8 RIO BRANCO - 80 ANOS DE GLÓRIAS O Colégio Rio Branco foi fundado em 1920 pelo Professor José Costa Júnior. Após algum tempo assumiu a direção o Professor Mário Bittencourt. Em 1930 o Professor José Cortês Coutinho, nessa ocasião funcionava com internato e semi-internato, substituiu-o Carlos Marques Brambilla que após memorável luta em 1936 conseguiu a oficialização do Estabelecimento de Ensino. Em 1939, em franca decadência, com dificuldades financeiras, formou-se uma Junta Governativa composta por Olívio Bastos, José de Oliveira Borges e José Mansur para administrar a entidade. Assim o Colégio Rio Branco recebeu de Olívio Bastos as benesses de sua visão administrativa. Assumindo a direção em momento difícil, coube a ele transformar, ampliar, construir novas salas, equipando-as de novo mobiliário, laboratório, moderna quadra de esportes, que ainda perduram. Por várias décadas, a Direção Técnica esteve entregue à Professora Maria do Carmo Baptista de Oliveira, Dona Carmita, que com zelo e eficiência, energia e idealismo desempenhou ali sua missào. Em 1958, após o falecimento do Diretor Proprietário, Senhor Olívio Bastos, sua família fundou a Sociedade Educadora Limitada, constituída de Dona Vivaldina Martins Bastos, viúva do saudoso Diretor e de seus filhos Ésio Martins Bastos, jornalista, admirável mestre da imprensa interiorana, proprietário do jornal "O NORTE FLUMINENSE", fundado por ele em 1945 , sendo até hoje seu Redator , com o mesmo brilho e inteligência; Maria Ruth Bastos Guerra, emérita Professora do Colégio e Dr. Luciano Augusto Bastos, advogado, figura de maior destaque em nosso município, com invejável currículo, com indeléveis marcas nos mais variados segmentos, cabendo a este último a Direção Comercial, levando o Rio Branco a novas conquistas e realizações, ampliando suas dependências e cursos. Após a aposentadoria de D. Carmita, assumiu também a Direção Técnica. Oitenta anos de História!... Honra ao Mérito aos dirigentes que com garra e bravura, superando dificuldades sem conta, garantiram o funcionamento desta Casa de Ensino, ao longo de sua existência, deixando edificantes exemplos e marcas perenes de suas realizações. Honra ao Mérito aos professores que além dos conhecimentos que transmitiram a cada aluno, deixaram seus exemplos de fraternidade, civismo e cumprimento do dever e também a todos os funcionários de todas as épocas e das mais variadas funções, que anonimamente prestaram valiosos e indispensáveis serviços. Rio Branco, um facho de radiosa luz, que se faz presente em toda parte, pois quantos ali estudaram, continuaram os estudos e hoje, como ontem, ocupam cargos de relevo nesse nosso tão amado Brasil e até mesmo além-fronteiras.... São Advogados, Juízes, Promotores, Desembargadores, Médicos, Engenheiros, Professores, Empresários bem sucedidos, Parlamentares, Ministros, Profissionais Liberais, Prefeitos e dois notáveis Governadores do Estado do Rio de Janeiro, Roberto Abril, Maio e Junho/2000 - Astros & Estros Silveira e Badger Silveira. Seu atual diretor proprietário, o emérito educador, historiador, Dr. Luciano Augusto Bastos, não esmorece jamais. A alma desse homem impávido não se refestela, ela tem sede de progresso, preocupa-se com a modernização e principalmente com a qualidade de Ensino. Temperamento afável e solícito, bom esposo, pai sensível, avô extremado. De acendrado amor a Bom Jesus, faz de sua vida uma SINFONIA de trabalho para a valorização da Cultura , da Arte, do Bem, do Bom e do Belo... Pertence a