 A produção e o acúmulo de lactato são acelerados quando o exercício torna-se mais intenso e as células musculares não conseguem atender às demandas energéticas adicionais aerobicamente nem oxidar o lactato com o mesmo ritmo de sua produção. 12 CAPÍTULO 3 AS VARIANTES DO TREINAMENTO Quando se pratica qualquer atividade física, existem fatores externos que influenciam diretamente o praticante. Para o cavaleiro, durante a equitação, que é um exercício físico, existem certas valências físicas específicas a serem consideradas, visando um melhor rendimento. 3.1 VALÊNCIAS FÍSICAS 3.1.1 EQUILÍBRIO Equilíbrio é a habilidade de um indivíduo manter a postura de seu corpo inalterada, mesmo quando é colocado em várias posições. Para o praticante de equitação é fundamental desenvolver essa característica, pois a todo o momento o centro de gravidade de seu corpo muda de posição devido às andaduras do cavalo. 3.1.2 FLEXIBILIDADE Definimos flexibilidade como a capacidade que o indivíduo possui de mover, ativa ou passivamente, uma ou várias articulações, em uma amplitude máxima, até antes do limiar de lesão ou estresse mecânico. O movimento ativo é aquele executado pelo indivíduo sem a 13 ajuda de outro e o movimento passivo é justamente o contrário, como quando alguém nos ajuda a alongar. Aplicada à equitação, essa valência cresce de importância quando analisada sob ótica do instrutor, pois este deve saber até que ponto pode exigir de seu instruendo quando este estiver montado, sempre no intuito de incentivar sua prática. 3.1.3 FORÇA Pode-se definir força como a tensão que um músculo ou um grupo muscular consegue exercer contra uma resistência. Essa força pode alterar ou não o padrão de movimento do objeto como também deformar ou não o objeto. Para a equitação clássica, que busca diretamente a reação do animal às ajudas empregadas pelo cavaleiro, ou seja, a força que o cavaleiro executa para imprimir no animal a submissão, o conhecimento dessa valência é essencial. 3.1.4 POTÊNCIA Potência é a capacidade que o indivíduo tem de realizar uma contração muscular máxima no menor tempo possível, que na prática da equitação, e aqui destacamos a modalidade “pólo”, onde o jogador deve imprimir toda a força que conseguir para impelir o cavalo em uma mudança brusca de direção, torna-se fundamental esse conhecimento para se evitar lesões e outros problemas advindos da má preparação física. 3.1.5 RESISTÊNCIA MUSCULAR LOCALIZADA Em contrariedade ao conceito de força, resistência muscular localizada é a capacidade que um segmento do corpo tem de realizar e sustentar um movimento por um 14 longo período de tempo. Podemos exemplificar esta valência na prática eqüestre, através da modalidade “CCE”, onde o cavaleiro permanece em uma posição desconfortável fora da sela entre 5 (cinco) a 10 (dez) minutos. Para o instrutor de equitação, o conhecimento dessas variantes é necessário para que, no momento da instrução, o instruendo não seja levado a um ponto que não seja capaz de superar, evitando dessa forma, uma lesão, um acidente ou ainda, a provável desmotivação por parte de quem está praticando. 15 CAPÍTULO 4 CICLOS DE TREINAMENTO O conceito de periodização no treinamento foi revelado originalmente em 1972 por um cientista russo e incorporado nos esquemas de treinamento para atletas, tanto novatos quanto de elite. A idéia de periodização consiste em subdividir um período específico de treinamento (macrociclo) em períodos menores ou fases (mesociclos), com cada mesociclo sendo separado novamente em microciclos, onde deverá haver interligação entre as capacidades físicas e técnicas. Por ciclo do treinamento entende-se a distribuição da carga por dia, semana, mês, em períodos de alguns meses, por ano ou vários anos, respeitando a idéia de que o macrociclo engloba o mesociclo, que por sua vez, engloba o microciclo. O gráfico abaixo representa essa divisão: O fracionamento do macrociclo em suas partes componentes tem por finalidade manipular a intensidade do treinamento, o volume, a freqüência, as séries, as repetições e os períodos de repouso (para prevenir o supertreinamento) e alterar a variedade das sessões de treino. Espera-se com isso uma redução de quaisquer efeitos negativos do treinamento e culminar em um desempenho máximo do indivíduo ao final do período do macrociclo. 