O QUE SE ESPERA DO EGRESSO DA LICENCIATURA EM
PEDAGOGIA? BREVE ESTUDO DAS DIRETRIZES OFICIAIS PARA AS
LICENCIATURAS E DE UM PROJETO PEDAGÓGICO DE CURSO
NOWISKI, Evely de Moraes - UEPG
[email protected]
LAROCCA, Priscila – UEPG
[email protected]
ROSSO, Ademir José de– UEPG
[email protected]
Área Temática: Formação de Professores
Agência Financiadora: Fundação Araucária
Resumo
O presente texto resulta de pesquisa documental, de cunho qualitativo, cujos objetivos são:
analisar o que se espera do egresso do Curso de Pedagogia – Licenciatura, nas Diretrizes
Curriculares Nacionais (Resolução CNE/CP 01/ 2006 e Resolução CNE/CP 01/ 2002); e,
verificar como um PPC - Projeto Pedagógico de Curso expressa temas comuns aos
documentos oficiais referidos. Trata-se de pesquisa de Iniciação Científica, integrante de um
projeto mais amplo intitulado “Ensino e aprendizagem da competência docente em
licenciandos no contexto das mudanças nos cursos de licenciatura”, do Programa de Mestrado
em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Na investigação, procedeu-se à
análise do conteúdo das Diretrizes Curriculares Nacionais (Resolução CNE/CP 01/ 2006 e
Resolução CNE/CP 01/ 2002) e do Projeto Pedagógico de um curso, elencando-se numa
tabela auxiliar todas as expressões e/ou afirmações contidas nos três documentos que
respondiam à seguinte pergunta: O que se espera do egresso do curso de Pedagogia? As
respostas a essa pergunta permitiram selecionar expectativas comuns nos três documentos que
vieram a compor seis unidades de sentido: Processo ensino-aprendizagem e desenvolvimento
do educando; Tratamento da diversidade cultural, étnica e racial; Uso de tecnologias;
Desenvolvimento de práticas de pesquisa; Compreensão e atuação política;Trabalho em
equipe. As seis unidades de sentido são descritas e da análise destas unidades resulta a
constatação de que as expectativas das diretrizes oficiais relativas ao tratamento consciente da
diversidade cultural, étnica e racial, bem como o uso de tecnologias pelos egressos são pouco
valorizados no PPC do curso, sendo contempladas por meio do recurso às disciplinas
optativas. Constatou-se também que a competência política é tratada de maneira superficial
nos documentos oficiais. O trabalho aponta para a necessidade de novos estudos,
especialmente sobre os processos de escolha e proposição das mudanças curriculares que
ensejam um projeto pedagógico de curso.
Palavras-chave: Pedagogia; Licenciatura em Pedagogia; Diretrizes Curriculares.
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1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho integra um amplo projeto de pesquisa intitulado “Ensino e
aprendizagem da competência docente em licenciandos no contexto das mudanças nos cursos
de licenciatura”, aprovado pelo CNPq, o qual é levado a efeito no Programa de PósGraduação em Educação – Mestrado, da Universidade Estadual de Ponta Grossa.
O projeto em pauta desenvolve investigações sobre a formação de professores em
diferentes licenciaturas, abrangendo estudos do currículo proposto até as características do
currículo praticado, em função dos princípios defendidos nas Diretrizes Curriculares das
Licenciaturas e estudos para investigar a aquisição de competências docentes nos distintos
cursos, que venham a produzir diagnósticos e contribuir para o debate em torno da formação
de professores.
Recentemente, os Cursos de Graduação em Pedagogia instituíram novos projetos
pedagógicos, por conta das diretrizes emanadas do CNE- Conselho Nacional de Educação,
sob forma da Resolução CNE/CP1 01 de 15 de maio de 2006. O quadro das reformulações
nos cursos de Pedagogia insere-se em um conjunto de diretrizes legais comuns aos Cursos de
Licenciatura, pois, sendo a Pedagogia orientada para a docência na Educação Infantil e Séries
Iniciais do Ensino Fundamental, deverá atender, ainda, as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a formação de professores da educação básica, expressas na Resolução CNE/CP 01 de 18
de fevereiro de 2002.