Entidades Culturais, é membro e foi presidente do Rotary Clube local, seguindo literalmente o lema "SERVIR, SEMPRE SERVIR". Presidente da Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil, criada por sua iniciativa. Sua atividade comunitária alcança relevo, à frente do Centro Popular Pró-Melhoramentos de Bom Jesus do Itabapoana, atuando no Hospital São Vicente de Paulo, Instituto de Menores e Casa das Meninas. Na política ocupa lugar de destaque; na imprensa participa com o brilho de sua invulgar inteligência. No esporte, foi atleta e dirigente do Olímpico Futebol Clube, fundador da Liga Bonjesuense de Desportos, criador dos Jogos Estudantis de Bom Jesus e do Campeonato de Futebol Rural. Foi Secretário Municipal de Educação e Membro do Conselho Municipal de Educação. O Colégio Rio Branco há oito décadas vem cumprindo seu destino com altruísmo e galhardia, orientando com segurança e esmero a juventude de nossa tão amada Bom Jesus, assim como a da Região Noroeste e municípios de Estados vizinhos. Todos nós estamos de parabéns... Parabéns Rio Branco!... Parabéns Dr. Luciano Bastos!... Vera Maria Viana Borges RIO BRANCO Vera Maria Viana Borges Rio Branco de feitos imortais Esparzindo a cultura com vitória, Torna concretos nobres ideais, Colhe os louros, coroa meritória. Áurea luz que rebrilha mais e mais! O honrado nome cresce em fama e glória, Indo à porfia em lutas magistrais Altaneiro e garboso está na História. Escola idolatrada eu te bendigo, Por teu presente e pelo teu passado, Em ti se encontra o mais sublime abrigo. Bendito Templo que emoldura o espaço, Onde se colhe o fruto sazonado, Segue marchando sem perder o passo!... LER É CRESCER! CULTIVE ESTA IDÉIA! Abril, Maio e Junho/2000 - Astros & Estros ANO V - Nº 24 ABRIL, MAIO e JUNHO/2000 22 de abril de 2000 - BRASIL, 500 ANOS! PARABÉNS BRASIL! "ASTROS & ESTROS" INICIANDO O 5º ANO DE CIRCULAÇÃO FELICIDADE Vera Maria Viana Borges Busquei-te na criança que brincava, Até mesmo num ponto verdejante, Na bela rosa que desabrochava, No céu, no mar, num monte tão distante. Vera Maria Viana Borges O humano ser falaz, alucinado, Em pego escuro empurra o próprio amigo Em busca de ascensão, e em excitado Ardor, fustiga e o deixa sem abrigo. Em vão busquei-te em nuvem que passava, Tornou-se compulsão, gesto incessante: Obsessivamente eu procurava. Encontrei-te em meu peito num instante. No abismo cai, carpindo ele é lançado, E no holocausto, amargo, por castigo, Intrépido, remindo, é lapidado, Alça em remígio e triunfa no perigo. Pude ver-te em manhã de sol ardente, No entardecer de brisa tão fagueira, Na noite de luar resplandecente. Pérolas deslumbrantes, nacaradas, Imersas no profundo do oceano, Habitantes de concha, aprisionadas... No meu interior brilhou a luz: Felicidade existe, é companheira Daquele que em seu peito tem Jesus. No manto negro, estrela coruscante... Para todas há espaço... todo humano Deverá ter direito ao sol brilhante. BRASIL Vera Maria Viana Borges Rio sinuoso, matas, Estrelas, brilhante sol, Luar de prata, cascatas, O canto do rouxinol. Inseto, flor, animal, Serra; mar encapelado De beleza sem igual, Com ternura sempre olhado. Nosso homem que trabalha, Quem ensina, quem estuda, Quem governa, quem espalha O bem, e a todos ajuda. Terra-mãe na qual pisamos, De céu azul qual veludo, É a PÁTRIA que nós amamos: “BRASIL, acima de tudo!” DIREITO AO SOL ÉS SOL, QUERIDO! Vera Maria Viana Borges És Sol, querido, és Sol, ardente amor, Que me aquece e me enleva com doçura. Jóia rara, de rútilo esplendor Que me abraça e me beija com ternura. Nada haverá pois, de maior valor... Mesmo as flores com tanta formosura, Vibrarão além deste nosso ardor Que é paz, é gozo, é calma e é loucura. Eras quase um menino, bem me lembro... Na imagem refletida em alabastro Vejo o teu rosto, o corpo e cada membro. Por tantos anos já somos casados! Com as bênçãos de Jesus, grandioso ASTRO, Seremos para sempre NAMORADOS. 