16 4.1 MACROCICLO Representa a organização de todo o treinamento que será desenvolvido em um determinado período de tempo. A estruturação desse período de treinamento obedece a um plano de expectativas e, geralmente, encerra-se num ponto máximo de performance do indivíduo. Dividi-se em fase de preparação, que abrange duas etapas: uma básica e outra específica, visando proporcionar um condicionamento físico do individuo que o permita alcançar “performances máximas” em etapas mais avançadas do treinamento. Na fase básica, trabalha-se com maior volume e menor intensidade, buscando desenvolver as valências como a resistência muscular localizada e o equilíbrio, enquanto na fase específica, diminui-se o volume e aumenta a intensidade, uma vez que o objetivo é dar ênfase na força. Além também, de se proporcionar a manutenção dos ganhos, das qualidades físicas, obtidos na fase básica. Existem ainda dois períodos a serem considerados, o de competição ou de performance, e o de transição. O período de Performance, ou de competição, é o período onde se atinge o auge da performance do indivíduo, onde se reduz o volume e a intensidade do treinamento, visando a performance máxima do atleta; O período de transição, que é o final do macrociclo, situa-se entre o período de competição e reinício de um novo ciclo de treinamento (um novo macrociclo). Sua função principal é promover uma recuperação total do indivíduo em função dos exigentes esforços a que foi submetido nas fases anteriores do treinamento. 17 4.2 MESOCICLO Esse ciclo de treinamento encontra-se intimamente correlacionado aos princípios da sobrecarga e da interdependência volume-intensidade, com vistas a proporcionar a aplicação de cargas crescentes com respectiva recuperação, visando progressos na performance. Podemos ainda dizer que é formado por uma série de microciclos, de forma a atingir os objetivos de um dado macrociclo. Ele pode ser: - Incorporação (envolvente ou adaptativo): É com esse mesociclo, que se inicia a fase básica de treinamento. É composto por microciclos do tipo recuperativo de manutenção ou estabilizador, sendo em geral concluídos com um micro do tipo recuperativo. Nele, a carga é mais baixa para promover o retorno do atleta aos treinamentos. Deve ser o mais curto que a forma do atleta permitir; - Base e Desenvolvimento: É a mais importante estrutura do treino, trabalhando de forma a promover um poderoso efeito cumulativo de microciclos de treino. Caracteriza-se por uma carga elevada para uma determinada meta de preparação. Sua estrutura é formada basicamente por microciclos de choque e ordinários; - Básico Estabilizador: Projetado a fim de consolidar o rendimento adquirido através dos mesociclos de Base e Desenvolvimento, através de uma pequena redução na grandeza das cargas; - Recuperativo: É nesse meso que se fazem os exames laboratoriais e os tratamentos necessários; - Preparatório de Controle: Verifica a eficiência dos mesociclos anteriores, bem como para ajustar as pequenas falhas que porventura ainda não tenham sido percebidas. Muitas vezes, o treinamento é mesclado com testes e com competições para se verificar os níveis de performance atingidos; 18 - Pré Competitivo: Deve ser usado no período competitivo, antes do mesociclo competitivo que antecede às competições mais importantes da periodização; - Competitivo: Converge todos os esforços dos ciclos de preparação para a obtenção do melhor rendimento. Sua determinação ocorre em função da modalidade desportiva. Deve recuperar e preparar o atleta para todas as competições em que estiver engajado. Só deve ser aplicado no período competitivo e durante os ciclos de competições de maior nível de importância previstos na temporada. 4.3 MICROCICLO Microciclo é o elemento da estrutura da preparação do atleta, que incorpora uma série pré determinada de seções de treinamento ou de competições, ou ainda ambas, visando resolver as metas de um determinado treinamento. Cabe ressaltar que é o menor ciclo de treinamento, geralmente com a duração de 07(sete) dias. Ele pode ser: - De choque: Com a carga próxima à máxima (80 a 100 por cento), como ilustra a figura abaixo: Microciclo de choque 100 80 60 40 20 0 seg ter qua qui sex sáb dom 19 - Ordinário: Com cargas moderadas (60 a 80 por cento); Microciclo Ordinário 100 80 60 40 20 0 seg ter qua qui sex sáb dom - Estabilizador: Com cargas de 40 a 60 por cento; Microciclo Estabilizador 100 80 60 40 20 0 seg ter qua qui sex sáb dom - Recuperativo de manutenção: Com cargas de 30 a 40 por cento; Microciclo Recuperativo de Manutenção 100 80 60 40 20 0 seg ter qua qui sex sáb dom 20 - De recuperação: Com 10 a 20 por cento das cargas; Microciclo de Recuperação 70 60 50 40 30 20 10 0 seg ter qua qui sex sáb dom - De controle: Com a aplicação de testes; Microciclo de Controle 100 80 60 40 20 0 seg ter qua qui sex sáb dom - Pré competitivo: Com 40 a 60 por cento da carga, visando a preparação do atleta para as competições; Microciclo Pré - Competitivo 