1 “Derating” para Transformadores Trifásicos de Distribuição, Através de Dados Obtidos do Ensaio em Curto-Circuito J.C. Rossi - Unesp; L. Santos - Unesp; L.C.O. Oliveira - Unesp e J. B.Souza-Unesp Resumo - As perdas joules nos enrolamentos dos transformadores, quando o mesmo opera em regime senoidal, podem ser obtidas através do ensaio em curto-circuito. Esta metodologia pode ser estendida para se determinar a resistência ca dos enrolamentos dos transformadores quando operando em ambiente não-senoidal. Para comprovar esta afirmação foram realizados ensaios experimentais em uma unidade trifásica de distribuição de 15 kVA, variando-se a freqüência da tensão de alimentação para se obter os valores das resistências ca para cada ordem harmônica. A quantificação destas resistências é de grande importância quando da avaliação das perdas no cobre dos enrolamentos do transformador quando o mesmo opera em ambientes não senoidais. Diante disto é possível estabelecer um “Derating” de forma a proporcionar a preservação da vida útil do transformador. Palavras-chave—Distorções Transformadores. I. Harmônicas, “Derating” pode-se dizer que atualmente é quase impossível encontrar transformadores operando em ambientes com processamento de formas de onda puramente senoidais. Devido à estas condições operacionais, as perdas nos enrolamentos, para condições não-senoidais, possuem um acréscimo devido as componentes de correntes harmônicas drenadas,[2 e 3]. Estas componentes harmônicas variam também ao longo do dia de acordo com a quantidade e com as características das cargas conectadas. A determinação das perdas técnicas totais do transformador, em ambientes não-senoidais, tem como um dos objetivos estabelecer critérios para o seu carregamento de forma a não degradar a sua vida útil [4 e 5]. O objetivo desse trabalho é apresentar uma metodologia de cálculo “derating” (a capacidade do transformador é reduzida de forma a compensar a sobrecarga oriunda das distorções harmônicas) de forma a garantir a preservação da vida útil do equipamento. INTRODUÇÃO Os benefícios alcançados nos programas de eficiência energética, devem-se ao grande avanço da eletrônica de potência através da aplicação de dispositivos de controle e acionamento baseados em chaveamentos eletrônicos de alta e baixa freqüência e, se por um lado essa tecnologia vem trazendo enormes contribuições com respeito à flexibilização e racionalização do consumo de energia elétrica. Por outro lado, o aumento dessas cargas não lineares, tanto em número de aplicações quanto em potência individual, suscita grandes preocupações com respeito à qualidade do fornecimento da energia elétrica, principalmente no que se refere à geração de harmônicas, [1]. A presença dessas tensões e/ou correntes harmônicas nos sistemas elétricos de potência pode causar vários inconvenientes como, por exemplo, o aumento das perdas de energia, o aumento da demanda de potência reativa, a diminuição do fator de potência, a atuação indevida da proteção e a diminuição na vida útil de equipamentos. Dentre os vários equipamentos que compõe os sistemas elétricos, se destacam os transformadores de potência, os quais operam como uma “interface” entre o sistema elétrico e as cargas a serem supridas. Devido a grande diversidade de equipamentos com características não-lineares supridas pelo sistema elétrico, II. EQUACIONAMENTO UTILIZADO O trabalho realizado em [6], foi baseado no documento IEEE C57.110 [4], na qual é apresentado um método de “derating” para transformadores submetidos a carregamentos harmônicos. Este método divide as perdas totais dos