Levantamentos Rápidos de Biodiversidade no tema “Mastofauna (mamíferos)” nas
sub-bacias dos Rios Imbé, Muriaé e Guaxindiba e elaboração de estratégias para
conservação no âmbito da região do Norte e Noroeste Fluminense.
Consultor: Jânio Cordeiro Moreira, MSc
CRBio: 44505/2
RESUMO
A diversidade de espécies de mamíferos das subbacias do Rio Imbé foi levantada a
partir da analise de espécimes depositados em coleções, consultas à literatura cientifica, e
através de uma viagem de campo de 15 dias. Durante o trabalho de campo, fragmentos
florestais selecionados forma percorridos em busca de vestígios da presença dos animais e
avistamentos. Para complementar a base de dados foram entrevistados caçadores, excaçadores e moradores mais idosos da região, que demonstravam maior conhecimento da
fauna local. Na subbacia do Imbé foram registradas 40 espécies distribuídas em 22 famílias
e 9 ordens, com destaque para espécies ameaçadas de extinção como Brachyteles
arachnoides e Callithrix aurita. A segunda maior diversidade de mamíferos foi observada
na subbacia do Rio Muriaé onde houve o registro de 45 espécies, 22 famílias e 8 ordens.
Novamente, merecem destaque os registros Brachyteles arachnoides e Callithrix aurita.
Nessa subbacia o estado de fragmentação dos remanescentes florestais, o histórico de caça
e a ausência de unidades de conservação oficiais são o destaque negativo. Embora uma
menor diversidade (30 espécies, 19 famílias e 8 ordens) tenha sido encontrada na Mata do
Carvão, merece ser destacada a constatação de uma aparente redução na pressão de caça na
região.
Embora pequenos, os remanescentes florestais da região conseguem sustentar
populações de mamíferos de médio e grande porte. No entanto, a continua degradação de
seus hábitats naturais coloca essas populações em risco e torna urgente a criação de parques
estaduais e nacionais na região.
1
MAMÍFEROS
1. INTRODUÇÃO
Ao longo da história do Brasil, o domínio morfoclimático da Mata Atlântica que,
outrora, se estendia da costa do nordeste brasileiro ao Rio Grande do Sul, incluindo parte
dos atuais territórios da Argentina e Paraguai, teve 95% de sua área original gradativamente
substituída por ambientes antrópicos (ARAÚJO, 2000; TABARELLI et al., 2005). Essa
severa perda de hábitat aliada a um excepcional número de espécies de plantas vasculares e
animais coloca a Mata Atlântica entre as cinco áreas prioritárias para a conservação no
mundo (MYERS et al., 2000). No entanto, as estratégias de conservação a serem adotadas
neste domínio dependem de conhecimentos básicos sobre níveis regionais de endemismo e
diversidade além da distribuição geográfica das espécies. Infelizmente, em muitos dos
remanescentes de Mata Atlântica do leste do Brasil esse conhecimento encontra-se ausente
mesmo para táxons bem estudados como os vertebrados terrestres (COSTA et al., 2000).
Os mamíferos são em grande parte responsáveis pela singularidade de algumas
comunidades de vertebrados da Mata Atlântica, especialmente para os pequenos mamíferos
como marsupiais, roedores Cricetidae e Echimyidae (COSTA et al., 2000). A escassez de
inventários locais dificulta a compreensão dos fatores históricos e ecológicos envolvidos na
diversificação dos mamíferos da Mata Atlântica impedindo a adoção de medidas
conservacionistas adequadas (COSTA et al., 2005).
As 50 microbacias contempladas pelo Projeto de Gerenciamento Integrado de
Agroecossistemas no Norte-Noroeste Fluminense - RIO RURAL/GEF abrangem
remanescentes da Mata Atlântica, estando inseridas no Corredor da Serra do Mar,
considerada área prioritária para a conservação por figurar entre as regiões mais ricas em
biodiversidade do planeta (MYERS et al., 2000). Essas regiões, para as quais faltam
informações relativas aos padrões de diversidade e conservação da mastofauna, abrigam
importantes remanescentes da Mata Atlântica no estado como o Parque Estadual do
Desengano e a Estação Ecológica Estadual do Guaxindiba. Nesse sentido, o presente
relatório realiza um diagnóstico da diversidade de mamíferos na área de abrangência do
projeto RioRURAL/GEF com ênfase nas microbacias dos rios Imbé, Guaxindiba e Muriaé
através da análise de dados obtidos a partir do levantamento de campo e de fontes
secundárias, a saber, coleções zoológicas e bibliografia especializada. O conhecimento
2
produzido nesse estudo preliminar possibilitará a delimitação de táxons e áreas com
potencial para futuros estudos científicos que visem documentar a diversidade de
mamíferos do estado do Rio de Janeiro.
2. ASPECTOS METODOLÓGICOS
2.1. Análise de Coleções:
Para a obtenção de uma lista preliminar de espécies das regiões norte e noroeste do
estado do Rio de Janeiro foi visitada a coleção de mamíferos do Museu
Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro. O livro de tombo de mamíferos de cada
dessa instituição foi consultado no sentido de localizar registros de espécimes provenientes
dos municípios incluídos na área de estudo. Com a finalidade de evitar a inclusão de
informações equivocadas os espécimes com identificação duvidosa foram examinados e,
quando necessário, a nomenclatura taxonômica foi atualizada.
2.2. Pesquisa Bibliográfica:
A diversidade registrada em coleções zoológicas foi complementada por listagens
de espécies publicadas em periódicos científicos, livros e publicações editadas por órgãos
oficiais (EMBRAPA, IBAMA, IBGE, entre outros). Quando disponíveis, foram
consultados os planos de manejo das unidades de conservação inseridas na região de
estudo. O acesso ao banco de dados, relativo à mastofauna, resultante do Projeto Diretrizes
Prioritárias para a conservação do estado do Rio de Janeiro, foi solicitado junto ao Instituto
Biomas da Universidade do estado do Rio de Janeiro. Porém, estes dados não foram
disponibilizados até o término desse relatório. Além das fontes supracitadas foram
examinados guias de campo (EISENBERG & REDFORD, 1999; REIS et al., 2006) e
compilações taxonômicas recentes (WILSON & REEDER, 2005) para atualizar a
nomenclatura taxonômica e a distribuição das espécies registradas.
2.3. Procedimento de Campo
2.3.1. Área de estudo
Durante uma expedição de campo com duração de 15 dias, realizada entre os dias
10 e 24 de Março de 2008, foram visitadas cinco áreas amostrais (Figura 1): Alto Imbé, Rio
Opinião, Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba, Laje do Muriaé e Natividade.
3
Figura 1: Áreas amostrais visitadas durante a campanha de campo.
De maneira geral, o processo de ocupação das áreas visitadas envolveu a retirada da
mata nativa e sua substituição por pastagens e lavouras (MORENO et al., 2003). A
dinâmica do desmatamento variou conforme as características dos diferentes ciclos
econômicos (café, carvão, cana e pecuária) verificados na região (VILLELA et al., 2006).
Os remanescentes florestais atuais representam pequenos fragmentos de mata em estágio de
regeneração secundária, localizados principalmente em topos de morros e regiões de difícil
acesso. No texto abaixo será apresentada uma breve caracterização dessas áreas:
Propriedade do Senhor Nilo Roberto – apresenta mata ciliar e mata de encosta em
estagio avançado de regeneração secundária. A região é bastante úmida sendo rica em
corpos de água como riachos, cachoeiras e nascentes, apresenta ainda áreas de brejo,
alagados e uma represa artificial para criação de peixes. Segundo moradores locais esses
corpos de água são freqüentemente visitados por lontras.
Rio Opinião – esta propriedade está localizada nas proximidades da Lagoa de Cima,
incluindo áreas alagadas e brejos. Os fragmentos de mata ombrófila densa submontana,
provavelmente secundária e em bom estado de conservação, estão restritos aos topos de
morros e locais de difícil acesso (MORENO et al., 2003).
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Estação Ecológica Estadual do Guaxindiba – localizada sobre depósitos terciários
de rocha cristalina, a Mata do Carvão representa um importante remanescente da floresta
estacional semidecidual de terras baixas (floresta de tabuleiro) (SILVA & NASCIMENTO,
2001). A unidade de conservação, administrada pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente
(INEA/RJ), limita-se com plantações de cana-de-açúcar, abacaxi e áreas de pastagem, cuja
expansão foi responsável, nas décadas de 60 e 70, por reduzir consideravelmente a área de
mata na região. Além dos fragmentos de mata, a estação ecológica abrange áreas de brejo e
alagadiço onde se refugiam capivaras e pacas.
Laje do Muriaé – a exemplo do que ocorre nas outras áreas amostrais, os fragmentos
florestais dessa localidade estão restritos aos topos de morro. Segundo moradores, no final
da década de 70 houve retirada de madeira para produção de carvão.
Natividade – nesse município há um numero maior de fragmentos em boas
condições. Na recém criada RPPN Nestoda, ainda há circulação de gado e pessoas na mata
que está nas fases iniciais de regeneração. Na Fazenda São Vicente e outras propriedades,
há fragmentos florestais estão em bom estado de conservação por serem áreas de difícil
acesso. Essas matas abrigam árvores mais altas e com dossel fechado.
REGIÃO NORTE
1) Alto Imbé: Propriedade do Senhor Nilo Roberto (22º00’34.9”S; 41º55’19.6”O)
Figura 2: Imagem de satélite da região do Alto Imbé.
5
2) Rio Opinião (21º49’33.8”S; 41º39’15.89”O)
Figura 3: Imagem de satélite da região do Rio Opinião.
3) Estação Ecológica Estadual do Guaxindiba (21º22’49.7”S; 41º06’49.1”O) e
Comunidade Nova Belém “Carrapato” (21º24’17.5”S; 41º06’34.7”O)
Figura 4: Imagem de satélite da região da EEE do Guaxindiba.
REGIÃO NOROESTE
6
4) Laje do Muriaé – Fazenda Boa Vista (21º15’51.18”S; 42º10’30.24”O) e Mata do
Dr. Ary/Água Mineral (21º17’45.2”S; 42º06’30.8”O)
Figura 5: Imagem de satélite da região de Laje do Muriaé
5) Natividade:
Fazenda São Vicente (Figura 6A - 21º05’10.8”S; 42º01’08.8”O)
Plantação de Milho (Figura 6A - 21º04’23.4”S; 42º01’23.7”O)
Fazenda Barra Mansa (Figura 6B - 21º02’39.06”S; 41º59’22.14”O)
Santuário (21º02’34.9”S; 41º55’24.7”O)
Casa do Sr. “Quati” (Figura 6C - 20º59’22.74”S; 41º49’09.3”O)
Riacho (21º03’00.0”S; 41º57’28.3”O)
RPPN Nestoda (Figura 6D - 21º00’31.5”S; 41º56’16.1”O)
7
A
B
C
D
Figura 6: Imagem de satélite da região de Natividade. A) Fazenda São Vicente e Milharal;
B) Fazenda Barra Mansa; C) Casa do “Quati”; D) RPPN Nestoda
2.3.2. Mamíferos de médio e grande porte
Os mamíferos de médio e grande porte (> 1Kg) formam um grupo bastante
heterogêneo que abrange espécies pertencentes às ordens Rodentia (capivaras, pacas e
ouriços), Carnivora (cachorros, gatos, lobo, raposas, onça), Cingulata (tatus), Pilosa
(preguiças e tamanduás), Artiodactyla (catetos, veados, queixadas), Perissodactyla (antas) e
Primates (sagüis, barbado). Esse grupo apresenta grande diversidade de comportamentos,
hábitos e distribuição espacial o que permite que sejam visualizados mais facilmente do que
os pequenos mamíferos (< 1Kg). O levantamento qualitativo de mamíferos de médio e
grande porte foi realizado principalmente com base em (1) entrevistas com moradores
8
locais utilizando guias ilustrados de identificação (EMMONS & FEER, 1997; OLIVEIRA
& CASSARO, 1999), (2) registro de evidências indiretas caracterizada por fezes, pegadas,
ossadas e vocalizações, durante busca ativa noturna e diurna em trilhas indicadas pelos
moradores.
