DISCURSO PM – CONVENÇÃO EMPRESARIAL AIP – 09.10.2013 Senhor Presidente da AIP-CCI, Ilustres Participantes, Minhas senhoras e meus senhores, Começo por felicitar a AIP pela oportuna iniciativa de promover uma reflexão sobre os grandes desafios colocados à economia portuguesa. É certamente um testemunho indesmentível da relevância do tema e da capacidade de mobilização dos organizadores a tão expressiva adesão que esta Convenção obteve. Permitam-me assim que partilhe convosco algumas reflexões e a minha visão do rumo e das opções que temos pela frente. Depois de no segundo trimestre deste ano termos finalmente interrompido a trajetória de contração que a economia portuguesa registava há já dez trimestres, a discussão em torno do crescimento sustentável de que precisamos para o futuro deve estar ainda mais presente no espaço público. Os indicadores de conjuntura que vão sendo publicados justificam um optimismo moderado para os números do terceiro trimestre. Esses indicadores mostram uma contínua melhoria, quer da confiança dos consumidores e das empresas nos quatro sectores-chave – indústria transformadora, construção civil, vendas a retalho e serviços –, quer da capacidade de financiamento externo da economia portuguesa como um todo. Entre 2011 e 2013, Portugal passou de uma necessidade líquida de financiamento externo de 10% do PIB para uma situação excedentária de 3% do PIB, o que significa que em dois anos fomos capazes de passar de uma situação de dependência extrema do financiamento externo da nossa economia para uma outra, bem diferente, em que começamos a aliviar o fardo pesado da dívida ao exterior. As exportações têm prosseguido o seu crescimento a bom ritmo, em larga medida assentando em ganhos estruturais de competitividade. Se pensarmos no contexto internacional desfavorável que contrasta com contextos bem mais favoráveis nos ajustamentos feitos no passado, mais impressionantes se tornam os resultados das nossas empresas exportadoras. O Boletim de Outono do Banco de Portugal, ainda ontem publicado, assinala precisamente que tivemos ganhos expressivos de quota de mercado pelo terceiro ano consecutivo, o que demonstra a vitalidade e capacidade de adaptação do sector produtivo português, bem como desmente a tese de que a pertença ao euro nos impede de competir nos mercados internacionais. Além disso, o Boletim refere “um alargamento das margens de lucro agregadas que, por refletir alterações importantes na estrutura empresarial portuguesa, constitui parte fundamental do reequilíbrio dos balanços do sector empresarial”. Todos estes resultados, que não podem ser subestimados, devem-se ao trabalho e engenho dos nossos empresários e dos nossos trabalhadores. A sua dedicação e a sua visão são a base em que se edifica a economia renovada e aberta ao mundo que desejamos para o futuro. Na sua atividade quotidiana e discreta, trabalhadores e empresários têm dado um exemplo extraordinário ao País e à Europa da capacidade de transformação da nossa economia, com cada vez mais recursos nos sectores transacionáveis e com um peso cada vez maior das exportações no conjunto da atividade económica, como é apropriado a um mercado com a nossa dimensão. Importa sublinhar, a este propósito, que as exportações passaram de 28% do PIB em 2009 para ligeiramente mais de 40% deste produto no segundo trimestre 2013, facto único na economia portuguesa de há várias décadas a esta parte. Trata-se de um dado particularmente expressivo, que bem reflete a dimensão do ajustamento do nosso tecido empresarial ao vetor exportador e, bem assim, a dimensão do esforço que lhe está associado e que merece todo o nosso reconhecimento. Começamos agora a ver os primeiros sinais dos efeitos das reformas estruturais que levámos a cabo nos últimos dois anos. Mas são ainda sinais ténues, que queremos estimular. Nesta fase do nosso ajustamento, a prioridade cabe ao investimento. Com o conjunto articulado de reformas já feitas, estamos a tornar o nosso País mais atrativo para o investimento estrangeiro e para o investimento interno também. Foi para corresponder a essa prioridade que aprovámos o crédito fiscal extraordinário. E contamos a breve prazo apresentar a reforma do IRC, que inclui a redução da taxa de imposto ao longo dos próximos anos. A este respeito, não há razão alguma para não chegarmos a um entendimento comum alargado com os parceiros sociais e com o principal partido da oposição, com vista a introduzirmos estabilidade e previsibilidade no nosso sistema fiscal. Mas a aposta no investimento tem de atender ao longo prazo e às necessidades globais da economia portuguesa. A sua reindustrialização e internacionalização têm de ser incluídas como objectivos fundamentais para reposicionarmos com sucesso o País na economia global. Podemos estar no centro da economia global, e não na sua longínqua periferia, se aceitarmos os seus desafios. Foi com este propósito que o Governo apresentou a Estratégia de Crescimento e Fomento Industrial, que incide na estruturação de um sistema abrangente de formação e qualificação profissional, na desburocratização e na remoção de obstáculos à iniciativa económica, na inovação, na criação de um ambiente fiscal estável e favorável ao investimento, na consolidação empresarial. Parte integrante desta estratégia envolve mudanças nos processos de financiamento do nosso tecido produtivo, em particular a diversificação das fontes de financiamento das empresas com um recurso crescente ao mercado de capitais e a concomitante diminuição da dependência do crédito bancário. É