LUZ DA SERRA
MAIO
-- histórias da História --
14
2014
De LOUREIRA para ALJUSTREL: o sobrenome
da Irmã LÚCIA DOS SANTOS
Em meados do século XIX
residiam em Aljustrel, freguesia de Fátima, concelho
de Vila Nova de Ourém, as
seguintes famílias que constituíam o reduzido povoado:
António, Carreira, Custódio,
Ferreira, José, Marcelino,
Neves, Oliveira, Pereira, Reis
e Santos. Duas delas, José e
Santos, eram originárias da
paróquia de Santa Catarina
da Serra, termo de Leiria. Sebastião José era natural de
Chainça e António dos Santos de Loureira. Um assento
de casamento datado de 23
de novembro de 1864 indica
que o nubente, Joaquim dos
Santos, era descendente de
um habitante de Loureira
que foi morar para Aljustrel.
[Vide: ADSTR – Registos de
Casamentos de Fátima
(1844-77), fls. 70-71]:
«Aos vinte, e tres dias do
mes de novembro, do anno
de mil oitocentos secenta, e
quatro, nesta igreja parochial
[fl. 70v] de Fatima, concelho
de [Villa] Nova [de] Ourem
[1], diocese de Leiria, na
minha presença compareceram os nubentes Joaquim
dos Santos, e Maria Victoria
os quaes sei serem os proprios com todos os papeis do
estilo correntes, e sem impedimento algum canonico, ou
civil para o casamento, elle d'
idade de vinte, e sete annos,
solteiro, lavrador de profissão, natural, e morador no
lugar d' Aljustrel, desta freguesia aonde foi baptizado,
filho legitimo de Antonio
dos Santos [2], natural da
Loureira freguesia de Santa
Catherina da Serra, concelho, e diocese de Leiria, e de
Mauricia Maria natural do
Lombo d' Egoa [3] desta freguesia; e ella de idade tambem de vinte e sete annos,
solteira, natural, e moradora
no lugar das Chans [4], lugar
desta freguesia, e aonde foi
baptizada, filha legitima de
Joaquim Lopes natural da
Loureira lugar já acima referido, e de Maria Victoria natural das Chans lugar já
acima referido; os quaes nubentes se receberão por marido, e mulher, e os uni em
matrimonio, procedendo em
todo este acto conforme o
rito da Santa Madre Igreja,
Catholica, Apostolica Romana. Forão testemunhas
presentes que sei serem os
proprios Manoel Jose casado
lavrador do lugar do Lombo
d' Egoa já referido, e Jose das
Neves [5], casado lavrador,
do Val Maior freguesia de
Santa Catherina já acima referida. E para constar lavrei
em duplicado este assento,
que [fl. 71] depois de ser lido,
e conferido, perante os conjujes, e testemunhas, eu somente o assinei por nenhum
saber escrever. Era ut supra.
O prior Joaquim Matheus
Vieira da Rosa».
O casal Joaquim dos Santos e
Maria Vitória teve um filho,
António dos Santos, nascido
às 22 horas do dia 3 de janeiro de 1868, irmão de
Olímpia de Jesus (dos Santos) e cunhado de Manuel
Pedro Marto, que veio a
casar com Maria Rosa, de Perulheira, da então freguesia
de Reguengo do Fetal, hoje
São Mamede, concelho de
Batalha. Era o pai de Lúcia
de Jesus (dos Santos), de Aljustrel, nada em 1907. [Vide:
ADSTR – Registos de Batismos de Fátima (1865-73), fl.
49]:
«Aos doze dias do mes de janeiro, do anno de mil oitocentos sessenta, e oito, nesta
igreja parochial de Fatima,
concelho de Villa Nova d'
Ourem, diocese de Leiria;
baptizei solennemente um
individuo do sexo masculino
a quem dei o nome d' Antonio, e que nasceo nesta freguesia às dez horas da noite
do dia tres do já referido
mes, e anno, filho legitimo, e
primeiro do nome de Joaquim dos Santos proprietario, e de Maria Victoria
ambos naturaes desta freguesia, nella recebidos, e
della parochiannos, moradores no logar d' Aljustrel; neto
paterno de Antonio dos Santos, e Mauricia Maria, e materno de Joaquim Lopes, e
Maria Victoria. Foi padrinho
Antonio Lopes Moreira [6], e
Theresa de Jesus, digo Antonio Lopes Moreira solteiro
lavrador, das Chans; e madrinha Theresa de Jesus solteira d' Aljustrel, os quaes
todos sei serem os proprios.
E para constar lavrei em duplicado este assento, que depois de ser lido, e conferido
perante os padrinhos, com
elle o assignei, e não com ella
por não saber escrever. Era
ut supra.