2 EDITORIAL Iniciamos nesta edição o quinto ano de circulação de Astros & Estros. Que o amor de Jesus e de Maria nos sustentem e a proteção d'Eles nos dê segurança e nos anime em nossa caminhada. A resposta positiva que temos recebido de nossos caros confrades nos encoraja e gratifica sobremaneira, fazendo-nos convictos de que estamos no caminho que certamente resultará em maior empenho de todos na construção de uma sociedade mais justa, fraterna, participativa, e cada vez mais atenta aos acontecimentos do dia-a-dia. Nem só em tecnologia se resume a vida moderna. Buscar uma maior integração entre povos, entre pessoas, descobrindo a capacidade do convívio, e ter acesso a jóias literárias que nos enaltecem, enlevam, sublimam, faz-nos sonhar, aumentar a auto-estima, produzindo a sensação de felicidade plena. São os frutos colhidos em nossa trajetória. Felizes somos nós que sabemos e podemos sonhar. A vida dependendo de cada um de nós poderá ser um belo sonho, um belo e doce sonhar. Usufruamos das benesses concedidas pela literatura. Prossigamos no ideal de nosso patrono- São Francisco de Assis, seguindo o que ele ensina em sua oração: "Senhor, fazei-me um instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor, onde houver ofensa, que eu leve o perdão, onde houver discórdia, que eu leve a união, onde houver dúvidas, que eu leve a fé, onde houver erro, que eu leve a verdade, onde hover desespero, que eu leve a esperança, onde houver tristeza, que eu leve a alegria, onde houver trevas, que eu leve a luz. Mestre, fazei que eu procure mais consolar do que ser consolado, compreender do que ser compreendido, amar do que ser amado. Pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, é morrendo que se vive para A VIDA ETERNA! "A MÃE é a mais bela obra de DEUS." A. GARRET EXPEDIENTE ASTROS & ESTROS Boletim Alternativo · PROSA & POESIA Circulação Nacional e Internacional Fundador, Editor e Redator: Vera Maria Viana Borges Rua Ver. João Rodrigues do Carmo, 220 Bom Jesus do Itabapoana - RJ - BRASIL CEP 28360-000 - Tel. (0**24) 831-1424 e-mail: [email protected] Abril, Maio e Junho/2000 - Astros & Estros TENHO FÉ Teresinka Pereira Camarada, tenho fé e venho juntar meu braço ao braço de quem luta pondo justiça nesta terra. Tenho fé em teu braço, camarada, e tenho fé no meu, agarrado à pena que é meu fuzil de tinta. Posso escrever-te versos e mais versos sobre minha fé em nossos braços porque com eles trabalhamos, lutamos e amamos. Seremos milhões de vitórias juntas em uma só quando nossa fé possa romper os arames das fronteiras, os preconceitos, as bandeiras, e sobretudo os milhões de dólares gastados para manter-nos sem fé e sem esperança. SONETO DA LIBERTAÇÃO Ialmar Pio Schneider Quero o caminho da libertação para seguir na vida mais confiante, se alimentava mórbida ilusão procurarei baní-la, doravante. Preciso estar alerta a todo instante e suportar a humana condição, minha vigília deve ser constante neste universo envolto em turbilhão... Levo comigo a chama da esperança e apesar dos percalços da existência tenho fé, tenho amor, tenho confiança... Não