120 100 80 60 40 20 0 seg ter qua qui sex sáb dom 21 - Competitivo: Competição e descanso. Microciclo Competitivo 120 100 80 60 40 20 0 seg ter qua qui sex sáb dom Observamos nessa etapa a alternância de intensidade das cargas de treinamento. Dependendo da etapa do treinamento e da qualidade física desenvolvida essa composição de intensidades vai variar. O importante a destacar é que essa variação das cargas de trabalho é que vai proporcionar as adaptações fisiológicas que objetivamos naquele momento. A manutenção de cargas sempre fortes poderá levar a um estado de supertreinamento (overtraining), enquanto a manutenção de cargas de trabalho sempre fracas não proporcionará os benefícios que desejamos, caracterizando uma estagnação do treinamento. Assim sendo, devemos variar os estímulos de forma que haja um resposta e uma adaptação, conseqüentemente, uma recuperação, para podermos dar um novo estímulo, tudo isto para não gerar fadiga. Todo o trabalho desenvolvido na periodização do treinamento deve encontrar-se enquadrado nos princípios do treinamento desportivo. Sendo assim, o valor dessa periodização assume dois papéis de grande relevância: organização de todos os estímulos de forma apropriada, em consonância com todos os objetivos previamente determinados; e proporcionar a otimização da performance através de um equilíbrio entre os esforços de treinamento e o tempo de recuperação necessário para o restabelecimento das reservas orgânicas. 22 Ressalta-se que os ciclos de treinamento aqui descritos não são determinantes e obrigatórios, devendo ser adaptado o plano de treinamento, e por conseqüência os ciclos utilizados. Deve-se ter em mente que o plano de treinamento propriamente dito, pode ser alterado a qualquer momento, buscando adaptar a evolução do instruendo ao longo do treinamento e que cabe ao instrutor, o planejamento, acompanhamento e treinamento de seu atleta. 23 CONCLUSÃO “Diga-me e eu ouço. Mostre-me e eu vejo. Deixe-me fazer e eu aprendo.” Confúcio Nos dias de hoje, no Exército Brasileiro é dado muito valor ao rendimento esportivo, visto o projeto Fênix, implantado há alguns anos atrás, com o intuito da participação de militares nas seletivas para os jogos PAN Americanos do Rio de Janeiro, realizados no corrente ano. A prática da equitação, em suas diversas modalidades eqüestres, em especial as praticadas no âmbito do Exército Brasileiro (adestramento, concurso completo de equitação, salto e pólo), exigem do cavaleiro uma demanda física intensa no intuito de submeter o animal a sua vontade. O Exército Brasileiro, através da Escola de Equitação do Exército, forma anualmente um pequeno número de oficiais, que após um ano de curso, são considerados aptos a desempenhar a função de instrutor de equitação nas diversas Organizações Militares (OM) espalhadas por todo o Brasil. Para o instrutor de equitação, o conhecimento da demanda física exigida durante a prática da equitação repercuti diretamente no plano de treinamento a ser desenvolvido, pois sem este saber, colocaria em risco a integridade física de seu atleta e o melhor rendimento do treinamento. Traçando-se um paralelo com o projeto Fênix, ao instrutor responsável cabia a divisão dos ciclos de treinamento (macro, meso e microciclos), ao longo de um amplo período 24 até a competição, baseado no desenvolvimento das valências físicas pertinentes a equitação aqui descritas e, preocupando-se com a integridade de seu atleta. Porém, para um que se planeje um treinamento de forma eficaz, deve-se compreender as variações que ocorrem quando um indivíduo se exercita. Este entendimento, nos dias de hoje, permanece com os profissionais da área de educação física. É interessante então, que aja uma interdisciplinaridade destes profissionais – equitação e educação física – ou ainda, um estudo mais profundo sobre mudanças que poderiam suprir este vazio na formação do instrutor de equitação. 25 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Livros: McARDLE, William D.; KATCH, Frank I. e KATCH, Victor I. Fisiologia do Exercício – Energia, Nutrição e Desempenho Humano. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 1992. MERLE, L.Foss; STEVEN, J. Kteyian. Bases Fisiológicas do Exercício e do Esporte - Ed Ganabara Koogan 6ª edição, 2000 Monografias: RODRIGUES, Maria da Graça V., Elaboração de projetos, trabalhos acadêmicos e dissertações em ciências militares. Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Rio de Janeiro, RJ. 2005. Eletrônicos: Site http://www.efdesportes.com/efd48/trein1.htm; Site http://www.sergiogregorio.com.br/UFPR; Site http:/adl.pt/2007/Dakar/Artigos/Basesdotreinodesportivo.pdf;