Nome: Maria Amelia Santana Lugão Bichibichi Disciplina: Português Tipo de Produção Didático Pedagógica: OAC Instituição: UTFPR Núcleo: AMNORTE Município: Piraquara Título: A argumentação deve ser desenvolvida A construção de material teórico e prático sobre o ensino da Língua Portuguesa com base nos gêneros textuais que exijam argumentação, se dará com a leitura, reflexão do material bibliográfico pesquisado e já mencionado que culminará na confecção de um OAC, cuja temática será textos que tenham seqüências argumentativas. Também haverá a seleção de textos para serem trabalhados em sala de aula individualmente e em grupos de 4 alunos, textos para elaboração de um jornal-mural a ser executado pelos alunos das 7ª séries, tendo sempre como objetivo principal o desenvolvimento da capacidade argumentativa dos alunos e um maior domínio do discursivo na oralidade, na leitura e na escrita. A seleção de textos será feita com a colaboração dos professores em rede – GTR. OBJETIVOS Desenvolver a capacidade argumentativa dos alunos através de propostas a serem desenvolvidas em sala, com atividades de leitura, oralidade e escrita. Aprimorar as possibilidades de os alunos se apropriarem do domínio discursivo na oralidade, na leitura e na escrita, para que compreendam e interfiram nas relações de poder, em relação ao pensamento e às práticas de linguagem imprescindíveis ao convívio social. Criar oportunidades para o aluno refletir, construir idéias, levantar hipóteses e argumentar, a partir da leitura e da escrita de textos diversos. Produzir material didático para realizar um trabalho criativo com os alunos do Ensino Fundamental, especialmente os da 7ª e 8ª séries, para que desenvolvam seu poder de argumentação. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O ensino de técnicas argumentativas é fundamental. Argumentar prescinde de amadurecimento cognitivo-intelectivo. E o desenvolvimento do poder argumentativo do aluno será buscado, não só com o ensino de técnicas argumentativas, bem como através de leituras, discussões, produção de textos no dia a dia em sala de aula, além de debates, entrevistas e produção de um jornal mural. Durante o processo, portanto, o professor deve trabalhar, concomitantemente, com as possibilidades de leitura e de interpretação de texto, aliadas à multiplicidade de formas de análise, opiniões e formas de redigir. A argumentação busca convencer, influenciar, persuadir alguém, defender ou repudiar uma tese ou ponto de vista. E sendo a argumentatividade fundamental para a interação social por intermédio da língua, tem-se a importância de fazer um trabalho efetivo na escola que leve o aluno a desenvolver essa capacidade (habilidade) tão necessária para torná-lo um cidadão capaz de atuar plenamente na sociedade. KOCH (2006) defende que o ato lingüístico fundamental é o ato de argumentar, muito mais do que se comunicar. Eu concordo e acredito que os alunos devem desenvolver a sua capacidade argumentativa, não só para saberem defender seus pontos de vista, mas também para conseguirem reconhecer a validade dos argumentos que lhe são apresentados diariamente por outras pessoas e não aceitarem simplesmente porque a fala do outro é envolvente. Argumentar é apresentar argumentos, razões no sentido de suportar uma determinada tese subjacente a um determinado discurso. A argumentação tem um carácter dialéctico (diferente da demonstração lógica) pois implica uma resposta da parte do receptor, um confronto de pontos de vista. O professor de Português deve desenvolver a capacidade argumentativa de seus alunos, se pautando em um ensino – aprendizagem que leve em conta os textos, que se concretizam na forma de gêneros textuais (falados e escritos), para que aprimorem o domínio discursivo na oralidade, leitura e escrita e assim possam desenvolver técnicas para realizar a argumentação e também desenvolver o senso crítico para reconhecer argumentações vazias de conteúdo, credibilidade, quando se depararem com elas e não se deixarem envolver por um discurso eloqüente, mas vazio de significados. O discurso bem estruturado deve conter, implícitos ou explícitos, elementos necessários à sua compreensão e deve obedecer às condições de coerência para produzir comunicação, constituir um texto. Para argumentar, a