Academia SOLIDÁRIO
Planeamento financeiro low cost para a sua organização
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“Excedente não é pecado se não for sinónimo de desperdício”
Carlos Azevedo, Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica do Porto
A utilização eficaz e eficiente dos recursos financeiros pode ter um
impacto considerável no desempenho das organizações sem fins
lucrativos (OSFL) e na sua sustentabilidade económica.
Os sistemas de proteção social europeus, e em particular o português,
enfrentam desafios financeiros cada vez mais complexos. As alterações demográficas
(redução da percentagem da população em vida ativa e uma esperança média de vida
mais elevada) obrigam à redução da intervenção pública direta e, consequentemente,
ao aumento da esfera de atividade das OSFL.
Os financiamentos públicos das organizações sociais reduzem-se, mas aumenta
o rigor na avaliação da eficácia das mesmas por parte do Estado. As empresas e particulares
que contribuem para as organizações do setor social são igualmente mais exigentes
no momento de escolher as instituições, como e em que moldes as podem apoiar.
Mais que nunca, os responsáveis têm que fazer uma avaliação das suas organizações e verificar
se os objetivos (missão) estão a ser cumpridos e o que contribui para que tal aconteça,
nomeadamente no que aos recursos financeiros diz respeito.
UM SETOR DIVERSIFICADO
O PLANEAMENTO FINANCEIRO
As organizações do terceiro setor têm objetos específicos muito diversos. Além disso, apesar da origem
das cooperativas e das mutualidades terem décadas
de história, a generalidade das organizações do
terceiro setor surgiu nas últimas quatro,
após a revolução de 25 de abril de 1974, o que
permitiu a liberdade de associação e de participação
na sociedade e na vida pública. As IPSS só viram
o seu enquadramento regulado em 1979.
As organizações são normalmente geridas por uma
“classe dirigente voluntarista, muito sensível para os
problemas aos quais a organização se dedica, mas
ainda pouco preparada para os desafios de gestão
que hoje as afetam de forma transversal”, refere o
livro “Gestão das Organizações Sem Fins Lucrativos –
O Desafio da Inovação Social”.
É importante que as organizações “sejam capazes
de orientar os seus recursos para os fins a que se
destinam sem comprometer a sua sustentabilidade
no médio/longo prazo”. Estes procedimentos estão
na base de uma situação financeira saudável.
O planeamento financeiro permite à gestão
da organização reunir a informação necessária
sobre os recursos financeiros de que dispõe, mas
também identificar as necessidades e onde
procurar recursos suplementares.
Um bom planeamento implica uma reflexão
ponderada sobre os objetivos a alcançar
e a identificação de objetivos intermédios de curto,
médio e longo prazo.
O planeamento de longo prazo tem uma natureza
estratégica, sendo essencial definir prioridades e
articular resultados.
É importante verificar regularmente o cumprimento
dos objetivos traçados e implementar ou ajustar
medidas para atingi-los. Se detetar desvios
consideráveis deve rever o planeamento.
Finanças Sociais – São fluxos financeiros
e mecanismos que garantem, no curto,
médio e longo prazo, que uma organização
tem fontes de receitas que honram os seus
compromissos, que estes estão alinhados
com o seu objeto social e que a utilização
de cada euro gasto é maximizada.
Não existem soluções universais para investir na
melhoria dos fatores de competitividade e garantir
a sustentabilidade financeira, sabendo-se, à partida,
que a disponibilidade financeira à sua realização
é diminuta.
DIVERSIFICAÇÃO DAS FONTES
DE FINANCIAMENTO
Os recursos financeiros são, naturalmente, cruciais
para qualquer organização, mesmo com fins não
lucrativos. Apesar de não terem como objetivo gerar
excedentes, as instituições do terceiro setor têm
que produzi-los para crescerem, tornando-se
sustentáveis e assim criarem valor económico
e social para os seus stakeholders. O excedente
económico permite gerar impacto social e resolver
problemas sociais.
Os recursos para fazer face a necessidades sociais
ilimitadas são escassos. É importante não depender
de uma única fonte de financiamento.