O padrinho (subscrição autógrafa): Antonio Lopes Moreira.
O prior Joaquim Matheus
Vieira da Rosa».
O semanário "O Mensageiro"
registou, em 1917, em entrevista: «Chamo-me Lucia de
Jesus. Tenho 10 vou para 11
anos. Meu pai chama-se António dos Santos Abobora e
minha mãe Maria Rosa.
Tenho 5 irmãos». [Vide: "O
Mensageiro", Ano IV, n.º 161,
8 de novembro de 1917, p. 2].
"Abóbora" é o epíteto pelo
qual era (e ainda é) conhecido todo o habitante de
Loureira, da atual freguesia
de Santa Catarina da Serra e
Chainça, Leiria.
Notas textuais:
[1] No original está escrito:
«[...] concelho de Nova
Ourem [...]». [Transcrição de
acordo com: COSTA, Avelino Jesus da, Normas Gerais
de Transcrição e Publicação
de Documentos e Textos Medievais e Modernos, Coimbra, Instituto de Paleografia,
1993, 2.ª edição].
[2] Os mais senectos indivíduos com o apelido Santos
residentes em Loureira, conforme a documentação disponível, eram moradores na
dita aldeia nas décadas de 20
/ 30 do século XIX: Joaquim,
Teresa e Catarina dos Santos.
O primeiro, filho de José dos
Santos, de Ulmeiro, e de Teresa das Neves, de Loureira,
falecido a 24 de maio de
1878, estava consorciado
com Ângela das Neves, nascida em 1804 e fenecida a 28
de abril de 1860, descendente de Manuel Gonçalves,
de Poço do Soudo, f. Fátima,
e de Teresa das Neves, da
povoação de Loureira. A se-
gunda, falecida a 13 de maio
de 1856, irmã do referido
Joaquim, estava casada com
Vicente Ferreira, filho de
Manuel Pereira, de Covão
Grande, fenecido a 11 de
julho de 1829, e de Catarina
Ferreira, de Donairia. Uma
outra Teresa dos Santos, falecida a 15 de janeiro de 1857,
herdeira de Luís dos Santos,
de Loureira, e de Maria Teresa, de Donairia, era casada
com José Antunes, morto a
25 de outubro de 1849, descendente de António Jorge e
de Isabel Maria, ambos de
Loureira. Por fim, Catarina
dos Santos era herdeira de
António dos Santos, de Torrinhas, f. Reguengo do Fetal,
e de Josefa Maria, de Loureira. Estava casada com Joaquim Pereira, filho de
Manuel Pereira, de Covão
Grande, e de Maria Vieira,
de Sobral, f. Santa Catarina
da Serra. [Vide: Loureira
1610-2010 – Estudo Histórico
e Documental, Loureira, Associação para o Desenvolvimento Social da Loureira e
Comissão da Capela da Loureira, 2010, pp. 265 e 267268].
[3] Sobre o Lombo de Égua
vide: SILVA, Vasco Jorge
Rosa da, "Lombo de Égua /
d' Égua ou Lomba de Égua /
d' Égua", in Notícias de Fátima, 29 de junho de 2012, p.
8.
[4] O lugar de «Chans» tem
atualmente o nome de Chã.
O vocábulo ficou registado
na Memória Paroquial de Fátima, onde se lê que a aldeia
tinha, em 1758, «[...] sinco vezinhos». [Vide: SILVA, Vasco
Jorge Rosa da, "Memórias
Paroquiais de Ourém", in
Nova
Augusta,
Torres
Novas, Câmara Municipal,
2011, n.º 23, p. 69].
[5] José das Neves, de Vale
Maior, casado a 2 de fevereiro de 1845, com Maria Teresa, era natural de Casal do
Meio, atual freguesia de São
Mamede. Filho de José das
Neves, de Casal dos Lobos, e
de Luísa Maria, da mencionada aldeia de Casal do
Meio, era genro de José dos
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Santos, de Vale Maior, onde
era morador, e de Maria Teresa, de Loureira.
[6] António Lopes Moreira,
morador em Loureira, surge
na documentação santacatarinense como sendo descendente de Joaquim Lopes e de
Maria Vitória, moradores em
Chã, f. Fátima. Consorciado
com Maria Vitória, filha de
Manuel Ferreira e de Teresa
Maria, de Cortes, f. Espite.
Vasco Jorge Rosa da Silva
Paleógrafo e Epigrafista
Leiria - Ourém
niela Marto, bisneta de Manuel Pedro Marto. Licenciada em Química.
O autor agradece sobremaneira a colaboração de Da-
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