enrolamentos do transformador (PLL) em três categorias como mostra a equação (1): PLL = P + PEC + POSL (1) onde: PLL – Perdas totais nos enrolamentos do transformador para condição não-senoidal; P – Perdas em função corrente de freqüência fundamental; PEC - Perdas por correntes parasitas nos enrolamentos para condição não-senoidal; POSL - Perdas suplementares (adicionais) nas partes metálicas (núcleo, paredes do tanque, etc.) para condição não-senoidal. Conforme a recomendação mencionada, as perdas por correntes harmônicas PEC aumentam proporcionalmente com a ordem harmônica “h”, sendo que a corrente IR está na freqüência fundamental e é função da corrente de carga, portanto, PEC-R é considerado perdas por correntes parasitas para a corrente IR. Já a corrente Ih é a corrente rms para cada ordem harmônica, e hmax é a maior ordem harmônica de interesse. 2 Assim, as perdas PEC são calculadas pela equação (2): ∑ PEC = PEC − R h = hmax h =1 [I h / I R ] 2 .h2 (2) onde: PEC-R – Perdas por correntes parasitas nos enrolamentos para a corrente fundamental; Ih – Valor eficaz da n-ésima corrente harmônica; IR – Valor eficaz da corrente fundamental; h – Ordem harmônica. hmax – Maior ordem harmônica considerada para o cálculo. A equação (2) indica que as perdas por correntes parasitas PEC-R são conhecidas e mensuráveis. O valor de PEC-R é determinado através da diferença entre o valor calculado das perdas IR2.R e o valor medido das perdas PLL na freqüência da linha. A resistência efetiva em função das correntes parasitas REC-R é definida tal que: R EC − R = PEC − R I R2 (3) onde, REC-R é a resistência dos enrolamentos para correntes parasitas em função da corrente fundamental; Pode-se demonstrar uma outra expressão, equivalente a equação (2), ou seja : PEC = a resistência ROSL-Rh0,8, são combinadas para formar uma resistência Rh global do enrolamento, sendo que esta representa a soma de todas as perdas nos enrolamentos para um dado espectro harmônico, conforme equação (8): Rh = R + R EC − R h 2 + ROSL − R h 0,8 (8) Substituindo a equação (8) na equação (1), obtem-se as perdas totais , conforme mostra a equação (9) abaixo. PLL = h = h max ∑I 2 h Rh (9) h =1 Esta equação (9) estima uma resistência efetiva Rh para cada ordem harmônica, ou seja, calcula as perdas para cada ordem harmônica e depois efetua a somatória das mesmas obtendo-se as perdas totais dos enrolamentos dos transformadores. III. ANÁLISE EXPERIMENTAL Para comprovar a afirmação acima, foram feitos ensaios. O arranjo experimental utilizado é baseado no Teorema de Blondel [7], que é fortemente utilizado na realização da medição de potência ativa dos circuitos polifásicos equilibrados, e é mostrado na fig. 1. h = hmax ∑R h =1 EC − R . I h2 . h 2 (4) As perdas POSL aumentam proporcionalmente de 0,8 da ordem harmônica. Estas perdas geralmente são desconsideradas para transformadores a seco, porém, em transformadores imersos em óleo ela tem um efeito substancial. O valor destas perdas pode ser obtido através da perda POSL-R descrita na equação (5): POSL = POSL − R 2 h = hmax ∑ (I h =1 h / I R ) h 0 ,8 (5) onde, POSL-R – é as perdas suplementares (adicionais) nas partes metálicas (núcleo, paredes do tanque, etc.) para condições senoidais; Similarmente para a equação (3), uma outra resistência efetiva, para as perdas por correntes parasitas, pode ser definida como mostrada na equação (6): ROSL − R = POSL − R I R2 h = hmax ∑I h =1 2 h ROSL − R h 0,8 As principais características das unidades transformadoras utilizadas nas análises são apresentadas na tabela 1. TABELA 1 DADOS COMPLEMENTARES DO