também muito importante a reforma do investimento dos fundos europeus que será confirmada com a versão final do Acordo de Parceria com a Comissão Europeia. Em 2012, efetuámos uma reprogramação estratégica do QREN para permitir canalizar recursos para a economia produtiva. Mas agora temos a oportunidade, que não iremos desperdiçar, de transformar a cultura de investimento dos fundos comunitários no sentido das necessidades reais da economia e do País. Instrumental para esse novo paradigma será a nova Instituição Financeira de Desenvolvimento. Tornará muito mais eficaz a aplicação dos fundos na geração de riqueza e com bases concorrenciais muito mais transparentes. As prioridades serão a competitividade e a internacionalização, sobretudo das Pequenas e Médias Empresas, o investimento no capital humano, que é o recurso mais precioso que possuímos, a inclusão social e o emprego, um dos grandes desafios da nossa sociedade para os próximos anos e a aposta na inovação e na investigação. Neste âmbito, o incentivo à integração de doutorados nas empresas será um exemplo de como poderemos elevar os níveis de inovação e aprofundar o contacto frutuoso com os centros de investigação e desenvolvimento. E queremos que uma proporção muito maior destes fundos seja encaminhada para as empresas, acentuando os índices de investigação aplicada e fazendo com que a desejável aproximação entre a ciência e o mundo empresarial se faça nos dois sentidos. Associadas a estas novas prioridades estão escolhas estratégicas que fizemos. Daremos preferência à competitividade das empresas em detrimento das infraestruturas de grande dimensão. Daremos preferência ao capital humano em detrimento de mais estradas. Investiremos em infraestruturas cirúrgicas e no sistema ferroviário e não em autoestradas ou equipamentos desportivos. Minhas senhoras e meus senhores, As reformas estruturais levadas a cabo pelo Governo, as iniciativas como o novo Código das Insolvências e da Recuperação de Empresas, o Programa Revitalizar – cujos fundos de Regionais de Expansão Empresarial, com dotação orçamental global de 220 milhões de euros, foram recentemente desbloqueados –, as várias linhas de crédito dirigidas às PME, às exportadoras, ao Turismo e ao Comércio, o programa Estímulo 2013, que se dirige ao desemprego de longa-duração, ou a introdução no passado dia 1 de Outubro do regime de IVA de caixa, são políticas de apoio às empresas, de crescimento e de criação de emprego. Mas não devemos ter ilusões: não há projetos inteligentes de promoção do crescimento que resistam ao incumprimento do Programa de Assistência Económica e Financeira. Não há políticas credíveis que possam ignorar a condição indispensável não só do crescimento no futuro, mas da sustentabilidade do Estado e da nossa ambição de termos uma sociedade mais justa. Ora, essa condição fundamental consiste no equilíbrio estrutural das contas públicas. Para atingirmos esse objectivo temos de reduzir também de modo estrutural a despesa do Estado. Sem atendermos de modo credível e determinado à exigência de equilíbrio estrutural das contas públicas, não teremos a necessária robustez para enfrentar as incertezas do futuro. Estaremos reféns do mais pequeno lapso, da mais insignificante quebra de confiança, do mais ligeiro sobressalto nos mercados internacionais. Se nos deixarmos arrastar para um caminho de indisciplina financeira, estaremos a criar o contexto mais adverso para o crescimento e a criação de emprego. Daí que há muito insista que lidamos com uma falsa escolha entre consolidação orçamental e a preparação do crescimento. Essa alternativa pode até estar disponível para outros países na Europa e fora da Europa. Mas para um País como o nosso, que enfrenta problemas complexos resultantes de desequilíbrios graves que se foram acumulando ao longo de muitos anos; para um País que viu em 2011 perder-se a sua capacidade de financiamento para suportar uma dívida que se agigantou muito além do que seria tolerável, para um País nas nossas condições, é realmente de uma falsa alternativa. Entre reformar a nossa economia e o Estado, proceder à estabilização do sistema financeiro e consolidar as contas públicas, não existem alternativas mutuamente exclusivas. Os três objectivos tiveram, e têm de continuar a ser, prosseguidos em conjunto. Precisamos de crescimento sustentável, só possível num quadro de estabilidade financeira. Não é certamente um bom ambiente para as empresas a ameaça da incerteza quanto à possibilidade de recuperarmos a nossa autonomia no futuro pósTroika. Não é certamente um bom ambiente para o investimento e para a criação de emprego a permanentemente vulnerabilidade a colapsos como o que tivemos em 2011. Não haverá certamente um bom ambiente para a recuperação da procura interna, do consumo das famílias, se o cumprimento das obrigações decorrentes da nossa pertença ao euro estiver sempre debaixo de um pesado ponto de interrogação. Não haverá certamente condições para crescer, se a necessária redução da carga fiscal for perpetuamente inviabilizada porque não fomos capazes de diminuir estruturalmente a despesa pública. A confiança e a credibilidade não se adquirem com intenções vagas nem com opções inconsequentes. Dependem estritamente de escolhas concretas, que são difíceis e muitas vezes dolorosas, mas que são necessárias para salvaguardar os objectivos comuns que temos enquanto comunidade política. São essas escolhas que agora somos chamados a fazer em conjunto como uma comunidade política coesa que sabe o que quer. Muito obrigado.