Estas duas resoluções do Conselho Nacional de Educação trazem um conjunto de
características esperadas para o pedagogo licenciado em sua atuação profissional, que
expressam certo perfil para o egresso do curso e aludem às expectativas que os órgão oficiais
nutrem acerca do formando desse curso, mediante demandas originadas na atuação
profissional correspondente.
Mediante este cenário, o presente texto resulta de uma pesquisa documental com os
objetivos de: a) analisar o que se espera do egresso do Curso de Pedagogia nos documentos
oficiais tendo em vista a formação para a docência na Educação Infantil e Séries Iniciais; b)
verificar como um PPC - Projeto Pedagógico de Curso de uma Licenciatura em Pedagogia
(reformulado a partir de 2007), expressa temas comuns às diretrizes curriculares oficiais.
1
Conselho Nacional de Educação/ Conselho Pleno.
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2. O QUE SE ESPERA DO EGRESSO DO CURSO DE PEDAGOGIA?
Na efetivação da pesquisa documental, procurou-se identificar nos textos dos três
documentos – DCNs das Licenciaturas, DCNs da Pedagogia e PPC de um Curso, aonde se
encontravam as menções referentes ao que se espera do egresso da Licenciatura em
Pedagogia. Na análise verificou-se que, mesmo nos documentos oficiais, há uma diversidade
de expressões empregadas para tentar caracterizar o que a formação deve propiciar ao
formando, em termos de uma “substância formativa”, entendendo-se esta como um conjunto
de características que compreendem tanto conhecimentos disciplinares a serem dominados,
como competências profissionais a serem adquiridas durante o processo de formação.
Assim, também, notou-se que as menções a essa substância formativa aparecem em
diferentes lugares dos documentos, caracterizando-se ora como perfil do egresso, ora como
competências ou habilidades, ora como um perfil profissional para o qual o curso deverá
voltar-se, ou ainda, como princípios norteadores para o curso. Desse modo, constata-se que
não houve uma padronização ou definição para o uso dos termos que tenha guiado os
processos de elaboração destes documentos.
Para a análise em vista, elencou-se numa tabela auxiliar todas as expressões e/ou
afirmações contidas nos três documentos que respondiam à seguinte pergunta: O que se
espera do egresso do curso de Pedagogia? As respostas a essa pergunta permitiram
selecionar expectativas comuns que vieram a compor seis unidades de sentido, quais sejam:
• Processo ensino-aprendizagem e desenvolvimento do educando;
•
Tratamento da diversidade cultural, étnica e racial;
•
Uso de tecnologias;
•
Desenvolvimento de práticas de pesquisa;
•
Compreensão e atuação política;
•
Trabalho em equipe.
A seguir, descrevem-se e analisam-se as unidades encontradas.
3. EXPECTATIVAS COMUNS AOS DOCUMENTOS OFICIAIS
3.1. Processo ensino aprendizagem e desenvolvimento do educando
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A atuação sobre o processo ensino-aprendizagem e sobre o desenvolvimento do
educando aparece como expectativa, em todos os documentos, mais especificamente nas
partes referentes ao perfil do egresso. Nas diretrizes das licenciaturas essa preocupação
aparece em dois Artigos: Art. 2º - inciso I que compreende o objetivo de preparar para
ensinar visando à aprendizagem do aluno; e no Art. 6º - inciso III – que se refere ao
desenvolvimento de competências, pelos cursos de formação, que levem os futuros docentes a
dominar conteúdos a serem socializados, seus significados em diferentes contextos e sua
articulação interdisciplinar. Nesse mesmo artigo, o §3º trata da definição dos conhecimentos
exigidos para a constituição de competências docentes, tratando no seu inciso II do
conhecimento sobre crianças, adolescentes, jovens e adultos, aí incluídas as especificidades
dos alunos com necessidades educacionais especiais e as das comunidades indígenas, e no seu
inciso IV das áreas de conhecimento que serão objeto de ensino. (BRASIL, 2002).
A preocupação com o processo ensino-aprendizagem e o desenvolvimento do
educando aparece nas Diretrizes de Pedagogia, nos seguintes incisos do Art. 5º:
- inciso II - compreender, cuidar e educar crianças de zero a cinco anos, de forma a
contribuir, para o seu desenvolvimento nas dimensões, entre outras, física, psicológica,
intelectual, social;
- inciso III -
fortalecer o desenvolvimento e as aprendizagens de crianças do Ensino
Fundamental, assim como daqueles que não tiveram oportunidade de escolarização na idade
própria.