TRANSFORMADOR Potência Tensão Tensão Corrente Corrente Primária Sec. Primária Secundária 15 kVA 13,8 kV 220/127 0,63 A 40 A (6) Onde, ROSL-R – é a resistência dos enrolamentos em função das perdas suplementares (adicionais) nas partes metálicas (núcleo, paredes do tanque, etc.) para condições senoidais. Assim, efetua-se similarmente para a equação (5), uma equação equivalente para a perda POSL, ou seja, POSL = Fig.1. Diagrama multifilar da montagem experimental do ensaio curtocircuito. (7) A resistência cc no enrolamento do transformador, a resistência para correntes parasitas REC-Rh2 e a perda devido Os principais dispositivos e equipamentos utilizados nos ensaios experimentais são a) – Transformador Trifásico de 15 kVA - Conexão ∆/Y,VA, 13800/220 V e Z% = 3,47% em 13800V; b) – Fonte de alimentação controlada Trifásica de 6 kVA, cujas principais características são: - Freqüência de Saída: 17 Hz a 5 kHz; - Tensão Eficaz de Saída: 0 a 440 V de linha; - Corrente Eficaz de Saída: 0 a 14,8 A. 3 Outros dispositivos também utilizados foram: Ponteiras de Tensão; Ponteiras de Corrente; Transformador Isolador 220/220 V A. Procedimentos Experimentais Experimentos envolvendo equipamentos ou dispositivos na área de engenharia elétrica podem sofrer influência de fatores tais como temperatura ambiente, sinais com ruídos etc. Entretanto, alguns procedimentos foram realizados de forma a amenizar a ação desses fatores: A temperatura ambiente do local no qual se efetuou a atividade estava estabilizada em 28 ºC. Mesmo utilizando o sistema de refrigeração de ar, não foi possível obter a temperatura de 25 ºC, sendo esta considerada a ideal para a realização desta atividade; O transformador foi alimentado com corrente nominal por aproximadamente 6 (seis) horas antes da realização dos experimentos de forma que o mesmo atingisse uma temperatura próxima à de funcionamento, ficando por volta de 45 ºC. É importante salientar que a medição da temperatura do transformador foi efetuada na sua parte externa, portanto, de fato, a temperatura em seus enrolamentos é superior ao valor aqui mencionado. Estudos realizados com carregamentos de transformadores em [8] possibilita concluir que a temperatura dos enrolamentos estava entre 62 ºC e 65 ºC. A carcaça do transformador foi solidamente aterrada. Baseando-se na linearidade do ensaio em curto descrito em [8], efetuou-se as aquisições das formas de onda da tensão e corrente para três valores de tensão entre fases: 345 volts, 400 volts e 435 volts, sendo que o valor de tensão de 435 volts corresponde ao valor necessário para obtenção da corrente nominal do transformador em 60 Hz. O problema gerado pela impossibilidade de medir as correntes harmônicas de seqüência zero (múltiplas de três) na linha de uma conexão em delta foi solucionado através de um artifício matemático disponibilizado pela fonte de alimentação. Foram efetuados os ajustes dos ângulos de defasagem das tensões de fase da alimentação, de forma a forçar a circulação de correntes na linha e conseqüentemente proporcionando condições de se efetuar as medições de corrente na linha. B. Equacionamento utilizado Abaixo serão apresentadas as equações utilizadas na obtenção dos valores das resistências em função da ordem harmônica para a unidade transformadora ensaiada. A potência de curto-circuito por fase correspondente a cada ordem harmônica pode ser calculada através da equação 10. Pcc − h − f = Pcc − h −T 3 Onde, Pcc-h-T - Valor da potência ativa de curto-circuito total do transformador para cada ordem harmônica; Pcc-h-f - Valor da potência ativa de curto-circuito total por fase do transformador para cada ordem harmônica; h - Ordem harmônica. A unidade transformadora analisada possui conexões delta/estrela, assim sua corrente primária de fase será determinada através da equação (11). I1cc − h − f = I1cc − h − L . 