mais serei o náufrago perdido pelos mares da angústia e da impaciência, porque vencendo-me, terei vencido! Quem é capaz não compete, O Inspirado não copia. É MÁQUINA que repete, ARTISTA, é aquele que cria. Nas ARTES principalmente É triste a competição, Pois sabe o que tem SÃ MENTE, Vem do ALTO a inspiração. O bom é deixar que aflore Espontânea a inspiração, E a união de ASTROS decore Em bela CONSTELAÇÃO. VERA MARIA VIANA BORGES Abril, Maio e Junho/2000 - Astros & Estros O MISTÉRIO EM SI Maria da Glória Campos Vinte e sete de junho De mil novecentos e onze, Nasce um pequeno mistério, Criança normal e comum, Juventude alegre, De família simples, De família humilde... Mas uma queda lhe mostra, Os desígnios de Deus Deixando-lhe totalmente, paralizada. Mas não se deixou render por aquela provação, Lutou, viveu ensinando muitos A lutarem e a vencerem pela força Da fé e pelo poder da EUCARISTIA, Tudo direcionado ao bem comum. Vivendo somente, então, recostada, Sem comer, beber, e mais tarde sem dormir, Assim foi sua vida, Decidiu com Jesus e por Jesus prosseguir. Somente com a COMUNHÃO diária, Enfrentou dores e tristezas, Mas com coragem, alegria e fé, Por longos anos sobreviveu. Sei que não é fácil acreditar, E nos dias de hoje encontrar, Alguém assim tão especial. É fato impressionante, verdadeiro, Que temos as bênçãos de Deus, Pois Lôla rezou pelo povo brasileiro E pelo mundo também. Vivendo para o CORAÇÃO DAQUELE, Que ama a humanidade, O SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS. Mas ao cumprir sua missão, Vivendo de fé e oração, Fraterna e solidária, O povo com muita emoção, Chorou ao vê-la partir. LÔLA se foi para Deus, Mas não nos abandonou aqui, Mil novecentos e noventa e nove, nove de abril. O seu beija-flor, Neste mundo ainda ficou, Alegrando os nossos dias, Pois todos se alegram Com esta presença amiga. Uma avezinha, Flutuando na PAZ e na ALEGRIA. O meio de comunicação de LÔLA De fé e de esperança, De que ela e Jesus estão atentos, À felicidade e paz no mundo, Pela força da fé, poder da confiança, Da humildade, da solidariedade E da Oração. Por intercessão de LÔLA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS, E MARIA SANTÍSSIMA, Milagres foram e ainda são comuns, Pois LÔLA é o MILAGRE EM SI. Distante do mundo material, Com uma fé imortal, Deixou muitas mensagens, Entre tantas, testemunhadas por ela. Confiar, "JESUS QUER A CONFIANÇA". DELE vêm as palavras: "Pedi e recebereis, procurai e achareis, Batei e abrir-se-vos-á." Estas palavras são: Segredo do cofre de todas as realizações. O coração é o cofre, Abri-mo-lo, então, para recebermos Os tesouros, que são as GRAÇAS de DEUS. 7 Observações da autora do texto acima: LÔLA (Floripes Maria de jesus ou Floripes Maria da Costa ou Floripes Dornellas de Jesus) a presença viva de Jesus no meio de nós, num testemunho de fé e vida, nasceu em 27 de junho de 1911. Entrou para a PIA UNIÃO DE FILHAS DE MARIA em 1934. Em 1935 caiu de uma jabuticabeira, ficando totalmente paralizada. Após a queda tomava somente caldo de lima, mas depois rejeitou todo e qualquer tipo de alimentação. Não comia, não bebia, não dormia, vivia recostada sem poder mudar de posição, dia e noite. No início usava um colchão muitíssimo fino, depois pediu à sua mãe, Dona Deolinda que lhe tirasse o colchão e assim ela viveu por sessenta e quatro anos, vindo a falecer no dia 09 de abril de 1999. Morava em um recanto, próximo à cidade de Rio Pomba-MG. Nos últimos anos em vista da perda dos pais e irmãos, morava