- inciso V - reconhecer e respeitar as manifestações e necessidades físicas, cognitivas,
emocionais, afetivas dos educandos nas suas relações individuais e coletivas.
- inciso VI - ensinar Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia, Artes,
Educação Física, de forma interdisciplinar e adequada às diferentes fases do desenvolvimento
humano. (BRASIL, 2006).
O Projeto Pedagógico do Curso em questão, ao tentar atender a tais expectativas,
afirma que o egresso deve:
compreender as condições de desenvolvimento (afetivo, cognitivo, psico-social, físico) e de
aprendizagem nos níveis específicos e modalidades de ensino [e] conhecer os princípios teóricos
metodológicos da(s) área (a) de conhecimento que se constituem objeto de sua prática pedagógica.
(UEPG, 2006. p.15 ).
Mediante a análise do Projeto Pedagógico do Curso, percebe-se que esta substancia
formativa será construída no decorrer do curso, a partir das contribuições de várias
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disciplinas. Conteúdos referentes ao processo ensino-aprendizagem e desenvolvimento
psicológico aparecem nas ementas das disciplinas de Psicologia da Educação, Didática,
Fundamentos Teóricos da Educação Infantil,
Fundamentos Teórico-Metodológicos da
Alfabetização e Língua Portuguesa, Fundamentos Teórico-Metodológicos da Matemática,
Fundamentos Teórico-Metodológicos das Ciências Sociais e Naturais, Estágio Curricular
Supervisionado na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental e Estágio
curricular Supervisionado nas Disciplinas Pedagógicas do Ensino Médio.
3.2. Tratamento da diversidade cultural, étnica, racial
Os documentos manifestam a expectativa de que o futuro professor esteja apto a
trabalhar com a diversidade cultural, étnica e racial. As Diretrizes das Licenciaturas colocam
no seu Art.2º, inciso II, o preparo do licenciando para acolher e tratar da diversidade.
Contudo, o termo diversidade é utilizado neste artigo sem maiores indicativos acerca do seu
sentido, já que diversidade é um termo amplo que pode abarcar múltiplas interpretações.
Nas Diretrizes da Pedagogia, o Art. 5º, inciso IX, coloca que o egresso do curso deverá
estar apto para identificar problemas socioculturais e educacionais com postura investigativa,
integrativa e propositiva em face de realidades complexas, com vistas a contribuir para
superação de exclusões sociais, étnico-raciais, econômicas, culturais, religiosas, políticas e
outras. No mesmo artigo, o inciso X apresenta a expectativa de o egresso do Curso
demonstrar consciência da diversidade, respeitando as diferenças de natureza ambientalecológica, étnico-racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades
especiais, escolhas sexuais, entre outras.
Ainda, os §1º e 2º do mesmo Artigo referem-se a professores indígenas e de
remanescentes de quilombos, apresentando a expectativa de que esses venham a trabalhar de
forma articulada com a cultura, valores e conhecimentos desses grupos, atuando, ainda, como
agentes interculturais, valorizando e estudando temas relevantes dessas culturas.
O PPC do Curso analisado não utiliza a palavra diversidade. Parece, contudo, que esse
conceito está implícito no perfil profissional esperado, que deve “conceber o fenômeno
educativo no processo histórico, dinâmico e diversificado, respondendo criticamente a
desafios que a sociedade lhe coloca.” (UEPG, 2006, p. 15). Para o PPC, o egresso da
Pedagogia deverá “entender a cultura como atividade humana, como uma prática criativa e de
produção da vida e do trabalho”. (UEPG, 2006, p.15).