pessoa (o aluno) precisa ter conhecimento do assunto sem o qual ele não poderá convencer seu leitor ou ouvinte. Portanto, para escrever/falar é preciso ter, antes de tudo, um conhecimento que só a leitura poderá fornecer. Para escrever é preciso antes de tudo ler e ler muito. “Ao professor cabe a tarefa de despertar no educando uma atitude crítica diante da realidade em que se encontra inserido preparando-o para “ler o mundo”: a princípio o seu mundo, mas daí em diante, e paulatinamente, todos os mundos possíveis.” (KOCH, 2006, p.159). E o conhecimento de mundo do educando deve ser ampliado com as leituras que o professor oferecer a ele. E isso será muito importante para que ele estabeleça a coerência com o texto, pois se um texto falar de coisas que ele absolutamente conhece, será difícil calcular o seu sentido e este texto parecerá destituído de coerência. Se para argumentar é preciso ter conhecimento da causa e isto só se adquire ouvindo e lendo, o aluno precisa fazer leituras. Mas não fazendo uma leitura qualquer, e sim lendo com atenção para buscar no texto a intenção do autor e atribuir-lhe significados. Após a escolha de um tema para as aulas da semana, os textos selecionados para a atividade de leitura podem ser buscados em jornais (inclusive televisivos) e nos próprios livros didáticos de História, Geografia, Filosofia e outras disciplinas, recorrendo-se aos professores das diversas esferas do conhecimento, a fim de poder haver integração. Um exemplo, na história do Brasil, a República dos Palmares ou vida de Zumbi em geral é tratada em duas linhas nos livros didáticos, mas foi algo que aconteceu e durou quase um século. Atualmente algumas cidades brasileiras comemoram esse dia em novembro e há na mídia impressa e televisiva menção ao fato. Os temas podem ser buscados não só no noticiário de jornais e revistas, mas em comentários, editoriais, reportagens, cartas do leitor e textos de ficção, lendas e contos. Que sejam temas relevantes e despertem no aluno interesse em buscar mais informações e argumentos para se posicionarem a favor ou contra os mesmos. ENCAMINHAMENTO METODÓLOGICO O desenvolvimento deste trabalho buscará despertar o interesse do educador e a motivação do educando, propiciando assim uma aprendizagem mais crítica, persuasiva, argumentativa em relação aos gêneros textuais que exijam argumentação, como o debate, cartas de leitor, resenhas, entrevistas. Para a realização destas atividades há propostas no OAC de leituras de textos diversos, de músicas, de filmes, de livros, de sites, notícias. Os professores da rede – GTR ajudarão com sugestões que irão enriquecer o OAC. PROPOSTA DE ATIVIDADES Todo trabalho oral ou escrito solicitado aos alunos deve ser precedido da leitura de um texto ou dois sobre o assunto, ou exibição de um filme ou execução de uma música, pois através do conhecimento adquirido com leituras diferentes (um texto didático e uma música, por exemplo) a visão de mundo dos alunos irá se ampliar, assim como o seu léxico e a capacidade argumentativa. É importante conscientizar o aluno da existência, em cada texto, de diversos níveis de significação. Além da significação explícita, existe toda uma gama de significações implícitas, diretamente ligadas à intencionalidade do produtor. A atividade de interpretação do texto deve sempre fundar-se na suposição de que o produtor tem determinadas intenções e de que uma compreensão adequada exige justamente a captação dessas intenções por parte de quem lê ou ouve. E para ter essa maturidade para realizar a interpretação o aluno precisa exercitar e muito o hábito da leitura. Geraldi, em seu texto “Prática de Leitura na Escola”, propõe quatro formas de leituras possíveis em sala de aula. · A leitura como busca de informações · A leitura como estudo do texto · A leitura como pretexto · A leitura como fruição do texto A leitura para buscar uma informação é o objetivo do leitor para a primeira forma de leitura: extrair uma informação do texto. E em seguida outro objetivo se estabelece, para que extrair informações? Em termos metodológicos, podemos orientar de duas maneiras esse tipo de leitura: com um roteiro previamente elaborado (lê-se para responder questões estabelecidas) ou sem roteiro elaborado (lê-se o texto para verificar