A busca ativa foi realizada durante o período crepuscular (17h30min – 19h30min).
Para a visualização de vestígios indiretos foram visitadas trilhas e estradas
preferencialmente próximas a corpos d’água. As pegadas registradas foram fotografadas e
identificadas a partir de comparações como esquemas e fotografias disponíveis em guias de
campo (DALPONTE & BECKER, 1991; EMMONS & FEER, 1997; PITMAN et al,
2002). Para as entrevistas foram escolhidos caçadores ou moradores com maior tempo de
residência na região e que demonstraram maior conhecimento com relação à mastofauna
local.
2.3.3. Pequenos mamíferos
Os pequenos mamíferos (< 1Kg) constituem um grupo bastante diversificado de
mamíferos abrangendo indivíduos das ordens Rodentia (pequenos roedores das famílias
Cricetidae, Echimyidae e Caviidae), Didelphimorphia (gambás e cuícas) e Chiroptera
(morcegos). Em virtude da dificuldade de sua captura e identificação muitas vezes, esses
animais são ignorados em inventários faunísticos, embora exerçam importantes funções na
manutenção do ecossistema e possam funcionar como indicadores de qualidade ambiental
(MOOJEN, 1943). Devido aos seus hábitos preferencialmente noturnos faz-se necessário o
uso de armadilhas e redes de captura para visualização desses animais (MOOJEN, 1943).
Entretanto, em virtude da não-liberação da licença IBAMA (solicitação nº14713) tais
armadilhas não foram montadas armadilhas durante as atividades de campo. Os dados
relativos a esse grupo de mamíferos foram baseados na análise de coleções e da literatura
científica.
2.4. Lista de Espécies
Os animais levantados nas três subbacias visitadas foram classificados, quando
possível, ao nível específico. Em casos excepcionais como ocorrência de espécies
9
simpátricas, cuja identificação não tenha sido possível em virtude de ausência de materialtestemunho, os registros foram classificados ao nível de gênero.
Espécies com ampla distribuição geográfica ou frequentemente registradas em
localidades inseridas nas três subbacias que integram o projeto RioRural/GEF,
especialmente unidades de conservação, foram consideradas como fauna regional
potencialmente presente.
2.5. Análise de Dados
As espécies registradas foram reunidas em uma matriz de dados que foi utilizada
como base para a construção de gráficos e realização de cálculos, necessários para
caracterizar a composição da mastofauna local.
3. HISTÓRICO DO GRUPO NA REGIÃO
1983: Coletas de pequenos mamíferos terrestres realizadas pela equipe do Laboratório de
Ecologia de Vertebrados/UFRJ no município de Santa Maria Madalena.
1987: Em sua dissertação de mestrado o pesquisador Cristopher Tribe faz uma síntese do
conhecimento sobre a mastofauna do estado do Rio de Janeiro.
1992: A equipe da pesquisadora Márcia Lara faz expedições ao Parque Estadual do
Desengano visando coletar pequenos mamíferos terrestres.
1997–1998: Capturas de morcegos no município de Itaperuna conduzidas pelo Instituto de
Medicina Veterinária Jorge Vaistman.
2003–2004: Estudos realizados pela equipe da Universidade do Estado de Minas
Gerais/Carangola em duas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) localizadas
na divisa entre os municípios de Tombos/MG e Porciúncula/RJ. Alguns resultados desse
estudo encontram-se listados em MELO et al. (2005).
2005: Plano de manejo do Parque Estadual do Desengano
2005: A equipe da Drª Lena Geise (Instituto Biomas/UERJ) faz um estudo preliminar da
diversidade de pequenos mamíferos terrestres e voadores da Estação Ecológica do
Guaxindiba (Mata do Carvão). A lista preliminar dos pequenos mamíferos dessa Unidade
de Conservação encontra-se no prelo e será publicada no Boletim da Sociedade Brasileira
de Mastozoologia.
10
2005–atual: Com a proposta de inventariar e caracterizar a biodiversidade de mamíferos do
estado do Rio de Janeiro, o Projeto Rede de Biodiversidade de Vertebrados Terrestres do
Rio de Janeiro–Mastofauna, financiado pelo convênio FINEP/FAPERJ, têm realizado
campanhas de coleta voltadas principalmente para as regiões Norte e Noroeste consideradas
lacunas amostrais do estado. Algumas das áreas visitadas pelas equipes da Rede de
Biodiversidade estão localizadas em municípios abrangidos pelo Projeto RioRural/GEF tais
como Varre-Sai e Cambuci.
4. RESULTADOS
4.1. DIVERSIDADE REGIONAL DE MAMÍFEROS
Conforme ressaltei anteriormente, a diversidade mastofaunística do Norte/Noroeste
Fluminense como um todo encontra-se possivelmente subestimada, sendo necessários
estudos de longa duração para uma melhor avaliação da diversidade regional. Esse mesmo
raciocínio é válido para cada uma das três subbacias estudadas.
Um total de 56 espécies de mamíferos, distribuídas em nove ordens e 25 famílias,
foi registrado para as regiões norte e noroeste do estado do Rio de Janeiro. As ordens
Rodentia (quinze espécies) e Carnivora (treze) apresentaram a maior diversidade, seguidas
pelas ordens Primates (seis espécies), Didelphimorphia, Chiroptera e Cingulata, cada uma
com cinco espécies. As famílias Cricetidae (roedores), com seis espécies, Didelphidae,
Dasypodidae Phyllostomidae (morcegos) foram as mais diversificadas com cada uma.
Apesar desses números, a diversidade regional encontra-se possivelmente subestimada.
Os padrões mundiais de diversidade de mamíferos revelam que os maiores níveis de
diversidade e endemismo dentro da classe encontram-se associados à fauna de pequenos
mamíferos (WILSON & REEDER, 2005). É interessante destacar que na área de estudo a
riqueza de espécies de médio e grande porte (35 espécies) foi maior do que a diversidade de
pequenos mamíferos (21 espécies). Espera-se que a realização de estudos adicionais e
inventariamentos de longo prazo possam revelar uma maior diversidade de roedores,
morcegos e marsupiais nesta região.
Na próxima seção os resultados encontrados serão apresentados separadamente para
cada subbacia.
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4.1.1. REGIÃO NORTE
Na região Norte Fluminense foram registradas 45 espécies distribuídas em 23
famílias e 9 ordens. Destacam-se as ordens Rodentia e Carnivora com 13 e 12 espécies,
respectivamente. Os registros de morcego foram limitados a relatos da ocorrência de duas
espécies de morcegos hematófagos, Desmodus rotundus e Diphylla ecaudata, reforçando
mais uma vez a necessidade de realização de estudos mais intensivos na região.
A) Subbacia do rio Imbé
Na subbacia do Imbé foram registradas 40 espécies distribuídas em 22 famílias e 9
ordens (Quadro 1). Na região do Alto Imbé foram registradas 28 espécies pertencentes a 18
famílias e 9 ordens. Na região do Rio Opinião, também houve registro de 28 espécies
embora o número de ordens e famílias tenha sido menor, respectivamente oito e dezoito. A
riqueza em corpos de água, brejos e o bom estado de conservação das matas permitiram o
registro de espécies como o rato-da-taquara e a lontra.
Considerando a proximidade geográfica dessas duas áreas entre si e com o P.E. do
Desengano, e que partilham características climáticas, edáficas e vegetacionais, não eram
esperadas grandes variações na diversidade da mastofauna entre as duas regiões. As
ausências de espécies de morcegos e do gato-mourisco na região do Rio Opinião e o furão
no Alto Imbé, necessariamente não significam que essas espécies estão ausentes desses
locais. Tais ausências apenas reforçam a necessidade de maiores estudos na região.
Nesse sentido, embora a subbacia do Rio Imbé seja sem dúvida aquela que
apresenta maior número de investigações de diversidade quando comparada às demais
subbacias analisadas, tais estudos foram na maioria das vezes fruto de esforços isolados,
para os quais não houve continuidade. A presença de uma unidade de conservação do porte
do P.E. do Desengano é fundamental para a realização desses estudos e para manutenção de
populações viáveis de muitas espécies que ocorrem na região. Possivelmente, o registro
nessa subbacia de espécies de grande porte e ameaçadas de extinção como a onça-parda
(Puma concolor) e o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) está relacionado à
presença do Parque.
12
Diversidade de Mamíferos
Rio Opinião
30
25
28
Alto Imbé
28
20
15
18
18
10
9
5
8
0
Espécies
Famílias
Ordens
Figura 7: Diversidade de mamíferos em diferentes níveis de classificação na
subbacia do Rio Imbé.
B) Subbacia do Rio Guaxindiba
A subbacia do Rio Guaxindiba é a mais pobremente estudada e conhecida com
relação à mastofauna, não apenas por apresentar o menor número de espécies, ordens e
famílias de mamíferos entre as três subbacias (30 espécies, 19 famílias e 8 ordens – Quadro
3, ), mas também por apresentar a menor representatividade ao nível de ordens e famílias.
Na EEE do Guaxindiba foram registradas 27 espécies, distribuídas em 8 ordens e 18
famílias. Embora, não tenha falado diretamente na Mata do Carvão, Wied-Neuwied (1940)
cita a ocorrência de três espécies para a região do Rio Itabapoana: Panthera onca,
Pteronura brasiliensis e Callicebus personatus. Dessas três espécies apenas C. personatus
foi apontado por moradores locais como componente atual da fauna da região, sendo as
outras duas espécies extintas em virtude da fragmentação de ecossistemas e da caça.
Possivelmente, em virtude da ausência de grandes remanescentes florestais nessa região as
localidades inseridas nessa subbacias não tenham sido incluídas em estudos de diversidade
de mamíferos nos últimos anos. Nesse sentido, reforça-se a importância da Estação
Ecológica Estadual do Guaxindiba como possível área-testemunho da diversidade
mastofaunística dessa subbacia.
13
Diversidade de mamíferos
Espécies
50
45
40
35
30
25
20
15
10
Famílias
Ordens
40
45
22
30
22
5
0
19
9
Imbé
8
8
Guaxindiba
Muriaé
Figura 8: Comparações de diversidade de mamíferos, considerando diferentes níveis
de classificação, entre as subbacias dos rios Imbé, Muriaé e Guaxindiba.
4.1.2. REGIÃO NOROESTE
A) Subbacia do Rio Muriaé
A segunda maior diversidade de mamíferos foi observada na subbacia do Rio
Muriaé onde houve o registro de 45 espécies, 22 famílias e 8 ordens (Quadro 3). A maior
riqueza de espécies foi registrada para as ordens Rodentia e Carnivora, com 12 e 11
espécies respectivamente. Chama a atenção ainda a ausência de representantes da ordem
Artiodactyla, possivelmente extintos na região em virtude da intensa atividade de caça.
Apesar de problemas como a caça predatória, o isolamento e o tamanho restrito dos
fragmentos de mata dessa subbacia, a visita à Fazenda São Vicente em Natividade revelou
que os remanescentes florestais dessa região representam ainda um refúgio para espécies
raras e ameaçadas de extinção. Nessa propriedade foram registradas duas espécies de
primatas o mono-carvoeiro (Brachyteles arachnoides) e macaco-prego (Cebus nigritus –
Figura 9), havendo relatos ainda da ocorrência do sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita)
e do sauá. Segundo moradores locais o grupo de muriquis é composto de aproximadamente
30 indivíduos, tendo sido visto consumindo plantações de milho nos arredores da
propriedade. A presença dessa espécie e do macaco-prego pôde ser confirmada pela equipe
de herpetofauna em visita posterior à nossa campanha.
14
O sagüi-da-serra-escuro, C. aurita, pôde ser evidenciado ainda na Água Mineral em
Laje do Muriaé de propriedade do Senhor Ary Getúlio.
Juntamente com o mono-carvoeiro e o sagüi-da-serra-escuro, o tatu-de-rabo-molegrande (Cabassous tatouay), a lontra (Lontra longicaudis) e o jupará (Potos flavus) são
exceções consideráveis por serem cada vez menos freqüentes em inventários realizados na
Mata Atlântica.
4.2. Caracterização das espécies registradas
Na presente seção, apresento uma síntese de alguns aspectos da história natural das
espécies de mamíferos registradas para as três subbacias estudadas. As informações que se
seguem são derivadas, em sua maioria, de REIS et al. (2006) e EISENBERG & REDFORD
(1999).