10591
Na análise das ementas do curso, conforme proposto no PPC, pode-se perceber que o
trato da diversidade poderá ser contemplado nas disciplinas que têm como conteúdos os
estudos das sociedades, como é o caso da Sociologia da Educação que trabalha, entre outros
temas, a “Educação em sua dimensão social [...], Sociedade cultura e educação” (UEPG,
2006, p.28). Todavia, a competência formativa referida nas diretrizes oficiais parece estar
mais contemplada em duas disciplinas que estão no núcleo de Diversificação e
Aprofundamento: Educação em espaços não formais, que traz, entre outros, conteúdos
referentes a uma análise da educação em contextos diversificados, incluindo a educação
indígena, educação para afro-descendentes e no campo e Educação no Campo, que pretende
estudar as políticas e práticas relativas a essa especificidade educacional.
Mesmo sendo um tema bastante abordado nos documentos oficiais, especialmente nas
diretrizes da Pedagogia, a análise do PPC sugere que não há disciplinas que tratem
especificamente dessa questão, a não ser a Sociologia que aborda a cultura de maneira mais
ampla. As disciplinas que abordam de maneira mais específica a questão da diversidade são
disciplinas opcionais, ou seja, por sua natureza já supõem que não serão todos os licenciandos
que as cursarão.
3.3. Uso de tecnologias
O avanço tecnológico na informação e comunicação sugere avanços e adaptações nas
técnicas de ensino, visando uma melhor qualidade e dinamismo no processo ensino
aprendizagem. Por isso questões relativas ao desenvolvimento de competências para a
utilização dessas tecnologias estão presentes como um item fundamental para o futuro
docente.
As Diretrizes das Licenciaturas, no Art. 2° - inciso VI, orientam os cursos para que os
egressos saibam utilizar as tecnologias de informação e comunicação, bem como
metodologias, estratégias e materiais de apoio inovadores. Já, as Diretrizes da Pedagogia,
trazem no Art. 5º - inciso VII que o egresso deverá estar apto para relacionar as linguagens
dos meios de comunicação à educação, nos processos didático-pedagógicos, demonstrando
domínio das tecnologias de informação e comunicação adequadas ao desenvolvimento de
aprendizagens significativas.
O PPC do curso estudado entende que o formando deverá “produzir e escolher formas
metodológicas adequadas aos conteúdos escolares dos níveis/anos/modalidades de ensino em
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que irá atuar, viabilizando a aprendizagem dos alunos”(UEPG, 2006, p.16), ou seja, não
evidencia menções diretas ao preparo para o uso de multimeios, ainda que contemple duas
disciplinas opcionais de diversificação ou aprofundamento: Oficinas de Recursos
Audiovisuais e Técnicas de Ensino, que prevê, dentre outros, o estudo de técnicas e recursos
audiovisuais no processo ensino-aprendizagem e sua utilização no contexto da sala de aula; e
Tecnologia da Informação e Comunicação, que aborda o processo de comunicação e as
tecnologias de mídia. Novamente, nota-se, que às disciplinas optativas cabe a
responsabilidade formativa perante competências evidenciadas nos dois documentos oficiais.
3.4. Desenvolvimento e práticas de pesquisa.
Sabe–se que no processo ensino-aprendizagem a pesquisa deve ser constante tanto
pelo professor quanto pelo aluno. Para Freire (1996, p.29), o ensino e a pesquisa caminham
juntos, pois “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino”. O autor coloca na nota de
rodapé do seu livro “Pedagogia da Autonomia”:
Fala-se hoje, com insistência, no professor pesquisador. No meu entender o que há
de pesquisador no professor não é uma qualidade ou uma forma de ser ou de atuar
que acrescente a de ensinar. Faz parte da natureza da prática docente a indagação, a
busca, a pesquisa. O de que se precisa é que, em sua formação permanente, o
professor se perceba e se assuma, porque professor, como pesquisador. (1996,
p.29).
Assim, entende-se que a pesquisa é um processo que deve ser contínuo desde o início
da formação dos docentes.
Sobre o desenvolvimento e as práticas de pesquisa, as Diretrizes das Licenciaturas
colocam no Art. 2º - inciso IV- a necessidade de a formação levar ao aprimoramento das
práticas investigativas, e, no Art. 6º - inciso V refere-se ao desenvolvimento de competências
relativas ao conhecimento dos processos de investigação que possibilitem aperfeiçoar a
prática pedagógica.