que informações ele dá). Em ambos os casos, é importante que o leitor tenha em mente “para quê” ter mais informações. Ainda de acordo com Geraldi, a leitura como estudo do texto é mais praticada em aulas de outras disciplinas do que nas aulas de Português, mas deve ser praticada, pois o professor deveria desenvolver variadas formas de interlocução leitor/texto/autor. E Geraldi ainda propõe um roteiro útil para esse tipo de leitura, especificando: a tese defendida no texto, os argumentos apresentados em favor da tese defendida, os contra argumentos levantados em teses contrárias e a coerência entre tese e argumentos. A leitura como pretexto envolve uma rede muito grande de questões. Por exemplo, a leitura de um texto dado poderia ser pretexto para a produção de outro texto, para escrever uma carta ao jornal ou revista ou para apreender uma possível estruturação do texto argumentativo. A leitura por prazer, geralmente é excluída da escola, pois pensa-se que toda leitura deveria render uma atividade. Os professores, em geral, pensam que se não cobrarem nada como resultado de uma leitura, não saberão se o aluno de fato leu. Mas o ler por ler, é o que de fato vai formar bons leitores e, portanto, a escola deve propiciar esse tipo de leitura, através de rodízios de livros entre alunos, bibliotecas de sala de alunos, biblioteca escolar, freqüência a bibliotecas públicas são algumas das formas para iniciar um circuito, o circuito do livro. Metodologicamente a aula de português deve partir de um ou mais textos escritos para uma discussão oral, finalizando em texto escrito, produzido pelo aluno, que deve ser socializado com o seu grupo e só então encaminhado à professora para correção e posterior envio para o seu destino final (mural, jornal-mural, etc.), mas deve-se reservar momentos durante o ano letivo para a leitura por prazer, pois esta poderá formar bons leitores e conseqüentemente, pessoas com uma visão mais ampla do mundo e assim, pessoas com melhor poder de argumentação. Atividades que poderão ser desenvolvidas em aulas para a produção de textos argumentativos (escritos e orais): *Organização de jornal mural, com noticiário, editorial, reportagem, produção literária (conto, poesia, música, lendas, quadrinhos) e na seqüência do jornal, que deverá ser mensal, aparecerão as cartas do leitor, com teor argumentativo. Um jornal mural que contemple textos argumentativos poderia ficar muito monótono, por isso, há a inclusão de mais de um gênero textual, mesmo que o teor não seja argumentativo. *Organização de jornais falados, em que cada aluno escreverá uma notícia em seu caderno e a lerá para a classe. Essa notícia poderá servir de base para uma nova atividade: o debate. *Organizar entrevistas com professores ou pessoas ligadas ao universo escolar, sobre temas relevantes. As entrevistas devem orais e gravadas para levar os entrevistados a expor seu ponto de vista sobre questões que lhe serão propostas pelo entrevistador. Os entrevistados não devem ter acesso prévio aos temas e isso propiciará respostas não planejadas, com uso de técnicas argumentativas mais “acessíveis” ao falante, como a entonação para enfatizar um argumento ou marcadores de atenuação para mostrar hesitação ou incerteza. Ao trabalhar com esse gênero, além de fazer com que ele planeje as perguntas e estude o tema da entrevista, fará com que ele perceba essas técnicas argumentativas na oralidade, detectando certezas ou incertezas. E ao passar essas entrevistas orais para a linguagem escrita, o aluno estará fazendo mais um trabalho muito importante em seu desenvolvimento: a retextualização. Reforçando que a relação entre oralidade e a escrita se dá numa contínua interação fundada nos próprios gêneros textuais, manifestada no uso da língua no dia-adia. *Organizar um debate, em que dada uma proposição, os alunos buscariam argumentos contra ou favor da mesma. O debate é um gênero que permite amplamente o desenvolvimento da capacidade argumentativa do aluno, pois permite a construção de um saber coletivamente sobre um tema, a apreensão das regras do bom convívio, quando aprende a escutar e respeitar as posições do outro e afirmar seu lugar no grupo. Para que não haja confusão e”bate-boca”, durante o debate, ´e importante seguir algumas regras: *Ordenar os turnos de fala de cada participante, de modo a impedir que um debatedor monopolize a discussão. Esse é o papel do mediador, que, além disso, deve permitir que cada um exprima sua opinião e não fuja do assunto. *Escutar o outro, o que significa levar em conta o ponto de vista de cada, a fim de poder referir-se a ele com o objetivo de enriquecer as trocas, mas também de compreender a orientação argumentativa a fim de se situar em relação à controvérsia. *Retomar a fala do outro para apoiar-se nela ou para refutá-la. A prática do debate em sala de aula é muito importante para que os alunos aprendam a escutar, a respeitar os turnos de fala e a retomar a palavra dos outros para apoiá-la ou refutá-la e assim afirmar a própria posição, tomar seu lugar no grupo, de modo a constituir sua identidade social. Outras atividades que poderão ser desenvolvidas: Um exemplo, ao pedir que os alunos falem, argumentem contra ou a favor sobre um tema, O uso das Tecnologias na Guerra, seria interessante mostrar um texto da História, por exemplo, sobre a 1º guerra mundial. Em seguida, passar o filme “FLY-BOYS”, sobre os aviadores voluntários naquela época. Promover em seguida uma discussão na sala sobre os motivos do início e fim deste conflito e o impacto das tecnologias (os pequenos e frágeis aviões) usadas nesta guerra para o fim do conflito. Só então, solicitar um texto oral ou escrito a favor ou contra o uso das tecnologias durante uma guerra, ou ainda um debate sobre o esse tema. Outra atividade: Solicitar que os alunos busquem o significado de uma palavra no dicionário, por exemplo, a palavra “fascista”, solicitar a leitura de textos didáticos da Disciplina de História, sobre o fascismo, em especial na Espanha. Falar sobre a Guerra Civil Espanhola e em seguida mostrar o quadro “Guernica”, Pablo Picasso e trabalhar com os alunos as imagens da tela. Promover uma discussão sobre a importância da Arte, também como uma fonte histórica. Solicitar depois um texto oral ou escrito, que se inicie com uma proposição, uma afirmação sobre a impressão do aluno sobre a obra Guernica, mas que contenha também elementos descritivos sobre a tela estudada, observando o contexto histórico no qual foi desenvolvida. Após a escolha de um tema: gravidez, aborto, uso de drogas, violência urbana, manipulação da mídia, a verdade de certos fatos históricos, a tecnologia a favor ou contra ou homem, a arte como expressão individual, entre outros, os professores deverão selecionar um ou mais textos sobre o assunto, incluindo músicas, vídeos. Promover uma discussão sobre os assuntos abordados. E só depois, solicitar uma produção escrita ou oral em forma de artigo, resenha, carta de leitor, entrevista ou debate bem estruturado. O problema essencial a ser desenvolvido é no interior do porquê, ou seja, a argumentação, coerente e adequada, será a base de todo o trabalho de leitura, discussão e produção de textos. Metodologicamente, o debate, as discussões irão centralizar os trabalhos em sala de aula e os textos levados aos alunos serão usados como suporte para tais discussões. Servirão de introdução a textos mais argumentativos. A posição do aluno é a conclusão de seu trabalho. Referências: BAGNO, Marcos; Gilles Gagne; Michael Stubbs. Língua Materna: letramento, variação e ensino. São Paulo: Parábola, 2002. BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna. 17ª ed. – Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996. GERALDI, João Vanderley (org). O texto na sala de aula. São Paulo. Ática, 1997. COSTA, Iara Bemquerer & GODOY, Maria Alice Maschio de. Um esboço de análise da argumentação na oralidade.Letras. Curitiba, nº 48. p.97-110.1997.Editora da UFPR. KOCH, Ingedore G. Villaça. Argumentação e Linguagem. 10ª ed. – São Paulo: Cortez, 2006. MARCUSHI, L.A. Da fala para a escrita: atividades de retextualização.7ª ed. São Paulo: Cortez, 2007. PAULIUKONIS, Maria Aparecida Lino & SANTOS,Leonor Werneck (org.) Estratégias de Leitura: texto e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006. POUGATCH, Massia Kaneman & Érard, Serge – O debate regulado na sala de aula: Como trabalhar a argumentação oral em diferentes idade. In O Ensino da Língua Oral na escola . Dr.Bernard Schneuwly – X Seminário Internacional da Escola da Vila. 1997.