3 Rh = Pcc − h − f (I ) 2 1cc − h − f O cálculo do valor de resistência efetuado com a equação (12) é referida ao enrolamento secundário. O valor da resistência vista pelo primário e referida ao secundário pode ser calculado através da equação (13). Rh ' = Rh Sendo: N1 - Número de espiras do enrolamento primário; N2 - Número de espiras do enrolamento secundário. IV. Fase C 3 0,00 40,00 -40,00 9 0,00 13,33 -13,33 15 0,00 8,00 -8,00 As considerações descritas anteriormente contribuem para que as condições das medições realizadas sejam mais próximas possíveis das reais condições de trabalho do equipamento referenciado. ⎞ ⎟⎟ ⎠ 2 TABELA 2 ÂNGULOS DE DEFASAGEM PARA AS HARMÔNICAS MÚLTIPLAS DE TRÊS. Fase B (12) Onde, Rh - Valor da resistência CA para cada ordem harmônica vista pelo primário; A tabela 2 apresenta os valores dos ângulos utilizados. Fase A (11) Onde, I1cc-h-f - Valor eficaz da corrente primária de curto-circuito para cada ordem harmônica na fase; I1cc-h-L - Valor eficaz da corrente primária de curto-circuito para cada ordem harmônica na linha. Os valores de resistências CA do transformador referidos para o primário podem ser obtidos através da equação (12). ⎛ N1 ⎜⎜ ⎝ N2 h (10) (13) RESULTADOS EXPERIMENTAIS Uma vez realizada a montagem do arranjo experimental, com o enrolamento secundário do transformador em curtocircuito, alimentou-se o enrolamento primário baseando-se no princípio da superposição de efeitos, ou seja, as medições foram efetuadas com valores de freqüência correspondentes a algumas ordens harmônicas. Esta metodologia permite obter as grandezas elétricas (potência ativa, corrente, tensão etc) e as formas de onda das tensões e/ou correntes no primário do transformador para cada ordem harmônica [5]. 4 São apresentados a seguir os valores das grandezas elétricas pertinentes ao ensaio efetuado através da tabela 03 que apresenta os valores das grandezas envolvidas no cálculo da resistência CA da unidade transformadora de 15 kVA. A tabela 03 apresenta os dados pertinentes às medições e também aos cálculos necessários para se obter os valores de resistência CA para cada ordem harmônica do transformador ensaiado. As colunas IX e PX correspondem respectivamente aos valores de correntes eficazes e potências ativas mensuradas pelo osciloscópio X (obtém dados de corrente eficaz na fase A e de tensão eficaz entre as fases A e B). As colunas IY e PY correspondem respectivamente às mensurações de correntes eficazes e potências ativas efetuadas pelo osciloscópio Y (obtém dados de corrente eficaz na fase C e de tensão eficaz entre as fases B e C). As colunas (PX + PY) correspondem à potência ativa total para cada ordem harmônica. A média das duas correntes é apresentada na coluna ((IX+IY)/2). E finalmente, os valores de resistência total por fase para cada ordem harmônica são apresentados nas colunas Rh e Rh´, estando a primeira grandeza referida pelo primário e a segunda pelo secundário TABELA 3 GRANDEZAS ELÉTRICAS ORIUNDAS DAS MEDIÇÕES REALIZADAS NA ATIVIDADE EXPERIMENTAL. Med. h Px(W) IX(A) PY (W) IY (A) 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 1 1 3 3 3 5 5 5 7 7 7 9 9 9 11 11 11 13 13 13 15 15 15 17 17 17 19 19 19 256,00 218,00 164,00 79,30 67,50 53,30 -21,90 -18,10 -15,80 30,80 25,80 21,10 23,90 20,30 14,90 -13,70 -11,40 -9,27 17,10 13,60 10,80 11,40 14,00 16,50 -9,65 -7,80 -6,43 10,30 9,50 6,88 0,6380 0,5890 0,5120 0,2550 0,2350 0,2040 0,155 0,143 0,123 0,109 0,1 0,0869 0,0829 0,0766 0,0669 0,0643 0,0593 0,0525 0,0547 0,0506 0,0439 0,0418 0,0456 0,0502 0,0359 0,0336 0,0285 0,0293 0,0264 0,0278 35,30 33,10 26,70 -29,30 -24,10 -17,30 43,70 36,70 29,30 -19,40 -16,00 -13,90 -17,10 -14,60 -10,30 19,10 15,90 12,60 -13,50 -10,60 -8,41 -8,36 -10,30 -12,10 13,10 10,80 8,60 -7,80 -7,43 -5,07 0,6570 0,6040 0,5260 0,2590 0,2380 0,2100 0,1560 0,1440 0,1260 0,1100 0,1010 0,0876 0,0831 0,0752 0,0669 0,0683 0,0619 0,0532 0,0524 0,0467 0,0433 0,0397 0,0434 0,0470 0,0397 0,0371 0,0309 0,0309 0,0286 0,0237 PX + PY (W) (IX + IY) / 2 (A) Rh (Ohms) 291,30 251,10 190,70 50,00 43,40 36,00 21,80 18,60 13,50 11,40 9,80 7,20 6,80 5,70 4,60 5,40 4,50 3,33 3,60 3,00 2,39 3,04 3,70 4,40 3,45 3,00 2,17 2,50 2,07 1,81 0,6475 0,5965 0,5190 0,2570 0,2365 0,2070 0,1555 0,1435 0,1245 0,1095 0,1005 0,0873 0,0830 0,0759 0,0669 0,0663 0,0606 0,0529 0,0536 0,0487 0,0436 0,0408 0,0445 0,0486 0,0378 0,0354 0,0297 0,0301 0,0275 0,0258 694,8020 705,7094 707,9720 757,0139 775,9389 840,1598 901,5624 903,2526 870,9539 950,7727 970,2732 945,8053 987,0811 989,4444 1027,7931 1228,4763 1225,3703 1192,2144 1255,4044 1267,5225 1257,2598 1830,7054 1868,4514 1862,8601 2414,5466 2400,7256 2460,0670 2759,3521 2737,1907 2729,7584 por fase para cada ordem harmônica. Estes valores foram obtidos através da média dos três valores de resistência correspondentes às medições 01, 02 e 03 da tabela mencionada, sendo esta metodologia baseada no princípio da linearidade do ensaio em curto-circuito aplicado em transformadores [9]. TABELA 4 VALORES MÉDIOS DAS RESISTÊNCIAS POR FASE ENTRE AS TRÊS MEDIÇÕES REALIZADAS PARA CADA ORDEM HARMÔNICA. A fig. 2 apresenta o gráfico que permite verificar o comportamento da resistência CA da unidade ensaiada, em função da ordem harmônica. Rh' (Ohms) 0,0589 0,0598 0,0600 0,0641 0,0657 0,0712 0,0764 0,0765 0,0738 0,0805 0,0822 0,0801 0,0836 0,0838 0,0871 0,1041 0,1038 0,1010 0,1064 0,1074 0,1065 0,1551 0,1583 0,1578 0,2046 0,2034 0,2084 0,2338 0,2319 0,2313 É possível verificar na tabela mencionada, a presença de alguns valores negativos de potência ativa. Isso se deve ao fato do ângulo de defasagem entre a tensão de fase e corrente na linha utilizado nos cálculos, ser superior a noventa graus e inferior a duzentos e setenta graus (co-seno dos ângulos compreendidos nesse período é negativo). Como o cálculo dessa potência utiliza o produto entre a corrente, a tensão e o co-seno desse ângulo, conseqüentemente os valores de potência serão negativos. Entretanto a potência total da medição será efetuada através da soma aritmética dos valores de potência ativa referente às aquisições dos dois osciloscópios, ou seja, ao se efetuar a soma das indicações de potência, o valor utilizado deverá continuar negativo [7]. Através dos dados de resistência da tabela 03, gerou-se a tabela 04 que apresenta os valores médios dessa grandeza Fig.2. Comportamento da resistência CA do transformador de 15 kVA em função da freqüência. Na fig.2, pode ser observado que a resistência CA do referido transformador tem um aumento considerável do seu valor até a 9ª (nona) ordem harmônica, entretanto a partir da 11ª (décima primeira) visualiza-se uma variação de maior amplitude. V. “DERATING” PARA TRANSFORMADORES Os transformadores são projetados para operar suprindo cargas lineares, ou seja, em condições normais de operação o mesmo supri cargas que drenam corrente apenas com a freqüência fundamental. A corrente máxima drenada é função da sua potência nominal e os seus