As Diretrizes da Pedagogia trazem, no Artigo 5º., dois incisos que tratam da
preparação do egresso para a prática da pesquisa, quais sejam:
inciso XIV- realizar pesquisas que proporcionem conhecimentos, entre outros: sobre os
discentes e sua realidade sociocultural, sobre processos de ensino-aprendizagem em diversos
meios ambiental-ecológicos, sobre currículos, sobre a organização da educação e práticas
pedagógicas.
10593
inciso XV - utilizar, com propriedade, instrumentos próprios para construção de
conhecimentos pedagógicos e científicos.
No PPC, a pesquisa é entendida como um dos componentes da prática pedagógica,
“na medida em que se constitui elo articulador de produção técnico cientifica na formação
do(a) educador(a), conduzindo o(a) a investigar a realidade”. (UEPG, 2006, p.14). Aparece
também, nesse documento, a intenção de capacitar o egresso para “articular grupos de estudo
e de pesquisa capazes de consolidar a busca de alternativas metodológicas no campo do
ensino dos conceitos relativos à Educação Infantil e Educação Básica, com ênfase nos Anos
Iniciais do Ensino Fundamental.” (UEPG,2006, p.16), pressupondo, ainda, que o formado no
curso de Pedagogia deverá exercer a capacidade de busca permanente do conhecimento.
Visando o desenvolvimento dessa competência, o curso oferece as disciplinas de
Metodologia da Pesquisa em Educação, já na 1ª série; Pesquisa e Prática Pedagógica I,
Pesquisa e Prática Pedagógica II, Orientação do Trabalho de Conclusão de Curso e
elaboração do TCC.
3.5. Compreensão e Atuação política
As Diretrizes das Licenciaturas contemplam a competência política dos egressos no
Art.6º, Inciso I, ao supor que os projetos dos cursos comprometam-se com os valores
inspiradores da sociedade democrática; no inciso II, que se refere à compreensão do papel
social da escola e no §3º, inciso III, que prevê conhecimentos das dimensões cultural, social,
política e econômica da educação.
As Diretrizes da Pedagogia, no Art.5º, inciso XVI, supõem que o egresso deverá estar
apto a “estudar, aplicar criticamente as diretrizes curriculares e outras determinações legais
que lhe caiba implantar, executar, avaliar e encaminhar o resultado de sua avaliação às
instâncias competentes”. Como se vê, nesse caso, as competências políticas do egresso
aparecem circunscritas às determinações e orientações legais emanadas de órgãos superiores.
Em ambos os casos, a menção à competência política dos licenciandos é bastante
superficial e não há clareza sobre o que compreende o termo “política” propriamente dito.
No PPC, o tema está redigido da seguinte maneira: “conhecer e analisar criticamente
as políticas públicas para a educação e intervir político-pedagogicamente nas diferentes
instâncias de organização da educação brasileira”. (UEPG, 2006, p.16)
Nos
estudos
realizados nas ementas do curso, as relações entre o papel social da escola e as dimensões
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social, política e econômica, como também a questão da democracia, deverão ser abordadas
em disciplinas como: Filosofia da Educação Brasileira e Sociologia da Educação e Política
e Organização da Educação Brasileira. No PPC nota-se também a preocupação em
relacionar a prática educativa escolar com o contexto histórico-político-social-cultural, nas
disciplinas já citadas de: Prática Pedagógica; Pesquisa e Prática Pedagógica I.
Há disciplinas que trabalham a legislação pertinente a várias modalidades da
educação, tais como: Educação de Jovens e Adultos; Educação no Campo e Cidadania e
Sociedade, que é uma disciplina para ser ofertada à distância, e abrange temáticas como:
Direitos e deveres do cidadão. Ética. Cidadania e trabalho. Cidadania e educação. Diretrizes
para o atendimento às pessoas com necessidades educacionais especiais. Princípios e
características da educação inclusiva. Aspectos éticos, políticos e educacionais da inclusão
sócio-pedagógica, dentre outros.
Pelo que se pode captar, a questão da compreensão e atuação política dos licenciandos
deverá ser trabalhada no curso desde os aspectos legais até a discussão de conceitos como
cidadania e democracia.