ORDEM DIDELPHIMORPHIA
Essa ordem reúne espécies de gambás e cuícas, reservatórios naturais da doença de
chagas e da esquistossomose.
Didelphis aurita (Wied-Neuwied, 1826) – esta espécie encontra-se distribuída na
porção leste do Brasil entre os estados de Alagoas e Santa Catarina, estendendo a oeste até
o Mato Grosso do Sul. Geralmente vive próximo a cursos de água e utiliza como abrigo
ocos de arvores, troncos caídos e raízes. Possui hábito terrestre, mas também apresenta
habilidade para escalar. Sua massa corpórea varia entre 670 e 1882 gramas, a dieta é
onívora incluindo pequenos vertebrados como aves, lagartos, anfíbios, pequenos roedores e
marsupiais, vários invertebrados, além de frutos e sementes. A estação reprodutiva estendese de outubro a janeiro, com o tamanho da ninhada variando entre 4 e 11 filhotes. Após o
nascimento, os filhotes passam a abrigar-se no marsúpio das fêmeas, onde completam seu
desenvolvimento.
Marmosops incanus (Lund, 1840) – ocorre no leste do Brasil entre os estados da
Bahia e Paraná, sua distribuição inclui ainda o interior dos estados da Bahia e Minas
Gerais. Essa espécie pode ocorrer em matas primárias ou secundárias, em fragmentos de
diferentes tamanhos. Contudo, tende a ser mais comum em florestas em estágio inicial de
regeneração ou com alto grau de alteração (PARDINI et al., 2005). Sua massa corpórea
15
varia entre 20 e 140g, sendo sua dieta onívora-insetívora. Vivem aproximadamente entre
um ano (machos) e um ano e meio (fêmeas). Após o período reprodutivo, fortemente
relacionado à estação chuvosa, todos os machos adultos morrem. As fêmeas dessa espécie
não possuem marsúpio.
Micoureus paraguayanus (Tate, 1931) – essa cuíca habita preferencialmente o
estrato arbóreo e/ou arbustivo de florestas primárias ou secundárias localizadas entre os
estados da Bahia e do Rio Grande do Sul, ocorrendo também a leste do Paraguai, e em
floresta de galeria e cerradão no interior de São Paulo. Nesses ambientes, utiliza ocos de
árvores e emaranhados de cipó como abrigo. Com massa corpórea variando entre 58 e 132
gramas, a espécie apresenta dieta onívora-insetívora composta de artrópodes e frutos. O
período reprodutivo no estado do Rio de Janeiro estende-se de setembro a abril.
Monodelphis sp – as espécies do gênero Monodelphis Burnett, 1830 incluídas na
mastofauna da Mata Atlântica do Rio de Janeiro representam pequenos marsupiais com
massa corpórea variando entre 23 e 83 gramas. Algumas espécies apresentam listras
longitudinais dorsais negras permitem uma identificação preliminar no campo. Esse gênero
é composto por cuícas essencialmente terrícolas, com dieta insetívora-onívora, cauda curta
e fêmeas desprovidas de marsúpio.
Philander frenatus (Olfers, 1818) – A distribuição geográfica da cuíca-quatro-olhos
estende-se de Salvador, Bahia, até o estado de Santa Catarina, incluindo ainda porções dos
territórios de Argentina e Paraguai. Com hábito noturno este marsupial utiliza árvores,
arbustos e o solo da mata como substratos para a sua locomoção. Sua dieta inclui uma
ampla gama de recursos alimentares tais como frutos, invertebrados, pequenos vertebrados
e, ocasionalmente, pode consumir carniça. Assim como as demais espécies desse gênero e
de Metachirus, a presença de um par de manchas claras sobre os olhos caracteriza P.
frenatus. A cuíca-quatro-olhos atinge a maturidade sexual por volta dos oito meses de vida,
seu período reprodutivo parece estar relacionado à estação de chuvas, os nascimentos
ocorrem entre agosto e fevereiro. Após uma gestação de aproximadamente duas semanas,
as fêmeas dão a luz a ninhadas de 4 a 6 filhotes que completam seu desenvolvimento
abrigados no marsúpio da mãe.
ORDEM CINGULATA
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Essa ordem reúne as espécies de tatu. Além de serem apreciadas para a caça, essas espécies
podem funcionar como reservatório natural do parasita causador da Doença de Chagas. As
informações a seguir, relativas às espécies de tatus, foram retiradas de MEDRI et al.
(2006).
Cabassous tatouay (Desmarest, 1804) – o tatu-de-rabo-mole-grande habita
principalmente áreas florestadas, podendo tolerar hábitats secundários, mas não ocorre em
áreas de agricultura ou degradadas. Sua distribuição inclui o sul do Pará, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul, abrangendo os domínios do Cerrado, Mata Atlântica,
Pantanal e Campos Sulinos. Essa espécie possui patas dianteiras munidas com 5 poderosas
garras utilizadas para capturar formigas e cupins, que constituem a base de sua dieta, bem
como para escavar sua toca. Geralmente C. tatouay não retorna a tocas previamente
utilizadas, mudando de toca a cada dia. A carapaça desse tatu possui de 10 a 13 cintas
móveis, sua massa corpórea pode chegar a 6,2 Kg. Está sujeita a forte pressão de caça
(SANCHES, 2001).
Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758 – Popularmente conhecida como tatugalinha, esta espécie ocorre desde o sul dos Estados Unidos até o noroeste da Argentina e
do Uruguai, constituindo a maior distribuição geográfica entre as espécies das classes
Pilosa e Cingulata. A espécie diferencia-se das demais pela presença de nove cintas móveis
na carapaça, embora esse número possa variar de oito a onze. Ao longo de sua área de
ocorrência ocupa grande variedade de hábitats como florestas decíduas e tropicais, bem
como regiões áridas como a Caatinga. Possui hábitos noturnos e/ou crepusculares, suas
tocas possuem aproximadamente seis metros de comprimento e há várias entradas. Sua
dieta é composta basicamente de invertebrados, podendo incluir também material vegetal,
pequenos vertebrados, ovos e carniça. A massa corpórea varia entre 3,2 e 4,1 Kg, mas pode
alcançar até 7,7 Kg (MEDRI et al., 2006). Essa espécie é bastante apreciada pelos
caçadores, sendo freqüente também a morte por atropelamento. O tempo de vida de um
tatu-galinha pode superar os 22 anos.
Dasypus septemcinctus Linnaeus, 1758 – o tatuí é uma espécie cosmopolita
ocorrendo tanto em áreas de floresta quanto de vegetação aberta, tolerando áreas alteradas
pelo homem. Sua distribuição geográfica estende-se do sul do Amazonas até o Rio Grande
17
do Sul, passando pelo sul e norte da Argentina. Ocorre nos domínios da Amazônia,
Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Campos Sulinos (FONSECA et al., 1996).
Considerada insetívora-generalista a espécie, que pode atingir até 1,5 Kg, também é
apreciada pelos caçadores.
Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758) – Esta espécie é conhecida popularmente
como tatu-peba, tatu-peludo, tatu-testa-de-ferro e tatu-amarelo. Ocupa regiões de vegetação
aberta ou borda das matas desde o sul do Suriname até o nordeste da Argentina e Uruguai,
incluindo o Chaco e o leste do Paraguai. No Brasil, sua distribuição inclui os domínios da
Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Campos Sulinos. Possui hábito
diurno, podendo ser ativo durante a noite. A cabeça é cônica, a carapaça pardo-amarelada é
achatada e coberta por pêlos longos e esbranquiçados, a massa corpórea varia de 3,2 a 6,5
Kg. Utiliza uma ampla gama de recursos na sua alimentação tais como material vegetal,
invertebrados, pequenos vertebrados e carniça. Esta espécie costuma ser vítima de
atropelamentos rodoviários, além de ser alvo de caçadores.
Priodontes maximus (Kerr, 1792) – o tatu-canastra representa a maior espécie
vivente da Ordem Cingulata, podendo alcançar, em condições naturais, até 60 Kg ou em
cativeiro 80Kg. Ocorre da Venezuela até a Guiana Francesa, Equador, Peru, Bolívia norte
da Argentina, Paraguai e sudeste do Brasil. Em território brasileiro sua área de distribuição
abrange os domínios da Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal. Raramente visto
em virtude do período de atividade predominantemente noturno, o tatu-canastra habita
florestas tropicais e subtropicais, cerrados, ambientes xerófilos e planícies de inundação,
sendo bastante rara a sua presença em áreas alteradas pela ação humana. A carapaça é
bastante flexível e apresenta de 11 a 13 cintas móveis. A garra do terceiro dedo, longa e
curvada, é utilizada para escavação de tocas e para busca de seus principais recursos
alimentares: formigas e cupins. Hábil escavador, o tatu-canastra constrói tocas com até 5m
de comprimento e 1,5m de profundidade, com várias entradas e saídas, podendo nelas
permanecer por períodos superiores a 24 horas. Seu percurso diário pode chegar a 3 km.
Após uma gestação de aproximadamente 4 meses, nascem de um a dois filhotes com tempo
de vida estimado entre 12 e 15 anos. Esta espécie é intensamente caçada ao longo de sua
área de distribuição, estando localmente extinta em diversas regiões do Brasil.
18
ORDEM PILOSA
As informações a seguir, relativas às espécies de roedores, foram retiradas de MEDRI et al.
(2006).
Bradypus torquatus Illiger, 1811 – maior espécie do gênero Bradypus, a preguiçade-coleira apresenta massa corpórea variando entre 3,6 a 4,2 Kg. A espécie apresenta hábito
arborícola, alimenta-se principalmente de folhas, de preferência as mais jovens,
consumindo flores e frutos apenas raramente. O período de gestação é de aproximadamente
seis meses. A espécie está sujeita à caça predatória em diversas localidades ao longo de sua
distribuição (VAZ, 2003a). Além da caça, a limitada flexibilidade alimentar, a redução das
florestas e o isolamento entre as populações, que dificulta o fluxo gênico e ocasiona o
gradativo empobrecimento genético da espécie, são as principais ameaças à preguiça-decoleira. Alguns autores consideram-na a espécie mais ameaçada da ordem Pilosa
(WETZEL, 1985).
Myrmecophaga tridactyla Linnaeus, 1758 – o tamanduá-bandeira utiliza uma ampla
variedade de hábitats, incluindo desde campos abertos a florestas e áreas inundáveis. Sua
distribuição estende-se do sul de Belize e Guatemala até o norte da Argentina, ocorrendo
em todos os domínios morfoclimáticos brasileiros: Amazônia, Caatinga, Campos Sulinos,
Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal. A cauda, comprida e com pêlos grossos, pode ser usada
para cobrir o corpo com fins de ajuste térmico e camuflagem durante o sono. Sob
temperaturas baixas, a cauda permanece estirada como forma de aumentar a superfície de
exposição à radiação solar. A espécie apresenta hábito terrestre, período de atividade
variável conforme as condições climáticas locais, podendo ser noturno e/ou diurno. Sua
alimentação é composta basicamente por formigas e cupins, que o tamanduá-bandeira
localiza através do olfato aguçado. Para capturar o alimento utiliza a força muscular de seus
membros anteriores, que possuem quatro dedos com três garras fortes, para abrir
formigueiros e cupinzeiros. Pode consumir até 35000 formigas/cupins por dia e chegar a
mais de 45 Kg de massa corporal. A deterioração e redução de seus hábitats naturais, a caça
ilegal, atropelamentos rodoviários e os incêndios florestais são alguns dos fatores
responsáveis
pelo
declínio
das
populações
do
tamanduá-bandeira,
considerado
provavelmente extinto no estado do Rio de Janeiro.
19
Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) – Popularmente conhecida como
tamanduá-mirim, meleto ou tamanduá-de-colete, esta espécie utiliza ambientes abertos e
florestais ocorrendo na América do Sul, da Venezuela ao norte da Argentina. Em território
brasileiro sua área de distribuição inclui todos os domínios morfoclimáticos: Amazônia,
Caatinga, Campos Sulinos, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal. A pelagem é amarelopálida com duas manchas negras que se estendem da região escapular para o dorso do
animal, lembrando um colete (NOWAK, 1999). O tamanduá-mirim é um hábil escalador,
podendo alimentar-se no chão ou nas árvores. Assim como o tamanduá-bandeira seus
membros anteriores possuem quatro dedos e três garras utilizados para romper ninhos de
cupins, formigas, mel e abelhas, utilizados como alimento (EMMONS & FEER, 1997).