enrolamentos dissipam uma determinada energia devido as perdas adicionais e principalmente devido ao efeito joule. De acordo com [6], em ambientes puramente senoidais a equação (9) pode ser reduzida de acordo com a equação (14) abaixo. PLL = I 12 R1 (14) Os dados da tabela 4 junto com os valores eficazes das correntes que formam o espectro harmônico do ramal na 5 qual o transformador opera, permitem estabelecer um “derating” mais preciso para o transformador analisado, estando o mesmo operando em condições de suprimento de cargas não-senoidais. As tabelas 5 e 6 apresentam dados de valores médios de Distorção Harmônica Total de Corrente obtidos em um ramal de distribuição de energia elétrica da área de concessão de uma das concessionárias de energia elétrica do estado de São Paulo. Estes dados foram selecionados de forma a obter os valores médios de DHTI referentes ao horário de ponta, pois os transformadores geralmente são dimensionados de forma a trabalharem com potência nominal nesse intervalo. Esses dados serão utilizados nos cálculos do “Derating” da unidade transformadora mencionada. TABELA 5 – VALORES MÉDIOS DHTI NO PERÍODO DE 18/12 A 21/12/03 (HORÁRIO DE PONTA) TABELA 6 – VALORES MÉDIOS DHTI NO PERÍODO DE 22/12 A 25/12/03 (HORÁRIO DE PONTA) Com a finalidade de garantir a preservação da vida útil da unidade transformadora ensaiada, o cálculo do “Derating” será realizado utilizando-se os maiores valores médios de DHTI, sendo estes verificados em uma quinta feira, conforme mostra a tabela 6. Conforme os dados apresentados nas tabelas 3 e 4, o valor das perdas em 60 Hz, nos enrolamentos devido o efeito joule do transformador analisado, é de 291,30 watts quando suprindo sua potência nominal. O valor das perdas totais em ambiente não-senoidal, foi calculado utilizando-se os valores de resistência CA apresentados na tabela 4 e o espectro harmônico referente a quinta-feira da tabela 6. Assim, o valor encontrado foi de 307,13 watts. Este valor proporciona um acréscimo de 5,43% nas perdas do transformador em questão. Diante dos valores das perdas nos ambientes senoidais e não-senoidais, efetuou-se o cálculo do valor do “derating”. O valor da diferença das perdas nos enrolamentos do transformador de 15 kVA, para ambiente senoidal e nãosenoidal é de 15,83 watts. Considerando-se a linearidade do ensaio em curtocircuito [9], a utilização de uma simples regra de três permitirá obter o valor da corrente necessária para que seja compensada o acréscimo das perdas referentes às correntes harmônicas drenadas. Isto pode ser observado na expressão abaixo. 40 , 00 A 291 ,30 W = (291 ,30 W − 15 ,83 W ) I Derating Através dos cálculos efetuados, encontrou-se o valor de corrente eficaz igual a 37,83 A. Esse deverá ser o valor de corrente eficaz na freqüência fundamental na qual o carregamento do transformador não deverá exceder, visando a preservação da sua vida útil. Através dos valores encontrados anteriormente, efetuouse o cálculo do valor do “derating” igual à aproximadamente 0,95. Este é o valor encontrado para a razão entre e a corrente Iderating e a corrente nominal do transformador. Assim a potência do transformador para a componente de corrente fundamental será de aproximadamente 14,18 kVA. A distorção harmônica de aproximadamente 25% pode comprometer a vida útil do transformador, reduzindo-a para 60% [2]. VI. CONCLUSÕES Este trabalho apresentou a determinação do “derating” para uma unidade transformadora de distribuição trifásica, utilizando-se nos seus cálculos espectros harmônicos de corrente características de ramais de distribuição. A resistência