sozinha e os riopombenses a respeitavam e protegiam. Um beija-flor a acompanhava e quando ele invadia as casas o povo presumia ser uma mensagem de LÔLA e ainda hoje quando ele sobrevoa os lugares, sente-se a presença daquela que tanto amou o CORAÇÃO DE JESUS, que apenas se alimentava da Eucaristia, recebia a COMUNHÃO diária. Uma vez por dia, recebia o alimento da alma que é a HÓSTIA CONSAGRADA. "Nada no mundo igual à amizade; os amigos são o sal da terra." Jorge Amado 4 PUXAR O TAPETE Maria Thereza Cavalheiro "Puxar o tapete" é uma antiga expressão, e diz bem de dores de cotovelo, de complexos de inferioridade, de ambições desenfreadas. "Puxar o tapete"tem muito a ver com a traição, a perfídia, o ódio, o rancor, a incompetência; o medo de perder sua própria posição. "Puxar o tapete" não é chegar na cara da pessoa e dizer uma série de impropérios. Ao contrário, é tratá-la com falsos sorrisos até, dar-lhe aqueles tapinhas aparentemente amigáveis, e depois... Depois destilar a intriga: uma palavra esboçada, um duvidoso menear de cabeça, um levantar de sobrancelhas quando alguém lhe pronuncia o nome. Mas pode ser mais: um conceito claro em detrimento da pessoa visada, o apontamento de um erro (quem não erra?), de uma fraqueza (e quem não as tem?) - qualquer coisa que induza (isso mesmo: indução) a uma suspeita sobre o seu caráter. "Puxar o tapete" é coisa feia, porque é jogo sujo. Pessoas que "puxam o tapete" de outras deviam ter vergonha de si mesmas, de se mirarem ao espelho. Quem "puxa o tapete" age com má fé, derruba o "inimigo" sem olhá-lo nos olhos. E ainda se vangloria disso, acha-se muito inteligente. Quem "puxa o tapete" deve lembrar-se de que um dia, mais cedo ou mais tarde, vai ter de prestar contas disso. Não ao que ficou no chão, mas Àquele que fica lá no Alto. Porque nada permanece imune aos olhos de Deus. A BROA DO SEU INÁCIO Alaôr Eduardo Scisínio O hábito que Eduardo tinha de reclamar vinha de sua infância. Garoto, freqüentava, em Itaocara, o bar do Seu Inácio Côrtes, cuja esposa, Dª Maria, fazia uma broa deliciosa. Costumeiramente o Eduardo a consumia com café e leite. O café era torrado e moído pelo próprio Seu Inácio. Eduardo cresceu como freguês do "Café Estrela". Era este o nome do barzinho. Homem feito, aventurou-se a uma reclamação mais ou menos justa: – Seu Inácio. lembro-me de que, quando garoto, com os meus oito para nove anos, para comer a sua broa eu dava umas quatro a seis dentadas e agora numa só eu como toda a broa. – Meu amigo: a broa é do mesmo tamanho. A sua boca era pequenininha e ficou desse tamanho. Eu não posso fazer o tamanho da broa acompanhar o crescimento da boca do meu freguês. (Extraído do livro "MARANDUERA PIRAQUARA" de Alaôr Eduardo Scisínio) Abril, Maio e Junho/2000 - Astros & Estros ELE PERMITIU, ELE RESOLVE Lóla Prata Eu via a responsável pela disciplina do colégio fazendo a ronda entre os corredores da escola, segurando um rosário, enquanto murmurava repetidas orações. Na saída da aula,interceptei-a, indiscreta: – Você anda muito preocupada... posso ajudá-la? – Pode rezar por minha filha! Ela está grávida; o feto apresentou várias anomalias congênitas e o aborto terapêutico foi recomendado, urgente, pois com a má formação, se nascer, poderá ser terrível. E eu rezo para que ela resolva logo... dá pena vê-la nesse impasse, sem se decidir. A confidência deixou-me, também, um tanto angustiada; orei pela parturiente na gestação frustrada, pela cristã, diante de um ato extremo. Algum tempo depois, interpelei