ORDEM PRIMATES
Alouatta clamitans Cabrera, 1940 sensu GREGORIN (2006) – caracterizado por sua
forte vocalização, o bugio ou barbado ocupa boa parte da vertente atlântica do sudeste e sul
do Brasil, ocorrendo desde a região do Rio Jequitinhonha, em Minas Gerais, até o Rio
Grande do Sul. Apresenta dieta composta de folhas e frutos, incluindo também flores,
caules, cascas e líquens. A flexibilidade alimentar, que permite utilizar uma grande
quantidade de folhas como recurso alimentar mesmo em áreas reduzidas, pode ser um dos
fatores relacionados ao seu sucesso em sobreviver mesmo em fragmentos degradados
(BICCA-MARQUES et al., 2006). Após uma gestação de 180-190 dias a fêmea dá a luz a
um único filhote.
Brachyteles arachnoides (É. Geoffroy, 1806) – endêmicos da Mata Atlântica os
macacos desse gênero correspondem aos maiores primatas da Região Neotropical, pesando
entre 9,4 e 12,1 Kg. O muriqui, B. arachnoides, ocorre nos estados do Paraná, São Paulo e
Rio de Janeiro onde habita florestas primárias e secundárias. Sua dieta é composta
principalmente de produtos de origem vegetal tais como frutos, folhas e flores, mas pode
incluir ainda sementes, néctar, pólen, bambús e samambaias (BICCA-MARQUES et al.,
2006). Podem formar grupos mistos contendo machos e fêmeas adultos, além de jovens e
filhotes. Esses grupos podem ter de 20 a mais de 60 integrantes. A caça e a fragmentação
dos hábitats naturais são as principais ameaças a essa espécie. Após uma gestação de 7 a
20
8,5 meses a fêmea dá a luz a um único filhote, sendo o intervalo entre nascimentos de 2 a 3
anos (STRIER, 1997).
Callicebus personatus (É. Geoffroy, 1812) – tal como o barbado, o sauá ou guigó
pode ser caracterizado pela vocalização de longo alcance. Vivem em grupos de 2 a 5
indivíduos, compostos por um casal de adultos e sua prole. São territorialistas e utilizam a
vocalização para manter o espaçamento entre grupos da espécie. Ocorre desde o Vale do
Jequinhonha, Minas Gerais, a partir da região dos rios Mucuri e Itaúnas atravessa o estado
do Espírito Santo chegando até o norte do Rio de Janeiro (VAN ROOSMALEN et al.,
2002). São primatas arborícolas de pequeno porte, os adultos apresentam massa corporal
entre 700 e 1650 gramas. Alimenta-se principalmente de frutos, podendo complementar a
dieta com insetos e folhas.
Callithrix aurita (É. Geoffroy in Humboldt, 1812) – o sagüi-da-serra é um primata
de pequeno porte pesando entre 300 e 450g. Sua dieta é composta de frutos, insetos, néctar
e exsudatos de plantas (goma, resinas e látex), podendo incluir flores, sementes, moluscos,
ovos de aves e pequenos vertebrados. Devido à habilidade de utilizar gomas e exsudatos
como fonte alimentar podem colonizar pequenos fragmentos. A gestação dura em média 5
meses e o intervalo entre nascimentos é de 5 a 6 meses.
Cebus nigritus (Goldfuss, 1809) – o macaco-prego é um primata neotropical de
tamanho médio (1,4 a 4,8Kg). Apresenta mãos ágeis, a presença de polegares semioponíveis torna-os bastante habilidosos no uso com ferramentas. Possuem o maior tamanho
relativo de cérebro entre os primatas do Novo Mundo. São arborícolas diurnos, apresentam
dieta onívora composta principalmente por frutos e insetos podendo incluir também flores,
brotos, ovos e pequenos vertebrados. Formam grupos de 6 a 35 indivíduos com um ou dois
machos adultos. Após um período de gestação que dura de cinco a seis meses as fêmeas
costumam dar a luz a um único filhote, que permanece dependente da mãe por até um ano.
ORDEM RODENTIA
A Ordem Rodentia desperta, ainda hoje, o interesse de vários zoólogos, seja por sua
grande diversidade, aproximadamente 2000 espécies no mundo, papel ecológico (são
dispersores de sementes e, em muitas comunidades, representam a base da cadeia trófica),
interesse econômico (pragas agrícolas) e médico (reservatórios naturais dos agentes
21
causadores de patologias como a peste bubônica, esquistossomose mansônica,
tripanossomíase/doença de Chagas, hantaviroses e leptospirose). Como caracteres
diagnósticos primários, os roedores apresentam um par de incisivos superiores e inferiores
em forma de cinzel, possuem grande capacidade olfativa (sinais químicos através da urina
percebidos por meio do órgão vomeronasal ou órgão de Jacobson). Apresentam uma grande
diversidade de formas e tamanhos corpóreos (5g em ratos a 50 kg nas capivaras), hábitos
alimentares (raízes, tubérculos, sementes, frutos, gramíneas, pequenos peixes, artrópodes),
estratégias reprodutivas (reprodução ao longo de todo o ano ou em ciclos sazonais),
comportamento social (solitários, coloniais ou eusociais) e hábitat (floresta, campo). Em
virtude da referida amplitude morfológica, a ordem é dividida, de acordo com a forma da
mandíbula, em duas subordens: Sciurognathi (esquilos, ratos) e Hystricognathi (paca,
capivara, ratos de espinho, ouriço cacheiro).
As informações a seguir, relativas às espécies de roedores, foram retiradas de OLIVEIRA
& BONVICINO (2006).
Akodon cursor (Winge, 1887) – ocorre na costa do Brasil, entre os estados da
Paraíba e do Paraná. Ocupa áreas florestais e áreas de transição de matas e áreas abertas,
vivem em galerias escavadas no solo sob o folhiço em decomposição. Esse roedor
apresenta massa corpórea média de 40 gramas, hábito terrestre e noturno. A dieta é
insetívora-onívora, embora material vegetal como sementes possa ser eventualmente
utilizado. As fêmeas, que apresentam territorialidade, podem ter um número de filhotes por
ninhada variando de três a oito. Apontada como potencial reservatório de hantavírus.
Cavia sp. – segundo ROCHA et al. (2004) no estado do Rio de Janeiro ocorrem
duas espécies de preá: Cavia aperea Erxleben, 1777 e Cavia fulgida Wagler, 1831. As
espécies desse gênero apresentam cauda atrofiada ou ausente, hábito terrestre e ocupam a
borda de mata e áreas alagadiças em áreas de Mata Atlântica. A massa corporal varia de
550 a 760 gramas. As preás fêmeas utilizam moitas de gramíneas como substrato para
construção de ninhos; produzem duas ninhadas por ano nas quais, após uma gestação de 61
dias, nascem de um a cinco filhotes. São alvo de caçadores em praticamente todas as
regiões do Brasil.
22
Coendou prehensilis (Linnaeus, 1758) – a presença de pêlos espessos e rígidos,
aculeiformes (espinhos) caracteriza o ouriço-cacheiro. Esses roedores apresentam hábito
arborícola e noturno, ocorrem nos estados da região norte, nordeste, centro-oeste e sudeste
do Brasil. Alimentam-se de brotos, frutos e sementes, podendo alcançar 4,9 Kg.
Cuniculus paca (Linnaeus, 1758) – essa espécie habita primariamente florestas,
podendo ocorrer em áreas florestadas como mangues, florestas ripárias, semideciduais e
cerrado. Sua carne, muito apreciada por caçadores, é comercializada clandestinamente em
alguns restaurantes brasileiros. Visando combater o comércio clandestino e reduzir a
pressão de caça sobre a espécie, alguns centros de pesquisa, universidades (e.g.
Universidade Federal de Viçosa), o IBAMA e a EMBRAPA têm firmado parcerias no
sentido de desenvolver e estimular a criação comercial desses roedores.
Dasyprocta aff. leporina - as cutias têm hábito terrestre, habitam florestas pluviais e
semideciduais, geralmente associadas a cursos de água (OLIVEIRA & BONVICINO,
2006). Esses roedores apresentam hábitos diurnos e crepusculares e se alimentam de frutas,
raízes e plantas suculentas. Possuem o hábito de estocar sementes em diversos locais dentro
dos limites de seu território, tendo sido comprovado seu papel como dispersora de espécies
vegetais com grandes sementes (SMYTHE, 1978; SALM, 2005). Vive em pares
permanentes, que se reproduzem ao longo de todo o ano, produzindo duas ninhadas por
estação reprodutiva, cada uma com um a três filhotes, nascidos após um período de
gestação de 105 a 120 dias. Tal como a capivara e paca esse roedor é bastante apreciado
pelos caçadores.
Euryoryzomys russatus (Wagner, 1848) – esse roedor habita formações florestais
alteradas e preservadas da Mata Atlântica entre os estados da Bahia e Rio Grande do Sul,
incluindo o leste de Minas Gerais e parte do território paraguaio. Assim como as espécies
do gênero Oligoryzomys apresenta patas posteriores desenvolvidas, comprimento da cauda
superior ao da cabeça e do corpo e habilidade para saltar. Possui hábito noturno com o pico
de atividades ocorrendo no meio da noite; alimenta-se de basicamente de frutos e grãos
(GRAIPEL et al., 2003).
Guerlinguetus ingrami (Thomas, 1901) – o caxinguelê apresenta hábito arborícola e
terrestre, habita estratos baixo e intermediário de florestas pluviais baixas e montanhosas,
sempre-verdes, semidecíduas e decíduas, primárias ou alteradas, na Floresta Atlântica.
23
Alimenta-se de frutos e sementes, podendo complementar sua dieta com ovos e pássaros
jovens.
Hydrochoerus hydrochaeris (Linnaeus, 1766) – maior roedor vivente, a capivara é
uma excelente nadadora, possuindo hábito semi-aquático. Ocorre praticamente em todo o
Brasil, sempre associada a rios, lagos e lagoas. Alimenta-se principalmente de gramíneas e
de vegetação aquática, nas proximidades de áreas agrícolas podem atacar plantações. Sua
massa corpórea varia de 35 a 65 Kg. O período crepuscular entre 16 horas e o início da
noite representa o pico de atividade. Pode reproduzir ao longo de todo o ano; produzindo
uma ou duas ninhadas por ano, cada uma com um a oito filhotes; o período de gestação é de
aproximadamente 120 dias. Em virtude da caça predatória, essa espécie tem tornado-se
extinta ou rara em algumas regiões; em outras localidades, onde há condições favoráveis e
proteção, prolifera rapidamente tornando-se novamente abundante.
Kannabateomys amblyonyx (Wagner, 1845) – ocorre do Espírito Santo ao Rio
Grande do Sul, e possivelmente no interior de Minas Gerais. Pode atingir 384g, apresenta
hábito arborícola e noturno, vive em pequenos grupos familiares que emitem vocalizações
regulares para defender o território. A espécie habita taquaras e bambus que utiliza como
abrigo e como recurso alimentar, especialmente os brotos. Tem um filhote por gestação,
havendo indícios de que sua fase reprodutiva está sincronizada ao período de brotação
desses vegetais.
Necromys lasiurus (Lund, 1841) – o pixuna ocorre desde Rondônia, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, sul do Pará ao Ceará, Pernambuco, Paraíba,
Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul, alcançando ainda
porções dos territórios de Bolívia, Paraguai e Argentina. Nessa espécie a massa corporal
média é de 35 gramas; apresenta hábito terrestre e onívoro, sendo sua dieta composta
principalmente por sementes. Habita formações florestais e áreas abertas no Cerrado, áreas
de tensão ecológica entre o Cerrado e a Mata Atlântica. Produzem duas ninhadas por ano,
nascendo em média três filhotes. Apontada como potencial reservatório de hantavírus.