CA do transformador foi determinada através do ensaio em curto-circuito, para as componentes compreendidas entre a fundamental e a décima nona ordem. Foi possível verificar o acréscimo das perdas joules em função de distorção harmônica, e assim, tendo como conseqüência o aumento da temperatura de funcionamento do transformador, vindo a diminuir a sua vida útil. O “derating” obtido não teve amplitude muito baixa, pois foi mencionado anteriormente que a unidade transformadora tem apenas 15 kVA de capacidade. Entretanto, uma atenção maior deve ser dada para transformadores de maior capacidade, pois estes possuem condutores com maiores secções transversais e assim, favorecem para que o efeito skin e o efeito proximidade atuem com maior intensidade vindo a aumentar a resistência CA dos enrolamentos do transformador. O valor do “derating” de 0,95 implica na redução de capacidade de aproximadamente 1 kVA para unidade transformadora de 15 kVA. Todavia o mesmo valor de “derating” para uma unidade transformadora de distribuição com capacidade de 225 kVA representa 11,25 kVA. Este valor pode fazer com que a empresa distribuidora deixe de alimentar um ou mais clientes através deste transformador, visando preservar a vida do equipamento. Algumas concessionárias distribuidoras de energia elétrica costumam dimensionar seus transformadores de distribuição de forma que os mesmos operem com sobrecarga de 110% a 140% no horário de ponta. Assim a metodologia de “derating” apresentada no presente trabalho pode ser aplicada também a estes carregamentos. VII. REFERÊNCIAS [1] Vieira Jr. J. B., “Eletrônica de Potência” Apostila editada pela Universidade Federal de Uberlândia, 2002. [2] Delaiba A. C., “The Effect Of Harmonics On Power Transformers Loss Of Life”, IEEE/1996. [3] Emanuel E. Alexander and Wang Xiaoming., “Estimation of Loss of Life of power Transformers Supplying Nonlinear Loads”, IEEE Trans. on Power apparatus and Systems, Vol. PAS-104, nº3, March 1985. 6 [4] ANSI/IEEE “Recommended Practice for Establishing Transformer Capability, When Supplying Non-Sinusoidal Load Currents ”, IEEE, NY, / Febr. 1998. [5] Ewald, F. 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Graduado em Engenharia Elétrica pela Faculdade de Engenharia de LinsLINS-Brazil, em 1978; .Grau M.Sc pela USP-São Carlos, Brasil, em 1987. Obteve Ph.D. em engenharia Elétrica pela UNICAMP-Campinas, Brasil, em 1996. Trabalha como professor Adjunto no Departamento de Engenharia Elétrica da FE-IS UNESP em Ilha Solteira.-Brasil desde 1980. Luís Carlos Origa de Oliveira- nascido em Mirassol (SP), Basil, em 08 de Setembro 1955.. Graduado em Engenharia Elétrica pela Faculdade de Engenharia de Lins- LINS-Brazil, em 1978; .Grau M.Sc pela Escola Federal de Itajubá em 1983. Obteve Ph.D. em Engenharia Elétrica pela UNICAMP-Campinas, Brasil, in 1990. Trabalha como professor Adjunto no Departamento de Engenharia Elétrica da FE-IS UNESP em Ilha Solteira.-Brasil desde 1979. Júlio Borges de Souza – nascido em Três Logoas (MS). Brasil, em 06 de Setembro de 1956. Graduado em Engenharia Elétrica pela Escola de Engenharia de Itajubá-Brasil, em 1980. Grau de M.Sc. em Engenharia Elétrica pela UNICAMP-Campinas, Brasil, in 1990. Obteve Ph.D. em engenharia Elétrica pela UNESP-Ilha Solteira, Brasil, em 2005. Trabalha no Departamento de Engenharia Elétrica UNESP-Ilha Solteira, Brasil desde 1981.. Luciano Santos – nascido em Jales (SP) Brasil, em 18 de março de 1975. Graduado em Engenharia Elétrica pela UFU Uberlândia-MG, Brasil, em 2003. Grau de M.Sc. em engenharia Elétrica pela UNESP-Ilha Solteira, Brasil., em 2006.