3.6. Trabalho em equipe
Essa competência aparece nas duas resoluções. Nas Diretrizes das Licenciaturas, o
Art. 2º, inciso VII – trata da capacidade de desenvolver hábitos de colaboração e trabalho em
equipe. Nas Diretrizes da Pedagogia, o Art. 5º, inciso XI, espera que o egresso esteja apto
para desenvolver trabalhos em equipe, estabelecendo diálogo entre a área educacional e as
demais áreas do conhecimento.
O PPC do curso analisado supõe o desenvolvimento desta competência com a
previsão da formação de grupos de pesquisa, No entanto, não se pode dizer que essa
substância formativa esteja realmente contemplada, em função de que o trabalho em equipe
não aparece de forma explícita nas ementas das disciplinas elencadas para o mesmo.
Esta breve análise de expectativas formativas encontradas em comum nos três
documentos já aludidos remete a algumas constatações e reflexões que se buscarão tecer a
seguir.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
10595
Por meio deste breve estudo, conclui-se primeiramente acerca da dispersão das
expectativas sobre as competências do egresso, tanto nos textos das diretrizes oficiais, como
no texto do projeto pedagógico do curso analisado. A despeito desta dificuldade, de ordem
textual, foi possível localizar as seis unidades já apresentadas, que retratam competências
profissionais esperadas daqueles que cursam a Licenciatura em Pedagogia. Tais unidades não
esgotam o universo das expectativas contidas nos três documentos, mas revelam aquelas que
são comuns entre eles, verificando-se que outras expectativas aparecem de modo mais
isolado, em um, em outro, ou em dois dos documentos estudados, requerendo, portanto, novos
estudos que visem compreender estas disparidades.
Considerando as seis unidades já analisadas, verificaram-se alguns aspectos que
suscitam questionamentos. Por exemplo: Por que a temática da diversidade cultural, étnica e
racial aparece de modo tão incipiente e pouco valorizado no PPC, a despeito de as diretrizes
da Pedagogia trazerem com relevância a questão da consciência da diversidade?
Assim, também, verificou-se que, assim como na abordagem da diversidade cultural,
étnica e racial, a competência sobre o uso de recursos tecnológicos pretende ser desenvolvida,
conforme o PPC, a partir de disciplinas optativas, cabendo perguntar então: O que faz com
que questões de tamanha importância na formação, expressas de modo relevante nas diretrizes
nacionais, sejam tratadas no PPC a partir do recurso às disciplinas opcionais?
Para tentar responder a questões dessa natureza, cabe supor que poderia se tratar de
lacunas interpretativas dos proponentes do PPC. Todavia, implícitas às opções tomadas e
interpretações efetuadas estão as reais condições institucionais que viabilizam ou impedem o
trabalho pedagógico adequado para o desenvolvimento de certas competências, consideradas
imprescindíveis à formação do egresso de Pedagogia. Essas condições institucionais referemse à infra-estrutura física e material, como por exemplo laboratórios de informática
devidamente equipados e disponíveis em número suficiente para atender às necessidades dos
alunos em formação; à estrutura humana qualificada, como professores concursados nas áreas
de conhecimento requeridas, às negociações políticas e institucionais que viabilizem as
necessidades do curso, entre outras que figuram como os meios para concretizar efetivamente
os ideais de formação.
Outra questão emergente no contexto desta análise diz respeito à superficialidade com
que a competência política é tratada nos documentos oficiais, uma vez que aparece de modo
implícito ou circunscrito à análise, proposição e avaliação de determinações legais.
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Finalmente, pode-se considerar que este estudo suscita novos estudos, especialmente
sobre como se dão os processos de reformulação curricular nos cursos, a fim de captar os
fatores que determinam as escolhas e proposições apresentadas nos projetos pedagógicos dos
cursos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n. 9394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da
Educação Nacional.
BRASIL, Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura,
de graduação plena. Resolução CNE/CP Nº 1 de 18 de fevereiro de 2002.
BRASIL, Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso
de Graduação em Pedagogia, Licenciatura. Resolução CNE/CP Nº 1 de 15 de maio de
2006.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 35ª ed.
São Paulo: Paz e Terra, 1996. p.29.
UEPG, Pró-Reitoria de Graduação Divisão de Ensino. Projeto Pedagógico de Curso –
Licenciatura em Pedagogia. Ponta Grossa 10 de Agosto de 2006.
Download

o que se espera do egresso da licenciatura em pedagogia?