Nectomys squamipes (Brants, 1827) – distribuída entre os estados de Pernambuco e
Rio Grande do Sul, parte de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul, ocupando áreas
florestais da Mata Atlântica. Esse roedor apresenta hábitos semi-aquáticos sendo restrito a
hábitats associados a cursos de água; suas patas posteriores apresentam membranas
24
interdigitais, utilizada para natação e captura de alimento representado por peixes, fungos,
frutos, sementes e artrópodes. As fêmeas podem produzir de 2 a 3 ninhadas por ano, nas
quais nascem de cinco a sete filhotes (DAVIS, 1947). Essa espécie atua como reservatório
natural do agente causador da esquistossomose.
Oligoryzomys nigripes (Olfers, 1818) – o rato-do-arroz apresenta habito terrestre,
ocorrendo desde o estado de Pernambuco até o Rio Grande do Sul, e no interior em Minas
Gerais, Goiás e Distrito Federal, alcançando porções dos territórios de Argentina e
Paraguai. Pode ocupar campos cultivados, bordas de floresta, florestas em regeneração
secundária. Características como as patas posteriores desenvolvidas, habilidade para saltar e
cauda longa, comprimento superior ao da cabeça e do corpo, conferem-lhe grande
habilidade para escalar. Utiliza ninhos abandonados de pássaros e ocos de arvores como
abrigo e local de nidificação. Apresenta hábitos noturnos com pico de atividades no início e
no final da noite (GRAIPEL et al., 2003). Apontada como potencial reservatório de
hantavírus.
Sphigurus sp – De acordo com ROCHA et al. (2004), duas espécies de ouriçopeludo ocorrem no estado do Rio de Janeiro, Sphigurus insidiosus (Olfers, 1818) e
Sphigurus villosus (F. Cuvier, 1823). Especialmente no estado do Rio de Janeiro, há
sobreposição em parte da área de distribuição dessas. O nome popular dessas espécies
deriva-se do fato de que sua pelagem ser caracterizada pela mistura de pêlos aculeiformes e
pêlos de guarda finos, que são mais longos do que os primeiros podendo escondê-los quase
completamente. Apresentam hábito arborícola e tem um filhote por gestação.
Trinomys dimidiatus (Günther, 1877) – ocorre no estado do Rio de Janeiro e no
litoral norte de São Paulo. Esse roedor, que pode atingir 350g, apresenta hábitos terrestres
habitando áreas florestadas de Mata Atlântica. Aparentemente reproduz-se durante todo o
ano produzindo até duas ninhadas que variam de tamanho de um a cinco filhotes.
ORDEM LAGOMORPHA
Silvylagus brasiliensis (Linnaeus, 1758) – Popularmente conhecidos como tapitis,
os indivíduos dessa espécie apresentam hábito crepuscular e noturno, permanecendo
escondido sob raízes expostas, troncos caídos e sob a vegetação. Com ampla distribuição
geográfica, ocorrendo desde o sul do México até a Argentina, habitam regiões de mata e
25
áreas de campo. Reproduzem-se ao longo de todo ano, podendo produzir até duas ninhadas,
de dois a sete filhotes cada (PARERA, 2002). A gestação dura aproximadamente 30 dias.
São alvo de caçadores como fonte de proteína animal e por causarem prejuízos a produtores
de frutos e hortaliças (FREITAS & SILVA, 2005).
ORDEM CHIROPTERA
Os morcegos exercem importante função no ecossistema como polinizadores de
algumas espécies vegetais, dispersores de sementes e frutos, predadores de insetos e pragas
agrícolas. São também reservatórios de patógenos causadores de doenças como a
hidrofobia e histoplasmose. Em animais domésticos, as feridas causadas pela mordedura de
morcegos hematófagos podem evoluir para uma infecção podendo ocasionar até mesmo a
morte. As informações relativas a essa ordem foram extraídas de PERACHI et al. (2006) e
REIS et al. (2007).
Desmodus rotundus (É. Geoffroy, 1810) – embora existam muitas lendas e mitos
em todo o mundo, o morcego-vampiro é uma espécie tipicamente neotropical ocorrendo
desde o norte do México até o norte da Argentina. Habita áreas florestadas e desérticas,
abriga-se em ocos de árvores, cavernas, bueiros, galpões abandonados. A introdução de
mamíferos de grande porte por parte do colonizador europeu tem propiciado um aumento
demográfico dessa espécie nos últimos 300 anos (ALTRINGHAM, 1996). Sua massa
corpórea varia entre 25 e 40 gramas. Vive em grupos com 100 ou mais indivíduos. Sua
saliva possui uma enzima anticoagulante; há dois canais em cada lado da língua que
permitem a sucção de sangue.
Diphylla ecaudata Spix, 1823 – essa espécie de morcego-vampiro é um pouco
menor que a anterior, possui olhos grandes, polegares curtos e sem calosidades, orelhas
pequenas e arredondadas. Alimenta-se exclusivamente do sangue de aves, através de
incisões feitas na cloaca e porção inferior das pernas (GREENHALL & SCHUTT-JR,
1996).
Noctilio leporinus (Linnaeus, 1758) – como sugere o nome-popular, morcegopescador, essa espécie alimenta-se principalmente de peixes, complementando a dieta com
pequenos invertebrados como aranhas, crustáceos e insetos. Apresentam lábio superior
leporino, garras dos pés, utilizada para capturar o alimento sob a lâmina d’água, e calcâneo
26
desenvolvidos (EISENBERG & REDFORD, 1999). Habitam planícies tropicais associadas
a corpos de água. Exibem dois picos de atividade, um no crepúsculo e outro após a meianoite; a busca de alimento pode ser individual ou em grupos de até 15 morcegos
(EISENBERG & REDFORD, 1999). Grupos compostos de dezenas a centenas de membros
abrigam-se em ocos de árvores, cavernas e fissuras de rochas.
Peropterix macrotis (Wagner, 1843) – essa espécie ocupa uma ampla variedade de
ambientes que inclui florestas úmidas primárias e secundárias, savanas, florestas secas e
áreas cultivadas. Sua distribuição estende-se a partir do México até o Peru, Bolívia,
Paraguai, sul e sudeste do Brasil. Alimenta-se de besouros, moscas e mosquitos (PERACHI
& NOGUEIRA, 2007). Utilizam cavernas, fendas rasas, minas, árvores ocas e ruínas.
Forma grupos de 10 a 20 indivíduos; algumas vezes ocorre a agregação de grupos e a
colônia pode chegar a 80 morcegos.
Trachops cirrhosus (Spix, 1823) – essa espécie pode ser encontrada em todos os
domínios morfoclimáticos brasileiros, habitando áreas de floresta primária e secundária,
savanas, pastos, pomares e área peridomiciliar. Sua dieta pode ser classificada como
onívoro-oportunista e inclui anfíbios, répteis, ratos, marsupiais e morcegos; pode utilizar
ainda uma ampla diversidade de insetos e frutos (EMMONS & FEER, 1997; PERACHI et
al., 2006). Trachops cirrhosus consegue localizar e identificar as espécies de anfíbios que
consome pela vocalização que elas emitem (TUTTLE & RYAN, 1981).
ORDEM CARNIVORA
Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) – a distribuição do cachorro-do-mato estende-se
do Uruguai e norte da Argentina, terras baixas da Bolívia e Venezuela, Colômbia, Guianas,
Suriname e Brasil. Em território brasileiro ocupa bordas de matas, áreas alteradas e
impactadas pela ação humana nos domínios morfoclimáticos do Cerrado, Caatinga,
Pantanal, Mata Atlântica e Campos Sulinos (CÂMARA & MURTA, 2003). Possui hábito
noturno e crepuscular; com relação ao hábito alimentar pode ser classificado como
onívoro/generalista e oportunista sendo sua dieta composta por frutos, pequenos
vertebrados, insetos, crustáceos e carniça. Pode atuar como dispersor de sementes
(CHEIDA, 2002). O elevado número de espécimes atropelados ao longo das rodovias
27
brasileiras ilustra o impacto ambiental de das rodovias sobre as populações de mamíferos
brasileiras.
Conepatus semistriatus (Boddaert, 1785) – popularmente conhecida como geraldocambeva, jaritataca, caicaca e cangambá, possui ampla distribuição em território brasileiro,
sendo encontrado desde o nordeste do pais até o estado de São Paulo, predominantemente
em áreas de vegetação aberta, bordas de mata e áreas em recuperação. A espécie apresenta
glândulas perianais bem desenvolvidas que produzem uma substância fétida altamente
volátil, que pode ser lançada a distâncias de até seis metros quando o animal encontra-se
sob algum tipo de ameaça (EISENBERG & REDFORD, 1999; NOWAK, 1999). Possui
hábito terrestre, com período de atividade é crepuscular/noturno; a dieta é composta de
invertebrados, pequenos vertebrados e frutos, podendo ocorrer consumo de carniça.
Eira barbara (Linnaeus, 1758) – a irara ou papa-mel é um carnívoro com ampla
distribuição geográfica, ocorrendo desde o sul do México até o norte da Argentina. No
Brasil, ocorre nos domínios da Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Amazônia,
sendo mais comum em matas com vegetação densa. Embora possa variar conforme a região
geográfica, a pelagem é geralmente marrom escura no corpo e cauda, e marrom claro na
cabeça e pescoço. Apresenta pico de atividade diurno, utiliza tocas ou ocos de arvores
como abrigo; sua dieta é composta de pequenos vertebrados, frutos, cana-de-açúcar e mel,
com registros de predação de macacos e tapitis (CHEIDA et al., 2006). São ágeis e rápidas,
nadadoras e escaladoras habilidosas. A perda de habitat e a caça como retaliação a predação
de animais domésticos e ataques a criações de abelha são algumas das ameaças a que essa
espécie esta sujeita em algumas regiões do Brasil.
Galictis sp. – segundo ROCHA et al. (2004) no estado do Rio de Janeiro ocorrem
duas espécies de furão: Galictis cuja (Molina, 1782) e Galictis vittata (Schreber, 1776). As
espécies desse gênero apresentam hábito crepuscular/noturno; embora apresentem
habilidade para escalar geralmente forrageiam no solo. Alimentam-se de pequenos
vertebrados como marsupiais, roedores, aves, anfíbios e répteis, além de ovos e frutos.
Habitam florestas e áreas abertas.
Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758) – a jaguatirica ocorre do sudoeste do Texas e
oeste do México até o norte da Argentina, ocupando uma ampla diversidade de hábitats; em
território brasileiro ocorre em todos os domínios morfoclimáticos (EISENBERG &
28
REDFORD, 1999). Sua massa corporal varia entre 7,2 e 16,5 Kg, sua dieta é composta
basicamente de pequenos vertebrados como roedores e marsupiais, aves, lagartos e
serpentes, mas há registros de consumo de presas maiores como cutias, tatus, tamanduámirim, bugios, veado e quati (OLIVEIRA & CASSARO, 2005). O período de gestação
dura entre 70 e 85 dias, após os quais nascem de um a quatro filhotes (CÂMARA &
MURTA, 2003). A destruição e fragmentação de seus hábitats bem como a caça predatória
para o comércio ilegal de peles constituem as principais ameaças a essa espécie.
Lontra longicaudis (Olfers, 1818) – ocorrendo do México ao Uruguai, a lontra
possui ampla distribuição geográfica no Brasil, habitando áreas de mata próximas a corpos
de água doce (rios e lagos) ou salgada (manguezais, baías e lagunas). De hábitos
predominantemente diurnos, possui dieta composta de peixes, crustáceos e moluscos,
havendo registros de consumo de pequenos mamíferos e aves (EISENBERG &
REDFORD, 1999); há também evidências de consumo de frutos indicando uma possível
atuação como dispersor de sementes (QUADROS & MONTEIRO-FILHO, 2000). O muco
produzido pelas glândulas anais apresenta forte odor característico, sendo depositado
juntamente com as fezes em rochas, troncos e barrancos, com fins de marcação de
território. Os ninhos são construídos em gramíneas, banco de folhas, buracos escavados em
barrancos e oco de árvores; a reprodução ocorre na primavera, após um período de gestação
de dois meses a fêmea pare de 1 a 5 filhotes (EISENBERG & REDFORD, 1999). Suas
populações encontram-se em declínio em razão da perda e degradação de hábitats
ocasionada pela contaminação da água por agrotóxicos e resíduos industriais,
desmatamento de matas ciliares e construção de barragens para usinas hidrelétricas. O alto
valor de sua pele no mercado negro, a facilidade de encontrar seus abrigos e o hábito diurno
são alguns dos fatores que levaram a espécie a ser dizimada em algumas regiões do Brasil
(MARGARIDO & BRAGA, 2004).