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DEVE COMEÇAR POR:
- Fazer o levantamento dos proveitos atuais e potenciais e diversificar as fontes de financiamento,
libertando-se do financiamento público.
- Esquematizar uma estrutura de custos,
decompondo-os por natureza e fim a que se
destinam e introduzir conceitos como o Retorno
Social do Investimento.
As entidades devem avaliar de forma frequente
a sua missão/objeto social e aferir se a estrutura
de custos e de proveitos se encontra alinhada
com os objetivos a que se propõem. Após uma
análise objetiva, e caso o modelo não seja
sustentável no médio prazo, a organização
poderá ter que equacionar ajustar os seus
objetivos. In “Gestão das Organizações Sem fins
lucrativos – O Desafio da Inovação Social”
ESTRUTURA DE PROVEITOS
A economia social portuguesa é um universo muito
diversificado. Como se pode concluir da primeira
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Conta Satélite da Economia Social realizada pela
Cooperativa António Sérgio para o Setor Social (CASES) e pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), as
mais de 55 mil organizações contabilizadas em 2010,
registaram uma “necessidade líquida de financiamento de 570,7 milhões de euros”. Cerca de 94% destas
organizações são “associações e outras organizações
da economia social”. Do outro lado do barómetro,
destacam-se as Cooperativas, as Mutualidades e as
Fundações da Economia Social, cuja capacidade de
se auto financiarem estava assegurada.
As principais fontes de financiamento da Economia
Social, segundo o projeto comparativo do setor social do Johns Hopkins Center for Civil Society Studies
estão agrupadas do seguinte modo:
-A
poio Público – o Estado é uma fonte relativamente estável e atingível (40%)
-R
eceitas Próprias – por exemplo, a prestação de
serviços por parte da instituição, não relacionados
com a missão organizacional (48%)
-F
ilantropia – por exemplo, os donativos (12%)
Imagem 1 – Os recursos das Organizações da Economia Social por atividade
In Conta Satélite da Economia Social
A Conta Satélite da Economia Social revela que os
recursos das organizações avaliadas estimaram-se em 14,1 mil milhões de euros provenientes da
produção (62,8%), transferências e subsídios (23,8%)
e rendimentos de propriedade. Do lado das despesas,
estas terão ascendido a 14,75 mil milhões de euros.
Consistiram, fundamentalmente, em consumo
intermédio (31,4%), remunerações (26,8%)
e transferências sociais (24,3%).
O peso do Estado no financiamento das organizações oscila consoante a fonte, mas ainda assim
é elevado. É importante procurar outras fontes
de receitas.
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ESTRUTURA DE CUSTOS
A estrutura de custos reflete a forma como estes
afetam os seus recursos. Esta distribuição é muito
díspar e varia consoante a área em que a organização
opera (ver gráfico).
Imagem 2 – As despesas das Organizações da Economia Social por atividade
In Conta Satélite da Economia Social
No livro “Gestão das Organizações Sem Fins Lucrativos – O Desafio da Inovação Social” são sugeridos
dez indicadores para a análise da estrutura de custos
de uma organização sem fins lucrativos:
As organizações devem ainda estar atentas às
melhores práticas do setor e definir objetivos anuais
para aproximação a estes indicadores por áreas
estratégicas.
- Custos com pessoal em relação aos custos totais;
Fontes:
- Serviço da dívida em relação aos meios libertos
líquidos;
“Gestão das Organizações Sem Fins Lucrativos –
O Desafio da Inovação Social”, Vários autores, Impulso
Positivo, 2012
- Custo por utilizador ou cliente por serviço;
- Custos administrativos relativamente aos custos
totais;
- Custo por utilizador ou cliente por nível de satisfação de serviço;
- Funcionários por utilizador ou cliente;
Johns Hopkins Center for Civil Society Studies:
http://ccss.jhu.edu/research-projects/comparative-nonprofit-sector/about-cnp
Conta Satélite da Economia Social http://www.cases.pt/atividades/contasatelitees
- Custo por euro angariado;
- Taxa de utilização dos equipamentos;
- Peso das receitas estatais;
- Percentagem de custos fixos face a variáveis.
Ei, Educação Informação | 2013
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