Meio Ambiente e o Setor Elétrico Na coluna passada abordamos os temas que fazem parte da Sustentabilidade Empresarial, usando a Norma ISO 26000 como referência. Refletiremos nesta coluna sobre as 4 questões do tema Meio Ambiente explicadas a seguir, e as consequências para o setor elétrico. 1. Emissões de gases de efeito estufa (GEE) e o aquecimento do planeta Os dados mundiais controlados pelas Nações Unidas (metas do milênio http://mdgs.un.org e Framework Convention on Climate Change UNFCCC www.unfccc.int ) e pelo IPCC mostram crescimento das emissões mundiais de gases causadores do aquecimento global, e uma contribuição crescente da China e Índia. Os maiores países emissores mundiais são China, Estados Unidos, Índia, Federação Russa e Japão, nesta ordem. Estes inventários mundiais identificam o uso da energia como o mais contributivo ao aquecimento global (cerca de 80% em 2009 no caso dos Estados Unidos, União Européia e Federação Russa). No Brasil, a última comunicação oficial das emissões de gases de efeito estufa (2005) indicou um aumento de cerca de 60% desde 1990. No entanto, as emissões nos anos recentes mostraram reduções, principalmente nas emissões derivadas de desmatamentos e queimadas. A distribuição das fontes de geração no país é distoante da encontrada nos países desenvolvidos, pois o uso da energia representou somente 15% do total de emissões, e 60,6% se refere ao Uso da Terra, Mudança do Uso da Terra e Floresta (basicamente queimadas e desmatamentos ilegais). Porém o inventário de emissões do Estado de São Paulo de 2005 apontou que 57,2% das emissões foram derivadas do setor de energia. Daí nota-se a importância deste tema crítico mundial para o setor elétrico, dado o esforço global de redução de emissões. 2. Uso sustentável de recursos e energia Talvez a melhor forma de expressar a evolução do uso de recursos seja a dada pelo indicador anual PEGADA ECOLÓGICA (da organização não governamental Global Footprint Network - http://www.footprintnetwork.org)., medido pela área usada para neutralizar as emissões de CO2, áreas de pastagens, florestal, cultivo, estruturas humanas e na produção primária necessária para sustentar os peixes e mariscos capturados (área para produzir os recursos que um indivíduo, população ou atividade consome e para absorver os resíduos que gera). O resultado apresentado no seu relatório de 2010 (referente ao ano de 2007) é apresentado na figura 1, e demonstra que a demanda humana pela biosfera mais do que dobrou entre 1961 e 2007. Além disto, o relatório evidencia que precisávamos em 2007 de cerca de 1,5 planetas para suprir as nossas necessidades, situação já insustentável, e que este número aumentará para 2 planetas em 2030. FIGURA 1 PEGADA ECOLÓGICA GLOBAL (referência: Planeta Vivo Relatório 2010; WWF/Sociedade Zoológica de Londres, Global Footprint Network) Sobre a situação do consumo de energia, eficiência energética e o uso de fontes alternativas, não é preciso detalhar nesta coluna, pois já vêm sendo bastante comentado nesta Revista. 3. Prevenção da poluição Apesar da regulação e conscientização crescente nos últimos anos, o cenário atual planetário mostra em várias partes do mundo uma piora significativa da qualidade ambiental, dentre os quais podemos citar: - oceanos, rios, lagos e águas subterrâneas contaminados, afetando a vida aquática e o suprimento de água potável; - solos contaminados por deposição de resíduos industriais e domésticos; . poluição do ar e ruído crescentes nas grandes cidades, causando redução da vida dos seus habitantes e aumento do número de doenças respiratórias; - número crescente de produtos químicos novos desenvolvidos, do qual boa parte sem dados confiáveis e de longo prazo sobre os impactos à saúde e ao meio ambiente. Pode-se visualizar a relação do setor elétrico com a poluição e com a missão de reduzi-la drasticamente, através dos exemplos a seguir: - geração de lixo eletrônico perigoso ao meio ambiente no pós-uso dos produtos; - geração de efluentes líquidos contendo metais pesados na manufatura de produtos elétricos; - uso de substâncias perigosas nos produtos e na fabricação, objeto de regulamentações nacionais ou regionais (p.ex. Diretiva Européia de controle de substâncias perigosas RoHS). 4. Proteção da biodiversidade Ilustraremos a situação da proteção da biodiversidade através do Índice Planeta Vivo, acessado através do Relatório Planeta Vivo 2010 (http://www.wwf.org.br), elaborado bianualmente pela respeitada Organização Não Governamental WWF, em colaboração com a Sociedade Zoológica de Londres e a Global Footprint Network. Ele acompanha a evolução de quase 8 mil populações de mais de 2.500 espécies de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes. FIGURA 2 ÍNDICE PLANETA VIVO (referência: Planeta Vivo Relatório 2010; WWF/Sociedade Zoológica de Londres, Global Footprint Network) Esse índice mundial demonstra uma redução de espécies de 30% desde 1970. O declínio é mais acentuado nas regiões tropicais, onde se verifica uma queda de 60% em menos de 40 anos. Em algumas áreas temperadas, houve uma recuperação promissora de populações de espécies porém, nas áreas tropicais, houve uma queda de quase 70% nas populações aquáticas (água doce) que foram rastreadas maior declínio já mensurado em quaisquer espécies. E como o setor elétrico se relaciona a esta situação? A conexão ocorre através dos impactos de partes da cadeia de valor com a biodiversidade, tais como: - uso de recursos naturais na manufatura oriundos de áreas com impacto sobre a biodiversidade (p.ex. minérios em áreas próximas a matas nativas); - uso de energia gerada em usinas com impacto sobre a biodiversidade (p.ex. grandes hidrelétricas); - instalação de fábricas de produtos elétricos próximas a locais com impacto sobre a biodiversidade; - poluição causada pelo transporte marítimo de matérias primas e produtos acabados. Energia sustentável não é fácil!!. Mas a viabilidade desta gestão e investimentos está sendo crescentemente percebida diante dos benefícios empresariais estratégicos, às pessoas e ao planeta.