Nasua nasua (Linnaeus, 1766) – o quati é uma espécie exclusivamente sulamericana, ocorrendo em todos os domínios morfoclimáticos brasileiros. Possuem cabeça
alargada, focinho estreito e prolongado. São diurnos podendo viver em grupos de até 30
indivíduos, geralmente formado por fêmeas e jovens; os machos são solitários e maiores,
sendo popularmente conhecidos como quati-mundéo (EMMONS & FEER, 1997). Sua
dieta apresenta variação sazonal sendo composta basicamente de invertebrados, frutos,
29
bromélias e pequenos vertebrados (EISENBERG & REDFORD, 1999). Podem atuar como
dispersores de sementes. O desmatamento, a fragmentação das matas e florestas, o
atropelamento em rodovias e a caça são alguns dos fatores que ameaçam essa espécie.
Panthera onca (Linnaeus, 1758) – maior felino das Américas, a onça-pintada
originalmente ocorria do sudoeste dos Estados Unidos até o norte da Argentina. Os
requisitos básicos de seu hábitat incluem áreas altamente preservadas, com grande
disponibilidade de presas e suprimento de água abundante (EMMONS & FEER, 1997).
Embora seja uma espécie predominantemente terrestre, possui habilidade para escalar
árvores e nadar. Sua massa corpórea varia entre 61 e 158 Kg. São territorialistas, utilizando
sinais visuais (arranhões em árvores, fezes), olfativos (urina e fezes) e sonoros (esturros)
para delimitar o território. Alimenta-se de vertebrados de médio e grande porte como a
anta, capivara, cateto, queixada, veados, tatus, paca, tamanduá-bandeira, entre outros
(EISENBERG & REDFORD, 1999). Utiliza uma grande área de vida que pode variar, de
acordo com o sexo e a idade, entre 19 e 158 Km2. Após uma gestação de 90 a 111 dias,
nascem em média 2 filhotes que permanecerão sob os cuidados da mãe pelos próximos dois
anos. Juntamente com a suçuarana, a onça-pintada continua sendo um dos felinos mais
caçados pelo homem sob o argumento falacioso de causarem prejuízos aos produtores de
gado bovino e caprino. Usualmente, tais ataques ao gado doméstico são conseqüência de
atos, muitas vezes ilegais, dos próprios fazendeiros que ocasionam impactos ambientais
como desmatamento e caça predatória de presas naturais desses felinos.
Potos flavus (Scheber, 1774) – conhecida popularmente como jupará, macaco-danoite e mico-da-noite, essa espécie encontra-se associada a florestas densas pertencentes
aos domínios morfoclimáticos da Amazônia e Mata Atlântica. Possui cauda preênsil e
hábito altamente arborícola; sua atividade é predominantemente noturna (EISENBERG &
REDFORD, 1999). Sua dieta consiste basicamente em frutos e pequenos vertebrados, mas
insetos, flores e folhas podem complementar a alimentação. Em razão do consumo de
frutos figura como importante dispersor de sementes de espécies dos gêneros Fícus, Virola
e Ingá (CHARLES-DOMINIC et al., 1981). Embora não seja oficialmente classificada
como ameaçada de extinção, possivelmente algumas populações da espécie estejam sendo
submetidas a impactos como perda de hábitat, tráfico de animais silvestres e caça
(CHEIDA et al., 2006).
30
Procyon cancrivorus (G. [Baron] Cuvier, 1798) – conhecida popularmente como
mão-pelada, zorrilho e guaxinim, esta espécie ocorre em todos os domínios
morfoclimáticos brasileiros, vivendo em hábitats florestais próximos a banhados, rios,
manguezais e praias. É um animal solitário, noturno, de difícil visualização, contudo sua
presença pode ser facilmente constatada através de sua pegada característica. Sua dieta é
constituída de moluscos, insetos, peixes, anfíbios e frutos (EISENBERG & REDFORD,
1999). Após um período de gestação de 64 dias, a fêmea geralmente produz ninhadas
contendo entre dois e quatro filhotes. A espécie está sujeita às conseqüências do
desmatamento e fragmentação de seu hábitat, morte por atropelamentos e, em algumas
localidades, à morte para retirada de partes do corpo utilizadas em crendices populares
(CHEIDA et al., 2006).
Puma concolor (Linnaeus, 1771) – segunda maior espécie de felídeo no Brasil, a
suçuarana pode alcançar 70 Kg possuindo grande capacidade de adaptação a diferentes
tipos de ambientes e climas. Ocorre desde o oeste do Canadá até o extremo meridional da
América, no Brasil está presente em todos os domínios morfoclimáticos. É um animal
bastante ágil, capaz de saltar do chão a alturas superiores a 5 metros (OLIVEIRA &
CASSARO, 1999). Possui hábitos solitários e terrestres com pico de atividades no período
noturno. Sua dieta é composta por mamíferos de médio porte (em média 18 Kg) como os
catetos, queixadas, veados, pacas, quatis e capivaras; podem consumir presas menores
como pequenos mamíferos, aves, répteis e invertebrados. Possui o hábito de cobrir a
carcaça de grandes presas com folhas e galhos, para voltar a alimentar-se em dias
subseqüentes (PITMAN et al., 2002). Embora seja o felídeo com a maior distribuição no
continente americano, as populações de onça-parda no Brasil têm sido reduzidas pela
alteração de seus hábitats, pela caça predatória e a conseqüente redução de suas presas
naturais (OLIVEIRA & CASSARO, 1999).
Puma yagouaroundi (É. Geoffroy Saint-Hilaire, 1803) – o gato-mourisco é um
animal terrestre, de hábito diurno e noturno, podendo ser encontrado em todos os domínios
morfoclimáticos brasileiros. A coloração da pelagem pode variar conforme o ambiente
ocupado; em áreas abertas predominam as formas cinza e avermelhada, a coloração escura
é mais comum em matas fechadas (CÂMARA & MURTA, 2003). Sua dieta é composta
por pequenos roedores, aves, répteis e anfíbios, havendo relatos de consumo de pacas e
31
veados. Alguns autores, como OLIVEIRA (1994), consideram esses dois últimos registros
como evidências de consumo de carniça. A destruição e fragmentação de seus hábitats
naturais representam ameaças à espécie.
ORDEM ARTIODACTYLA
Mazama americana (Erxleben, 1777) – o veado-campeiro está distribuído desde o
sul do México, Bolívia, Chaco paraguaio, norte da Argentina e Brasil, apresenta forte
dependência de hábitats florestais densos e contínuos. Está ausente em áreas muito abertas,
como os campos e pampas do sul do Brasil, e muito áridas como a Caatinga nordestina.
Alimenta-se de grande variedade de frutos, flores, gramíneas, leguminosas, arbustos e
ervas. O veado-mateiro é uma das espécies mais apreciadas pela caça ilegal. Embora essa
espécie não figure nas listas de espécies animais ameaçadas de extinção organizadas pela
IUCN e pelo MMA, a caça e a fragmentação de matas permitem supor que o veadomateiro, possivelmente, está sujeito à ameaça de extinção em grande parte de sua
distribuição nas regiões sul, sudeste e nordeste além de boa parte da região centro-oeste do
Brasil. No estado do RJ essa espécie é considerada em perigo.
Pecari tajacu (Linnaeus, 1758) – embora amplamente distribuída em território
brasileiro, esta espécie está sujeita a forte pressão de caça, sofrendo ainda os impactos
decorrentes da redução, fragmentação e degradação de vastas áreas florestais. Apresenta
hábito noturno-crepuscular, mas o pico de atividade ocorre à noite. Formam grupos,
compostos de um ou vários machos e várias fêmeas, onde é possível observar o
comportamento de coesão e colaboração mútua como estratégia de defesa aos ataques de
predadores. A comunicação intra-específica é feita através de vocalizações e sinais
químico/olfativos emitidos por glândulas (TIEPOLO & THOMAS, 2006). Sua dieta é
composta por frutos, raízes, tubérculos, bulbos e rizomas, além de cactos e invertebrados.
Após um período de gestação de aproximadamente 145 dias, a fêmea pare de um a quatro
filhotes. Encontra-se ameaçado especialmente nos estados do sul e sudeste do Brasil.
4.1. Espécies Endêmicas
Foram registradas até o momento nove espécies endêmicas da Mata Atlântica: a
preguiça-de-coleira Bradypus torquatus, o mono-carvoeiro Brachyteles arachnoides, o
32
bugio Alouatta clamitans, o sagüi-da-serra Callithrix aurita, o macaco-prego Cebus
nigritus, o sauá Callicebus personatus, o rato-da-taquara Kannabateomys amblyonyx e o
rato-de-espinho Trinomys dimidiatus. Destacam-se Bradypus torquatus e Brachyteles
arachnoides, este último um símbolo da Mata Atlântica, considerados em perigo de
extinção pelas listas da IUCN (2007) e da MMA (2003), e Callithrix aurita considerado em
perigo de extinção pela lista da IUCN (2007) e vulnerável pela lista do MMA.
4.2. Espécies Ameaçadas
Dez espécies registradas para a área de estudo são classificadas como em perigo,
vulneráveis ou quase ameaçadas pela listas de espécies ameaçadas de extinção da IUCN
(2007), IBAMA (2003). Para outras sete espécies não há informação disponível até o
momento. Duas espécies, Cabassous tatouay e Lontra longicaudis, são consideradas
deficiente de dados na lista da IUCN (2007). As espécies restantes são consideradas como
preocupação menor. Embora não constem como ameaçadas nas listas da IUCN (2007) e do
MMA (2003), algumas espécies são consideradas localmente ameaçadas na lista do estado
do Rio de Janeiro. Este é o caso de Cabassous tatouay, Conepatus semistriatus, Dasypus
septemcinctus, Eira barbara, Kannabateomys amblyonyx, Sphiggurus villosus, Cuniculus
paca, Potos flavus e Pecari tajacu. A onça-pintada, a ariranha e, provavelmente, o
tamanduá-bandeira estão localmente extintas nas localidades analisadas durante esse
estudo. Embora tenha sido relatada a presença do tamanduá-bandeira em Natividade
As espécies incluídas em algum nível de ameaça (IUCN e MMA) são listadas a
seguir: Brachyteles arachnoides, Bradypus torquatus, Callithrix aurita, Marmosops
incanus, Myrmecophaga tridactyla, Puma concolor, Mazama americana. Embora sejam
variáveis, as principais ameaças a essas espécies decorrem da diminuição ou alteração de
seus hábitats naturais, da pressão de caça sobre elas e/ou sobre suas presas naturais, da falta
de informação da população local sobre aspectos de sua biologia básica e ineficiência do
aparato de fiscalização e repressão a crimes ambientais. Para algumas espécies o
atropelamento em estradas de rodagem figura como fator relevante de ameaça.
4.3. Espécies Indicadoras Ambientais
Considerando que os dados aqui apresentados são derivados de fontes secundárias e
de relatos de moradores, os registros de espécies raras ou ameaçadas de extinção atestam,
33
no mínimo, a qualidade ambiental pregressa da região de estudo. Conforme esperado, uma
expressiva fração (18 espécies, 40%) da diversidade de mamíferos registrada no
Norte/Noroeste Fluminense encontra-se associada aos maiores remanescentes florestais da
região, especialmente as unidades de conservação como o Parque Estadual do Desengano.
Em virtude do tamanho e da heterogeneidade ambiental que ainda preservam, esses
fragmentos e seu entorno são áreas estratégicas para a conservação da fauna de mamíferos
dessa região. Destacam-se os registros de espécies com algum nível de ameaça de extinção
tais como: Brachyteles arachnoides, Bradypus torquatus, Cabassous tatouay, Callithrix
aurita, Cuniculus paca, Leopardus pardalis, Lontra longicaudis, Myrmecophaga
tridactyla, Puma concolor.