minha amiga, ao que ela contou: – Sabe o que minha filha resolveu? Não vai submeterse ao aborto. Disse que, se Deus permitiu tal acontecimento, Ele o resolverá. E assim fez a moça. Até o fim da gravidez, entregouse a Ele. Completados os nove meses, chega a grande hora. Parto cesariana, nasce um bebê de aparência desagradável, chora forte para a vida e, num soluço suave, morre. Foi sepultado na tristeza da família, mas em louvores a Deus que o poupara de tantas agruras terrenas. A mãe só teve saudade, não remorso. Era uma heroína. E inspirou-me esses versos: DOCE MARTÍRIO Feto doente, diz-lhe o lente, Sem esperança... Incisivo conselho: Aborto terapêutico, Legalizado, sem tardança! Ela... aperta a agrura, Reflete, escolhe, não tolhe A vida concebida! Rezem por mim, pede... Livre-me Deus da desventura De matar indefesa criatura! O pequeno cresce e recrudesce... A mártir só se engrandece Nas lágrimas e no contido temor Até que o esperado dia amanhece. Criança fraca, triste, enferma, Fica pouco neste mundo. Minutos depois... revive em amor Em espaço além, na eternidade! Aqui deixa mãe em felicidade De plácida e cálida e apenas... saudade! (Extraído do livro- "PROVAI E VEDE COMO O SENHOR É BOM" de Maria de Lourdes Prata Garcia - Lóla Prata) PROVAI E VEDE... COMO O SENHOR É BOM! Felizes os que n'Ele se refugiam! (Salmo 33-9) 5 Abril, Maio e Junho/2000 - Astros & Estros SONETOS & ASTROS (Soneto-Poesia Clássica devidamente metrificada e rimada, agrupada em dois quartetos e dois tercetos) FALANDO COM DEUS Hildemar de A. Costa Eu sei Senhor, que a vida se resume no tempo parcelado pelos anos, que há momento de riso ou de queixume, num misto de prazer e desenganos. A. Isaías Ramires Tu passaste por mim, já não me lembro quando. Sei, apenas, que o dia era brumoso e frio; e após já tanto tempo fico recordando a beleza sem par do teu olhar de estio... Sei que o desejo de chegar ao cume nivela em ambição entes humanos, como sei que da flor vem o perfume, revelado nos ares soberanos. Tu falavas de amor num tom tristonho e brando, tinha dons divinais o teu corpinho esguio... Surgiste como um sol iluminando o rio de sonhos e ilusões que em mim vinha rolando! Entretanto Senhor, eu não entendo tanto ódio neste mundo convertendo mortais em verdadeiros seres brutos. Tu foste em meu caminho um anjo de ventura, vives pro seu amor que já não mais fulgura e como um sol de ocaso é frio, não tem vida... E nem posso entender que a duração de seis dias, em Vossa Construção, esteja a depender de alguns minutos! Olhando para trás, eu vejo esfacelado o castelo feliz que erguemos no passado, em noite que ficou na imensidão perdida! DEVANEIO ESTROS & TROVAS (Trova- quatro versos setissílabos rigorosamente metrificados e rimados) Somente Deus na alma gera sentimento de bondade e dá tons de primavera a uma fria realidade! Lola Prata Eu sou quem anula planos (os grandes planos, talvez). Rainha dos desenganos, o meu nome é Timidez! Ederson Cardoso de Lima Hoje a vida em seus desvelos troca em nome da ilusão o luar dos meus cabelos pelo sol do coração. Antônio Bispo dos Santos Minha terra, os sonhos seus são de tal porte e tal gala, que creio mesmo que Deus exagerou ao criá-la! Eduardo A. O. Toledo Quem tem esperança faz bem feliz os seus amigos, e quase sempre é capaz de perdoar inimigos. Haroldo R. Castro Estranho é o canto que eu canto, no meu canto recolhido, é que eu canto o desencanto do meu encanto perdido! Miguel J. Malty Onde se pode encontrar Um amigo verdadeiro? Mais fácil a gente achar Uma agulha no palheiro. Felisbelo da Silva -Como vais? - eu te pergunto, e espero a resposta, após. Não é por ter um assunto, é para ouvir tua voz... Colombina Morre o sol. Nasce a tristeza no entardecer que enviúva... E o pranto da natureza se transforma logo em chuva! Amaryllis Schloenbach Originário de um surto de inspiração impudica, o plágio é o único furto que o próprio ladrão publica. Rodrigues Crespo Alma estranha esta que abrigo, esta que o ocaso me deu, tem tantas almas consigo, que eu nem sei bem quem sou eu... Raul de Leoni Saudade, palavra doce, que traduz tanto amargor! Saudade é como se fosse espinho cheirando a flor. Bastos Tigre 6 Abril, Maio e Junho/2000 - Astros & Estros MÃE Filemon Francisco Martins Anjo dos céus sobre a terra é a mãe, que jamais erra, nessa missão sem igual de pôr na mente menina um pouco de luz divina que guia e combate o mal. Quem tem mãe, na realidade, tem grande felicidade, pois seu amor é profundo. Amor singular, bendito, que jamais será descrito pelos poetas do mundo. Estrela d 'Alva brilhando, com sua luz nos guiando pelos caminhos do bem; mãe - flor de afeto, querida, que filho algum, nesta vida, outra mais bela não tem. Eis a nossa gratidão, do íntimo do coração pelo que fazes no lar. Que sejas abençoada nessa missão consagrada de viver para embalar! ORAÇÃO DO AMANHÃ Alice de Oliveira Senhor, Quando eu não mais puder Mover meus próprios passos E depender de outros Para por mim fazê-lo... Quando eu não mais puder Ver com meus próprios olhos E depender de alguém Que queira me conduzir... Quando eu não mais puder Sorrir para os amigos Por ter no meu semblante A névoa da tristeza... Quando eu não mais puder Soltar os meus cabelos Para que o vento os leve Em revoltosos cachos... Quando eu não mais puder Usar as minhas mãos Para colher as flores Do meu jardim no vale... Quando eu não mais puder Usar a minha voz Para cantar meus versos Louvando a Natureza... Quando eu não mais puder Usar meus pensamentos Lembrando-me daqueles Que me querem tão bem... Quando eu não mais puder Usar os meus sentidos Para escrever ou ler Ou meditar calada... Quando eu não mais puder Acordar-me bem cedo Levantar-me de um salto, Correr à janela Cumprimentando o dia; E respirar bem fundo O ar que vem de Vós... Humildemente eu peço Senhor, humildemente: Não me deixeis aqui Nem mais um só instante Fazei-me renascer Bem longe, noutros planos Para continuar Meus sonhos de poeta Viver em meu cantinho O meu viver de asceta Obedecendo assim A lenta evolução Que o ser humano traz Em sua trajetória Cumprindo a Santa Lei Que é sempre obrigatória Para se alcançar de Vós Senhor, a Redenção!... ESTRELAS P de Petrus Deixemos o que é mau: - as lembranças abjetas, as pretensões banais, que tanto transfiguram; e olhemos, todo o azul, onde estrelas fulguram, para vê-las lançando as coruscantes setas!... E ao mirá-las no céu, em que, de noite, juram, quando falam, baixinho, às irmãs indiscretas, podemos compreender, - com os olhos de poetas, o que seus olhos vêem e seus lábios murmuram. Toda estrela tem alma, e gentis sentimentos, e um coração que pulsa, em todos os momentos, num festival de luz, nos longes das esferas. Tal qual sonhamos nós, no esplêndido regaço, sonham, tremeluzindo, as estrelas no espaço, florescendo de amor num leito de quimeras! Aprendi que a caminhada, Mais forte que a voz do rei Para o sul ou para o norte, É a voz do homem da rua. Nunca depende da estrada, O rei passa, passa o rei, Sempre depende da sorte... Mas, o