Espécies exóticas, geralmente associadas a ambientes antrópicos e degradados,
como os roedores do gênero Rattus foram registradas em áreas urbanas do município de
Campos dos Goytacazes.
4.4. Espécies Exóticas
Segundo BERGALLO et al. (2000) as seguintes espécies foram introduzidas no
estado do Rio de Janeiro: Callithrix jacchus, Callithrix penicillata, Mus musculus, Rattus
novergicus, Rattus rattus, Saimiri sciureus. Algumas dessas espécies foram introduzidas no
estado durante o século XX devido à soltura, realizada por agências de proteção ambiental,
de espécimes oriundos do tráfico de animais silvestres (sagüis e macaco-de-cheiro). A
dimensão dos impactos causados por essas introduções precisam ser melhor avaliadas, mas
em alguns casos as espécies invasoras apresentam hábitos generalistas e acabam
competindo por recursos alimentares com as espécies nativas (BERGALLO et al., 2000).
Os roedores Mus musculus, Rattus novergicus, Rattus rattus foram introduzidos pela
colonização européia.
Callithrix jacchus (Linnaeus, 1758) e Callithrix penicillata (É. Geoffroy, 1812) essas espécies de sagüis são originárias da Mata Atlântica do nordeste do Brasil e da
Caatinga (C. jacchus) e do Cerrado e Caatinga (C. penicillata), podendo ocupar desde
capoeiras alteradas até matas bem conservadas. Sua introdução em áreas do sudeste do
Brasil é preocupante em virtude do seu potencial de ocupação do hábitat, hibridização com
seus congêneres nativas ocasionando o empobrecimento genético dessas formas, predação
de representantes da fauna local como de aves e roedores e potencial como transmissores de
34
doenças para a fauna nativa e para a população humana local (BICCA-MARQUES et al.,
2006)
Mus musculus Linnaeus, 1758 – o camundongo-doméstico vive essencialmente no
ambiente peridomiciliar freqüentando habitações humanas (e.g. despensas, quartos e
bibliotecas), pode invadir áreas abertas e matas alteradas (mesmo aquelas pouco alteradas).
Rattus novergicus (Berkenhout, 1769) – a ratazana apresenta hábito semi-aquático,
vive de preferência à beira de água doce, salobra ou salgada. É um hábil nadador e
mergulhador, e cava extensas galerias. É mais freqüente no litoral podendo ser encontrada
também no campo habitando estrebarias, aviários e instalações de animais domésticos.
Geralmente não procura a habitação humana (OLIVEIRA & BONVICINO, 2006).
Rattus rattus (Linnaeus, 1758) – o rato-doméstico apresenta distribuição
cosmopolita tendo sido registrado em todos os estados brasileiros. Embora tenha hábito
terrestre possui grande habilidade para escalar paredes o que permite freqüentar forros de
casas. Habita o ambiente peridomiciliar, vive em lugares secos, em habitações humanas,
armazéns de grãos e entre pavimentos. Nas raras vezes em que foi registrada longe de
habitações humanas ocupava estradas por onde são transportados grãos.
Saimiri sciureus – recentemente introduzida, esta espécie nativa da Amazônia habita
ambientes pouco alterados. Seus possíveis impactos sobre a fauna local ainda precisam ser
estudados (BERGALLO et al., 2000).
4.5. Espécies Cinegéticas e de Importância Econômica
Seja em razão da tradição cultural, problemas socioeconômicos ou simplesmente
por lazer, algumas espécies da fauna silvestre do Brasil sofrem pressão de caça por parte
das populações locais em todo o território. Na região estudada a situação não é diferente.
Dezesseis espécies registradas na área de estudo apresentam potencial de caça:
Bradypus torquatus, Brachyteles arachnoides, Cabassous tatouay, Cuniculus paca,
Dasyprocta aff. leporina, Dasypus novemcinctus, Dasypus septemcincitus, Eira barbara,
Euphractus sexcinctus, Lontra longicaudis, Mazama americana, Pecari tajacu, Potos
flavus, Nasua nasua, Procyon cancrivorus e Puma concolor. Doze dessas espécies são
caçadas principalmente como fonte de proteína animal (carne). O mão-pelada, Procyon
cancrivorus, é morto em algumas localidades para retirada de partes do corpo utilizadas em
35
crendices populares (CHEIDA et al., 2006). A lontra foi caçada no passado em função do
valor comercial de sua pele. A irara tem sido morta por agricultores e apicultores em
retaliação a ataques aos animais domésticos e colméias. Em função da redução dos hábitats
naturais e da pressão de caça sobre suas presas naturais grandes carnívoros como a onçapintada e onça-parda tem aproximado-se cada vez mais das propriedades rurais, infringindo
injúrias aos animais domésticos com conseqüentes prejuízos econômicos aos proprietários
rurais. Por falta de informação, a solução encontrada por muitos desses fazendeiros para
esse tipo de problema tem sido a morte desses grandes predadores.
Dentre as espécies registradas até o momento, duas estão sujeitos ao tráfico de
animais silvestres: o sagüi-da-serra, Callithrix aurita, e o jupará, Potos flavus. Ambas
comercializadas com a finalidade de servirem como animais de estimação
4.5.1. Dimensão das atividades de caça.
A) Alto Imbé: Moradores locais relataram que recentemente um tamanduá-mirim
foi morto a pauladas. Segundo eles, a atividade de caça tem sido com a intensificação de
apreensões e prisões por parte de órgãos ambientais oficiais e a proibição de entrada por
parte de alguns proprietários da região. No entanto, prejuízos causados por ataques de onçaparda ao gado (carneiro) podem ocasionar problemas futuros.
B) Opinião: segundo um dos proprietários da Fazenda Opinião a caça não é
permitida no local. Ele relatou recentes ataques de bezerros por onça-parda.
C) Guaxindiba: a prisão de caçadores locais e a implantação de uma unidade de
conservação na Mata do Carvão parecem ter reduzido a atividade de caça na região. Não
foram observados cachorros nem indícios de caçadores durante censo noturno realizado na
estrada que corta a porção norte da reserva. Os moradores relatam a queda nas populações
de cutia, possivelmente decorrente da atividade de caça e fragmentação do ecossistema.
D) Região Noroeste – A caça predatória é um problema especialmente na região
noroeste onde foi verificada a conivência, participação e até incentivo financeiro dessa
prática por parte de autoridades locais. A situação mais grave é a de Laje do Muriae onde
pessoas ligadas à administração municipal sustentam a compra de equipamentos (armas,
botes) e criação de cachorros de caça.
Durante nossa visita algumas pessoas colocaram-se a disposição para conseguir
material zoológico como capivaras, tatus. Esse é um forte indício de que algumas espécies
36
são caçadas sob encomenda, visando o comércio ilegal de carne. As espécies de tatus são
fortemente caçadas como fonte de proteína, sendo sua carapaça, rabo e pés vendidos como
artigos de artesanato. As técnicas de caça utilizadas são: caça com cachorro, tocaia,
montagem de trabucos.
Natividade: embora exista restrição de acesso em alguns fragmentos de mata, os
caçadores ainda freqüentam boa parte dos remanescentes onde há montagem de trabucos,
retirada de madeira e palmito. Os moradores relatam a queda nas populações de cutia e
tapiti, possivelmente decorrente da atividade de caça.
4.5.2. Sugestão de medidas de conservação:
Para reverter esse quadro faz-se necessário a intensificação do processo de
fiscalização e punição das pessoas envolvidas na atividade de caça, especialmente os
financiadores e compradores de carne ilegal. Paralelamente ao trabalho de fiscalização,
devem ser criados projetos de educação ambiental envolvendo escolas, igrejas e diversos
segmentos da sociedade civil. A assinatura de convênios com órgãos de pesquisa
agropecuária (Embrapa) e universidades publica (e.g. Universidade Federal de Viçosa),
pode viabilizar a criação comercial de espécies como a capivara e a paca, diminuindo a
caça e fornecendo uma alternativa de geração de renda para a população local.
A formação de corredores interligando os fragmentos florestais nas encostas e topos
de morro é uma das medidas mais indicadas para solucionar o problema de isolamento dos
remanescentes florestais. Em Natividade, a ONG Cana tem realizado esforços nesse
sentido.
Considerando o tamanho reduzido e o isolamento dos fragmentos de mata, a
intensiva pressão de caça, bem como o registro de espécies ameaçadas de extinção como o
mono-carvoeiro e o sagüi-da-serra-escuro é urgente a criação de unidades de conservação
estaduais e/ou federais na região Noroeste Fluminense.
5. Áreas prioritárias para a conservação
A Fazenda São Vicente e arredores pode ser considerada área-chave por abrigar
espécies de primatas como o mono-carvoeiro, macaco-prego, bugio e o sagüi-da-serra. Está
área é indicada para abrigar uma unidade de conservação oficial (federal ou estadual),
inexistente na região.
37
Na região Norte a Mata do Carvão e a propriedade do Senhor Nilo Roberto
localizada no Alto Imbé também destacam-se como áreas importantes para a conservação
de mamíferos. A regularização da questão fundiária e a implementação efetiva da unidade
de conservação são algumas das medidas mais urgentes na Mata do Carvão.
6. Sugestões para trabalhos futuros
Visando uma melhor compreensão e avaliação da diversidade de mamíferos, futuros
trabalhos realizados nas subbacias abrangidas pelo Projeto RIORURAL/GEF deverão
considerar a possibilidade de realização de monitoramentos e estudos de longa duração,
abrangendo diferentes ciclos sazonais. Especialmente no caso dos pequenos mamíferos, a
utilização de armadilhas e redes de captura exige a realização de campanhas longas com
duração de 5 a 10 dias.
Para evitar problemas com o prazo de entrega dos produtos deve ser considerado o
período de tempo necessário para obtenção de licenças junto aos órgãos ambientais. Nas
próximas etapas do Projeto RIORURAL/GEF que envolvam coleta de material biológico
deve haver comunicação oficial da SEAPPA ao IEF e IBAMA, no sentido de estabelecer
parcerias e agilizar o processo de obtenção de licenças.
Como fui o primeiro a fazer as viagens de campo e não fui acompanhado por
profissionais da EMATER, tive dificuldade de acesso a algumas propriedades,
especificamente na Região do Rio Opinião. Para os futuros trabalhos sugiro que os técnicos
sejam acompanhados funcionários da EMATER local, pelos menos durante a fase de
contato inicial com os proprietários. No rio Opinião, a falta de apoio limitou o acesso à
mata e obtenção de registros diretos e indiretos da fauna local.
38
Quadro 1 – Mamíferos da subbacia do Rio Imbé.
Táxon
DIDELPHIMORPHIA
Didelphidae
Didelphis aurita
Micoureus paraguayanus
Philander frenatus
CINGULATA
Dasypodidae
Cabassous tatouay
Dasypus novemcinctus
Dasypus septemcinctus
Euphractus sexcinctus
PILOSA
Bradypodidae
Bradypus torquatus
Myrmecophagidae
Myrmecophaga tridactyla
Tamandua tetradactyla
PRIMATES
Cebidae
Cebus nigritus
Callithrix aurita
Atelidae
Alouatta clamitans
Brachyteles arachnoides
RODENTIA
Sciuridae
Guerlinguetus ingrami
Cricetidae
Akodon cursor
Euryoryzomys russatus
Tipo de
Registro
Município/
Localidade
E
C
C
AI, RO
SM
SM
LC1
ND
LC1
Tatu-de-rabo-mole-grande
Tatu-galinha
Tatuí
Tatu-peba
E
E, L
C, E
E
AI, RO
AI, RO, SM
SM
AI, RO
1
DD1, NT3
LC1
LC1, NT3
Preguiça-de-coleira
E, L
AI, RO, SM
1, 2
EM1,3,VU2
Tamanduá-bandeira
Meleto, tamanduá-mirim
L
C, L
SM
AI, RO, SM
1
1
NT1,VU2, PEx 3
LC1
L
L
SM
SM
1, 4
1, 4
ND
EM1, VU2,3
E, L
L
AI, RO, SM
SM
1, 3, 4
4
ND
EM1, CR3
Caxinguelê
E
AI, RO
ND
Rato-do-mato
Rato-do-mato
C
C
SM
SM
LC1
ND
Nome comum
Gambá
Cuíca
Cuíca-quatro-olhos
Macaco-prego
Sagüi-da-serra-escuro
Bugio
Mono-carvoeiro
Referências
Estado de
Conservação
39
Echimyidae
Kannabateomys amblyonyx
Trinomys dimidiatus
Erethizontidae
Coendou prehensilis
Caviidae
Cavia sp.