povo continua. SÓLON BORGES DOS REIS Abril, Maio e Junho/2000 - Astros & Estros COMPLETANDO MEUS NOVENTA E QUATRO ANOS DE VIDA (18-04-2000) Oswaldo Augusto de Freitas Fiz meus noventa e quatro anos de vida, Dádiva que do Alto alcancei, Foi magistral a estrada percorrida, No meu entardecer feliz cheguei. Todos os sonhos da minha adolescência, Projetos mil da minha mocidade, Atração pelo estudo, pela ciência, À luta me atirei com intensidade. Vários horizontes conquistei, Meus sonhos afetivos realizei, A família foi suave sinfonia. Mas no passado tudo hoje ficou, Grande prazer na vida me restou, Linda prole me enchendo de alegria. TROVA GLOSADA MOTE: A saudade é calculada por algarismos, também: - Distância multiplicada pelo fator querer bem. Bastos Tigre (1882-1955) GLOSA DE ENO THEODORO WANKE A saudade é calculada quando é pouca ou quase nula. - Quando é grande, eis que a danada dói, dói... - e ninguém calcula... Mas como medir saudade por algarismos também? Quando chega e nos invade, não se mede - só se tem! Se vou para longe, nada me consola. a vida é morta. Distância multiplicada, a saudade não suporta! Se a saudade me atormenta e tanta angústia contém, é que ela cresce, ela aumenta pelo fator querer bem. BOM DIA, AMIGO SOL Miguel Russowsky Bom dia, amigo sol! Eu te saúdo! Entra! A janela está escancarada... Favor trazer a brisa perfumada e mais o que puderes... Eu te ajudo! Vem bater nos cristais! Brilhar em tudo com o alegre fluir da madrugada... Há gerânios sorrindo na sacada... Há dez rimas à espera em meu estudo... Vem colorir as flores que desenho no papel, em buquês de fantasia! Estou compondo... Vês quanto me empenho? Bom dia, amigo sol! Pousa de leve nesse caderno meu, de poesia! Vem! Toma a caneta... ensaia... escreve... 3 TEMPOS FELIZES Sérgio Bernardo Com que ternura recordo as brincadeiras a bordo da nau festiva da infância... Era um cruzeiro sem medo, cortando um mar de brinquedo que se perdeu na distância... Nesse tempo, eu fui pirata! Uma caixinha de lata era o baú do tesouro... Dentro dela, em meus inventos, uns meros calhaus cinzentos brilhavam mais do que o ouro! Para erguer lindos castelos bastavam pregos, martelos, uns madeirames e telhas... Sobre as árvores mais altas, eu fui o Rei dos peraltas num reino de tábuas velhas! No meu quartel de quimera, fui soldado quando eu era um guri de mechas louras. Como quem cavalos monta, quantas vezes fiz de conta que galopava em vassouras! Desse mundo de criança uma infinita lembrança foi o quinhão que me coube. E hoje resta uma evidência: - Lá, na aurora da existência, eu fui feliz... e não soube! IDEAL João Justiniano da Fonseca Era moço ao sair, levando uma esperança e a algibeira vazia, empós do meu destino. Sobre urzes caminhei ao sol ardente e a pino, sem complexos ou mágoa, alma tranqüila e mansa. Transpus ermos à noite. A escalada não cansa a quem persegue um sonho, um ideal genuíno. Dia e noite, soalheira ou frio, era o meu hino um cântico de amor e eterna confiança. Confundido no bem, se o bem é o que suponho, não recusei um sonho a quem pedia o sonho, não recusei amor a quem amor pedia. E afinal... Oh! ilusão, oh! encantada esperança... o longínquo ideal, a gente não o alcança por muito que ande - dia e noite, noite e dia! És tu poeta, o mensageiro alado A manhã comigo fala num salmo cheio de luz, do amor e da esperança lado a lado Nessa harmoniosa escala a esparzir poesia a todo universo quando o seu coração declama o diapasão é JESUS. um verso! Miguel J. Malty Oefe Souza