Hydrochoerus hydrochaeris
Dasyproctidae
Dasyprocta aff. leporina
Cuniculidae
Cuniculus paca
LAGOMORPHA
Leporidae
Sylvilagus brasiliensis
CHIROPTERA
Phyllostomidae
Desmodus rotundus
Diphylla ecaudata
CARNIVORA
Felidae
Leopardus sp.
Leopardus pardalis
Puma yagouaroundi
Puma concolor
Canidae
Cerdocyon thous
Mustelidae
Eira barbara
Galictis sp.
Lontra longicaudis
Mephitidae
Conepatus semistriatus
Procyonidae
Rato-da-taquara
Rato-de-espinho
C, E
C
LC1, VU3
ND
AI, RO, SM
SM
LC1
Ouriço-cacheiro
Preá
Capivara
E
E
AI, RO
AI, RO
LC1
Cutia
E
AI, RO
ND
Paca
L, E
SM
Tapeti
E
AI, RO
LC1
Morcego-vampiro
Morcego-vampiro
E
E
AI, RO
AI, RO
LC1
NT1
Gato-do-mato
Jaguatirica
Gato-mourisco
Onça-parda, suçuarana
E
E
E
L
AI, RO
AI, RO
AI
SM
1
LC1, VU2,3
LC1
NT1,VU2,3
Cachorro-do-mato
C, L
SM
1
LC1
Irara, papa-mel
Furão
Lontra
E, C
E
E
AI, RO, SM
RO
AI, RO
LC1, NT3
E
AI, RO
LC1, NT3
Cangambá
1
LC1, VU3
DD1
40
Nasua nasua
Potos flavus
Procyon cancrivorus
ARTIODACTYLA
Tayassuidae
Pecari tajacu
Cervidae
Mazama americana
Mazama sp.
Quati
Jupará, mico-da-noite
Mão-pelada
Cateto
Veado-mateiro
E
LC1
LC1
LC1
C
AI, RO
AI, RO
AI, RO, SF
E, L
AI, RO, SM
1
LC1, VU3
L
E
SM
AI, RO
1
VU1, EM3
Legendas: Municípios/Localidades: SF = São Fidélis; SM = Santa Maria Madalena; AI = Alto Imbé; RO = Rio Opinião.
Referências: 1-Plano de Manejo do P.E. do Desengano; 2-VAZ (2003b); 3-GREGORIN (2006); 4-VAZ (1998). Tipo de
registro: C – coleção científica, L – literatura científica, P – pegadas, E – entrevista, AT – animal atropelado, A –
avistamento. Estado de Conservação: E = endêmico, DD = informação insuficiente, LC = preocupação menor, ND =
informação não-disponível, A = ameaçado de extinção (categorias: EX = extinto, EW = Extinto na natureza, PEx =
potencialmente extinto, CR = criticamente em perigo, EM = em perigo, VU = vulnerável, NT = quase ameaçado), lista: 1 =
IUCN (2007), 2 = MMA (2003), 3 = BERGALLO et al. (2000).
41
Quadro 2 – Mamíferos da subbacia do Rio Muriaé.
Táxon
DIDELPHIMORPHIA
Didelphidae
Didelphis aurita
Marmosops incanus
Monodelphis sp.
Philander frenatus
CINGULATA
Dasypodidae
Cabassous tatouay
Dasypus novemcinctus
Euphractus sexcinctus
Priodontes maximus
PILOSA
Bradypodidae
Bradypus sp
Myrmecophagidae
Myrmecophaga tridactyla
Tamandua tetradactyla
PRIMATES
Cebidae
Callithrix aurita
Callithrix sp.
Cebus nigritus
Atelidae
Alouatta clamitans
Brachyteles arachnoides
Pitheciidae
Callicebus personatus
RODENTIA
Sciuridae
Tipo de
Registro
Município
C, E, P
C
E
C
C, LM, N
C
N
C
E, L
C, E
C, E
E
LM, N, P
LM, N
C, LM, N
N
E
LM, N
Tamanduá-bandeira
Tamanduá-mirim
E
E
N
LM, N
NT1,VU2, PEx 3
LC1
Sagüi-da-serra-escuro
Sagüi
Macaco-prego
L
E
A
LM, P
N
EM1, VU2,3
Barbado
Mono-carvoeiro, muriqui
E
A, E
LM, N
N
ND
EM1, CR3
Sauá, guigó, zogue-zogue
E
N
VU1,2
Nome comum
Gambá
Cuíca
Cuíca
Cuíca-quatro-olhos
Tatu-de-rabo-mole-grande
Tatu-galinha
Tatu-peba
Tatu-canastra
Referências
Estado de
Conservação
LC1
NT1
LC1
1
DD1, NT3
LC1
LC1
1,2
VU , CR3,EX
ND
42
Guerlinguetus ingrami
Cricetidae
Akodon cursor
Nectomys squamipes
Oligoryzomys cf. nigripes
Echimyidae
Kannabateomys amblyonyx
Trinomys sp.
Erethizontidae
Coendou prehensilis
Sphiggurus sp.
Caviidae
Cavia sp.
Hydrochoerus hydrochaeris
Dasyproctidae
Dasyprocta aff. leporina
Cuniculidae
Cuniculus paca
LAGOMORPHA
Leporidae
Sylvilagus brasiliensis
CHIROPTERA
Phyllostomidae
Anoura caudifer
Carollia perspicillata
Desmodus rotundus
Diphyla ecaudata
Trachops cirrhosus
Emballonuridae
Peropteryx macrotis
Noctilionidae
Noctilio leporinus
CARNIVORA
Felidae
Caxinguelê
A, E
C, LM, N
ND
Rato-do-mato
Rato-da-água
Rato-da-fava
C
C
C
V
V
V
LC1
LC1
ND
Rato-da-taquara
Rato-de-espinho
E
C
N
V
LC1, VU3
Ouriço-cacheiro
Ouriço-peludo
E
C
LM, N
C
LC1
LC1, NT3
Preá
Capivara
E
E
LM, N
LM, N
LC1
Cotia
E
LM, N
ND
Paca
E, P
C, LM, N
LC1, VU3
Tapiti
E
LM, N
LC1
C, L
C
C, E, L
E
C
I
I
I, N
N
I
LC1
LC1
LC1
NT
LC1
Morcego
C
I
LC1
Morcego-pescador
C
I
LC1
Morcego
Morcego
Morcego-vampiro
Morcego-vampiro
Morcego
43
Leopardus sp.
Leopardus pardalis
Panthera onca
Puma yagouaroundi
Canidae
Cerdocyon thous
Mustelidae
Eira barbara
Galictis sp.
Lontra longicaudis
Mephitidae
Conepatus semistriatus
Procyonidae
Nasua nasua
Procyon cancrivorus
Potos flavus
E
E
E
E
LM, N
LM, N
N
LM, N
LC1, VU2,3
EX (localmente)
LC1
Cachorro-do-mato
C, E
C, LM, N
LC1
Irara
Furão
Lontra
E
E
E, L
LM, N
LM, N
LM, N, P
LC1, NT3
E
LM, N
A, E, L, P
E
E, L
C, LM, N, P
LM, N
LM, N, P
Onça-Pintada
Gato-mourisco
Jaritataca
Quati
Mão-pelada
Jupará
1
DD1
LC1, NT3
1
1
LC1
LC1
LC1, NT3
Legendas: Municípios: C = Cambuci; I = Itaperuna; LM = Laje do Muriaé; N= Natividade; P = Porciúncula; V = Varre-Sai.
Referências: 1-Melo et al. (2005.) Tipo de registro: C – coleção científica, L – literatura científica, P – pegadas, E –
entrevista, AT – animal atropelado, A – avistamento. Estado de Conservação: E = endêmico, DD = informação insuficiente,
LC = preocupação menor, ND = informação não-disponível, A = ameaçado de extinção (categorias: EX = extinto, EW =
Extinto na natureza, PEx = potencialmente extinto, CR = criticamente em perigo, EM = em perigo, VU = vulnerável, NT =
quase ameaçado), lista: 1 = IUCN (2007), 2 = MMA (2003), 3 = BERGALLO et al. (2000).
44
Quadro 3 – Mamíferos da subbacia do Rio Guaxindiba.
Tipo de Registro
Município
Estado de
Conservação
Gambá
E
SFI
LC1
Tatu-de-rabo-mole-grande
Tatu-galinha
Tatu-peba
E
E
E
SFI
SFI
SFI
DD1, NT3
LC1
LC1
E, L
SJ, SFI
EM1,3,VU2
C, E, L
CG, SFI
LC1
Bugio
E
SFI
ND
Sauá, guigó, zogue-zogue
E
SFI
VU1,2
Caxinguelê
E
SFI
ND
Pixuna
Rato d’água
C
C
CG
CG
LC1
LC1
Ouriço-cacheiro
E
SFI
LC1, NT3
Preá
Capivara
E
E
SFI
SFI
LC1
Cotia
E
SFI
ND
Táxon
DIDELPHIMORPHIA
Didelphidae
Didelphis aurita
CINGULATA
Dasypodidae
Cabassous tatouay
Dasypus novemcinctus
Euphractus sexcinctus
PILOSA
Bradypodidae
Bradypus torquatus
Myrmecophagidae
Tamandua tetradactyla
PRIMATES
Atelidae
Alouatta clamitans
Pitheciidae
Callicebus personatus
RODENTIA
Sciuridae
Guerlinguetus sp
Cricetidae
Necromys lasiurus
Nectomys squamipes
Erethizontidae
Coendou prehensilis
Caviidae
Cavia sp.
Hydrochoerus hydrochaeris
Dasyproctidae
Dasyprocta aff. leporina
Nome comum
Preguiça-de-coleira
Meleto, tamanduá-mirim
45
Cuniculidae
Cuniculus paca
LAGOMORPHA
Leporidae
Sylvilagus brasiliensis
CARNIVORA
Felidae
Leopardus sp.
Leopardus pardalis
Panthera onca
Puma yagouaroundi
Canidae
Cerdocyon thous
Mustelidae
Eira barbara
Galictis sp.
Lontra longicaudis
Mephitidae
Conepatus semistriatus
Procyonidae
Nasua nasua
Procyon cancrivorus
Potos flavus
ARTIODACTYLA
Cervidae
Mazama sp.
Paca
E
SFI
LC1, VU3
Tapeti
E
SFI
LC1
Gato-do-mato
Jaguatirica
Onça-pintada
Gato-mourisco, irara-moura
E
E
E
E
SFI
SFI
SFI
SFI
LC1, VU2,3
EX
NT1,VU2,3
Cachorro-do-mato
E
SFI
LC1
Irara, papa-mel
Furão
Lontra
E
E
E
SFI
SFI
SFI
LC1, NT3
LC1
DD1
Jaritataca, Caicaca
E
SFI
LC1, NT3
Quati
Mão-pelada
Jupará
E
E
E
SFI
SFI
SFI
LC1
LC1
LC1, NT3
Veado
E
SFI
VU1, EM3
Legendas: Municípios: CG = Campos dos Goytacazes; SFI = São Francisco do Itabapoana; SJ = São João da Barra.
Referências: 1-VAZ (2003b). Tipo de registro: C–coleção científica, L–literatura científica, P–pegadas, E - entrevista, AT–
animal atropelado, A – avistamento. Estado de Conservação: E = endêmico, DD = informação insuficiente, LC = preocupação
menor, ND = informação não-disponível, A = ameaçado de extinção (categorias: EX = extinto, EW = Extinto na natureza, PEx
= potencialmente extinto, CR = criticamente em perigo, EM = em perigo, VU = vulnerável, NT = quase ameaçado), lista: 1 =
IUCN (2007), 2 = MMA (2003), 3 = BERGALLO et al. (2000).
46
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(mamíferos) nas sub-bacias dos Rios Imbé, Muriaé e